Upload
renato-moura
View
20.730
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
MAD I 10/08/2005
Entre os mecanismos inespecíficos do sistema imune, temos aqueles
que disponibilizam uma primeira linha de defesa contra aqueles patógenos, e que se encontram presentes na pele e em todas as
mucosas.
As superfícies epiteliais são muito bem protegidas, oferecendo uma
linha de defesa composta por barreiras físicas e mecânicas, bem como barreiras químicas.
Para penetrarem no nosso organismo, os vírus precisam ultrapassar as
barreiras proporcionadas pela pele e pelas mucosas. No caso da pele,
existe um bom sistema de defesa representado pela queratina. Desta forma, para que um vírus consiga penetrar na pele é necessário um
trauma, uma ruptura, pré-existente.
No trato respiratório e no trato gastrintestinal, vamos ter a presença de células produtoras de muco, que têm como função reter partículas
estranhas. No caso do trato respiratório estas partículas estranhas são expelidas pela tosse e no trato gastrintestinal, elas saem pelas fezes.
Sendo assim, o muco é um excelente sistema protetor, que recebe a colaboração das células ciliadas, no caso do sistema respiratório que,
com seus batimentos, criam um fluxo que favorece o sistema de defesa. Os alcoólatras e fumantes têm este sistema prejudicado, pois
estes indivíduos têm uma maior propensão a pneumonias, além do fato dos macrófagos alveolares apresentarem uma relativa deficiência.
O peristaltismo, movimento ondulatório do trato gastrintestinal, a
lágrima, os reflexos da tosse e do espirro, funcionam como
mecanismos de defesa e barreiras contra os micróbios.
A tosse e o espirro além de serem reflexos de limpeza funcionam também como mecanismos de transmissão de infecções virais
respiratórias, através do muco, da saliva e de aerossóis.
Barreiras químicas, tais como o baixo ph do suco gástrico, atuam
sobre aqueles vírus sensíveis a estes ambientes. Os vírus que penetram pela via oral e são eliminados pelas fezes, não apresentam
envelope, fato que proporciona uma garantia contra o ataque do ambiente ácido do estômago. Já os vírus envelopados não resistem à
passagem pelo estomago, pois são extremamente lábeis a estes
ambientes.
As células fagocitárias, ativadas ou não, fagocitam tudo aquilo que considerem estranho ao organismo, compondo parte do sistema
inespecífico de defesa imune. As mais eficientes células deste processo são os macrófagos, que necessitam ser ativados, assim como as
células NK.
O sistema complemento, que compreende um conjunto de 20
proteínas do soro, tem uma ação importante na eliminação de vírus, especialmente quando complexados a anticorpos, fator que permite
que as partículas virais sejam destruídas especificamente.
Numa uma infecção viral, há a liberação de interleucina 1 que vai agir no hipotálamo, desencadeando a liberação de prostaglandinas que têm
como função reajustar a temperatura corporal, elevando-a. Esta elevação é importante, principalmente, para melhorar a performance
do sistema imune. Além disso, o estado febril, induz à prostração do
indivíduo, fato benéfico para o a recuperação do organismo, pois as reservas energéticas são canalizadas para o sistema imune
preferencialmente.
Cada indivíduo apresenta características particulares que o coloca mais resistente ou não às infecções virais. É o que ocorre, por exemplo,
com o fator idade. Desta forma, a idade com a qual um indivíduo entra em contato com uma infecção viral pode se configurar como fator
determinante para o curso de uma infecção.
Nos extremos da vida, ou seja, nos fetos, recém natos e nos idosos, as
infecções virais tendem a cursar mais gravemente. No caso dos fetos e neonatos, esta susceptibilidade é devida à imaturidade do sistema
imune, enquanto na velhice há uma relativa debilidade do sistema de defesa.
Como exemplo, em fetos e neonatos, a infecção viral causada pelo
vírus SRV (vírus respiratório sincicial), que muito freqüentemente está
associado à internações de crianças com infecção respiratória. Outro vírus respiratório, o vírus que da gripe (influenza), tem uma taxa de
pneumonia bastante alta em idosos, tanto, que o programa de vacinação contra a gripe tem como principal público alvo os idosos.
A partir dos 6 meses, as crianças passam a defender do seu
mecanismo imune e é um momento onde elas passam a apresentar episódios de doenças mais freqüentes.
Existem vírus que possuem a capacidade de “burlar” o sistema imune,
diferentemente daquelas infecções denominadas auto-limitadas, onde os vírus são geralmente eliminados, como se observa na rubéola e no
sarampo. O vírus da hepatite B e da hepatite C, são vírus que possuem a potencialidade de impedir que a infecção seja eliminada.
Crianças quando infectadas pelo vírus da hepatite C, apresentam um risco muito aumentado de contrair uma hepatite crônica.
O estado nutricional afeta o desempenho do sistema imune. Um quadro de desnutrição diminui a eficiência do sistema imune,
principalmente quando aliada a estados diarréicos, envolvendo infecções por rotavirus. No caso de uma infecção pelo vírus do
sarampo, por exemplo, temos uma taxa de mortalidade muito maior na África que nos demais continentes, evidenciando a relação entre o
desempenho do sistema imune e a desnutrição.
Uma infecção viral é determinada, em primeira instância, pela
presença ou não de receptores apropriados para a entrada deste vírus. Porém, existe um outro fator que diz respeito à permissividade, que
se relaciona com o metabolismo celular. Estes conceitos traduzem o fato de que, mesmo que um vírus consiga penetrar em uma célula
sensível, esta célula deve apresentar determinadas características metabólicas que permitam a replicação deste vírus. É o que ocorre,
por exemplo, com o vírus da poliomielite, que infecta células intestinais e células do sistema nervoso central. Quando um cobaio é
inoculado com o vírus da poliomielite, a principio, não ocorre a infecção. Porém, no caso de uma transfecção, ou seja, a introdução
artificial do genoma do vírus da pólio dentro da célula deste animal, teoricamente, teremos vencida a barreira da susceptibilidade,
ocorrendo, conseqüentemente, a produção de partículas virais no
interior das células do animal transfectado. Curiosamente, quando as partículas virais forem liberadas, elas não conseguem entrar em outras
células, pois estas não apresentam susceptibilidade ao vírus em questão. Caso este mesmo animal seja manipulado geneticamente, de
maneira que todas as suas células passem a expressar receptores para o vírus da poliomielite, teoricamente, quando o animal for infectado
pelo vírus da polio, este teria a possibilidade de infectar todas as células modificadas em sua superfície. Porém, isto não ocorre, pois a
infecção ficará restrita a células do trato intestinal, células musculares e células do sistema nervoso central. Isto porque nem todas as
células, mesmo apresentando os devidos receptores, são
permissivas.
Sendo assim, além da susceptibilidade há outro conceito fundamental, que é o conceito da permissividade, onde o vírus
depende de alguns produtos do metabolismo celular necessários à replicação viral.
A patogenia de uma infecção é então determinada por estes dois fatores, ou seja, pela susceptibilidade e pela permissividade do
sistema hospedeiro.
Durante a gestação, é muito freqüente a reativação de infecções latentes. Mulheres grávidas que possuem histórico de infecção, por
exemplo, pelo vírus causador da herpes sexual, podem apresentar episódios continuados de herpes genital. Isto ocorre pelo fato de,
durante a gestação, há uma imuno depressão fisiológica, para evitar a perda do feto.
Existem estudos de bases epidemiológicas, que devem ser sempre avaliados sempre dentro de um determinado contexto, mostram que
indivíduos caucasianos são menos susceptíveis ao vírus HIV. Isto porque foi evidenciada uma mutação no gene que responde pela
codificação de um co-receptor utilizado pelo vírus HIV. Esta pode se caracterizar como uma explicação para a diminuição dos casos de
AIDS nesta população em especial.
Ao se avaliar a questão do gênero, na espécie humana, vê-se que as
viroses podem cursar de maneira distinta, quando avaliamos numa população, indivíduos do sexo masculino e feminino.
No século passado, a descoberta dos interferons, valeu o prêmio aos
seus pesquisadores, que estavam trabalhando com o vírus influenza. Os interferons foram descobertos, por acaso, quando inoculando-se
em um grupo de células com o vírus os pesquisadores observaram que as células infectadas, produziam substâncias que as protegiam bem
como às células vizinhas, da infecção provocada por outros vírus. Por
isso, eles deram o nome a estas substâncias de interferon, devido a sua capacidade de interferir na replicação de outros vírus.
Com o aprofundamento dos estudos sobre os interferons, sabe-se que
estas substâncias fazem parte de uma família de proteínas, as citocinas. Foram identificados vários tipos de interferons, que foram
recebendo nomes distintos.
No caso de infecções virais os principais envolvidos são os interferons:
α, β e γ. Os interferons α e β, por suas propriedade estruturais e funcionais, são agrupados como interferon tipo 1, enquanto o
interferon γ tem uma função diferenciada.
Características gerais dos interferons:
O interferon α é uma proteína, enquanto os interferons β e γ são
glicoproteinas; Os interferons do tipo 1 (α e β ) podem ser produzidos por
qualquer célula infectada;
O interferon γ, pode ser produzido apenas por células do sistema imune;
A indução da produção dos interferons α e β, se dá com a simples
presença do vírus na célula, especialmente vírus RNA. Com a infecção
de um vírus RNA temos a formação de um RNA fita dupla, que é um potente agente indutor para a síntese de interferon.
A indução para a produção do interferon γ, ocorre a partir da
sensibilização de linfócitos por antígenos.
Efeitos dos interferons:
Os interferons α e β induzem um estado anti-viral, quando as
células passam a produzir determinadas proteínas, que têm a propriedade de inibir a replicação viral.
O interferon γ atua como um verdadeiro “maestro” do sistema
imune, pois é ele quem ativa e desativa os componentes do sistema imunológico humoral e celular.
No momento em que temos uma infecção viral em curso,
determinados genes do genoma viral vão ser ativados, e como
resultado desta ativação, ocorre a transcrição em RNA mensageiro e, conseqüentemente, a tradução em proteínas, dentre elas, o interferon
α e β. As moléculas de interferon, vão interferir nas células vizinhas, ligando-se a receptores apropriados. A simples ligação dos interferons
a seus receptores, implica em uma cascata de sinais dentro da célula, que trás como conseqüência, a ativação de determinados genes do
genoma celular, por sua vez promove a transcrição e produção de RNA mensageiro e tradução em proteínas que apresentam atividade
antiviral.
As proteínas produzidas a partir da ação dos interferons, são: a
proteína cinase, a 2,5 A sintetase e uma endoribonuclease, as mais bem estudadas.
A proteína cinase, quando produzida, é disponibilizada em sua forma
inativa, sendo ativada na presença do interferon. Uma vez ativada, ela vai fosforilar o fator de iniciação elf-2 α, que atua na junção das
subunidades dos ribossomos, permitindo o início da tradução do RNA mensageiro. Caso este fator esteja inativado, não ocorrerá a
montagem das subunidade dos ribossomos, inibindo-se a síntese
protéica, parando o processo de replicação viral. O fator de iniciação elf-2 α, é inativado quando fosforilado.
A segunda proteína produzida a partir da estimulação do interferon é a
2,5 A sintetase. Esta enzima, quando ativada pela presença do interferon, vai atuar sobre uma terceira proteína que é uma
endoribonuclease, ativando-a. Como seu nome sugere, ela é uma
enzima degradadora de RNA mensageiro.
Sendo assim, pela ação indutora do interferon, teremos o bloqueio da montagem do ribossomo, fato que impede a tradução do RNA
mensageiro, além da degradação do RNA mensageiro. Sendo assim, não é o interferon que destrói o vírus, ele atua como um indutor
do processo de destruição, impedindo a síntese protéica viral.
O interferon é produzido logo nos estágios iniciais da infecção, tendo
como função atuar no processo de defesa do organismo, antes da expansão clonal das células B e T que respondem pelas funções
específicas do sistema imune.
Um vírus, ao penetrar em uma célula, muda o espectro antigênico da célula infectada, fazendo com que ela seja considerada como estranha
ao sistema imune. No caso do HIV, que infectam células do sistema imune, há um problema especial, pois o processo de controle de uma
infecção viral, ou seja, a cura, normalmente, só ocorre quando todas
as células infectadas pelo vírus forem eliminadas.
De uma maneira geral, ao se avaliar o processo de funcionamento do
sistema imune, diante de uma infecção viral, tem-se os seguintes eventos:
O vírus penetra na célula hospedeira;
É iniciado o processo de replicação viral; Proteínas antigênicas resultantes do processamento do genoma
viral, são apresentadas na superfície celular, em associação de MHC classe I;
As partículas virais produzidas no interior desta célula vão ser liberadas no meio extracelular até serem identificadas e
processadas pelas células APC, ou seja, macrófagos, monócitos e
células dendríticas; As células APC fagocitam as partículas virais e as processam,
num mecanismo ainda não esclarecido totalmente, apresentando-as em sua superfície celular, em associação com
moléculas MHC classe II; Os linfócitos CD4, denominados T-helper, que apresentam
receptores capazes de reagir com virtualmente todos os antígenos que possam ocorrer na natureza, entram em contato
com um antígeno cuja especificidade seja correspondente ao seu anticorpo de superfície;
Ao reconhecer o antígeno, o linfócito é então ativado, passando então a produzir citocinas, dentre elas, o interferon γ;
As citocinas produzidas vão ativar todos os compartimentos do sistema imune, ou seja, ativar as defesas tanto humoral quanto
celular;
Os linfócitos B quando ativados pelas citocinas, sofrem expansão clonal, diferenciando-se em plasmócitos e em células de
memória; Os plasmócitos passam a produzir ativamente anticorpos com
especificidade ao antígeno que desencadeou o processo de resposta imune;
Os linfócitos CD8, ou seja, os linfócitos citotóxicos, quando ativados, sofrem expansão clonal, agindo especificamente contra
os antígenos apresentados pelas células infectadas, destruindo-as;
As células NK, quando ativadas, destroem células infectadas por vírus;
Os macrófagos são especialmente ágeis, quando as partículas virais encontram-se opsonizadas, ou seja, recobertas por
anticorpos;
Uma célula infectada, recoberta por anticorpos, pode ser especificamente lisada por células NK, pois nelas também
encontramos receptores para as porções Fc da molécula de
anticorpo, num mecanismo denominado ADCC – citotoxicidade celular, dependente de anticorpo.
Para que uma partícula viral seja neutralizada, é necessário que ela
esteja completamente recoberta por anticorpos. Um vírus, nesta condição, não é capaz de se ligar aos receptores de membrana das
células hospedeiras.
A partir de sua inativação, os vírus devem então ser eliminados,
inicialmente pela ação dos macrófagos, pois as partículas virais opsonizadas são mais facilmente fagocitadas e posteriormente
digeridas e destruídas.
A ativação da via clássica do sistema complemento, se dá a partir do complexo antígeno-anticorpo, que promove a destruição da partícula
viral.
Células infectadas, quando recoberta por anticorpos, são mais
facilmente reconhecidas pelas células NK e por elas destruídas.
Alterações no genoma viral podem aumentar ou mesmo diminuir a sua virulência. É baseado nesta premissa, que se apóiam as técnicas de
produção de vacinas.
Os hospedeiros apresentam diferentes graus de resistência que são
ditados por mecanismos específicos e inespecíficos. Como exemplo, um episódio ocorrido em 1942, onde um determinado grupo de
militares (42.000 indivíduos) foi vacinado contra a febre amarela. Na época, a vacina utilizava soro humano como estabilizante. O fato é que
o soro estava infectado pelo vírus da hepatite B, que fora inoculado em uma população homogenia, contando com indivíduos saudáveis e
pertencentes a uma mesma faixa de idade.. Observou-se, porém, que apenas uma parcela destes militares veio a apresentar a doença, e não
todo o contingente. Além disso, dentro do grupo que manifestou a doença, houve casos que oscilaram de uma forma mais branda até
formas mais graves da doença. Sendo assim, existe uma variabilidade
na resposta a uma infecção, que depende da resistência de cada indivíduo e também da qualidade da amostra viral que está circulando.
Para que um vírus possa atingir seu objetivo, ele antes precisa vencer
algumas barreiras, para que ele então possa replicar seu material genético. A evidência de uma infecção viral, somente virá depois de
causada uma lesão no órgão alvo.
PATOGENIA
O organismo é revestido por tecidos epiteliais, como a pele e uma
série de mucosas, tais como a mucosa do trato respiratório, gastrintestinal, geniturinário. Estas são as “portas de entrada” para os
vírus.
Existem determinados vírus, cuja porta de entrada é a pele, e outros
escolhem uma ou mais de uma portas de entrada de um indivíduo. No caso da entrada pela pele, é necessário um trauma pré-existente.
Existem vírus que penetram na pele via artrópodes vetores, como exemplo, como ocorre na dengue e na febre amarela. A outra forma é
por intermédio de uma lesão pré-existente, como ocorre no caso da infecção pelo vírus papiloma, herpes simplex vírus que causa a herpes
labial e genital, além do vírus da hepatite B. Outra forma de entrada pela pele, é através da mordida de um animal, como ocorre com o
vírus da raiva.
A via iatrogênica é uma via que não existe na natureza, estando ligada
a infecções hospitalares, utilização de seringas e todas as demais infecções que se valem de procedimentos adotados pelo homem. Os
principais vírus transmitidos por estas vias são: o vírus da hepatite B e o vírus HIV.
Com relação a portas de entrada representadas por mucosas, a mais
comum é a do trato respiratório. Todas as portas de entradas contam com mecanismos de proteção, no caso do trato respiratório, vamos
encontrar muco, células epiteliais ciliadas, reflexos de limpeza (tosse e espirro), a presença de macrófagos alveolares e de IgA secretora, que
é um mecanismo específico de defesa.
Os indivíduos infectados por vírus do trato respiratório, transmitem as
partículas virais por meio de muco, saliva e aerossóis, sobretudo quando ocorrem os reflexos da tosse ou espirro. Nos aerossóis temos
a evaporação de gotículas, que permanecem muito tempo em suspensão. Quanto menor a gotícula infectada, maior o tempo que ela
vai permanecer em suspensão e mais profundamente ela pode penetrar no trato respiratório, fazendo dos aerossóis um dos principais
agentes envolvidos na transmissões de vírus.
Espécime clínica é tudo aquilo que se pode coletar de um indivíduo
capaz de proporcionar um diagnóstico. Para se fazer um diagnostico de uma infecção do trato respiratório, coleta-se muco, no qual podem ser
encontradas células.
O curso de uma infecção viral do trato respiratório caracteriza-se,
inicialmente, pela infecção das células do tecido epitelial, quando esta infecção pode permanecer localizada, onde a porta de entrada se
caracteriza como órgão alvo. É o que se observa num resfriado, nas infecções causadas por adenovirus, na gripe, e várias outras viroses
específicas do trato respiratório.
Outros vírus, apenas utilizam o trato respiratório como porta de entrada, dirigindo-se para outros locais, como ocorre na caxumba,
rubéola, catapora, sarampo e varíola.
Outra porta de entrada importante, em termos de superfície mucosa, é
o trato digestivo, especialmente em paises em desenvolvimento, onde as condições de saneamento básico são precárias, para um grande
contingente populacional. Uma infecção do trato gastrintestinal está diretamente associada à ingestão de resíduos fecais.
O trato alimentar é muito bem protegido, pois ele conta com a
presença de muco, IgA secretora, ph ácido e enzimas proteolíticas.
Porém, os vírus que atuam nesta porta de entrada, têm a capacidade de resistir a estas barreiras.
Os vírus que atuam no trato digestivo são transmitidos pelas fezes ou
pelo contato direto, sobretudo entre crianças, que não possuem um hábito de higiene muito bem estabelecido, ou em adultos que
manipulem alimentos e que tenham uma rotina de higiene inadequada.
Um vírus quando entra pelo trato digestivo replica-se, inicialmente, no tecido epitelial entérico. Esta infecção pode permanecer localizada,
causando as infecções entéricas, como ocorre nas infecções por rotavirus e nas chamadas gastrenterites virais, caracterizadas por
diarréia, vômitos, e outros sintomas. Esta infecção pode também utilizar este trato como porta de entrada, se multiplicar no seu tecido
epitelial e migrar para outros locais, como ocorre com o vírus da pólio que migra para o sistema nervoso central e os vírus da hepatite A e E
que vão para o fígado.
Com relação ao trato genital, temos a porta de entrada para as
chamadas doenças virais sexualmente transmissíveis. Estas viroses podem utilizar este trato como porta de entrada, se replicar no seu
tecido epitelial, e neste local permanecer, como ocorre na herpes e com o vírus papiloma, que causa as verrugas genitais. A partir da
replicação na porta de entrada poderemos ter a disseminação do vírus,
como ocorre com o vírus HIV, hepatite B e C.
Os olhos não se configuram como uma porta de entrada muito freqüente, sendo que a porta de entrada é o órgão alvo para as
conjuntivites. Nos olhos, a lágrima e o ato de piscar atuam como meios de proteção contra infecções. Os vírus envolvidos nos episódios
de conjuntivite são os adenovirus e os enterovirus.
No caso de mulheres grávidas, que tenham infecções virais, durante o
período virêmico, ou seja, enquanto o vírus estiver no sangue circulante, este pode, via placenta, infectar o feto em formação. É o
que ocorre com o vírus da rubéola e no citomegalovirus, que são transmitidos durante o período gestacional.
Uma outra via de entrada é através dos transplantes, quando ocorre a
infecção do receptor, pelo órgão do doador, caracterizando-se como um fator de rejeição do transplante. Os citomegalovirus e o vírus EBV,
podem se utilizar desta via de entrada.
A partir da entrada do vírus no hospedeiro, por uma das portas de
entrada descritas, o vírus sempre vai se instalar no tecido epitelial da respectiva porta de entrada. Uma vez, instalado, o vírus pode
permanecer no chamado sítio primário de infecção ou se disseminar pelo organismo.
A resposta imunológica do hospedeiro, a evolução da doença em relação ao tempo de incubação e o tempo de duração da doença, vão
variar, dependendo do tipo de infecção, ou seja, se a infecção for localizada ou disseminada. Com relação às infecções localizadas, o
vírus entra no hospedeiro, replica-se, no sito primário de infecção e ali permanece. Normalmente as infecções localizadas, envolvem a
entrada pela pele, a partir de uma lesão, como ocorre na infecção pelo papiloma vírus e as infecções respiratórias (gripes e resfriados) e nas
infecções entéricas (gastrenterites virais).
As infecções localizadas se caracterizam pelo termo “hit and run”, ou
seja, o vírus entra, se replica na porta de entrada e ali permanece. Pelo fato do vírus permanecer confinado na porta de entrada, a
infecção caracteriza-se por um curto período de incubação. A fase de incubação é aquela que antecede o aparecimento dos sintomas da
doença.
No caso da gripe, o período de incubação dura, normalmente, cerca de
2 dias. É só a partir destas 48 horas que aparecem os primeiros sinais ou sintomas da infecção, que leva de 5 a 7 dias para ser debelada.
No caso da gripe, pelo fato do vírus não circular pelo organismo, o
sistema imune é pouco ativado. A resposta imunológica resultante de uma infecção localizada é basicamente dependente de interferon e das
defesas locais. Isto não significa dizer que o sistema imune não produza anticorpos contra estas infecções, o que ocorre é uma
resposta não tão potente quanto aquela das infecções generalizadas. Por outro lado, quando se avalia o curso das infecções sistêmicas, ou
generalizadas, vê-se uma maior elaboração do processo da patogenia
da infecção, por parte do sistema imune.
Numa infecção sistêmica, o vírus consegue ultrapassar a membrana basal e assim penetrar no sistema linfático disseminando-se pelo
organismo. Dentre as formas pelas quais uma infecção pode se disseminar, o sangue caracteriza-se como o principal agente
disseminador de vírus no organismo. A presença de vírus no sangue é denominada viremia. Além do sangue, os nervos e os vasos linfáticos
se comportam também como agentes disseminadores de vírus
Os agentes disseminadores proporcionam um segundo local de
replicação aos virus. Numa infecção generalizada disseminada pelo sangue, inicialmente ocorreu uma replicação no tecido epitelial, ou
seja, uma replicação na porta de entrada. Após este evento, o vírus consegue atravessar a membrana basal, alcançar os linfonodos
regionais e chegar ao sangue, caracterizando um quadro de viremia primária. Neste momento, o vírus vai passar pelos órgãos do sistema
retículo-endotelial, que são: medula óssea, fígado, baço e células endoteliais. Estes são os grandes órgãos captadores, ou seja, aqueles
órgãos que poderão informar ao sistema imune, a presença de organismos estranhos. É nas células destes órgãos que o vírus sofre a
replicação secundária, cujo objetivo é causar uma viremia
secundária. O período que se estende da infecção até a chegada ao órgão alvo é longo, podendo levar dias, semanas ou até meses. O
período de incubação é longo, pois ele envolve um grande trajeto do vírus pelo organismo, permitindo ao sistema imune a oportunidade de
montar uma resposta mais vigorosa, com uma imunidade resultante muito mais duradoura.
As infecções virais disseminadas, apresentam as seguintes
características, quando comparadas com as infecções localizadas:
Maior período de incubação; Sintomas que demoram muito mais a aparecer e
Melhor ativação do sistema imune com uma imunidade resultante muito mais duradoura.
As infecções virais podem ser denominadas agudas ou persistentes. As infecções agudas,
Tempo em anos
Presença do virus
Episódio de doença
Infecção Aguda
Tempo em anos
Presença do virus
Episódio de doença
Infecções Latentes
Infecções
Persistentes
Tempo em anos
Infecção crônica
Latentes
Infecção lenta
Na infecção do tipo aguda, o indivíduo entra em contato com o vírus,
podendo manifestar ou não a doença. Neste tipo de infecção, invariavelmente, o vírus é totalmente eliminado do organismo. Nesta
categoria se enquadram, por exemplo, todas as infecções entéricas e respiratórias, a rubéola e o sarampo.
Nas infecções virais persistentes, o vírus não é eliminado. Esta não
eliminação do vírus pode trazer conseqüências importantes não só para o individuo infectado como para uma população. Isto porque,
para o indivíduo infectado, esta infecção persistente pode trazer seqüelas graves, até mesmo dar origem a um processo canceroso.
Para a população, os indivíduos portadores de infecções persistentes,
funcionam como reservatórios do vírus.
Existem 3 tipos de infecções persistentes:
Infecção latente; Infecção crônica e
Infecções lentas.
O primeiro tipo de infecção persistente é a infecção latente. Um
importante exemplo de infecção latente são os herpes vírus em geral e a catapora. Numa infecção latente, após o primeiro contato com o
vírus, ele atinge sua concentração máxima, proporcionando o aparecimento da doença, no chamado ciclo lítico, caracterizado pela
destruição das células infectadas. Em seguida a infecção parece estar resolvida, com as lesões curadas. Porém, o vírus ainda permanece no
organismo, não sendo portanto eliminado permanecendo as partículas virais na sua forma latente.
Durante o período de latência não ocorre a replicação viral, ou seja, o indivíduo não é infeccioso durante o período de latência do vírus.
Porém, de tempos em tempos, cerca de 50% destes vírus em estado de latência, experimentam episódios de recorrência, com o
aparecimento das lesões características da virose, repetindo-se o ciclo novamente.
Na infecção crônica, o vírus chega até o órgão alvo, atinge sua concentração máxima, quando o individuo pode ou não apresentar os
sintomas da doença, ou seja, a infecção pode se apresentar de forma assintomática. Após este período, o vírus não para mais de se
replicar, ou seja, o vírus vai ter uma replicação continuada por toda a vida do indivíduo, irá cessando somente caso haja o tratamento
específico. Na hepatite B de 5 a 10% dos adultos e 90% dos bebes
infectados desenvolvem infecções crônicas. Na hepatite C 85% dos
indivíduos infectados desenvolvem uma infecção crônica. Como conseqüências destas infecções crônicas de hepatites B e C pode haver
o desenvolvimento de cirrose hepática e hepatocarcinoma celular.
Nas infecções lentas, a característica fundamental é um longo período de incubação do vírus, que pode demorar anos, como pode ocorrer na
infecção pelo HIV. Neste tipo de infecção, invariavelmente, a infecção cursa com o aparecimento dos sintomas característicos, culminando
com a morte do indivíduo, caso não haja o tratamento adequado. O vírus HIV pode ser encaixado nos três tipos de infecção.