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OLIBERAL BELÉM, QUARTA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2015 8 ATUALIDADES Cadeirinhas vão encarecer transporte escolar. Página 9. CIDADES Q uando Marcelo Odebre- cht, preso em Curitiba, encaminhou um bilhete a seus advogados orientan- do “destruir e-mail sondas”, ligou-se logo a orientação a um e-mail descoberto pela Polícia Federal em que um diretor da empreiteira fa- lava em conseguir um “so- brepreço” num contrato de sondas petrolíferas. Logo os advogados da Odebrecht correram a ex- plicar que esse “destruir” era metafórico, e queria di- zer apenas que era preciso provar que “sobrepreço” também não significava “sobrepreço”, mas, sim, uma taxa legal do contrato. Agora, a PF encontrou uma série de anotações de Mar- celo em seus celulares, e várias delas dão a entender coisas gravíssimas. Por exemplo, ele ques- tiona em uma delas seu vi- ce-presidente jurídico se é necessário avisar Edinho (Sil- va?) que nas campanhas dela (Dilma Rousseff?) e também de (Fernando?) Haddad pode aparecer dinheiro de uma conta na Suíça. Seria aviso amigo ou uma ameaça? Quer dizer o que todos nós imagi- namos, que a campanha de Dilma foi financiada por di- nheiro ilegal? O juiz Sergio Moro deu dois dias para que haja uma explicação oficial por parte do empreiteiro sobre o significado de cada uma daquelas anotações, que estão sendo traduzidas pe- la PF com a ajuda de vários órgãos de imprensa e blogs, dentre os quais se destaca O Antagonista, de Diogo Mainardi e Mario Sabino. Para Moro, o trecho mais perturbador é a re- ferência ao uso de “dissi- dentes PF” com “trabalhar para parar/anular” a in- vestigação. “Sem embar- go do direito da defesa de questionar juridicamente a investigação ou a perse- cução penal, a menção a ‘dissidentes PF’ coloca uma sombra sobre o significado da anotação”, ressalta. Uma das anotações achadas pela PF nos celula- res de Marcelo Odebrecht diz ser necessário ter “con- tato ágil/permanente com o grupo de crise do governo e nós para que informações sejam passadas e ações co- ordenadas”. Há ainda entre as anota- ções algumas que indicam que os executivos da em- preiteira presos na Lava- Jato Márcio Faria e Rogério Araújo são orientados para que não “movimentem na- da e que serão reembolsa- dos, bem como terão suas famílias asseguradas”. Além disso, Marcelo lem- bra a necessidade de “higie- nizar apetrechos” dos dois, o que, diz a PF, “traduz a ideia de que os apetrechos (a exemplo de telefones, tablets, notebooks, pendri- ves etc.) sejam limpos, im- pedindo que, em possível apreensão, possam conter informações prejudiciais aos supracitados”. Em outro momento, apa- rece a possibilidade de incen- tivar “delação premiada” de Rogério Araújo como sendo um plano alternativo (fall- back). Segundo a Polícia Fe- deral, “referência a Rogerio Araújo e conta corrente na Suíça é constante, indicando a preocupação de Marcelo com a mesma, como pode ser observado na anotação ‘RA vs cc Sw (direção fluxo? Delação dos envolvidos?)”. No caso da “declaração premiada” combinada, se- ria como fazer doações de dinheiro roubado como se fossem legais, uma tática utilizada pelas empreitei- ras. Assim como o dinhei- ro fica “lavado” pelo TSE, a “delação” seria oficializada pelo Supremo. Como alternativa, o pre- sidente da Odebrecht ad- mite a possibilidade de ter dado dinheiro para caixa 2 de campanha: “Campanha incluindo caixa 2, se houver era soh com MO (a PF acre- dita ser a MO Consultoria, empresa de fachada de Alberto Youssef), que não aceitava vinculação. PRC (Paulo Roberto Costa) soh se foi rebate de cx2”. Vários nomes de polí- ticos surgem no decorrer das anotações, inclusive altas cifras para o Vaca, que todos acreditam ser João Vaccari, o tesoureiro do PT já preso. As anotações de Marce- lo são muito detalhadas, o que combina com a descri- ção de seus carcereiros em Curitiba, que certa vez o definiram como uma pes- soa que passa o dia escre- vendo, tomando notas. Gra- ças a esse hábito, a PF tem em mãos uma coletânea de notas e informações que podem se equivaler a uma delação premiada depois de devidamente decodificada. Os pontos-chave 1 Quando Marcelo Ode- brecht encaminhou bi- lhete a seus advogados orientando “destruir e-mail sondas”, eles correram a explicar que “destruir” queria dizer que era preci- so provar que “sobrepreço” significava uma taxa legal do contrato. 2 Agora, a PF encontrou uma série de anotações de Marcelo em seus ce- lulares, e várias dão a en- tender coisas gravíssimas. 3 O juiz Moro deu 2 dias para explicação por parte de Marcelo. Para Moro, o trecho mais per- turbador é a referência a “dissidentes PF” junto com “trabalhar para parar/anu- lar” a investigação. A ‘delação premiada’ de Marcelo merval pereira [email protected] “Quer dizer que a campanha de Dilma foi nanciada por dinheiro ilegal?” Chuva afeta 51 mil no RS O número de pessoas atin- gidas pela chuva aumentou da manhã para a tarde desta terça-feira no Rio Grande do Sul, apesar da trégua na chu- va. Segundo balanço divulga- do pela Defesa Civil estadual, às 17 horas, ao todo já havia 51.009 afetados, ante 50.728 divulgados anteriormente. A contagem de desabrigados também subiu: foi de 2.029 para 2.768. São 64 municípios prejudicados. Entre eles, 26 estão em situação de emer- gência. Conforme a Defesa Civil, a situação mais grave se concentra nos municípios de Esteio, Gravataí e Cachoerinha, na Região Metropolitana, e em Porto Alegre, na zona norte e nas ilhas do Guaíba. MAIS V irou inquérito civil públi- co no Ministério Público Federal (sob o número 1.23.000.001346/2015-60) o descumprimento da ordem judicial pela extinta Superin- tendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), atual Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em relação aos seus ex-servidores contaminados pelo DDT (dicloro-difenil-tri- cloroetano). Eles são tutelados pela Justiça Federal para terem o tratamento adequado das doenças ocasionadas pelo in- seticida. Ainda este mês, o MPF encaminhou comunicação, a partir de Belém, às unidades em todo o Estado, para que in- vestiguem o descumprimento das decisões em cada região da Justiça Federal no Pará. O MPF recebeu a denúncia do Sindicato dos Trabalhado- res no Serviço Público Federal no Pará (Sindsep/PA), no dia 26 de maio deste ano. O procura- dor da República Bruno Soa- res Valente analisou o relato e determinou a instauração de inquérito para investigar o ca- so. Segundo o sindicato, saltou para 118 o número de mortes de ex-servidores contamina- dos pelo DDT. Em 2011, a lista apontava 37 mortes. A entida- de estimava existirem cerca de mil servidores intoxicados MPF vai apurar abandono de todas as vítimas do DDT TRATAMENTO MPF aceita denúncia e abre inquérito para apurar ausência de tutela a ex-servidores Todas as unidades no Estado vão investigar descumprimento no Estado, mas, por meio de documento emitido em maio deste ano, o Ministério da Saú- de atualizou essa informação: são 1.812 servidores, entre os quais guardas de endemias, agentes de saúde pública, visi- tadores, motoristas, pilotos de lanchas, laboratoristas, enfer- meiros e agentes administra- tivos, entre outros. A partir de 1999, centenas de ações judiciais individuais em relação a essa causa foram iniciadas no Pará e para 30% delas foram conseguidas tu- telas. Desde 2007, o Sindsep entrou com oito ações civis públicas nas varas federais para reconhecimento da ne- cessidade de indenização, obrigatoriedade do governo garantir o tratamento de saú- de e admissão da existência de acidente de trabalho, por falta de material de seguran- ça. As decisões judiciais que já beneficiaram os servidores foram proferidas em Altami- ra, Belém, Castanhal, Marabá, Redenção e Tucuruí. Em Itai- tuba o processo está em fase de conclusão e em Santarém o pedido foi negado, mas o sin- dicato recorreu. “O Tribunal Regional Fede- ral reconhece como dano inde- nizatório a importância de R$ 3 mil por ano trabalhado, mas ainda é pouco pela gravidade que eles sofrem e pela dívida social que há com esses traba- lhadores. Eles trabalharam en- tre 20 e 30 anos e nós questio- namos indenização maior no Superior Tribunal de Justiça, de R$ 15 mil por ano trabalha- do. Infelizmente, a agilidade da Justiça não acompanha a gravidade da saúde desses trabalhadores. Muitas vezes, quando conseguimos uma tutela para o tratamento de saúde, a doença já está agrava- da”, ressaltou Pedro Cavalero, assessor jurídico do sindicato. Segundo Luis Sérgio Botelho, coordenador de Saúde do Tra- balhador do Sindsep, os tra- balhadores enfrentam sérios problemas quanto ao cumpri- mento do programa de atendi- mento à saúde da Funasa, que existe há 12 anos, e se agravou nos últimos seis anos. Uma das pessoas debili- tadas é o agente de saúde pú- blica Manuel Valente Tavares, que tem 62 anos. “Estou com problema de tontura, não pos- so andar sozinho pelas ruas. Estou também muito doente da minha coluna, sinto do- res que seguem pelas pernas e meus dedos do pé ficam amortecidos. Sou hipertenso e cardíaco. Tudo isso é con- sequência do DDT”, relatou o trabalhador. Ele disse que quando co- meçou o trabalho tinha 18 anos e não sabia que teria re- sultados negativos. “Naquela época a gente não sabia o que era aquele produto nem o que a gente carregava e espirrava. No início, tínhamos todas as especialidades médicas, mas infelizmente, nos últimos seis anos, passamos a ser tratados com descaso pelo governo, que nem o tratamento de saúde nos garante mais”, disse Tavares. Manuel Valente (de boné): problemas sérios de saúde ROBERTO DO VALE / O LIBERAL Inseticida causa alterações físicas e psicológicas ras 24 horas, envolvem náuseas, vômitos, diar- reias, mal-estar, tremo- res e até convulsões, se a absorção for grande. Já a crônica é uma exposição ocupacional, em que a pessoa tem contato com pequena quantidade - até se intoxicar - e provoca alterações emocionais, visuais, psíquicas, psico- lógicas, podendo levar ao adormecimento, alteração sanguínea, renal, hepática e cardíaca, entre outras. DIAGNÓSTICO Pardal destacou ainda que a intoxicação crônica é mais difícil de diagnosti- car, pois envolve diversas manifestações, confundin- do-se com outras doenças. “Laboratorialmente é difí- cil diagnosticar a crônica, mas é possível chegar a consenso epidemiológi- co e clínico. No primeiro caso, é levada em conta a história do paciente, que pode levar o médico a sus- peitar do diagnóstico. No clínico, o médico investiga o que o paciente sente, so- licita alguns exames, em geral de sangue, urina e outros tipos. Se confirma- do, o paciente deve ter o acompanhamento clínico, psicológico e psiquiátrico, vai depender do caso”, es- clareceu o especialista. O Centro de Informa- ções Toxicológicas de Be- lém é resultado de uma parceria entre a Univer- sidade Federal do Pará (UFPA) e a Secretaria Mu- nicipal de Saúde (Sesma). Existe há 17 anos e funcio- na no Hospital Universitá- rio João de Barros Barreto, da UFPA, na rua dos Mun- durucus, no Guamá. O centro dá orientações, por telefone, durante 24 horas, de segunda a segunda, a qualquer pessoa que teve intoxicação aguda e foi envenenada por animais peçonhentos. A ligação é gratuita: 0800 722 6001. Segundo o médico toxico- logista Pedro Pardal, que co- ordena o Centro de Informa- ções Toxicológicas de Belém, referência no assunto no Pa- rá, a fabricação, comerciali- zação e o uso do produto em todo o território nacional foi proibida no Brasil, por meio da Lei 11.936/2009, porque o produto dá persistência ambiental e se bioacumula no organismo humano. “O inseticida permanece mui- to tempo no organismo e pode resultar em efeitos na saúde, dependendo da via de penetração. Ocorre, prin- cipalmente, por via oral e respiratória. A dérmica tem absorção menor. Pela via oral e respiratória há chances de apresentar manifestação aguda e chegar à crônica”, explicou o médico. Os sintomas na fase agu- da, que ocorre nas primei-

MPF vai apurar abandono de todas as vítimas do DDT

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O LIBERAL BELÉM, QUARTA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 20158 ATUALIDADES

Cadeirinhas vão encarecer transporte escolar. Página 9.CIDADES

Quando Marcelo Odebre-cht, preso em Curitiba, encaminhou um bilhete

a seus advogados orientan-do “destruir e-mail sondas”, ligou-se logo a orientação a um e-mail descoberto pela Polícia Federal em que um diretor da empreiteira fa-lava em conseguir um “so-brepreço” num contrato de sondas petrolíferas.

Logo os advogados da Odebrecht correram a ex-plicar que esse “destruir” era metafórico, e queria di-zer apenas que era preciso provar que “sobrepreço” também não significava “sobrepreço”, mas, sim, uma taxa legal do contrato. Agora, a PF encontrou uma série de anotações de Mar-celo em seus celulares, e várias delas dão a entender coisas gravíssimas.

Por exemplo, ele ques-tiona em uma delas seu vi-ce-presidente jurídico se é necessário avisar Edinho (Sil-va?) que nas campanhas dela (Dilma Rousseff?) e também de (Fernando?) Haddad pode aparecer dinheiro de uma conta na Suíça. Seria aviso amigo ou uma ameaça? Quer dizer o que todos nós imagi-namos, que a campanha de Dilma foi financiada por di-nheiro ilegal?

O juiz Sergio Moro deu dois dias para que haja uma explicação oficial por parte do empreiteiro sobre o significado de cada uma daquelas anotações, que estão sendo traduzidas pe-la PF com a ajuda de vários órgãos de imprensa e blogs, dentre os quais se destaca O Antagonista, de Diogo Mainardi e Mario Sabino.

Para Moro, o trecho mais perturbador é a re-ferência ao uso de “dissi-dentes PF” com “trabalhar para parar/anular” a in-vestigação. “Sem embar-go do direito da defesa de questionar juridicamente a investigação ou a perse-cução penal, a menção a ‘dissidentes PF’ coloca uma sombra sobre o significado da anotação”, ressalta.

Uma das anotações achadas pela PF nos celula-res de Marcelo Odebrecht diz ser necessário ter “con-tato ágil/permanente com o grupo de crise do governo e nós para que informações sejam passadas e ações co-ordenadas”.

Há ainda entre as anota-ções algumas que indicam que os executivos da em-preiteira presos na Lava-Jato Márcio Faria e Rogério Araújo são orientados para que não “movimentem na-da e que serão reembolsa-dos, bem como terão suas famílias asseguradas”. Além disso, Marcelo lem-bra a necessidade de “higie-nizar apetrechos” dos dois, o que, diz a PF, “traduz a ideia de que os apetrechos (a exemplo de telefones, tablets, notebooks, pendri-ves etc.) sejam limpos, im-pedindo que, em possível apreensão, possam conter informações prejudiciais

aos supracitados”.Em outro momento, apa-

rece a possibilidade de incen-tivar “delação premiada” de Rogério Araújo como sendo um plano alternativo (fall-back). Segundo a Polícia Fe-deral, “referência a Rogerio Araújo e conta corrente na Suíça é constante, indicando a preocupação de Marcelo com a mesma, como pode ser observado na anotação ‘RA vs cc Sw (direção fluxo? Delação dos envolvidos?)”.

No caso da “declaração premiada” combinada, se-ria como fazer doações de dinheiro roubado como se fossem legais, uma tática utilizada pelas empreitei-ras. Assim como o dinhei-ro fica “lavado” pelo TSE, a “delação” seria oficializada pelo Supremo.

Como alternativa, o pre-sidente da Odebrecht ad-mite a possibilidade de ter dado dinheiro para caixa 2 de campanha: “Campanha incluindo caixa 2, se houver era soh com MO (a PF acre-dita ser a MO Consultoria, empresa de fachada de Alberto Youssef), que não aceitava vinculação. PRC (Paulo Roberto Costa) soh se foi rebate de cx2”.

Vários nomes de polí-ticos surgem no decorrer das anotações, inclusive altas cifras para o Vaca, que todos acreditam ser João Vaccari, o tesoureiro do PT já preso.

As anotações de Marce-lo são muito detalhadas, o que combina com a descri-ção de seus carcereiros em Curitiba, que certa vez o definiram como uma pes-soa que passa o dia escre-vendo, tomando notas. Gra-ças a esse hábito, a PF tem em mãos uma coletânea de notas e informações que podem se equivaler a uma delação premiada depois de devidamente decodificada.

Os pontos-chave

1Quando Marcelo Ode-brecht encaminhou bi-lhete a seus advogados

orientando “destruir e-mail sondas”, eles correram a explicar que “destruir” queria dizer que era preci-so provar que “sobrepreço” significava uma taxa legal do contrato.

2Agora, a PF encontrou uma série de anotações de Marcelo em seus ce-

lulares, e várias dão a en-tender coisas gravíssimas.

3O juiz Moro deu 2 dias para explicação por parte de Marcelo. Para

Moro, o trecho mais per-turbador é a referência a “dissidentes PF” junto com “trabalhar para parar/anu-lar” a investigação.

A ‘delação premiada’ de Marcelo

mervalpereira

[email protected]

“Quer dizer que a campanha de Dilma foi fi nanciada por dinheiro ilegal?”

Chuva afeta 51 mil no RSO número de pessoas atin-gidas pela chuva aumentou da manhã para a tarde desta terça-feira no Rio Grande do Sul, apesar da trégua na chu-va. Segundo balanço divulga-do pela Defesa Civil estadual, às 17 horas, ao todo já havia 51.009 afetados, ante 50.728 divulgados anteriormente. A contagem de desabrigados

também subiu: foi de 2.029 para 2.768. São 64 municípios prejudicados. Entre eles, 26 estão em situação de emer-gência. Conforme a Defesa Civil, a situação mais grave se concentra nos municípios de Esteio, Gravataí e Cachoerinha, na Região Metropolitana, e em Porto Alegre, na zona norte e nas ilhas do Guaíba.

MAIS

V irou inquérito civil públi-co no Ministério Público Federal (sob o número

1.23.000.001346/2015-60) o descumprimento da ordem judicial pela extinta Superin-tendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), atual Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em relação aos seus ex-servidores contaminados pelo DDT (dicloro-difenil-tri-cloroetano). Eles são tutelados pela Justiça Federal para terem o tratamento adequado das doenças ocasionadas pelo in-seticida. Ainda este mês, o MPF encaminhou comunicação, a partir de Belém, às unidades em todo o Estado, para que in-vestiguem o descumprimento das decisões em cada região da Justiça Federal no Pará.

O MPF recebeu a denúncia do Sindicato dos Trabalhado-res no Serviço Público Federal no Pará (Sindsep/PA), no dia 26 de maio deste ano. O procura-dor da República Bruno Soa-res Valente analisou o relato e determinou a instauração de inquérito para investigar o ca-so. Segundo o sindicato, saltou para 118 o número de mortes de ex-servidores contamina-dos pelo DDT. Em 2011, a lista apontava 37 mortes. A entida-de estimava existirem cerca de mil servidores intoxicados

MPF vai apurar abandono de todas as vítimas do DDTTRATAMENTOMPF aceita denúnciae abre inquérito paraapurar ausência detutela a ex-servidores

Todas as unidades noEstado vão investigar descumprimento

no Estado, mas, por meio de documento emitido em maio deste ano, o Ministério da Saú-de atualizou essa informação: são 1.812 servidores, entre os quais guardas de endemias, agentes de saúde pública, visi-tadores, motoristas, pilotos de lanchas, laboratoristas, enfer-meiros e agentes administra-tivos, entre outros.

A partir de 1999, centenas de ações judiciais individuais em relação a essa causa foram iniciadas no Pará e para 30% delas foram conseguidas tu-telas. Desde 2007, o Sindsep entrou com oito ações civis públicas nas varas federais para reconhecimento da ne-cessidade de indenização, obrigatoriedade do governo garantir o tratamento de saú-de e admissão da existência de acidente de trabalho, por falta de material de seguran-ça. As decisões judiciais que

já beneficiaram os servidores foram proferidas em Altami-ra, Belém, Castanhal, Marabá, Redenção e Tucuruí. Em Itai-tuba o processo está em fase de conclusão e em Santarém o pedido foi negado, mas o sin-dicato recorreu.

“O Tribunal Regional Fede-ral reconhece como dano inde-nizatório a importância de R$ 3 mil por ano trabalhado, mas ainda é pouco pela gravidade que eles sofrem e pela dívida social que há com esses traba-lhadores. Eles trabalharam en-tre 20 e 30 anos e nós questio-namos indenização maior no Superior Tribunal de Justiça, de R$ 15 mil por ano trabalha-do. Infelizmente, a agilidade da Justiça não acompanha a gravidade da saúde desses trabalhadores. Muitas vezes, quando conseguimos uma tutela para o tratamento de saúde, a doença já está agrava-

da”, ressaltou Pedro Cavalero, assessor jurídico do sindicato. Segundo Luis Sérgio Botelho, coordenador de Saúde do Tra-balhador do Sindsep, os tra-balhadores enfrentam sérios problemas quanto ao cumpri-mento do programa de atendi-mento à saúde da Funasa, que existe há 12 anos, e se agravou nos últimos seis anos.

Uma das pessoas debili-tadas é o agente de saúde pú-blica Manuel Valente Tavares, que tem 62 anos. “Estou com problema de tontura, não pos-so andar sozinho pelas ruas. Estou também muito doente da minha coluna, sinto do-res que seguem pelas pernas e meus dedos do pé ficam amortecidos. Sou hipertenso e cardíaco. Tudo isso é con-sequência do DDT”, relatou o trabalhador.

Ele disse que quando co-meçou o trabalho tinha 18 anos e não sabia que teria re-sultados negativos. “Naquela época a gente não sabia o que era aquele produto nem o que a gente carregava e espirrava. No início, tínhamos todas as especialidades médicas, mas infelizmente, nos últimos seis anos, passamos a ser tratados com descaso pelo governo, que nem o tratamento de saúde nos garante mais”, disse Tavares.

Manuel Valente (de boné): problemas sérios de saúde

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ERAL

Inseticida causa alterações físicas e psicológicasras 24 horas, envolvem náuseas, vômitos, diar-reias, mal-estar, tremo-res e até convulsões, se a absorção for grande. Já a crônica é uma exposição ocupacional, em que a pessoa tem contato com pequena quantidade - até se intoxicar - e provoca alterações emocionais, visuais, psíquicas, psico-lógicas, podendo levar ao adormecimento, alteração sanguínea, renal, hepática e cardíaca, entre outras.

DIAGNÓSTICO

Pardal destacou ainda que a intoxicação crônica é mais difícil de diagnosti-car, pois envolve diversas manifestações, confundin-do-se com outras doenças. “Laboratorialmente é difí-cil diagnosticar a crônica, mas é possível chegar a consenso epidemiológi-co e clínico. No primeiro caso, é levada em conta a história do paciente, que pode levar o médico a sus-peitar do diagnóstico. No clínico, o médico investiga o que o paciente sente, so-licita alguns exames, em geral de sangue, urina e outros tipos. Se confirma-do, o paciente deve ter o acompanhamento clínico, psicológico e psiquiátrico, vai depender do caso”, es-clareceu o especialista.

O Centro de Informa-ções Toxicológicas de Be-lém é resultado de uma parceria entre a Univer-sidade Federal do Pará (UFPA) e a Secretaria Mu-nicipal de Saúde (Sesma). Existe há 17 anos e funcio-na no Hospital Universitá-rio João de Barros Barreto, da UFPA, na rua dos Mun-durucus, no Guamá. O centro dá orientações, por telefone, durante 24 horas, de segunda a segunda, a qualquer pessoa que teve intoxicação aguda e foi envenenada por animais peçonhentos. A ligação é gratuita: 0800 722 6001.

Segundo o médico toxico-logista Pedro Pardal, que co-ordena o Centro de Informa-ções Toxicológicas de Belém, referência no assunto no Pa-rá, a fabricação, comerciali-zação e o uso do produto em todo o território nacional foi proibida no Brasil, por meio da Lei 11.936/2009, porque o produto dá persistência ambiental e se bioacumula no organismo humano. “O inseticida permanece mui-to tempo no organismo e pode resultar em efeitos na saúde, dependendo da via de penetração. Ocorre, prin-cipalmente, por via oral e respiratória. A dérmica tem absorção menor. Pela via oral e respiratória há chances de apresentar manifestação aguda e chegar à crônica”, explicou o médico.

Os sintomas na fase agu-da, que ocorre nas primei-