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COMUNICAÇÃO VIA SMS: A EXPERIENCIA DO PROJETO BIBLIOTECAS EM REDE Eixo temático: Gestão e Políticas de Informação Modalidade: Relato de experiência Autores: Teresa Mary Pires de Castro Melo, Paulo Pistili, Elifaz Candido, Dalton Martins Resumo Este experimento traz a tecnologia de dispositivos móveis na articulação entre bibli- otecas públicas e seus usuários, sob duas perspectivas: enquanto facilitadora da comunicação pública entre um equipamento e os operadores de determinada políti- ca e enquanto parte integrante da gestão desse mesmo equipamento público. Este trabalho traz as primeiras considerações sobre este experimento. Palavras-chave: gestão pública, comunicação pública, biblioteca pública, tecnologias digitais Introdução O projeto Bibliotecas em Rede, realizado no período de 2014 a 2015, é um projeto de extensão, criadoa partir da parceria entre a Universidade Federal de São Carlos e o Ministério da Cultura. Teve como principais objetivos a ativação de redes entre trabalhadores de bibliotecas públicas no estado de Sergipe; o fortalecimento das relações das bibliotecas com o sistema estadual e o sistema nacional de bibliotecas públicas; a discussão sobre políticas públicas da área do livro e leitura; e a articulação entre bibliotecas e comunidade. Utilizou-se de metodologias que promovessem a interação entre os trabalhadores das bibliotecas em espaços de troca de informações, ampliação de saberes práticos e a realização de ações conjuntas, para assim criar e amadurecer vínculos entre as bibliotecas e a comunidade de seu entorno.

Comunicacao via sms a experiencia do projeto bibliotecas em rede final

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COMUNICAÇÃO VIA SMS:

A EXPERIENCIA DO PROJETO BIBLIOTECAS EM REDE

Eixo temático: Gestão e Políticas de Informação

Modalidade: Relato de experiência

Autores: Teresa Mary Pires de Castro Melo, Paulo Pistili, Elifaz Candido, Dalton

Martins

Resumo

Este experimento traz a tecnologia de dispositivos móveis na articulação entre bibli-

otecas públicas e seus usuários, sob duas perspectivas: enquanto facilitadora da

comunicação pública entre um equipamento e os operadores de determinada políti-

ca e enquanto parte integrante da gestão desse mesmo equipamento público. Este

trabalho traz as primeiras considerações sobre este experimento.

Palavras-chave: gestão pública, comunicação pública, biblioteca pública,

tecnologias digitais

Introdução

O projeto Bibliotecas em Rede, realizado no período de 2014 a 2015, é um projeto

de extensão, criadoa partir da parceria entre a Universidade Federal de São Carlos e

o Ministério da Cultura. Teve como principais objetivos a ativação de redes entre

trabalhadores de bibliotecas públicas no estado de Sergipe; o fortalecimento das

relações das bibliotecas com o sistema estadual e o sistema nacional de bibliotecas

públicas; a discussão sobre políticas públicas da área do livro e leitura; e a

articulação entre bibliotecas e comunidade. Utilizou-se de metodologias que

promovessem a interação entre os trabalhadores das bibliotecas em espaços de

troca de informações, ampliação de saberes práticos e a realização de ações

conjuntas, para assim criar e amadurecer vínculos entre as bibliotecas e a

comunidade de seu entorno.

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A partir disso, em um segundo momento do projeto, já com as relações construídas,

propôs-se então a utilização de tecnologia como estratégia de aproximação das

bibliotecas junto à comunidade. Dentre as tecnologias avaliadas, o uso de

dispositivos móveis – a partir do uso de um software de envio de mensagens do tipo

SMS - mostrou-se a estratégia mais promissora para o quê nos propusemos a

trabalhar.

O presente trabalho relata a experiência recém-encerrada sob duas perspectivas:

enquanto experimento de comunicação pública e enquanto experimento de gestão

de política pública.

Entendemos que a utilização do SMS na comunicação entre trabalhadores e usuá-

rios de políticas públicas configura uma modalidade de Comunicação Pública garan-

tidora de direitos, entendendo com HASWANI (2013, p. 57) “que a maioria dos direi-

tos positivados na Constituição só será realizada se houver a inclusão da comunica-

ção pró-ativa do Estado ou, no mínimo, da informação estatal pró-ativa, como sua

garantia”.

Por outro lado, essas mesmas políticas públicas garantidoras de direito são, tam-

bém, um lugar de construção de relações e de comunicação, “determinando as in-

formações que devem circular, de que forma as pessoas podem participar, que rela-

ções são estabelecidas e como são construídos os papéis dos governados e gover-

nantes” (MARTINS et al, 2014, p. 143). Nesse sentido, o uso de uma ferramenta de

comunicação tem sua eficácia atrelada à gestão daquele específico equipamento

público e nas relações estabelecidas entre seus principais protagonistas - os opera-

dores públicos que estão em contato com as necessidades dos cidadãos e as possi-

bilidades de organizar temas e grupos a serem informados.

Assim, este experimento entende a ferramenta tecnológica como determinada e de-

terminante dos métodos de gestão possibilitados pelas políticas, adotados pelos

operadores e integrados às relações que a gestão que cada espaço proporciona.

Da mesma forma, experimenta-se sua eficácia na comunicação com os usuários

das bibliotecas públicas participantes, no sentido de aumentar o número de visitas a

partir de mensagens encaminhadas via SMS. Para a realização deste experimento

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estabeleceu-se uma parceria entre o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão,

Políticas e Tecnologia da Informação - da Universidade Federal de Goiás - e o Nú-

cleo de Estudos e Pesquisa em Tecnologia, Cultura e Sociedade - da Universidade

Federal de São Carlos.

O foco principal é a análise da funcionalidade da ferramenta na proposta de ampliar

o acesso à Biblioteca Pública por meio da comunicação via SMS, assim como a ob-

servação das interferências produzidas pelos diferentes modelos de gestão das bi-

bliotecas participantes.

Metodologia

A primeira etapa do processo correspondia à escolha das bibliotecas para o experi-

mento. Optamos por trabalhar com duas bibliotecas públicas com muitas diferenças

entre si para observarmos os impactos do experimento em diferentes contextos - a

Biblioteca Epifânio Dória, sede do sistema estadual de bibliotecas, localizada na ca-

pital Aracaju/SE, administrada pelo Estado, com mais de um século de história. E a

Biblioteca Livro Aberto, localizada no município de São Cristóvão/SE, um município

do interior, administrada pela prefeitura municipal, com dois anos de funcionamento.

A distância entre os pesquisadores (São Paulo e Goiás) e os trabalhadores das bi-

bliotecas (Sergipe) exigiu que realizássemos apenas dois encontros presenciais.

Boa parte do acompanhamento foi feita a distância e os canais escolhidos para isso

foram o Facebook e o WhatsApp.

Figura1: Formação na biblioteca Livro Aberto

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Figura2: Formação na biblioteca Epifânio Dória

Para que fosse possível realizar uma articulação entre as bibliotecas e seus usuá-

rios, foi preciso criar um banco de dados com números de telefones destes usuários.

Propusemos aos trabalhadores das bibliotecas um processo de organização dos

números de telefones já cadastrados nos arquivos e nos livros de visita das bibliote-

cas. A captação de novos contatos foi pensada a partir do início de elaboração de

um plano de comunicação, com uma campanha de inscrições utilizando cartazes

com acesso a um formulário web via QRCode e pontos de inscrição fixos, escolhidos

por eles por terem sido identificados como parceiros. Após a coleta e organização de

cadastros, avançamos na elaboração do plano de comunicação que consistia na

criação conjunta do planejamento de trabalho de gestão de contatos e envio de

mensagens, em que as bibliotecas deveriam: criar grupos temáticos, pensar em ti-

pos de mensagem, seus conteúdos e sua periodicidade, assim como na divisão de

trabalho entre os participantes do experimento. É importante destacar que para a

etapa de elaboração do plano de ação e formação do uso da ferramenta de envio de

SMS, optamos por trabalhar com três profissionais por biblioteca, devido às condi-

ções técnicas de espaço e equipamentos de cada biblioteca.

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Figuras 3 e 4: Plano de Comunicação: cartaz de divulgação em pontos da comunidade e divulgação na rádio comunitária local

Após a elaboração do plano de ação demos início à formação de uso do software de

envio de SMS, realizada presencialmente. Concluída esta etapa, cada biblioteca

ficaria com a tarefa de - a partir do plano de ação criado coletivamente – organizar

seus grupos, enviar mensagens sobre as atividades das bibliotecas para os contatos

cadastrados, e relatar em uma planilha de controle o número de visitas durante os

dois meses de aplicação do experimento, com o objetivo de avaliarmos os eventuais

impactos da comunicação via SMS na alteração do fluxo de visitas da biblioteca.

Três indicadores foram pensados para a avaliação da ampliação do acesso às

bibliotecas: contagem do número de visitantes, comparação da série histórica e a

comparação do número de visitas com bibliotecas que não participavam do

experimento.

Novos caminhos e percepções do projeto

A pesquisa em ciências humanas possibilita inúmeros caminhos de análise e exige

dos pesquisadores uma postura sempre atenta a modificações no processo.

Estamos sempre sujeitos a descobrir novos problemas de pesquisa e reavaliar os

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métodos e os referenciais teóricos. Ao longo dos dois meses após a etapa de

formação, algumas situações nas bibliotecas modificaram os caminhos da pesquisa.

Ocorrências como a saída das coordenadoras das bibliotecas, por questões ligadas

à gestão seja municipal seja estadual das políticas de cultura e seus

desdobramentos nos equipamentos bibliotecas; a inviabilização do acesso ao

software de envio de SMS pela dificuldade de manter um computador que pudesse

ter também essa função; processos burocráticos de organização do trabalho e a

hierarquização das funções e da própria comunicação entre os trabalhadores;

dificuldade de estabelecer rotinas de envio de mensagens e dificuldade de

estabelecer comunicação entre os setores para organizar os conteúdos de

mensagens a ser enviadas, assim como dividir as tarefas de criação de conteúdo e

envio de mensagens.

Considerações finais

Os conflitos e entraves que ocorreram ao longo do experimento, obrigaram a equipe

de pesquisadores a repensar as estratégias de análise do experimento. Em relação

as indicadores criados no início da pesquisa, poucos dados quanti foram coletados e

não há dados suficientes ou fidedignos para analisarmos o impacto da ferramenta

neste quesito.

Assim, a perspectiva de análise do experimento enquanto ferramenta de

comunicação pública ficou prejudicada, passando ao foco principal a perspectiva de

análise da tecnologia como ferramenta de gestão pública. Como método de análise

e reflexão dos novos caminhos que surgem na pesquisa, a análise das falas - sejam

as realizadas nos encontros presenciais ou a falas presentes nas conversas e

postagens no facebook e whatsapp – pode se constituir em uma narrativa capaz de

trazer elementos para o entendimento dos entraves de gestão que determinaram os

resultados.

A partir destas questões podemos constatar algumas reflexões possíveis: 1) A me-

todologia de envio de SMS só é capaz de alcançar os resultados esperados, caso a

comunicação interna entre os funcionários do equipamento público consiga se esta-

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belecer de forma mais horizontalizada o possível; 2) Exige uma postura de participa-

ção ativa do gestor público, tanto no que se refere às condições de infra-estrutura,

quanto na descentralização e desburocratização da tomada de decisão sobre a co-

municação pública; 3) O uso da metodologia de envio de SMS só alcança resultados

expressivos se acompanhada de um processo de construção de espaço de compar-

tilhamento de saberes e de ação coletiva; 4) A ação coletiva de se produzir comuni-

cação provoca nos „emissores‟ da mensagem uma reflexão sobre a própria gestão

da biblioteca - ao pensar o quê, porquê e como divulgar determinada ação ou pro-

jeto – repensa-se a própria organização interna e as relações de poder presentes no

espaço.

Sendo assim, podemos considerar que o experimento, recém concluído, aponta para

uma discussão sobre o uso da metodologia de envio de SMS enquanto

ação/intermediação de comunicação pública e enquanto ação/intermediação de ges-

tão de política pública. Mais do que uma ferramenta de envio de SMS, esta metodo-

logia tem potencial para criar deslocamentos nas relações de poder estabelecidas

em diferentes espaços organizacionais.

REFERÊNCIAS

HASWANI, Mariângela Furlan. Comunicação pública: bases e abrangências. São

Paulo: Saraiva, 2013.

MARTINS, D. L.; MARTINS, M. F.; MELO, T.M.P.C. (org.)Novos caminhos da

inclusão digital: experiências do Projeto +Telecentros. São Carlos, SP. Suprema

Gráfica e Editora, 2014.