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PROJUDI - Processo: 0035585-70.2015.8.16.0001 - Ref. mov. 33.1 - Assinado digitalmente por Camila Morais Cajaiba Garcez Marins 06/04/2016: JUNTADA DE PETIÇÃO DE CONTESTAÇÃO. Arq: Contestação Página 165 Rua Hungria, 888 - 5º andar Jardim Europa - São Paulo - 01455-000 Tel.: 55 11 3813-9522 Fax: 55 11 3813-9256 [email protected] MANUEL ALCEU AFFONSO FERREIRA LOURICE DE SOUZA MAURICIO JOSEPH ABADI AFRANIO AFFONSO FERREIRA NETO FERNANDA NOGUEIRA CAMARGO PARODI CAMILA MORAIS CAJAIBA GARCEZ MARINS GUSTAVO SURIAN BALESTRERO JOSEVALDO DOS SANTOS DIAS ANA CAROLINA DE MORAIS GUERRA DAVID CURY NETO MARCELO MOREIRA CABRAL ANDRÉ CID DE OLIVEIRA EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA NONA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CURITIBA, ESTADO DO PARANÁ. S. A. O ESTADO DE S. PAULO, pela advogada que para tal fim constituiu (Doc. 01), citada da propositura da “Ação de Indenização por Danos Moraisajuizada por ÉRIKA MIALIK MARENA (Proc. n° 0035585- 70.2015.8.16.0001), e como previsto nos artigos 335 e seguintes do Código de Processo Civil, vem submeter a sua CONTESTAÇÃO, fazendo-o pelos motivos e para os fins aduzidos nas inclusas alegações. De São Paulo para Curitiba, em 6 de abril de 2016. CAMILA MORAIS CAJAIBA GARCEZ MARINS OAB-SP 172.690 Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJY3E CT7PA VVMSA HLRPD

Na contestação, a defesa do jornal lembrou não existir privacidade em Face Book

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PROJUDI - Processo: 0035585-70.2015.8.16.0001 - Ref. mov. 33.1 - Assinado digitalmente por Camila Morais Cajaiba Garcez Marins

06/04/2016: JUNTADA DE PETIÇÃO DE CONTESTAÇÃO. Arq: Contestação

Página 165

Rua Hungria, 888 - 5º andar Jardim Europa - São Paulo - 01455-000

Tel.: 55 11 3813-9522

Fax: 55 11 3813-9256

[email protected]

MANUEL ALCEU AFFONSO FERREIRA LOURICE DE SOUZA

MAURICIO JOSEPH ABADI

AFRANIO AFFONSO FERREIRA NETO

FERNANDA NOGUEIRA CAMARGO PARODI

CAMILA MORAIS CAJAIBA GARCEZ MARINS

GUSTAVO SURIAN BALESTRERO

JOSEVALDO DOS SANTOS DIAS

ANA CAROLINA DE MORAIS GUERRA

DAVID CURY NETO

MARCELO MOREIRA CABRAL

ANDRÉ CID DE OLIVEIRA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA NONA VARA

CÍVEL DA COMARCA DE CURITIBA, ESTADO DO PARANÁ.

S. A. O ESTADO DE S. PAULO, pela advogada

que para tal fim constituiu (Doc. 01), citada da

propositura da “Ação de Indenização por Danos Morais”

ajuizada por ÉRIKA MIALIK MARENA (Proc. n° 0035585-

70.2015.8.16.0001), e como previsto nos artigos 335 e

seguintes do Código de Processo Civil, vem submeter a

sua CONTESTAÇÃO, fazendo-o pelos motivos e para os

fins aduzidos nas inclusas alegações.

De São Paulo para Curitiba, em 6 de abril de 2016.

CAMILA MORAIS CAJAIBA GARCEZ MARINS

OAB-SP 172.690

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MERITÍSSIMO JUIZ!

“No caso concreto, a

publicidade do ‘Facebook’, via

utilizada pelo réu para

comunicar seus pensamentos a

terceiros, multiplica o efeito

danoso e dá conhecimento geral

das ofensas lançadas contra os

apelados.

O fato de o grupo ser fechado a

torcedores e associados não

retira o potencial ofensivo e

nem a ilicitude da conduta do

réu.”1.

I. Os Fatos

1.- A Autora é delegada da Polícia Federal,

participante da Operação Lava Jato, e na época da

campanha eleitoral presidencial de 2014 fez comentário

na rede social Facebook associando o depoimento em

1 TJSP – Apelação nº 0043907-89.2012.8.26.0071 – Rel. Des. Francisco Loureiro – julgado em 24.04.2014 – grifos nossos.

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juízo de um ex-diretor da Petrobrás, investigado na

Operação Lava Jato, a uma suposta disparada na “venda

de fraldas em Brasília” (reportagem, Doc. 02).

A movimentação da Autora em tal rede

social, ao fazer o mencionado comentário, aliada à sua

posição de integrante do “Grupo de Trabalho da

Operação Lava Jato” (inicial, evento 1.1, fl. 03), deu

ensejo à veiculação de reportagem (Doc. 02) no jornal

“O Estado de S. Paulo” do dia 13 de novembro de 2014,

editado pela Ré, narrando tal fato ao público.

2.- Dizendo-se ofendido pela publicação da

matéria jornalística, no entanto sem negar a

veracidade e a autoria própria do comentário do

Facebook, busca a Autora censurar o jornal da Ré, com

a obtenção da retirada forçada da reportagem dos

arquivos de internet, bem como pretende receber

indenização pecuniária, por si “estipulada no valor de

R$ 70.000,00 (setenta mil reais)” (inicial, evento

1.1, fl. 12).

Sem razão alguma, no entanto.

II. A Reconhecida Veracidade da Notícia e o

Interesse Público

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3.- Destaque-se, de início, que a Autora não

nega em sua inicial (evento 1.1) ter realmente emitido

o comentário no Facebook, sem em momento algum negar

a veracidade dos fatos, e sem negar também que tal

publicação no Facebook é de sua autoria.

4.- A Autora não nega, portanto, ter escrito

o comentário “Dispara a venda de fraldas em Brasília”

(Doc. 02) relacionado a uma notícia sobre o depoimento

prestado por um dos indivíduos investigados pela

própria Autora no âmbito da Operação Lava Jato.

Também se eximiu a Autora de negar que

fez tal movimentação em seu Facebook durante o período

eleitoral, e enquanto participava da Operação Lava

Jato.

5.- Disso se verifica que a Ré publicou

apenas fatos verdadeiros que, nessa condição, não

foram sequer impugnados pela Autora.

Evidencia-se, portanto a integral

veracidade do que foi publicado no jornal da Ré, que

se limitou a transcrever em sua reportagem, ilustrada

com fotos de “prints” de algumas páginas, o que

realmente foi dito pela Autora na rede social

Facebook.

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6.- Verificando-se que a Autora teve seu nome

vinculado a ato que realmente praticou em uma rede

social, não se pode imputar à Ré ilicitude alguma, ou

seja, jamais poder-se-ia atribuir ao jornal da Ré --

que se limitou a reproduzir os fatos verídicos, sem

alterá-los -- a prática de qualquer ato capaz de lhe

causar o dano que alega ter sofrido, motivo pelo qual

deverá ser julgada improcedente a presente demanda.

7.- Além de verdadeiros, os fatos noticiados

(Doc. 02) são de notável interesse público, pois

tratam de manifestações de agentes públicos em época

eleitoral, acerca de pessoas, e partidos políticos,

direta ou indiretamente ligados à principal atividade

exercida profissionalmente por tais agentes públicos.

No caso específico da Autora, o

comentário por ela proferido na rede social em tela

tratava de uma possível reação dos habitantes da

Capital Federal, centro do Poder Político nacional, ao

depoimento de pessoa investigada pela própria Autora

na Operação Lava Jato.

Trata-se então de fatos que são objeto

de interesse público, pois concernentes a toda a

população, e que foram divulgados de forma isenta, com

identificação de fontes e sem que a Ré os alterasse

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ou emitisse sobre eles qualquer juízo de valor.

8.- Tanto é evidente o interesse público

sobre o tema que, no mesmo dia da publicação da

reportagem aqui indigitada, o próprio Ministro da

Justiça, a quem se subordina a Polícia Federal (onde

trabalha a Autora) manifestou-se enfaticamente contra

a conduta tratada na reportagem, determinando a

abertura de sindicância disciplinar em relação à

Autora, sendo que tal manifestação ministerial foi

noticiada simultaneamente pelos principais veículos

de comunicação do país (Docs. 03 a 05).

9.- Publicando notícia verdadeira a Ré nada

mais fez do que agir com animus narrandi, ou seja, com

a intenção de apenas relatar ao público leitor o que

de fato acontecera naquele episódio. Afinal, tratando-

se de “matéria objetiva que publica fatos verídicos,

de interesse público”, não existe ilícito algum, e sim

“exercício regular da informação”.2

Na mesma linha pontuou o Colendo Superior

Tribunal de Justiça: "A honra e a imagem dos cidadãos

não são violados quando se divulgam informações

verdadeiras e fidedignas a seu respeito e que, além

2 TJSP – Apelação Cível nº 0119399-48.2008.8.26.0000 - Rel. Des. João Carlos Saletti – j. em 27.10.2015.

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disso, são do interesse público." 3.

10.- Assim, de qualquer que seja o ângulo sob

o qual se observe a questão, salta aos olhos a licitude

da conduta da Ré, que se limitou a publicar reportagem

que narrava fatos verdadeiros e de notável interesse

público, exercendo regularmente seu direito-dever de

informar fatos verdadeiros (Constituição Federal,

arts. 5º, incisos IX e XIV, e 220, § 1º e Código Civil,

art. 188, I), motivo pelo qual deve ser decretada a

improcedência da ação.

III. A Pessoa Pública

“Não caracteriza hipótese de

responsabilidade civil a publicação

de matéria jornalística que narre

fatos verídicos ou verossímeis,

embora eivados de opiniões severas,

irônicas ou impiedosas, sobretudo

quando se trate de figuras públicas

que exerçam atividades tipicamente

estatais, gerindo interesses da

coletividade, e a notícia e crítica

3 REsp. 984.803-ES, 3a. T., rel. Min. Nancy Andrighi, j. de 26.5.2009.

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referirem-se a fatos de interesse

geral relacionados à atividade

pública desenvolvida pela pessoa

noticiada. Nessas hipóteses,

principalmente, a liberdade de

expressão é prevalente, atraindo

verdadeira excludente anímica, a

afastar o intuito doloso de ofender

a honra da pessoa a que se refere a

reportagem.”4

11.- A Autora, como por si mesmo afirmado na

petição inicial, é servidora pública, exercendo o

cargo de delegada, atualmente encarregada de trabalhar

em uma operação policial de repercussão nacional, a

“Operação Lava Jato”.

12.- Assim sendo, além de todos os deveres e

ônus inerentes a qualquer ocupante de cargo público,

a Autora ainda tem que levar em conta o fato de ser

uma figura pública, estando permanentemente exposta ao

crivo da população que acompanha de perto e passo a

passo referida operação policial.

Afinal, “tendo as pessoas envolvidas

4 STJ – Recurso Especial nº 801.109 – Rel. Min. Raul Araujo

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cargos públicos, obviamente que a vida destas pessoas

é regida de maneira diversa dos demais cidadãos, na

medida em que possuem necessidade de comportamento

adequado, estando sob constante vigilância da

sociedade.

De fato é assim. Ocupantes de cargos

públicos têm nível de exposição e de cobrança de

comportamento diferenciados dos demais membros da

sociedade. Porque representantes de órgãos ou funções

específicas do Estado, os cidadãos e os indivíduos de

modo geral delas esperam comportamento irrepreensível,

o que inclui obviamente a escolha dos lugares que

frequentam e as pessoas com as quais convivem.”5.

13.- Esse foi o contexto da publicação da

matéria: uma agente pública nacionalmente conhecida,

que exerce função pública essencial, manifestando-se

em rede social na internet sobre uma possível reação

generalizada, ocorrida na Capital Federal, ao

depoimento de uma pessoa que está sob investigação da

própria Autora.

Sabendo-se que “O comportamento humano,

a conduta, informa as condições em que sua imagem há

de aparecer em público”6, e verificando-se que a Autora

teve seus atos e palavras divulgados no jornal

5 TJSP – Apelação Cível nº 124.091.4/3-00 – Re. Des. João Carlos Saletti. 6 Hermano Duval, Direito à Imagem, Ed. Saraiva, pág. 56.

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exatamente como foram por si realizados e proferidos,

nada há a indenizar, devendo também por essa razão ser

julgada improcedente a presente demanda.

IV. Ausência de Privacidade em Redes Sociais

“O Facebook não é o lugar ideal para

pessoas que desejem manter sua

privacidade, é claro que é possível

fazer parte da rede sem se expor,

porém, se você deseja privacidade

total é melhor nem entrar na

plataforma social.” (Doc. 06).

14.- Ademais, seria ingenuidade da Autora

supor que poderia tecer manifestações de cunho

político sobre um de seus investigados, em época

eleitoral em uma rede social sem que tal comportamento

se tornasse de conhecimento geral.

No entanto, é esse o argumento que

utiliza, para tentar justificar a existência do dano

alegado: o de que os comentários e ações no Facebook

teriam sido realizados em um perfil “fechado”,

inacessível a quem não constasse como “amigo” da

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Autora na mencionada rede social, daí surgindo uma

alegada violação de sua “privacidade”.

15.- Não informa a Autora, no entanto, quantos

“amigos” possuía no Facebook no momento em que teceu

o comentário mencionado na reportagem. Considerando-

se que as pessoas têm em média ao menos uma centena,

ou centenas, de amigos, e que alguns grupos de Facebook

contam com milhares de integrantes, pode-se supor que

a Autora não fez tal comentário em ambiente “privado”,

como quer fazer crer, mas sim perante centenas (ou

milhares) de pessoas, tornando escancaradamente

públicas suas opiniões ali propaladas, e que agora

tenta tratar como sendo opiniões “pessoais”.

16.- De todo modo, para que seja esclarecido

tal ponto obscuro desta demanda, requer-se a V. Exa.

que expeça ofício ao Facebook (Facebook Serviços

Online do Brasil Ltda. – Rua Leopoldo Couto de

Magalhães Junior, 700, 5º andar, Bairro Itaim Bibi,

São Paulo – SP, CEP 04542-000), para que tal empresa

informe a esse MM. Juízo quantos amigos a Autora

possuía no Facebook na data em que praticou o ato

descrito na reportagem.

Ressalte-se que não se requer informações

sobre a identidade dos amigos da Autora, mas

exclusivamente informações sobre seu número. As

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informações supra solicitadas, que não podem ser

obtidas pela Ré pessoalmente, são fundamentais à sua

defesa, e ao esclarecimento da verdade dos fatos, pois

darão a exata dimensão da publicidade e do alcance dos

comentários e atos praticados pela Autora no Facebook.

17.- Diga-se ainda que a própria atitude da

Autora, de manifestar opiniões políticas em redes

sociais, envolvendo depoimentos de pessoas que são por

si investigadas, não mostra grande compatibilidade com

a privacidade que agora diz almejar, pois é de

conhecimento de qualquer homem médio, e basta uma

simples busca na própria internet para obter as

informações de que o “Facebook não garante

privacidade” (Doc. 07), e que “Privacidade é algo que

não existe nas redes sociais” (Doc. 08), valendo

inclusive para todos a advertência de que “é

importante pensar antes de postar. [...] Ao se exporem

em redes sociais, as pessoas dificilmente têm noção do

alcance disso, assim como da perda de controle sobre

o conteúdo postado.” (Doc. 09)

18.- Aliando-se a volatilidade das

informações postadas em redes sociais, que podem se

propagar sem controle de seu autor, à qualidade de

personalidade pública e agente público da Autora desta

ação, verifica-se que até mesmo suas opiniões

manifestadas no Facebook estão sujeitas ao crivo dos

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administrados.

Idêntica é a opinião da mais abalizada

doutrina, ao ensinar que “Há dados da vida pessoal do

gestor público que, aparentemente reservadas,

concernentes a sua vida privada e por vezes familiar,

podem bem interessar ao conhecimento público, pela

relevância ao julgamento da aptidão para a função

pública de que investido ou de que se pretende

investir.”7.

19.- Inclusive, não socorre a Autora a juntada

de cópias da sindicância a que foi submetida, pois de

tais excertos verifica-se ter sido constatada a

inexistência de infração disciplinar apenas, sem

reflexo algum para o que nos presentes autos é tratado.

20.- Inexistindo, portanto, a alegada

violação de privacidade por parte da Ré, resta

demonstrada mais uma razão para integral improcedência

da presente demanda.

V. A Tentativa de Censura

21.- Pretende ainda a Autora obter decisão

7 CLAUDIO LUIZ BUENO DE GODOY, A Liberdade de Imprensa e os direitos da personalidade. São Paulo, Editora Atlas, 2001, pág. 81.

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judicial com o fim de obrigar que a Ré “retire da

internet a reportagem” (inicial, evento 1.1, pág. 13),

em tentativa de forçadamente apagar os registros

lícitos da reportagem publicada no jornal, consistindo

flagrante pedido de censura judicial, formulado na

exordial.

22.- Como já dito, a matéria jornalística em

questão teve fundamento em fatos verídicos, realmente

ocorridos, envolvendo agente público, e em momento

algum negados pela Autora ou seja, fatos de notável

interesse público.

Apagar dos arquivos de órgãos de imprensa

uma notícia verdadeira e já há mais de um ano ocorrida,

equivale a reprovável tentativa de se apagar o passado

real, consiste em verdadeira manipulação da verdade,

incompatível a transparência norteadora da atividade

de imprensa desempenhada pela Ré.

23.- Censurar arquivo de jornal, contendo

notícia verdadeira publicada por órgão de imprensa,

apenas para atender aos interesses pessoais da Autora,

significa subjugar o interesse maior, que é da

liberdade de manifestação de pensamento, de expressão,

e de informação, para o fim menor de se dar prestígio

a um interesse particular. O que, certamente, V. Exa.

não aceitará.

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Afinal, em caso semelhante, se decidiu:

“Autor que busca a proibição da divulgação, por todo

e qualquer meio de comunicação, de notícia relacionada

direta ou indiretamente ao fato objeto de apuração em

processo administrativo disciplinar. Improcedência

acertada. Ausência de ofensa aos direitos da

personalidade do autor ou da probabilidade de sua

ocorrência. Veiculação de notícia exata, verdadeira e

de interesse público que não pode sofrer restrição.

Liberdade de imprensa que é corolário do direito de

informação da coletividade. Recurso improvido.”8.

24.- Isso considerado, verifica-se que a

pretensão da Autora, da supressão do arquivamento da

versão digital da notícia jornalística em foco tem no

presente caso a mesma natureza de pleito voltado a

mutilar hemerotecas e bibliotecas através da amputação

das páginas dos jornais ali arquivados.

25.- Em suma, ao pleitear a supressão de

reportagem jornalística originalmente veiculada em

2014, a Autora pretende que se incorra em censura a

arquivo de órgão de comunicação, providência

amplamente repudiada no Ordenamento Jurídico pátrio,

e inclusive objeto de explícita vedação constitucional

8 TJ-SP – Apelação nº 9180874-22.2003.8.26.0000 – São Paulo-SP – julgado em 12 de setembro de 2011, votação unânime.

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(Constituição Federal, art. 5º, inciso IX e art. 220,

caput e § 2º).

VI. Conclusão

26.- Diante de todo o exposto, e em especial

pelos doutos suprimentos que V. Exa. certamente

aportará, aguarda-se que se julguem improcedentes os

pedidos formulados nesta demanda, à luz do quanto

disposto na Constituição Federal de 1988, nos artigos

5º, incisos II, IV e XIV, e 220, bem como em virtude

dos comandos cogentes do artigo 188, inciso I, do

Código Civil, carreando-se à Autora os encargos

processuais, inclusive honorária advocatícia.

27.- Na oportunidade, a Ré requer a produção

de todos meios probatórios admitidos, abrangidas

provas orais (depoimento pessoal e a inquirição de

testemunhas, da terra e de fora), documentais,

inclusive a requisição de informações e cópias de

autos processuais, bem como a realização de exames

periciais.

Especificamente, desde já a Ré requer a

V. Exa. que expeça ofício ao Facebook (Facebook

Serviços Online do Brasil Ltda. – Rua Leopoldo Couto

de Magalhães Junior, 700, 5º andar, Bairro Itaim Bibi,

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São Paulo – SP, CEP 04542-

000), para que tal empresa

informe a esse MM. Juízo

quantos amigos a Autora

possuía no Facebook nas datas

em que praticou o ato descrito

na reportagem.

Ressalte-se mais

uma vez que não se requer

informações sobre a identidade

dos amigos da Autora, mas

exclusivamente informações

sobre seu número. As

informações supra solicitadas,

que não podem ser obtidas pela

Ré pessoalmente, são

fundamentais à sua defesa e ao

esclarecimento da verdade dos

fatos, pois darão a exata

dimensão da publicidade e do

alcance dos comentários e atos

praticados pela Autora no

Facebook.

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28.- Indica ainda a Ré

a Rua Hungria nº 888, 5º

andar, CEP 01455-000, São

Paulo-SP, como seu endereço

para receber intimações.

De São Paulo para Curitiba, em 6

de abril de 2016.

CAMILA MORAIS

CAJAIBA

GARCEZ MARINS

OAB-SP

172.690