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APOSTILA DE CRIMINOLOGIA
Versão 2.0 em 15-11-2003
PROF. EVANDRO ANDRADE DA SILVA
www.direitopenal.cjb.net <http://www.direitopenal.cjb.net/>
e-mail: [email protected]
<mailto:[email protected]>
[email protected] <mailto:[email protected]>
Programa de Criminologia – Universidade Estácio de Sá
*Tipo Curso: *11 - GRADUAÇÃO *Curso:*1 - DIREITO
*Versão Programa Disciplina: *1 *Vigência: *1/1/1999 Até o momento
EMENTA:
Conceito. Evolução histórica. Teorias Criminologia e Direito. Política
Criminal. Criminologia e Ciências afins. Estatística criminal.
Investigação criminológica. Delinqüência infanto-juvenil. Criminalidade
feminina. Sistemática penal. Estudo da conduta criminosa. Vitimologia.
Fatores criminológicos e soluções. Constituição e sistemática penal.
Realidade prisional brasileira.
OBJETIVOS:
1. Estudar o indivíduo criminoso, a natureza da sua personalidade e
os fatores criminógenas.
2. Analisar a criminalidade e sua nocividade social.
3. Conhecer e propor meios capazes de prevenir a incidência e a
reincidência no crime e a recuperação do delinqüente.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Unidade 1 - CONCEITO, EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TEORIAS
Unidade 2 - CRIMINOLOGIA E DIREITO
Unidade 3 - Criminalidade e ciência afins
Unidade 4 - POLÍTICA CRIMINAL E ESTATÍSTICA CRIMINAL
Unidade 5 - DETERMINISMO CRIMINAL
Unidade 6 - INVESTIGAÇÃO CRIMINOLÓGICA
Unidade 7 - DELINQÜÊNCIA INFANTO-JUVENIL E CRIMINALIDADE FEMININA
Unidade 8 - CONDUTA CRIMINOSA E VITIMOLOGIA
Unidade 9 - SISTEMÁTICA PENAL E REALIDADE PRISIONAL
Unidade 10 - FATORES CRIMINÓGENOS E SOLUÇÕES
Unidade 11 - A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A SISTEMÁTICA PENAL
Conceito de Criminologia
* *
A palavra *Criminologia *foi empregada pela primeira vez em 1883, por
Topinard, e aplicada deforma universal por Rafael Garofalo, em sua obra
"Criminologia".
Para denominar essa matéria que é a "ciência do delito como conduta", a
história aplicou vários vocábulos, como "antropologia criminal",
"biologia criminal", "endocrinologia criminal", "reflexologia criminal".
Foi Lombroso quem deu início sistemático a antropologia criminal,
precedido anteriormente por João Batista Della Porta (1540/1615) Kaspar
Lavater (1741/1801) e Francisco Gall (1758/1828).
Tendo em vista a aproximação de várias classes do conhecimento,
englobando o saber criminológico e os diferentes âmbitos da realidade
que devem ser analisados para compreender o fenômeno da delinqüência,
define-se Criminologia como "ciência empírica e interdisciplinar", que
se ocupa da circunstância da esfera humana e social, relacionadas com o
surgimento, a comissão ou omissão do crime, assim como o tratamento dos
violadores da lei.
Jiménez de Asúa:
"A criminologia é a ciência causal-explicativa composta de quatro ramos
(antropologia criminal, psicologia criminal, sociologia criminal e
penologia) e distinta das ciências jurídico-repressivas (direito penal,
direito processual penal e política criminal), da ciência da
investigação criminal (compreendendo política criminal, medicina legal,
penologia, psiquiatria forense, polícia judiciária científica,
criminalística, psicologia judiciária e estatística criminal)". [1]
<#_ftn1>
É lícito afirmar que, como ciência unitária e interdisciplinar que é, a
Criminologia se interliga às ciências humanas. De fato, a Biologia, a
Psicologia e a Psicanálise são instrumentos essenciais à Criminologia
Clínica,
Por outro lado e como já foi explanado, a Criminologia igualmente se
relaciona com as ciências criminais: o Direito Penal lhe delimita o
objeto; o Direito Processual Penal inquire a ocorrência do ato criminal
e se interessa pelo exame da personalidade do delinqüente; o Direito
Penitenciário, através de seus laboratórios de Biotipologia, regula o
programa de ressocialização; a Medicina Legal, a Polícia Judiciária e "a
Policiologia colaboram na investigação científica da materialidade do
fato criminoso.
A classificação de Luis Jimenez de Asúa
É bem de ver que os três elementos relacionados ao fenômeno penal - *o
crime, o delinqüente e a pena* - constituem o centro das preocupações
das ciências penais no seu todo, ou seja, a denominada Enciclopédia das
Ciências Penais, ciências que assim são agrupadas e classificadas por
Luis Jimenez de Asúa: a) Ciências Histórico-Filosóficas: História do
Direito Penal, Filosofia do Direito Penal e Direito Penal Comparado; b)
Ciências Causal-Explicativas: Criminologia, Antropologia Criminal,
Sociologia Criminal, Biologia Criminal, Psicologia Criminal e
Psicanálise Criminal; c) Ciências Jurídico-Repressivas: Direito Penal,
Direito Processual Penal e Direito Penitenciário; d) Ciências Auxiliares
e de Pesquisa: Penologia, Política Criminal, Medicina Legal, Psiquiatria
Forense, Polícia Judiciária Científica, Criminalística, Psicologia
Judiciária e Estatística Criminal.
Ramos e atribuições da Criminologia
Importante salientar, ainda uma vez, a natureza científica da
Criminologia e sua autonomia. É ciência autônoma porque possui um objeto
perfeitamente delimitado: os fatos objetivos da prática do crime e luta
contra o delito. Sua esfera de ação, além disso, é demarcada pl universo
normativo do Direito.
Orlando Soares em sua obra , “Curso de Criminologia” disserta que a
delinqüência é composta de quatro fenômenos que são: o crime, o
delinqüente, a pena e a vítima.
A propósito, de assinalar que, em reunião internacional da Unesco, em
Londres, logrou-se desmembrar a Criminologia em dois ramos: Criminologia
Geral e a Criminologia Clínica. Desse conclave participaram criminólogos
do mais alto nível e, dentre eles, Pinatel, Kinber, Wolfgang, Sellin e o
brasileiro Leonídio Ribeiro. Esse desmembramento, do consenso da Unesco,
inclusive foi acolhido por Lopez-Rey e pelo ilustre médico e professor
italiano Franco Ferracuti.
Para o sociólogo norte-americano Martin E. Wolfgang e para o psicólogo
italiano Franco Ferracuti, a Criminologia se desdobra em Criminologia
Sociológica e Criminologia Clínica. A Criminologia Sociológica
compreende o magistério e a investigação com base na Sociologia. A
Criminologia Clínica se manifesta por via da aplicação dos conhecimentos
criminológicos e do estudo dos problemas forenses e penitenciários,
consistindo, em síntese, na aplicação integrada e conjunta do saber
criminológico e técnico para solução de casos particulares, com fins de
diagnóstico e terapêutica.
As disciplinas preconizadas por Wolfgang e Ferracuti seriam de dois
tipos: a) disciplinas fundamentais ou ciências criminológicas: Biologia
Criminal, Psicologia Criminal, Sociologia Criminal, Penologia e
Criminologia propriamente dita; b) ciências anexas e Medicina Legal,
Psicologia Judiciária e Polícia Científica.[2] <#_ftn2>
Pontifica do explicitado, por sua objetividade e abrangência, a divisão
adotada pela Unesco, ou seja: Criminologia Geral e Criminologia Clínica,
competindo à primeira a comparação e sistematização dos resultados
obtidos nas diversas ciências criminológicas e estudando, a partir desse
momento, o criminoso, o crime e a criminalidade. O crime sendo
considerado consoante a situação do ato criminoso, sua forma, os fatores
da infração e a dinâmica de determinados delitos. O criminoso sendo
analisado segundo a disposição hereditária, o biótipo, o transtorno
mental e o mundo circundante. A criminalidade sendo encarada em razão de
suas tendências, dos tipos criminosos e da violência empregada.
Como bem esclarecem Wolfgang e Ferracuti, a Criminologia Clínica
consiste no /approche /interdisciplinar no caso individual, com a
contribuição dos princípios e métodos das ciências criminológicas. O
objetivo desse enfoque interdisciplinar é estudar a personalidade do
delinqüente para estabelecer o diagnóstico criminológico e a prognose
social, com proposta do plano de ressocialização do criminoso. Em
outras palavras: aplicar os princípios e métodos das criminologias
especializadas, comportando as seguintes etapas: exame, diagnóstico,
prognóstico e tratamento. O grande mérito do exame criminológico é
aquele de ensejar o conhecimento integral do homem delinqüente, sem o
que não se aplicará uma justiça eficaz e apropriada, restando mero
critério de valorização político-jurídica.
A Criminologia Clínica consiste na aplicação pragmática do conhecimento
teórico da Criminologia Geral, sem que isto desvirtue o caráter
autônomo daquela, conquanto intimamente ligadas ambas as
criminologias. Além do mais, a pesquisa científica tem como ponto de
partida a Clínica Criminológica. Clínico e pesquisador se completam no
progresso científico da Criminologia.
De lembrar que é a Criminologia Geral que sistematiza os resultados das
criminologias especializadas e os dados da prática criminológica. O caso
particular demanda um estudo interdisciplinar, com supedâneo nas
ciências criminológicas e na experiência clínica dos centros de
observação e estabelecimentos de reeducação do delinqüente. A
observação científica é um dos métodos da Criminologia Clínica, seguida
de interpretação no caso de diagnóstico criminológico, ainda que na fase
de execução do tratamento reeducativo, antes, portanto, da classificação
penitenciária ou início do programa de reeducação do delinqüente.
Para Pinatel, e também para Carrol, a futura Criminologia sairá da
elaboração e sistematização da prática criminológica. Tem-se a
Criminologia Clínica como o traço de união entre a Criminologia
propriamente dita e a Penologia. A Criminologia Clínica, em última
instância, tem por finalidade o estudo da personalidade do delinqüente e
o seu tratamento. Dissente, por conseqüência, da Psiquiatria Criminal,
que se restringe à perícia psiquiátrica e à avaliação da
responsabilidade criminal. No plano científico, na verdade, a
Criminologia Clínica principia onde finda a Psiquiatria Médico-Legal,
melhor dizendo, onde se abandona o domínio patológico.
A rigor, o estudo da Criminologia Clínica deverá absorver sua
interdisciplinariedade e também os seguintes temas: Penologia, Direito
Penitenciário, exame médico-psicológico e social do delinqüente,
classificação penitenciária e plano de tratamento reeducativo do preso,
espécies de tratamento (institucional em semi-liberdade etc.), métodos
de trabalho reeducativo (pedagógicos, psicológicos, psiquiátricos,
sociológicos) execução do processo de cura reeducativo (labor nos
centros de observação, nas casas de reeducação, nos nosocômios de
custódia e assistência psiquiátrica etc.).
Embora voltada para a reeducação do delinqüente e sua reinserção social,
a Criminologia Clínica igualmente contribui para a prevenção da
criminalidade e para a extirpação das condições criminógenas da
sociedade através de pesquisas junto à coletividade e notadamente em
bairros miseráveis e favelas.
Compete, enfim, à Criminologia, servindo-se do método, científico, o
estudo do criminoso e do crime, como acontecimentos sociais que são,
provindos de múltiplas causas internas e externas. Minudenciando a
conceituação, o criminologista Orlando Soares indica, com descortino,
que a Criminologia é ciência que pesquisa: as causas e concausas da
criminalidade; as causas da periculosidade preparatória da
criminalidade; as manifestações e os efeitos da criminalidade e da
periculosidade preparatória da criminalidade; a política a opor,
assistencialmente à etiologia da criminalidade e à periculosidade
preparatória da criminalidade.
É asserção pacífica que a Criminologia tem objeto independente e
determinado. Sendo uma ciência realista e não normativa, a Criminologia
tem como objeto a dimensão naturalística do evento criminoso.
O criminólogo absolutamente não poderá ser observador passivo da
sucessão criminal. Não. Ele terá que ser um participante ativo, seja
como cidadão, seja como pesquisador, contribuindo com seu /know-how /de
conhecimentos na abordagem e perquirição do fenômeno criminal.
Utilizar-se-á, o criminologista, da experimentação direta e indireta.
Por via da experimentação direta, alcançada por intermédio de dados
propiciados pelos sistemas penitenciários, ele terá elementos de valia
para indagar, verticalmente, a transição do homem normal ao homem
delinqüente. Concernentemente à experimentação indireta, ela será
desenvolvida com o estudo dos fatos anormais naturalmente sucedidos.
Aqui, como ensina Roberto Lyra, o criminólogo não poderá olvidar que "o
crime é um fato social de conseqüências jurídicas e não um fato
jurídico de aspectos sociais". Terá que saber o criminologista, por
outro lado, que os fatos sociais são processos de interação que envolvem
as pessoas, os grupos coletivos e as heranças sociais, não havendo
critérios infalíveis para diferenciar o homem que poderá delinqüir
daquele que não poderá delinqüir. Comporta, por oportuno, a afirmativa
de Gabriel Tarde que "nenhum de nós pode se gabar de não ser um
criminoso nato relativamente a um estado social determinado, passado,
futuro ou possível". A idéia do crime, verdadeiramente, é inata no
homem, talvez preexistindo à sua própria consciência.
A Criminologia é a ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as
determinantes endógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a
pessoa e a conduta do delinqüente, e os meios labor-terapêuticos ou
pedagógicos de reintegrá-lo ao grupamento social.
Diferenças entre
Direito Penal
e
Criminologia
v O Direito Penal sendo uma ciência normativa; é a ciência da
repressão social ao crime, através de regras punitivas que ele mesmo
elabora. O seu objeto, portanto, é o crime como um ente jurídico, e
como tal, passível de suas sanções.
v A Criminologia é uma ciência causal-explicativa, tem por objeto a
incumbência de não só se preocupar com o crime, mas também de
conhecer o criminoso, montando esquemas de combate à criminalidade.
A *CRIMINOLOGIA NA HISTÓRIA - *A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CRIMINOLOGIA
Condutas que outrora eram atos normais e obrigatórios dos costumes da
época, com o tempo se tornaram crimes, e condutas que outrora eram
crime, se tornaram fatos normais, conforme vejamos a seguir:
Salienta Lombroso que a mesma dificuldade que se apresenta no estudo do
crime, dentre os animais em geral, observa-se em relação aos seres
humanos primitivos.
Certas práticas, mais tarde consideradas delituosas, eram, por assim
dizer, a regra geral; todavia, algumas dessas práticas confundem-se em
suas origens com ações menos criminosas.
Tais práticas, nos diversos idiomas, em sua origem, revelam. que não há
uma diferença nítida entre ação e crime, surgindo logo depois a idéia de
pecado, ou seja, desobediência aos deuses.
Todas as línguas convergem no sentido de nos apresentar a rapina e o
assassinato como a primeira fonte da propriedade, aliás, um dos aspectos
do darwinismo social, como veremos oportunamente.
Algumas práticas comuns entre os selvagens foram criminalizadas no curso
da civilização, como, por exemplo, o aborto. Em certas épocas, a
escassez de alimentos, as dificuldades de vida e outros fatores
constituíram motivos, entre os primitivos, para a prática do abortamento.
O aborto premeditado, desconhecido dos outros animais, foi comum entre
os selvagens, tanto nas primitivas tribos orientais, como na América,
através de expedientes rústicos, tais como, pancadas redobradas no
ventre.
Contemporaneamente, algumas tribos aborígenes brasileiras conservam a
prática do aborto da forma acima referida /(in Direitos Humanos na
Amazônia, /publicação do Inst. dos Ad. Brasileiros, ps. 226 e 227,
RJ,1997).
As mesmas causas do aborto tornaram freqüente o infanticídio, entre os
primitivos; sacrificava-se aquele que vinha logo após o primogênito ou
o segundo, e de preferência as meninas, como ocorria na Austrália e na
Melanésia.
Na Índia, do Ceilão ao Himalaia, infanticídio é consagrado pela
religião.
No Japão e na China, segundo Marco Pólo, o infanticídio era uma forma
de reduzir o crescimento populacional. Da mesma maneira, na América e na
África.
Em algumas tribos da África Meridional, após o infanticídio a criança
era utilizada como isca para pegar leões; em certas regiões da
Austrália matavam-se as crianças e sua gordura era utilizada em anzóis,
para as pescarias.
Na América, dentre os tasmaiano, pele-vermelha e esquimó, a morte da mãe
era motivo para o infanticídio, porque o costume queria que as crianças
fossem enterradas com ela.
Havia outras causas para o infanticídio entre os primitivos: os
preconceitos, por exemplo, como a aversão aos gêmeos, encarados como
prova da infidelidade da mulher, pois entendia-se que o homem só podia
produzir um filho de cada vez (Lombroso, O HOMEM CRIMINOSO, pgs. 30 e
segs.)
Na África, quando as mulheres não podiam criar seus filhos,
desesperadas pela fome, jogavam-nos no rio.
O dever de assassinar os pais idosos, com mais de 70 anos,
conservou-se, por transmissão hereditária, como um ato de piedade,
mesmo sem necessidade, e às vezes, por acreditar-se que as qualidades e
virtudes do sacrificado se transmitiriam aos descendentes.
Algumas vezes ocorriam sepultamentos em vida; as vítimas achavam o fato
natural e elas próprias pediam a morte, caminhando deliberadamente em
direção à cova onde deviam repousar em definitivo, ou deixadas em
abandono.
A religião ensinava que se entrava na vida futura no mesmo estado
em que se estava para deixar a Terra.
O hábito de matar os velhos e os doentes foi praticado na Europa,
Ásia, África e América.
Além do assassinato dos velhos e doentes, ocorriam homicídios de
crianças, mulheres e homens sadios, seja por motivos religiosos, seja
por instintos ferozes.
Às vezes, por ira, as disputas conjugais acabavam pelo assassinato da
mulher; o marido, após matá-la, comia o seu coração com um guisado de
cabra.
As concepções lombrosianas, inspiradas na teoria de Darwin, sobre a
criminalidade dentre os animais:
Em síntese, no tocante à comparação entre o equivalente daquilo que se
considera crime, entre os homens, e certas ocorrências em relação às
plantas, Lombroso invocou as observações de Darwin e outros naturalistas:
As plantas insetívoras (que comem insetos), cometendo assim verdadeiros
assassinatos deles, atraindo-os por meio duma secreção viscosa, para em
seguida os devorar, como meio de se nutrir.
Outras plantas caçam os insetos à semelhança da maneira como os
pescadores preparam armadilhas para os peixes.
Essas práticas sobressaem com muito mais evidência em relação ao mundo
animal, na ânsia de nutrição, por meio do sacrificio das outras
espécies, e, algumas vezes, através do canibalismo, quando então o ser
humano, assim como outros animais, devoram os da mesma espécie, não só
levados por fome, como também por outras motivações, tais como a ira.
Por sua vez, Ferri distinguiu, só para o assassinato, várias
motivações entre os animais em geral.
Certos animais, por exemplo, da mesma espécie, vivem em comum, mas
os mais fortes devoram os mais fracos; isso é comum dentre os peixes.
É freqüente não só o canibalismo dentre os animais, como o infanticídio
e o parricídio, desmentindo-se assim os devaneios sobre o amor maternal
e filial entre eles.
A fêmea do crocodilo, às vezes, come seus filhotes, que não sabem
nadar.
As abelhas defendem furiosamente as colmeias, onde armazenam o
mel, produto do seu labor.
Há roedores - a fêmea do rato, por exemplo - que devoram seus
filhotes, quando molestados.
A fêmea do sagüi, às vezes, come a cabeça do filhote, ou esmaga-o
contra uma árvore, quando cansada de carregá-lo.
Dentre os gatos, as lebres, os coelhos, alguns comem seus filhotes.
O canibalismo e o parricídio são encontrados dentre as raposas,
cujos filhotes se entredevoram, freqüentemente, e às vezes devoram a
própria mãe.
Certa perversidade, rebeldia e antipatia aparecem em animais com
de formações cranianas, determinando maus instintos e práticas
criminosas.
A velhice toma os animais desconfiados, teimosos, perigosos,
agressivos, por isso são expulsos pelos companheiros e então, no
isolamento, tomam-se mais perversos.
A fúria, a ira e a raiva são comuns em certos animais, que matam seus
semelhantes, sem nenhum motivo, violando os hábitos da maioria.
Ocorrem também delitos passionais, por paixões exacerbadas, sobre
tudo pelo amor, pela cobiça, pelo ódio.
Dentre as aves e os pássaros, às vezes, o macho destrói o próprio
ninho, num acesso de fúria; aves domésticas atacam o ser humano.
Durante o cio, as fêmeas, dentre certos animais, tomam-se furiosas.
Observou-se que um casal de cegonhas fazia o ninho em um
vilarejo;um dia, quando o macho estava caçando, um outro mais jovem veio
cortejar a fêmea. Primeiro, ele foi rejeitado, depois tolerado,
finalmente acolhido. Posteriormente, os dois adúlteros voaram uma manhã
para o prado, onde o marido caçava rãs, e o mataram a bicadas.
Entre as cegonhas, o macho leva muito a sério o amor conjugal; quando
as pessoas, por divertimento, colocam ovos de galinha em seu ninho, o
macho, ao ver aquele insólito produto, se enfurece e entrega a "esposa
às ou//tras cegonhas, que a dilaceram”.
Têm sido observadas certas práticas, entre as formigas, semelhantes à
violência sexual, por parte dos machos adultos contra os menores, assim
como entre certas aves.
Algumas vacas substituem o touro junto às companheiras, da mesma
forma que entre algumas galinhas.
Ocorrem, também, práticas sexuais dentre animais de diferentes
espécies, à semelhança da bestialidade, em relação ao ser humano.
Às vezes, as cegonhas massacram os filhotes das companheiras, sob os
olhos de suas próprias mães; outras matam os membros do bando que no
momento da imigração se recusam ou não conseguem segui-las.
Dentre bois e cavalos selvagens é comum um macho enfurecer-se contra o
outro, para conseguir a supremacia sobre as fêmeas.
Há animais domésticos que têm o hábito de furtar objetos dos
bolsos de quem os acariciam.
Certos cães domésticos devoram aves ou carneiros, dissimulando e
apagando os vestígios de seu gesto.
As bebidas alcoólicas produzem nos animais sintomas semelhantes aos que
ocorrem com os homens: tomam-nos irritáveis, tontos e param de
trabalhar, passando sem escrúpulos, à pilhagem e ao latrocínio.
O consumo da carne, dentre os carnívoros, toma-os ferozes.
Embora sejam poucos os animais, dentre os gatos, cachorros,
elefantes, cavalos, que se mostram brigões, indomáveis, assassinos,
isso, porém, tanto quanto dentre os seres humanos, repugna aos demais.
A premeditação e a emboscada são comuns nas práticas criminosas
dentre os animais.
Os cinocéfalos (gênero de macacos de cabeça semelhante à do cão) são
perfeitos ladrões. Quando vão saquear uma plantação, colocam uma
sentinela, para que dê o alarme, no momento em que o homem se aproxima.
Esta sentinela deve ficar muito atenta, porque sabe que se falhar, seus
companheiros lhe infligirão a pena de morte (Lombroso, O /Homem
Criminoso, /ps. 4 a 25).
É importante para uma ciência que tenha um objeto e um método, exame de
seu conteúdo histórico. Na filosofia grega concebia-se a infração
contrário a coisa pública, e o delinqüente responsável por sua ação,
deveria sofrer uma pena como elemento pedagógico.
Na Idade Média, mais precisamente no começo do século XVII, a filosofia
e a teologia influenciavam o Direito Penal, havendo uma enorme confusão
entre delito e pecado, delinqüente e pecador.
No Código de Hamurabi, no século XVI e XVII a.c., tínhamos já as
responsabilidades distintas entre delinqüente rico e delinqüente pobre.
Não existe condições exatas de fornecer algo sistematicamente pronto
antes do início da escola clássica, pois o que em realidade havia eram
trabalhos esparsos.
A expressão Criminologia teria sido usada pela primeira vez pelo
antropólogo francês Topinard, em 1883. Em 1885, Rafael Garofalo,
apresenta uma obra científica /A Criminologia./
A base fundamental do pensamento iluminista foi a partir do
reconhecimento do estado natural. No estado natural, os homens gozam de
igual liberdade e se perdem pelo contrato social, que fazem ganhar sua
liberdade civil e a propriedade de tudo que possuem.
O delinqüente que se coloca contra o contrato social é um traidor e,
portanto, é expungido do mesmo.
Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, é quem melhor coloca o problema do
delito e da pena. Adotam os iluministas posição crítica a respeito das
coisas existentes e também respeito ao Estado e sua estrutura.
A Escola Clássica considera a pena um mal que deva eliminar outro mal.
Para a Escola Carrariana, todos os homens são iguais, livres e
racionais. Por tal fato, a pena é eminentemente retribucionista, e seu
fundamento está em ter o homem conspurcado o social.
Nos positivistas, apesar de terem afrontado claramente os clássicos,
encontramos correntes utilitárias, além do racionalismo e do
cientificismo.
Foi em 1876, aproximadamente um século após o livro de Beccaria, que
tivemos a primeira edição do /Homem Criminoso, /de Cesare Lombroso.
Tínhamos aí as ciências do homem e a contribuição das /Origens das
espécies, /1859, de Darwin, e /Descendentes do homem, /1871.
Foi Comte quem destacou a importância social da ciência, e com tal
significação, da sociedade social. Tudo isso implica a contradição de
todo pensamento iluminista, cujo alicerce é a metafísica.
Como veremos adiante, o nascimento do positivismo exerceu
influência extraordinária não só na Criminologia, como também no
Direito Penal.
_ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS_
*1.1) ESCOLA CLÁSSICA*
Para esta escola, a responsabilidade penal do criminoso
baseia-se em sua responsabilidade moral, e se sustenta pelo
livre arbítrio, que é inerente ao ser humano.
Para os clássicos, o livre arbítrio existe em todos os homens
psiquicamente desenvolvidos e sãos. Possuindo tal faculdade
podem escolher entre motivos diversos e contraditórios e são
moralmente responsáveis por terem a vontade livre e imperadora. O
criminoso é totalmente responsável porque tem a responsabilidade moral,
e é moralmente responsável porque possui o livre arbítrio.
* *
*Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria*
Nasceu em Milão, em 1738 e faleceu em 1794. Educou-se
no Colégio dos Jesuítas, na cidade de Parma, tendo como cole-
gas Diderot e Voltaire, abastecendo-se intelectualmente do
ambiente da Revolução Francesa.
Revolta-se contra as arbitrariedades da justiça da época.
Em 1764, aos 27 anos, apresenta a obra* /"Dos delitos e das
penas"./* Por temer a Corte, seu trabalho foi impresso em Livorno.
Destacam-se entre os postulados fundamentais de Beccaria:
a) somente as leis podem fixar as penas para os crimes;
b) somente os magistrados poderão julgar os delinqüentes;
c) a atrocidade se opõe ao bem público;
d) os juizes não podem interpretar as leis penais;
e) deverá existir proporção entre os delitos e as penas;
f) a finalidade das penas não é atormentar o culpado, mas
impedir que agrida de novo a sociedade e, por conseqüência,
destruir a todos;
g) as acusações não devem ser secretas;
h) a tortura do acusado durante o processo é uma ignomínia;
i) o réu não deve ser considerado culpado antes da sentença
condenatória;
j) não se deve exigir do réu o juramento;
k) a prisão preventiva não é sanção, mas apenas o meio de
assegurar à pessoa do presumível culpado e, portanto, deve ser
a mais leve possível;
l) as penas devem ser iguais para todas as pessoas;
m) o roubo é filho da miséria e do desespero;
n) as penas devem ser moderadas;
o) a sociedade não tem direito de aplicar a pena de morte;
p) as penas não serão justas se a sociedade não houver empre-
gado meios de prevenir os delitos;
q) a prevenção dos delitos é muito mais útil que a repressão
penal.
Beccaria ainda afirmava que "o indulto" é o fruto da imperfeição da lei,
ou da falta de compreensão das penas.
* *
*Francesco Carrara*
O mestre de Pisa, que foi, sem dúvida alguma, o artífice da
escola clássica, afirmava:
"O homem deve ser submetido às leis penais por sua natureza moral; em
conseqüência, ninguém pode ser socialmente responsável pelo ato
praticado se moralmente irresponsável."^ [3] <#_ftn3>
"A imputabilidade moral é indispensável para a imputabilidade social".
Garrara publicou* /Programma de derecho criminal,/* surgindo dois
princípios:
a) que o principal objetivo do direito criminal é prevenir* os
*abusos por parte da autoridade;
b) que o crime não é uma entidade de fato, mas de direito.
O crime é a violação de um direito, dessa maneira escreveu
Garrara:
"Acreditei ter achado essa forma sacramental; e pareceu
que dela emanavam uma a uma todas as grandes verdades
que o direito penal dos povos cultos já reconheceu e proclamou nas
cátedras e no foro, expressei dizendo - o delito não
é um ente de fato, mas um ente jurídico. Com tal proposição
se abririam espontaneamente as portas de todo o direito criminal, em
virtude de uma ordem lógica e impreterível.
E esse foi o meu programa"^42 .
* *
*1.2) ESCOLA POSITIVA*
A escola antropológica é baseada no determinismo psicológico,
inaceitando o livre arbítrio e expungindo a responsabilidade moral dos
indivíduos.
O homem está sujeito a lei da causalidade e seus atos são
conseqüências internas e externas, que dão diretriz à vontade.
* *
*Cesare Lombroso*
Nasceu em Verona, em 6 de novembro de 1835, descendente pelo lado
paterno de judeus-espanhóis, expulsos de pátria
pêlos Reis Católicos, em 1492.
*Rafael Garofalo*
Nasceu em 1852, vindo a falecer em 1934. Publicou o livro
*/Criminologia/* em 1884, foi Ministro da Corte de Apelação de
Nápoles. Iniciando-se do /Criminoso nato,/ de Lombroso, imaginou que
houvesse sempre um delito em qualquer lugar ou época.
Do prisma do grande jurista, o ponto de partida seria sociológico.
Apesar de renunciar a uma universalidade absoluta da moral, determina
alguns instintos morais que fazem parte da espécie humana.
Classificou os delinqüentes segundo as descrições feitas por
Fedor Mijailovich Dostoievski nas obras:* /O idiota, Crime e
castigo, A Casa dos mortos, Os irmãos karamazov./*
Dessa maneira, destacou:
a) os que agridem os sentimentos de piedade (assassinos);
b) os que agridem os sentimentos de probidade, (ladrões),
c) os que infringem ambos sentimentos, como os assaltantes e os
criminosos;
d) os cínicos, que cometem os crimes sexuais.
* *
* *
*2.1) ESCOLA ECLÉTICA OU CRÍTICA*
Os seguidores dessa escola definem o conceito de crime conforme a escola
positiva ou fazem uma reprodução da escola
clássica.
Franz Von Liszt em seu* /Tratado de Direito Penal Alemão,
/*afirma:
"é o injusto contra o qual o Estado comina pena, e o injusto,
quer se trate de delito do direito civil, quer se trate do injusto
criminal, isto é, do crime, é a ação culposa e contrária ao
direito."^ [4] <#_ftn4>
Examinando-se essa definição, temos os seguintes caracteres:
1. O delito é sempre um ato humano, portanto, uma atuação
voluntária transcendente ao mundo exterior.
2. O delito é também um ato contrário ao direito, um ato
formal, que ataca um mandato de proibição de ordem jurídica,
implicando materialmente numa lesão ou perigo.
3. O delito é, finalmente, um ato culpável; melhor afirmando: um ato
doloso ou culposo de um indivíduo responsável.
O penalista alemão entende o delito como entidade jurídica.
Segundo* Turati,* o crime teria como elemento principal as
más condições econômicas da sociedade, e a miséria o fator
primordial da existência da criminalidade.
*Tarde* explica como causa do crime, as causas sociais complexas.
*Alexander Lacassagne* afirmou:
"O meio social é o caldo de cultura da criminalidade; o
micróbio é o criminoso, um elemento que não tem importância, senão no
dia em que acha o caldo que o faça fermentar. As sociedades têm os
criminosos que merecem."^ [5] <#_ftn5>
* *
*2.2) A Terceira escola*
São fundamentos da terceira escola:
1. O direito penal deveria permanecer como ciência independente,
separando-se do pensamento de Lombroso, que pretendia incluí-lo na
criminologia.
2. O grande número de causas do delito não é exclusivo da
constituição criminal do indivíduo, adotando-se a teoria da
escola francesa, que invoca o sujeito predisposto, o que irá tornar-se
em delinqüente no momento em que o meio se tornar
favorável.
3. É necessário o trabalho conjunto de penalistas e sociólogos para
atingir as reformas sociais que melhorem as condições
de vida do povo, dessa forma aceitando-se os princípios da
escola francesa (exógenos).
4. A pena é como uma coação psicológica sobre os indivíduos,
examinando-a no plano de imputáveis ou inimputáveis.
Entre aqueles que organizaram a terceira escola temos* Car-
nevale e Bernardino Alimena .*
*2.3) Escola neoclássica*
Os positivistas atacaram os clássicos, pois estes consideravam o crime
apenas uma abstração, descuidando-se dos criminosos. As circunstâncias
de idade, sexo, surdo-mudez, estados
mórbidos, coação, reincidência, tornavam nesses criminosos,
variados, os matizes da inocência ou culpabilidade.
2.4) Escola neopositiva
O ilícito jurídico do crime tem um autor que é o ser humano, ou seja,
o criminoso, que não pode ser desprezado e suprimido.
Deve-se estudar e entender o criminoso, mas acima de tudo devemos ser
cuidadosos e atentos na proteção da sociedade, não sendo injustos e
impiedosos.
Entre os neopositivistas deve-se abrir espaço para os
neoantropologistas. A antropologia criminal lombrosiana seria
diferencial. A antropologia de Saldafía é integral e trata antes da
deformação, da ruína do indivíduo, como efeito inicial do vício e do
crime, e ao mesmo tempo, como causa de sua continuidade.
Mendes Correia, por sua vez, é antropologista e gênio, repele a
antropologia criminal convencido da atipia dos criminosos por serem
inclassificáveis.
A antropologia física ou psíquica é o que interessa no estudo do
delinqüente, embora tenhamos outra que estabelece as relações do físico
com o moral, ou seja, a antropologia criminal.
*2.5) Escola espiritualista*
Embasa-se na Escola Clássica. Regressa ao livre arbítrio,
que foi impulsionado pela negação do criminoso nato.
Encontramos em tal escola Luchini, Vidal e Mayer.
*2.6) Escola neo-espiritualista*
* *
Colocou-se como meio termo entre o livre arbítrio e o determinismo.
Propunha que se é certo que o homem tem liberdade, esta não existe no
sentido amplo, mas com limitações determinadas pelo meio ambiente,
reduzindo essa liberdade à convivência social. Era defendida por L.
Proal /O *crime *e a *pena, */e o alemão De Baets.
*2.7) Escola dogmática sociológica, biossociológica de Von Liszt*
* *
Pela teoria de Von Liszt, o homem é o centro de seus estudos. Esta
Escola propôs a independência do Direito Penal, entretanto, por aceitar
os princípios da Escola Positiva (delito como fato natural e social,
admitindo as causas endógenas e exógenas) e os da Escola Clássica
(delito como ente jurídico e o livre arbítrio), veio a se tornar
eclética.
Define o delito com um fato biossocial e ambiental, mas examinado
axiologicamente como ente jurídico. A pena, apesar de ser uma grande
preocupação para essa escola, não é um fim em si mesma, mas um meio.
Aceita a multa, a prisão condicional, a pena correcional e também a
absolutória.
O ESTUDO DA DELINQÜÊNCIA DEPOIS DE ENRICO FERRI
O continuador da escola de Ferri, Felipo Grispigni (1884-1955),
destacou na Sociologia criminal, o estudo da delinqüência como fenômeno
social e, portanto, como fenômeno de massa.
Elementos gerais da delinqüência
As formas de delinqüência dependem das condições de vida de um povo, sua
religião, seus costumes, sua história e o seu progresso.
Aqueles que alcançam grande desenvolvimento são tementes de uma guerra
nuclear.
A tecnologia de ponta acarreta um enfraquecimento de valores morais,
como a prostituição. Destacamos, desde logo, a República Norte
Americana, em que os delitos se alteraram para uma atividade mais
organizada, como os crimes do colarinho branco. .
Na Inglaterra, Alemanha, Itália, França, o crescimento da delinqüência
juvenil é um fato que se agrega a sua desorganização social. Da mesma
maneira, vamos encontrar essa extensão da delinqüência na Suécia, que,
em face de uma concepção ultra materialista, impregnada do socialismo,
traz resultados bastante cinzentos e funestos para aquela coletividade.
O que nos chama a atenção nos países ultra desenvolvidos é a
delinqüência oculta que se eleva de forma geométrica.
*Fatores geográficos da delinqüência*
As variações de tempo consagram determinados delitos nos
países frios e nos países quentes.
Os fatores geográficos já haviam chamado a atenção de *Quételet, *e da
mesma forma afirmados por *Ferri, *que em levantamentos, confirmaram a
predominância dos delitos contra a pessoa nas regiões equatoriais.
Manteve-se em primeiro lugar nas regiões frias, os crimes contra a
propriedade.
*Fatores ecológicos: cidade e campo*
O criminologista *Denis Szabo, *demonstrou a relação entre a
delinqüência e o meio urbano, demonstrou que a delinqüência no meio
urbano foi mais reduzida no século XIX.
Os resultados encontrados por Szabo devem ser levados em conta de uma
forma relativa, e aplicados com grande cuidado, devido as oscilações das
relações sociais.
Fatores econômicos
Cesar Herrero Herrero afirma em seu livro /Los delitos económicos, /que
"tanto o direito penal como a criminologia tem como parte de seu objeto
o conceito de delito.
O Direito Penal olha através de uma ótica normativa, a criminologia
trata de uma dimensão de maior amplitude".
Continua Herrero afirmando que "haverá delito econômico quando se trata
de uma conduta típica, antijurídica, imputável, culpável e punível, sob
as luzes de uma Lei pertencente ao direito econômico"48.
Niggemeier define delito econômico: "como as infrações penais que se
cometem explorando o prestígio econômico ou social, mediante o abuso das
formas e as possibilidades de configurar os contratos que o direito
vigente oferece, ou abusando dos usos e das razões de vida econômica,
embasados em alta confiança, infrações penais que, de acordo com a forma
que se cometem e as repercussões que têm, são idôneas para perturbar ou
colocar em perigo, acima do prejuízo dos particulares, a vida e a ordem
econômica" [6] <#_ftn6>.
EVOLUÇÃO DA CRIMINOLOGIA
*_ _*
A sistematização científica da Criminologia constitui esforço recente,
abrangendo inclusive o estudo de sua evolução, segundo o critério de
divisão em períodos históricos ou fases, como o fez Israel Drapkin
/(Manual de Criminologia, /pp. 9-69).
/Precursores da Criminologia na Grécia/
/ /
Na antiga Grécia, a mitologia está repleta de condutas delituosas:
homicídios, roubos, violações. Zeus, por exemplo, o pai dos deuses,
pode ser considerado aquilo que Lombroso qualificou de "criminoso-nato";
ApoIo é homossexual; Poseidão, deus do mar, é outro maníaco sexual;
Vênus é mentirosa, cruel e adúltera; Hermes, um criminoso precoce, e
assim por diante.
Dentre os pensadores gregos, que se destacaram no estudo dos problemas
criminais, encontramos algumas idéias precursoras.
Arquimedes (287-212 a.c.), grande fisico e matemático, figura como o
precursor da Criminalista, das perícias e exames criminais.
Considera-se Hipócrates o iniciador da corrente biologista da
Criminologia, cujas particularidades examinamos noutra parte da
presente obra.
Por sua vez, Platão (427-347 a.c.) é considerado o precursor das
correntes sociológiocas da Criminologia; assinalava que o crime é
produto do meio ambiente; a miséria é um fator criminógeno, pois produz
vadios e indivíduos sórdidos; o ouro é causa de muitos delitos,
porquanto a cobiça égerada pela abundância, que consegue apoderar-se da
alma enlouquecida pelo desejo.
/Precursores da Criminologia em Roma/
/ /
Em Roma, Sêneca (c. 4 a.C.-65 d.C.) é considerado o criminólogo de maior
destaque; em sua análise sobre a ira, ele a considera como motor básico
do crime, por isso que a sociedade está sempre em luta fratricida.
Sobre os aspectos das causas econômicas, como causa da criminalidade,
não existe nada em Roma, salvo uma polêmica entre os que a consideravam
um fenômeno social e os estóicos e epicuristas, que exaltavam a pobreza,
fonte da felicidade e a força moral dos homens, pois entendiam que a
riqueza os entorpecia e corrompia.
os chamados "doutores da Igreja" e escolásticos não se ocuparam do
problema da criminalidade, até que o monge Tomás de Aquino (1226-1274)
sustentou algumas idéias próprias a respeito. Na /Summa contra gentiles
/afirma que a pobreza é em geral uma ocasião de roubo. Na /Summa
Theologica, /defende o furto famélico, e, sob certos aspectos, idéias
socialistas.
Por sua vez, o monge Agostinho, embora vivesse no período de 354 a 430
d.C., é considerado um pensador medieval; para ele, a pena de talião "é
a justiça dos injustos". Sustentava que a pena deve significar uma
ameaça e um exemplo. Deve ser também u'a medida de defesa social, mas,
principalmente, contribuir para a regeneração do culpado.
Da mesma fonna, a Astrologia - conhecida desde a Antigüidade, entre os
chineses, hindus, egípcios e os maias -, sustentava que o comportamento
se rege pelos atos e seus movimentos, influenciando assim a conduta
delituosa humana.
Aliás, desde a mais remota Antigüidade, a mitologia, a religião e
Astrologia estavam intimamente ligadas, servindo hoje de meios
auxiliares para diversas ciências. A Astrologia, por exemplo, é
considerada vestíbulo da Astronomia. .
A Demonologia, por sua vez, estudava a situação dos indivíduos loucos,
sujeitos a ataques de toda ordem, considerando-os possuídos pelos
demônios, o que permitiu inomináveis crueldades e torturas, sob o manto
de abusos da religião. Quando os algozes e torturadores dos tribunais da
Inquisição supliciavam o suspeito de heresia, faziam-no na finne e
fanática convicção de que, quebrantando as forças fisicas da vítima,
estavam com isso enfraquecendo as resistências dos demônios, os quais
supostamente dominavam os suplicados.
Assim, a Demonologia, tentando estabelecer a relação entre o corpo e a
alma humana - o orgânico e o psíquico -, preocupa-se com a "natureza e
as qualidades dos demônios"; ela tem antecedentes muito antigos, como na
religião do Irã, onde se adorava um deus bom (Ormuz) e um mau (Ahra-
Mani).
/Renascimento e a Criminologia/
/ /
O Renascimento, como se sabe, constituiu um renascer cultural,
sustentado pelos próprios humanistas dos séculos XIV, XV e XVI.
Em oposição aos que consideravam as "trevas medievais", os humanistas
exaltaram os novos tempos, em que ressurgem as Letras e as Artes:
Petraca orgulha-se de haver feito renascer os estudos clássicos, por
muitos séculos esquecidos; Boccaccio atribui a Dante o ressurgimento da
poesia e a Giotto, o renascer da pintura, e assim por diante.
Entre os filósofos e pensadores dos séculos XVI e XVII, relativamente à
Criminologia, destacou-se Thomas Morus (1478-1535), que foi chanceler
de Henrique VIII.
Em sua obra /Utopia /Morus descreve a enorn1e onda de criminalidade que
assolava a Inglaterra, na época em que ele viveu, época essa marcada
pela truculência oficial, com a aplicação sumária da pena de morte.
Aliás, o próprio Morus acabou sendo decapitado por determinação de
Henrique VIII.
/A Utopia /representa a primeira crítica, fundamentada, ao regime
burguês em ascensão e uma análise profunda das particularidades
inerentes ao feudalismo em decadência.
A primeira parte da obra é o espelho fiel das injustiças e misérias da
sociedade feudal; é, em particular, o martirológico do povo inglês sobre
o reinado de Henrique VIII, um tirano avarento. Eram, porém, várias as
causas da opressão e sofrimento do povo: a nobreza e o clero possuíam a
maior parte do solo e das riquezas públicas; estes bens permaneciam
estéreis, enquanto a fome atormentava a população.
Além disso, nessa época, os grandes senhores mantinham na multidão de
vassalos, seja por amor ao fausto, seja para - como polícia particular,
capangas - assegurar a impunidade dos crimes praticados pelos seus amos,
ou ainda para utilizar ditos vassalos como instrumentos de violência
contra os habitantes da vila. Essa vassalagem era o terror do camponês e
dos trabalhadores em geral.
Por outro lado, o comércio e a indústria na Inglaterra não tinham muita
expansão antes das descobertas de Vasco da Gama e Colombo. Assim, as
gerações se. sucediam sem finalidade, sem trabalho, sem pão. A
agricultura estava em ruínas, desde que a nascente indústria da lã,
prometendo lucros espantosos, fez com que terras imensas fossem
transformadas em pastagens para carneiros. Em conseqüência disto, u'a
multidão de camponeses viu-se reduzida à miséria, provocando a
multiplicação da mendicidade, vagabundagem, roubos e assassínios.
/Período da Antropologia Criminal (1876-1890)/
/ /
Paralelamente ao desenvolvimento das Escolas de Direito Penal surgiram
diversas teorias, que constituíram as bases da sistematização
científica da Criminologia, no século XIX.
Sob certo aspecto, as discussões estiveram centradas, em parte, no
enfoque filosófico acerca do binômio livre arbítrio e determinismo, em
relação às condutas delituosas do ser humano, e de outro lado na
questão antropológica, no ativismo.
Malgrado a vulnerabilidade de suas teorias, acerca do criminoso-nato,
Cesar Lombroso (1835-1909) desenvolveu uma série de estudos e pesquisas,
que polarizaram as atenções do mundo científico de então, quando, em
1876, ele publica o seu momentoso livro o /Homem Delinqüente, /onde
aborda, inclusive, aspectos relacionados à criminalidade em geral,
dentre as diversas espécies animais, como vimos anteriormente.
Dentre os fundadores da Escola Positiva, em Direito Penal, considera-se
Lombroso o antropólogo, Garofalo o jurista e Ferri o sociólogo.
Incontestavelmente, Lombroso teve o mérito de contribuir para a
sistematização científica da Antropologia Criminal, com o que desviou a
atenção do fato criminoso - até então a preocupação máxima dos
criminalistas - abrindo o caminho para o surgimento da Escola Positiva,
em oposição à Escola Clássica.
/Período da Sociologia Criminal /(1890-1905)
Este período evolutivo da Criminologia se confunde com o nome de scola
Francesa ou de Lyon, ou das teorias do meio ambiente. Estas teorias
compreendem todas as concepções sociais e ambientais que se levantaram
contra as concepções lombrosianas, as quais se centravam na idéia de que
s fatores endógenos, ou seja individuais, predominavam na conduta do
indivíduo, como decorrência do atavismo, resultando no criminoso-nato.
Para a Escola Francesa, ao contrário, eram os fatores exógenos, isto é,
ambientais, os mais importantes em relação à conduta do indivíduo,
levando-o ao crime, em determinadas circunstâncias.
Para essas teorias contribuíram as idéias de Augusto
Comte(798-1857), os estudos de Quetelet, Emílio Ducpétiot (1804-1868).
/Período da Política Criminal ou Fase Eclética (de 1905 às Tendências
Atuais das Teorias Criminológicas)/
/ /
Esse período se caracteriza por uma espécie de trégua na discussão
inflamada, resultante do entrechoque de idéias entre as teorias
francesas e italianas, sobre as teorias lombrosianas.
Surgiram três Escolas:
1) A Terza Scuola
2) A Escola Espiritualista
3) A Escola de Política Criminal
/Criminologia Tradicional ou Criminologia Clássica. Propostas ou
Programas de erradicação da miséria. Cestas básicas/
/ /
A Criminologia Tradicional ou Criminologia Clássica engloba diferentes
matizes ou vertentes, originários todos, direta ou indiretamente, da
fonte comum: a Escola Positiva.
Para a Criminologia Tradicional ou Clássica há, fundamentalmente, certos
comportamentos humanos considerados maus, em si, apenados em virtudes de
normas que são, supostamente, produto de um consenso coletivo, segundo
as concepções da democracia burguesa, o liberalismo político-econômico.
Em suma, a Criminologia Tradicional ou Criminologia Clássica se revela
estacionária, imobilista. Não atenta para o fundamental: a permanente
crise crônica do sistema capitalista, decorrente dos antagonismos e
contradições insuperáveis, inerentes ao próprio sistema.
CRIMINALIDADE E CIÊNCIAS AFINS
O termo enciclopédia se aplica a qualquer obra que abranja todos os
ramos do conhecimento.
Nesse sentido, destacaram-se os cognominados enciclopedistas franceses,
elaboradores da teoria do liberalismo (século XVIII), que serviu de
fundamento ao advento do Estado liberal, após a Revolução Francesa
(1789).
Dentre esses enciclopedistas notabilizaram-se D'Alembert, Diderot,
Buffon, Hume, Montesquieu, Rousseau e Helvetius, que procuraram, antes
de tudo, "a distinção entre a justiça divina e a justiça humana,
pugnando pela soberania popular contra o absolutismo medieval, pelos
direitos e garantias individuais contra o Estado totalitário do Direito
divino" (cf. Roberto Lyra, /Novíssimas Escolas Penais, /ps. 5 a 8).
Essa época foi considerada o período humanitário do Direito Penal, a
partir da publicação da obra de Cesar Bonecasa (1738-1794), marquês de
Beccaria, nascido na Itália, trabalho esse intitulado /Tratado dos
Delitos e das Penas, /quando o autor contava 26 anos de idade, por volta
de 1764; modestamente, ele afirmou que escreveu dita obra sob a
inspiração dos enciclopedistas franceses.
Seja como for, acentua Enrico Ferri, nem os romanos, com sua
extraordinária intuição para os fenômenos jurídicos - intuição essa
consubstanciada no acervo notável que legaram à posteridade no campo do
Direito Civil-, nem os juristas da Idade Média lograram estruturar uma
teoria científica em matéria criminal, como sistema filosófico /(La
Sociologia Criminelle, /ps. 2 e 3).
Daí afirma-se que os romanos foram gigantes em matéria de Direito
Civil, porém, pigmeus no tocante ao Direito Penal.
/As disciplinas que compõem a Enciclopédia das Ciências Penais/
/ /
Partindo do quadro e da esquematização formulados por Luis Jiménez de
Asúa, com relação à classificação das ciências penais - a Enciclopédia
das ciências penais -, em seu /Tratado de Derecho Penal /(Tomo *I, p.
*92), diversos autores têm elaborado variantes dessa classificação, com
ligeiras modificações de somenos importância, quanto ao agrupamento e
natureza dessas ciências (Luis Rodrigues Manzanera- /Criminologia, /pp.
58, 82 e segs.).
Essas ciências - como conjunto enciclopédico - podem ser agrupadas e
classificadas, segundo a sua natureza, da seguinte forma:
/Ciências histórico-filosóficas /
História do Direito Penal
Filosofia do Direito Penal
Direito Penal Comparado
/Ciências causal-explicativas /
Antropologia Criminal
Biologia Criminal
Psicologia Criminal
Antropologia é a ciência do homem, como ser social e animal.
A Antropologia se divide em dois amplos campos de estudo: um se refere à
forma física do homem, o outro a seu comportamento aprendido.
Chamam-se, respectivamente, Antropologia Física e Antropologia Cultural.
A Antropologia Criminal baseia-se nos princípios gerais da Antropologia,
Psicologia, Patologia, Psiquiatria, Biologia, Anatomia, Eugenia,
Embriologia e Biotipologia.
A Biologia Criminal é a ciência que trata dos seres vivos ou organismos,
suas origens, natureza e evolução.
Psicologia Criminal é o ramo da Psicologia que estuda as manifestações
psíquicas, através do estudo e da classificação dos processos psíquicos
do homem delinqüente.
Psicanálise Criminal é o ramo da Psicanálise que se dedica ao estudo da
personalidade do delinqüente, partindo das angústias e dos complexos de
culpa que o afligem, levando-o à procura da bebida, da droga,
enveredando pelos caminhos do crime, para a solução dos seus problemas
íntimos.
Sociologia Criminal é a ciência que estuda o fenômeno criminal do ponto
de vista da influência do meio social sobre a conduta humana criminosa.
*(ESTRESSE)**
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO*
terrorismo, guerra, violência pessoal, seqüestro, etc.
O medo pode matar, e isso não é nenhuma novidade na medicina. A
ansiedade, que é a versão civilizada do medo, também mata. Os atos de
violência, em qualquer de suas formas, desde violência coletiva, como é
o caso da guerra, dos atentados, das violações de direitos, etc, até a
violência individualizada, como são os assaltos, os estupros, a tortura,
etc. podem ser comparados à uma espécie de câncer da alma.
As vítimas diretas ou indiretas (familiares, testemunhas, etc) da
violência correm um risco de desenvolverem algum transtorno emocional em
torno de 60%, enquanto a porcentagem da população geral tem este mesmo
risco reduzido a 20%.
As Vítimas do Terrorismo e Transtornos Mentais.
Carmem Leal, Presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, reconhece
que as situações catastróficas como aquelas ocorridas no World Trade
Center, podem aumentar muito a incidência do Transtorno de Estresse
Pós-traumático. Alerta que nem /todo o mundo/ está sofrendo do
Transtorno de Estresse Pós-traumático. Estar angustiado, ansioso ou
“nervoso”, estar reagindo emocionalmente de uma maneira algo estranha
por alguns dias não significa ter, obrigatoriamente, Transtorno de
Estresse Pós-traumático”.
Algumas observações têm constatado que só um terço das pessoas expostas
a estas situações traumáticas, não apenas às situações que envolvam
terroristas, mas também as catástrofes naturais, acidentes viários e,
inclusive, a violência doméstica, tem probabilidades de apresentar o
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (Shalev, 1992). Outras pesquisas
chegam a 54% (Weisaeth, 1989).
Sabe-se hoje, serem muito freqüentes as seqüelas psico-traumáticas nas
pessoas afetadas por atentados terroristas. Shalev (1992) encontra 33%
de Transtorno de Estresse Pós-Traumático em vítimas civis israelitas.
Medina et al. cita outros autores, como, por exemplo, Loughrey, que
encontra 23% de Transtorno de Estresse Pós-Traumático em 499 vítimas do
terrorismo em Irlanda do Norte, Abenhaim, com incidência de 18 % de
Transtorno de Estresse Pós-Traumático em 354 vítimas de 21 atentados
produzidos na França de 1982 a 1987 e, finalmente, Weisaeth, para quem a
incidência do Transtorno de Estresse Pós-Traumático chega a 54% em
vítimas do terrorismo e da tortura.
O diagnóstico do Transtorno por Estresse Pós-Traumático baseia-se nos
seguintes sintomas básicos:
1. Atitude psíquica de reviver o trauma, através de sonhos e de
pensamentos durante a vigília;
2. Comportamento de evitação persistente de qualquer coisa que lembre
o trauma e embotamento da resposta a esses indicadores;
Estado afetivo hiperexitado persistentemente.
Do ponto de vista clínico, é bem possível que os Transtornos Fóbicos
dominem o quadro, como veremos abaixo, apresentando medo exagerado e
sofrível para sair de casa ou para freqüentar lugares públicos se a
vivência foi bomba, incêndio ou coisa assim. Também são freqüentes as
Depressões persistentes com autodepreciação e sentimentos de ser uma
carga para os demais.
*Quadro Clínico do Transtorno por Estresse Pós-Traumático*
*Sintomas*
%
1. Tensão no corpo
95
2. Mal estar em situações que recordam o trauma
90
3. Sentimentos depressivos
90
4. Freqüentes mudanças de humor
90
5. Dificuldades para conciliar ou manter o sono
88
6. Sobressaltos com ruídos ou movimentos imprevistos
88
7. Se irrita ou enfada com mais facilidade
82
8. Tendência ao isolamento dos demais
81
9. Sonhos desagradáveis ou pesadelos sobre o acidente
69
10. Sentimentos de culpa, auto-acusações
39
Seja devido a Depressão, seja pelo próprio Transtorno por Estresse
Pós-Traumático, o paciente sente seu futuro desolador, turvo, e sem
perspectivas. Depois da experiência traumática, a pessoa com Transtorno
por Estresse Pós-Traumático mantém um nível de hiperatividade e
hipervigilância crônica, com reação exagerada aos estímulos
(sobressaltos, sustos) e descontrole emocional, tendendo ora à
irritabilidade, ora ao choro.
Todos esses estudos sugerem que, de fato, é provável que alguns tipos de
eventos sejam mais traumáticos que outros e produzam taxas e gravidades
diferentes de Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Outra observação
importante nesses trabalhos é que o Transtorno de Estresse
Pós-Traumático que aparece nas vítimas da violência terrorista não tem
preferência em relação ao sexo, sendo acometidos de igual maneira tanto
homens como mulheres diante dos atentados sobre a população civil.
O CIDADÃO COMUM E O SEU DIREITO À LEGITIMA DEFESA
Para os defensores do desarmamento, as armas são como coisas vivas com
vontade própria. Eles descrevem armas como se elas tivessem braços,
pernas e vontade própria. Eles falam sobre "armas roubando lojas "; e
"armas matando pessoas". Para usar o "pensamento" dessa nova classe de
defensores dos grupos anti-armas, e para usar as palavras como eles
usam, deveríamos acreditar que carros vão a bares, ficam bêbados e então
correm para matar pessoas. Como "motoristas bêbados não matam pessoas,
carros matam pessoas"; Deverá acreditar que martelos e madeiras
constroem casas por vontade própria. Como "pessoas não constroem casas,
martelos e madeiras constroem por vontade própria". Para essa classe,
cada arma é realmente algum tipo de Exterminador, e quando ninguém está
olhando, crescem braços e pernas nas armas e elas saem dos armários para
matar pessoas. Todos acham que o controle das armas será a solução para
todos os problemas. Quando o "controle das armas" chegar, não haverá
mais roubos de carros, acabarão os assaltos , não haverá mais crimes,
cessarão os nascimentos ilegítimos, todos os traficantes desaparecerão e
o mundo será bom. Muitos deles pensam que animais são mais importantes
que pessoas. Eles se preocupam mais em proteger animais do que proteger
pessoas. (1)
/OBS: Mesmo no Brasil, matar animais silvestres é um crime inafiançável
, enquanto que o agressor poderá responder em liberdade se matar uma
pessoa./
Serão as armas a causa da violência? Menor número de armas será igual a
menor número de crimes? Muitas opiniões tem surgido, a maioria movida
por fatores pessoais na qual a pessoa coloca o seu próprio sofrimento ou
histórias que ouviu contar.
Automóveis matam mais do que qualquer outro meio violento .
Atropelamentos matam 30 por dia.
No ano de 1995 , 25.513 brasileiros morreram por acidentes de transito.
Os alvos principais foram os pedestres (43,3% - 11052) seguidos por
condutores (34.3% - 8754) e por passageiros (22,4% - 5.707) .Entre 1965
e 1973, na Guerra do Vietnã, um dos mais encarniçados combates deste
século, morreram 45.941 soldados americanos. A média foi de 5.104 baixas
por ano - pouco menos da metade dos 11.052 brasileiros fulminados por
atropelamentos. Não estamos falando dos que ficaram inválidos, e nem dos
custos desses atropelamentos.
Em Porto Alegre, de janeiro a agosto de 1996, 52 pedestres morreram
atropelados. (2)
Na BR-386 com 445 Km de extensão, temos os seguintes dados:
* - Uma pessoa morre a cada 3,5 dias ;
* - Uma pessoa fica ferida a cada 10 horas ;
* - A cada 6 horas ocorre um acidente ;
* - O custo com atendimento médico - hospitalar a acidentados em
estradas federais no país custa cerca de US$ 22 milhões por
ano.(19)
Na BR-290 com 725,6 Km, temos os seguintes dados:
* - Uma pessoa morre a cada 6 dias;
* - Uma pessoa fica ferida a cada 11 horas;
* - A cada 5 horas ocorre um acidente;
* - Um acidente custa uma média de US$ 27 mil à União, incluídos
neste valor gastos com patrulheiros e danos à carga,
principalmente quando são tóxicas. (20)
Será que as causas foram os veículos? Ou será que as causas foram as
pessoas imprudentes, irresponsáveis ou as leis que não são cumpridas e
que levam as pessoas a confiarem na impunidade; o desrespeito à vida dos
outros; a falta de educação e de princípios morais; ou seja muitas podem
ser as causas, mas certamente não foram os meios. Pois, qualquer
automóvel parado na garagem, não sai sozinho para atropelar alguém.
*Estatística Canadense :*
O numero de mortes ocasionadas por carros no Canadá em 1991 foi de 3882.
O numero de mortes ocasionadas por armas de fogo em 1990 no Canadá foi
de 66.
O custo do seguro mostra que armas de fogo são consideravelmente menos
perigosas que automóveis. A National Firearms Association oferece um
seguro de $2.000.000,00 por apenas $4,75 por ano. O seguro de um
automóvel varia de $400 a $2000 por ano. Todos as taxas de seguro estão
baseadas em estudos atuariais sobre riscos e histórias de acidentes.
Carros versus Armas de fogo:
* - Você não necessita uma licença de motorista para comprar um
carro (ou gasolina)
* - Você não necessita referencias para comprar um carro.
* - Você não necessita se submeter a uma ficha policial para comprar
um carro.
* - Você não necessita justificar a compra de um carro.
* - Você não necessita ser membro de uma Associação ou Clube para
ter um carro.
* - Você não necessita guardar o seu carro trancado em uma garagem
fechada.
* - Você pode ter quantos carros você desejar. (32)
Muitas manchetes de jornal nos chamam a atenção, demonstrando que o
numero de mortes por outros meios, que não as armas de fogo, são em
grande número:
* - "Preso o homem que matou com a pá " (21)
* - "Bebeu e matou com faca... " (22)
* - "Menor esfaqueia marceneiro " (23)
* - "Família é assassinada a facadas " (24)
/Mutatis mutantis/, com as armas de fogo ocorre o mesmo . Nenhuma arma
por livre vontade mata alguém. Todos estão cansados de ouvir, mas poucos
param para pensar numa frase que diz: Armas por si só não matam pessoas,
pessoas matam pessoas. *O Papa João Paulo II declarou: "Quem mata é o
homem, não a sua espada ou seus mísseis"*.
O cardeal-arcebisbo, de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, defendeu um
maior numero de policiais nas ruas, com mais armas. (25)
Portanto não é tirando os meios que resolve o fato. Mesmo porque , o dia
em que as "armas forem considerados fora da lei , somente os fora da lei
terão armas".
Desarmar a população? Que população? A que paga impostos e mantém o
Governo? A que deseja ordem e progresso como diz em nossa bandeira? Ou a
população de assaltantes, criminosos, marginais que proliferam,
transformando o País num caos e colocando o trabalhador honesto numa
prisão albergue , da qual ele pode sair pela manhã para trabalhar e
voltar logo para casa e ficar trancado entre grades e portões de ferro.
Conforme estatísticas do Departamento de Armas, Munições e explosivos (
DAME ), de Porto Alegre, nos últimos 3 anos, das pessoas com porte de
arma, somente duas se envolveram em confrontos, sendo que uma foi
legitima defesa e a outra foi o chamado disparo acidental. Portanto, os
tiroteios que ocorrem estão sendo realizados por marginais e por armas
clandestinas, pois sabemos que o numero de armas clandestinas é muito
maior que o numero de armas legais.
O contrabando ocorre em grande escala.
No Fantástico, foi mostrado a venda de armas clandestinas (desde
metralhadoras até fuzis de assalto) numa favela do Rio de Janeiro.
Porque não desarmar esses marginais?
Porque querer tirar do cidadão de bem o seu legítimo direito de defesa?
O Estado não possui condições de dar proteção ao cidadão que paga
impostos para ter segurança. Seria o caso de perguntar se isso não
estaria incluso no código do consumidor, no qual o cidadão está pagando
por um serviço que não está tendo. E mesmo assim o Estado que deveria
por lei proteger o cidadão, ainda deseja colocá-lo frente a frente com o
marginal, e ainda por cima desarmado?
Se o Estado não pode devolver a vida, não tem o direito de tirá-la. E
está tirando quando nega a legitima defesa ao cidadão.
A Policia não é onipresente, isto é, não pode estar presente o tempo
todo em todo o lugar. Normalmente ela chega após o fato ocorrido.
Podemos ter certeza de que se fosse realizado um plebiscito para
sabermos a opinião da população sobre o desarmamento, todos os marginais
votariam a favor, pois assim o "trabalho" deles ficaria mais fácil, uma
vez que somente eles teriam armas.
Existe uma questão crucial nas leis sobre controle de armas. Qual o seu
verdadeiro efeito?
Mais vidas serão salvas ou perdidas? Elas deterão o crime ou o
encorajarão? Para providenciar uma resposta mais empírica, foi realizado
um estudo sobre uma lei de controle de armas, - a permissão para o porte
de arma oculta, ou seja -sem ser visível.
Trinta e um Estados Americanos deram aos seus cidadãos o direito de
portar armas caso não possuíssem ficha criminal ou historia de doença
mental. O professor John R. Lott Jr., ( University of Chicago Law
School) juntamente com David Mustard ( graduado em economia pela
University of Chicago), analisaram as estatísticas criminais do FBI num
total de 3.054 Condados Americanos entre 1977 e 1992. Os achados foram
dramáticos.
O estudo mostrou que os Estados reduziram os assassinatos em 8,5%, os
estupros em 5%; os assaltos à mão armada em 7% e os roubos com armas em
3%. Se esses Estados tivessem aprovado essa lei antes, teriam evitado
1570 assassinatos, 4.177 estupros; 60000 assaltos à mão armada e 12000
roubos.
Para ser mais simples : "Os criminosos respondem racionalmente a
tratamento intimidatório." (John R. Lott Jr e David Mustard)
Preocupados com a real escalada da violência, logo ao inicio dos anos
80, políticos e autoridades ( tanto anti quanto pró-armas) autorizaram o
Departamento de Justiça Norte Americano a entabular uma pesquisa
nacional entre os criminosos, tentando descobrir-se como eles pensavam
sobre os diversos aspectos ligados direta e indiretamente ao teor de
suas "atividades".
Segundo o professor John Lott Jr e David Mustard, o fato de pessoas
portarem armas ocultas mantém os criminosos incertos quanto as suas
vitimas pois não sabem se estão armadas ou não. A possibilidade de
qualquer um poder estar carregando uma arma torna o ataque menos
atrativo. Os estudos mostraram que enquanto alguns criminosos evitam
crimes potencialmente violentos após a lei do porte de arma discreto,
eles não necessariamente abandonam a vida criminal. Alguns dirigem-se
para crimes no qual o risco de confronto com uma vítima armada é menor.
De fato, enquanto a diminuição de crimes violentos contra vitimas
portando armas diminui, crimes contra a propriedade aumentam. (ex. Roubo
de automóveis ou maquinas de vender). Isto certamente é uma substituição
que a sociedade pode tolerar.
Numa enquete com mais de 3.000 policiais em resposta a uma pesquisa
realizada pela associação beneficente da Policia da Georgia, mais de 90
% dos policiais disseram que leis para o controle de armas não ajuda o
trabalho policial, porque essas leis são dirigidas aos cidadãos
honestos, ao invés dos criminosos. A comunidade policial da Georgia
também afirmou que eles sentem que o proprietário de uma arma legalizada
procura aprimorar-se na educação com armas, treinamento e segurança. Os
oficiais foram unânimes em suas convicções de que leis limitando a posse
de armas pune cidadãos honestos, enquanto criminosos são deixados livres
para obter armas ilegais. Os comentários retornaram com algumas
sugestões incluídas :
* - "Controle de armas ? Não ! Punição aos infratores? Sim! (não aos
cidadãos de bem)."
* - "Eu acredito que as leis existentes necessitam ser reforçadas
com punições mais duras e os crimes cometidos com qualquer arma,
deveriam também ser punidos em toda a extensão da lei".
* - " Cidadãos honestos devem receber os direitos dados pela
Constituição. Um policial não tem nada a temer de um cidadão
honesto."
* - "O problema que nós estamos enfrentando são pobreza e drogas,
não armas. O Governo Americano deveria se preocupar mais com
segurança do transito, câncer, AIDS e álcool, os quais matam muito
mais pessoas a cada ano". (6)
Vitimas de violência geralmente são pessoas fisicamente mais fracas.
Permitindo uma mulher (habilitada) portar uma arma para sua defesa, faz
uma grande diferença quando abordada por um marginal. Armas são um
grande equalizador entre o fraco e o agressor. Um estudo sobre 300.000
portes de arma emitidos entre primeiro de outubro de 1987 e 31 de
dezembro de 1995, na Florida - USA, mostrou que somente 5 agressões
armadas envolvendo essas pessoas foram cometidos nesse período e nenhum
dessas agressões resultou em morte.
Alguns perguntam: *"Discussões de transito entre pessoas armadas pode
resultar em morte ?"
*Em 31 Estados americanos, sendo que alguns permitem o porte de arma há
décadas, existe somente um relato de incidente armado (no Texas), no
qual a arma foi usada após um acidente de carro. Mesmo neste caso, o
júri achou que o uso foi em legitima defesa - o proprietário da arma
estava sendo surrado pelo outro motorista. (John Lott Jr e Davis
Mustard).
Na mesma pesquisa dos Drs. Wright e Rossi, entrevistando 6.000 Sheriffs
e oficiais policiais até o nível administrativo, sobre como eles viam as
armas em poder dos civis.
* - Mais de 76 % dos policiais entrevistados declararam que o uso de
uma arma por cidadãos ao defender uma pessoa, ou sua família, era
algo muito eficaz;
* - Mais de 86 % deles declaram que, caso não estivesse trabalhando
no cumprimento da Lei, teria uma arma para sua proteção .
Estudos realizados na Florida, Oregon, Montana, Mississipi e
Pennsylvania demonstraram que pessoas que são bons cidadãos e que
desejam se submeter ao processo do porte de arma não transformam-se de
uma hora para outra em psicopatas assassinos quando recebem a permissão
para portar armas.
*Dois terços de todos os homicídios canadenses não envolvem armas de
fogo.*
Estrangulamentos, facadas e surras contribuíram para a maioria dos
homicídios.
Álcool e drogas estiveram presentes em 50% de todos os homicídios em
1991. Historicamente o álcool tem sido estimado como o fator de maior
contribuição em 2 de cada 3 homicídios no Canadá.
Armas de fogo representam menos de 2% de todas as causas de mortes no
Canadá.
Raios mataram mais canadenses em 1987 do que proprietários legais de
armas.
No Canadá, entre 1961 e 1990, menos de 1% de todos os homicídios
envolveram armas de fogo legalmente registradas.
*Canada - Causas de mortes –1992*
*Homens *
*Mulheres*
*Total*
*Causas de mortes*
39290
36921
76211
Doenças Circulatórias
30481
25167
55648
Todos os tipos de câncer
9411
7252
16663
Doenças Respiratórias
3774
3450
7224
Doenças Digestivas
1559
2034
3593
Distúrbios Mentais
2376
1061
3437
Colisão de Veículos
1932
727
2659
Suicídio sem Armas de fogo
985
1153
2138
Quedas Acidentais
991
59
1050
Suicídio com armas de fogo
309
176
485
Homicídio sem armas de fogo
167
108
275
Homicídio sem arma de fogo ou branca
178
69
247
Homicídio com arma de fogo
* - Antes de 1968, quando qualquer um podia legalmente adquirir
qualquer arma, nossas taxas de crimes eram a metade do que tem
sido desde 1974. Comparando dois períodos de 20 anos, um onde uma
pessoa podia legalmente possuir qualquer arma, e outro com "leis
restritivas "- , de 1974 a 1993, a taxa de homicídio no canadá foi
2,4 assassinatos por 100.000 pessoas e de 1946 a 1965 foi cerca de
1.1 por 100.000.
O numero de armas é um sintoma e não uma causa. Se armas produzissem
assassinatos, então Suíça, Israel e Noruega deveriam ter taxas
semelhantes aos EEUU, visto possuírem um grande numero de armas. A lei
Canadense de controle de armas foi efetivada em 1978.
* - Taxa de aumento de crimes violentos no Canadá entre 1977 e 1991:
89%
* - Taxa de aumento de crimes violentos nos EEUU entre 1977 e 1991:
58%.
Na ausência de armas de fogo, os criminosos acham outros meios ou outros
tipos armas. Nenhuma lei em nenhuma cidade, estado ou nação, reduziu o
crime violento ou diminuiu as taxas em comparação com outras jurisdições
sem essas leis.
*OS QUATRO ELEMENTOS RELACIONADOS AO FENÔMENO CRIMINAL: DO CRIME, DO
DELINQÜENTE, DAS PENAS E DA VÍTIMA*
* *
/Elementos do fenômeno criminal/
/ /
Consideram-se elementos do fenômeno criminal os componentes deste, ou
seja, o crime, o criminoso, a pena e a vítima.
Historicamente, a Escola Clássica do Direito Penal (em que se destacou
Francesco Carrara, Itália, 1805-1888) considerava /elementos clássicos
/dessa ciência penal o crime e a pena, enfatizando assim esses dois
aspectos do fenômeno criminal, ou seja, a gravidade do fato, consistente
na violação da norma dessa natureza, com a conseqüente sanção imposta
pelo poder competente do Estado.
Esse entendimento orientou as codificações penais surgi das no
século XIX, como no caso do nosso Código Criminal de 1830.
Aliás, a denominação Código Criminal- em lugar de Código
Penaldemonstra, por si só, a ênfase atribuída ao elemento crime; na
atualidade, alguns penalistas ainda preferem essa terminologia.
Mais tarde, porém, a Escola Positiva (em que se destacaram
Lombroso e Ferri) começou a chamar a atenção sobre o /delinqüente,
/como ser vivo e efetivo, aparecendo assim como o "protagonista da
justiça penal", como o apresentou Ferri, considerando-o em sua
"personalidade individual, em sua identidade biológica e em sua
realidade como ser profundamente dependente do meio social em que vive".
Daí a oportunidade da afirmação de Gabriel Tarde:
"Nenhum de nós pode se gabar de não ser um criminoso-nato,
relativamente a um estado social determinado, passado, futuro ou
possível."
A partir daí, o delinqüente passou a ter um papel destacado no Direito
Penal, suscitando a atenção dos criminólogos, filósofos, sociólogos,
penalistas e outros, no sentido do esforço de elaboração de normas
legislativas específicas, pertinentes ao sujeito ativo da infração
penal, figurando assim como terceiro elemento do fenômeno criminal.
Nesse sentido, surgiram as normas inscritas nos Códigos Penais, como
aquelas referentes à individualização da pena, periculosidade,
aplicação de medida de segurança, como ressaltamos noutro trabalho
/(Comentários ao Código Penal, /Parte Geral, p. 46).
O /quarto elemento do fenômeno criminal/
Contemporaneamente, a vítima, sujeito passivo da infração penal, foi
classificada como o quarto elemento do fenômeno criminal, pelos motivos
que indicaremos, noutra parte da presente obra ao tratar das
peculiaridade e da situação daquela.
Em suma, os quatro elementos acima elencados constituem o centro das
preocupações das ciências penais, sob as diferentes angulações, próprias
de cada uma delas, como veremos oportunamente.
A propósito, convencionalmente, o termo penalista serve para designar o
estudioso, professor, tratadista de Direito Penal, enquanto o vocábulo
criminalista se aplica ao causídico, advogado que se dedica às causas
criminais, cujo sucesso profissional costuma proporcionar-lhe larga
fama.
/Conceito de Crimonogênese/
/ /
A Criminogênese é o capítulo da Criminologia que estuda os mecanismos
de natureza biológica, psicológica e social, através dos quais se
engendram e desencadeiam os comportamentos delituosos.
Trata-se, portanto, dum esforço que requer concorrência
interdisciplinar, de natureza sociológica, econômica, filosófica,
política, médica, psicológica para a conceituação da Criminogênese.
Sob esse aspecto, o psicológico, por exemplo, entrega-se à tarefa de
compreender o crime e descobrir por motivação: "Estudos psicanalíticos
modernos vieram comprovar que o delinqüente e aquele que jamais
infringiu a lei não são diferentes morfologicamente no sentido de
Lombroso. São diversos na maneira de dominar os impulsos anti-sociais,
presentes nos criminosos e nos que não o são. Dessa forma, o
delinqüente realiza no plano real os próprios impulsos anti-sociais
inconscientes. Já o indivíduo socialmente adaptado tem maiores
possibilidades em reconhecer que a realização daqueles impulsos
redundará em seu próprio prejuízo e no da comunidade" (Luiz Ângelo
Dourado /-Raízes Neuróticas do Crime, /p. 15).
Por sua vez, o político, o criminólogo, o sociólogo, e assim por
diante, nas suas respectivas áreas de conhecimento, enfocarão a questão
criminal, buscando a pesquisa de suas causas, bem como os meios de sua
prevenção e modos de tratamento do criminoso, e assim por diante,
contribuindo para o aprimoramento da Criminogênese, como lembramos
alhures /(Criminologia, /ps. 127 e segs.).
/ /
/A dinâmica do delito e /o /itinerário do crime /(iter-criminis). /As
variáveis/
/ /
Segundo os princípios tradicionais de Direito Penal, o delito apresenta
regularmente o chamado /iter-criminis /(itinerário do crime), o qual é
iniciado pela simples cogitação impunível /(nuda cogitatio),
/seguindo-se a preparação /(conatus remotus) /só punível quando em si
constitui ilícito penal; adiante a execução /(conatus proximus) /e a
consumação /(meta opta ta)./
Nesse contexto, apresenta-se a seguinte indagação, formulada por Mezger:
o delito é um produto da disposição e da índole genuína do delinqüente
e do meio ambiente, ou seja, uma resultante dos fatores endógenos e
exógenos?
Em outras palavras, como se desenvolve a dinâmica do delito? Discussões
acaloradas e intermináveis se desencadearam a respeito, isto
é, sobre a relação recíproca de ambos os tipos de causas e sobre o
predomínio das causas internas - as denominadas /Teorias da disposição
/- e das causas externas - as denominadas /Teorias do meio /- no advento
de delito.
Hoje, de acordo com a concepção da dinâmica do delito, tanto as causas
pertinentes à /disposição, /como ao /meio /não são realidades unívocas,
homogêneas, admitindo-se outras formas de interpretação do fenômeno
delituoso, eis que umas disposições influem sobre as outras, das mais
diferentes maneiras.
Há, por exemplo, /disposições natas /e /predisposições, /em função das
/disposição herdada ou disposição germinal; disposição adquirida /ou
/personalidade /do sujeito, em deternlÍnado momento.
Em suma, há concorrência duma série de aspectos, englobando causas e
fatores, que culminam com o. desencadeamento do delito (Mezger,
/Criminologia, /ps. 249 e segs.).
Assim, pode verificar-se a ocorrência duma série de causas e fatores
criminógenos, propícios à prática delituosa, mas a interveniência ou
incidência de outros aspectos ou circunstâncias - as chamadas variáveis
- acabam influindo no sentido de impedir a conduta anti-social, fazendo
com que os freios inibitórios prevaleçam, ou seja, ocorra o predomínio
daquilo que Benigno *Di *Tullio denominou forças crimino-repelentes,
contra as forças crimino-impelentes /(Tratado de Antropologia Criminal,
/ps. 13 e 209).
O tema em apreço enseja a polêmica jurídico-penal acerca da condição,
causa e concausa do crime, como fato humano, como veremos em seguida.
/Polêmica jurídico-penal acerca da condição, causa e concausa do crime,
como fato humano/
/ /
Sem pretender aprofundar a apreciação do tema em apreço, vale, todavia,
ressaltar a opinião de Nélson Hungria a respeito:
"(...) o crime, no seu aspecto .objetivo, é /umfato humano,
/compreendendo dois /momentos: /uma /ação /(voluntário movimento
corpóreo) ou omissão (voluntária abstenção de movimento corpóreo) e um
/resultado /(evento de dano ou de perigo)".
Entre "esses dois /momentos /deve existir, condicionando a
/imputatio facto, /uma relação de causa e efeito".
A controvérsia jurídica gira em tomo de saber quando a ação ou omissão
tem o suficiente relevo de causa; e nessa indagação pululam as teorias,
que podem ser classificadas em dois grupos:
a) teorias que não vêem diferença entre condição e causa;
b) teorias que diferenciam causa e condição, buscando estabelecer
critérios para dentre as condições destacar a causa /(Comentários ao
Código Penal, /voI. *I, *tomo *lI, *ps. 57 e segs.).
Concluiu Hungria, sustentando nada importa que haja cooperado outra
força causal, pois não existe diferença entre causa e concausa, entre
causa e condição, entre causa e ocasião, equivalendo-se em sua
eficiência causal todas as forças, que concorrem para o resultado, pois
o sistema do nosso Código Penal é constmído sobre a teoria da
equivalência das condições: não distingue entre condição e causa."
Causa é toda /conditio sine qua non" /(ob. e loco cits.).
Por sua vez, preleciona Aníbal Bruno: "o resultado é o termo final de
uma cadeia de condições sucessivas ou concomitantes. O homem que
concorre com uma dessas condições sob a fonna de ação ou omissão
reputa-se ter produzido o resultado desde que sem ela este não pudesse
ocorrer" /(Direito Penal, /*I, *tomo 1°, ps. 304, 305, 321 e 322).
De acordo com Giulio Battaglini, concausa é o antecedente que dispõe
apenas de efiç;iência parcial, vale dizer, de /per si /só insuficiente
/(Direi-to Penal, /1° voI., p. 216).
O tema relaciona-se ao disposto no art. 13, § § 1 ° e 2°, /a /a c, do
Código Penal, como ressaltamos noutro trabalho /(Comentários ao Código
Penal, /Parte Geral, ps. 79 e segs.).
/Classificação geral dos crimes/
/ /
A classificação geral dos crimes, ou seja, o crime apreciado quanto à
sua gravidade, moral idade, objeto, materialidade, do ponto de vista
teórico, baseia-se nas características da ação, nos efeitos que integram
o fato, no bem jurídico protegido, número e qualidade dos sujeitos
considerados em cada caso e muitas outras circunstâncias que dão lugar a
uma série de classificações: figura de dano, de perigo, materiais, de
pura atividade, unissubsistentes, comuns, especiais.
O estudo dessas classificações contribui para a sistematização dos
diversos títulos: delitos de comissão e de omissão; dolosos e culposos
(Sebastian Soler - /Derecho Penal Argentino, /*I, *p. 221).
Esta classificação geral, entretanto, não deve ser confundida com a
classificação dos crimes em espécie, constante da Parte Especial dos
Códigos Penais, que nasceu duma necessidade prática, sendo que, com o
tempo, estabeleceram-se detem1inados princípios para a sua elaboração e
sistematização (Carrara - /Programa de Derecho Criminal, /Parte Geral,
voI. *I, *ps. 109 e segs.).
A classificação geral dos crimes tem sido tratada pelos diferentes
autores de maneira não muito uniforme, como ressaltamos noutro trabalho
/(Comentários ao Código Penal /- /Parte Geral, /ps. 51 e segs.).
Apresentamos a classificação que segue, como expressão eclética das
teorias a respeito dessa matéria:
/Quanto à previsão legal, segundo a gravidade (crime /e /contravenção)/
/ /
a) sistema tripartido: baseado na divisão crime, delito e contravenção,
como o sistema adotado na França;
b) sistema bipartido: baseado na divisão crime e contravenção, como
o sistema adotado na Itália, Brasil;
c) sistema unitário: não comporta as divisões acima previstas, como
o
sistema adotado na Argentina, México, e extinta URSS.
/Quanto à intenção/
/ /
a) dolosos: quando o agente quer o resultado ou assume o risco
de produzi-lo;
b) preterdolosos ou preterintencionais: quando há dolo no antecedente
(crime principal) e culpa no conseqüente (crime acessório), como no
furto ou roubo (crime principal) e receptação (crime acessório);
c) culposos: quando há culpa /stricto sensu./
/ /
/Quanto à materialidade/
/ /
a) simples: modalidade que não apresenta elementos acidentais, como o
homicídio simples;
b) materiais ou de resultado: são os que se tomam perfeitos com a
positivação do resultado, como característico do tipo legal, com a
inequívoca lesão do bem jurídico protegido, como no caso do furto da
coisa comum, na violação do domicílio, a extorsão mediante seqüestro;
c) de lesão ou dano: aqueles que só se consideram consumados, quando
ocorre, no mais das vezes, uma lesão efetiva de um bem ou interesse
penalmente tutelado; neles o dolo é de dano, por exemplo, a calúnia, a
difamação, a injúria, o constrangimento ilegal;
d) de perigo: aqueles em que não é necessário que ocorra um dano efetivo
e concreto, bastando a simples existência da ação criminosa, como o fato
de ter em depósito substância entorpecente, ilegalmente;
e) instantâneos: aqueles em a atividade delituosa termina no momento
preciso em que o seu efeito se produz, como no furto, nas ofensas
físicas;
f) permanentes ou contínuos: aqueles em que o ato deles constitutivos
não sofre interrupção, permanecendo o agente em estado de criminalidade
ou de violação ininterrupta da lei penal; em tais casos, a consumação se
protrai ou interrompe, dependendo da vontade do agente, ou de flagrante,
como o cárcere privado, a ocultação de menor. É claro que, se o agente
se livrar do flagrante, nem por isso estará isento de responsabilidade
criminal, a ser apurada através de inquérito criminal e subseqüente ação
penal;
g) instantâneos de efeitos permanentes: aqueles cuja atividade
delituosa se configura em determinado ato, cujos efeitos perduram, como
a bigamia;
h) complexos: quando uma infração penal envolve outra, distinta, alheia
à intenção do agente, como a morte da pessoa visada e ferimento de outra;
,
i) continuados ou sucessivos: aqueles em que o autor pratica vários atos
sucessivos e conexos, materialmente distintos, com uma só intenção e
resolução dolosa, como o agente que furta dum mesmo porta-talheres,
várias peças, em dias diferentes, dentro de breve espaço de tempo;
j) transeuntes: aqueles que não deixam vestígios, como a injúria
verbal, a violação de domicílio;
1) não transeuntes: aqueles que deixam vestígios, como o
homicídio, a lesão corporal;
m) privilegiados: aqueles cometidos em virtude de relevante valor
social ou moral /(delictum privilegiatum /ou /delictum exceptum), /como
o homicídio privilegiado; o crime consistente em receber de boa-fé,
como verdadeira, moeda falsa ou alterada, e a restitui à circulação,
depois de conhecer a falsidade;
n) qualificados: aqueles que se revestem duma forma mais grave, em
virtude de ocorrerem circunstâncias que assim o qualificam, como o
homicídio qualificado, o aborto qualificado;
o) distanciados: aqueles cuja ação e o resultado se separam no tempo ou
espaço, como a sonegação ou destruição de correspondência, a extorsão,
a extorsão mediante seqüestro;
p) formais: quando a intenção do agente se presume do seu próprio ato,
que se reputa consumado independentemente do resultado que possa
produzir, como a falsificação de moeda, seja ou não posta em circulação;
q) putativos ou imaginários: aqueles em que o agente considera
erroneamente que sua conduta constitui crime, quando, na verdade não é,
como no caso em que alguém pensa ter alvejado certa pessoa, quando na
verdade foi outrem que o fez; .'
r) putativos por obra do agente provocador: quando, de forma insidiosa,
uma pessoa provoca o agente, levando-o a praticar o crime, ao J?esmo
tempo que adota providências com a finalidade de evitar a consumação do
mesmo; são os casos de flagrante preparado;
s) de sangue: aqueles cuja execução causa derramamento de sangue,
com o emprego de arma de fogo, instrumento perfurocortante;
t) hediondos: aqueles que se revestem das características dos
qualificados e de sangue.
/Quanto ao sujeito/
/ /
a) comuns: quando há violação do preceito penal, imposto
indistintamente a todos, praticado por qualquer indivíduo. Por oposição
a crime especial, de mão morta;
b) próprios: diz-se daqueles que só podem ser praticados por
determinada categoria de pessoas, pressupondo no agente qualidade
pessoal e particular condição jurídica, como os crimes falimentares,
que só podem ser praticados pelo devedor comerciante; os crimes
praticados por funcionários públicos;
c) de mão própria: aqueles em que todos os elementos do tipo penal devem
ser realizados pessoalmente pelo agente, sendo assim impossível a figura
do concurso de agentes. /São semelhantes aos delitos próprios, pois
também aqui apenas as pessoas tipicamente referidas podem ser autoras.
/Todavia, nos delitos próprios é possível a participação de terceiro,
enquanto nos delitos de mão própria tal não acontece. Assim, são
delitos próprios e simultaneamente de mão própria o infanticídio, o
abandono ou exposição de infante, /causa honoris, /o peculato;
d) unissubjetivos ou individuais: aqueles em que a totalidade dos atos
típicos podem ser praticados por um único autor, como a injúria verbal;
e) plurissubjetivos ou coletivos: aqueles em que são dois ou mais os
autores, distinguindo-se, porém, duas subdivisões, ou seja, os
unilaterais ou convergentes ou de conduta convergente, nos quais as
várias participações se orientam em um mesmo sentido, como no crime de
quadrilha ou bando, e os bilaterais ou plurilaterais em que as várias
participações são contrapostas, como no caso de rixa;
f) de mão morta: aqueles que só podem ser praticados pela pessoa
indicada, em função do próprio tipo, como no caso do adultério, do
abandono material;
g) funcionais: aqueles cometidos por quem se acha investido de um
oficio, ou função pública, quando no exercício desta e relativamente a
esta, como os crimes praticados por funcionários públicos;
h) especiais: aqueles que exigem como elemento integrativo uma qualidade
ou condição especial do agente, como no caso dos crimes funcionais,
falimentares, militares;
i) multitudinários ou coletivos: aqueles que são praticados por
multidão em tumulto, contra pessoas ou coisas, por ocasião de
manifestações públicas, greves;
j) bilaterais: aqueles para cuja consumação se exige o encontro de
vontades de dois agentes, como a receptação;
1) habituais: os que são praticados seguidamente pelo mesmo autor, com a
mesma uniformidade e o mesmo objetivo, como a falsa identidade, o
exercício ilegal da profissão de médico, dentista, advogado;
m) passionais: aqueles em que o agente é impulsionado por uma paixão ou
emoção violenta e irreprimível: o ciúme, um amor egoístico ou
contrariado, um ultraje à honra.
/Quanto ao objeto/
/ /
a) contra a coisa pública: embora no Direito Penal atual e divisão
clássica do direito romano - /delicta publica /e /delicta privata /- não
tenha a mesma importância, consideram-se crimes contra a coisa pública
aqueles que afetam determinados bens ou interesses eminentemente de
ordem pública, tais como os crimes contra a incolumidade pública, contra
a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços
públicos, contra a saúde pública;
b) contra a coisa privada: aqueles que afetam exclusivamente os bens ou
pessoas privados, subdivididos em crimes de ação pública e de ação
privada;
c) contra a economia popular: aqueles que resultam em lesão de
economia popular, previstos em legislação especial;
d) políticos: aqueles que têm feição exclusivamente política; na
prática, hoje, não mais existe essa modalidade, pois, o político está
ligado ao social, ao econômico;
e) político-sociais: a distinção entre crime político e crime
político-social provém do Projeto do Código Penal de Ferri (Itália,
1921). "Antes do surto da grande indústria e do socialismo, que é fruto
seu, os crimes que visavam à organização social tinham feição
exclusivamente política. Esta, porém, passou para o segundo plano. A
estrutura econômica é que é hoje principalmente atacada. A
característica específica da delinqüência político-social é ser marcada
pelo selo da mais incontestável abnegação, do altruísmo mais puro e
idealístico." /(Virgílio de Sá Pereira)./
f) militares ou castrenses: aqueles próprios, praticados por militares,
contra a hierarquia, a ordem jurídica, o dever, a segurança, a
subordinação ou disciplina militares, previstos na legislação militar;
g) crimes de guerra: aqueles que violam os princípios e as leis. Que
reguIam a guerra, praticados por militar ou assemelhado que é:
participar de um conflito armado;
h) falimentares: aqueles praticados pelos comerciantes, cuja
falência é considerada fraudulenta;
i) principais: aqueles que antecedem necessariamente outros, sem o que
estes não podem existir, como o roubo (principal) em relação à
receptação (acessório);
j) acessórios: aqueles que exigem um outro como principal e dos quais
são dependentes, como o assassínio a fim de assegurar a prática do
roubo, a violação de domicílio igualmente com o fito de roubo;
1) sexuais: aqueles praticados para satisfazer o impulso erótico ou
tendências libidinosas;
m) de lesa-pátria: os crimes de alta traição, quando atentam contra a
segurança e a soberania nacionais, por meio de inteligência com
potências inimigas, durante o estado de guerra ou greve convulsão social;
n) pluriofensivos: são aqueles que ofendem a mais de um bem jurídico
tutelado pela lei penal, como o roubo.
/ /
/Quanto à conduta/
/ /
a) comissivo: também chamados de ação; caracterizam-se por /umfacere,
/ou seja, a prática de atos positivos, contrários à lei penal, como o
furto, o estupro;
b) omissivos: consistem em um /non facere, /ou seja, em deixar de fazer
o que a lei penal obriga, como o abandono material;
c) comissivos por omissão ou omissivos impróprios: consistem em
produzir, por meio de uma omissão um resultado definido na lei como
crime; no caso, a omissão é em si mesma incriminada, pois o que
caracteriza a responsabilidade penal é ter o agente faltado a um dever
jurídico de agir para impedir o resultado, como o caso da mãe que, por
privar o filho, recém-nascido, de alimentação, deixa-o morrer;
d) comissivos e omissivos: também chamados delitos de conduta /mista,
/pois se expressam necessariamente em duas formas, isto é, positiva e
negativa, ambas cooperantes, como o parto suposto (comportamento
comissivo no ato de apresentar o filho de outrem a registro e omissivo
na ocultação da filiação verdadeira);
e) necessários: aqueles que são praticados em estado de necessidade, em
legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito;
f) de ímpeto: também chamado /ex impetu, /caracterizam-se pelo desígnio
delituoso instantâneo ou repentino, motivado por cólera, paixão ou
terror, sem preceder deliberação, determinação ou raciocínio, ou seja,
/per moto imprevisto./
/ /
/ /
/Quanto ao processo executivo/
/ /
a) em grau de tentativa: diz-se crime tentado quando iniciada a
execução o crime não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente;
b) consumados: o crime é consumado quando nele se reúnem todos os
elementos de sua definição legal;
c) frustrados: "quando exaurida a ação o agente não logra obter o
resultado perseguido; a ação pode exaurir-se antes da total realização
típica (tentativa perfeita), coincidir com o momento consumativo, ou
então /ir além /deste, mas sem determinar nova realização típica, e.g.,
homicídio em que a vítima recebe 11 facadas, morrendo da primeira; neste
exato momento temos o tipo consumado, porém a ação vai exaurir-se em
momento posterior."
d) imperfeitos ou tentativa perfeita: aqueles que não foram consumados
por ter sido interrompidos, ou mal executados, ou, ainda, porque era
inidôneo e o meio empregado pelo agente. São também chamados crimes
falhos ou frustrados;
e) perfeitos /(delictum pefeito): /aqueles que se revestem de todos os
elementos imprescindíveis à sua existência real, e em cuja execução, até
sua consumação, a intenção direta do agente foi inteiramente satisfeita.
/Quanto ao concurso de agentes/
/ /
a) conexos: são aqueles praticados -1) ao mesmo tempo, por diversas
pessoas reunidas; 2) em conseqüência de um pacto previamente
estabelecido, embora o delito seja perpetrado em diferentes tempos e
lugares; 3) como meio de execução de outros, ou como expediente para
procurar a impunidade; 4) quanto têm com outra infração uma estreita
interdependência, ou nexo de tal natureza que se torna impossível
apreciá-Ios isoladamente, cindindo a prova;
b) de concurso facultativo ou simplesmente co-autoria: são os crimes em
que a participação de dois ou mais agentes não constitui elemento
fundamental para configuração do delito;
c) de concurso necessário: são os crimes que exigem para a sua
configuração o concurso de duas ou mais pessoas, quer dizer, a própria
descrição típica exige o concurso, como nos crimes coletivos (caso da
quadrilha OU bando) ou nos bilaterais, sendo que nestes uma das pessoas
pode não ser culpável, como nos crimes de adultério e bigamia.
/ /
/Quanto aos atos que compõem a execução/
/ /
a) unissubsistentes: são aqueles cuja execução se compõe de um só ato, o
'qual coincide com a consumação, não admitindo assim a tentativa,
podendo-se citar o perigo de contágio venéreo, a omissão de socorro,
vilipêndio de cadáver.
b) plurissubsistentes: são aqueles cuja execução se compõe de vários
atos ou fases sucessivos, no tempo ou no espaço, como os crimes
distanciados ou a distância, de que são exemplos, a sonegação ou
destruição de correspondência, a extorsão, a extorsão mediante
seqüestro.
/ /
/Quanto à persecussão criminal/
/ /
a) de ação penal pública;
b) de ação penal condicionada; c) de ação penal privada.
(Giuseppe Maggiore - /Derecho Penal, /voI. *I, *ps. 295 e segs.; João
Mestieri - /Teoria Elementar do Direito Criminal, /Tom. *I, *ps. 189 e
segs.; Orlando Mara de Barros - /Dicionário de Classificação de Crimes,
/ps. 14 e segs.; Roberto Lyra - /Direito Penal Normativo, /p. 96).
/ /
/Classificação dos crimes em espécie/
/ /
Como salientamos anteriormente, a classificação dos crimes em espécie
decorre duma necessidade prática de sistematização, não só para o estudo
da natureza dos mesmos, bem como para a sua codificação, observando-se
algumas variações termino lógicas nos Códigos Penais dos diferentes
países, quanto às classes e subc1asses daqueles.
Daí a denominação adotada pelos Códigos Penais, ou seja, Parte Especial,
que estabelece a classificação dos crimes em espécie, compreendendo-se
como /espécies /as partes do /gênero, /sendo que este abrange várias
daquelas, conforme os critérios jurídicos, políticos, filosóficos,
sociológicos e econômicos, adotados pelo legislador.
Nessa ordem de idéias, o Código Penal (1940) estabeleceu, em sua Parte
Especial, a seqüência de Títulos em que classifica os crimes em espé
cie, com os respectivas rubricas, a saber: Titulo I - Dos Crimes Contra
a Pessoa (arts. 121 a 154); Titulo II - Dos Crimes Contra o Patrimônio
(arts. 155 a 183); Título III - Dos Crimes Contra a Propriedade
Imaterial (arts. 184 a 196); Título IV - Dos Crimes Contra a Organização
do Trabalho (arts. 197 a 207); Título V - Dos Crimes Contra o Sentimento
Religioso e Contra o Respeito aos Mortos (arts. 208 a 212); Título VI -
Dos Crimes Contra os Costumes (arts. 213 a 234); Título VII - Dos Crimes
Contra a Família (arts. 235 a 249); Título VIII - Dos Crimes Contra a
Incolumidade Pública (arts. 250 a 285); Título IX - Dos Crimes Contra a
Paz Pública (arts. 286 a 288); Título X - Dos Crimes Contra a Fé Pública
(arts. 289 a 311); Título XI - Dos Crimes Contra a Administração
Pública (arts. 312 a 359).
Cabe ressaltar que, além dessas espécies de crimes, existem outras,
constantes da legislação penal extravagante, ou seja, previstas em leis
específicas, elencando determinados tipos penais, em decorrência do
processo de desenvolvimento político, econômico e social.
Haja vista, dentre outros textos legais, a Lei n° 4.898, de
09.12.1965Regula o direito de representação e o processo de
responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de
autoridade; Lei n° 5.726, de 29.10.1971 - Dispõe sobre medidas
preventivas e repressivas ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes
ou que determinem dependência fisica ou psíquica, e dá outras
providências; Lei n° 8.072, de 25.07.1990, com alterações introduzi das
pelas Lei n° 8.930, de 06.09.1994 e Lei n° 9.695, de 20.08.1998,
dispondo sobre os crimes hediondos; Lei n° 9.455, de 07.04.1997 - Define
os crimes de tortura.
Com efeito, a miséria e a pobreza não constituem causas ou fatores
determinantes, fatais, para que o indivíduo se tome delinqüente,
bandido, assaltante, narcotraficante, haja vista que, se assim fosse, a
maioria da população mundial enveredaria por essas práticas delituosas,
posto que dita maioria é carente, excluída, de acordo com as
estatísticas existentes a respeito.
Por outro lado, era de se esperar que, dentre as pessoas pertencentes às
famílias abastadas, e que recebem esmerada educação, jamais ocorressem
desvios de comportamento, práticas criminosas; entretanto, isso não se
verifica, pois muitas delas cometem não só delitos típicos do
"colarinhobranco", como também infração penais comuns, ou seja, aquelas
que os juristas burgueses e pequenos-burgueses consideram peculiares às
"classes subalternas" da sociedade, isto é, o proletariado.
/A Patologia Social. Neuroses. Socioses. Forças crimino-impelentes/
/ /
Como assinala J. Alves Garcia, Patologia é a Ciência dos processos
mórbidos, de suas causas, das alterações estruturais ou funcionais do
organismo, e da sua evolução. Todo processo patológico resulta da
interação de causas endógenas e externas, às quais se contrapõem as
defesas do organismo. Todo processo passa pelo clímax e atinge a fase
crítica ou crise. Esta termina pela resolução, pela cura ou
restabelecimento da homeostase (estado de equilíbrio), por estado
enfermiço permanente, ou pela morte /(Psicopatologia Forense, /ps. 157
e segs.).
Por analogia, prossegue o referido autor, chama-se Patologia Social ao
estudo das desorganizações ou desarmonias internas da sociedade,
somadas às pressões externas. Então, o grupo intui o anormal, acusa o
sentimento da mudança brusca da estrutura social, do conflito de
culturas, das transformações, ou do ritmo acelerado da evolução
histórica.
A crise histórico-social ocorre quando, por um conjunto de
circunstâncias, a situação anteriormente aceitável, toma-se daí em
diante intolerável, seja por fatores sociais, religiosos, políticos,
econômicos, ou estes simultaneamente.
Ora, as psicoses e as neuroses têm origem em desregulações ou lesões do
sistema nervoso ou do organismo, sendo certo que a vida psíquica
resulta do jogo perpétuo das influências exteriores ou ambientais e das
condições internas. "Nenhum fenômeno mental, normal ou patológico, pode
ser eXclusivamente endógeno, mas também nenhuma influência exógena tem a
sua eficácia característica se não encontra um organismo preparado.
Convencionou-se, por isso, ,dizer que certas afecções mentais são
predominantemente /endógenas, /enquanto outras não sobretudo
/exógenas"./
Partindo desses princípios, o referido autor chama /socioses /aos
distúrbios psíquicos ou orgânicos que resultam, predominantemente, das
transformações bruscas das estruturas sociais e culturais.
Em suma, esse quadro social constitui uma força crimino-impelente,
conceituada noutra parte da presente obra.
Assim, o quadro social contemporâneo, em escala internacional, revela
bruscas alterações em sua estrutura sócio-cultural, com profundo
reflexo com relação às doenças mentais e orgânicas, a saber:
a) Aumento do infarto do miocárdio e do alcoolismo femininos, depois
que as mulheres foram expostas às mesmas tensões emocionais a que estão
sujeitos os homens, na luta pela sobrevivência e afirmação social;
b) Agravação da alcoolomania, sob a forma de /Delirium tremens, /devido
às vivências da solidão e da desesperança; carências alimentares;
c) Transformação da psicose maníaco-depressiva, com a quase desaparição
das grandes crises de excitação, a maior incidência da síndrome
melancólica, sob várias formas e graus;
d) Transformações dos delírios esquizofrênicos, de tipo
místico-religioso e cosmogênico, em delírios hipocondríacos, técnicos,
cósmicos e astranáuticos;
e) Redução dos sistemas mentais das psicoses e neuroses, e maior
incidência de fenômenos psicossomáticos, ou organoneuróticos;
f) Aumento extraordinário, em âmbito mundial, das toxicomanias,
sobretudo, nos jovens.
Diante desse quadro, conclui que existe uma relação direta entre o
progresso tecnológico e o desenvolvimento da agressividade humana,
invocando a opinião de Arnold Toynbee: "O processo atual, em aceleração
desordenada da tecnologia, aumentou agora em grau alarmante a brecha as
camadas consciente e inconsciente da psique humana" /(Psicopatologia
Forense, /ps. 463,465,481 e 482).
/ /
/Exacerbação das contradições sociais /e /seus reflexos sobre a
violência generalizada/
/ /
O fato é que os desdobramentos do processo de evolução capitalista, em
escala internacional, a sua interação com os fenômenos político,
jurídico, sociológico intensificaram de tal forma a exploração do
trabalho, que exacerbaram ao máximo as contradições sociais e a luta de
classes, aumentando as desigualdades e injustiças sociais, a miséria, a
fome, em contraste com o luxo e a ostentação duns poucos, que
monopolizam a terra, os gêneros alimentícios, os medicamentos.
Considere-se ainda os que exploram o tráfico de drogas, de armas,
mulheres, e de menores - tudo isso mantido graças à operação de regimes
políticos autoritários, de índole militar -, de tal modo que, como num
plano inclinado, a sociedade capitalista chegou ao ponto em que se
encontra, ou seja, aquilo que alguns chamam de /síndrome da violência,
/que outra coisa não é senão uma situação próxima duma convulsão social
de proporções incalculáveis, com um desfecho imprevisível, assumindo, em
certos casos - como no Brasil -, aspectos de verdadeira guerra civil, ou
zona fronteiriça dela.
Efetivamente, como salienta Israel Drapkin, a civilização ocidental, com
as suas gigantescas cidade e a enorme concentração demográfica, está
tomando o homem neurótico. Esse modelo de civilização produziu um tipo
humano fisico e organicamente mal dotado, propenso à enxaqueca, à
calvície, ao nervosismo, à frigidez sexual na mulher e à impotência no
homem /(Manual de Criminologia, /ps. 151 e 152).
Acresce que o homem traz em si um curioso paradoxo: a primitividade do
seu esqueleto e do seu organismo - ou seja, o conjunto de condições
biopsicológicas - impõem-lhe um ônus inferiorizante, pois a patologia
humana é a mais fértil e variada de toda a narrativa viva: nenhum outro
animal é mais vulnerável (J. Alves Garcia - ob. cit., p. 470).
/ /
/A desnutrição, a fome e a violência estrutural da sociedade
capitalista, em concomitância com a criminalidade/
/ /
A desnutrição, por sua vez, pode acarretar graves conseqüências. Em
/Menores e Loucos /afirmou Tobias Barreto: "O homem é o que come".
George Guilhermet asseverou: "Sem ir até a dizer com Brillat Savarin -
dize-me o que comes e dir-te-ei quem és - a alimentação exerce
influência fisiológica, psicológica e social" /(apud /Roberto Lyra
/Novíssimas Escolas Penais, /ps. 13 e 176).
Num livro candente - /Geopolítica da Fome /- escreve Josué de Castro:
"Fustigado pela necessidade imperiosa de comer, o homem esfomeado pode
exibir a mais desconcertante conduta mental. Seu comportamento
transforma-se como o de qualquer outro animal submetido aos efeitos da
fome." E lembra que cerca de 2/3 da humanidade vive sob regime de fome
crônica, subnutrida, contando-se dentre milhões de criaturas as que têm
morrido em conseqüência desse flagelo, pois, sinistramente, conforme o
adágio popular: /A mesa do pobre é escassa mas o leito da miséria é
fecundo /(ob. cit., ps. 6, 34, 60 e 95).
Nunca é demais recordar a célebre decisão absolutória, proferida pelo
tribunal francês de Chateau- Thierry, presidido pelo juiz Magnaud,
magistrado que passou à posteridade como o "bom juiz", ocasião em que
foi absolvida a inditosa Luiza Menard, num caso de furto famélico, por
ter-se apropriado dum pão, pois se encontrava com fome, sem trabalho e
dinheiro, tendo a seu cargo um filho, como lembramos alhures /(Justiça
/e /Criminalidade, /ps. 79 e segs.).
As doenças mentais, por exemplo - uma porta larga para os desvios de
conduta, especialmente de natureza criminosa -, têm múltiplas causas, a
começar pelas carências alimentares, desde o período de gestação,
agravando-se naturalmente com a subnutrição nos primeiros anos de vida,
como lembramos noutro trabalho /(Extinção das Prisões /e /dos Hospitais
Psiquiátricos, /p. 140).
A propósito, como observou Antônio Alfredo Fernandes, de "um contingente
pré-escolar de 22 milhões e 500 mil crianças, apenas 20% recebem
assistência das áreas de saúde e nutrição; 70% são subnutridas e
desnutridas, com as células nervosas do cérebro irremediavelmente
afetadas", sugerindo inclusive a abertura de uma Comissão Parlamentar
de Inquérito na Câmara Federal para investigar o assunto e criar uma
legislação para a área pré-escolar, "única saída para que o Brasil
deixe de ser um país de não inteligentes" /(Jornal do Brasil, /14.04.78).
Ora, em tais casos, a tendência é no sentido de que essas crianças, se
sobreviverem, constituirão no futuro, como adultos, débeis mentais,
imprestáveis para o trabalho útil e fecundo, enfim; um peso social
morto.
Observa Hans von Hentig, com lógica irretorquível: já que três-quartos
de todos os crimes são crimes contra a propriedade, torna-se clara a
importância da condição econômica individual. Muitos outros crimes são
causados indiretamente por dificuldades econômicas, pois a fome, o frio,
ou a vida dos cortiços não melhoram o controle dos nossos atos /(Crime,
Causes and Conditions, /p. 96).
Daí a advertência de von Liszí: "A influência das circunstâncias sociais
e, sobretudo, econômicas sobre a vida dos indivíduos começa muito tempo
antes do seu nascimento.
Remediai as circunstâncias econômicas desfavoráveis e salvareis,
ao mesmo tempo, o futuro das novas gerações.
É, pois, evidente que as circunstâncias sociais e, especialmente,
econômicas determinam a marcha da criminalidade" /(apud /Roberto Lyra
/Novíssimas Escolas Penais, /p. 171).
Por seu turno, a violência estrutural e institucional dos regimes
políticos autoritários, ditatoriais, ao impor um modelo econômico
elitista, no interesse das multinacionais - com o objetivo de
privilegiar uns poucos, com salários principescos, a fim de que
constituam a clientela consumidora de produtos supérfluos - acabam
gerando desigualdades sociais e injustiças escandalosas, provocando
agitação social, greves, descontentamento e inconformismo generalizado,
situação essa que é aproveitada pelas forças conservadoras e dominantes
da sociedade, para justificar o desencadeamento da repressão
político-social, aplicação de medidas de exceção, decretação de estado
de sítio, suspensão dos direitos e garantias constitucionais, como
ocorreu no Brasil, pós-1964.
Daí por que, acerca do chamado crime político-social, salientou
Crispigni que as maiores conquistas no sentido do aprimoramento das
instituições democráticas terem sido alcançadas justamente por essa
espécie de crimes.
Não se pode ignorar que a queda das tiranias, a abolição da servidão da
gleba, a igualdade civil e política, os direitos do homem, a melhoria
das condições de vida do proletariado etc. não teriam sido possíveis sem
o ímpeto dos crimes político-sociais /(apud /Nélson Hungria -
/Comentários ao Código Penal, /voI. *I, *Tomo 1 °, p. 185).
/ /
/Características próprias da violência no meio urbano e no rural/
/ /
No tocante ao proletariado urbano brasileiro, submetido à violência
permanente do modo de produção capitalista, estima-se o seu número em
12.500.000 de trabalhadores, enquanto o proletariado rural, submetido a
essa violência estrutural, é estimado em 4,9 milhões, ou seja, 1/3 da
forma de trabalho agrícola, segundo dados da década de 1980.
Na área rural, devem ser acrescentados os assalariados temporários,
chamados "bóias-frias", trabalhadores rurais esses que vivem nas
periferias dos centros urbanos, sendo que a sua integração nos
processos produtivos é eventual, ocorrendo somente nas épocas de maior
atividade agrícola (geralmente nas colheitas), e que correspondem à
categoria mais aniquilada da classe trabalhadora brasileira, atingindo,
aproximadamente, 10 milhões de pessoas; esses trabalhadores estão,
ainda, sujeitos à expropriação por parte dos intermediários ou
contratadores dos serviços, junto aos empresários agrícolas,
intermediários esses cuja alcunha - "gatos" - bem identifica a sua ação
rapinante (Juarez Cirino - ob. cit., ps. 92 e 93).
Cumpre salientar que as alterações desordenadas no meio rural, a
substituição das culturas agrícolas, de subsistência, pela criação
intensiva de gado, destinado à exportação, provocam, dentre outras
conseqüências, o êxodo rural, isto é, a migração do homem do campo em
direção às cidades, onde se espera melhor sorte, para não acabar
morrendo de fome; mas no meio urbano há .outras adversidades, tais como
dificuldade em dispor do solo, para construção de moradia, até mesmo na
zona de favelas, já supercongestionada, sem falar .na falta de
ocupação, escolaridade, assistência médica, condições mínimas de higiene
e alimentação.
, O fato é que são crescentes os índices de violência no Brasil, como
assinalou o senador Geraldo Cândido, bastando citar o fato de que no
primeiro trimestre de 1999 registraram-se 23 mil homicídios no País, o
que permite estimar que esse número deverá ultrapassar 50 mil por ano,
futuramente.
Tal fato pode ser comparado com o que ocorre na Colômbia, em
conseqüência da guerra civil nesse país /(Jornal do Senado,
/08.06.2001, p. 5).
O /gigantismo das cidades como fator criminógeno. Favelização/
/ /
Em resumo, todo um elenco de dificuldades angustiantes, faz com que
grande número de pessoas acabe buscando refúgio sob viadutos, nas
galerias de edifícios e embaixo de marquises, constituindo os chamados
"dormidores de rua", sem teto, encontrados nas grandes cidades, onde
perambulam durante o dia, fazendo pequenos biscates, com minguados
ganhos, caminho esse que leva fatalmente à prática criminosa, inclusive
por parte dos menores, que vivem sob essas condições de existência, como
lembramos noutro trabalho /(Causas da Criminalidade /e /Fatores
Criminógenos, /ps. 52 e segs.).
Ademais, os políticos demagogos têm objetivos exclusivamente
eleitoreiros, imediatistas, tais como a criação dos chamados "currais
eleitorais", urbanos e rurais, consistentes na concentração de eleitores
em determinadas áreas, na condição de "clientela cativa", favorecida com
algumas construções, especialmente habitacionais.
Daí, por exemplo, a absurda substituição de favelas em áreas impróprias
- mangues e alagadiços -, compostas de barracos construí dos com pedaços
de folha de zinco e papelão, por outras habitações de alvenaria, como
foi o caso da denominada "favela da maré", às margens da Baía de
Guanabara, no Rio de Janeiro, ao longo da via expressa Linha Vermelha,
área essa cuja fetidez e insalubridade atingem limites insuportáveis,
devido sobretudo ao fato de a região constituir um desaguadouro de
esgotos, com elevados índices de poluição.
Acontece que ali é uma região de intenso trânsito rodoviário,
despertando assim os olhares daqueles que circulam, em automóveis e
ônibus, podendo desse modo revelar admiração por aquelas novas
construções, obra de determinado político, sem considerar as
inconveniências acima apontadas.
Ora, o que o bom senso e a coerência recomendavam era um entrosamento
entre os governos municipais, estaduais e federal, no sentido de
construções habitacionais, prioritariamente, em áreas rurais, próximas
aos centros urbanos, de modo que as mesmas se destinassem ao cultivo de
hortigranjeiros e criação de animais de pequeno porte, destinados à
alimentação, quer dos moradores desses conjuntos, quer para efeito de
venda a terceiros.
Em suma, a construção de conjuntos habitacionais, destinados a
populações carentes, nos moldes acima expostos, agrava a problemática
do congestionamento e superpopulação urbana, ou seja, o chamado
gigantismo das cidades, um dos fatores criminógenos, como ressaltamos
noutros trabalhos ("O gigantismo das cidades como fator criminógeno",
/in Rev. do Curso de Direito da UF de Uberlândia, /voI. 17, 1988;
/Incorporações Imobiliárias e Condomínio de Apartamentos, /ps. 15 e
segs.).
Com efeito, boa parte da população de alguns desses conjuntos
habitacionais se compõe de adolescentes, jovens ,que não têm ocupação
nem habilitação profissional, não dispondo de renda própria, mas,
sobretudo devido à promiscuidade em que vivem, mantêm relações sexuais
precoces, procriando numerosos seres humanos, débeis, doentios, com
insuficiência de peso, com sombrias perspectivas de vida.
Além disso, no bojo desse contingente humano, principalmente por causa
da ociosidade, alastram-se as práticas delituosas, ramificações do
narcotráfico, do tráfico de armas, prostituição, e assim por diante,
típicas do lumpemproletariado.
O /lumpemproletariado como subproduto da violência capitalista/
/ /
Na terminologia marxista, o vocábulo lumpemproletariado se aplica às
camadas sociais sem consciência política e de classe, entregando-se à
prática de contravenções penais e crimes, ou seja, jogatina, furtos,
assaltos, seqüestros, tráfico de armas, narcotráfico, usufruindo
vantagem do comércio sexual, como "garotas e garotos de programa", e
assim por diante, trilhando o caminho escabroso da criminalidade, o qual
dificilmente oferece retorno.
Em suma, a maior parte desse contingente humano constitui o que
tradicionalmente se considera a canalha, malta, corja da sociedade, che
gando a essa condição em conseqüência de diversas causas e fatores
criminógenos, de natureza biológica, genética, psicológica,
sociológica, e outros, como ressaltamos noutra parte da presente obra,
ao tratar das diversas concepções acerca do delinqüente, como explica o
darwinismo social.
Concluindo o lumpemproletariado é um subproduto da violência capitalista.
O /abuso de poder do ponto de vista da criminalidade
//econômico-financeira /.
Em sentido genérico, a expressão abuso de poder equivale a abuso de
autoridade, isto é, o uso imoderado ou exorbitante do poder público, por
parte de um dos seus agentes, quando no exercício das funções próprias
do seu cargo, situação essa que, no Brasil, é disciplinada pela Lei n°
4.898, de 09.12.1965, que regulou o direito de representação e o
processo de responsabilidade administrativa civil e penal, nos casos de
abuso de autoridade, disposições legais essas que, aliás, jamais tiveram
qualquer eficácia, em face do autoritarismo político reinante, que, pela
sua própria natureza, violenta de maneira permanente a legalidade
democrática.
Entretanto, para efeito de estudos criminológicos, mais precisamente, no
esforço da construção da Teoria Crítica do Controle Social na América
Latina, a expressão abuso de poder assume conotações particulares e
específicas, como veremos adiante.
De fato, as concepções tradicionais acerca da idéia de poder têm sido
objeto de várias considerações, nos últimos anos, sobretudo após a
Reunião Inter-regional de Expertos das Nações Unidas sobre "Delitos e
Delinqüentes fora do Alcance da Lei", em Nova Iorque, em 1979, como
salienta Lola Aniyar de Castro /(La Realidad Contra Los Mitos,
/Maracaibo, 1982).
Por sua vez, o poder opera em vários níveis ou esferas; há centros de
poder político, como assembléias, administração, exército, polícia,
magistratura, municípios, partidos políticos, assim como existem também
centros de poder econômico e centros de poder ideológico.
Daí, "todo abuso de poder forma parte do mesmo exercício do poder que se
encontra dentro de uma formação social determinada, e obedece aos seus
mecanismos" (Lola Aniyar - ob. cit., ps. 127 a 133).
Nesse contexto, ao versar sobre o tema /Direito Penal Econômico e
Direito Penal dos Negócios, /salientou Heleno Fragoso que, no Brasil, o
Direito Penal tem sido amargo privilégio dos pobres e desfavorecidos,
que povoam nossas prisões horríveis e que constituem a clientela do
sistema. A estrutura geral de nosso direito punitivo, em todos os seus
mecanismos de aplicação, deixa inteiramente acima da lei os que têm
poder econômico ou político, pois estes se livram com facilidade, pela
corrupção e pelo tráfico de influência /(Rev. de Direito Penal e
Criminologia, /ps. 122 a 129, Forense, n° 33).
O /tráfico de influência e a impunidade das multinacionais ou
transnacionais/
/ /
A América Latina se caracteriza, como se afirmou na Conferência de
Puebla, por uma escandalosa distância crescente entre pobres e ricos e a
desumana pobreza de extensas faixas da população. Há fome e
desnutrição, salários aviltados, desemprego e subemprego, enfermidade
crônicas, analfabetismo, mortalidade infantil, falta de morada
adequada, injustiça nas relações internacionais, especialmente nas
transações comerciais, situações de neocolonialismo econômico e
cultural, por vezes tão cruel como o colonialismo político.
Nosso direito tem permanecido fiel à regra segundo a qual a
responsabilidade criminal é pessoal e subjetiva. As pessoas jurídicas
não podem cometer crimes. Segundo Brícola, no entanto, num estudo
luminoso, essa regra não tem valor ontológico e é apenas expressão da
força das leis do poder econômico. Se se pretende permanecer fiel à
regra da responsabilidade penal subjetiva, é indispensável prever, para
as pessoas jurídicas, sanções administrativas comparáveis às sanções
penais.
Constitui um dos fatos mais destacados do mundo contemporâneo a evolução
fantástica das empresas transnacionais, que operam largamente na América
Latina. Convém, assim, examinar em que medida é necessária e possível a
repressão penal dos abusos cometidos por essas sociedades. Os atos de
corrupção realizados em Lockheed na Itália, na Holanda e no Japão, que
alcançaram repercussão internacional, são apenas um dos exemplos de
ações delituosas. Sugere-se a elaboração pelos órgãos internacionais de
códigos de conduta, que regulem a atividade dessas empresas, embora os
seus efeitos sejam bem limitados /(Rev. de Direito Penal e Criminologia,
/Forense, n° 33, ps. 122 a 129).
As imunidades diplomáticas, como vimos, têm servido de disfarce para um
sem-número de crimes, relacionados ao tráfico de drogas, armas,
aliciamento de mercenários, espionagem industrial e comercial,
corrupção, suborno. Nesse sentido, tornou-se particularmente escandaloso
o episódio ocorrido, por longo período, na embaixada brasileira na
França, em que o seu titular recebeu a alcunha de "embaixador dez por
cento", pelo fato de perceber esse percentual, em decorrência dos
negócios realizados pelo seu país, fato esse denunciado pelo célebre
Relatório Saraiva, jamais, porém, divulgado ou apurado em suas últimas
conseqüências, apesar de iniciativas, nesse sentido, na Câmara dos
Deputados, em Brasília.
Evidentemente, dispomos de instrumentos legais que reprimem os crimes de
natureza econômico-financeira, como a Lei n° 1.521, de 26.12.1951
(Altera dispositivos da legislação vigente sobre crimes contra a
economia popular), bem como órgãos específicos, como o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), criado pela Lei n° 4.137, de
10.09.1962 (Regula a repressão ao abuso do Poder Econômico),
instrumentos esses, porém, que se revelaram inócuos, sobretudo
pós-1964, a partir de quando as multinacionais impuseram o seu alvedrio
à economia nacional. A propósito, oferecemos a Indicação de n° 61/84, ao
Instituto dos Advogados Brasileiros, apresentando projeto de lei que
modifica a composição do CADE, para nele incluir representante dos
advogados e de outros segmentos de nossa sociedade, proposta essa
rejeitada.
O /frenesi ou delírio da era do automóvel. Motocicleta/
/ /
o fenômeno, que /denominamosfrenesi do automóvel, /por exemplo, é
um caso típico de fator criminógeno.
Observe-se que falamos /emfrenesi do automóvel, /uma vez que, é
ló
gico, o automóvel, por si só, não constitui fator criminógeno.
Entretanto, afigura-se como fator criminógeno o modelo econômico
elitista, baseado na ênfase da produção e propagação do consumo do
automóvel, como privilégio duns poucos, em detrimento dos interesses
coletivos, devido à destinação de recursos públicos para esse esforço
de produção, através de incentivos fiscais, remessa de lucros para o
exterior,
juros, /royalties, /provocando com isso o agravamento do endividamento
externo, exigindo em conseqüência a exportação de gêneros alimentícios
essenciais ao consumo da população - como, no caso do Brasil: café,
soja, feijão, arroz, milho, carnes, frangos, frutas -, deixando aqui
mesas vazias e bocas famintas.
Em resumo, esse conjunto de fatos assume o aspecto de fator
criminógeno, pois daí resultam injustiças e tensões sociais, elevação
dos índices de acidentes de trânsito, sobretudo devido ao mal uso do
automóvel, com numerosas vítimas, mortas, com deformação fisica,
invalidez, sem falar nas neuroses urbanas, em conseqüência do ruído
aterrador e da insegurança coletiva, provocada pelo próprio ritmo de
velocidade desses veículos, pa norama esse que se pretende justificar
em vão, sob a inconsistente alegação de "preço do progresso", como
lembramos noutro trabalho /(Causas da Criminalidade e Fatores
Criminógenos, /ps. 69 e segs.).
Em geral, nos países subdesenvolvidos, submetidos a regimes políticos
autoritários, de exceção, o povo não dispõe de liberdade política para
organizar-se em sindicatos atuantes, associações de defesa do consumidor
e outros órgãos de proteção da comunidade (J. M. Othon Sidou - /Proteção
ao Consumidor, /Rio, 1977; Nina Ribeiro - O /Que Podemos Fazer,
/Brasília, 1978; Ester Kefauver - /Em Poucas Mãos /- O /Poder de
Monopólio na América do Norte, /Rio, 1967).
Sob esse aspecto o Brasil se encontra completamente desprovido, à mercê
do alvedrio das multinacionais, que controlam os principais setores de
nossa economia: alimentos, medicamentos, transportes, tratamento da
saúde, poder publicitário e de /marketing /(Mercadologia), através dos
meios de comunicação social, a denominada /mídia, /que introjetam nos
cidadãos a concepção segundo a qual /quem não possui automóvel é
infeliz. /Haja vista que numa pesquisa realizada nos EUA, acerca do
significado individual do automóvel, muitos dos entrevistados
declararam que "amam os seus veículos" e "conversam com eles", enquanto
outros revelaram que o "automóvel está acima da própria família, mulher
e filhos" (cf. /Central Brasileira de Notícias /- CBN, 09.02.2002).
O mesmo se pode dizer em relação a motocicletas, sendo que alguns tipos
das mesmas poluem dez vezes mais do que os automóveis.
/ /
/ /
/Os descalabros no trânsito de veículos rodoviários. Automóvel: símbolo
de desabaladas corridas. Criminalidade típica/
/ /
No setor de trânsito, por exemplo, grassam a insegurança e impunidade, a
começar pela inexistência dum mínimo de requisitos nos automóveis aqui
produzidos e que circulam em nossas cidades e rodovias, Basta dizer que
esses veículos não dispõem de padrões de segurança que os habilitem a
circular em países da Europa, nos EUA e Japão, como ficou apurado por
ocasião dos trabalhos realizados pela Câmara dos Deputados, em Brasília
(Nina Ribeiro - /Em Defesa do Consumidor, /Brasília, 1974).
Somos perenes recordistas mundiais em acidente de trânsito e parece
haver certo orgulho disso no subconsciente de muitos, pois sustenta-se
que tal fato representa o "preço do progresso", quer dizer, sinal de que
somos um país em desenvolvimento, na senda da prosperidade.
As multinacionais da indústria automobilística, do petróleo, do seguro
de acidentes e do tratamento da saúde se sentem à vontade no Brasil,
pois representamos um pasto fértil para as suas lucrativas e crescentes
atividades.
A fraude, corrupção, permissividade e complacência da legislação e dos
órgãos do trânsito, bem como a tolerância da justiça penal, se
harmonizam e satisfazem ao /status quo /existente, deixando satisfeitas
as multinacionais, que nos bastidores manobram eficientemente no
sentido de que não ocorram mudanças.
De acordo com os dados coligidos por Genoveva Miranda, enquanto em São
Paulo, em 1980, ocorreram 15.193 atropelamentos, ou seja, cerca de 40
por dia, em 1981 se verificaram cerca de 26 mil acidentes dessa
espécie, o que dá u'a média de um a cada 22 minutos.
Por outro lado, dados do Programa de Redução de Acidentes - com a
sugestiva sigla Pare -, vinculado ao Ministério dos Transportes, indicam
que, em nível nacional, cerca de 350 mil pessoas são acidentadas
anualmente no trânsito rodoviário, sendo que do total de acidentados,
aproximadamente 40 mil correspondem a casos fatais (cf. pronunciamento
do senador Mauro Miranda, /in Jornal do Senado, /16.08.2001, p. 10).
Os técnicos afirmam que em 1981 chegaram a 34 bilhões de cruzeiros os
custos de socorro e hospitalização das vítimas. Segundo eles, um em cada
4 atropelados tinha mais de 50 anos.
Em grande parte, tudo isso se deve ao sistema de aprovação de novos
motoristas. De acordo com o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg, são
muitas as facilidades para obtenção de carteira de habilitação no
Brasil: "Aqui, para ser considerado apto, basta ter visão razoável,
provar que não é analfabeto, conhecer os sinais de trânsito e colocar o
carro em movimento. E pronto! Depois de algumas ladeiras, a carta."
Uma das sugestões do psicólogo é a aplicação de testes psicotécnicos
para todos, a cada 3 anos, e o uso de eletroencefalograma nos exames,
para eliminar motoristas com problemas mentais.
Outra sugestão do referido especialista diz respeito à falta de
condições de trabalho dos motoristas profissionais: excesso de carga
horária, alto nível de ruído e calor. Tudo isso, mais os longos turnos -
em média de 12 a 14 horas - provoca a fadiga, uma das causas dos
acidentes.
Em 1973, por exemplo, de acordo com estatísticas oficiais, apurou-se que
12% dos motoristas de ônibus apresentavam disritmia, e todos dirigiam
mais de 12 horas por dia, transportando u'a média de cem pessoas por
viagem. Dois anos mais tarde, uma pesquisa também oficial constatou que
15% dos motoristas de uma empresa particular eram portadores de sífilis
e verminose. Isso, quando não tinham problemas de hipertensão arterial e
surdez, como lembramos alhures /(Criminologia, /ps. 115 e segs.).
Os /acidentes no trânsito, em virtude de os motoristas dirigirem
alcoolizados. Bandidos do volante/
/ /
Por outro lado, os países mais desenvolvidos possuem leis severas, no
que diz respeito aos motoristas que tenham tomado bebidas alcoólicas. Na
Alemanha, por exemplo, é considerada como infração grave e embriaguez no
volante. Bastam 2 copos de cerveja, apenas, para que o motorista seja
considerado alcoolizado e, no caso, a medida tomada é a cassação
imediata e, na maioria das vezes, definitiva, da carteira de motorista.
No Brasil, há um misto de sentimentalismo e escrúpulo, no que diz
respeito à cassação da carteira de habilitação, ora sob a alegação de
que isso representaria a perda do emprego, ora sob o fundamento de que o
trânsito implica num risco razoável. Com isso, um mesmo infrator
ocasiona sucessivos desastres, causando lesões corporais e morte, e
enquanto responde aos processos, continua de posse de duas carteira, sem
ser molestado, ensejando novos desastres, provocados pelos que
denominamos "bandidos do volante" /(Comentários ao Código de Processo
Civil, /art. 275, vol. I).
O emprego do álcool, como combustível automobilístico, trouxe novos
complicadores em relação à poluição ambiental, como veremos adiante, ao
que se soma ao fato de o motorista dirigir embriagado. É que, de acordo
com a estimativa duma Delegacia Especializada em Acidentes de Trânsito,
cerca de metade dos motoristas paulistanos, homens e mulheres, dirigem
seus carros em estado de embriaguez.
Conforme uma pesquisa realizada no Brasil, intitulada "A Influência do
Etanol nas Atividades Psicomotoras Envolvidas no Ato de Dirigir
Veículos", constatou-se que o álcool é rapidamente absorvido pelo
aparelho gastrintestinal- cerca de 90% - em uma hora. Sua solubilidade
alta na água permite a passagem rápida por qualquer membrana humana e,
uma vez diluído no sangue, entra imediatamente em contato com o
cérebro. A princípio a pessoa entra num estado de excitação e, logo
após, vem a depressão, quando, segundo Kalant, ocorre "uma diminuição da
reação de alerta e a atividade dos centros regulatórios autônomos
adquire um padrão bastante aproximado do estado de sono". Ou seja,
começou a surgir os sintomas do sono, com a perda da capacidade de
concentração e dispersão dos sentidos.
São os seguintes os distúrbios causados pela ingestão excessiva de
bebidas alcoólicas: visuais, sonolência patológica, reflexos
retardados, hipoglicemia severa e disritmias epileptiformes, na crise
de abstinência de álcool.
Diante desse quadro é que se pode avaliar a extensão da impostoria e o
descabido regozijo da fala ministerial, ou seja, o teor dos discursos
pro nunciados por ocasião da solenidade de comemoração do alcance da
meta de produção de 10,7 bilhões de litros de álcool e da
comercialização do milionésimo veículo a álcool, no Brasil (Publicação
da Comissão Executiva Nacional do Álcool- Secretaria Executiva,
Brasília, 19.09.1983).
O que se escamoteou, nessa ocasião, foi a verdade acerca da poluição
causada ao meio ambiente, principalmente com o lançamento do vinhoto
(resíduo da cana-de-açúcar, com elevado teor tóxico) em nossos rios,
ocasionando a destruição da fauna aquática, com igual reflexo nos
oceanos; o agravamento da dívida externa, pois essas empresas
automobilísticas remeterão, com esse aumento de produção de veículos,
mais dividendos, juros e /royalties /para as suas matrizes no exterior,
e assim por diante, resultando mais esfomeação e miséria para as camadas
sociais carentes de nosso povo.
Em Israel, por exemplo, no que diz respeito à severidade das leis de
trânsito, há um critério para a perda da carteira de habilitação: basta
que o motorista some 8 pontos em inftações cometidas. Para o excesso de
velocidade a punição é 1 mês sem licença. Andar sem seguro são 8 pontos
- e um juiz decide o tempo de cassação. O motorista surpreendido sem
documentos tem o prazo de 24 horas para apresentá-los. Sendo alguém que
estava suspenso, temporariamente, a perda é às vezes duplicada de 1 para
3 anos.
Quanto ao Brasil, com o advento do Código de Trânsito Brasileiro
(Lei n° 9.503, de 23.09.1997), adotaram-se regras similares.
Na Itália, no caso de grave responsabilidade pessoal em acidente de
trânsito com vítimas fatais, a carteira pode ser cassada,
provisoriamente, até uma decisão judicial /(Vida e Saúde, /SP, 1984).
Enquanto se observa esse quadro, em relação ao transporte individual, o
setor de transportes coletivos de tração elétrica, como convém ao
Brasil, se encontra em completo abandono. .
No capítulo intitulado O /Delírio do Automóvel, /do livro que publicou,
o engenheiro Renê Fernandes Schoppa demonstra, com argumentos e fatos
irrespondíveis, o absurdo da política de expansão da indústria
automobilística, mesmo em relação aos EUA, acarretando um elevado custo
social, com a aplicação de recursos em planos viários elitistas, para
facilitar o transporte individual, poluição ambiental, e danos à saúde
pública /(Para Onde Caminham Nossas Ferrovias? /ps. 87 e segs.).
O /consumismo como fator criminógeno/
/ /
Por sua vez, o consumismo representa outro decisivo fator criminógeno,
na sociedade capitalista.
Como é notório, os chamados estímulos publicitários da sociedade
capitalista têm como único objetivo o lucro individual, sem que importem
os meios empregados e as conseqüências que daí possam advir.
Cria-se, assim, uma sensação artificial de progresso e fantasias,
através do intenso sugestionamento do público, no sentido de consumo
dos bens produzidos e oferecidos, através dos meios de comunicação
social, produtos esses tantas vezes supérfluos e nocivos à saúde, sem
qualquer controle por parte das autoridades públicas, quer se trate de
alimentos, medicamentos, cosméticos e outros artigos, como, por
exemplo, a publicidade insidiosa em torno do cigarro e das bebidas
alcoólicas.
Nesse contexto, até o abundante oferecimento nos supermercados gera
ânsia de adquirir o supérfluo; quando muitas vezes não é possível
realizar esse desejo, então é estimulada a prática de furtos, comO
lembra Hans von Hentig /(El Delito, /voI. *III, *p. 43).
Partindo dessa linha de raciocínio, chega-se à conclusão de que a atual
síndrome de violência, característica da sociedade capitalista em geral,
sobretudo no tocante à criminalidade patrimonial, não representa outra
coisa senão a resultante generalizada da maciça publicidade em tomo do
consumismo, que transborda pelos meios de comunicação. Ora, com a
recessão econômica, desemprego e carestia dominantes, sob o capitalismo,
não se poderia esperar outra reação coletiva, que se observa: o
incontrolável número de furtos, assaltos, seqüestros, sem falar nas
práticas estelionatárias.
/A fabricação de armas, seu tráfico e as polícias particulares, como
fatores de violência e criminalidade/
/ /
Some-se a isso o fenômeno do tráfico de armas de fogo, a propagação de
sua fabricação e venda; a existência de polícias particulares, firmas
de segurança bancária, cujo pessoal, em sua maioria, é recrutado dentre
as camadas mais carentes da população, sendo freqüente o extravio de
seu armamento, inclusive o de armas de grosso calibre, consideradas de
uso privativo das Forças Armadas.
Lembram muitos observadores que o ano de 1968, no Brasil, representou o
momento de transição entre o crime habilidoso para o violento, porque
foi justamente nesse ano que o nefando "Esquadrão da Morte" começou a
atuar, institucionalizando a violência, sugestionando assim igual
atuação violenta por parte dos criminosos em geral, mostrando-lhes que o
assalto à mão armada é muito mais proveitoso e eficaz, sendo a surpresa
um importante elemento para o êxito do assalto, como lembra Nélson
Pizzotti Mendes /(Criminologia, /ps. 320 e 323).
Em seu livro /Agressão e Violência no Mundo Moderno, /assim se
manifesta o autor norte-americano Friedrich Hackker: "Como compreender
que um mesmo ato, quando cometido por um é autorizado e legítimo, e
quando cometido por outro, proibido e repreensível?"
A propósito, observe-se a marcha das discussões, travadas no Senado
Federal, durante o ano de 2000, acerca da proibição e da regulamentação
do porte de arma do fogo, quando então vieram à tona argumentos
patéticos a respeito, contrários à proibição em exame /(Jornal do
Senado)./
Aliás, é bastante significativo o fato de o ex-presidente estadunidense
Ronald Reagan, apesar de baleado no pulmão, no atentado que sofreu no
dia 30 de março de 1981, ter-se recusado a adotar qualquer medida, em
relação ao controle de venda de armas de fogo a particulares, nos EUA.
É evidente que a fabricação e o comércio dessas armas representam um
bilionário negócio, além de expandir o crime organizado.
*A "DELINQÜÊNCIA JUVENIL"*
* *
/A problemática da inimputabilidade penal em face da idade/
/ /
o emprego da expressão /delinqüência juvenil /tem suscitado
interminável discussão teórica, quanto à impropriedade técnica dessa
terminologia.
A discussão está centrada no conceito analítico do delito, que,
como se sabe, consiste na ação ou omissão típica, antijurídica e
culpável.
Ora, sustenta-se, desde que inexista um, dentre os três elementos,
integrantes do conceito analítico do delito - tipicidade,
antijuridicidade e culpabilidade -, não se configura a hipótese de
prática delituosa.
No caso, o cerne da questão gira em torno da culpabilidade, que
constitui o elemento subjetivo do delito, isto é, o nexo moral que liga
o agente ao fato criminoso que lhe é imputado.
Na linha desse raciocínio, a culpabilidade pressupõe a imputabilidade,
ou seja, a capacidade moral atribuída ao homem, pelo fato que lhe é
imputado - /imputatio facti /-, como sua obra e a forma dessa imputação
- dolo ou culpa -, /imputatio juris, /isto é, a atribuição de um fato a
um indivíduo para fazê-Io sofrer as conseqüências e torná-Io responsável
por isso.
Em outras palavras, o imputável é o penalmente responsável; o
inimputável é o irresponsável.
Em geral, os Códigos Penais não definem a imputabilidade, mas
estabelecem as condições de inimputabilidade, ou seja, as dirimentes,
como é o caso de nosso Código Penal de 1940, em cujos artigos 22 a 24
adotou o chamado critério biopsicológico normativo, segundo o qual o
agente é isento de pena ou esta é reduzida, em determinadas
circunstâncias, que o próprio Código prevê.
. Nos casos concretos, isto é, quando houver dúvida sobre a integridade
mental do agente, este será submetido a exame médico-legal, de natureza
psiquiátrica, na forma prevista pelo artigo 149, do Código de Processo
Penal de 1941.
Adotou o legislador de nosso Código Penal de 1940 o princípio da chamada
/responsabilidade moral, /que se baseia na consciência e vontade do
agente, responsabilidade essa sobre a qual a pena deve atuar, para a
realização de sua finalidade inerente à sua natureza aflitiva,
expiatória, retributiva e também tendente a plasmar uma nova
consciência no delinqüente.
/Conceito de responsabilidade ou imputabilidade penal/
/ /
Segundo Nélson Hungria, o Código Penal de 1940, não dá uma definição
/positiva /da /responsabilidade, /sob o ponto de vista jurídico-penal,
limitando-se a declarar os casos em que esta se considera excluída,
assim se expressando: "Por dedução /a contrario /do texto legal,
verifica-se que a responsabilidade pressupõe no agente,
contemporaneamente à ação ou omissão, a capacidade de entender o
caráter criminoso do fato e a capacidade de .
è determinar-se de acordo com esse entendimento. Pode, então, definir-se
a responsabilidade como a existência dos pressupostos psíquicos pelos
quais alguém é chamado a responder penalmente pelo crime que praticou.
Segundo um critério tradicional, que o Código rejeitou, haveria que
distinguir entre /responsabilidade /e /imputabilidade, /significando
esta a capacidade de direito penal ou abstrata condição psíquica da
punibi1idade, enquanto. aquela designaria a obrigação de responder
penalmente /in concreto /ou de sofrer a pena por um fato determinado,
pressupostos da imputabilidade. A distinção é bizantina e inútil.
Responsabilidade e imputabilidade representam conceitos que de tal modo
se entrosam, que são equivalentes, podendo, I,com idêntico sentido, ser
consideradas /in abstrato /ou /in concreto, a priori /ou /a posteriori.
/Na terminologia jurídica, ambos os vocábulos podem ser indiferentemente
empregados, para exprimir tanto a capacidade penal /in generis, /quanto
a obrigação de responder penalmente pelo fato concreto, pois uma e outra
são aspectos da mesma noção" /(Comentários ao Código Penal, /voI. *I,
*Tomo 2°, p. 314).
Entretanto, esse entendimento não é pacífico, do ponto de vista
teórico, dele discordando, por exemplo, Aníbal Bruno /(Direito Penal,
/*I, *Tomo U, p. 27), José Frederico Marques (cf. Euclides Custódio da
Silveira, /in /Notas ao /Direito Penal, /10 voI., p. 242), autores esses
que distinguem responsabilidade e imputabilidade.
/ /
/Capacidade de entendimento ético-jurídico do agente do delito/
/ /
Como se sabe, segundo a sistemática adotada pelo nosso Código Penal de
1940, a responsabilidade só deixa de existir quando /inteiramente
/suprimidas no agente, ao tempo da ação ou omissão, a capacidade de
entendimento ético-jurídico ou a capacidade de adequada determinação da
vontade ou de autogoverno. Tal supressão, porém, está indeclinavelmente
condicionada a certas causas biológicas: "doença mental",
"desenvolvimento mental incompleto ou retardado" e "embriaguez fortuita
e completa". Foi, assim, adotado o método chamado /misto /ou
/biopsicológico, /devendo notar-se, entretanto, que o Código faz uma
exceção a essa regra quando trata dos /menores de /18 /anos, /pois,
nesta hipótese a causa biológica /(imaturidade) /basta, por si só,
irrestritamente, sem qualquer indagação psicológica, para excluir a
responsabilidade penal, como sustenta Nélson Hungria /(Comentários ao
Código Penal, /voI. *I, *Tomo 2°, ps. 314 e segs.).
/As reações psíquicas do embrião e do feto e seus reflexos no
comportamento futuro do ser humano/
/ /
Na realidade, o critério adotado pelo nosso Código Penal de 1940 tem
origens e explicações de natureza psicológicas, eis que, qualquer que
seja o momento em que surpreendemos o germe humano, desde a sua
fecundação, até adquirir o caráter de embrião (aos dez dias) ou de feto
(aos dois meses), nele podem obter-se experimentalmente dois tipos de
reação: /locais /e /globais, /reações essas que, progressivamente,
adquirem um caráter unitário e intelectual, base das reações psíquicas,
cujo aparecimento se dá incontestavelmente pelo sexto mês do
desenvolvimento intra-uterino, coincidindo com a viabilidade do feto.
Em suma, há portanto uma psicologia pré-natal (Emilia Mira y Lopez)
Daí os efeitos nocivos, nos casos das gestantes que rejeitam a
maternidade, isto é, não desejam procriar, maldizem o feto, que se
encontra em suas entranhas, utilizam-se de substâncias para tentar
abortar, por não disporem de recursos financeiros para realizar o
aborto, por meio de um médico.
Após a passagem migratória do feto para o mundo exterior, inicia-se a / I
evolução extra-uterina do recém-nascido, que atravessa diversas fases,
até atingir a primeira e segunda infâncias, daí passando à adolescência
(do latim /adolescere, /que significa crescer), que constitui um breve
espaço de tempo, que precede a puberdade, correspondendo aproximadamente
ao período entre os 11 e os 13 anos nas meninas e os 12 e 14 anos nos
meninos. Nesse período, como ressalta Emilio Mira y Lopez, observam-se,
a par de notáveis transformações anatômicas e psicológicas, alterações
de conduta e mudanças morfológicas sensíveis. É o momento evolutivo do
chamado "estirón", ou seja, de um crescimento estatural acelerado.
À medida que a Psicologia vai progredindo, acentua-se a importância do
estudo da problemática existencial dos adolescentes, ampliando-se a
duração admitida para esse período, até compreender não somente a
puberdade, mais também grande parte da juventude, isto é, o segundo
decênio da vida. De sorte que, já não é a adolescência intercalada entre
a meninice e a puberdade, mas sim entre a meninice e a maioridade,
variando em conseqüência os critérios legislativos de cada país, no
tocante à concessão dos direito sociais e responsabilidade civil e penal
do indivíduo /(Psicologia Evolutiva da Criança e do Adolescente, /ps.
23, 24 e 157).
/Reflexos da problemática capitalista sobre /o /comportamento da criança
e do adolescente/
/ /
Como é notório, o sistema capitalista vive inexoravelmente sujeito a
crises cíc1icas, crises essas de natureza complexa, isto é, social,
política, econômica, familiar, devido a diversas causas e múltiplos
fatores, inerentes ao próprio capitalismo, e que se manifestam através
do desemprego, recessão, especulação desenfreada, fome, miséria,
impunidade da corrupção administrativa, ambição de lucros, utilização
nociva dos meios de comunicação social (rádio, televisão, filmes,
jornais, revistas, escritos e impressos pornográficos), exploração
sexual, erotização, tráfico de drogas e de armas, bem como numerosos
outros aspectos.
Ora, tudo isso se reflete sobre a estrutura familiar, sobre o
comportamento humano, a moralidade pública, os costumes. Em
conseqüência disso: "A sociedade familiar decai. Crianças de oito, dez
e doze anos se dedicam à prostituição na Inglaterra. Jamais presenciei
um comércio de sexo infantil como agora", disse Arthur Nixon, delegado à
Reunião Anual da Associação Britânica de Diretores de Colégio em 1981.
Hungria sentenciou: "O /delinqüente juvenil /é, na grande maioria dos
casos, um corolário do /menor socialmente abandonado, /e a sociedade,
perdendo-o e procurando, no mesmo passo, reabilitá-Io para a vida,
resgata o que é, em elevada proporção, sua própria culpa" /(Comentários
ao Código Penal, /voI. I, Tomo 2°, ps. 353 e 354).
Note-se que a Lei n° 8.069/1990, assim considera e distingue a
criança do adolescente, para os efeitos legais.
"Art. 2° - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e
dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcional
mente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade."
Cabe lembrar que a adolescência é o período de vida caracterizado por
amplas e profundas modificações psicossomáticas, em que se completa o
desenvolvimento morfológico-funcional do ser humano.
Durante essa fase da existência humana, definem-se os caracteres
sexuais secundários, avivam-se os processos intelectuais, a
sensibilidade, e toda uma nova problemática, de ordem biopsicológica,
sócio-cultural e político-econômica, situação essa que repercute na
esfera jurídica, daí por exemplo o fato de que aos dezoito anos
completos o indivíduo está sujeito à convocação para efeito de prestação
do serviço militar, direito de voto e ser votado (arts. 14, § 1°, I, e
143, da Constituição de 1988), assim como o homem contrair matrimônio,
mediante consentimento dos pais ou de representante legal (arts. 183,
XII, e 185 e segs. do Código Civil de 1916).
Quanto à mulher, pode a mesma consorciar-se após completar dezesseis
anos, observadas as formalidades para o consentimento, acima referidas.
/Terminologia adequada acerca dos desvios de comportamento da criança e
do adolescente/
/ /
A expressão /delinqüência juvenil /foi usada pela primeira vez na
Inglaterra, em 1815, por ocasião do julgamento de cinco meninos de 8 a
12 anos de idade.
Atualmente, essa expressão tem suscitado várias críticas, como
assinalamos acima, sendo empregada com diferentes sentidos, conforme a
opinião dos autores, para exprimir os seguintes conceitos,
principalmente:
a) a delinqüência juvenil compreende os comportamentos anti-sociais
praticados por menores e que sejam tipificados nas leis penais;
b) a delinqüência juvenil não deve ser encarada sob uma perspectiva
meramente jurídica, devendo incluir também os comportamentos anormais,
irregulares ou indesejáveis;
c) a delinqüência juvenil abrange, além do que foi assinalado nas
teorias anteriores, aqueles menores que, por força de certas
circunstâncias ou condutas, necessitam de reeducação, cuidado,
proteção.
Das três posições acima, a mais aceita é a primeira.
Salienta ainda César Barros Leal que, por ocasião do Segundo Congresso
das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratame_to do
Delinqüente, realizado em Londres, em 1960, foi aprovada recomendação
no sentido de que o significado da expressão delinqüência juvenil deve
restringir-se o mais possível às infrações do Direito Penal.
Em muitos países confunde-se delinqüência juvenil com inadaptação, cujo
conceito não apenas compreende menores autores de infrações penais, como
também retardados, neuróticos, desequilibrados, abandonados, órfãos,
vagabundos etc. /(A Delinqüência Juvenil: Seus Fatores Exógenos /e
/Prevenção, /ps. 43 e segs.).
Aliás, o. Segundo Seminário dos Estados Árabes sobre Prevenção e
Tratamento do Delinqüente, realizado sob os auspícios das Nações Unidas,
em Copenhague, em 1959,jáhavia concluído que os termos delinqüência e
inadaptação não são equivalentes, pois, os dois problemas são diversos,
eis que a delinqüência de menores abrange somente os atos que,
pratiCados por adultos, seriam considerados delitos.
Por sua vez, o Seminário Latino-Americano sobre Prevenção do Delito e
Tratamento do Delinqüente, realizado no Rio de Janeiro, em 1953, embora
concluísse que a expressão delinqüência juvenil "era tecnicamente
inadequada" ("por não reunir os elementos essenciais do conceito
doutrinário do delito"), reconheceu, contudo, que pela inexistência de
expressões substitutivas apropriadas, poderia continuar a ser utilizada.
/Casas dos desvios de comportamento da criança /e /do adolescente. As
associações em bandos para fins criminosos/
/ /
Da mesma forma que em relação aos adultos, diversas causa,s -
endógenas e exógenas - influem sobre a conduta delituosa do menor.
Essas causas podem ser de natureza genética, psicológica,
patológica, econômica, sociológica, familiar.
As condições de vida miseráveis dos pais, fome, subnutrição,
alcoolismo, consumo de drogas, falta de condições mínimas de higiene,
ausência de qualquer exame pré-natal e hábito de fumar da gestante,
enfermidades crônicas e outros aspectos, marcam a vida do novo ser
antes do seu nascimento.
No período de zero a sete anos, em que a criança mais necessita de
assistência sanitária e de nutrição, ocorrendo a falta desta, os
neurônios (células nervosas com os seus prolongamentos) do menor serão
fatalmente atingidos, e o trabalho de recuperação, mesmo usando-se os
mais sofisticados métodos, não surte efeito, como salientou Antônio
Alfredo Fernandes /(Jornal do Brasil, /14.04.1978).
Segundo o relatório da FAO (Organização para a Alimentação e
Agricultura, órgão da ONU), divulgado em 1978, o consumo médio de
calorias nos países ricos subiu para 3.380, contra 2 mil calorias
consumidas em média nos países subdesenvolvidos.
Essas disparidades, segundo a F AO, provocam males, sob um duplo
aspecto, isto é, tanto ocasionam doenças por subnutrição como pelo
consumo excessivo de alimentos ou a adoção de dietas inadequadas nos
países ricos.
Está fora de dúvida, porém, que os males resultantes da fome são
desproporcionalmente maiores para os pobres, até porque estas condições
lhes são impostas, como conseqüência das desigualdades internacionais e
da exploração exercida pelas potências imperialistas, através do
controle de preço, açambarcamento e distribuição de alimentos, nos
diversos países capitalistas.
A subnutrição não é apenas um mal em si: todos os anos cem mil crianças
ficam cegas por causa daquela; 40% das mulheres adultas dos países
subdesenvolvidos são anêmicas.
Na América Latina, mais da metade das mortes entre as crianças de menos
de dois anos é atribuída a alimentação deficiente.
De acordo com as previsões de luan Pablo Terra, consultor da UNICEF
(Fundo das Nações Unidas para a Infância), se persistirem as condições
atuais na América Latina, morrerão nos próximos 20 anos, cerca de 30
milhões de crianças e outras tantas sofrerão desnutrição grave /(Rev.
Bras. de Ciênc. Jurídicas, /n° 1, ps. 76 e segs.).
Na década de 1980, a UNICEF divulgou um relatório específico acerca da
situação da criança no Brasil, registrando elevados índices de
mortalidade infantil, devido, entre outras causas, à falta de
assistência pré-natal e cuidados médicos, durante o parto; dito
relatório salientou também aspectos relacionados à deficiência mental da
criança, em razão da subnutrição das mães, bem como do próprio menor,
nos primeiros meses de vida, com a conseqüente atrofia das células
cerebrais, insuficiência de peso, propensão a doenças etc. /(Jornal
Nacional, /Brasília, 07.06.1984).
Ora, esse conjunto de causas e fatores enseja inexoravelmente a formação
de crianças deficientes e futuros adultos débeis mentais, por
conseguinte, uma porta larga para os desvios de comportamento, inclusive
condutas delituosas, tomando tais seres humanos um peso morto, uma carga
inútil e nociva ao meio social em que vivem. Paradoxalmente, esse mesmo
meio social - através de seus órgãos punitivos - acaba de liquidá-Ios,
moral e fisicamente, nos seus estabelecimentos prisionais: as
mundialmente conhecidas "casas de horrores".
/ /
/Fatores criminógenos que atuam sobre a criança e o adolescente. Bandos
juvenis/
/ /
Quanto aos fatores criminógenos, de natureza exógena, relacionados ao
meio social, aos aspectos psicológicos e psiquiátricos, que atuam
negativamente sobre a criança e o adolescente, destacam os
autores os seguintes:
a) disciplina mais rígida ou descontínua da parte do pai; b) supervisão
não adequada da parte da mãe;
c) pai delinqüente e hostil;
d) mãe indiferente e hostil;
e) família sem coesão;
f) desejo marcante de afirmação pessoal na sociedade; g) atitude
marcante de desprezo e desafio;
h) marcante destrutividade;
i) aventureirismo;
j) instabilidade emotiva;
*1) *procedentes familiares de vício ou delinqüência; m) falta de
ocupação;
n) influências extrafamiliares, más companhias;
o) famílias numerosas com problemas econômicos etc.
Segundo estudos realizados na extinta Alemanha Federal, cerca de metade
das crianças estava crescendo em meio a um ambiente em que devem contar,
a cada instante, com uma surra ou bofetada, ou seja, hábitos violentos
por parte dos pais.
O relatório publicado a respeito informa que grande número de
ocorrências permaneciam ocultas, pois havia interesse em disfarçá-Ias,
dificultando-se as sindicâncias. Apesar disso, suponha-se como realista
a cifra de 15.000 a 18.000 casos anuais de maus tratos fisicos a
crianças, com reflexos negativos sobre a sua personalidade, conduta e
reação emotiva /TribunaIAlemQ., /agosto, 1982).
No Brasil, embora não existam estudos a respeito, há indícios do mesmo
fenômeno, resultando inclusive, em alguns casos, fraturas em crianças,
sob o disfarce de quedas, acidentes.
No que tange às associações em bandos juvenis, elas existem de forma
mais estruturada e em maior número nos EUA, onde, por coincidência, é
também maior o índice de crime organizado /(organized crime), /embora
ditas associações sejam universalmente conhecidas, inclusive no Brasil,
como salientamos noutra parte deste trabalho.
As denominações dessas associações variam nos diferentes países, a
saber: gamberros (Espanha), vitelloni (Itália), teddy-boys (Inglaterra),
blousons noirs (França), Halbstarker (Alemanha), nosem (Holanda),
anderujmer (Dinamarca), pasek (Tchecoslováquia), hooligans (URSS e
Polônia), pavitos (Venezuela), zazous (África), bodgies (Austrália),
taizo-zoke (Japão) e Tai-Pao (China), como assinala César Barros Leal
(ob. cit., p. 39).
No Brasil, inexistem estudos específicos, a respeito das associações em
bandos juvenis, com o objetivo de práticas delituosas; contudo, são
flagrantes e exuberantes os indícios e provas, quanto a existência
desses bandos, sendo os menores denominados, individualmente, de
"trombadinhas" (São Paulo) e "pivetes" (Rio de Janeiro).
/Mutatis mutandis, /da mesma forma que em relação aos adultos, existem
/cifras douradas /(em relação aos menores pertencentes às classes
sociais privilegiadas), /cifras negras /(práticas delituosas não
detectadas, ou que escapam ao controle oficial) e as práticas delituosas
reprimidas, em conformidade com a legislação aplicável em cada país.
/ /
/Imaturidade penal/
/ /
Estabeleceu o art. 23, do nosso Código Penal de 1940 que, os menores de
dezoito anos são penalmente irresponsáveis, ficando sujeitos às normas
estabelecidas na legislação especial, preceito esse reproduzido no art.
228 da Constituição de 1988.
. A legislação especial em causa consistiu em diplomas legais
específicos, que se sucederam até a vigência da Lei n° 8.069, de
13.07.1990-Estatuto da Criança e do Adolescente -, que dispõe, dentre
outras medidas, sobre a assistência, proteção, vigilância, vida e saúde
dos mesmos.
Como se vê, pelos princípios acima expostos, a imaturidade individual e
individual-sociai"do psiquismo das crianças e adolescentes constitui
causa de exclusão ou atenuação da imputabilidade, matéria essa que tem
recebido as soluções mais diversas através dos tempos: a equiparação
penal do menor ao adulto, a exclusão da pena para as primeiras idades,
ou a sua atenuação subordinada ou não ao critério dos discemimentos.
"Hoje, o pensamento fundamental em referência à chamada criminalidade
dos menores, é que ela não constitui matéria do Direito punitivo, mas de
um regime tutelar" (AníbalBruno - /Direito Penal, /I, Tomo 2°, ps. 163
e segs.).
/Critérios legislativos distintos sobre a incapacidade civil e penal dos
menores de dezoito anos. A "malícia supre a idade"/
/ /
A incapacidade do indivíduo, segundo a lei civil, é de fato, e não de
direito, quer dizer, as pessoas consideradas incapazes, II-° sentido
jurídico, têm direitos, mas não os podem exercer, ou então, não 10 podem
fazer de modo absoluto (art. 5°, I a IV, do Código Civil de 1916, ou
relativamente a certo número de atos (art. 6°, I a III, do referido
Código).
Todavia, isso implica dizer, dentre outros aspectos, que a incapacidade
civil não isenta o agente incapaz, quanto à obrigação de reparação do
dano por ele causado, o que ocorre por intermédio de seu representante
legal (arts. 84 e 1.521, I e II, do predito Código), como decorrência
do princípio da responsabilidade por fato de terceiro, como lembramos
noutro trabalho /(Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro, /ps. 271
e segs.).
Nesse sentido, preleciona Clóvis Beviláqua, ao comentar o art. 155 do
mencionado Código, que dispõe sobre a obrigação de o menor, entre
dezesseis e vinte e um anos, responder pelo seu ato, quando agir
deso1amente, assim se manifestando:
"A malícia supre a idade /malitia supplet octatem. /O menor que,
do10samente, esconde a sua idade consegue convencer a outrem, de que é
capaz, não pode invocar, depois a proteção da lei em favor de sua
debilidade mental. A malícia não deve aproveitar a ninguém, diz outro
brocardo, nem, ainda, aos menores" /(Código Civil, /p. 340, vol. I,
1956).
Versando sobre o tema, salienta Ga1dino Siqueira que, "no homem a noção
do /justo /surge mais cedo do que a noção do útil", aduzindo o seguinte:
"A lei civil mesmo tem em tanta conta este fato de observação, que
declara o menor responsável pelos seus delitos ou quase-delitos civis,
ainda que lhe seja permitido anular suas obrigações convencionais,
desde que prove ter sido lesado.
Daí por que a maioridade penal é fixada antes da maioridade civil
nas
diferentes legislações" (cf. /Direito Penal Brasileiro, /p. 354, vaI. I,
1932).
Contudo, cumpre lembrar que a experiência legislativa brasileira adotou,
no passado, o critério de responsabilidade penal aquém dos dezoito anos,
como veremos adiante.
/Experiência legislativa brasileira, acerca da responsabilidade penal,
em função da idade. Critério meramente presuntivo/
/ /
o nosso Código Penal de 1890 estabeleceu em seu art. 27, que não são
criminosos, dentre outros, os menores de nove anos completos, e os
maiores de nove e menores de 14, "que obrarem sem discemimento" (§§ 1° e
2°).
Por sua vez, o art. 30, do mesmo diploma legal, dispôs que "os maiores
de nove anos e menores de 14, qlie tiverem obrado com discemimento,
serão recolhidos a estabelecimentos disciplinares industriais, pelo
tempo que ao juiz parecer, contanto que o recolhimento não exceda à
idade de 17 anos".
Comentando o citado art. 27, do Código Penal brasileiro de 1890,
salientou Oscar de Macedo Soares que o critério de idade, adotado pelo
Códi. go Criminal do Império (1830) e pelo referido Código de 1890, teve
como fonte de inspiração o direito romano, que distinguia as três
classes: /infantes /(até os 7 anos), /impuberes /(dos 7 aos 14 anos),
/minores /(dos 14 aos 18 ou aos 21 anos).
Em suma, segundo o referido Código, em se tratando de menores de 9 a 14
anos, que /obrarem sem discernimento, /a /irresponsabilidade /é plena;
quanto àqueles, da mesma idade, que /obrarem com discernimento, /a
/irresponsabilidade /é semiplena, e por isso determinava o Código fossem
recolhidos a estabelecimentos industriais, disciplinares, pelo tempo que
o juiz determinasse, contanto que dito recolhimento não excedesse a
idade de 17 anos /(Código Penal da República dos Estados Unidos do
Brasil, /3a ed., p. 34).
Por seu turno, a Consolidação das Leis Penais (Decreto n° 22.213, de
14.12.1933), que vigorou até a entrada em vigor do Código Penal de 1940,
dispôs em seu art. 27 que não são criminosos, dentre outros, os menores
de 14 anos (§ 1°), enquanto o art. 30, do mesmo diploma punitivo,
estabeleceu que "os menores de 18 anos, abandonados e delinqüentes,
ficam submetidos ao regime estabelecido pelo Decreto n° l7.943-A, de
12.10.1927" (Código de Menores). .
Versando sobre a matéria, escreveu Francisco Pereira de Bulhões
Carvalho, que em relação aos menores infratores da lei penal de 14 a 18
anos, o Código de Menores, de 1927, determinou "um verdadeiro sistema
penal próprio, isto é, aplicação de sanção penal relativamente
indeterminada, correspondente à prática do delito e a ser cumprida em
reformatório ou estabelecimento anexo a penitenciária de adulto"
/(Direito do Menor, /p. 34).
O fato é que a fixação da idade, para efeito de responsabilidade penal,
varia de acordo com os Código Penais dos diversos países, atendendo
naturalmente a critérios relacionados às tradições jurídicas, condições
sociais, situação econômica e outros, variando a idade de 14 a 21 anos,
como veremos oportunamente.
Por sua vez, o legislador de 1940 não cuidou da maior ou menor
precocidade psíquica dos menores de dezoito anos: "declarou-os por
presunção absoluta, desprovidos das condições da responsabilidade
penal, isto é, o entendimento ético-jurídico e a faculdade de auto
governo" (cf. Nélson Hungria, /Comentários ao Código Penal, /art. 23,
vol. *I, *tomo 2°, 1955).
Em outras palavras, em virtude de mera presunção legal, de natureza
biopsicológica, os menores de dezoito anos são considerados /imaturos,
/situação essa que basta, por si só, irrestritamente, sem qualquer
indagação psicológica, para excluir a responsabilidade penal,
deixando-os "fora do Direito Penal (00')' sujeitos apenas à /pedagogia
corretiva /de legislação especial" (cf. /Exposição de Motivos /ao
Código Penal de 1940, n° 19, /infine)./
Por seu turno, a Lei n° 7.209, de 11.07.1984, que alterou dispositivos
do Código Penal de 1940, manteve o mesmo critério sobre a
inimputabilidade penal dos menores de dezoito anos (art. 27 da Parte
Geral).
Em outras palavras, não foram levados em conta os fundamentos de ordem
psicológica, concementes ao discernimento e inteligência, para efeito da
fixação da idade para a responsabilidade penal, como veremos adiante.
/ /
/Discernimento e inteligência em função da idade do ser humano/
/ /
Como seres humanos, embora com tenra idade, as crianças são também
suscetíveis de degenerescência, seja por fatores ou causas
hereditárias, genéticas, biológicas, sociais, econômicas, psicológicas,
familiares, que podem exercer influência maléfica sobre aquelas, a ponto
de transformá-Ias em verdadeiros monstros, entes perversos,
insensíveis, cruéis, torpes, assassinos, sangüinários.
Daí a expressão /criança-monstro, /cujos casos concretos são conhecidos
desde a Antigüidade, constituindo objeto de estudos psiquiátricos (cr.
Philip Solomon e Vemon D. Patch, /Manual de Psiquiatria, /ps.530 e
segs.; Arthur Ramos, /A Criança Problema, /ps. 31 e segs.).
Seja como for, o tema em apreço relaciona-se à problemática de natureza
psicológica, concemente ao discemimento e inteligência, que devem servir
de fundamento para a fixação da idade de responsabilidade penal.
Em síntese, discernimento é a faculdade que tem o indivíduo de
distinguir perfeitamente os atos que pratica, assim como calcular os
seus efeitos.
Por sua vez, J. Alves Garcia assim conceitua a inteligência:
"Chamamos inteligência ao conjunto constituído por todos os dons,
talentos ou instrumentos que nos permitem adaptar às circunstâncias e
desencumbir das tarefas que nos propõe a existência.
Enquanto o desenvolvimento do corpo se opera até aos 20 ou mais anos, o
da inteligênCia detém-se aos 15 anos, ou mais geralmente nos 13 'ij
anos, após o que crescem a experiência e a educação, somente"
/(Psicopatologia Forense, /ps. 91 e segs.).
Concluindo, a problemática em apreço está intimamente relacionada ao
fator decisivo à afirmação individual, ou seja, o quociente da
inteligência (QI) focalizado noutra parte da presente obra.
Agora, a problemática da inteligência interessa como fundamento e
critério para a fixação da idade, para efeito de responsabilidade penal
do indivíduo, como veremos adiante.
Cabe lembrar ainda que, de acordo com os estudos sobre o assunto, o
menor ou maior quociente de inteligência, assim como o fenômeno do
indi-" víduo superdotado não resultam da hereditariedade, constituindo
sim características individuais, da mesma forma, por exemplo, como os
dotes vocais, a bela voz, o talento artístico.
/Direito Comparado acerca da fixação da idade para efeito de
responsabilidade civil/
/ /
De acordo com os dados coligidos por César Barros Leal, a idade fixada
para efeito de responsabilidade penal, nos diversos países, dentre
outros selecionados, é a seguinte: Haiti - 14 anos; Índia, Paquistão,
Honduras, EI Salvador, Iraque-15 anos; Birmânia, Filipinas, Ceilão,
Hong-Rong, Bélgica, Nicarágua, Israel- 16 anos; Malásia, Polônia,
Grécia, Costa Rica - 17 anos; Brasil, Tailândia, Áustria, Luxemburgo,
Dinamarca, Finlândia, França, Suíça, Iugoslávia, Peru, Uruguai, Turquia
- 18 anos; EUA - há variação de critérios nos diversos Estados-Membros
da Federação, entre 16,17,18,19 e 21 anos (ob. e loco cits.).
Percentualmente, a variação de idade, nos diferentes países, é a
seguinte: 14 anos (0,5%),15 anos (8,0%),16 anos (13,0%),17 anos
(19,0%), 18 anos (55,0%), 19 anos (0,5%) e 21 anos (4,0%).
/ /
/Fundamento psicológico para afixação da idade, para efeito de
responsabilidade penal, aos quatorze anos/
/ /
Como vimos anteriormente, de acordo com Nélson Hungria, nosso legislador
não "cuidou da maior ou menor precocidade psíquica" dos menores de
dezoito anos, simplesmente "declarou-os por presunção absoluta,
desprovidos das condições da responsabilidade penal, isto é, o
entendimento ético-jurídico e a faculdade de auto governo"
/(Comentários ao Código Penal, /art. 23, voI. 2°, 1955).
Acontece que, de acordo com os estudos e as conclusões da Psicologia, o
desenvolvimento da inteligência no indivíduo se desenrola até aos 15
anos, ou mais geralmente aos 13 Y2 anos, após o que conta somente o
crescimento da experiência e da educação (cf. J. Alves Garcia,
/Psicopatologia Forense, /ps. 91 e 93).
Quer dizer, aos 15 anos o indivíduo já se encontra com suficientes
discernimento e inteligência para se desencumbir das tarefas lhe propõe
a existência, inclusive o entendimento ético-jurídico, a faculdade de
autogoverno, enfim a capacidade para entendimento acerca dos atos
ilícitos penais.
Em face das considerações acima expostas e da realidade brasileira,
toma-se imperiosa a reflexão acerca da fixação da idade em quatorze
anos, para efeito de responsabilidade penal, como ressaltamos na
Indicação n° 187/1995, oferecida ao Instituto dos Advogados Brasileiros.
Isso se justifica em face da incontrolável violência, por parte dos
menores de 15 anos no Brasil, e dos elevados indices de infrações penais
por eles praticadas; por outro lado, os mesmos competem ombro a ombro,
em matéria de ferocidade, com os delinqüentes adultos, no que diz
respeito aos sangrentos motins e rebeliões, ocorridos nos
estabelecimentos correcionais, conforme o noticiário divulgado pelos
meios de comunicação social, freqüentemente, resultando daí várias
mortes.
* *
*CRIMINALIDADE FEMININA E MASCULINA*
* *
/Da criminalidade sexual. Erotização ou sexismo. Contágio venéreo/
/ /
Considera-se criminalidade sexual o conjunto de ações anti-sociais,
praticadas para satisfazer o impulso erótico ou as tendências
libidinosas do indivíduo. .
A propósito, observa Nélson Hungria:
"A disciplina jurídica de satisfação da /libido /ou apetite sexual, re
clama, como condição precípua, a faculdade de livre escolha ou livre
consentimento nas relações sexuais" /(Comentários ao Código Penal, /voI.
VIII, p. 111).
Desse modo, do ponto de vista jurídico-penal, considera-se /liberdade
sexual /"a liberdade de disposição do próprio corpo no tocante aos fins
sexuais", cuja violação consiste em /vencer, /mediante /violência
/(fisica ou moral)"ou /iludir, /mediante fraude, a oposição da vítima
/(idem, ibidem)./
Daí as diversas modalidades delituosas dessa espécie, COITO prevê o
Código Penal, sob o título de crimes contra os costumes, a saber: crimes
contra a liberdade sexual; sedução e corrupção de menores; rapto;
lenocínio e tráfico de mulheres; ultraje público ao pudor (arts. 213 e
segs.), como lembramos alhures /(Sexologia Forense, /ps. 144 e segs.).
Cabe ressaltar a influência deletéria, exercida sobretudo pela
televisão, quanto à exaltação da erotização, ou seja, o chamado
sexismo, como fator criminógeno, como lembramos alhures /(Comentários à
Constituição da República Federativa do Brasil, /lIa edição).
Por outro lado, sob o título de periclitação da vida e da saúde prevê o
art. 130 do Código Penal a figura delituosa consistente em /perigo de
contágio venéreo, /ou seja, as denominadas Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST).
A propósito, a Corte de Justiça de Los Angeles condenou o espólio do
ator Rock Hudson, ao pagamento da importância de US$ 14,5 milhões de
dólares (NCz$ 14,5 milhões), em favor do ex-amante dele, Marc Christian,
com quem conviveu durante cerca de dois anos, a partir de 1982. Em 1984,
o relacionamento entre eles começou a deteriorar-se porque Marc revelou
ao seu amante, que se prostituíra com outro indivíduo. Diante da
iminência de um rompimento, o amante de Hudson ameaçou revelar
publicamente o homossexualismo do galã, arruinando assim sua máscula
reputação, construí da ao longo de muitos beijos, trocados com mocinhas,
nas telas dos cinemas.
Os membros do júri daquela Corte norte-americana entenderam que Marc
Christian "sofreu um choque emocional", porque, até pouco antes da morte
de Hudson (1985), ignorava ser este portador de AIDS, sujeitando-o,
assim, ao perigo de contágio (O /Globo, /17.02.1989).
Por outro lado, em 1987, na Califómia (EUA), o cidadão Joseph Markowski
foi denunciado, por tentativa de homicídio, por ter doado sangue,
mediante pagamento, sendo portador de AIDS, além do fato de manter
relações sexuais com cinco pessoas. Surgiu então a polêmica, acerca da
violação do princípio da reserva legal, visto que não há lei penal
específica sobre a matéria, em que se pudesse amparar tal imputação
penal /(Fantásti/ co,19.07.l987).
/Quid juris, /em face dos princípios jurídicos brasileiros?
Versando sobre o ressarcimento, José de Aguiar Dias não deixa dúvida
acerca do caráter ilícito e do dever de indenizar, no caso de
transmissão de doença venérea, em face dos princípios que regem o
ordenamento jurídico pátrio, nessa esfera /(Da Responsabilidade Civil,
/voI. lI, p. 445).
Recorrendo-se à opinião de Nélson Hungria, verifica-se que nosso Código
Penal de 1940 não previu "a hipótese de superveniência da morte da
vítima, conseqüente ao efetivo contágio. Como resolver tal hipótese? Se
o agente procedeu com dolo de perigo ou dolo de dano, o fato ser-lhe-á
imputado a título de "lesão corporal seguida de morte" ou "homicídio
preterintencional" (art. 129, § 1°). Se o /antecedente, /porém, era
simplesmente culposo, responderá por /homicídio culposo /(art. 121, §
3°)" /(Comentários ao Código Penal, /voI. V, p. 396).
Até que ponto a falta de condições higiênicas essenciais, a
promiscuidade sexual, debilitamento orgânico, estresse e outros
aspectos, são responsáveis pelos elevados índices de incidência da
AIDS, nos diversos países?
Segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde, a China, por
exemplo, com mais de um bilhão de habitantes, não registrava casos de
AIDS, salvo os de 13 estrangeiros, lá residentes, que se encontravam
então sob tratamento, hospitalizados /(Jornal do Brasil, /02.03.1988).
/ /
/A criminalidade passional. Sadismo. Masoquismo. Sadomasoquismo/
/ /
Do latim /passionalis, /de /passis /(paixão), passional é o vocábulo
empregado na terminologia jurídica, especialmente no Direito Penal para
designar o que se faz por uma exaltação ou irreflexão, ciúmes ou amor
ofendido, desencadeando emoções, violências, como ressaltamos alhures
/(Sexologia Forense, /ps. 175 e segs.).
Para Aftânio Peixoto, paixão é a "emoção crônica", em tempo, por
prolongada, e aguda em manifestação, por violenta".
Segundo Nélson Hungria, emoção é um estado de ânimo ou de consciência
caracterizado por um viva excitação do sentimento. É uma forte e
transitória perturbação da afetividade, a que estão ligadas certas
variações somáticas ou modificações particulares das funções da vida
orgânica (pulsar precipite do coração, alterações térmicas, aumento da
irrigação cerebral, aceleração do ritmo respiratório, alterações
vasomotoras, intensa palidez ou intenso rubor, tremores, fenômenos
musculares, alteração das secreções, suor, lágrimas e outras
manifestações.
Há certa diferença entre emoção e paixão, embora esta seja originária
daquela. Kant dizia que a emoção é como "uma torrente que rompe o dique
da continência", enquanto a paixão é o "charco que cava o próprio leito,
infiltrando-se, paulatinamente, no solo".
Conclui Hungria: "Pode dizer-se que a paixão é a emoção que protrai no
tempo, incubando-se, introvertendo-se, criando um estado contínuo e
duradouro de perturbação afetiva em torno de uma /idéia fixa, /de um
pensamento obsidente. A emoção dá e passa; a paixão permanece,
alimentando-se de si própria" /(Comentários ao Código Penal, /voI. I,
Tom. 2°, ps. 360 a 363).
O Código Penal de 1940 não transigiu, no terreno da responsabilidade
penal, com os /emotivos /ou /passionais, /que não exorbitam da
Psicologia normal.
Ao contrário, o Código Penal de 1890 ensejou escandalosas absolvições,
sobretudo no âmbito do Tribunal do Júri, em face da norma estabelecida
no art. 27, que consideravam não ser criminosos: "Os que se acharem em
estado de completa privação de sentidos e de inteligência no ato de
cometer o crime", como lembramos alhures /(Comentários ao Código Penal,
/ps. 125 e segs.).
Para Léon Rabinowicz, há um aspecto do amor sexual que é bastante
característico: o ódio que o acompanha. "Entre os dois amorosos só
existe a carne: nenhuma ternura, nenhum sentimento os retém, além do
prazer carnal; por isso, entre dois momentos de desejo, o ódio
mistura-se com a volúpia".
Em suma, o crime passional culmina com a paixão homicida, enquanto
o
suicídio é um sucedâneo do crime passional (O /Crime Passional, /ps.
60,95 e 142).
O interesse que a humanidade sente pelo homicídio, escreve Hans
von
Hentig, reside no fato de que o matar ou ser morto fere suas fibras mais
íntimas.
Embora, muitas vezes, sejam ignorados os motivos dos homicídios, a
Estatística Criminal tem que limitar-se a uma casuística desses motivos,
assim agrupados: por lucros; para encobrir outras ações ou crime; por
conflito; de natureza sexual.
O chamado homicídio sádico, por exemplo, comporta numerosas variantes,
envolvendo ódio, mistério, sangue, erotismo, crueldade e
homossexualismo. Certo médico introduziu na vagina e no reto de sua
amante, "vaselina, goma e estrofantina, sendo que esta queima".
Desesperada, a vítima procurou uma clínica, onde foi atendida, cujo
clínico de plantão diagnosticou apenas: "forte estado de excitação".
Pouco depois, falecia a vítima /(Estudos de Psicologia Criminal, /voI.
lI, ps. 9 e segs.).
Nesse contexto se inserem sadismo (preversão sexual em que a satisfação
erótica advém da prática de atos de violência ou crueldade), o
masoquismo (preversão sexual em que a pessoa só tem prazer ao ser
maltratada física e moralmente) e o sadomasoquismo (preversão sexual que
consiste na conjugação do sadismo e do masoquismo), podendo em
consqüência resultar lesões corporais ou morte, temas esses que
abordamos noutro trabalho /(Sexologia Forense, /ps. 140 e segs.).
/A criminalidade passional em face da eloqüência forense/
/ /
Os arquivos judiciários, nos diferentes países, estão repletos de casos,
relacionados à violência sexual, crime passional, duplo suicídio,
homicídio seguido de suicídio frustrado, e outros, envoltos em
sensacionalismo, que lograram escandalosas absolvições, nos Tribunais do
Júri, daí afinnar-se que um dos vícios da instituição do júri resulta da
influência da oratório sobre os jurados, quer dizer, os jurados decidem
segundo a eloqüência, fantasia e astúcia dos defensores, como lembramos
alhures /(Curso de Direito Processual Penal, /ps. 315 e 316).
Por sua vez, Enrique Ferri, que foi um gigante da oratória forense,
obteve retumbantes vitórias nos Tribunais do Júri, em memoráveis
defesas penais, obras-primas de literatura jurídica, em que o romanesco
se confunde com as construções legais, do maior rigor científico.
A defesa, por exemplo, de Carlos Cienfuegos, assassino da condessa
Hamilton, mereceu o título de /Amor e Morte, /uma apaixonante leitura,
para os que se encantam com as obras de espírito.
À certa altura, desse belo texto literário, assim se expressa o autor:
"Estamos perante um caso de homicídio, seguido de suicídio frustrado, em
seguida ao amplexo de amor, depois da febre e do frenesi que produzem,
no momento fugitivo da volúpia, o esquecimento da dor que atormenta, do
destino inelutável".
E adiante: "Por amor se bate na pessoa amada, e até, por vezes, esta
gosta de ser batida. Mas pessoas menos cultas como regra geral, nas
pessoas intelectualmente mais elevadas como fenômeno ocasional e
patológico - o amor, em vez de diminuir, aumenta com as sevícias e os
maus-tratos, e assim, as misérias do masoquismo levam às violências do
sadismo, que são as doenças do amor e a sua gangrena."
Prossegue:
"O amor nasceu com a violência. Nas florestas da humanidade
primitiva, o macho impunha-se, violentamente, à fêmea esquiva e
possuía-a pela força. E só a lenta e tormentosa elevação moral, de
geração para geração, do Oriente místico até a Grécia bela, até a
poderosa Roma, conseguiu purificar e imprimir uma certa delicadeza ao
sentimento do amor, no qual, porém, palpita sempre, bem viva, a
recordação nostálgica da violência primitiva" /(Discursos de Defesa,
/ps. 12 e 22).
Sob a ótica fascinante da arte, do canto e da literatura, escreve Ferri:
/ "A Cavalheira Rusticana /passou do fraco êxito do conto aos
triunfos
dum drama onde se sucedem rapidamente, em cenas emocionantes, o
abandono da amorosa, o adultério, o duelo de morte, onde um marido
vinga a sua honra e um amante paga com a vida a vileza do abandono e a
sua boa sorte, onde enfim, os principais personagens são criminosos
passionais.
E o triunfo toma-se uma apoteose universal da arte italiana quando
Mascagni empresta a essas paixões, mas ou menos criminosas, a mágica
beleza da sua música nervosa é inspirada" /(Os Criminosos na Arte e na
Literatura, /p. 86).
/ /
/A prostituição masculina /e /feminina como fator criminógeno/
/ /
o panorama legal, nos dias atuais, com relação à prostituição
femini
na revela o seguinte quadro, nos diferentes países capitalistas:
a) proibicionismo: a prostituição era considerada um delito na
extinta
URSS, países do leste europeu, EUA, países escandinavos);
b) abolicionismo: não há qualquer restrição à atividade
prostitucional
(Brasil, Itália, Índia, Japão);
c) regulamentarismo: as prostitutas devem ser inscritas, submetidas com
maior ou menor rigor a medidas condicionantes de sua atividade
(Tailândia, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Venezuela, Peru,
Uruguai).
Segundo o testemunho de Jean-Gabriel Mancini, há tanta prostituição nos
países que a proíbem quanto nos que a permitem.
O fato é que, para certas mulheres, dificilmente outra atividade
além da prostitucional-lhes renderia tantos ganhos, como o declarou uma
delas, perante um magistrado francês, que a processava criminalmente
(Waldir de Abreu - O /Submundo da Prostituição, Vadiagem,
Jogo-da-Bicho, /ps. 17 a 38).
A prostituição masculina, nos diversos países capitalistas, grassa
largamente, tanto para satisfazer à lascívia feminina como masculina,
de homossexuais ativos e passivos; nos EUA, por exemplo, são impressos
catálogos, com endereço, telefone e demais indicações, acerca da
prostituição masculina, constituindo um rendoso negócio.
Antes do desmoronamento ou desmascaramento do denominado socialismo
real na extinta URSS, as autoridades soviéticas alegavam que o
incremento do turismo de estrangeiros havia provocado o aparecimento da
prostituição naquele país, versão essa desacreditada, após estudos e
pesquisas divulgados a respeito.
A prostituição, como fator criminógeno, pode decorrer ou conduzir ao
vício por drogas, alcoolismo, chantagens, assaltos, escândalo,
adultério, estando intimamente ligada ao crime organizado.
Tanto a prostituta, ou prostituto, como o cliente podem ser infectados
por doenças venéreas, mas estas estão atualmente mais difundidas pelo
amor livre, homossexualismo e adultério do que pela própria
prostituição (Philip Solomon e Vernon D. Path - /Manual de Psiquiatria,
/ps. 301 e 302).
A matéria comporta vários enfoques, como lembramos noutro trabalho
/(Direito Penal /- O /Crime /- O /Processo /- /As Penas, /ps. 109 e
segs.).
/ /
/Efeitos do propalado liberacionismo sexual/
/ /
Segundo Wilhelm Reich, na URSS, após a Revolução Socialista (1917), a
legislação soviética simplesmente riscou a velha cláusula tzarista sobre
o homossexualismo, que castigava a atividade homossexual, com pesadas
penas de privação de liberdade.
Com esse ato, o governo soviético deu um largo passo no sentido da
liberalização do movimento sexual-político, em relação à Europa
ocidental e América, partindo do princípio segundo o qual a
homossexualidade, quer seja concebida como inata, quer como resultado
duma inibição do desenvolvimento psicossomático, é uma atividade que
não prejudica a ninguém.
Tais concepções geraram certa tolerância em relação às práticas
homossexuais, de tal forma que estas se propagaram em diversas camadas
sociais, na juventude, no seio das Forças Armadas, inclusive no meio
operário. .
Por volta de 1925, no Turquestão, foi criada uma cláusula adicional ao
Código Penal da extinta União Soviética, que já previa penalidades
pesadas para os homossexuais. Surgiram espionagens e delações, desprezo
por parte dos comitês do Partido Comunista inclusive expurgos.
Em 1934, foi publicado um diploma legal assinado por Kalinin,
declarando que as relações sexuais entre homens eram consideradas como
"crime social", com penas de cinco a oito anos.
Entrementes, na Alemanha praticava-se em larga escala o
homossexualismo, envolvendo figuras de proa do nazismo; até Hitler caiu
sob suspeita de práticas homossexuais.
A imprensa soviética encetou então vigorosa campanha contra a
homossexualidade, considerando-a "um fenômeno de desnaturação da
burguesia fascista", segundo o lema: "Exterminai os homossexuais e o
fascismo desaparecerá".
Por sua vez, Wilhelm Reich formula interessante concepção acerca do que
denominou de "economia sexual", ou seja, aquilo que diz respeito à
maneira de regulação da energia sexual, isto é, a economia das energias
sexuais do indivíduo, a maneira pela qual o ser humano manobra a sua
energia biológica, quanta energia ele represa e quanta ele descarrega
organasticamente. Os fatores que influem nessa regulação são de natureza
sociológica, psicológica e biológica, que devem ser objeto de estudo e
sistematização científica, em relação às práticas e manifestações
humanas /(A Revolução Sexual, /ps. 245a315).
A propósito, a República Popular da China, nos dias atuais, com uma
população de cerca de 1 bilhão de habitantes, obrigada que foi a
estabelecer um rigoroso controle populacional, está enfrentando sérios
problemas de ordem sexual, ocorrendo ali numerosos casos de violência
dessa natureza, e estupros, com severas punições.
/ /
/A criminalidade feminina. Aspectos psicossomáticos de natureza
darwinística. A mulher como instrumento de troca. /O /cérebro feminino/
/ /
A questão da criminalidade feminina tem suscitado uma série de debates,
em tomo dos quais aparecem curiosos aspectos de natureza histórica,
romântica, preconceituosa, discriminatória, sentimental, psicológica,
fantasiosa que precisam ser examinados, sob o ângulo cientifico, para
que daí se tirem conclusões práticas sobre o tema.
Nessa linha de raciocínio, a Psicologia desenvolve esforços no sentido
da distinguir aspectos peculiares, relativos à conduta delituosa
masculina e feminina.
Num trabalho notável, polêmico, com profundo teor científico, publicado
no Brasil, em 1894, pela Imprensa da Casa da Moeda, sob.os auspícios do
Governo da República, lembra Tito Lívio de Castro que os primeiros
seres humanos - homem e mulher - apareceram como os outros animais em
geral, isto é, feras; à medida que se desenvolveu a inteligência humana,
a par de outros fatores, passou a haver predomínio masculino, sobretudo
devido à força física deste.
Por outro lado, o tipo de atividade, os exercícios físicos, a luta pela
sobrevivência e outros aspectos fizeram com que o tipo masculino
passasse por mais variadas transformações e adaptações cerebrais que o
feminino.
Daí, sustenta, "a maior evolução cerebral é um caráter perfeitamente
distintivo em relação ao sexo; caracteriza quase tanto o sexo masculino,
como as glândulas mamárias o sexo feminino".
Em outras palavras, o autor parte do princípio segundo o qual, com base
em numerosas observações, o volume do crânio feminino é inferior ao
masculino.
Salienta ainda que a mulher, pelo seu todo orgânico, se aproxima
mais da criança do que do homem, porquanto ela é menos cérebro do que
este.
Histórica, política, econômica e sociologicamente, isso se deve,
principalmente, ao fato de que as tarefas executadas pela mulher, o seu
esforço pela sobrevivência, a sua participação na vida comunitária
enfim, a sua ati vidade cerebral e a sua própria alimentação foram
inferiores, em quantidade e qualidade, em relação ao homem.
Lembra que, segundo a crença popular, a mulher é mais coração do que
cérebro; isso, porém, é equívoco, pois o músculo cardíaco não se
contrai mais rapidamente e de modo mais enérgico; não é maior, não é
mais ativo, não se altera mais por excesso dinâmico na mulher do que no
homem.
Todos os órgãos do corpo humano estão em relação íntima com o cérebro,
por meio de seus filetes de comunicação nervosa; domina, assim, o
princípio da simpatia no organismo, não havendo antipatias, sendo o
cérebro o órgão da cenestesia, e, portanto, da personalidade.
Conclui então que o homem é cerebral, a criança e a mulher são
medulares, pois o homem possui mais cérebro, enquanto a mulher e a
criança possuem mais medula espinhal (parte do sistema nervoso central
(parte do sistema nervoso central contida na coluna vertebral).
Nesse contexto, o tipo de desenvolvimento social, de civilização, as
relações de produção e os costumes fizeram da mulher um instrumento de
troca, um ser semelhante ao escravo, podendo ser praticado o homicídio
contra ela, impunemente, dentre alguns povos.
Ela podia ser emprestada a um amigo, aliado ou estrangeiro; em alguns
casos, onde se praticava a antropofagia (como no Egito antigo), ela
servia de alimento.
Dentre alguns povos, o cavalo e o cão tinham maior valor que a mulher.
Entre outros, que admitiam a poligamia, o adultério da mulher era
considerado um roubo, porque ela era propriedade do marido.
Durante a longa evolução humana, a mulher não foi mais do que objeto do
homem, em função das concepções políticas, econômicas, filosóficas,
jurídicas, religiosas e demais instituições dominantes.
A organização familiar, patriarcal, se resumia à noção de "grupo de
escravos de um mesmo senhor ou co-escravidão", e não "simpatias de
consangüinidade", como atualmente.
Em resumo, a mulher pouco precisou do cérebro, pouco serviu-se dele, por
isso não se desenvolveu cerebralmente. A biologia nos ensina o mecanismo
das atrofias por inanição.
Daí resulta que a mulher tem um cérebro e uma psique infantil, /porque
e só porque /foi submetida a uma existência que, pelas próprias
contingências, buscou esse resultado.
A instituição da escravidão e da família não são apenas análogas, e sim
idênticas, provindo do direito de conquista, sendo o escravo e a mulher
submetidos, como parte venci da e mais fraca, ao jugo do mais forte.
Assim, o cérebro da mulher não foi criado "para" ser o que tem sido e
somente isso. Podemos dizer que a sua organização cerebral está de
acordo com o tipo de civilização existente, as necessidades e aspirações
femininas verificadas até agora, com ilimitadas possibilidades de
transformação, conclui Tito Lívio de Castro /(A Mulher e a Sociogenia)./
Como se vê, trata-se duma visão acerca da mulher, afinada com os
fundamentos do darwinismo social.
/A publicidade enganosa sobre a mulher na sociedade capitalista.
Peculiaridades somáticas: menstruação e puerpério/
/ /
Nos dias atuais, sob pretextos estéticos, a publicidade capitalista
continua insistindo na recomendação, acerca de regimes alimentares
especiais para as mulheres, objetivando a pouca ingestão de alimentos,
para que assim elas mantenham a esbelteza, cintura fina, porte esguio,
daí resultando a languidez, pouca resistência fisica, desinteresse pelos
exercícios, como ocorre há milênios, embora sob outra motivação.
Podemos concluir que o tipo de organização social ainda existente
sob o capitalismo -, de predomínio masculino, centrado nas diversas
esferas do poder, isto é, do ponto de vista econômico, jurídico,
cultural, ideológico, com arraigadas tradições de ascendência masculina,
não quer a evolução mental da mulher, por vários motivos, dentre eles, o
mais forte: porque o estado atual da mulher é o mais conveniente ao
regime vigorante, às concepções econômicas, políticas, jurídicas,
religiosas, filosóficas e assim por diante, que mantêm os privilégios de
classe e o elitismo dominantes. Daí por que se procura confundir e
sabotar o movimento pela emancipação da mulher, apresentando-o como algo
ridículo, fútil, como se fosse uma iniciativa de lésbicas (embora possa
haver segmentos desse movimento, com essas tendências), algo semelhante
aos propósitos e manifestações dos homossexuais, com os seus desfiles e
demonstrações escandalosos.
Seja como for, a ilusória luta pela conquista do socialismo abriu novas
e amplas perspectivas para o movimento feminino e a emancipação da
mulher.
Na verdade, a emancipação da mulher só se toma possível quando ela pode
participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o
trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante. Esta
condição só pode ser alcançada com a grande indústria moderna, que não
apenas permite o trabalho da mulher em grande escala, mas até o exige,
e tende cada vez mais a transformar o trabalho doméstico privado em uma
indústria pú blica (através não só das grandes empresas industriais mas
também da organização de creches, restaurantes, lavanderias, indústrias
alimentícias).
Desse modo, a luta pela sobrevivência e o crescente desenvolvimento
capitalista impeliram a mulher à participação direta na produção social,
através da grande indústria mecanizada, que acelerou o processo de
ascensão e independência das operárias, ampliando-Ihes as perspectivas
e criando novas condições de existência, infinitamente superiores ao
confinamento patriarcal e artesanal, pré-capitalista (Lênin - O
/Socialismo e a Emancipação da Mulher, /Rio, 1956).
Por outro lado, como observa Alexandra Kollontai, a monogamia, o amor
livre, as uniões temporárias e a própria liberdade opcional de ser mãe
solteira, sem que isso seja necessário unir-se ao homem pelo casamento,
são formas de existência que coexistirão no futuro, pois, afinal, a
mulher passou a ver no prazer, na variação sexual descomprometida, como
o homem, a maneira válida e espontânea de se satisfazer; o mais deve
constituir-se de trabalho e êxito profissional. De resto, o amor e o
prazer sexual não são tudo na vida /(A Nova Mulher e a Moral Sexual,
/ps. 69 e segs.).
São curiosos, no entanto, certos aspectos legais, com relação ao
comportamento psicossomático feminino.
O Código Penal cubano, por exemplo, prevê a hipótese de que a
menstruação possa representar um fator de agressividade feminina, nos
crimes contra a pessoa, constituindo assim uma atenuante da pena.
Por outro lado, o estado puerperal, segundo o Código Penal brasileiro,
de 1940, /pode /determinar a alteração do psiquismo da mulher normal,
ensejando situações, teoricamente consideradas como "transitória
conturbação da consciência", ou "loucura emotiva", cabendo ao juiz
invocar o parecer dos peritos-médicos, a fim de que estes informem se a
infanticida, ainda que isenta de taras psicopáticas, francas ou
latentes, teve a contribuir para o seu ato criminoso as desordens
fisicas e psíquicas derivadas do parto (Nélson Hungria - /Comentários ao
Código Penal, /art. 123, vol. V, ps. 233 e segs.).
/ /
/ /
/Dados comparativos acerca dos índices de criminalidade feminina/
/ /
De acordo com dados coligidos por Israel Drapkin Senderey, os índices
de criminalidade feminina aumentam à medida que aumenta a participação
da mulher na vida social, política e econômica do país em que vive.
Assim, comparativamente, são os seguintes os percentuais de
criminalidade feminina, entre países selecionados:
Argélia 4% Itália 9% Bélgica 13% Alemanha 15% França 17% Inglaterra 24%
Segundo o mesmo autor, tem-se utilizado o critério estatístico para
estudar a influência do sexo na crimina1idade, critério esse que não é
aceito unanimemente pelos especialistas do assunto, pois a Estatística
serve para demonstrar que cada qual tem razão, dependendo do ângulo de
observação.
De acordo com o critério estatístico, existe um axioma no sentido de que
a criminalidade feminina é extraordinariamente menor do que a do homem.
As estatísticas nos revelam que a sexta parte dos crimes cometidos, o
são pelas mulheres e o resto pelos homens, o que é muito relativo.
Conclui o referido autor: "Isto ocorre com a crimina1idade em geral, não
obstante, se começarmos a observar particularmente os diversos delitos,
veremos que esta apreciação varia fundamentalmente, pois a delinqüência
feminina irá aumentando até chegar ao delito especificamente próprio da
mulher, como no infanticídio, o aborto, o 'furto caseiro' etc." /(Manual
de Criminologia, /ps. 159 e 161).
Afirma-se que larga faixa de delitos praticados pela mulher permanece
nas chamadas /cifras negras, /isto é, escapam à percepção penal, quer
pelas dificuldades de reunir provas, quer para se evitar o escândalo.
Nos prostíbulos dos EUA, por exemplo, se furta grande quantidade de
dinheiro, sem que se leve o fato ao conhecimento da polícia, salvo
casos excepcionais (Hans von Hentig - /Estudios de Psicología Criminal,
/*I, */Hurto /- /Robo com fuerza en Ias cosas /- /Robo com violencia /o
/intimidación, /p. 40).
Muitos furtos e roubos se desenrolam através da provocação de cenas e
escândalos, desmaios, rixas para desviar a atenção dos presentes e
possibilitar a prática criminosa.
Há também freqüentes enredos amorosos, familiares, matrimoniais, cenas
de escândalos, adultérios forjados, cartas comprometedoras, que
propiciam lucrativas chantagens (ob. cit., voI. m, p. 23).
Certos momentos, atos e cerimônias constituem verdadeiros convites ou
estímulos aos ladrões, como, por exemplo, a coroação da rainha da
Inglaterra, em 1953, que reuniu em Londres a aristocracia britânica, com
suas requintadas jóias, para esplendor da solenidade (ob. cit., voI. *I,
*p. 65).
9.8. /A mulher e a criminalidade passional/
/ /
Freqüentemente, nos crimes passionais, o assassinato se mescla com o
sadomasoquismo. Há casos de cônjuges, marido ou mulher, ou de amantes,
que logo após liquidarem o seu par, muitas vezes de maneira brutal,
recebem de imediato cartas com temas declarações amorosas e propostas
matrimoniais, de missivistas desconhecidos, demonstrando com isso
sensibilidade e admiração, pelo autor ou autora de homicídio (Hans Von
Hentig, ob. cit., voI. *lI, *ps. 9 e segs.).
Segundo León Rabinowicz, a mulher traída nem sempre se vinga sobre o
marido ou sobre a sua cúmplice. Com freqüência perdoa, por vezes
suicida-se de desespero, quando se vê abandonada para sempre, mas
quando toma a decisão de se vingar, a sua vingança é atroz. É um traço
característico da psicologia da mulher. Exasperada, passa a ser um
monstro de ferocidade, que só respira vingança e só pensa em submeter a
sua vítima aos mais atrozes sofrimentos.
O mesmo autor, citando Paul Bourget, agrupa três tipos de mulheres que
se vingam: a envenenadora, que se vinga friamente, demoradamente; a
revolverizadora, felina, de nervos desarranjados (O /Crime Passional,
/ps. 134 a 151).
Como decorrência da atividade, é mundialmente conhecida a atuação das
chamadas "gateiras" (autores de furtos) ,nos hotéis, onde exercem as
funções de faxineiras, arrumadeiras, copeiras.
A prostituição feminina constitui um dos mais graves fatores
criminógenos, propiciando escândalos, fraudes, corrupção, ameaças,
furtos, roubos, agressões fisicas, morte, transmissão de moléstias
venéreas e outras práticas criminosas. Há países, como vimos, em que a
prostituição écrimlnalizada e penalmente reprimida; outros a liberam ou
regulamentam. Em qualquer caso, ela representa um elo com a
criminalidade.
Evidentemente, o quadro, com os seus diferentes aspectos, acima
descritos, não esgota a problemática em tomo da criminalidade feminina.
Tal quadro retrata apenas as contingências, isto é, as condições
adversas, os preconceitos, enfim, toda uma estrutura
sócio-político-econômica obscurantista, com a incidência de numerosos
fatores criminógenos, tipicamente característicos do capitalismo,
influenciando negativamente a conduta feminina, direcionando mesmo o
sentido de certas práticas delituosas, imputadas à mulher, ao fazê-Ia
crer, por exemplo, que a sua plástica, seus atributos fisicos são tudo,
ou quase isso, para a obtenção de sucesso na vida.
Naturalmente, sob uma nova ordem social, sem a influência negativa desse
conjunto de fatores, acima examinados, a conduta feminina terá outro
sentido a direção, pois até então, como afirmou Afrânio Peixoto, a
civilização fez da mulher máquina de prazer: a mulher vadia, a cavalo
de corrida, os gatos peludos e os cãezinhos de luxo; e, somente numa
sociedade onde todos trabalhem e sejam remunerados apenas /pelo /seu
trabalho, não haverá tempo a perder, nem riqueza a acumular, e assim:
"O homem amará a mulher, simplesmente, decentemente, sem luxo, sem
punhal, sem perversões, sem morfina, sem revólveres, sem adultérios, sem
profanações, sem crimes passionais. Será uma função da vida, como as
outras (...)" /(Criminologia, /p. 121).
/ /
/Enfoque histórico-sociológico acerca da criminalidade feminina/
/ /
Lembra Julita Lemgruber que, quando se discutem temas, acerca dos
índices de criminalidade, meios de combater a violência, situação
penitenciária:, as pessoas parecem visualizar antes o homem criminoso,
o homem preso, enquanto que a figura da mulher criminosa e da
presidiária não costuma preocupar tanto, ou sequer vir à baila, embora
a questão tenha a sua especificidade.
Nesse contexto, é significativo o fato de os dados relacionados à
distribuição de inquéritos policiais ou processos criminais, não
indicarem os protagonistas dos mesmos, isto é, se são homens ou mulheres.
Contudo, tomando-se o ano de 1976 como ponto de referência, observa-se
que na época havia no Rio de Janeiro 310 mulheres e 8.511 homens,
recolhidos nos diversos estabelecimentos prisionais do Sistema
Penitenciário, seja cumprindo pena ou aguardando julgamento, o que então
significava uma proporção de 3,5% mulheres e 96,5% homens para o total
de detentos.
Considerando-se, em termos totais, a distribuição da população
masculina e da feminina na época, verifica-se uma flagrante
discrepância, em matéria de percentuais sobre criminalidade, ou seja,
para uma população de 5.249.000 homens e 5.455.000 mulheres (isto é, 49%
homens e 51% mulheres), a proporção de 3,5% mulheres e 96,5% homens,
respectivamente, acima indicada, causa impressão ( /Criminalidade
Feminina, in /Rev. da OAB-RJ, Ano VI, voI. VIII, 1980, ps. 28 e segs.).
Para Lombroso, as mulheres seriam organicamente mais conservadoras do
que os homens, devido sobretudo à imobilidade do óvulo, comparada à
mobilidade do espermatozóide; mais passivas, tenderiam menos ao crime do
que os homens.
Por seu turno, Freud entendia que o crime feminino representa uma
rebelião contra o natural papel biológico da mulher e evidencia um
"complexo de masculinidade".
Entretanto, em 1950, Otto Pollack surge com uma nova idéia: a mulher é
tão criminosa quanto o homem; a diferença nas taxas de criminalidade
reflete, tão-somente, o fato de que os crimes cometidos por mulheres são
em geral menos detectáveis do que aqueles cometidos por homens.
Ademais, mesmo quando descobertos, os crimes femininos são menos
freqüentemente relatados às autoridades e, quando relatados, há menor
chance de que as mulheres sejam levadas a tribunais e consideradas
culpadas, não oferecendo, porém, o mencionado autor, dados estatísticos
confiáveis, para a comprovação de suas assertivas.
Estudos mais recentes, entretanto, trouxeram à baixa fatores
sócio-estruturais, com argumentos e dados plausíveis.
Em geral, sustenta-se que as mulheres cometem menos crimes porque o seu
estilo de vida apresenta-Ihes menos oportunidades para delinqüir: mais
afeitas às lides domésticas e menos expostas às pressões econômicas, já
que a responsabilidade pela obtenção de recursos necessários à
manutenção da família tende a recair mais sobre os homens, as mulheres
estão menos sujeitas ao crime. Além disso, verificou-se também que na
faixa de idade em que, hipoteticamente, as mulheres estariam ocupadas
com os cuidados de seus filhos menores, há menor incidência na prática
de delitos.
Nessa ordem de idéias, as análises das tendências verificadas nas taxas
de criminalidade nos últimos anos parecem indicar que, à medida que há
maior participação feminina na força de trabalho e maior igualdade
juridico-política entre os sexos, a participação da mulher nas
estatísticas criminais tende a crescer. Nos Estados Unidos, por
exemplo, entre 1960 e 1972, o número de detenções para mulheres aumentou
três vezes mais rapidamente do que para os homens. No Canadá, essas
detenções duplicaram, num período de nove anos. Na Índia, o número de
presidiárias quadruplicou entre 1962 e 1965. No Brasil, entre 1957 e
1971, as condenações de mulheres cresceram duas vezes mais rapidamente
do que as de homens, e, paralelamente, a participação da mulher
brasileira na população economicamente ativa passa de 14,7% em 1950,
para 17,9% em 1960, e finalmente, 21,0% em 1970 (Julita Lemgruber - ob.
e 10c. cits., ps. 30 e 31).
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[1] <#_ftnref1> Tratado de Derecho Penal, Buenos Aires, 1950, tomo I, p.
75.
[2] <#_ftnref2> Criminologia Integrada – Newton Fernandes e Valter
Fernandes – Ed. Revista dos Tribunais
[3] <#_ftnref3> /Programma de derecho criminal:/ parte general, vi I,
p. 9, Bogotá, Temis, 1988.
[4] <#_ftnref4> António Moniz Sodré de Aragão - As Três Escolas Penais,
3" ed.. Saraiva, São
Paulo, 1928, pp. 139-140.
[5] <#_ftnref5> António Moniz Sodré de Aragão -* As Três Escolas
Penais,* 3'* ed..* Saraiva, São
Paulo, 1928, p. 147.
[6] <#_ftnref6> Francisco Alonso Pérez - Introducción ao Estudio de Ia
Criminología, Editorial
Reus, Madrid, 1999, p. 296.