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Agenda Positiva - Pensar MT

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  1. 1. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 1
  2. 2. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 20142
  3. 3. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 3 Coordenadora do projeto: Projeto grfico: Reviso: Fotos: Elaborao do documento: Aylla Emelly Kipper Buenas Artes Estdio de Design Daniel Latorraca, Doralice Jacomazi, Marinaldo Luiz Custdio Arquivo Famato/Jos Medeiros Imagens Fundao Dom Cabral Professor Fabio Cammarota Professor Maral Chagas Assistente Carlos Barros Assistente Marina Lemos EXPEDIENTE Famato Acrimat Acrismat Ampa Aprosmat Aprosoja Federao da Agricultura e Pecuria do Estado de Mato Grosso Associao dos Criadores de Mato Grosso Associao dos Criadores de Sunos de Mato Grosso Associao Mato-grossense dos Produtores de Algodo Associao dos Produtores de Sementes de Mato Grosso Associao dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso ENTIDADES PARCEIRAS Pensar Mato Grosso Frum Agro MT Todos os direitos preservados. As informaes contidas neste documento podem ser utilizadas, reproduzidas ou de alguma forma reveladas desde que citada a fonte. Julho de 2014
  4. 4. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 20144 Prezados, A participao do agro no desenvolvimen- to socioeconmico do Brasil e de Mato Grosso aumenta a cada ano. Mais do que lder na produo de alimen- tos de forma sustentvel, o setor tornou- -se uma referncia recorrente quando se comenta de um estado que funciona da porteira para dentro ou quando se fala em um grupo organizado em torno de objeti- vos comuns. Prefcio
  5. 5. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 5 Normando Corral Presidente em exerccio do Sistema Famato claro que esta posio de destaque positiva e nos deixa muito orgulhosos. Mas impor- tante destacar que ela implica tambm aumento de nossa responsabilidade em contribuir para a contnua evoluo da sociedade. Imbudas deste esprito, as entidades do setor Famato, Acrimat, Acrismat, Aprosmat, Aprosoja, Ampa se uniram para identificar as principais demandas do agronegcio do Estado. Conversamos com muitos especialistas e percorremos vrios municpios entre os meses de abril e maio deste ano para coletar as opinies dos produtores rurais. De posse destas informaes, convidamos a Fundao Dom Cabral para o desafio de compilar estas de- mandas e propor, juntamente com tcnicos das entidades, alternativas para os gargalos da gesto pblica de Mato Grosso. Ao longo destas pginas, o leitor ter a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a dimenso dos desafios do agronegcio de Mato Grosso. No fugimos dos temas recorren- tes e quase clssicos, relacionados infraestrutura (logstica e energia), questes tribut- ria e fundiria, meio ambiente e defesa agropecuria. Durante o desenvolvimento da Agenda Positiva Pensar Mato Grosso, verificamos que as causas de boa parte dos problemas que o setor ainda enfrenta, apesar do crescimento da produo agropecuria e destaques nos rankings nacional e internacional, so oriundas do modelo de gesto do governo. Por isso acreditamos que este trabalho servir como uma bssola, para nortear os passos dos prximos dirigentes e legisladores que, eleitos, ocupa- ro os principais cargos nas esferas pblicas estadual e federal. Que o Pensar MT seja tambm uma fonte inspiradora! Esperamos que as lideranas pbli- cas sintam o mesmo e que os produtores rurais tenham sempre em mos o que precisamos para continuar nosso aprimoramento. Boa leitura!
  6. 6. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 20146 O presente documento apresenta os resultados do projeto Pensar Mato Grosso (PMT), que foi realizado pelas principais entidades do setor agropecurio: Famato, Acrimat, Acrismat, Aprosmat, Aprosoja, Ampa. O PMT tem por objetivo a construo de uma agenda de prioridades para o setor produtivo do agronegcio, a partir da avaliao das dificuldades de produo e do potencial existente no setor para os prximos anos. APRESENTAO
  7. 7. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 7 Esta iniciativa tomou corpo a partir do levanta- mento de informaes com lderes rurais, espe- cialistas do agronegcio e representantes das entidades que atuam no setor, a fim de propor aes e projetos para os futuros candidatos ao Governo do Estado de Mato Grosso. O PMT se dividiu em quatro etapas principais: Realizao de pesquisa qualitativa com produtores rurais e formadores de opinio a respeito dos desafios e oportunidades do Estado. Realizao de pesquisa quantitativa com produtores rurais. Anlise das informaes levantadas pelo gru- po de trabalho composto por membros das entidadesrepresentativasdoagronegcio. Elaborao de uma agenda positiva, con- siderando as propostas construdas em conjunto. A partir do projeto, que mobilizou diversos ato- res do agronegcio, este documento buscar apresentar uma anlise sobre os principais fa- tores que afetam o desenvolvimento do setor no Estado e, em especial, propor alternativas e aes que podero pautar as futuras decises estratgicas do Poder Executivo estadual. Sero apresentados, portanto, um diagnstico sobre a situao atual do agronegcio em Mato Grosso e as respectivas propostas de desenvolvimento para os temas prioritrios: tributrio, infraestru- tura, meio ambiente, fundirio e defesa agrope- curia. Vale destacar que as questes relaciona- das inovao e conhecimento e segurana no A pesquisa qualitativa ocorreu com 32 lderes rurais de mdio e grande porte. A quantitativa, por sua vez, foi respondida por 325 agropecuaristas, distribudos em 12 cidades-polo do Estado, entre os meses de abril e maio de 2014. campo foram analisadas como um tema trans- versal s referidas dimenses. O foco deste debate tambm analisar o mode- lo de gesto do Estado, identificando o seu sta- tus atual e propondo aes de melhoria. Nesse sentido, o trabalho buscar uma reflexo acerca dos obstculos referentes gesto dos rgos do Poder Executivo, sobretudo naqueles em que h maior impacto sobre a competitividade do agronegcio de Mato Grosso. Assim exposto, pode-se inferir que residem no mago da gesto estadual tanto as causas quanto as solues para o agronegcio mato-grossense. Em sntese, os desafios do Estado so proporcionais aos desa- fios do governo, ainda que algumas das solues residam em outra esfera federativa. A fim de cumprir o escopo a que este documen- to se prope, ele foi constitudo em cinco par- tes principais. Alm desta breve apresentao, a primeira apresenta os principais desafios do agronegcio de Mato Grosso, organizados tema- ticamente, buscando-se montar um diagnstico dos principais problemas que afetam o setor. A segunda, tambm de carter diagnstico, anali- sa os gargalos crticos do modelo de gesto de governo de Mato Grosso. A terceira, de carter mais propositivo, discorre sobre a estratgia e as alternativas pensadas no PMT para o desen- volvimento do agronegcio no Estado. Por fim, a quarta e ltima parte apresenta as reflexes finais e as prioridades de ao, indicando os as- pectos principais abordados ao longo de todo o documento.
  8. 8. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 20148 1. OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO AGRONEGCIO EM MATO GROSSO...11 1.1. Desafios relacionados ao Tema Infraestrutura.................................................................12 1.1.1. Problemas de Armazenagem................................................................................................13 1.1.2. Problemas de Escoamento..................................................................................................13 1.1.3. Problemas de Custo de Frete e Custo Operacional................................................................14 1.1.4. Problemas de Matriz de Modais.........................................................................................15 1.1.5. Problemas com a Oferta de Energia...................................................................................16 1.1.6. Problemas com o Custo de Energia.....................................................................................16 1.1.7. Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com as Questes Energticas.................17 1.2. Desafios relacionados ao Tema Tributrio............................................................................18 1.2.1. Problemas com a Carga Tributria.....................................................................................18 1.2.2. Problemas com o Sistema Tributrio de Mato Grosso.........................................................18 1.2.3. Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com a Gesto Fiscal e Oramentria.......19 1.3. Desafios relacionados ao Tema Meio Ambiente.................................................................23 1.3.1. Problemas de Imagem do Produtor Rural e da Ideologizao..............................................23 1.3.2. Problemas com a Legislao Ambiental................................................................................24 1.3.3. Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com as Questes Ambientais..........25 1.4. Desafios relacionados ao Tema Fundirio.........................................................................27 1.4.1. Problemas com a Ideologizao..........................................................................................27 1.4.2. Problemas de Controle e de Regularizao das Propriedades.............................................28 1.4.3. Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com as Questes Fundirias............29 1.5. Desafios relacionados ao Tema Defesa Agropecuria.......................................................30 1.5.1. Problemas com o Conceito da Defesa..................................................................................30 1.5.2. Problemas com a Legislao................................................................................................31 5.3. Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso na Defesa Agropecuria......................32 5.4. Problemas com a Segurana no Campo...............................................................................33 2. OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO MODELO DE GESTO DO GOVERNO DE MATO GROSSO PARA O AGRONEGCIO........................................35 2.1. Referencial Metodolgico.....................................................................................................36 2.2. Metodologia de Trabalho e Primeiros Resultados...................................................................37 SUMRIO
  9. 9. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 9 2.3. Problemas Identificados no Modelo de Gesto do Governo de Mato Grosso......................39 2.3.1. Problemas na Formulao da Agenda Estratgica.................................................................39 2.3.2. Problemas nas Estruturas Implementadoras.........................................................................40 2.3.3. Problemas no Monitoramento e Avaliao..........................................................................43 3. ESTRATGIA E ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGCIO DE MATO GROSSO...........................................45 3.1. Estratgia de Desenvolvimento.............................................................................................47 3.1.1. Eixo da Intensificao.........................................................................................................48 3.1.2. Eixo da Verticalizao..........................................................................................................50 3.1.3. Eixo da Diversificao..........................................................................................................52 3.2. Bases do Desenvolvimento.................................................................................................56 3.2.1. Alternativas para o Tema Tributrio...................................................................................56 3.2.2. Alternativas para o Tema Infraestrutura.................................................................................57 3.2.3. Alternativas para o Tema Meio Ambiente e Fundirio........................................................63 3.2.4. Alternativas para o Tema Defesa..........................................................................................68 3.2.5. Alternativas para o Tema Conhecimento e Inovao...........................................................71 3.3. Modelo de Gesto do Governo de Mato Grosso.................................................................73 3.3.1. Alternativas para Agenda Estratgica de Governo.................................................................75 3.3.2. Alinhamento das Estruturas Implementadoras......................................................................76 3.3.3. Monitoramento e Avaliao do Desempenho.......................................................................80 4. REFLEXES FINAIS E PRIORIDADES.........................................86 GLOSSRIO.......................................................................................88 REFERNCIAS................................................................................95 LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................96
  10. 10. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201410
  11. 11. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 11 Mato Grosso enfrenta vrios problemas que afetam a competitividade do seu agronegcio, que basicamente estabelecem desafios em grandes reas temticas: infraestrutura (logstica e energia), tributria, meio ambiente, fundiria e defesa agropecuria. A tratativa de problemas complexos exige um olhar aprofundado e multidisciplinar, capaz de gerar um claro entendimento sobre suas causas e efeitos, de forma a proporcionar subsdios na busca de alternativas de efetiva resoluo. Esta seo busca cumprir este papel e traz uma anlise tematizada dos problemas que impactam diretamente o agronegcio e, consequentemente, o desenvolvimento do Estado. De partida, portanto, esta seo traz a viso dos produtores rurais a respeito da criticidade de cada um dos temas. Tal viso est expressa na tabela 1, que traz os resultados da pesquisa quantitativa realizada com os produtores (pesquisa mencionada na apresentao deste documento). OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO AGRONEGCIO EM MATO GROSSO 1
  12. 12. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201412 Conforme sinalizam os resultados da pesquisa, o tema de maior impacto negativo o da Infraestrutura, que, pela viso de 75,4% dos entrevistados, traz problemas que travam o crescimento atual. Os te- mas Tributrio e Fundirio surgem na sequncia, e 56,6% e 54,5% dos entrevistados, respectivamente, veem problemas oriundos destes temas como srios entraves ao crescimento do Estado. Na sequncia, cada um dos temas ser explorado individualmente, de forma a estruturar, luz de di- versas situaes problemticas, como se configuram os principais desafios do agronegcio do Estado. 1.1. Desafios Relacionados ao Tema Infraestrutura A afirmao de que na infraestrutura se encontram os principais problemas do Estado consenso entre todos os envolvidos, sejam eles os prprios produtores rurais ou especialistas no tema. Inmeros so os desafios que montam a situao da logstica em Mato Grosso. Em todas as fases do processo logstico encontram-se problemas e oportunidades de melhorias. Visando orientar o entendi- mento e proporcionar subsdios busca de alternativas de resoluo, os problemas relacionados logstica foram organizados em quatro subtemas, evidenciados e discutidos na sequncia. Temas de Maior Impacto e que Travam o Crescimento Atual do Agronegcio Infraestrutura (logstica e energia) Tributrio Meio Ambiente Fundirio Defesa Fonte: Central CM 75,40% 56,60% 52,60% 54,50% 18,80% TABELA 1 Resultados consolidados da pesquisa quantitativa com os produtores rurais do Estado de Mato Grosso
  13. 13. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 13 1.1.2. Problemas de Escoamento Atualmente, Mato Grosso se encontra entre os principais produtores de gros do pas e enfrenta diver- sos problemas ligados ao escoamento de seus produtos. O problema do escoamento se configura em um dos principais fatores que afetam a competividade do Estado e a produtividade. Nessa esteira, um dos gargalos crticos encontra-se no chamado frete de ponta curta (fazenda armazenagem), isso por conta da pssima situao das estradas vicinais, o que impe, j nos trechos iniciais, graves problemas logsticos. Estas condies deficientes de estradas no so exclusividade das estradas vicinais, mas tambm das es- tradas pavimentadas de Mato Grosso, que so responsveis pela ligao com as rodovias federais que cruzamoEstado.Estasrodovias,almdesubdimensionadasparaofluxodetransportedecargas,nodis- pem de manuteno e reparao devidas, o que gera um custo maior de frete para o sistema produtivo. Outrograveproblemaencontra-senoprpriodesenhodasrotas.Atabela3aseguir(Imea,2012)ilustra o quo irracionais se mostram os caminhos percorridos para o escoamento da exportao de gros de Mato Grosso. Dficit de Armazenagem Produo 2013-2014 Produo Safra 13/14 (milhes/t) Capacidade de Armazenagem Necessria (milhes/t) Capacidade de Armazenagem Atual (milhes/t) Dficit da Capacidade de Armazenagem (milhes/t) Fonte: Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuria (Imea) 43,9 52,7 29,3 23,4 TABELA 2 1.1.1. Problemas de Armazenagem A capacidade de armazenagem, embora seja uma questo de natureza federal (com a Conab), traz, de partida, grandes gargalos aos produtores rurais. A falta de estrutura e de planejamento de armazenagem da safra faz com que os meios de transporte (no caso os prprios caminhes) sejam utilizados como armazns mveis, algo naturalmente muito prejudicial aos produtores e ao processo como um todo. Conforme clculos do Imea, a seguir apresentados pela tabela 2, entre 2013 e 2014, o Estado apresenta um dficit de armazenagem de aproximadamente 23 milhes de toneladas, o que revela o baixo inves- timento em infraestrutura em relao ao potencial produtivo.
  14. 14. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201414 Escoamento de Gros por Porto (Participao %) em 2013 Fonte: Imea, Secex MDIC TABELA 3 Rotas de exportao de Mato Grosso, 2013 A anlise da tabela 3 permite observar o srio problema estrutural no desenho das rotas, tendo em vista queamaiorpartedoescoamentosedpeloPortodeSantos,cujalocalizaomuitodistantedoEstadode Mato Grosso. Outro estudo do Mapa (2013) corrobora este problema. Segundo tal estudo, o escoamento daproduodegrosmato-grossense,pelomodalrodovirio,percorreumadistnciamdiade2.180km. O fato de a maioria do escoamento dos gros de Mato Grosso se dar pelo Porto de Santos e as longas distncias percorridas impem inmeros problemas logsticos, sobretudo nos custos e no tempo de transporte. 1.1.3. Problemas de Custo de Frete e Custo Operacional Mato Grosso, conforme demonstram os estudos do Movimento Pr-Logstica (MPL), tem os fretes mais caros do mundo, consequncia da prpria localizao geogrfica, do desenho das rotas (explorado no item anterior) e da qualidade das estradas. A gravidade deste problema, novamente, deve ser enxergada sob a tica do produtor rural, que, alm dos gargalos estruturais, sofre com a compresso das margens impostas pelos elevados gastos com frete. Diversas anlises comparativas deflagram a baixa competitividade dos custos logsticos de Mato Gros- so. Sob a perspectiva lavoura/porto, a previso de que o custo do Estado atinja uma mdia de US$ 133 em 2014, enquanto o custo aferido nos Estados Unidos da Amrica do Norte est estabilizado em US$ 23, conforme projeta o MPL. Enquanto o Estado do Paran encerrou 2013 com preos de frete prximos a US$ 40/t, Mato Grosso atin- giu valores acima de US$ 130/t. A figura 1 a seguir permite outra comparao, trazendo os custos mdios de frete de Sorriso (MT), de Crdoba (Argentina) e Illinois (EUA) para a China, tornando clara a desvanta- gem competitiva do Estado, com dois dos seus principais concorrentes internacionais. Porto Santos Manaus Vitria Santarm So Francisco do Sul Paranagu So Lus Demais portos Exportao SOJA 58% 8% 7% 4% 4% 15% 3% 1% Exportao MILHO 57% 5% 12% 7% 8% 9% 1% 1%
  15. 15. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 15 Com relao ao custo operacional, que se d, principalmente, em funo da conservao do pavimento das rodovias por onde a produo escoada, novamente Mato Grosso se mostra fortemente debilita- do. Estudo realizado pela Confederao Nacional do Transporte (CNT) em 2012/2013 traz uma viso geral da situao das rodovias nos estados. Para Mato Grosso quase 50% da malha foi considerada em situao ruim ou pssima, o que impe aos transportadores gastos adicionais com o equipamento de transporte (caminho), seja em razo do desgaste de peas, seja no desperdcio de tempo em estradas cuja velocidade de trfego muita baixa. 1.1.4. Problemas de Matriz de Modais Como acrscimo discusso sobre o conjunto de desafios e problemas ligados logstica do agroneg- cio de Mato Grosso, tem-se a questo da distribuio dos modais utilizados. A tabela 4 a seguir faz uma comparao entre a matriz de modais praticada no Brasil e nos Estados Unidos. Fonte: Centrogros, Caramuru and Soy Transport Coalition, BCR Rosrio Matriz de Modais Transporte Rodovirio Ferrovirio Hidrovirio Brasil 58% 25% 13% Estados Unidos 5% 35% 60% TABELA 4 Comparativo Brasil Estados Unidos Fonte: Confederao Nacional da Agricultura (CNA) Figura 1 Rotas de exportao de Mato Grosso, 2013
  16. 16. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201416 Novamente se observam as desvantagens nacionais e estaduais, levando-se em conta que Mato Grosso segue praticamente a mesma estrutura de matriz de modais brasileira. claro que o modal rodovirio apresenta diversas desvantagens frente aos demais modais, entre os quais o custo, a capacidade de vazo, o risco e a prpria poluio gerada. 1.1.5.Problemas com a Oferta de Energia Mato Grosso um exportador lquido de energia eltrica e se revela com grande potencial de gerao hidreltrica, mas, ainda assim, apresenta gargalos na oferta de eletricidade em pontos importantes do territrio. Exemplificando, o municpio de Alto Araguaia, importante protagonista na agricultura do sul mato-grossense, enfrenta srias dificuldades com a dis- tribuio de energia, contabilizando atualmente cerca de 270 propriedades rurais sem acesso energia eltrica, conforme levantamentos do Frum Agro MT. 1.1.6.Problemas com o Custo de Energia Outro problema na questo energtica est relacionado ao custo de transmisso e distribuio, fato que afeta diretamente a rentabilidade dos produtores. A figura 2 a seguir proporciona uma viso comparativa do custo energtico (em R$/MWh) de Mato Grosso com outros esta- dos brasileiros. Custo Energtico Fonte: Firjan Figura 2 Comparativo do custo energtico entre estados brasileiros
  17. 17. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 17 Os nmeros da figura anterior sinalizam o alto custo de energia em Mato Grosso, situao que, em parte, pode ser explicada pela carga tributria incidida. A figura 3 a seguir ilustra percentualmente as parcelas dos tributos que incidem sobre a tarifa de energia nos estados brasileiros. Pelo exposto acima, possvel observar que enquanto a mdia brasileira alcana uma carga tributria de 31,5% sobre o custo de consumo da energia eltrica, a mdia de Mato Grosso fica em 35,6%, o que lhe confere a segunda posio entre os estados com maior carga tribu- tria sobre a energia. 1.1.7.Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com a Questo Energtica Alm da responsabilidade pelas situaes problemticas da oferta e do custo de energia, Mato Grosso demonstra uma carncia estratgica para com esse importante tema. Os programas que compuseram o MT+20 e que dizem respeito s questes energticas nem mesmo esto refletidos no PPA 2012-2015, sinalizando o desalinhamento dos programas e aes em relao estratgia energtica. Ainda nesse contexto, o Estado demonstra claras fragilidades na capacidade de gerar e coordenar estratgias alternativas, inovadoras e articuladoras de governana energtica. Questes como diversificao da matriz energtica, de gerao de fontes alternativas e de cogerao, que dependem de um forte envolvimento e de incentivos ao produtor ru- ral, embora, em algumas medidas sejam discutidas, esto ainda em uma situao muito embrionria. Parcelas de tributos (PIS/COFINS e ICMS) incidentes sobre a tarifa de energia eltrica Figura 3 Fonte: Firjan
  18. 18. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201418 1.2. Desafios Relacionados ao Tema Tributrio A questo tributria em Mato Grosso tambm se reveste de inmeros desafios, que vo desde a elevada carga tributria em um complexo sistema de tributao aos diversos descontenta- mentos em relao atuao governamental, sobretudo para com a gesto fiscal. 1.2.1.Problemas com a Carga Tributria A elevada carga tributria uma das reclamaes mais recorrentes dos produtores rurais. A tabela 5 a seguir, que tomou como base a legislao estadual que regulamenta o clculo da in- cidncia do ICMS sobre alguns segmentos, mostra que o Estado de Mato Grosso se posicionou em 2011, na comparao com outros estados, como o maior arrecadador de ICMS. Como demonstra a tabela, a legislao de Mato Grosso a que implica maior carga tributria para os principais segmentos do agronegcio. claro que as informaes aqui postadas no exaurem toda a temtica e, dada a complexidade inerente questo tributria, faz-se necessria uma anlise mais abrangente da questo. Entretanto, h diversas evidncias que permitem inferir que a carga tributria mato-grossense um dos problemas de maior gravidade para o agronegcio, sobretudo quando se analisa o quanto desta carga se reverte em servios e na criao de valor pblico. 1.2.2. Problemas com o Sistema Tributrio de Mato Grosso Adicionalmente, mas no menos relevante que a elevada carga tributria, h complicaes provocadas pelo Sistema Tributrio do Estado. consenso entre os produtores rurais, conforme revela a pesquisa ICMS Devido por Segmento Soja 258.574 256.461 206.784 216.697 258.574 Milho 132.256 132.256 132.256 79.654 132.256 Algodo 42.028 84.057 42.028 42.028 84.057 Acar 22.012 22.012 15.689 18.662 18.885 Carnes 312.114 272.546 318.547 220.795 _ Arroz 39.223 13.453 30.258 22.880 15.760 Total 806.207 780.785 745.562 600.716 509.532 TABELA 5 Anlise da incidncia tributria sobre o agronegcio Fonte: Fundao Getlio Vargaz (FGV) MT PR MS GO BA 158 153 146 118 100 Legislao Comparao
  19. 19. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 19 j citada, que ele o principal concorrente do produtor, dada a descabida burocracia e a complexidade operacional presentes nos procedimentos tributrios. Observou-se entre os agentes que a legislao cria uma profuso de obrigaes acessrias que devem ser cumpridas sob pena de pagamento de multas desproporcionais, alm de simples atos como retifi- caes serem cobradas com taxaes tambm desproporcionais. Tal burocracia e complexidade so evidenciadas pelos excessos praticados nas obrigaes acessrias e pelas frequentes mudanas de legislao. Toda essa situao, na percepo dos especialistas tributrios ouvidos no Pensar MT, vem fazendo com que cada vez mais empresas migrem suas operaes para outros estados, alm de afugentar outros potenciais negcios no mbito do Estado. 1.2.3.Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com a Gesto Fiscal e Oramentria Soma-se elevada carga e complexidade do sistema de arrecadao a prpria conduo do Governo de Mato Grosso na Gesto Fiscal do Estado que, pela tica dos produtores e dos especialistas, vem provocando graves distores em todos os aspectos que cercam essa ques- to. De partida, consenso entre os entrevistados que o governo carece de maior transparn- cia, quer seja na divulgao do uso dos montantes arrecadados, quer seja na evidenciao da real situao fiscal do Estado. A opacidade e at o desvirtuamento da aplicao do Fundo Estadual de Transporte e Habita- o (Fethab) ilustram esta situao problemtica. O fundo, que uma contribuio destinada a financiar o planejamento, a execuo, o acompanhamento e avaliao de obras e servios de transportes e habitao em todo o territrio mato-grossense, vem sendo gerido com diversas distores, a comear pelo excesso de modificaes na sua base legal. Desde que foi criado, em 2000, o Fethab, conforme informaes da prpria Secretaria de Fazenda (Sefaz), j passou por 31 modificaes (incluindo duas leis complementares) que, na sua maioria, visavam sanear as dificuldades financeiras do governo. Na prtica, o que se evidencia a utilizao do fundo para outros fins, como, por exemplo, o uso destinado con- secuo das obras da Copa do Mundo e para o pagamento de servidores pblicos, segundo os diversos estudos que tratam do tema. Alm disso, recentemente o Governo do Estado editou decreto regulamentando a diviso de recursos do Fethab com os municpios, o que ir pulve- rizar a utilizao desses valores, que hoje j so desvirtuados, contribuindo ainda mais para sua no utilizao para os fins a que foram criados.
  20. 20. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201420 Em suma, o Fethab, que segundo estimativas dever arrecadar algo em torno de R$ 800 mi- lhes em 2014, alvo constante de reclamaes de produtores rurais que dizem no ver os investimentos que deveriam estar sendo feitos com os recursos do fundo. O Conselho Diretor do Fundo, que tem como uma de suas misses aumentar sua transparncia, se encontra atu- almente desativado, conforme foi constatado ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Com relao real situao fiscal, segundo os especialistas entrevistados nesta investigao, o governo vem se valendo de diversas estratgias contbeis (contabilidade criativa) para com- por e amenizar as evidentes dificuldades de sade fiscal. Outra natureza de distoro diz respeito arrecadao propriamente. Nesta temtica, um problema que se percebe a crescente guerra fiscal praticada pelo governo, explicada for-
  21. 21. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 21 Figura 4 Evoluo da despesa com pessoal MT 2005/2012 Fonte: RC Consultores temente pela carncia de um plano eloquente de desenvolvimento e de atratividade, o que provoca iniciativas fragmentadas e incoerentes de desonerao. Segundo o estudo Reprogra- mao Estratgica do Desenvolvimento do Estado (2012), somente de ICMS, a desonerao em 2011 ficou prxima a R$ 842 milhes. Adicionando desafios s questes ligadas arrecadao, tem-se a forte dependncia de al- guns poucos setores em que se concentra a gerao das receitas fiscais, sendo em 2011 seis setores responsveis por 68% de toda a arrecadao, conforme demonstra o estudo acima re- ferido. Existem, ainda, as desoneraes impostas pela Lei Kandir, que em si no seriam nega- tivas desde que os repasses federais fossem cumpridos. Diversos estudos apontam as perdas sofridas pelos estados e municpios oriundas da Lei Kandir, sobretudo os agroexportadores, como o caso de Mato Grosso. Pelo vetor do gasto, h tambm desafios a enfrentar. Pela anlise dos ltimos exerccios, tor- na-se perceptvel o quo estrangulado fiscalmente encontra-se Mato Grosso, direcionando, conforme fontes pesquisadas, quase que 60% dos seus gastos em folha de pagamento, des- cumprindo os preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal. A figura 4 a seguir fornece uma ideia da velocidade como os gastos com pessoal cresceram no Governo de Mato Grosso nos ltimos exerccios.
  22. 22. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201422 No mbito da atuao do governo, outro problema refere-se gesto oramentria propria- mente. Por todas as informaes levantadas e, sobretudo, por aquelas que buscam avaliar o grau de execuo dos programas estabelecidos no PPA, possvel perceber um baixssi- mo grau de execuo dos programas, como demonstrou o Relatrio da Ao Governamental (RAG-2013), no qual se constataram diversos programas com grau de execuo fsico-finan- ceira abaixo de 10% no perodo analisado. Duas causas fundamentais podem ser utilizadas como forma de explicao: a baixa qualidade do processo de planejamento (materializado nos programas do PPA) e a prtica iminente do contingenciamento linear.
  23. 23. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 23 1.3. Desafios relacionados ao Tema Meio Ambiente Os problemas relacionados gesto ambiental, em Mato Grosso, tm dificultado o desen- volvimento do agronegcio. Alm de possuir uma larga extenso de reas preservadas (62% - Imea, 2014), h outras dificuldades que colocam a questo ambiental como uma das mais problemticas na percepo do produtor rural, conforme evidenciado pelas anlises a seguir. 1.3.1.Problemas de Imagem do Produtor Rural e da Ideologizao Uma das fontes destas dificuldades refere-se ao alto grau de ideologizao e dis- toro que revestem o tema. Diversos so os movimentos ambientalistas e vrias so as distores que resultam a imagem do produtor rural um tanto quanto ne- gativa, conforme afirma um dos especialistas envolvidos neste projeto: Existe uma campanha que vem de longe con- tra o agronegcio, na verdade no se conhece direito, houve uma popularizao de que o agronegcio no tem nenhum interesse em conservao ambiental. O produtor rural visto como um grande devastador, todavia possvel perceber que, cada vez mais, ele vem se tornando um dos atores que mais contribuem para a preservao. A figura 5 a seguir pode servir para esta primeria percepo. Evoluo do desmatamento corte raso (Km) - PRODES/INPE 2000 a 2013 Figura 5 Fonte: PRODES/INPE
  24. 24. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201424 Diversas so as consequncias que reverberam desta situao persecutria, sobretudo nas in- meras complicaes operacionais, que vo desde um arcabouo legislativo complexo e confuso at uma atuao punitiva e muito burocratizada por parte dos atores governamentais, tudo isso provocando um ambiente de total insegurana jurdica. 1.3.2.Problemas com a Legislao Ambiental O arcabouo jurdico que regulamenta e fiscaliza a questo ambiental em Mato Grosso est estruturado de uma forma que cria vrios gargalos para o agronegcio. Primeiramente, existe um claro sombreamento federativo entre os atores federais e estaduais. Embora haja uma lei federal (Lei Complementar 140/2011) que trata justamente das competncias de cada um dos entes, o que acontece atualmente, na prtica, uma sobreposio e at uma duplicao na atuao. Por exemplo, um mesmo produtor rural por vezes sofre fiscalizaes sobrepostas pelo rgos federal e estadual. Ainda no tema legislao, naquilo que compete ao prprio Estado, a legislao estadual vigen- te apresenta divergncias relevantes frente legislao federal, situao que traz ao produtor rural uma latente sensao de insegurana jurdica, fato que inibe movimentos de investi- mento, nas suas mais diversas modalidades (acesso ao crdito, expanso rural, aquisio de equipamento etc.). Por fim, dentro deste tema, h que se pontuar os enormes custos praticados no Licenciamento Ambiental do Estado de Mato Grosso. A tabela 6 a seguir apresenta uma comparao entre os custos de licenciamento de alguns dos estados brasileiros. Atividades 3.504,00 232,72 10.154,06 1.405,69 315,00 3.076,00 14.428,00 75.952,39 5.363,28 1.593,75 123.655,60 7.704,94 155.154,08 8.032,64 2.887,50 TABELA 6 Comparativo dos custos de licenciamento Fonte: Famato GO MS MT PR SC Estado Custo Licenciamento Avicultura (R$) Custo Licenciamento Suinocultura (R$) Custo Licenciamento Bovinos (R$)
  25. 25. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 25 Os valores postados na tabela anterior so eloquentes ao sinalizar a disparidade entre os custos praticados em Mato Grosso e os demais estados de comparao, fato que, naturalmente, funciona como um desestmulo legalizao e atratividade do Estado. Tudo isso demonstrando a des- proporcionalidade dos valores praticados, o que um contrassenso num Estado eminentemente agrcola, punindo aquele que gera riquezas e desenvolvimento. 1.3.3.Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com as Questes Ambientais O Governo de Mato Grosso, nesse contexto, assume um papel duplo. Um primeiro papel concer- ne imagem negativa do produtor rural. Na opinio dos entrevistados, espera-se uma atuao menos passiva do poder pblico. Significa que o produtor espera que o Governo do Estado cola- bore na desmistificao sobre a culpabilidade do agronegcio na degradao ambiental. Trata- -se da construo de uma contratese capaz de comunicar claramente quais so as contribuies do agronegcio para o desenvolvimento nacional e quais so os principais focos de degradao ambiental. O segundo papel tem a ver com o arcabouo normativo ambiental, que tem como origem o prprio rgo responsvel estadual (Sema), j que ali se originam as principais deci- ses legais e normativas no mbito do Estado. No que concerne aos sombreamentos federati- vos, novamente espera-se uma postura mais firme, de forma a contribuir para a delimitao das competncias dos atores, em linha com a LC 140/2011, o que certamente proporcionaria maior segurana ao produtor rural. Contudo, Mato Grosso demonstra importantes problemas na sua atuao, a comear por uma cultura punitiva e arrecadatria, algo recorrentemente manifestado pelos produtores rurais. Somam-se a isso as prprias questes que denotam posturas mprobas, o que, muitas vezes, acaba por emperrar as licenas ambientais intencionalmente, conforme afirmam alguns atores ouvidos no Pensar MT. Essa atuao tambm marcada por srios problemas operacionais e de gesto, acarretan- do nveis de servios muito abaixo do satisfatrio. Na prtica, o prprio Estado parece no dar conta de cumprir as normas e licenciamentos que ele mesmo impe. Ainda que o pro- dutor cumpra todas as exigncias, o governo no consegue agilizar os procedimentos para dar consequncia aos processos. Inmeras so as reclamaes, por parte dos produtores, quanto atuao da Sema, ficando clara esta deficincia na aplicabilidade do programa Sicar, obrigatrio para o produtor desde maio de 2014, mas que at a concluso deste do- cumento no estava disponvel para uso, reforando a insegurana jurdica e o no cumpri- mento de prazos.
  26. 26. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201426
  27. 27. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 27 1.4. Desafios relacionados ao Tema Fundirio De forma similar questo ambiental, os pro- blemas que afetam o tema fundirio tambm encontram origem nas questes ideolgicas e operacionais/burocrticas. Segundo os entrevis- tados, a prpria atuao do Governo de Mato Grosso deveria sinalizar uma maior parceria e prestao de servios para com o produtor rural. Os dados coletados nas entrevistas evidenciam que, por conta dessas situaes problemticas, o clima de insegurana jurdica para os produtores constante. 1.4.1.Problemas com a Ideologizao O quadro atual mostra um desequilbrio entre di- versas foras. De acordo com os dados coletados pelo Pensar MT, h um forte grupo (governamen- tal e privado) que estabelece beligerncia para com o agronegcio. Em contrapartida, o produ- tor rural encontra-se sem um apoio instituciona- lizado por parte do governo estadual para esta- belecer equilbrio e arbitragem. Neste embate de foras, o maior prejudicado tem sido o produtor rural que, sem fora poltica, acaba tendo graves problemas com a regularizao de sua proprieda- de.
  28. 28. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201428 Fonte: Instituto Pensar Agro (IPA) TABELA 7 Crescimento das demarcaes no Brasil Ano 1988 1992 2001 2006 2011 2013 Pretenso Funai/ONGs rea (milhes de ha) 16 21 59 81 94 110 200 % aumento 29,7% (em 4 anos) 272,3% (em 13 anos) 410,5% (em 18 anos) 489,6% (em 23 anos) 588,5% (em 23 anos) 1.250% Considerando que atualmente a populao indgena brasileira de 900 mil habitantes (IBGE) e levando em conta os nmeros da tabela acima, possvel inferir algum tipo de distoro no processo. Especificamente em Mato Grosso, conforme informaram os especialistas ou- vidos, esto em andamento estudos da Funai visando demarcar cerca de 3,8 milhes de hectares adicionais. Embora a Constituio Federal reconhea os direitos dos ndios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, o que tem ocorrido em Mato Grosso so repenti- nas expropriaes e, neste contexto, torna-se ntida a grande apreenso dos produtores rurais. A apreenso relacionada percepo das partes interessadas de que a demarcao das terras indgenas tende a ser um processo arbitrrio. Isso porque concentra o poder de deciso no rgo de assistncia ao ndio (Funai) e os demais entes pblicos estaduais no participam do processo. A incluso de representantes estaduais nos debates sobre as de- marcaes poderia equilibrar as foras e apoiar o produtor rural. Esta estrutura fragmentada e com baixa capacidade de coordenao, conforme os entre- vistados, provoca diversos efeitos prejudiciais, tais como: demarcaes fundamentadas em estudos antropolgicos superficiais e sem a necessria iseno; reduo do direito ao con- traditrio e ampla defesa. Alm disso, dado aos proprietrios o prazo de apenas 90 dias de resposta ao processo, enquanto as ONGs e a prpria Funai tm disposio vrios anos para pesquisa, levantamentos e coleta de dados, desequilibrando as condies de argumen- tao entre as partes. 1.4.2.Problemas de Controle e de Regularizao das Propriedades Adicionalmente situao de vulnerabilidade anteriormente descrita, os problemas se agravam pelos descontroles operacionais, no que tange gesto das propriedades rurais em Mato Grosso. A organizao da situao fundiria dos espaos rurais, por si, mostra-se insuficiente, j que a propriedade se baliza basicamente pelo registro nos cartrios, geran-
  29. 29. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 29 do a prtica de emisso de ttulo sobre ttulo, trazendo, a posteriori, srias dificuldades na identificao das reas. No Governo de Mato Grosso a gesto fundiria realizada pelo Instituto de Terras do Estado de Mato Grosso (Intermat), que, conforme anlise diagnstica, apresenta graves problemas estruturais e de inge- rncia da base cadastral, carecendo de uma melhor comunicao com os cartrios e de uma sincroniza- o das suas bases cartogrficas com os outros rgos estaduais e federais do setor. 1.4.3. Problemas na Atuao do Governo de Mato Grosso com as Questes Fundirias A percepo dos produtores rurais revela desalento quanto gesto do tema, entendendo eles que o Estado apresenta uma participao insuficiente, qui ausente, sobretudo diante das questes ide- olgicas, restando espao para o oportunismo. O produtor se ressente de uma efetiva contribuio do Estado nos certames jurdicos e nos processos desapropriatrios. Combinam-se a isso as gran- des ineficincias e descontroles operacionais da mquina pblica. A partir dessas macropercepes, infere-se que o Estado deve investir no apoio, articulao e arbitragem das questes fundirias.
  30. 30. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201430 1.5. Desafios relacionados ao Tema Defesa Agropecuria A defesa agropecuria afeta diretamente a competitividade do produtor rural, uma vez que a sanidade animal e vegetal condio crtica para o mercado nacional e, sobretudo, para o internacional. Embora as definies de maior impacto tenham seu epicentro em mbito federal, em Mato Grosso, a forma com que o tema est sendo conduzido vem potencializando os riscos da perda da produo. Os desa- fios iniciam-se no prprio conceito da defesa, passam pela questo legal e, novamente, se encerram na atuao do governo. 1.5.1. Problemas com o Conceito da Defesa Na percepo dos especialistas, o trabalho da defesa muitas vezes encarado como uma tarefa de polcia sanitria, sendo vista no como um instrumento da garantia da qualidade do produto, mas, sim, como um trabalho punitivo, que no agrega valor competitividade e lucratividade do produtor rural. Esta distoro, consequncia de um processo educativo incuo e distanciado, provoca resistncia por parte do produtor que, naturalmente, toma uma posio no colaborativa com a questo, fato que potencializa ainda mais os riscos, tendo em vista que ele o ator mais relevante neste processo.
  31. 31. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 31 1.5.2. Problemas com a Legislao Um dos pilares de um servio de defesa agropecuria o respaldo legal. Seja no controle, combate e erradicao de doenas, qualquer ao sanitria e fitossanitria no tem validade sem o respaldo legal. Nesse sentido, a competitividade das exportaes brasileiras depende de uma legislao adequada, j que os mercados internacionais penalizam aqueles pases cujo arcabouo se mostre desalinhado s normas internacionais. A Constituio Federal determina que compete Unio estabelecer as normas gerais e aos Estados e Municpios uma competncia suplementar, desde que atenda aos interesses locais e que normatiza- essejam maisrestritivas.Nascea umdosproblemasdenaturezalegalqueafetadefesa:taisprerro- gativas acabam por provocar um desalinhamento geral no sistema administrativo, tendo os diferentes entes federativos distintos nveis de restrio. Adicionalmente, tem-se uma legislao extremamente antiga, cujos mecanismos de operacionalizao se mostram desatualizados e enxertados de instrues normativas (atualmente h mais de 5.000 instrues normativas vigentes). Nesse contexto, inmeras, complexas, dispersas e conflitantes legislaes geram sombreamentos e lacu- nas,algoqueporsisimpactaaefetividadedadefesa,criadiversostranstornosoperacionaisaoprodutor
  32. 32. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201432 rural e contribui para a percepo negativa frente ao tema. Todos estes problemas fazem com que a defesa deixe de ser percebida como estratgica e passe a ser vista como mais um peso burocrtico. 1.5.3.Problemas na Atuao do Governo dE Mato Grosso na Defesa Agropecuria Assim como a questo legal, a gesto e a opera- o da sanidade animal e vegetal so conduzidas, numa boa parte, em mbito federal. As discus- ses mais estratgicas, como, por exemplo, os acordos internacionais ou a construo de labo- ratrios, ocorrem nas instncias federais. No obstante, o Governo do Estado tem um papel fundamental na governana do tema e, neste as- pecto, diversos so os seus desafios. O problema se origina no prprio rgo respons- velpeladefesa,oInstitutodeDefesaAgropecuria do Estado de Mato Grosso (Indea), que atualmen- te carece de centralidade estratgica, de estrutura fsica, humana e oramentria. possvel inferir a falta de centralidade e de relevncia estratgi- ca a partir das frequentes trocas de comando. A Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultu- ra Familiar (Sedraf), secretaria qual o Indea est autarquicamente vinculado, no perodo de 2010 a 2014, sofreu a mudana de cinco secretrios. O Indea, por sua vez, no mesmo perodo, trocou quatro vezes de presidente, causando frequentes rupturas e descontinuidades organizacionais. Os problemas ligados s estruturas fsicas, humanas e oramentrias, visivelmente decorrentes da irrelevncia estratgica do tema, inviabilizam, na prtica, as aes de Defesa do Estado de Mato Grosso e impac- tam direta e operacionalmente o produ- tor rural. So recorrentes os depoimentos a respeito do sucateamento do Indea, das dificuldades com os servios e com o des- preparo dos agentes governamentais. Atu- almente o Indea est estruturado em uni- dades regionais, lotadas em 12 municpios e operacionalizadas em escritrios totalmen- te desprovidos de capacidade para executar as aes e os servios de defesa.
  33. 33. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 33 1.5.4.Problemas com a Segurana no Campo Soma-se aos problemas at ento mencionados a questo da segurana no campo. Diversos foram os depoimentos e as constataes dos produtores rurais frente aos problemas relacionados segu- rana patrimonial, pessoal e ao transporte de car- gas.Eventoscomoemboscadas,assaltosarmados, raptos, trfico de drogas, homicdios e invases, se mostram cada vez mais frequentes. No h dvida que problemas dessa natureza, alm de gerarem prejuzos financeiros, contri- buem decisivamente para aumentar ainda mais a insegurana do produtor rural e, consequente- mente, diminuir a competividade do Estado. Des- sa forma, faz-se necessrio, por parte do Governo, aumentar os investimentos em efetivo, em postos policiais e em estratgias especficas que tratem da segurana no campo. Ao contrrio dos demais temas, este traba- lho faz meno apenas aos graves problemas enfrentados, sem oferecer uma reflexo mais aprofundada acerca de possveis proposies, j que o assunto no se esgota no agronegcio e deve ser analisado pela perspectiva mais am- pliada de Estado.
  34. 34. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201434
  35. 35. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 35 Tal como foram apresentados os principais gargalos da estrutura-base para o desenvolvimento do agronegcio, envolvendo os temas de infraestrutura, meio ambiente, defesa agropecuria etc., sero apresentados tambm alguns dos principais obstculos da gesto do Estado de Mato Grosso, com enfoque especial naqueles rgos governamentais que mais impactam o agronegcio estadual. Antes de avanar na anlise dos principais desafios do modelo de gesto do Governo de Mato Grosso, as duas prximas sees trazem uma breve explanao acerca das bases conceituais e metodolgicas que serviram de referncia para a realizao deste diagnstico. OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO MODELO DE GESTO DO GOVERNO DE MATO GROSSO PARA O AGRONEGCIO 2
  36. 36. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201436 2.1. Referencial Metodolgico As anlises aqui realizadas adotaram como base os princpios da Gesto Matricial para Resultados (GMR), atravs dos quais se buscou depreender quais so as prticas de gesto e de que forma esto estruturados os rgos do Governo de Mato Grosso. Assim como preconiza a GMR, as melhores prticas percebidas nos estados mais inovadores apresen- tam algumas caractersticas similares, em que se tem, minimamente: i) uma agenda de governo (ou estratgia) bem definida; ii) mecanismos que assegurem o alinhamento das estruturas de governo (principais executoras do plano) estratgia; e iii) uma sistemtica de monitoramento e avaliao dos esforos realizados e resultados alcanados, conforme ilustrado na figura 6. Gesto Matricial para ResultadosFigura 6 Fonte: Um guia de Governana para Resultados na Administrao Pblica (MARTINS & MARINI, 2010)
  37. 37. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 37 Os trs blocos indicam as dimenses que devem ser atendidas numa modelagem de Gesto para Resulta- dos. O primeiro refere-se construo e explicitao de uma agenda estratgica (definio de prioridades); o segundo, ao alinhamento da estrutura que ir implementar a estratgia com os propsitos do governo (mobilizao interna e externa); e o terceiro, definio de uma sistemtica de monitoramento e avaliao dos esforos e resultados (acompanhamento contnuo dos projetos, iniciativas, aes e seus resultados na realidadeeconmico-socialdoEstado). 2.2. Metodologia de trabalho e primeiros resultados NaconstruodoPensarMT,olhandoparaessastrsdimensesdeanlise,oprimeiroesforoempreendido possibilitouidentificaralgunsgargalosdasestruturasdegoverno,emespecial,dosrgosquemaisatravan- cam o desenvolvimento do agronegcio. Conforme ilustrado na figura 7 a seguir, as temticas do agroneg- cioperpassam,emmaioroumenorextenso,12rgosdoGovernodeMatoGrosso. Matriz de Impacto dos rgos de Governo no Agronegcio Mato-grossenseFigura 7
  38. 38. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201438 A matriz foi construda e analisada profundamente pelos envolvidos no projeto e este exerccio per- mitiu levantar alguns pontos estruturais que atualmente mais contribuem negativamente para a ges- to do Estado de Mato Grosso, a saber: Atualmente, a Secretaria de Fazenda (Sefaz) e a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) so as estruturas que mais tm influncia nos temas que afetam o agronegcio, conforme ilustram os ns apontados na matriz anteriormente referida. A Secretaria de Planejamento (Seplan) e a Secretaria de Administrao (SAD), embora se re- lacionem com praticamente quase todos os temas, tm atuado de forma coadjuvante (os ns grafados em aparncia laranja demonstram o baixo impacto destes rgos). Considerando que atualmente as duas primeiras secretarias (Sefaz e Sema) tm, notadamente, cunho arrecadatrio, pode-se inferir que o Estado emprega mais peso nas questes que dizem res- peito arrecadao e est enfraquecido nas funes de planejamento e gesto, que so executadas pelas duas ltimas secretarias (Seplan e SAD). Estruturalmente analisando a dinmica de funcionamento do governo, outros pontos devem ser considerados como problemticos: um deles refere-se estrutura fragmentria com que convivem as questes ligadas ao agronegcio. O produtor rural, para alcanar os servios do governo faz inter- faces com diversos rgos, fato que prejudica sua eficincia produtiva. Outro ponto tem a ver com o claro enfraquecimento institucional dos rgos finalsticos do governo e, nesse sentido, possvel diagnosticar que rgos como Sedraf, Indea, Intermat, Setpu, Sicme, embora devam deter relevncia estratgica, atuam de forma coadjuvante na formulao das polticas pblicas. Tendo entendido as relaes entre rgos governamentais e os temas do agronegcio, uma segun- da atividade buscou avaliar qual o grau de prontido desses rgos, levando em considerao nove elementos de gesto, a partir dos seguintes critrios: Estratgia: avalia o processo de gesto estratgica, que vai desde a formulao at a imple- mentao, comunicao e ferramentas de monitoramento dos indicadores de sua execuo. Modelo organizacional: identifica os critrios de departamentalizao e diviso do trabalho adotados, as informalidades existentes e sua adequao em relao estratgia e aos pro- cessos da organizao. Adaptado de Martins e Marini (2010), captulo 6: Alinhando estruturas implementadoras e pactuando resultados.
  39. 39. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 39 Processos e servios: mapeia os principais macroprocessos, seus fornecedores e beneficirios, e avalia se o produto gerado atende aos requisitos de seus usurios em qualidade e eficincia. Recursos humanos: consolida o quadro de pessoal inclusive servidores efetivos e sem vnculo, consultores, terceirizados e tcnicos especializados (CTU), analisando a distri- buio por rea e perfil. Sistemas informacionais: levanta todos os sistemas utilizados, sua funo, se atendem s ne- cessidades de seus usurios, a qualidade e confiabilidade das informaes fornecidas. Infraestrutura: identifica as condies de trabalho das unidades dos rgos (recursos materiais). Recursos financeiros: compara o oramento disponvel com o necessrio para a realizao das aes propostas e a capacidade de execuo fsico-financeira da rea. Articulao: analisa a capacidade de articulao do governo entre suas unidades e externa- mente (atores e parceiros estratgicos e sociedade civil). Legislao: verifica a pertinncia e consistncias das diretrizes legais que orientam os traba- lhos desenvolvidos nos rgos. 2.3. Problemas identificados no Modelo de Gesto do Governo de Mato Grosso Os resultados das anlises realizadas com a totalidade de entrevistados e o grupo de trabalho apre- sentam diversos obstculos que impedem o governo de atender ao agronegcio mato-grossense. Os principais deles sero apresentados a seguir. 2.3.1. Problemas na Formulao da Agenda Estratgica Uma boa agenda de governo deve buscar ser legtima (alcanar a satisfao das expectativas das par- tes interessadas), coerente (seus elementos programticos objetivos, programas e projetos devem convergir entre si e com os resultados das polticas pblicas em geral), e ter um foco claro, selecionando um conjunto minimamente relevante e significativo. Com base nesses fundamentos, foram analisadas prticas que atualmente formam os processos de formulao estratgica do Governo de Mato Grosso, quando foi possvel constatar diversas deficincias.
  40. 40. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201440 A estratgia do Governo de Mato Grosso carece de legitimidade, afirmao que se ratifica pelo no reconhecimento e valorizao dos instrumentos legais de planejamento (PPA e outros), por parte dos interessados. Carece, em especial, de foco e prioridade, ofuscando o que essencial para o Estado e seus cidados mediante necessidades que emergem a todo instante, sem prvia anlise de sua coerncia ou relevncia. As estruturas de governo, especialmente aquelas que atendem ao agronegcio, no tm um norte ao qual se alinhar, o que provoca, no mbito do governo, a gerao de iniciativas frag- mentrias e descoordenadas. Em sntese, possvel afirmar que as estruturas de governo se ressentem de uma estratgia definida, o que leva a um excesso de mudanas de foco e prio- ridades, algo que tambm se corrobora nos frequentes contingenciamentos oramentrios. 2.3.2.Problemas nas Estruturas Implementadoras A anlise das estruturas implementadoras visa proporcionar um diagnstico acerca das principais deficincias dos rgos governamentais que mais atendem ao agronegcio. No- vamente foi possvel observar diversos pontos que apontam para uma fragilidade generali- zada nos elementos de gesto, sobretudo em trs deles: estratgia; recursos financeiros e articulao; elementos com graves problemas na maioria dos rgos. Os elementos de gesto processos e servios de trabalho, recursos humanos e infraestru- tura tambm se destacam com fragilidades frequentes na maior parte dos rgos. Alm disso, vlido destacar que trs secretarias crticas para o desenvolvimento do agronegcio mostram-se com diversos gargalos Setpu, Sema, Sedraf. A seguir esto apresentadas as anlises de cada um dos elementos de gesto, que foram diagnosticados luz da atuao dos rgos que integram as estruturas do governo:
  41. 41. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 41 Problemas dos rgos no elemento de gesto: Estratgia Na dimenso Estratgia foram assinaladas como principais dificuldades a falta de definio das priori- dadesdegoverno;afaltadelegitimidadedasaesepolticaspblicas;afaltademonitoramentodas aesdegovernoedaavaliaodoalcancedeseusresultados(dosimpactoscausados). Tambm foi enfatizada como grande obstculo boa gesto a falta de responsabilizao e presta- o de contas no Governo de Mato Grosso e o enfraquecimento dos rgos de controle. rgosdemaiorcriticidade:Seplan,Sefaz,Ager,Setpu,Sicme,Sema,Sedraf,Intermat,Empaer. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Modelo Organizacional Na dimenso Modelo Organizacional foram assinaladas como principais dificuldades a sobreposi- o de funes e a excessiva centralizao decisria nos rgos que cumprem funes fiscalizat- rias.Emespecial,paraaSema,foiapontadoseusombreamentocomosrgos:Ibama,Consema,e os limites pouco claros entre as legislaes federal, estadual e municipal que regem o tema. rgos de maior criticidade: Setpu, Sema, Sedraf, Intermat. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Processos e Servios Na dimenso Processos e Servios foram assinaladas como principais dificuldades a falta de padroni- zao dos processos de trabalho, que geram retrabalho e incorreo nos servios prestados; a falta de eficincia e eficcia na entrega dos produtos e servios (tempo excessivo e qualidade abaixo do necessrio); e, ainda, a falta de otimizao dos processos de trabalho. Tambm foi apontado como obstculoboagestooaltocustodosserviosprestados,emespecialdaSemaeSefaz. rgos de maior criticidade: Ager, Setpu, Sicme, Sema, Sedraf, Intermat. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Recursos Humanos Na dimenso Recursos Humanos, embora para alguns rgos tenha sido apontada a fal- ta de mo de obra, as principais dificuldades assinaladas foram: falta de definio das competncias das funes; falta de qualificao dos servidores; e, ainda, necessidade de se realizar um estudo de dimensionamento das equipes. rgos de maior criticidade: Ager, Setpu, Sema, Sedraf, Intermat, Empaer.
  42. 42. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201442 Problemas dos rgos no elemento de gesto: Sistemas Informacionais Na dimenso dos Sistemas Informacionais foram assinaladas como principais dificuldades: a falta de comunicao (integrao) entre os sistemas estaduais (e, entre, em alguns casos, os sistemas estaduais e federais); e a falta de um sistema adequado para gesto de projetos (mo- nitoramento das obras). Tambm se constatou que os sistemas so subutilizados, prevalecendo o uso de papel s ferra- mentas de informao, o que pode ser, possivelmente, decorrente da falta de qualificao dos servidores para operar os sistemas. rgos de maior criticidade: Setpu, Sema, Intermat. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Recursos Financeiros Na dimenso dos Recursos Financeiros foram assinaladas como principais dificulda- des: o constante contingenciamento linear das aes de governo e a inadequao do oramento em alguns rgos. Alm disso, apontou-se a necessidade de se realizar na prxima gesto uma reorganizao oramentria do Estado. rgos de maior criticidade: Seplan, Ager, Setpu, Sicme, Sema, Sedraf, Indea, Empaer. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Infraestrutura Na dimenso Infraestrutura foram assinaladas como principais dificuldades: a falta de estrutura adequada para o desenvolvimento das atividades (materiais em geral: vecu- los para apoio, dirias, passagens, verificao in loco); a ausncia de condies bsicas para atendimento ao cidado e desenvolvimento dos servios; e a localizao inade- quada (prdio antigo, espao dividido com outras quatro secretarias), alm de muitas vezes os rgos estarem distantes do produtor rural. rgos de maior criticidade: Ager, Setpu, Sedraf, Indea, Intermat, Empaer. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Articulao Na dimenso Articulao foram assinaladas como principais dificuldades: no se articula devidamente com a sociedade (pouca interao); em especial, no se articula com aqueles que pagam impostos ao governo (produtores rurais, sindicatos, prefeituras).
  43. 43. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 43 Alm disso, tambm foi considerado como um grande obstculo ao desenvolvimento da gesto do Estado a falta de articulao com os parceiros: entre rgos de governo, representantes da sociedade civil organizada, rgos federais. rgos de maior criticidade: Seplan, Sefaz, Ager, Setpu, Sicme, Sema, Sedraf, Empaer. Problemas dos rgos no elemento de gesto: Legislao Na dimenso Legislao foram assinaladas como principais dificuldades: o excesso de atos legais; problemas de sobreposio de funo entre os rgos; a pouca clareza de normas e atos; as constantes modificaes ao longo do exerccio; desalinhamento de alguns acordos firmados no Confaz; consequncias dos pactos federativos (ex.: Lei Kan- dir); e, por fim, os sombreamentos existentes nas questes referentes aos incentivos fiscais, entre Assembleia e Sicme. rgos de maior criticidade: Sefaz, Sicme, Sema. 2.3.3. Problemas no Monitoramento e Avaliao Omodelodemonitoramentoeavaliaodosesforoseresultadosdogovernotambmnoestdefinido, embora o Estado seja munido de ferramentas e sistemas informacionais para realiz-lo. A avaliao de resultados precria e ocorre anualmente, para atender aos atos legais, deixando de ser utilizada para a responsabilizao,tomadasdedecisesestratgicasecorreesderumo.Aprestaodecontastambm deficitria, sendo a sociedade e outras entidades externas pouco atuantes e participantes da gesto governamental.Destaforma,possvelafirmarqueasatividadesdetransparnciaeresponsabilizaodo governo apresentam poucos e tmidos avanos.
  44. 44. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201444
  45. 45. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 45 A capacidade de Mato Grosso se tornar um Estado mais competitivo est intrinsecamente ligada resoluo dos seus graves problemas, amplamente discutidos nas sees anteriores. Como j dito, o produtor rural mato-grossense enfrenta diversos e variados desafios para manter seu negcio, fato que, alm de afetar a sobrevivncia daqueles j instalados no Estado, cria foras contrrias atrao de novos potenciais produtores ou indstrias, tudo isso barrando o desenvolvimento do Estado. Diante desse cenrio, torna-se imperativo buscar e colocar em marcha uma srie de alternativas, focadas na mitigao dos problemas e na captura das vastas oportunidades para as quais o Estado vocacionado. ESTRATGIAS E ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGCIO DE MATO GROSSO 3
  46. 46. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201446 Esta seo apresenta as alternativas pensadas e construdas pelo Pensar MT. Mais do que uma lista de sugestes, o projeto pretende oferecer uma lgica de desenvolvimento do Estado pela perspectiva do agronegcio. Nesse sentido, estrutura um conjunto coerente e convergente de alternativas, organiza- das no painel a seguir, representadas pela figura 8, que formam a Agenda Positiva Pensar MT/2014: O painel pretende comunicar a relao causal entre a Estratgia de Desenvolvimento, as Bases do Desenvolvimento e o Modelo de Gesto do Governo de Mato Grosso. Essa relao se d pela premis- sa de que uma Estratgia de Desenvolvimento s se viabiliza a partir de algumas condies crticas e estruturantes e, neste sentido, a resoluo dos estrangulamentos crticos nos temas tributrio, infraestrutura, meio ambiente, fundirio, defesa agropecuria, conhecimento e inovao precisa ser entendida como basilar no desenvolvimento de Mato Grosso. Agenda Positiva Pensar MT/2014Figura 8
  47. 47. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 47 Da mesma forma, tais estrangulamentos s sero mitigados se os gargalos crticos no mode- lo de gesto do Governo de Mato Grosso forem resolvidos, alis, a maior parte das causas geradoras dos estrangulamentos reside no prprio lcus governamental. O raciocnio inverso tambm vlido. Qualquer plano de desenvolvimento no se sustenta se nele no estiver implcita uma estratgia que traduza claramente o que se ambiciona. Nesta tica, a estratgia multidimensional. Primeiro, serve para nortear todas as aes em todos os temas prioritrios. Segundo e por consequncia, ela acaba por orientar a mquina pblica (e os demais atores externos) para os resultados pretendidos. Por fim, mas no me- nos relevante, a estratgia e a Agenda Positiva em si tm a funo de comunicar claramente sociedade, nos seus mais variados atores, qual a viso de futuro do Estado e, assim, au- mentar seu grau de atratividade. Na sequncia, segue uma breve explanao acerca das perspectivas que compem a Agenda Positiva Pensar MT 2014 e as alternativas delineadas. Cabe remarcar que algumas alternativas esto propostas mais em formato de diretrizes e menos em formato de plano de trabalho, dada a natureza deste documento e o momento em que se est propondo. Seguindo a lgica causal acima defendida, primeiramente esto apresentadas as alterna- tivas/diretrizes que compem a perspectiva Estratgia de Desenvolvimento, em seguida esto expostas as alternativas que formam as Bases do Desenvolvimento, e por fim, en- cerrando este documento, so apresentadas as alternativas para o Modelo de Gesto de Mato Grosso. 3.1. Estratgia de Desenvolvimento Na perspectiva Estratgia de Desenvolvimento residem os eixos de conduo do aumento da produo, que devem ser entendidos sob trs ticas: Intensificao, Verticalizao e Diversificao. Embora, inicialmente, esses eixos aparentem ser meramente conceituais, neles se guardam importantes orientaes prticas, que devem nortear as aes que com- pem a perspectiva Bases do Desenvolvimento e devem balizar a configurao do Modelo de Gesto e a atuao do Governo de Mato Grosso. A resoluo das questes estruturais, por si, j traria ganhos expressivos ao ambiente mato- -grossense, entretanto, somente a resoluo dos gargalos no suficiente para o desen- volvimento do Estado; h que se ter uma viso de futuro em que se combinem elementos como vocao, inovao e viso de longo prazo. A Estratgia de Desenvolvimento busca justamente traduzir estes elementos.
  48. 48. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201448 3.1.1.Eixo da Intensificao O conceito de Intensificao traz implcitas as enormes oportunidades que o Estado tem de expandir a produo do agroneg- cio, apenas redirecionando o uso de reas, sem que isso demande qualquer aumento de desmatamento. Diversos estudos de- monstram o potencial de crescimento de vrias regies do Estado, conforme dados do Imea (2012) que apontam para um po- tencial de 13.492,673 (ha) em reas aptas para o avano da agricultura. Entretanto, faz-se necessrio que este cres- cimento ocorra de forma planejada e que leve em conta duas premissas: crescer po- tencializando as regies mais subdesenvol- vidas do Estado e expandir mantendo o foco naquilo que ele tem de maior prontido e vocao. Com relao ao foco da Intensificao, uma das possibilidades (mas no se limitando a ela) canalizar o movimento de expanso tendo o cultivo da soja como indutor, dada a vocao e a prontido do Estado para pro- duo desta cultura. Alm disso, o cultivo da soja traz corolrios positivos, quando contribui para melhorar as condies fsico- -qumicas do solo. Adicionalmente, o movimento de Inten- sificao deve ter em conta as vantagens competitivas que as alianas geralmente proporcionam. Nesse sentido, movimentos que incentivem o associativismo e o coope- rativismo devem ser entendidos como prio- ritrios e estratgicos, tendo em vista os ganhos de escala, de fortalecimento institu- cional, acesso a crdito, compartilhamento de infraestrutura e distribuio de riscos. No obstante, deve-se reforar a importn- cia da resoluo dos gargalos estruturantes para viabilizao da estratgia de Intensi- ficao, j que um aumento da produo exigir um aumento das capacidades estru-
  49. 49. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 49 turais. Nesse contexto, vlido observar alguns dados e projees de produo: em 2013-2014, a produo de soja em Mato Grosso alcanou 26 milhes/t e, segundo projees do Imea, em 2022, a produo deve se aproximar dos 40 milhes/t, o que representa um crescimento acima dos 60%. Na mesma esteira, Mato Grosso tem uma grande produo de segunda safra. Neste vis de produo, sem contar o algodo e gi- rassol, apenas o milho chegou a 22 milhes de toneladas em 2013. Este crescimento, se confirmado, juntamente com as iniciativas de intensificao, trar enormes demandas a toda infraestrutura estadual, tornando ainda mais imperativa a resoluo dos gar- galos estruturais enfrentados pelo Estado.
  50. 50. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201450 3.1.2.Eixo da Verticalizao J o eixo da Verticalizao diz respeito ideia da agroindustrializao e necessidade de se aumen- tar a agregao de valor aos produtos primrios dentro de Mato Grosso. Conforme nmeros do Imea, a produo da soja na safra 2013/2014 se aproxima dos 26 milhes/t, sendo apenas pouco mais de 8 milhes/t industrializadas no Estado. No caso do milho segue-se a mesma tendncia. Dos 17 milhes/t produzidos na segunda safra somente 3,3 milhes/t perma- necem no Estado para serem industrializados. fato que nos ltimos anos foram realizados alguns investimentos na tentativa de alavancar o grau de industrializao do setor, contudo, apesar dos avanos, h muito que se evoluir, basta tomar como comparao outros estados. Dentro do cenrio internacional o estado de Iowa ganha desta- que por ser o maior produtor americano de gros, ser um grande produtor de soja e etanol, alm de possuir uma grande indstria pecuarista. O estado consegue reunir grandes indstrias para o processamento dos alimentos e especializadas na construo de mquinas agrcolas. A referncia de Iowa certamente enriquecedora, dadas as diversas semelhanas que guarda com Mato Grosso. Alguns estudos realizados pela Aprosoja demonstram essas similitudes, dentre as quais se destacam a populao (aproximadamente 3 milhes de habitantes em ambos), a distncia mdia dos portos (aproximadamente 1,7 mil km em ambos) e a clara vocao de ambos para o agronegcio. Se por um lado estes estudos revelam semelhanas, por outro expem enormes disparidades. Na m- dia, o PIB, bem como o PIB/per capita de Iowa cinco vezes maior que o de Mato Grosso. O grau de industrializao tambm abissalmente maior em Iowa, que ocupado por inmeras indstrias de transformao dos diversos segmentos do agronegcio, como, por exemplo, o nmero de frigorficos, que se aproxima de 200, enquanto que em Mato Grosso este nmero no passa de 30. O sucesso de Iowa fruto de seu modelo rural, que se baseia em um plano de desenvolvimento capaz de atrair fortes investimentos no setor, formando um contexto que se estrutura base de mecanizao intensiva, excelente infraestrutura para o escoamento da produo (estradas asfal- tadas e ferrovias cortam todo o territrio) e biotecnologia de sementes e herbicidas, tudo isso permitindo a reduo de um dos insumos mais caros e complexos: a mo de obra. Em Mato Grosso, diversos so os argumentos que indicam a necessidade de o Estado aumentar o grau de industrializao do agronegcio. De partida, possvel observar que a Verticalizao pode aumentar a renda do Estado e do produtor, tendo em vista os preos e as margens atreladas aos produtos industrializados.
  51. 51. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 51 OutroimportantebenefciosereferereduodafortedependnciadoEstadodosprodutosprimrios e consequente mitigao dos efeitos da Lei Kandir, um dos entraves capacidade de investimento, haja vista os frequentes problemas com os repasses federais. O adensamento das cadeias produtivas tambm traz incontveis vantagens ao processo de desenvol- vimento regional, seja na potencializao de clusters produtivos ou dos arranjos produtivos locais, seja nas economias oriundas da reduo das rotas de escoamento e na economia de escala. Pases, regies e estados no obtm xito competitivo em indstrias isoladas e sim em agrupamentos de indstrias ligadas por relaes verticais. Quanto mais os agrupamentos se desenvolvem, mais os recursos da economia tendem a fluir para eles, alm das vantagens j citadas, como a reduo dos custos de transao, reduo das distncias para o abastecimento, pelo aproveitamento das comple- mentaridades e a obteno mais eficiente e eficaz de insumos, tudo isso contribuindo para o aumento da produtividade Um projeto tpico de Verticalizao inicia-se pela identificao de quais elementos, a montante e a jusante, constituem os possveis adensamentos da cadeia produtiva. Na sequncia, ento buscam-se as oportunidades inerentes aglomerao produtiva, como o compartilhamento de tecnologias, infor- maes, capital e estrutura, influenciando a competitividade do Estado atravs do aumento da produ- tividade, pelo fortalecimento da capacidade de inovao e pelo estmulo formao de novas cadeias.
  52. 52. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201452 Em suma, a industrializao to oportuna quanto necessria em Mato Grosso. Entretanto, este movimento deve se realizar de forma planejada e ordenada, tendo como premissas as seguintes diretrizes: criar uma poltica de desenvolvimento e atratividade com viso de longo prazo e liderada pelo prprio governador; alinhar as iniciativas pblicas vocao estadual; criar estmulos e induzimentos aos atores privados ligados vocao estadual; alinhar programas e fundos poltica de desenvolvimento; alinhar as secretarias estratgicas (Sefaz, Seplan, Sicme, Sedraf) na formulao e execuo dos programas e fundos; utilizar a guerra fiscal como ltima estratgia de atrao; formular poltica industrial alinhada vocao estadual; garantia dos recursos do FCO e FDCO como instrumento de atrao de investimentos indus- trializao do Estado. 3.1.3.Eixo da Diversificao A Diversificao o eixo portador de maior horizonte de futuro. Tendo sido criados as po- lticas e os planos que comporo os eixos Intensificao e Verticalizao, h que se buscar novas estratgias e novas cadeias de produo. A ideia de diversificar se baseia em trs pressupostos: primeiro, reduzir, a longo prazo, a dependncia das culturas prevalecentes; segundo, mitigar os riscos sistmicos conjunturais inerentes a qualquer atividade econmica; e terceiro, mitigar, tambm a longo prazo, os ris- cos do esgotamento produtivo de determinadas culturas, de forma a permitir o crescimento e desenvolvimento sustentado do Estado. A busca de novas cadeias produtivas potenciais exige estudos aprofundados, capazes de apon- tar precisamente por quais novos caminhos os investimentos devem fluir. No obstante, j
  53. 53. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 53 possvel apontar algumas possibilidades que parecem configurar um cenrio vivel de Diver- sificao, sobretudo em cadeias mais aderentes realidade dos pequenos produtores. Nesse sentido e sem exaurir todas as possibilidades, seguem abaixo algumas reflexes, trazidas ao longo do Pensar MT, a respeito de potenciais novas cadeias que podem ilustrar a ideia da Di- versificao, a saber: o leite, o leo de palma, a aquicultura com destaque para a piscicultura.
  54. 54. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201454 Com relao cadeia leiteira, Mato Grosso contava em 2012 com aproximadamente 20 mil propriedades leiteiras e respondia por 2,3% da produo nacional de leite, ocupando a 10 posio no ranking brasileiro (Famato, 2012), sinalizando um enorme potencial de crescimento, notadamente para pequenas propriedades, tendo em vista sua caracterstica de baixo capital intensivo, sua capacidade de gerar emprego e renda. Para tanto, conforme reconhece o prprio governo, h que se aumentar os investimentos em pesquisa, mo de obra, apoio tcnico, acesso ao crdito e no prprio adensamento da cadeia. Neste sentido, a Famato publicou em 2012 o estudo denominado Diagnstico da Cadeia Pro- dutiva do Leite de Mato Grosso, desenvolvido pelo Imea, gerando um raio X da produo lei- teira no Estado, visando subsidiar a elaborao de projetos especficos para a cadeia leiteira. Dentro do mercado de leos vegetais, tem-se a expanso do leo de palma, que ultrapassou recentemente o leo de soja e hoje o leo vegetal mais produzido, consumido e exportado no mundo. Atualmente, a Malsia um dos principais exportadores desse tipo de produto, juntamente com a Indonsia responsvel por 85% da produo mundial. A produo mundial do leo de palma cresce em torno de 8% ao ano, contra 5% da fabri- cao de leo de soja, fato que o torna muito atrativo no sentido de ser considerado como alternativa futura de explorao em Mato Grosso. Outra vantagem do leo de palma em relao ao leo de soja a produtividade por hectare, que chega a ser 10 vezes maior que a produo de leo de soja. Tem-se ainda em Mato Grosso a vantagem natural, j que ocupa a mesma linha do equador da Malsia, notadamente favorvel produo desse tipo de cultura. A demanda por leos vegetais poder aumentar ainda mais em virtude da diversificao da matriz energtica e pelo uso do biodiesel, responsvel por reduzir a emisso de gs carbnico na atmosfera, alm de agregar valor produo de soja. Alm do mais, a introduo do bio- diesel aumenta a participao de fontes limpas e renovveis na matriz energtica do Brasil. Outra cultura que mostra bastante potencial a aquicultura, com destaque para a piscicul- tura, que vem sendo incentivada e fomentada pela Lei n 9.408, o Pr-Peixe (2011). De parti- da, uma importante vantagem desse tipo de cultura o fato de ser principalmente praticada por pequenos produtores. A expectativa que Mato Grosso se torne em alguns anos o maior produtor de peixes no Brasil. Hoje o Estado ocupa o quinto lugar no ranking da produo de peixes de gua doce, segundo o Ministrio da Pesca. O distrito de Primavera do Norte, no municpio de Sorriso,
  55. 55. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 55 abriu a maior planta frigorfica de peixes nativos do Brasil; a previso de que em poucos anos o Estado produza 700 mil toneladas, o que iria representar 70% da produo nacional. O sucesso na criao de peixes na regio se apoia em fatores como abundncia de gua e farta matria-prima para produo de rao.
  56. 56. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201456 3.2. Bases do Desenvolvimento As alternativas/diretrizes que visam formar as Bases do Desenvolvimento esto organizadas e temati- camente apresentadas na sequncia. Tais alternativas/diretrizes foram pensadas a partir de um dilogo amplo e estratgico com os atores que participaram ou interagiram com o Pensar MT. Centenas de proposies foram trazidas, permanecendo vlidas aquelas que potencialmente demonstram maior capacidade de amortecer as situaes problemticas e de atender s demandas estratgicas, descri- tas na seo anterior. Alm disso, cada uma das alternativas foi analisada luz da governabilidade do Governo de Mato Grosso, levando-se em considerao aspectos que esto no raio de ao do Estado e aspectos para alm de suas competncias, esperando-se, para estes casos, uma postura de maior articulao por parte do governo. 3.2.1. Alternativas para o Tema Tributrio As proposies aqui refletidas tm como ambio oferecer algumas alternativas/diretrizes capazes de tornar o ambiente tributrio mato-grossense menos oneroso, complexo e inseguro, conduzido por um governoqueprimepormaioreficincianosgastos(eaumentodacapacidadedeinvestimento)epersigaa transparncia como um valor. Nesse sentido, segue abaixo o conjunto de alternativas/diretrizes definidas para cada um dos subtemas. Sistema de Arrecadao estabelecer polticas mais flexveis de arrecadao; promover a desburocratizao e a simplificao dos processos tributrios, sobretudo no que con- cerne s obrigaes tributrias acessrias; promover maior estabilidade e transparncia na dinmica tributria; reduzir os prazos para obteno de licenas, autorizao e de informaes; garantir a unicidade de entendimento tributrio do Estado quanto a determinadas matrias, evi- tando que cada servidor tenha um entendimento diverso sobre cada tema. Execuo Oramentria colocar em prtica alguns dos preceitos estabelecidos na Minuta da Lei da Eficincia na Gesto Pblica, discutida e proposta em fevereiro de 2014 no mbito do Estado; limitar aumento dos gastos com folha de pagamento dos servidores;
  57. 57. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 57 impedir aumento da folha de pagamento acima do percentual do aumento do ICMS; aprovar investimentos somente a partir de projetos executivos previamente estabe- lecidos; estabelecer metas e incentivos de desempenho para servidores e rgos; estabelecer critrios estratgicos de contingenciamento; assegurar a concluso de obras j em andamento, com eficincia e celeridade; reinstituir o Conselho do Fundo Estadual de Transporte e Habitao (Fethab) e re- adequ-lo s suas finalidades originais, de financiar o planejamento, a execuo, o acompanhamento e avaliao de obras e servios de transporte e habitao em todo o territrio mato-grossense. Transparncia (re)institucionalizar os Comits de Gesto Fiscal; ampliar o dilogo entre governo e contribuinte de forma a aumentar a aproximao; estabelecer mecanismos de promoo da transparncia da gesto fiscal; divulgar permanentemente informaes acerca do Plano de Gesto, dos Planos de Trabalho Anual e Execuo Oramentria; prestar continuamente contas acerca da real situao fiscal do Estado. 3.2.2.Alternativas para o Tema Infraestrutura A Infraestrutura se apresenta como um dos principais condicionantes s Estratgias de Desen- volvimento. invivel imaginar que qualquer projeto de desenvolvimento seja factvel sem a de- vida infraestrutura. A necessidade de resoluo urgenciada dos gargalos logsticos e energticos ponto pacfico, tendo em vista que o Estado j demonstra evidentes gargalos para atender at mesmo o patamar atual de produo, o que dir para os novos e diferentes patamares de pro- duo ambicionados. Entretanto, vencer estes desafios exige capacidade de governana, algo atualmente com enormes oportunidades de melhoria no mbito do Estado.
  58. 58. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201458 Sendo assim, as proposies aqui oferecidas buscam no refletir apenas as alternativas para as questes de Logstica e Energia, mas tambm o modo como elas poderiam ser viabilizadas. Para tanto, alm das questes da malha rodoviria e da prpria energia em si, dois outros sub- temas compem este conjunto de proposies. Trata-se dos subtemas Agncia de Desenvolvi- mento Logstico e Parcerizaes. A Agncia, conforme as competncias descritas abaixo, tm como misso justamente dar governana s aes e s organizaes que tratariam do tema. J o movimento de Parcerizaes ambiciona trazer um projeto coordenado e consistente de arti- culao com outros atores (pblicos e privados), de maneira a gerar estratgias para fomentar a capacidade de investimento do Governo de Mato Grosso, que atualmente d sinais claros de estrangulamento. Agncia de Desenvolvimento Logstico Criar uma Agncia de Desenvolvimento Logstico, com personalidade jurdica de direito pblico, patrimnio prprio, autonomia administrativa e financeira, vinculada Secretaria de Transporte e Pavimentao Urba- na, tendo as seguintes competncias: planejar e executar projetos de engenharia, construo, adaptao, reparo, restaurao, ampliao e reforma que favoream a logstica do Estado; fomentar e viabilizar projetos das rodovias integrantes da malha viria do Estado e de outras que lhe forem delegadas; prestar assessoramento e consultoria tcnica aos municpios; executar e coordenar procedimentos licitatrios de projetos de interesse logstico; planejar a mdio e longo prazo o desenvolvimento da infraestrutura logstica do Estado; articular rgos e potencializar parcerias; criar mecanismos de incentivos para projetos de infraestrutura logstica de Mato Grosso; acompanhar as obras logsticas em execuo no Estado; realizar monitoramento in loco das obras em andamento (nos moldes do Programa Estra- deiro do Movimento Pr-Logstica); marcar posio e influenciar na formulao e conduo de projetos logsticos federais.
  59. 59. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 59 oportuno ressaltar que a viabilidade e a efetividade desta agncia dependem do aprimora- mento da capacidade de governana da Setpu, caso contrrio, riscos de captura, de perda de autonomia, de desvirtuamento e de aumento de gastos sem resultados, sero potencializados, o que colocaria a Agncia nas mesmas condies em que se encontra a maior parte das autar- quias governamentais de Mato Grosso. Considerando todo o exposto, uma das alternativas para o cumprimento de algumas das atribuies acima seria a utilizao do Observatrio Social. Parcerizaes implantar um amplo Programa Estadual de Parcerias Pblico-Privadas (PPPs) em Mato Grosso, que tenha como objetivo vencer a escassez dos recursos pblicos para investimento em infra- estrutura; promover uma melhor otimizao das escolhas polticas para a realizao de investimentos em projetosdeinteressepblico,motivandooincrementodacapacidadedoEstadodesearticularcom a iniciativa privada; implementar um modelo estadual de parcerizao que estabelea diretrizes e procedimentos a serem observados no planejamento, proposio, modelagem, aprovao, contratao e monitora- mento de projetos de PPPs; assegurar a existncia de um arcabouo institucional necessrio para se empreender os projetos dePPP,mobilizandoosdiversosrgosinternosdoGovernodeMatoGrossoecriarentidadesaptas a participar das atividades, tais como: Conselho Gestor, Unidades Gestora e Setoriais e Fundo PPP; instituir um Conselho Gestor de PPP, presidido pelo governador do Estado e composto por secre- trios de Estado, tendo como competncia elaborar o Plano Estadual de Parcerias Pblico-Privadas, bemcomoaprovareditais,contratos,seusaditamentoseprorrogaes,devendorealizaraavaliao geral deste plano; criar uma Unidade Gestora, tendo como principal competncia executar atividades operacio- nais e de coordenao de PPP, bem como assessorar o Conselho e disseminar a metodologia e os conceitos; criar Unidades Setoriais, para atuar como ncleos operacionais internos de cada secretaria, res- ponsveis pelo desenvolvimento de aes no mbito do Programa PPP, com a alocao de equipe multidisciplinar de tcnicos, que podem assumir as atribuies de coordenao, disseminao, arti- culao,identificaodeoportunidadesdenovosprojetoseacompanhamentodesdealicitaoat a execuo dos contratos das PPP;
  60. 60. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201460 criar o Fundo PPP, com o objetivo de dar sustentao financeira ao Programa PPP, podendo ter como recursos as dotaes consignadas no oramento, rendimentos, do- aes, recursos provenientes da Unio. O fundo poder assumir a atribuio de pagar as prestaes pblicas aos parceiros privados e oferecer garantias reais que assegurem a continuidade do desembolso pelo Estado dos valores contratados. Malha Rodoviria: Expanso, Restaurao, Manuteno viabilizar a expanso de 7.000 km de rodovias estaduais, de acordo com o preconiza- do pelo Programa Rotas Estaduais do Agronegcio (2012), cujos trechos esto sendo atualizados pelo Imea; criar um programa estratgico de Recuperao e Manuteno Rodoviria com a pro- posta de recuperar e manter a rede rodoviria pavimentada atravs de uma nova forma de contratao e gerenciamento dos servios, avaliando o desempenho das contrata- das de modo a: - estimular o crescimento econmico e atrair novos investimentos para o Es- tado; - otimizar a distribuio e a aplicao dos recursos; - abranger trechos de menor fluxo (sem viabilidade de concesso); - criar grandes pacotes para atrair grandes empresas; - aferir a efetividade dos contratos, atravs de Padres de Desempenho; - diminuir os custos de transportes; - possibilitar a participao da sociedade na fiscalizao do padro de conser- vao definido pelo Governo de Mato Grosso; idealizar um novo sistema de gerenciamento da recuperao e manuteno da malha, que torne mais eficaz a realizao desses servios e permita oferecer rodovias em con- dies mais adequadas de segurana e conforto para os usurios; romper o crculo vicioso dos atuais contratos de manuteno que muitas vezes geram repetidas operaes tapa-buracos sendo todo o recurso disponvel aplicado em ativi- dades provisrias, no sistemticas, sem planejamento ou priorizao; mitigar as descontinuidades de recursos que resultam em um deficiente padro de manuteno; ampliar o prazo de durao dos contratos e estabelecer padres de desempenho a serem seguidos pela contratada;
  61. 61. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 2014 61 realizar um estudo aprofundado das experincias de concesso j realizadas nos es- tados do Brasil e pela prpria federao, a fim de instituir a Poltica Estadual de Con- cesso de Rodovias, como uma das alternativas para a manuteno continuada das rodovias e de garantia dos investimentos necessrios; utilizar a garantia da obra de forma que aquele que for responsvel por ela garanta sua qualidade, evitando-se novas licitaes para recuperao de obras recm-realizadas.
  62. 62. PROJETO PENSAR MATO GROSSO - 201462 Energia incentivar o investimento em redes de distribuio de energia para reas prioritrias do Estado; aumentar a segurana energtica por meio da diversificao da fonte geradora; desenvolver poltica pblica para estimular o investimento em fontes renovveis de energia; ampliar o conhecimento por parte do produtor rural da Resoluo n 482/2012 da Aneel (Net Metering) que visa incentivar gerao distribuda por pequenas fontes re- novveis para consumo prprio, aumentando a gerao de energia renovvel em pe- quena escala; desonerar a tributao (ICMS, PIS/Pasep, Cofins) da energia gerada para o consumo pr- prio, a partir de fontes renovveis, a fim de se const