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INTRODUÇÃO 1 TESSALONICENSES Autoria A igreja primitiva e os pais da igreja defenderam, desde os primórdios, a autoria paulina desta primeira carta aos tessalonicenses. Desde o ano 140 d.C., quando Marcião registrou em sua obra o fato de Paulo ter escrito à Igreja em Tessalônica, em sua estada em Corinto, até hoje, não houve muitas divergências quanto à autoria dessa carta, que é considerada, ao lado de Gálatas, a mais antiga epístola canônica de Paulo. Paulo, Silas e Timóteo chegaram pela primeira vez à cidade portuária de Tessalônica, durante a segunda grande viagem missionária (At 17.1-14). Depois de Filipos, foi Tessalônica o segundo lugar aonde o Evangelho chegou no continente europeu. Pelo fato de a mensagem e a pregação do apóstolo de Cristo ter contribuído para o esvaziamento da sinagoga da cidade, os judeus passaram a acusar Jasom, o hospedeiro de Paulo, de estar abrigando traidores de César. Os governantes de Tessalônica usaram Jasom como refém para exigir que Paulo e seus discípulos se retirassem da cidade. Assim que chegaram a Atenas, Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalônica a fim de animar os crentes fiéis e enviar-lhe um relatório sobre o estado geral dos cristãos tessalonicenses (1Ts 3.1- 5). Mais tarde, Timóteo se encontrou com Paulo em Corinto, onde foram escritas as duas cartas à Igreja em Tessalônica (3.6). Tudo indica que Paulo passou pouco tempo junto aos tessalonicenses nessa viagem. Alguns estu- diosos afirmam que esse tempo não excedeu a um mês, pois somente três sábados são menciona- dos no livro de Atos dos apóstolos (At 17.2). Todavia, por causa do grande número de gentios, com certeza, o ministério de Paulo foi muito mais extenso naquele momento histórico (1Ts 1.9). O relatório do jovem líder e fiel missionário Timóteo tranqüilizou o coração do pai espiritual dos tessalonicenses, e lhe deu muitas razões para glorificar o nome do Senhor pela condição de boa saúde espiritual que a Igreja em Tessalônica demonstrava, apesar das perseguições e das pressões seculares e pagãs que rondavam a comunidade daqueles crentes. Propósitos A Igreja em Tessalônica foi fundada pelo apóstolo Paulo em sua segunda grande viagem missionária, e compunha-se de convertidos dentre os judeus e muitos gentios vindos do mais absoluto paganismo, entre os quais vários gregos, homens e mulheres da nobreza local (At 17.4). Considerando que Paulo tinha sido obrigado a partir abruptamente de Tessalônica (At 17.5-10), é fácil entender o quanto muitos novos crentes ficaram desnorteados (1.9). Portanto, o alvo principal do apóstolo nessa carta foi proporcionar encorajamento, especialmente a esses novos convertidos vindos do paganismo, a fim de que se mantivessem fiéis, mesmo em meio às mais severas provações e perseguições (3.3-5). Além disso, Paulo se preocupa em oferecer à Igreja uma boa instrução sobre como viver um estilo de vida piedoso (4.1-8), servindo diariamente ao Senhor com um coração sincero e dedicado (4.11,12). Paulo ainda é categórico quanto à salvação e o futuro eterno dos cristãos que morrem antes da segunda vinda gloriosa de Jesus Cristo (4.13,15). Por isso, Paulo dá ênfase à doutrina das últimas coisas (escatologia), e finaliza cada capítulo de 1 Tessalonicenses com uma referência clara a esse retorno do Senhor. No capítulo 4, o apóstolo é ainda mais esclarecedor a esse respeito (1.9,10; 2.19,20; 3.13; 4.13-18; 5.23,24). As duas epístolas aos tessalonicenses são também chamadas de “as cartas escatológicas” de Paulo. As passagens-chave da primeira carta se referem ao arrebatamento da Igreja (4.13-18) e ao Dia do Senhor (5.11). Data da primeira publicação A grande importância das cartas aos tessalonicenses não reside apenas no fato de figurarem entre as primeiras epístolas canônicas de autoria do apóstolo do Senhor e revelarem muito da sua vida e obra junto à Igreja, mas por conterem informações preciosas e seguras sobre o glorioso retorno de Cristo. Paulo produziu sua primeira missiva à Igreja em, Tessalônica, no ano 51 d.C. A arqueologia 1TS_B.indd 2 5/8/2007, 23:28:51

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INTRODUÇÃO

1 TESSALONICENSES

Autoria A igreja primitiva e os pais da igreja defenderam, desde os primórdios, a autoria paulina desta

primeira carta aos tessalonicenses. Desde o ano 140 d.C., quando Marcião registrou em sua obra o fato de Paulo ter escrito à Igreja em Tessalônica, em sua estada em Corinto, até hoje, não houve muitas divergências quanto à autoria dessa carta, que é considerada, ao lado de Gálatas, a mais antiga epístola canônica de Paulo.

Paulo, Silas e Timóteo chegaram pela primeira vez à cidade portuária de Tessalônica, durante a segunda grande viagem missionária (At 17.1-14). Depois de Filipos, foi Tessalônica o segundo lugar aonde o Evangelho chegou no continente europeu. Pelo fato de a mensagem e a pregação do apóstolo de Cristo ter contribuído para o esvaziamento da sinagoga da cidade, os judeus passaram a acusar Jasom, o hospedeiro de Paulo, de estar abrigando traidores de César. Os governantes de Tessalônica usaram Jasom como refém para exigir que Paulo e seus discípulos se retirassem da cidade. Assim que chegaram a Atenas, Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalônica a fim de animar os crentes fiéis e enviar-lhe um relatório sobre o estado geral dos cristãos tessalonicenses (1Ts 3.1-5). Mais tarde, Timóteo se encontrou com Paulo em Corinto, onde foram escritas as duas cartas à Igreja em Tessalônica (3.6).

Tudo indica que Paulo passou pouco tempo junto aos tessalonicenses nessa viagem. Alguns estu-diosos afirmam que esse tempo não excedeu a um mês, pois somente três sábados são menciona-dos no livro de Atos dos apóstolos (At 17.2). Todavia, por causa do grande número de gentios, com certeza, o ministério de Paulo foi muito mais extenso naquele momento histórico (1Ts 1.9).

O relatório do jovem líder e fiel missionário Timóteo tranqüilizou o coração do pai espiritual dos tessalonicenses, e lhe deu muitas razões para glorificar o nome do Senhor pela condição de boa saúde espiritual que a Igreja em Tessalônica demonstrava, apesar das perseguições e das pressões seculares e pagãs que rondavam a comunidade daqueles crentes.

Propósitos A Igreja em Tessalônica foi fundada pelo apóstolo Paulo em sua segunda grande viagem

missionária, e compunha-se de convertidos dentre os judeus e muitos gentios vindos do mais absoluto paganismo, entre os quais vários gregos, homens e mulheres da nobreza local (At 17.4).

Considerando que Paulo tinha sido obrigado a partir abruptamente de Tessalônica (At 17.5-10), é fácil entender o quanto muitos novos crentes ficaram desnorteados (1.9). Portanto, o alvo principal do apóstolo nessa carta foi proporcionar encorajamento, especialmente a esses novos convertidos vindos do paganismo, a fim de que se mantivessem fiéis, mesmo em meio às mais severas provações e perseguições (3.3-5). Além disso, Paulo se preocupa em oferecer à Igreja uma boa instrução sobre como viver um estilo de vida piedoso (4.1-8), servindo diariamente ao Senhor com um coração sincero e dedicado (4.11,12). Paulo ainda é categórico quanto à salvação e o futuro eterno dos cristãos que morrem antes da segunda vinda gloriosa de Jesus Cristo (4.13,15). Por isso, Paulo dá ênfase à doutrina das últimas coisas (escatologia), e finaliza cada capítulo de 1 Tessalonicenses com uma referência clara a esse retorno do Senhor. No capítulo 4, o apóstolo é ainda mais esclarecedor a esse respeito (1.9,10; 2.19,20; 3.13; 4.13-18; 5.23,24). As duas epístolas aos tessalonicenses são também chamadas de “as cartas escatológicas” de Paulo. As passagens-chave da primeira carta se referem ao arrebatamento da Igreja (4.13-18) e ao Dia do Senhor (5.11).

Data da primeira publicaçãoA grande importância das cartas aos tessalonicenses não reside apenas no fato de figurarem entre

as primeiras epístolas canônicas de autoria do apóstolo do Senhor e revelarem muito da sua vida e obra junto à Igreja, mas por conterem informações preciosas e seguras sobre o glorioso retorno de Cristo.

Paulo produziu sua primeira missiva à Igreja em, Tessalônica, no ano 51 d.C. A arqueologia

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moderna descobriu sólida confirmação dessa data ao encontrar o registro desse fato numa inscrição escavada na cidade de Delfos, na Grécia, que data o proconsulado de Gálio entre os anos de 51 e 52 d.C. e, assim, coloca na mesma data a presença de Paulo em Corinto (At 18.12-17).

Esboço geral de 1 Tessalonicenses 1. Ação de graças pelos cristãos em Tessalônica (1.2-4) 2. Provas da revelação e conversão a Cristo (1.5-10) 3. Paulo reafirma o caráter do seu ministério (2.1-12) A. A sinceridade de seus motivos mais íntimos (2.1-6) B. A pureza de suas emoções (2.7,8) C. A fidelidade de sua vida (2.9-12) 4. A recepção por parte da Igreja em Tessalônica (2.13-16) A. A recepção da Palavra de Deus (2.13) B. A perseguição por causa da Palavra (2.14-16) 5. Relacionamento de Paulo com a Igreja (2.17 – 3.13) A. Os objetivos do apóstolo (2.17,18) B. A missão do jovem líder Timóteo (3.1-10) C. Oração pelo encontro com os irmãos (3.11-13) 6. Encorajamentos de Paulo aos tessalonicenses (4.1 – 5.22) A. Quanto a uma vida bonita em Cristo (4.1-4) B. O perigo de uma fé volúvel e impura (4.5-8) C. A bênção de amar aos irmãos (4.9-12) D. As consolações destinadas aos crentes (4.13-18) E. O Dia do Senhor (5.1-11) F. Como deve caminhar a Igreja (5.12-22) 7. Oração final, saudações e bênção apostólica (5.23-28)

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1 TESSALONICENSES

Prefácio e saudação

1 Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus Pai e

no Senhor Jesus Cristo, graça e paz a vós outros.1

Ação de graças pela fé da Igreja 2 Sempre agradecemos a Deus por to-dos vós, mencionando-vos em nossas orações.3 Recordamo-nos constantemente, na presença do nosso Deus e Pai, do vosso trabalho que resulta da fé operosa, do amor fraternal abnegado e da perseve-rança que vem de uma convicta esperan-ça em nosso Senhor Jesus Cristo,2

4 reconhecendo, irmãos amados de Deus, que fostes eleitos por Ele,3

5 porque o nosso evangelho não chegou a vós somente por meio de palavras, mas igualmente com poder, no Espírito Santo, e em plena certeza de fé. Sabeis muito bem como procedemos em vosso benefício quando estávamos convosco.4

6 De fato, vos tornastes nossos discípulos e do Senhor, pois, apesar de muito sofri-mento, recebestes a Palavra com a alegria que vem do Espírito Santo. 7 Dessa forma, vos tornastes o padrão de fé para todos os crentes que estão na Macedônia e na Acaia.5

8 Porquanto, a partir de vós, não somen-te a Palavra do Senhor foi proclamada na Macedônia e na Acaia, mas também a vossa fé em Deus tornou-se conhecida em todos os lugares, a ponto de não

1 Silvano (ou Silas, uma variante do mesmo nome) serviu com Paulo em sua segunda viagem missionária e, juntamente com Timóteo, ajudou o apóstolo a fundar a Igreja em Tessalônica (At 15.22; At 17.1-14). Paulo enfatiza a união vital entre Pai, Filho e Espírito Santo (v.5), em mais uma demonstração clara do relacionamento triunitário que salva, capacita e abençoa com “graça e paz” todo cristão sincero (3.11; 2Ts 1.2,8,12; 2.16; 3.5; Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2; Fl 1.3,4). O título “Senhor” é a tradução grega da expressão hebraica “Jeová”, conforme aparece na Septuaginta (a tradução grega do AT); o mesmo título do Deus da Aliança do AT, que agora, no AT é outorgado a Jesus, o Messias (Cristo) ressurreto e glorificado (Fl 2.9-11).

2 A tríade básica da vida cristã: fé em Cristo, esperança e amor é mencionada em diversas oportunidades ao longo de todo o NT (5.8; Rm 5.2-5; 1Co 13.13; Gl 5.5,6; Cl 1.4,5; Hb 6.10-12; 10.22-24; 1Pe 1.3-8,21,22). A fé em Cristo sempre produz ações práticas de amor a Deus, por sua Igreja e pela humanidade (Rm 1.5; 16.26; Gl 5.6; 2Ts 1.11; Tg 2.14-26). A esperança do cristão não se compara ao mero otimismo ou bom agouro propagados pelas doutrinas de auto-ajuda e motivação pessoal, pois o crente confia na pessoa de Deus, em Cristo Jesus, que retornará, em breve e gloriosamente para viver com sua Igreja por toda a eternidade (v.10; Hb 6.18-20; Cl 1.5).

3 Deus “elege” seu povo. Tanto no AT, onde Deus “escolhe” a nação de Israel para ser o Seu povo, como no NT, onde o Senhor “separa” indivíduos como seus adoradores e discípulos. Esse fato reforça a doutrina bíblica de que a Salvação é dom de Deus e um ato inexplicável da Sua soberania. A “eleição” é o amor de Deus em plena ação (1Pe 1.2; Ef 1.4; Cl 3.12; 2Ts 2.13).

4 O Evangelho não é apenas a apresentação de uma idéia ou conceito teológico, mas a operação do poder da pessoa de Deus; por meio do Espírito Santo, em função do sacrifício vicário de Cristo. A mensagem de boas novas (do Evangelho) pregada por Paulo, Silvano e Timóteo, a qual eles mesmos haviam recebido pela fé é, em primeiro lugar, o Evangelho de Deus, o Pai; uma vez que a própria expressão “Evangelho” significa “Cristo, o Filho de Deus, a Palavra” (Jo 1.1-3). A convicção (esperança com certeza) que há no coração dos missionários pregadores e nos tessalonicenses não advém deles próprios, mas da ação do Espírito Santo. Por isso, pregar o Evangelho não é apenas transmitir uma informação, é invocar a pessoa do Espírito de Cristo para ministrar à audiência, inclusive ao pregador, a vontade de Deus (2.8; 3.2; Rm 15.13-19; 1Co 2.4,5).

5 Paulo percebe no comportamento diário dos tessalonicenses o poder regenerador e transformador do Espírito de Deus. Por isso, qualifica esses cristãos como verdadeiros discípulos, cujo sentido é o de “imitadores” ou “seguidores” de Cristo. Somente a profunda felicidade, produzida na alma do crente, pelo Espírito Santo, é capaz de nos fazer atravessar pelos sofrimentos mais agudos, sem perder a esperança nem a certeza de que Deus é bom e sensível a tudo o que acontece conosco, bem como às nossas respostas (3.7; 1Pe 1.6; 4.13; 2Co 8.2; Fp 2.17; Cl 1.24; At 17.5-14; 1Ts 2.14). Ao receber o Evangelho com a alegria indestrutível daqueles que têm certeza de que Cristo habita em suas vidas, os cristãos de Tessalônica passaram a ser “exemplos” (padrão a ser seguido) e “discipuladores” de todos à sua volta e por toda a Grécia. Desde a Macedônia, a grande província roma-na ao norte, até Acaia, ao sul. Os cristãos da Igreja em Tessalônica compreenderam claramente o significado do discipulado e, observando Cristo na vida de Paulo, passaram a compartilhar do mesmo Cristo e a fazer outros discípulos do Senhor (2Ts 3.9).

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5 1 TESSALONICENSES 1, 2

ser necessário que acrescentemos mais nada a isso. 9 Porque todos eles relatam de que maneira fomos recebidos por vós, e de que maneira vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro, 10 enquanto aguardais do céu seu Fi-lho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira que certamente virá.6

A verdadeira pregação da Palavra

2 Irmãos, vós mesmos sabeis que não foi inútil a visita que vos fi zemos.1

2 Apesar de termos sido maltratados e muito ofendidos em Filipos, como é de vosso conhecimento, nosso Deus nos proporcionou uma disposição corajosa para vos anunciar seu Evangelho em meio a grandes batalhas.3 Pois a nossa exortação não tem origem no pecado nem tampouco em motivos impuros, muito menos temos qualquer intenção de vos enganar;2

4 pelo contrário, visto que somos ho-mens de Deus, aprovados por Ele para nos confi ar seu Evangelho, não prega-mos para agradar as pessoas, mas sim a Deus, que prova o nosso coração.5 A verdade é que jamais nos utilizamos de linguagem bajuladora, como bem sabeis, nem de artimanhas gananciosas. Deus é testemunha desta verdade.

6 Da mesma forma, nunca nos dedica-mos a buscar honrarias, quer da vossa parte ou mesmo de outros. 7 Muito embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter solicitado de vós, o nosso sustento, todavia, agimos entre vós com todo o desprendimento, como a mãe que acarinha os próprios fi lhos.3

8 Assim, por causa do grande afeto por vós, decidimos dar-lhes não somente o Evangelho de Deus, mas igualmente a nossa própria vida, tendo em vista que vos tornastes muito amados por nós. 9 Porque, certamente, vos recordais, caros irmãos, do nosso dedicado e exte-nuante ministério; e de como, noite e dia, trabalhamos para não vivermos à custa de nenhum de vós, enquanto vos comunicávamos o Evangelho de Deus.10 Vós e Deus sois testemunhas de como nos portamos de maneira santa, justa e irrepreensível entre vós, os que credes; 11 E sabeis, ainda, que tratávamos a cada um de vós com a mesma deferência que um pai trata seus fi lhos, 12 suplicando-vos, consolando-vos e oferecendo nosso testemunho, a fi m de que possais viver de modo digno de Deus, que os convocou para o seu Reino e glória.4

A Igreja deve acatar a Palavra13 Outro motivo ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é

6 Paulo, em suas duas breves cartas aos cristãos da Igreja em Tessalônica, dedica importante espaço ao segundo, iminente e glorioso retorno de Cristo (v.10; 2.19; 3.13; 4.13-5.4; 2Ts 1.7-10; 2.1-12). A “ira vindoura” ou “o Dia do Senhor” se refere ao tempo de julgamento que Deus estabelecerá sobre a Terra, em geral, e à raça humana, em particular. Esse será um julgamento para condenação, pois a única forma de absolvição do ser humano é aceitar a graça da Salvação quando esta se lhe apresenta e não rejeitá-la, para que não seja igualmente rejeitado no “último dia” (Is 2.10-22; Sf 3.8; Rm 3.5-6; Hb 6.2; Jd 14-15; Ap 6.17).

Capítulo 21 As melhores credenciais de Paulo, como servo e apóstolo do Senhor, eram suas próprias atitudes no convívio com os cristãos

de todas as igrejas por onde passava. Os versos 1 a 12 apresentam uma espécie de “pequeno manual do ministro”. 2 O vocábulo grego original, aqui traduzido por “enganar”, era costumeiramente aplicado às “iscas” usadas para pegar peixes.

Na época de Paulo, o termo ganhou o sentido de “astúcia aplicada com o objetivo principal de obter vantagens”.3 Os filósofos epicureus e cínicos, assim como seus discípulos, buscavam conquistar adeptos, viajando e pregando com este

objetivo principal, sempre regiamente patrocinados por seus seguidores. Os apóstolos tinham o direito de ter suas necessidades supridas por suas igrejas; contudo, Paulo, nem sempre aceitou esse tipo de cooperação financeira (1Co 9.3-14; 2Co 11.7-11).

4 Paulo nos revela algumas das mais importantes responsabilidades do ministro cristão: A palavra grega parakaleõ significa “implorar” (Rm 12.1), indicando que cabe ao servo do Senhor “buscar dedicada e humildemente” levar a Palavra de Deus a todas as pessoas. A expressão original grega paramutheomai aqui tem o sentido de “encorajar”, “consolar” os mais fracos e deprimidos. E a palavra grega marturomai transmite a idéia de “insistir sem perder o ânimo” com aqueles crentes que parecem sempre depender de um modelo humano para prosseguir na vida cristã.

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que, tendo vós recebido a Palavra que de nós ouvistes, que provém de Deus, acolhestes não como simples ensino de homens, mas sim como, em verdade é, a Palavra de Deus, a qual, com toda certe-za, está operando efi cazmente em vós, os que credes. 14 Tanto é assim, queridos irmãos, que vos tornastes discípulos das igrejas de Deus em Cristo Jesus que estão na Ju-déia. Afi nal, também vós padecestes, da parte de vossos próprios patrícios, as mesmas crueldades que eles, por sua vez, sofreram dos judeus,5

15 os quais não somente assassinaram o Senhor Jesus e os profetas, como igual-mente nos perseguiram. Eles fi zeram o que era mal diante de Deus e são hostis a todos, 16 esforçando-se ao máximo para nos impedir de pregar aos não-judeus a fi m de que estes sejam salvos. Dessa forma, seguem acumulando seus pecados. Con-tudo, sobre eles, chegou fi nalmente, a ira de Deus.6

O amor de Paulo pelos discípulos 17 Nós, no entanto, amados irmãos, privados momentaneamente da vossa

companhia pessoal, mas não distantes do vosso coração, trabalhamos inces-santemente com o objetivo de ir e ver os vossos rostos;18 por isso, queríamos visitar-vos. Eu, Paulo, quis vos saudar face a face não somente uma vez, mas duas; porém, Satanás nos provocou impedimentos.7 19 Todavia, quando nosso Senhor Jesus retornar, quem será a nossa esperança, alegria ou coroa de glória diante dele? Ora, não sois vós?20 Com toda a certeza, vós sois a nossa glória e a nossa grande alegria!

Paulo envia Timóteo em missão

3 Por isso, não podendo mais suportar nossa preocupação por vós, achamos

melhor fi carmos sozinhos em Atenas;1

2 e, desse modo, enviamos nosso irmão Timóteo, cooperador de Deus no Evan-gelho de Cristo, para vos fortalecer e vos encorajar na fé,2

3 a fi m de que ninguém fraqueje diante dessas afl ições; porquanto, estais bem informados de que fomos destinados para isso.3

4 Pois, quando ainda estávamos convos-co, já vos advertíamos que haveríamos de

5 Na Septuaginta (a tradução grega do AT), a expressão original ekklesia, “igreja”, refere-se à assembléia do Povo Escolhido, e tem a ver com o termo hebraico “sinagoga”. A diferença fundamental entre a “Igreja” e a “sinagoga” é que, nas igrejas cristãs, Jesus Cristo é o Messias prometido, nosso Salvador. Os “discípulos” de Jesus Cristo devem ser seus “imitadores” tanto nos momentos de exultação e glória, como nas provações e sofrimentos (At 17.5-9; Rm 9.1-3; 10.1).

6 Paulo afirma que a ira escatológica, o derramamento da ira punitiva de Deus contra a humanidade pecaminosa, já está presente sobre a Terra.

7 Satanás e seus demônios são os responsáveis diretos por todos os obstáculos que surgem no caminho da propagação do Evangelho. Por isso, é fundamental que todo projeto missionário, evangelístico, e que vise à ministração da Palavra, seja regado com fervorosa oração. A vontade de Deus, entretanto, é soberana, e nada nem ninguém é capaz de vencer ao Espírito de Cristo (Lc 11.21,22; 1Ts 3.11).

Capítulo 31 A divisão dos capítulos apenas indica o assunto principal, mas não deve prejudicar a compreensão geral da informação de

Paulo, iniciada no verso 17 do capítulo anterior. Paulo usa a palavra grega “abandonado” para comunicar sua sensação ao ter decidido ficar só em Atenas para enfrentar a filosofia grega incrédula (At 17.14,15). O uso da terceira pessoa do plural é apenas um recurso de modéstia literária, Paulo está falando apenas de si mesmo.

2 A expressão grega sunergon significa “companheiro de trabalho”, e está ligada à função eclesiástica do “ministro cristão”, diakonos, conforme os melhores originais gregos (1Co 3.9). Paulo usa a palavra “fortalecer” extraída do grego clássico, que significava “escorar uma construção”, como uma figura de linguagem.

3 Paulo se refere às perseguições e tribulações sofridas pelos tessalonicenses e os cristãos em geral, pelo fato de não mais pertencerem ao sistema mundial controlado por Satanás. Por isso, até a volta de Cristo, o sofrimento e as aflições passam a ser normais e previsíveis na vida diária do crente, e não exceções (Mc 4.17; Jo 16.33; At 14.22; 2Ts 3.12; 1Pe 4.12). Entretanto, essas adversidades não escapam à supervisão amorosa do Senhor, nem podem ser consideradas como meros infortúnios, pois fazem parte dos sábios propósitos de Deus (At 11.19; Rm 5.3; 2Co 1.4; 4.17).

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sofrer tribulações, como de fato ocorreu, como também é de vosso pleno conhe-cimento.5 Foi por isso que, já não me sendo mais possível continuar agüentando, enviei Timóteo para conhecer o estado da vossa fé, temendo que o Tentador vos tivesse seduzido, tornando inútil todo o nosso empenho.4

Timóteo retorna com boas novas 6 Agora, contudo, Timóteo acaba de chegar da vossa parte, dando-nos boas notícias a respeito da fé e do amor que tendes. Ele nos relatou que é permanente a vossa lembrança afetuosa quanto a nós, e que é grande o vosso desejo em nos ver pessoalmente, da mesma forma como nós ansiamos por ver-vos.5

7 Por isso, irmãos, em toda a nossa necessidade e tribulação nos sentimos encorajados quando soubemos da fé que tendes; 8 porquanto, se estais fi rmes no Senhor, há mais alegria em nossa vida.9 Pois, quanta gratidão podemos expres-sar a Deus por vós, diante da grande satisfação com que nos alegramos por vossa causa perante nosso Deus,10 suplicando, continuamente, noite e

dia, para que possamos ver o vosso rosto e suprir o que falta à vossa fé.6 11 Que o próprio Deus, nosso Pai, e nosso Senhor Jesus preparem o nosso caminho até vós.7

12 Que o Senhor faça crescer e transbor-dar o amor que tendes uns para com os outros e para com todas as pessoas, a exemplo do nosso amor por vós.13 Que Ele fortaleça o vosso coração para serem irrepreensíveis em santidade dian-te de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos!8

Vivendo para adorar a Deus

4 Quanto ao mais, caros irmãos, já vos orientamos acerca de como viver a

fi m de agradar a Deus e, de fato, assim estais caminhando. Agora, vos rogamos e encorajamos no Senhor Jesus que, nesse sentido, vos aperfeiçoeis cada vez mais.1 2 Pois sabeis os mandamentos que vos recomendamos pela autoridade do Se-nhor Jesus.3 A vontade de Deus é esta: a vossa san-tifi cação; por isso, afastai-vos da imorali-dade sexual.4 Cada um de vós saiba viver com seu próprio cônjuge em santidade e honra, 5 não dominados pela paixão de desejos

4 O termo “Tentador”, que aqui também se refere a um dos nomes do Diabo, e as expressões “seduzir”, “enganar”, “iludir” ou “tentar”, vêm da mesma raiz grega. Satanás é mencionado em todas as principais divisões do NT. Ele é o líder maior dos espíritos malignos e dos seres humanos por ele “seduzidos” (Jo 16.11; Ef 2.2). O Diabo e seus demônios podem nos afetar em âmbito físico ou espiritual, entretanto, nunca sem a soberana permissão de Deus (Jó 2.1-10; 2Co 12.7; Mt 13.39; Mc 4.15; 2Co 4.4). Ele tentou a Jesus e seguirá tentando os crentes até a volta do Senhor (Mt 4.1-11; Lc 22.3-1; 1Co 7.5). O Inimigo busca prejudicar todos os empreendimentos cristãos (2.18); porém, já está completamente derrotado por Cristo (Cl 2.15; Ap 20.10) e, portanto, os cristãos não necessitam viver subjugados por ele e suas artimanhas (Ef 6.16).

5 Esse é o único caso no NT em que a expressão grega original euanggelisamen não significa “as boas novas da Salvação em Cristo”, nosso “Evangelho”, mas simplesmente a transmissão de boas notícias.

6 As freqüentes orações de Paulo pelos irmãos em Tessalônica foram respondidas alguns anos mais tarde (At 20.1,2).7 O verbo original grego “preparar”, no sentido de “conduzir” encontra-se no singular indicando a perfeita unidade de Deus-Pai

com Deus-Filho, a pessoa do Senhor Jesus. 8 A expressão grega original “fortalecer” significa todo o processo de “santificação” (separação para adoração e serviço a

Deus), no qual todo cristão é engajado, a partir do momento que se entrega aos cuidados de Cristo e recebe o Espírito Santo de Deus para habitar em sua alma. Esse ministério do Espírito só será encerrado no final da vida do crente, com a glorificação da alma (1Co 1.2). Paulo realmente aguardava a volta do Senhor em breve, por isso encoraja os crentes de Tessalônica a estarem prontos, na expectativa do retorno iminente do Senhor com seus anjos e todos aqueles que já estão em sua presença. Assim se dará logo mais, quando Jesus voltar. Por isso, os votos de Paulo são para nós também.

Capítulo 4 1 Paulo usa literalmente a expressão grega “caminhar” como metáfora de “viver a vida cristã”, como discípulos do “Caminho”,

que é Cristo (Rm 6.4; 2Co 5.7; Ef 4.1; 5.17; Cl 1.10). As palavras do apóstolo não devem ser interpretadas como algum tipo de arrogância ou autoritarismo humano. As expressões originais são carregadas de fraternidade, sinceridade e autoridade espiritual; como um pai orientando seus filhos amados (1Co 2.16).

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sem controle, à semelhança dos pagãos que não conhecem a Deus.2

6 Quanto a este assunto, ninguém seduza ou tire proveito de seu irmão, porque o Senhor castigará todas essas práticas, como já vos advertimos com toda a certeza. 7 Pois Deus não nos convocou para a im-pureza, mas sim para a santifi cação.8 Portanto, aquele que rejeita estas orien-tações não está rejeitando o homem, mas a Deus, que vos outorga o seu Espírito Santo.3

O cristão deve agir com amor 9 No que se refere ao amor fraternal, entretanto, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros;10 e, na verdade, estais praticando esta ordem mesmo para com todos os irmãos em toda a Macedônia. Todavia, vos en-corajamos, queridos irmãos, que vos aperfeiçoeis nisto cada vez mais,11 buscando viver em paz, cuidando cada qual da sua vida, e trabalhando

com as próprias mãos, como já vos orientamos;4

12 de modo que vos porteis com dignida-de para com os de fora, e de nada venhais a necessitar da parte deles.

A volta de Cristo e os crentes13 Não desejamos, no entanto, irmãos, que sejais ignorantes em relação aos que já dormem no Senhor, para que não vos entristeçais como os outros que não pos-suem a esperança.5 14 Porquanto, se cremos que Jesus mor-reu e ressuscitou, da mesma maneira devemos crer que Deus, por intermédio de Jesus, trará juntamente com Ele os que nele faleceram.6

15 Afi rmamos a todos vós, pela Palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos quando se der o retorno do Senhor, certamente não precederemos os que dormem nele.16 Pois, dada a ordem, com a voz do ar-canjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão pri-meiro.

2 No mundo greco-romano do séc.I a.C, devido às guerras, aos conflitos sociais e à proliferação das culturas pagãs, os padrões morais haviam atingido os níveis mais baixos de pudor e respeito. Imperava a violência; aos mais fortes era dado o direito de satisfazer todas as suas vontades; e o tempo médio de vida não ultrapassava os 30 anos. Neste contexto é que Paulo exorta os cristãos a manterem seus corpos e vida moral de acordo com o padrão de Cristo, e não conforme a sociedade. Afinal, os cristãos, são o templo do Espírito Santo de Deus (1Co 5.1; 6.19).

3 Paulo se refere ao ministério do Espírito Santo de Deus, o de fazer seus mandamentos compreensíveis ao coração dos cristãos (Is 54.13), em grego theodidaktoi (Jo 7.17). O apóstolo usa a palavra grega philadelphia “amor fraterno entre irmãos de sangue” para evidenciar o tipo de amor solidário e incondicional que deve haver entre os “irmãos em Cristo”, considerando que todos os cristãos têm o mesmo Pai celestial (Jo 6.45; 1Co 2.13).

4 Paulo ensina que, apesar do nosso chamado à solidariedade e zelo de uns para com os outros, não devemos exagerar em nossos cuidados, muito menos em nossa dependência uns dos outros. Alguns tessalonicenses estavam desrespeitando a privacidade dos seus irmãos; outros, abusando da hospitalidade, cortesia e ajuda de irmãos mais abastados. Para muitos gregos, na época, trabalhar em serviços braçais era desonroso, cabendo exclusivamente aos escravos. Alguns gregos crentes estavam negligenciando o trabalho, em virtude da iminente volta de Cristo. Paulo adverte que nem as tradições culturais, nem a proximidade do retorno do Senhor, são motivos para o cristão deixar qualquer de suas obrigações éticas e morais.

5 Paulo usa o termo “adormecer” como metáfora da “morte do cristão”, pois o aspecto definitivo e horrendo da separação de uma pessoa de Deus, isto é, a morte, é eliminado completamente quando a alma reconhece em Jesus Cristo o seu Salvador e ganha o “selo divino” (Espírito Santo), que garante sua ressurreição e vida eterna. Alguns tessalonicenses entenderam, de forma errônea, que todos os crentes permaneceriam vivos na Terra até a iminente volta de Cristo. Por isso, ficaram em dúvida, quanto à ressurreição daqueles crentes que estavam morrendo. A sociedade grega era profundamente influenciada pela cultura pagã. Por isso, os gregos tinham verdadeiro horror à morte e a consideravam como o final de tudo, o apodrecimento da vida. Os cristãos, no entanto, podem se alegrar com a segurança que têm na glória da vida eterna em companhia do Senhor (1Co 15.55-57; Fp 1.21-23).

6 Paulo usa aqui, literalmente, a expressão grega “morreu” e não “dormiu”, em relação ao falecimento de Jesus. Isso para evidenciar a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte na cruz do Calvário (1Co 15.14-22).

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17 Logo em seguida, nós, os que esti-vermos vivos sobre a Terra, seremos arrebatados como eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E, assim, estaremos com Cristo para sempre!18 Consolai-vos, portanto, uns aos outros com estas palavras.

Cristo retornará em breve

5 Caros irmãos, em relação aos tempos e épocas, não é necessário que eu vos

escreva;2 pois vós mesmos estais bem informa-dos de que o Dia do Senhor virá como “ladrão à noite”.1

3 Quando vos afi rmarem: “Paz e segu-rança!”, eis que repentina destruição se precipitará sobre eles, assim como “as dores de parto” tomam uma mulher grávida, e de forma alguma encontrarão escape.2

Revestir-se de Cristo e vigiar4 Entretanto, vós irmãos, não estais vivendo nas trevas, para que esse Dia, como se fosse um ladrão, vos ataque de surpresa;5 porquanto, vós todos sois fi lhos da luz

e fi lhos do dia; nós não somos da noite, muito menos das trevas.6 Assim, pois, não durmamos como os demais; mas estejamos alertas e sejamos sóbrios;7 pois os que dormem, adormecem de noite, e os que se embriagam, é de noite que se embebedam.8 Nós, no entanto, que somos do dia, se-jamos sóbrios, revestindo-nos da arma-dura da fé e do amor, tendo por capacete a esperança da salvação.3

9 Porque Deus não nos designou para a ira, mas para sermos contemplados pela salvação por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.4

10 Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a Ele.5

11 Por isso, aconselhai-vos e encorajai-vos mutuamente, como de fato já estais fazendo.

Como manter o fogo do Espírito 12 Caros irmãos, agora vos suplicamos que dedicais toda a consideração para com os que se esforçam no ministério, os quais vos lideram e aconselham no Senhor;

1 Desde o início da Igreja surgem, de tempos em tempos, pessoas que afirmam conhecer o Dia do Senhor, ou seja, o dia do glorioso retorno de Jesus Cristo. Entretanto, Paulo nos lembra das palavras proféticas do próprio Senhor, garantindo que sua volta pode acontecer a qualquer momento, mas cuja data e hora são uma determinação secreta e exclusiva de Deus-Pai (Mt 24.42,43; Lc 12.39,40; 2Pe 3.10; Ap 3.3; 16.15; At 1.6,7).

2 A expressão hebraica “Dia do Senhor” tem sua origem no AT (Am 5.18) e refere-se a um período de tempo em que o Espírito de Deus virá e intervirá pessoalmente na Terra e, especialmente na humanidade, com juízo penal e premiações de bênçãos. No NT o conceito se mantém inalterado, apresentando a condenação dos incrédulos e ímpios, e a salvação dos crentes sinceros (Rm 2.5; 2Pe 2.9; 3.12; Ef 4.30). É citado, também, como “o último dia” (Jo 6.39), o “grande Dia” (Jd 6) ou, simplesmente, “o Dia” (2Ts 1.10). Esse será o dia em que tudo será consumado em relação ao julgamento eterno de cada pessoa em toda a humanidade. Contudo, o Dia final ocorrerá de forma tão rápida e surpreendente como o assalto de um ladrão à noite (2Ts 2.3; Lc 21.34).

3 A melhor maneira de vigiar (literalmente em grego “manter-se alerta”), a fim de que o Dia do Senhor não nos sobrevenha com repentina destruição (afastamento eterno do ser humano da presença abençoadora de Deus), é mantermos nossa principal ca-racterística cristã: ser luz, pois somos “filhos da Luz”, isto é, “filhos de Deus” (Jo 1.12; 8.12). Vivermos desembaraçados (sóbrios) da rede mundial de pecado que cobre e entorpece o planeta (Hb 12.1); vestirmo-nos com a armadura de Deus, que não se refere apenas a algumas virtudes específicas, mas a todo o fruto do Espírito Santo (Rm 13.12; 2Co 6.7; 10.4; Gl 5.22,23; Ef 6.13-17).

4 A expressão grega etheto, não significa “predestinar”, como aparece em algumas versões. O termo “designou” está mais de acordo com o sentido original da frase e do contexto dos ensinos teológicos de Paulo (Rm 8.29.30). A iniciativa da nossa salvação do julgamento punitivo que ocorrerá no “Dia do Senhor” é fruto do seu imenso amor, manifestado em toda a sua dramaticidade e esplendor na morte e ressurreição do seu Filho por nós (v.10; Rm 5.8).

5 Ao aceitarmos a graça da Salvação, o Senhor nos abençoa com um tipo de aliança e relacionamento que nada, nem a morte, poderá destruir (Jo 6.37).

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13 e que os tenhais na mais alta estima, expressando vosso amor e reconhecimen-to pela obra que realizam para convosco. Caminhai em paz uns com os outros.14 Irmãos, também vos exortamos a que admoesteis os sonolentos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais pacientes para com todos.6

15 Evitai que ninguém retribua o mal com o mal, mas encorajai que todos se-jam bondosos uns para com os outros.16 Conservai permanentemente a vossa alegria! 17 Orai constantemente.18 Dai graças em toda e qualquer cir-cunstância, porquanto essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.19 Não apagueis o fulgor do Espírito!7

20 Não trateis com desdém as profecias,21 mas, examinai todas as evidências, re-tende o que é bom.

22 Afastai-vos de toda a forma de mal.

Oração pela vida integral da Igreja23 Que o próprio Deus da paz vos san-tifi que integralmente. Que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam mantidos irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.8

24 Aquele que vos chama é fi el, e Ele tam-bém o fará.9

Pedido de oração e saudação fi nal25 Irmãos, orai por nós.26 Saudai todos os irmãos com um beijo santo.10

27 Encarrego-vos, pelo Senhor, que esta carta seja lida para todos os irmãos.

Bênção apostólica28 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja em todos vós!11

6 Alguns cristãos de Tessalônica estavam se sentido tomados pela idéia de que Jesus voltaria naqueles dias, a ponto de se desinteressarem de cumprir as responsabilidades básicas da vida diária, como cooperar com a família e com a Igreja, estudar, tra-balhar. A palavra grega, aqui traduzida por “sonolentos”, também pode ser traduzida por “ociosos”. Entretanto, todos devem ser encorajados com paciência; e os mais fracos (desanimados), ajudados pelos mais fortalecidos na fé (Rm 14.1-15; 1Co 8.13).

7 A falta de perdão entre os crentes (Mt 5.38-42; 18.21-35; Rm 12.17; 1Pe 3.9); da alegria íntima de ter sido salvo por Cristo; das orações diárias; de uma atitude de gratidão a Deus, mesmo em meio às difíceis tribulações da vida (Rm 1.9,10; Ef 6.18; Cl 1.3; 2Ts 1.3; Ef 5.20); do aprendizado e expressão da Palavra de Deus (v.20); do uso dos dons espirituais em benefício do Corpo de Cristo (Rm 12.6; 1Co 12.10,28; 13.2; 14.3; Ef 4.11); e o envolvimento com o que é pecaminoso, são demonstrações claras de que o cristão está ofuscando o brilho (poder) do Espírito Santo em sua vida. Não perderá a salvação por isso, mas caminhará pela vida como um moribundo, até que entregue novamente o controle da sua vida nas mãos do Espírito de Cristo (Jo 10.10).

8 Paulo, ao fazer referência ao ser humano completo, usa as expressões gregas originais p√en'ma - pneuma (espírito); Ynch; - psyché (alma) e sw'ma - soma (corpo) em analogia à visão hebraica da integralidade humana, expressada por Jesus, em aramaico, ensinando que devemos amar a Deus e aos nossos semelhantes com todas as forças do nosso ser (Mc 12.30).

9 Paulo demonstra sua fé absoluta na onipotência e na justiça de Deus, que saberá completar a boa obra que começou na vida dos crentes e em todo o universo (Gn 18.25; Fp 1.6; Nm 23.19).

10 Beijar um ou os dois lados do rosto, em sinal de humilde e respeitosa saudação, era uma tradição cultural entre os povos orientais, que corresponde ao nosso aperto de mãos ou abraço. A Igreja não deve transformar os aspectos culturais de um povo em doutrina. Por isso, o ósculo santo (beijo no rosto), como outros costumes populares de uma nação ou região, podem ser ou não incorporados ou adaptados por outras igrejas cristãs, de forma espontânea, com bom senso e sem qualquer vínculo direto com a necessária obediência aos preceitos bíblicos (Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Pe 5.14).

11 Paulo usa, originalmente, uma expressão extremamente enfática, literalmente: “intimo-vos no nome do Senhor”, com o propósito de garantir que todos os cristãos tomem conhecimento do seu amor pela Igreja e acolham suas orientações. Por isso, também, Paulo tinha o hábito de encerrar suas cartas com a impetração de uma bênção apostólica a seus leitores, que, às vezes, era acrescida das bênçãos que nos são proporcionadas pela Trindade em ação (1Co 13.14).

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