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A ANÁLISE DO PROCESSO DE INOVAÇÃO NA
INDÚSTRIA DE CALÇADOS ALFA
Paulo Eugenio Warken (Feevale)
dusan schreiber (Feevale)
Vanessa Theis (Feevale)
Com a evolução das tecnologias, se tem assistido um aumento de oferta de
bens, superior à demanda, o que tem provocado uma comoditização cada vez
mais rápida dos mesmos. Para assegurar a sua permanência no mercado,
diversos estudos evidenciam que as empresas buscam, cada vez mais, adotar
uma estratégia orientada à inovação. Baseando-se neste cenário, o presente
estudo analisou o processo de inovação da empresa Alfa, à luz de vertentes
teóricas que versam sobre o referido tema, com abordagem qualitativa,
entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo. Os resultados
evidenciaram a necessidade de aprimoramento do processo de inovação, com
a mudança de rotinas e de práticas organizacionais.
Palavras-chave: Processo de inovação, práticas organizacionais, indústria de
calçados
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
A dinâmica do ambiente competitivo tem colocado renovados desafios à sobrevivência de
empresas. Na medida em que surgem novos produtos, processos, serviços e modelos de
negócio, as empresas necessitam de novas práticas gerenciais, estruturas e ferramentas.
Apenas assim elas poderão se adaptar às novas realidades e paralelamente antecipar-se às
tendências de mercado. Entre os elementos para alcançar tal posição inclui-se a geração de
inovações.
As empresas brasileiras procuram combinar suas vantagens comparativas tradicionais com as
vantagens competitivas, mais duradouras e sustentáveis. Neste sentido, um aspecto essencial,
para os países, é o papel central dado à inovação para a competitividade sustentável
(COUTINHO; FERRAZ, 1994) que contrasta, segundo Fajnzylber (1988), com a usual
prioridade dada à exploração das vantagens competitivas tradicionais como baixos custos de
mão-de-obra, de exploração de recursos naturais e manipulação da taxa de câmbio, sem uma
perspectiva de longo prazo.
Segundo o estudo de Souza, Paula e Fuck (2012), a concorrência com produtos importados,
especialmente asiáticos, impulsiona a adoção de estratégias que proporcionam a configuração
de uma nova forma de inserção no mercado internacional. Dentre as estratégias destacam-se a
diversificação de mercados, descentralização e internacionalização da produção,
inovação de produto e processo, diferenciação de produtos com maior valor agregado e
investimentos em marketing, design, conceitos de moda, além da produção com melhor
qualidade. Nesse sentido, o principal desafio é a construção de uma nova imagem do calçado
brasileiro, onde se requer estratégias que vão além do preço.
Considerando que a inovação representa um caminho para proporcionar as condições de
permanência das empresas no mercado, bem como fonte para a concepção do diferencial
competitivo, o presente trabalho tem como objetivo geral evidenciar, por meio de um estudo
caso, os elementos mais relevantes do processo de inovação organizacional. Pela exigência da
empresa estudada, a mesma será denominada, neste trabalho, a empresa Alfa. Para alcançar o
objetivo geral, foram definidos os seguintes objetivos específicos: (a) Descrever a evolução da
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empresa Alfa no seu mercado; (b) Apresentar as práticas de inovação conhecidas no mercado
de calçados e (c) Pesquisar e descrever os modelos de inovação.
Na parte inicial do trabalho foram apresentadas as bases teóricas que nortearam a análise das
evidências, bem como embasaram a construção do instrumento de pesquisa. Na sequência
está detalhado o delineamento metodológico. Na seção seguinte são analisados os resultados
da pesquisa, à luz da revisão teórica. Considerações finais e referências encerram o presente
trabalho.
2. Indústria Calçadista
Devido a alteração do contexto, tanto global, como local, a indústria calçadista brasileira vem
passando, nos últimos anos, por um processo de reestruturação. A abertura econômica
implementada pelo governo brasileiro, ocorrida a partir dos anos noventa ampliou a
competição no mercado interno e externo, o que impôs a necessidade de um novo conjunto de
estratégias frente a produtores de outros países, notadamente a China. A conclusão é que
estratégias baseadas somente na redução de custos e na ampliação das escalas de produção
não se mostram sustentáveis (SOUZA; PAULA; FUCK, 2012).
Sem apresentar um diferencial competitivo, a indústria foi pressionada entre produtos de
qualidade similar asiáticos, mais econômicos, assim como pelos produtos italianos de preço
mais elevado, mas com uma melhor imagem no mercado internacional (COSTA, 2011). Na
busca de mão-de-obra mais econômica e obtenção de benefícios fiscais, algumas empresas
passaram a se deslocar do Rio Grande do Sul para regiões de maior oferta de mão-de-obra,
principalmente para o Nordeste bem como frequentemente afastadas das capitais e sem
tradição na produção de calçados (SOUZA; PAULA; FUCK, 2012). Este processo se
caracterizou pela transferência especialmente de unidades de produção, predominantemente
de artigos mais econômicos, ficando na sede das empresas a produção de artigos mais
elaborados, assim como as áreas estratégicas.
A indústria calçadista brasileira é constituída por clusters, dentre os quais se destacam o do
Vale dos Sinos e Paranhana, no Rio Grande do Sul, Jaú, Birigui e Franca em São Paulo e
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Nova Serrana em Minas Gerais. Muitas empresas que se instalam em clusters, tem a
finalidade de imitar as já existentes, reduzindo os ganhos de apropriabilidade das pioneiras,
caracterizando assim perfil de estratégia imitativa, ocorrendo a cópia de tecnologias e
produtos inovadores, com a busca em paralelo de oferta destes em menores preços
(FREEMAN; SOETE, 1997). Esta atitude acaba por desestimular estratégias de investimento
em inovação por parte de empresas inovadoras.
Apesar disso os estudos demonstram que o foco em inovação na indústria de calçados, é uma
estratégia cada vez mais valorizada e adotada (SOUZA; PAULA; FUCK, 2012). Todavia,
observações demonstram que muitas destas empresas não atingem uma maior sobrevivência a
longo prazo, assim como não utilizam um modelo estruturado e sistematizado de inovação. A
inovação ainda se focaliza na maioria das vezes em base tecnológica, sem uma visão
sistêmica.
3. Inovação
Segundo Schumpeter (1961), considerado o precursor teórico sobre o tema, a inovação leva
ao desenvolvimento econômico e pode ditar o ritmo de crescimento de um país. Também para
Drucker (1974), a inovação passou a ser reconhecida como fator essencial para a
competitividade e foi incluída na agenda estratégica de muitas empresas. Corroborando,
Kotler (1997) afirma que a inovação representa um importante recurso para a sobrevivência
das organizações e elemento chave para o sucesso de uma empresa num mercado competitivo.
Dentro desta perspectiva é possível afirmar que as empresas de sucesso são aquelas que de
forma consistente criam novos conhecimentos (NONAKA, 2001), tecnologias e produtos,
caracterizando um negócio de inovação contínua (TIDD; BESSANT; PAVIT, 2008).
O Manual de Oslo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE, 2005), apresenta quatro definições para a inovação: (i) inovação de produto; (ii)
inovação de processo; (iii) inovação de marketing e (iv) inovação organizacional. Novos
produtos são bens que apresentam uma diferenciação significativa em suas características ou
usos em relação aos produtos produzidos pela empresa. Em se tratando da inovação em
processo, estes devem apresentar mudanças significativas nos processos de produção dos
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produtos ou serviços. A inovação em marketing se refere a introdução de novos métodos de
promoção do produto, design do produto que não altere as suas características funcionais,
embalagem e precificação. Na inovação organizacional, o Manual de Oslo se refere à
mudanças relacionadas à estrutura de gestão (OCDE, 2005).
Conforme Daft e Marcic (2004), a inovação é proporcionada pela adoção de uma estrutura em
rede, com colaboração além dos limites da organização, ou seja, a empresa sub-contrata
muitas de suas funções de outras empresas. Isso pode ser viabilizado por meio da cocriação,
que representa uma forma de inovação que envolve fornecedores, colaboradores e clientes
para agregar valor através da inovação (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004). Também a
inovação aberta, para Chesbrough (2012), se apresenta como uma forma eficaz de as
empresas atualmente realizarem suas inovações.
A inovação é fundamentalmente um produto do conhecimento e da criatividade, exigindo
planos estratégicos flexíveis, controles financeiros não restritivos e sistemas de
reconhecimento das inovações implementadas (GRANT, 1988). Os recursos imateriais ou
intangíveis, presentes nas redes sociais, quando direcionados para um esforço conjunto de
desenvolvimento, convergem no que Schmitz (2000) chamou de "eficiência coletiva",
envolvendo um complexo de interações sociais que propiciam a produção e reprodução de
conhecimento, promovendo processos de inovação e difusão.
Para atingir este objetivo, segundo Galbraith e Lawler (1995), a empresa deve estimular a
inovação através de recursos de conexão, tais como, integração, comitês permanentes, grupos
de trabalho, estrutura horizontal, redes de contato interdepartamentais, contatos frequentes
com grupos externos e com reduzido controle hierárquico. Cabe aos gerentes, conforme
Prahalad e Hamel (1990), criar um clima propício à inovação, desenvolvendo habilidades
capazes de gerar competências que permitam à organização utilizar seu potencial inovador
para o aproveitamento das melhores oportunidades do mercado.
Para apoiar as organizações no processo de inovação, foram concebidas diversas técnicas
(SCALETZKY, 2008). O Workshop é uma técnica onde se pode promover o desenvolvimento
da inovação, sendo um momento de imersão criativa e visa apontar caminhos para a inovação
através de técnicas variadas. A prática do brainstorming pode ser empregada nestes
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momentos, sendo uma técnica para auxiliar a equipe a gerenciar diversas ideias no menor
espaço de tempo (RODRIGUES, 2010). O processo stage-gate é uma prática de geração de
inovação que permite em cada fase de um projeto, tomar decisões para continuar ou finalizar,
com o objetivo de maximizar as probabilidades de sucesso e lucro das inovações (KOTLER,
2013).
No entanto, não se pode todavia confundir o processo stage-gate com gerenciamento de
projetos (COOPER, 2001). O stage-gate se preocupa com o macro processo decisório, já o
gerenciamento de projeto se encarrega do micro processo, sendo que dentro do processo de
desenvolvimento de novos produtos ambos são utilizados conjuntamente, devendo ser
considerado que a prototipagem, incorporada no processo stage-gate, é um processo de
construção e avaliação de funcionamento de um sistema para auxiliar na aprendizagem de
alguns de seus aspectos e sua eventuais soluções (LOPES, 2003).
Figura 1 - Modelo stage-gate para inovação
Fonte - Adaptado de Cooper ( 2001)
As inovações incrementais são geradas através do aprendizado interno e da capacitação
acumulada, ao passo que inovações radicais podem trazer modificações substanciais para a
sociedade (TIGRE, 2006). Podem ser de âmbito apenas interno da empresa, tendo já sido
implementada por outra empresa, para o mercado, neste caso sendo colocada no mercado
antes dos concorrentes ou para o mundo, caracterizando-se a empresa, neste caso, por ser a
primeira em introduzir uma inovação nos mercados nacionais e internacionais. Cabe destacar,
que o desconhecimento e a não difusão das estratégias de uma empresa aos mais diversos
níveis hierárquicos, caracteriza uma barreira à inovação (BES; KOTLER, 2011).
4. Metodologia
Triagem de ideias Geração de ideias Prototipagem Elaboração e
implementação da
estratégia de
marketing
Comercialização
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Em alinhamento com os objetivos, os autores optaram pelo estudo de caso único, abordagem
qualitativa e coleta de evidências por meio de três entrevistas semiestruturadas. A opção pela a
técnica de pesquisa qualitativa se justifica na medida em que a mesma permite conhecer
melhor a natureza do problema pesquisado, considerando-se que as principais características
deste método são a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva interpretativa de
encaminhamento da mesma (KAPLAN; DUCHON, 1988).
Em relação aos objetivos, o trabalho realizado pode ser considerado como exploratório, pois
objetiva oferecer maior conhecimento do problema, para torná-lo mais explícito, através de
levantamento bibliográfico e entrevista com pessoa de bom conhecimento e experiência no
problema pesquisado.
A empresa será denominada, neste estudo, Alfa, em virtude da solicitação de manutenção do
anonimato, comunicada aos pesquisadores. A escolha da empresa se deu em função de fazer
parte da mesma, forte orientação para a inovação, o que fica evidenciado pelas premiações
que recebeu. Através da participação na feira para segmento hospitalar e
gastronômico, foi ganhadora em 2010, do prêmio da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (FISP) em melhores produtos na categoria EPI.
As entrevistas foram realizadas com o diretor-presidente, gerente de marketing e gerente de
vendas. A coleta de dados foi feita através de procedimentos que procuraram desenvolver a
combinação de diversas fontes ou seja realizar a triangulação de dados coletados através da
fundamentação teórica, entrevista, questionário e estudos.
As entrevistas foram realizadas presencialmente e podem ser consideradas parcialmente
estruturadas (GIL, 1988), já que possibilitaram também ao entrevistado, expor experiências e
dados, o que permitiu seu enriquecimento, já que não ficaram focalizadas exclusivamente nas
perguntas do questionário, podendo ser caracterizado assim a mesma como semiaberta (YIN,
2005). Utilizou-se como base um questionário, composto por perguntas elaboradas com base
na literatura revisada.
O conteúdo das entrevistas, gravadas e transcritas, foram submetidas à técnica de análise de
conteúdo, a qual, segundo Bardin (2006), considera a avaliação de dados coletados na
pesquisa. Para tanto, se efetivou uma pré-análise para definição dos documentos a serem
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utilizados para a pesquisa. Seguiu-se a exploração do conteúdo para finalmente se realizar a
interpretação e tratamento dos resultados, que foi feito através da condensação e destaque das
informações para análise (BARDIN, 2006).
5. Análise dos resultados
As evidências facultaram a percepção de que a empresa apresenta-se como organização
focada estrategicamente em inovação, por atribuir às questões de inovação a obtenção de
vantagem competitiva (DRUCKER, 1974) o que pode ser comprovado também pelo
reconhecimento através das premiações recebidas. Ao mesmo tempo, tem buscado trilhar um
caminho de aprimoramento contínuo e crescimento lucrativo.
É uma empresa que na sua história tem apresentado um crescimento consistente de dois
dígitos ao ano. Os focos mais recentes da empresa tem sido incorporar atributos de conforto
ao calçado e em qualificar sua área de marketing e vendas. Seu proprietário e diretor lidera o
processo de inovação.
No entanto foi possível constatar que a empresa não faz emprego de algumas técnicas de
inovação que poderiam contribuir, de forma relevante para aumento de sua produtividade,
como, por exemplo, o programa de gestão de ideias, o qual, uma vez combinado com as
práticas de workshop (SKALETZKY, 2008) e braistorming ( RODRIGUES, 2010), poderia
promover o desenvolvimento da inovação, bem como contribuir para a consolidação do
modelo de análise do stage-gates (COOPER, 2001). Também ficou evidenciado que a
prototipagem, uma das etapas para triagem e refinamento de ideias, não envolve todos os
stakeholders e nem está baseada no processo stage-gate.
Como ponto positivo pode ser mencionado o fato de que portfolio de produtos reduzido
permite focalizar e otimizar os projetos e benefícios oferecidos. Desta forma os ganhos de
produtividade e escala tem possibilitado reduções de custo com a maturidade dos produtos,
fazendo com que a empresa repasse parte destes ganhos aos clientes e parte interne, elevando
assim sua rentabilidade (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004).
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A inovação na empresa está centrada nas competências de seu diretor-presidente, a partir de
suas experiências decorrentes da carreira profissional, bem como o domínio de determinadas
tecnologias (GRANT, 1988). Desta forma a empresa tem pautado sua estratégia em identificar
lacunas não atendidas no segmento de calçados profissionais e industriais, dando preferência
às inovações radicais, que criam modificações substanciais na vida dos consumidores
(TIGRE, 2006), algumas ocorrendo inclusive a nível mundial, o que tem permitido à empresa
alcançar uma boa posição competitiva. No entanto, apesar da preferência por inovações
radicais, também são realizadas diversas de natureza incremental, com o objetivo de
proporcionar melhorias contínuas nos produtos e processos.
A empresa apresenta uma estratégia ofensiva de inovação, pois busca o pioneirismo nos
calçados desenvolvidos (FREEMAN; SOETE, 1997), o que lhe permite atingir monopólio
temporário (SCHUMPETER, 1961). Diferencia-se pela tecnologia de produção e matérias-
primas utilizadas, patenteando uma grande parte das mesmas.
As inovações têm sido basicamente focadas em produtos e, paralelamente, ao foco em
inovações radicais, investindo em desenvolvimento de produtos com características novas
para o mercado de atuação, ou seja, que não estão limitadas somente ao âmbito interno da
indústria. A cocriação é praticada e ocorre com a participação de consultorias e entidades de
pesquisa e desenvolvimento do setor de calçados (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004). No
entanto a utilização de plataforma de inovação aberta (CHESBROUGH, 2012) não é
explorada pela empresa.
A empresa não executa planejamento estratégico formal. O conhecimento e disseminação das
estratégias da empresa ocorre somente de maneira informal, compartilhado com as pessoas de
responsabilidade estratégica e tática, não havendo uma maior participação e engajamento dos
níveis operacionais. As áreas de marketing e vendas da empresa não exploram os perfis de
consumo, que poderiam contribuir, de forma relevante para a inovação de produtos
(ROGERS, 2003).
A empresa opta pela contratação de serviços de consultorias, tanto em áreas operacionais,
como pesquisa aplicada, bem como na área de gestão, para o desenvolvimento de soluções
diferenciadas e que possam agregar valor aos consumidores finais (KOTLER; KELLER,
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2006). Paralelamente ao aumento de seu portfolio de produtos inovadores, que atualmente se
restringe a dois produtos, tem focalizado ações tanto na eficiência produtiva, assim como para
qualificar a gestão comercial. Estas ações tem proporcionado um importante crescimento de
vendas e participação de mercado, bem como ganhos de rentabilidade. O investimento na
gestão do marketing e vendas objetiva o reconhecimento de valor de toda cadeia
influenciadora do consumo (atacadistas, distribuidores, revendedores, industrias e
consumidores finais), conforme já destacou Kotler (1997).
A segunda geração tem sido preparada para poder gradativamente participar mais ativamente
dos processos de inovação, o que ocorre através do investimento em sua formação acadêmica,
participação em cursos e programas de treinamento e envolvimento crescente nos processos
decisórios da empresa. Todavia este processo não se estende aos níveis operacionais, não
existindo um modelo de gestão de pessoas sistematizado, o que representa uma fragilidade,
apontada pela literatura revisada (BETZ, 1997; NONAKA, 2001; ROGERS, 2003).
A empresa não tem utilizado linhas de fomento à inovação disponibilizadas pelo governo
federal, por entender que as possibilidades de acesso são muito complexas e burocráticas.
Todavia desenvolve ações de pesquisa aplicada junto ao IBTeC, especialmente para avaliação
de atendimento à normas da ABNT nas áreas de segurança e conforto.
Com base no diagnóstico realizado foram sintetizadas, na tabela 3, as propostas de práticas e
processos de inovação a serem implementados na empresa Alfa. A base é o referencial teórico,
as práticas utilizadas no setor de calçados, bem como o dados coletados da referida empresa.
Tabela 3 - Proposta de práticas de Inovação para a empresa Alfa.
Etapa Ação Práticas de Inovação
Modelo atual
Práticas de Inovação
Modelo proposto
1 Identificação de
oportunidades de
inovação
(GALBRAITH;LA
WLER, 1995)
Liderado e executado
pelo líder da empresa.
Foco exclusivo em
clientes-alvo.
Implementar planejamento estratégico
(GRANT, 1988).
Aprimorar modelo de gestão de pessoas
(CHIAVENATO, 2004).
Considerar as megatendências
(GALBRAITH; LAWLER, 1995)
Desenvolver programa de gestão de ideias
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(GALBRAITH; LAWLER, 1995).
Realizar workshops de inovação
(SKALETZKY, 1995) com brainstorming
(RODRIGUES, 2010).
Aumentar o portfolio de produtos
(KOTLER; KELLER, 2006).
2 Pesquisa de campo.
(GALBRAITH;
LAWLER, 1995)
Liderado e executado
pelo líder da empresa.
Utilizar linhas de fomento à inovação
(GALBRAITH; LAWLER, 1995).
Envolver nível tático e stakeholders
(GALBRAITH; LAWLER, 1995).
3 Prototipagem.
(COOPER, 2001)
Execução de protótipos
em número reduzido.
Utilizar sistema stage-gate (COOPER,
2001)
4 Validação
(COOPER, 2001).
Liderado e executado
pelo líder da empresa.
Utilizar sistema stage-gate.
5 Marketing e vendas
(COOPER, 2001).
Mesmo modelo para
todo portfolio de
produtos.
Estabelecer estratégias de marketing e
vendas orientadas à modelo de perfis de
consumo (ROGERS, 2003).
Fonte : Elaborada pelo autor
Em complementação, na tabela 4 abaixo, segue proposta do processo de inovação
para a empresa Alfa.
Tabela 4 - Proposta de processo de inovação na empresa Alfa
Etapa Processo Justificativas
1 Analisar sistematicamente o contexto da inovação
(GALBRAITH; LAWLER, 1995).
Busca elementos como análise de
tendências, novas tecnologias, processos
e modelos de negócios como "insights"
para a gestão de inovação.
2 Analisar as práticas de inovação na empresa Alfa
e realizar benchmark de boas práticas utilizadas
no segmento de calçados (GALBRAITH;
LAWLER, 1995).
Permanente análise das práticas e
ferramentas de inovação, permite
estabelecer ações para qualificar o
processo de inovação na empresa.
3 Refinar, definir e implementar diretrizes, práticas
e ferramentas de inovação na empresa Alfa
Adequação e implementação das
mesmas, buscando crescimento da
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(GALBRAITH; LAWLER, 1995). produtividade na inovação.
4 Gerenciar o processo de inovação (GALBRAITH;
LAWLER, 1995).
Objetivo de exercer controle de qualidade
e implementação de melhorias contínuas
no processo de inovação.
Fonte: Elaborada pelo autor
Entende-se que uma vez implementado o modelo proposto, a organização em análise poderá
ter aumento relevante na sua capacidade de competir no mercado.
5. Conclusões
Com base no referencial teórico que serviu para embasamento às análises realizadas, constata-
se que a empresa Alfa não apresenta um modelo de inovação com visão sistêmica. Focaliza
sua estratégia de inovação em produtos, tanto através da identificação de novos nichos de
mercado, bem como em inovações incrementais orientadas aos processos de produção e
ergonomia dos produtos.
Além disso, o seu mix está atualmente limitado a apenas dois produtos o que pode
comprometer a sustentabilidade da empresa, considerando cada vez mais curto o ciclo de vida
dos produtos. Dentre as fragilidades destaca-se, também, a forma de gestão, não condizente
com o foco em inovação.
No que se refere às limitações do estudo, não foram abordados aspectos referentes a cenários
e tendências, que poderiam ser elementos direcionadores de inovação. Para o direcionamento
da organização à implementação da gestão para inovação, sugere-se realização de um
diagnóstico organizacional, com base nos quais seriam selecionados indicadores que,
relacionados à ações específicas de gestão da inovação, facultaria a disseminação da cultura
de inovação e mudanças estruturantes subjacentes ao modelo de gestão atual.
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