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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E AS DIVERSIDADES RACIAIS E DE GÊNERO NAESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES-RJ
Sharlys Jardim da Silva SANTOS, Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)Eixo 06: A formação de professores na perspectiva da inclusão
UENF/[email protected]
Shirlena Campos de Souza AMARALUniversidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)Eixo 06: A formação de professores na perspectiva da inclusão
UENF/FAPERJ
Mayerlin Sanchez ValenciaUniversidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)Eixo 06: A formação de professores na perspectiva da inclusão
UENF/FAPERJ
Gabriela do Rosario SILVAUniversidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)Eixo 06: A formação de professores na perspectiva da inclusão
UENF/FAPERJ
1.Introdução
A escola consiste em um ambiente em que as relações sociais são intensificadas
dia após dia, o que propicia o desenvolvimento de sentimentos como afetos e
pertencimentos que são inerentes deste meio e contribuem para a formação de opiniões,
ideias, problemas, semelhanças, diferenças, valores e regras que contribuem para a
geração de conflitos, que tendem cada vez mais a se transformarem em confrontos, caso
não sejam tratados com os devidos cuidados, e a instituição escola em si, mais
precisamente o discurso e as formas de diálogos utilizadas por esta, não tem dado conta
de solucioná-los.
Partindo desse pressuposto, a investigação delineada no presente artigo, tem
como propósito apresentar os seguintes questionamentos: Em que medida a escola e
suas práticas escolares tem caminhado, de forma a andar lado a lado com as
transformações sociais, a fim de trabalhar com as demandas do seu corpo discente e as
múltiplas culturas inerentes a este, principalmente no que concernem as diversidades
raciais e de gênero? Em que medida a prática do diálogo entre docentes e discentes na
educação pode contribuir para a solução de conflitos interculturais presentes no âmbito
escolar?
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Não consiste como objetivo deste, encontrar respostas solucionadoras para as
indagações apresentadas, mas sim propor uma reflexão acerca da temática apresentada
e os questionamentos elencados.
O caminho delineado pela investigação apontou para o seguinte objetivo geral:
Levantar e examinar dados concernentes à auto identificação racial e orientação sexual
dos alunos do ensino médio de uma instituição escolar e a partir desta refletir sobre a
formação docente, de modo a discutir se a mesma tem sido eficaz e suficiente para
atender as demandas da escola em si e principalmente dos discentes e assim alcançar o
diálogo entre os atores que compõem o âmbito escolar.
A investigação proposta consiste em uma pesquisa de caráter qualitativa e como
instrumento de coleta de dados a aplicação de 641 questionários alunos do 1º, 2º e 3º
ano do ensino médio de uma escola estadual da cidade de Campos dos Goytacazes.
Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados.
2. A formação docente e a escola
Antes de falarmos sobre a formação do professor, é importante primeiramente
pontuar que o professor é um profissional que “domina a arte de reencantar, de despertar
nas pessoas a capacidade de engajar-se e mudar” (DASSOLER et al, 2012 p.2).
Neste aspecto, entende-se que a formação do professor é indispensávelpara a prática educativa, a qual se constitui o lócus de suaprofissionalização cotidiana no cenário escolar. Desse modo,compreender a formação docente incide na reflexão fundamental de queser professor é ser um profissional da educação que trabalha compessoas. Essa percepção induz este profissional de educação a umprocesso permanente de formação, na busca constante doconhecimento por meio dos processos que dão suporte à sua práticapedagógica e social (DASSOLER et al, 2012 p.2).
Araújo et al. (2012) expõe que os debates em relação a formação do professor
teve o seu início nos anos 80 e só nos anos 90 que a discursão ganhou uma proporção
notável em todo o território nacional. O que se esperava aconteceu, como todo tema de
debate, este não foi diferente; a formação do professor gerou inúmeras polêmicas,
embates e contradições.
Contudo, com o surgimento da constituição de 1988, a educação passou a ser
vista como um direito de todos e dever do Estado e da família (BRASIL, 2010). Anos
adiante em 1996, se constitui as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para
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uniformizar e introduzir uma formação profissional para os professores da Educação
Básica de maneira mais assegurada e legítima.
Em janeiro de 2009 o Diário Oficial da União divulgou uma publicação da Política
Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica. Segundo
Dassoler (et al, 2012), este documento enuncia a importância deste profissional da
educação em não só valorizar a sua profissão nos quesitos de atuação profissional
docente, mas de também investir na sua formação continuada, entendida por sua vez,
como um “componente essencial da profissionalização do docentes”.
A cobrança urgente relacionada à necessidade do profissional da educação se
atualizar e se capacitar cada vez mais, advém da rápida evolução que a sociedade atual
vem sofrendo em todos os seus aspectos, sendo esses de gênero, identidade, familiar,
racial, sexual, dentre outros.
A escola contemporânea é, pois, uma novidade social e cultural. Nessenovo espaço institucional, o desempenho do professor não mais podeser pensado como uma simples questão de formação teórica de alguémque ensina, como também o desempenho do aluno não mais pode serconsiderado como uma simples questão de motivação e de esforçosindividuais. A escola de hoje é uma ruptura com a escola do passado,sempre inspirada numa visão preceptorial da relação pedagógica.Analogamente, a família contemporânea é uma novidade social e culturalem comparação com a família de algumas décadas atrás. As relaçõesentre pais e filhos, nessa nova situação, não podem tomar como modeloaquelas vigentes no passado (AZANHA, 2004, p. 372).
Sendo assim, no que se refere à diversidade e a atuação pedagógica do professor
em uma sociedade diversificada em sua própria constituição, segundo a Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, intitulada de Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN),
averiguamos os seguintes pontos:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e deensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo dahistória e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira edos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo ocurrículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e deliteratura e história brasileiras.
Apesar de ser obrigatório o estudo da diversidade cultural em todos os segmentos
escolares, no dia a dia da escola é possível perceber que a grande maioria dos
professores não inclui no planejamento de suas aulas as discussões sobre gêneros e as
questões étnicas raciais. E quando faz, são apenas os professores que ministram aulas
relativas às áreas de ciências biológicas. Azanha (2004) destaca que “haveria crise se o
mundo escolar, que tem uma subcultura própria, permanecesse imobilizado num
momento que é caracterizado por fortes mudanças sociais e culturais” (p. 373).
[...] se inscrevem, portanto, em um modelo de educação sexual jápresente e marcado pelo domínio da biologia, dentro do qual a discussão
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da construção social da sexualidade e da diversidade sexual é marginalou ausente. Além disso, mesmo os programas dirigidos à prevenção dasDSTs/aids são usualmente propostos fora dos horários de aula erepresentam intervenções breves e pontuais. Cabe ressaltar ainda queas/os professoras/es, na sua grande maioria, não receberam formaçãopara desenvolver ações educativas relacionadas à sexualidade (NARDIe QUARTIERO, 2012, p.66).
Freire e Cardinali (2012) expõe que a concepção de homossexualidade
atualmente deve ser vista como “fruto de uma construção histórica e cultural, tendo como
atributo essencial o interesse sexual por pessoas do mesmo sexo”. Sendo assim, de
acordo com uma perspectiva histórico-cultural, Pereira e Bahia (2012) em
complementação, argumentam que “a sexualidade é uma das dimensões do ser humano
que se constrói e aprende como parte integrante do desenvolvimento da personalidade”
(p. 62).
E, sendo a escola lugar principal para se trabalhar os saberes, ascompetências e as mudanças de comportamentos, ela representa um contextofavorável e apropriado para o desenvolvimento de atividades educativasemancipatórias, trabalhando nas mais diversas áreas do conhecimentohumano (PEREIRA e BAHIA, 2011, p. 62).
Desse modo, de acordo com Pereira e Bahia (2011), devemos compreender que a
escola não é um ambiente separado do meio social. “[...] Ainda que a escola se silencie
[...] o aprendizado e a (de) formação ocorrem também nesse espaço, que, afinal, se
constitui em uma das principais arenas de convivência e sociabilidade da criança e do
adolescente” (p. 66).
3.Educação e Diversidade na perspectiva dos Direitos Humanos
A diversidade consiste em uma característica inerente aos seres humanos desde
os primórdios da humanidade. Não obstante, segundo Santos (2008) somente a partir do
final do século XX é que a sociedade passou a dar conta desta especificidade, ao
declarar que os seres humanos não são iguais.
Santos (2008) ressalta que o respeito à diversidade constitui um dos valores de
cidadania mais importantes, sendo fundamental a valorização de cada pessoa, tendo
consciência de que cada uma teve e tem sua contribuição no decorrer da história.
A escola consiste em um campo social, constituído por uma série de diversidade,
pois a comunidade escolar é composta por discentes de diferentes grupos sociais,
políticos, econômicos, étnicos, religiosos, dentre outros, em que neste espaço convivem
pessoas de idades, origens, sexos, raças, etnias e condições socioeconômicas e
culturais variadas. Assim sendo, no contexto apresentado, podemos concordar com
Santos (2008) ao ressaltar que a escola vem demonstrando grande dificuldade para
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atender esta diversidade, uma vez que, ainda conserva concepções e práticas pautadas
em tendências pedagógicas que consideram o processo de aprendizagem de forma
homogênea, desconsiderando, a diversidade e as diferenças como elementos
fundamentais ao desenvolvimento do educando.
Diversos grupos socioculturais se fazem presentes e têm conquistado seu espaço
nos cenários públicos, colocando em pauta diversas questões, a saber, culturais, étnicas,
de gênero, orientação sexual, religiosas, dentre outras, que logram visibilidade, adesão e
representatividade principalmente pelos movimentos sociais, que denunciam injustiças,
desigualdades e discriminações, reivindicando igualdade de acesso a bens, serviços e
reconhecimento político, social e cultural.
Santos (2008) designa como diversidade as diferentes condições étnicas e
culturais, as desigualdades socioeconômicas, as relações discriminatórias e excludentes
presentes em nossas escolas e que compõem os múltiplos grupos sociais.
De acordo ainda com Santos (2008) ao nos referirmos à diversidade na área da
educação nos remetemos à ideia de oferecer oportunidades a todos os educandos de
acesso e permanência na escola, com as mesmas condições de igualdades, respeitando
as diferenças. Inclusive ao ser abordada a questão das diferenças ou diversidades, não
nos remetemos exclusivamente às minorias ou pessoas com necessidades especiais, a
questão é muito mais amplo, pois todos nós seres humanos somos únicos, portanto
diferentes uns dos outros.
Dentro da escola as diferenças tem se acentuado cada vez mais e com mais
força, desafiando-nos a adoção de novas visões e práticas pedagógica, que venham a
quebrar paradigmas de que somente há uma única cultura e correta dentro das
instituições de educação, e por isso há uma tendência em priorizar o que lhe parece
comum, uniforme, homogêneo e estigmatizar, discriminar os que fogem aos parâmetros
estabelecidos (CANDAU, 2011).
Andrade (2009) ressalta que a desigualdade de poder entre culturas divergentes,
cada vez mais vem intensificando, acentuado os processo de marginalização de grupos
sociais, étnicos, e culturais considerados como minorias. Para o autor o termo minoria é
usado não no sentido quantitativo, mas sim no sentido das relações de poder e supostas
vantagens e reconhecimentos que determinados grupos tem em detrimentos de outros.
Nesse sentido, tem sido notório como implicações desta atitude o fechamento, exclusão e
a recusa do diálogo por parte de alguns grupos culturais marginalizados, porque estes
sentem a sua identidade cultural ameaçada.
Candau (2010) ressalta que nos últimos anos a educação intercultural tem
ganhado destaque no continente latino-americano, com um vasto desenvolvimento, tanto
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da ótica dos movimentos sociais, quanto das políticas públicas e da produção dentro da
academia.
Andrade (2009, p.43) concebe a educação intercultural como:
Uma proposta que vise articular seriamente a cultura escolar e adiversidade cultural dos/as estudantes deve levar a uma análise dediferentes elementos, tais como: a linguagem e o comportamento dos/asprofessores/as; os exemplos utilizados em sala; as relações entre os/asestudantes; os preconceitos presentes no ambiente escolar; osconteúdos curriculares; a formação inicial e continuada dos/asprofessores/as; os materiais didáticos; os processos de avaliação; entretantos outros elementos.
Por isso, de acordo com Andrade (2009), diversos são os desafios que são postos
a essa proposta e um destes é como promover o diálogo entre as diversas culturas que
permeiam a escola?
Para Candau (2008) a perspectiva intercultural almeja promover uma educação
para o reconhecimento do outro, em um diálogo que caminhe entre os diferentes grupos
socioculturais. Consiste em uma educação para a negociação cultural, norteada para a
construção de uma sociedade democrática, plural, humana, que articule políticas de
igualdade com políticas de identidade.
Nesse processo, a escola consiste como uma das possibilidades para trabalhar
com a desconstrução de estereótipos tem prevalecido e proporcionando inúmeros
desencontros que culminam nos conflitos em saber aceitar, compreender as diferenças
proporcionando encontros na diversidade.
Dentre os desafios e oportunidades da interculturalidade na escola, ganha
destaque questionamentos como: é possível delinear um diálogo entre culturas e
educação?
Acreditamos ser perfeitamente possível, no entanto é preciso uma atenção maior
para as práticas pedagógicas desenvolvidas pela escola na contemporaneidade, no
sentido de um posicionamento acerca dos preconceitos, discriminações promovendo
diálogos, debates e redes de interações entre os diversos assuntos. Segundo Santos
(2008):
A construção do conhecimento na Educação Contemporânea deveocorrer coletivamente e estar voltada para questões que contemplem asdiferenças, ou seja, a diversidade humana que compõe a escola, sendonecessário para isso, incluir questões a serem discutidas e/ou refletidastais como: etnia, raça, gênero, classe, sexo, entre outras, valorizandotodo o conhecimento que os diferentes grupos trazem para a sala deaula, enriquecendo muito mais o ensino e a aprendizagem (...)(SANTOS, 2008, p.10).
Dentre os assuntos que logram destaque e que constantemente tem sido alvo de
atos preconceituosos e discriminatórios, podemos elencar as discriminações em razão da
raça e da sexualidade, temas em constante presença no cenário atual da sociedade
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brasileira, que se encontra em mutação de suas bases, e como reflexo disso, da escola,
um dos principais pilares de uma nação.
Nessa perspectiva é importante considerar o Plano Nacional de Educação em
Direitos Humanos (PNEDH), promulgado em dezembro de 2003, e atualizado em 2006, o
qual estabelece como meta do Governo Federal estimular o debate e a aplicação dos
Direitos Humanos na Educação Básica.
Dessa maneira, é imprescindível e urgente atrelar ao papel da escola o dever de
trazer à tona temas com tamanha magnitude aos alunos, sobretudo porque estes estão
em pleno processo de construção de sua cidadania e identidade, e prescindem mais do
que nunca de orientações, para caminhar de forma justa e socialmente integrada.
4. Análise do perfil dos educandos da escola no que se refere a prática do racismo
e da homofobia
Com o intento de oportunizar aos professores um (re) pensar coletivo das práticas
educacionais e culturais nos educandos que compõem o âmbito escolar quanto a temas
relativos aos direitos humanos, como direito à educação, à diversidade, à sexualidade, à
não-discriminação e o direito à proteção de minorias, no cotidiano escolar. Foram
aplicados 641 questionários aos alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio contendo
10(dez) perguntas fechadas e, a partir dos resultados obtidos por meio da aplicação dos
questionários, foi possível a tabulação dos seguintes resultados:
A primeira pergunta foi concernente à faixa etária dos educandos e a partir do
gráfico da (Figura 01), percebe-se que no 1º Ano a maioria dos alunos se encontra entre
14 a 16 anos equivalente a 60% dos alunos, no 2º anos há quase um empate entre as
faixas etárias entre 17 a 19 anos e entre 14 a 16 anosa maioria (aproximadamente 48%)
e nas turmas do 3º Ano a maioria dos alunos, equivalente a 90% estão entre 17 e 19
anos.
A segunda pergunta foi com relação a de qual cor/raça eles se consideravam, segundo a
classificação do IBGE, lembrando que
o IBGE usa cinco categorias de cores
para classificar a população são elas
(branca, preta, parda, amarela,
indígena) e segundo o IBGE a cor
negra consiste na junção entre as
cores preta e parda.
Figura 01. Faixa etária dos alunos do 1º, 2º e 3º Ano do
Ensino Médio do Colégio.
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Pelo gráfico da (Figura 02) percebe -
se que a maioria dos alunos se
considera como negros. No 1º Ano
48% dos alunos se declararam
negros, 44% brancos e 8% de outras
etnias. No 2º Ano 54% dos alunos se
declararam negros, 40 % brancos e
aproximadamente 5% de outras
etnias. Já no 3º Ano 66% dos alunos
se declararam negros 29% brancos e aproximadamente 5% de outras etnias.
A terceira pergunta foi referente
ao sexo dos alunos, ao gênero
masculino e feminino. Pelo
gráfico da Figura 03 temos que
nos em todo o Ensino médio a
predominância é do sexo
feminino. Pela figura tem - se
que: no1 Ano 52 % dos alunos
são do sexo feminino e 48% do
sexo masculino. No 2º ano 59% dos alunos são do sexo feminino e 41% do sexo
masculino. Já no 3º Ano 68% dos alunos são do sexo feminino e 32% do sexo masculino.
Para a questão que envolve a orientação sexual dos alunos, que foi a quarta
questão pode-se observar, que nas turmas relativas ao ensino médio há predominância
de heterossexuais. Por tanto, o percentual de indivíduos que se afirmam nesta categoria
ficou acima dos 90% (Figura 04). Quanto à classe de homossexuais, vê-se que as
turmas do terceiro ano do ensino médio apresentaram maiores índices (próximo a 5%)
despontando entre as turmas de primeiro e segundo ano do ensino médio. Quanto à
classe de bissexuais, constatou-se nas turmas do primeiro e segundo ano entre 2% a
3%, em que as turmas de terceiro ano apresentaram os menores índices neste aspecto.
O número de indivíduos que não se encaixaram nas categorias de heterossexuais,
homossexuais e bissexuais chegou, aproximadamente, aos 2% nas turmas de segundo
ano, valores inferiores foram observados nas turmas de primeiro e terceiro ano. A
porcentagem de abstenção para a questão que envolve a orientação sexual foi, em maior
grau, percebida nas turmas de primeiro ano atingindo de 3% a 4% e em menores níveis
nas turmas de segundo e terceiro ano (Figura 04).
Figura 02. Percentual dos alunos segundo a classificaçãocor/raça do 1º, 2º e 3º do Ensino Médio do colégio.
Figura 03. Percentual dos alunos segundo a classificação sexo do 1º, 2º e 3º do Ensino Médio do colégio.
684
No que diz respeito à ocorrência
de homofobia entre os alunos do
ensino médio, que foi a quinta
questão, notou-se que mais de
10% dos alunos do primeiro ano
já foram vítimas de homofobia,
aproximadamente 8% e 4% dos
estudantes do segundo e
terceiro ano respectivamente,
declararam terem sido vítimas. Curiosamente, as turmas de terceiro ano apresentaram os
maiores índices de não vítimas de homofobia, aproximadamente de 96% (Figura 05)
apesar de apresentarem maiores incidências de homossexuais conforme apresentado na
(Figura 04).
No que se refere à ocorrência de
praticas racistas entre os alunos do
ensino médio que foi a sexta questão,
notou-se que 12% dos alunos do 1 Ano
já foram vítimas, 26% dos alunos do 2
Ano e 18% dos alunos do 3 Ano já
foram vítimas Conforme pode ser
visualizado na (Figura 06).
Com relação às práticas de racismo e homofobia,
percebe-se também que estas existem no ambiente
escolar prevalecendo no total de 18% entre os alunos do
1º Ano, 12% entre os alunos do 2º Ano e 8% entre os
alunos do 3ºAno, conforme pode ser verificado na
(Figura 07).
Mais de 70% dos estudantes afirmaram que conhecem
Figura 04. Orientação sexual entre alunos do 1º, 2º e 3º Ano do EnsinoMédio do Colégio.
Figura 05. Vítimas de homofobia entre os alunos do 1º, 2ª e 3ºAno
Figura 06. Vítimas de homofobia entre os alunos do 1º, 2ª e 3ºAno do Ensino Médio do Colégio.
Figura 07. Alunos do 1º, 2ª e 3º Ano do Ensino Médio doColégio que já praticaram atos homofóbicos e racistas.
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pessoas que foram vítimas de homofobia ou racismo , conforme pode ser verificado na
(Figura 08).
A nona pergunta do questionário foi concernente
aoposicionamento dos discente sobre qual a opinião
deles sobre pessoas que praticam homofobia ou
racismo, e pelo gráfico da (Figura 09) fica evidenciado
que prevaleceu entre os alunos a opinião de que
consideram uma atitude vergonhosa e desumana.
A
décima
pergunta foi referente ao
tratamento da temática ser
abordada na escola e levada a
discussão por parte da
mesma.
Conform ee pode ser obsevado na
(Figura 10) em todas as turmas do
Ensino Médio foi declarado pelos
discentes que eles consideram
importante que esses temas sejam
discutidos na escola.
5. Conclusão
O que podemos concluir com esta pesquisa é que mesmo havendo um grande
número de alunos que se consideram homossexuais, há uma necessidade emergencial –
identificada pelos próprios alunos –, de serem trabalhadas discussões a respeito das
Figura 08. Apontamento entre os alunos do 1º, 2ª e 3º Ano doEnsino Médio do Colégio de Vítimas de homofobia ou racismo.
Figura 09. Ponto de vista dos alunos do 1º, 2ª e 3º Ano doEnsino Médio do Colégio sobre a prática de homofobia ou
racismo
Figura 10. Opinião dos alunos do 1º, 2ª e 3º Ano do EnsinoMédio do Colégio sobre a abordagem da temática se discutida
na escola
Figura 09. Ponto de vista dos alunos do 1º, 2ª e 3º Ano doEnsino Médio do Colégio sobre a prática de homofobia ou
racismo
Figura 10. Opinião dos alunos do 1º, 2ª e 3º Ano do Ensino Médio doColégio sobre a abordagem da temática se discutida na escola
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diversidades de gêneros e raciais em todo o espaço escolar, contemplando todos os
segmentos.
Os professores com o apoio da equipe pedagógica do colégio devem estimular a
problematização e a reflexão em seus alunos de temas envoltos desta, e de outras
realidades presentes na atual sociedade contemporânea, tendo em vista objetivação da
desmistificação dos tabus e dos preconceitos presentes no dia a dia do espaço escolar e
extraescolar. O que nos permite dialogar com Pereira e Bahia (2011), quando estes
apontam que para que possa existir a inserção desta temática na escola é importante que
primeiramente haja, portanto, estratégias pedagógicas apropriadas que visem o incentivo
à formação continuada do professor.
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