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1 UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO ANDERSON DA SILVA SOUZA A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA NO BRASIL SÃO PAULO 2014

A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

ANDERSON DA SILVA SOUZA

A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM

LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA NO BRASIL

SÃO PAULO

2014

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM

LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA NO BRASIL

Dissertação apresentada à banca

examinadora do Programa de Pós

Graduação em Educação Matemática da

Universidade Anhanguera de São Paulo

como requisito parcial à obtenção do título

de Mestre em Educação Matemática,

sob a orientação da Profª. Drª.

Aparecida Rodrigues Silva Duarte.

SÃO PAULO

2014

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ANDERSON DA SILVA SOUZA

A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE

MATEMÁTICA NO BRASIL

Aprovada em: ________/_____________/_____________

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Profa. Dra. Aparecida Rodrigues Silva Duarte

(Orientadora)

________________________________________________ Profa. Dra. Rosimeire Aparecida Soares Borges

(Examinadora externa)

________________________________________________ Prof. Dra. Maria Elisa Esteves Lopes Galvão

(Examinadora interna)

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S713i

Souza, Anderson da Silva

A Inserção da Teoria dos Conjuntos em livros didáticos de Matemática do

Brasil / Anderson da Silva Souza. São Paulo: Universidade Anhanguera de

São Paulo – UNIAN, 2014.

x, 116 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (MESTRADO) – Universidade Anhanguera de São

Paulo – UNIAN, 2014.

Orientador: Prof. Dra. Aparecida Rodrigues Silva Duarte.

Referências bibliográficas: f. 113 - 116.

1. História da matemática escolar 2. Teoria dos conjuntos 3. Livros didáticos.

I. Duarte, Aparecida Rodrigues Silva. II. Universidade Anhanguera de São

Paulo – UNIAN. III. Título.

CDD 510.1

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos verdadeiros profissionais da Educação e aos meus pais, Maria Luiza e José Vicente (In Memorian).

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AGRADECIMENTOS

À professora Doutora Tania Maria Mendonça Campos, competente e dedicada coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo, por acreditar no meu potencial, concedendo-me uma bolsa de estudos. Aos professores Doutores da banca examinadora, Maria Elisa Esteves Lopes Galvão e Rosimeire Aparecida Soares Borges por contribuir com excelentes sugestões para a realização deste trabalho. Ao Guilherme Menezes, pelo auxílio durante todo o curso de Mestrado. Aos professores Doutores da Universidade Anhanguera de São Paulo e, em especial, Vera Helena, Rosana Nogueira, Ubiratan D’Ambrósio, Maria Helena e Ruy Pietropaolo. À banda de Death Metal Gestos Grosseiros, por entender meu compromisso com este trabalho. E, um agradecimento mais que especial, para a minha orientadora, professora Doutora Aparecida Rodrigues Silva Duarte, sem a qual, seria impossível realizar este trabalho. Muito obrigado por contribuir com seus conhecimentos e não medir esforços para me orientar neste trabalho.

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RESUMO

Esta dissertação, de cunho histórico e bibliográfico, tem como propósito

verificar como a Teoria dos Conjuntos foi inserida em livros didáticos de

Matemática do Brasil. Primeiramente, descrevemos como a Teoria dos

Conjuntos ganhou espaço na Matemática, destacando alguns matemáticos que

contribuíram para o desenvolvimento dessa teoria, dentre eles, Georg

Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845 – 1918). Entendendo que a Teoria dos

Conjuntos ganhou maior destaque no ensino da Matemática durante o

Movimento da Matemática Moderna (MMM), analisamos alguns livros didáticos

com o propósito de compreender como os autores desses livros se apropriaram

da Teoria dos Conjuntos naquele período. Para tanto, fizemos a análise dos

livros didáticos, “Matemática Curso Moderno” de autoria de Osvaldo Sangiorgi

(1968) e “Matemática para o Curso Fundamental” de Reginaldo N. de Souza

Lima e Maria do Carmo Vila (1972), ambos do 6º ano (antiga 5º série) e que

foram utilizados durante o MMM; do livro didático “Matemática: curso ginasial”

de autoria de Osvaldo Sangiorgi, 1º série (atual 6º ano), de 1954, momento que

antecedeu ao Movimento e o livro “Matemática” de autoria Luiz Roberto Dante

(2012), Projeto Teláris, do 6º ano, que atualmente é adotado em algumas

escolas estaduais de São Paulo. Finalizamos com uma breve análise sobre a

proposta curricular de Matemática implantada pela Secretaria de Estado da

Educação de São Paulo (2008). Para a realização desta investigação,

utilizamos como aportes teóricos Correa (2000), Pais (2011), Choppin (2004),

Valente (2008), dentre outros.

Palavras-chave: História da matemática escolar. Teoria dos Conjuntos. Livros

didáticos.

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ABSTRACT

This dissertation, with historical and bibliographic character, has got as its

purpose verify how the Set Theory was inserted in Brazilian Mathematics

textbooks. Firstly, we describe how the Set Theory has taken part in

Mathematics, highlighting some mathematician who has contributed for the

development of such theory, among them, Georg Ferdinand Ludwig Philipp

Cantor (1845 – 1918). Understanding that the Set Theory has acquired a

greater highlight in Mathematics teaching during the Modern Mathematics

Movement (MMM), we have analyzed some textbooks with the purpose of

comprehending how the Set Theory was appropriated by Mathematics

textbooks authors in the past. Therefore, we have analyzed some textbooks,

Mathematics Modern Course by Osvaldo Sangiorgi (1968) and Mathematics for

Elementary School by de Reginaldo N. Souza Lima and Maria do Carmo Vila

(1972), both textbooks corresponding to the 6th grade (former 5th grade), which

were used during the MMM, as well as the textbook Secondary School

Mathematics by Osvaldo Sangiorgi, 1st grade (current 6th grade) from 1954

which had preceded the Movement and the textbook Mathematics, 6th grade,

Teláris Project by Luiz Roberto Dante, (2012), which has been currently used

by some Sao Paulo State Schools. We shall conclude with a brief analysis

about the Mathematics curricular proposal implemented by the Sao Paulo

Board of Education (2008). For the fulfillment of such research, we have used

as theoretical basis Correa (2000), Pais (2011), Choppin (2004), Valente

(2008), among others.

Key-words: History of school mathematics. Set Theory. Textbooks.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Diagramas de Euler.......................................................................................... 25

Figura 02 Capa do livro de Osvaldo Sangiorgi “Matemática: Curso Ginasial” (1954)............ 66

Figura 03 Portaria de 1951.............................................................................................. 67

Figura 04 Capa do livro de Osvaldo Sangiorgi – “Matemática: Curso Moderno” de 1968..... 69

Figura 05 Painel de abertura do 5º Congresso Brasileiro do Ensino de Matemática............. 70

Figura 06 Exemplos de conjuntos do livro de Osvaldo Sangiorgi (1968).............................. 71

Figura 07 Diagrama de Venn............................................................................................ 73

Figura 08 Lembrete amigo no livro de Osvaldo Sangiorgi................................................... 74

Figura 09 Exemplos de aplicações com conjuntos (modelo 1)............................................ 75

Figura 10 Exemplos de aplicações com conjuntos (modelo 2)............................................. 76

Figura 11 Exemplo sobre correspondência biunívoca......................................................... 77

Figura 12 Correspondência biunívoca entre alunos e carteiras........................................... 78

Figura 13 Lembrete amigo em relação ao conjunto N......................................................... 80

Figura 14 Capa do livro “Matemática” para o Curso Fundamental (1972)............................ 82

Figura 15 Apresentação da Minimac.................................................................................. 83

Figura 16 Representação analítica da Minimac.................................................................. 84

Figura 17 Conjunto dos dias da semana formado pela Minimac......................................... 85

Figura 18 Exercício sobre conjuntos ................................................................................... 85

Figura 19 Representação sintética de conjuntos................................................................ 87

Figura 20 Representação sintética da Minimac...................................................................... 87

Figura 21 Conjunto Referencial........................................................................................... 87

Figura 22 Representação Analítica do Conjunto L ............................................................... 88

Figura 23 Conjunto L........................................................................................................... 88

Figura 24 Esquema Geométrico e Diagrama de Venn....................................................... 89

Figura 25 Definição de Relação, Domínio e Contra Domínio............................................... 90

Figura 26 Quadro sobre torneio de futebol........................................................................... 90

Figura 27 Relação de Igualdade entre Conjuntos................................................................. 91

Figura 28 Conjuntos Intersecantes....................................................................................... 92

Figura 29 Conjuntos Não-Intersecantes................................................................................ 92

Figura 30 Exemplos de aplicações de um conjunto em outro conjunto................................ 93

Figura 31 Painéis e diagramas – operações entre conjuntos............................................... 93

Figura 32 Introdução de Conjuntos Equipotentes................................................................. 94

Figura 33 Tabela de Conjuntos Padrões e Cardinais Padrões............................................. 95

Figura 34 Resolução de equações....................................................................................... 96

Figura 35 Corte na adição..................................................................................................... 96

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Figura 36 Corte na multiplicação........................................................................................... 97

Figura 37 Capa do livro de Dante (2012) – 6º ano................................................................ 98

Figura 38 Breve histórico dos números naturais................................................................... 100

Figura 39 Conjunto dos Números Naturais........................................................................... 100

Figura 40 Introdução capítulo 4............................................................................................. 101

Figura 41 Conjunto dos múltiplos de um número natural..................................................... 101

Figura 42 Frações unitárias e Papiro de Rhind..................................................................... 102

Figura 43 Capa do Caderno do Professor de Matemática.................................................... 103

Figura 44 Emblema do Caderno do 2º bimestre................................................................... 103

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 11 CAPÍTULO 1 PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS................................................

15

1.1 Fundamentação teórica................................................................................ 17 1.2 Procedimentos metodológicos...................................................................... 23

CAPÍTULO 2 DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DOS CONJUNTOS.........................................

24

2.1 Panorama histórico..…………………………................................................. 24 2.1.2 O Paradoxo de Russel............................................................................... 30 2.1.3 Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845 – 1918)…………………... 32 2.1.4 O Conceito de Infinito e a Hipótese do Continnum.................................... 35

CAPÍTULO 3 A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS NO MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA.......................................................................................

40 3.1 O primeiro movimento internacional............................................................. 40 3.2 O segundo movimento internacional: o Movimento da Matemática

Moderna (MMM)..........................................................................................

44 3.2.1 O grupo Bourbaki....................................................................................... 47 3.2.2 O Movimento da Matemática Moderna em alguns países........................ 49 3.2.3 O Movimento da Matemática Moderna no Brasil....................................... 56 3.2.4 Críticas ao Movimento da Matemática Moderna....................................... 60

CAPÍTULO 4 A TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA NO BRASIL ....................................................................................................................

63 4.1 A Portaria de 1951........................................................................................ 64 4.2 O livro “Matemática: Curso Ginasial” na década de 1950............................ 66 4.3 O livro “Matemática: Curso Moderno” de Sangiorgi (1968).......................... 69

4.4 O livro “Matemática para o Curso Fundamental” de Lima e Vila (1972)...... 82 4.5 O livro “Matemática” de Dante (2012).......................................................... 98

4.6 O caderno do Professor da Proposta Curricular de Matemática do Estado de São Paulo......................................................................................................

102

4.7 O Currículo do Estado de São Paulo – Matemática e suas tecnologias..........................................................................................................

105

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 107 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 113

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INTRODUÇÃO

Concluí a graduação em Licenciatura Plena (Matemática) na

Universidade Guarulhos (UNG) em 2004 e posteriormente fiz um curso de Pós-

Graduação em nível de Especialização em Educação Matemática na

Universidade Nove de Julho (UNINOVE), além de cursos de aperfeiçoamento

oferecidos pela Secretaria de Estado da Educação, pela Diretoria de Ensino

Região Guarulhos Sul. Desde 2004, atuo como professor de matemática da

rede estadual de São Paulo.

Ao longo dessa trajetória almejava, como meta profissional, ingressar

em um Programa de Pós-Graduação em nível de Mestrado e, finalmente,

tomando conhecimento do curso oferecido pela Universidade Anhanguera de

São Paulo, resolvi fazer a inscrição e dar continuidade nos meus estudos,

visando crescer profissionalmente e também melhorar minha compreensão

sobre metodologias aplicadas no ensino de Matemática.

Esta investigação insere-se na linha de pesquisa “Tendências

Internacionais da História e da Filosofia da Matemática e seus reflexos na

Educação Matemática” do Programa de Pós-Graduação em Educação

Matemática da Universidade Anhanguera (UNIAN). Descreve um estudo

histórico em relação à Teoria dos Conjuntos, verificando como esse conteúdo

matemático foi inserido nos currículos escolares de Matemática no período

denominado Movimento da Matemática Moderna (MMM).

A escolha do tema sobre a inserção da Teoria dos Conjuntos em livros

didáticos de Matemática decorreu da constatação de que a Teoria dos

Conjuntos é um assunto tratado praticamente em todas as áreas da

Matemática.

Brito (2005), entende que o aluno pode demonstrar maior interesse por

determinado assunto por meio da história. Assim sendo, a simbologia e o

linguajar da Teoria dos Conjuntos, podem despertar o interesse para a

pesquisa e abrir espaço para novas perspectivas em sua vida estudantil.

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O conhecimento da história da disciplina, buscando discutir as origens

dos conteúdos a serem desenvolvidos, pode despertar o interesse dos alunos

ao perceberem a relação entre a origem e o conteúdo que estão estudando em

sala de aula.

Baroni e Nobre (1999) consideram que o desenvolvimento histórico é um

rico material que pode propiciar ao professor de Matemática um aprimoramento

na forma de ensinar os conteúdos lecionados ao aluno, e assim, contribuir para

uma melhor compreensão dos mesmos. Nesse sentido, esta pesquisa pode

oferecer ao professor uma história da Teoria dos Conjuntos que lhe permita

estabelecer relações entre o conteúdo que desenvolve em sala de aula e sua

história.

Pretende-se verificar como os matemáticos contribuíram para o

desenvolvimento da Teoria dos Conjuntos analisando o contexto histórico de

sua criação, em especial a participação do matemático Georg Cantor (1845 –

1918). Desse modo, durante uma aula de Matemática, ao mostrar como Cantor

auxiliou no desenvolvimento dessa teoria e as dificuldades encontradas nessa

empreitada, o professor pode direcionar seu trabalho de forma diferenciada,

como por exemplo, trabalhar conjuntos contáveis citando os próprios alunos

como elementos de um conjunto. A ideia é contribuir para minimizar as

dificuldades que os alunos encontram na compreensão de conteúdos

matemáticos por meio da introdução da História da Teoria dos Conjuntos nas

aulas de Matemática.

Em relação à História da Educação Matemática é necessário, também,

destacar a importância que a Teoria dos Conjuntos ganhou a partir da década

de 1960, quando os currículos de Matemática foram reformulados, com ênfase

na Teoria dos Conjuntos. Essas mudanças decorreram de discussões

internacionais que defendiam novas abordagens para o ensino da Matemática,

mais próximas daquelas desenvolvidas na universidade. Esse movimento

internacional ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna

(MMM). O Brasil participou intensamente desse Movimento, que teve como um

de seus principais objetivos preparar os alunos para os estudos universitários,

pela introdução de novos métodos e conteúdos (GUIMARÃES, 2007).

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Dessa forma, para promover o ensino da Matemática, ocorreu uma forte

valorização da linguagem simbólica, das estruturas algébricas, da formalização

e do rigor. Para tanto, os currículos de Matemática sofreram reformulação, com

ênfase na Teoria dos Conjuntos. Essa teoria era, antes do Movimento, somente

lecionada no Ensino Superior. Nesse sentido, um dos propósitos dessa

pesquisa é analisar como a Teoria dos Conjuntos foi inserida em alguns

manuais escolares do Ensino Fundamental, utilizados durante o MMM no

Brasil.

Nessa perspectiva, esta pesquisa pretende responder às seguintes

questões: como os manuais escolares elaborados para o Ensino Fundamental

incorporaram conteúdos referentes à Teoria dos Conjuntos, durante o

Movimento da Matemática Moderna no Brasil? Quais relações podem ser

estabelecidas entre a história da Teoria dos Conjuntos e o desenvolvimento

desse conteúdo em sala de aula?

Para tanto, esta investigação tem como objetivo geral, analisar livros

didáticos de Matemática elaborados para o Ensino Fundamental durante o

MMM, procurando entender como a Teoria dos Conjuntos foi inserida nesses

manuais escolares.

Como objetivos específicos pretende-se analisar como os conteúdos

matemáticos eram tratados antes do MMM, durante o MMM e, ainda, verificar

como ou, se ainda, a Teoria dos Conjuntos é assunto na atualidade bem como

verificar como o Caderno do Professor uma publicação elaborada pela

Secretaria de Estado da Educação do Estado aborda a Teoria dos Conjuntos.

Com a finalidade de atingirmos os objetivos propostos, este trabalho

está organizado da seguinte maneira:

O primeiro capítulo trata dos procedimentos teórico-metodológicos

utilizados neste estudo, notadamente, discorrendo sobre a importância da

análise dos livros didáticos para a escrita da história da Educação Matemática.

O segundo capítulo apresenta breve história do desenvolvimento da

Teoria dos Conjuntos. Já o terceiro capítulo refere-se à inserção da Teoria dos

Conjuntos no ideário do MMM.

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O quarto capítulo discorre sobre a Teoria dos Conjuntos inserida nos

livros didáticos brasileiros, considerando aqueles escritos antes do MMM,

durante esse movimento e após seu declínio, quando analisamos o “caderno

do professor” elaborado pela Secretaria do Estado da Educação de São Paulo.

Apresentam-se, em seguida, as considerações finais, assim como as

referências utilizadas durante a consecução deste trabalho.

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CAPÍTULO 1

PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Esta pesquisa, notadamente de cunho histórico, aborda, em relação à

Teoria dos Conjuntos, a história do desenvolvimento desse saber matemático e

a história de seu ensino e procura analisar como essa teoria começou a fazer

parte dos livros didáticos brasileiros.

A História da Matemática vem crescendo como um recurso a mais para

auxiliar o professor em sala de aula, tanto que é sugerido pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais - PCN (1998), para que o professor, sempre que

possível, trabalhe com a História da Matemática em suas aulas. Contudo, os

PCN (1998) enfatizam que a História da Matemática ainda é apresentada na

escola apenas para destacar nomes de matemáticos famosos e suas fórmulas,

criando assim, a falsa impressão de que a história dessa disciplina se resume

apenas à biografia de nomes famosos do cenário matemático.

Apresentada em várias propostas como um dos aspectos importantes da aprendizagem matemática, por propiciar compreensão mais ampla da trajetória dos conteúdos e métodos dessa ciência, a História da Matemática também tem se transformado em assunto específico, um item a mais a ser incorporado ao rol de conteúdos, que muitas vezes não passa da apresentação de fatos ou biografias de matemáticos famosos (PCN, 1998, p. 23).

Segundo os PCN (1998), a Matemática que hoje é aceita foi

desenvolvida nos períodos entre 700 a.C. e 300 d.C., atingindo a maturidade a

partir do século XIX, com o surgimento da Teoria dos Conjuntos assim como o

desenvolvimento da Lógica Matemática.

No que diz respeito à Teoria dos Conjuntos, os PCN (1998) afirmam que

essa teoria já se encontra nos currículos do Ensino Fundamental. Entretanto,

salientam a importância do ensino de Matemática apresentar uma

aplicabilidade prática e não apenas desenvolver a formalização de conceitos

(PCN, 1998).

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A respeito dos conjuntos numéricos, segundo os PCN (1998), estes

devem ser explorados com maior intensidade no Ensino Fundamental II, com

alunos na faixa etária entre 11 e 12 anos. Embora os PCN (1998) não

recomendem explicitamente o uso da linguagem da Teoria dos Conjuntos,

destacam a importância do uso de símbolos e da linguagem matemática para

representar os diferentes conceitos, dentre os quais os conjuntos numéricos

(PCN, 1998).

Um estudo histórico sobre a Teoria dos Conjuntos, considerando sua

importância como recurso pedagógico é enfatizado por Brolezzi (2000):

A visão da Matemática em construção é, precisamente, a que obtemos pelo estudo da História da Matemática, a qual surge, assim, como a grande fonte para apreensão da organização lógica mais adequada ao ensino da Matemática, principalmente no nível elementar, em que os padrões lógico-formais estão ainda mais distantes dos alunos. A forte relação da lógica com o ensino constitui, portanto, um componente decisivo para a avaliação do uso da História da Matemática como recurso pedagógico, revelando com muita profundidade seu valor didático (p. 44-45).

Para Gomes (2007), a História da Matemática tem sido bastante

prestigiada. No entanto, esta pesquisadora defende um urgente diálogo entre

as práticas educativas em Matemática e a História da Educação Matemática

para que possam compreender os problemas da Educação Matemática

contemporânea.

Um dos períodos propícios para realizar esse diálogo foi aquele em que

ocorreu o Movimento da Matemática Moderna (MMM), o qual influenciou o

ensino dessa disciplina nas décadas de 1960 e 1970. Diante de uma política

econômica e modernizadora, esse Movimento foi colocado como um dos

fatores que aproximava a Matemática do pensamento científico e tecnológico

(PCN, 1998).

Entre os conceitos que fundamentaram o currículo de Matemática, a

Teoria dos Conjuntos ganhou espaço. Assim sendo, esta teoria anteriormente

ensinada apenas na Educação Superior passou a ser ministrada nas escolas,

para alunos do Ensino Fundamental (PCN, 1998).

Mas, segundo os PCN:

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Essas reformas deixaram de considerar um ponto básico que viria tornar-se seu maior problema: o que se propunha estava fora do alcance dos alunos, em especial daqueles das séries iniciais do Ensino Fundamental (1998, p.19).

Antes do MMM, a Teoria dos Conjuntos não figurava como conteúdo nos

manuais escolares1. Entretanto,

Atualmente, em muitos livros didáticos ainda podem ser observados vestígios da época dos conjuntos, incentivando um estatuto próprio de representação, tais como o uso de diagramas para a construção do conceito de número, sentenças matemáticas, sinais de pertinência, pontuações e equivalência (ARRUDA; FLORES, 2010, p. 407).

Para Valente (2007, p.41), “talvez seja possível dizer que a Matemática

constitui-se na disciplina que mais tenha a sua trajetória histórica atrelada aos

livros didáticos”. Mais ainda, a trajetória histórica da Matemática escolar pode

ser lida nos livros didáticos, de modo que a análise da inserção da Teoria dos

Conjuntos nessas publicações pode auxiliar na escrita da trajetória histórica da

disciplina Matemática.

1.1 Fundamentação teórica

Segundo Correa (2000), antes do século XIX, o livro escolar não

apresentava uma quantidade significativa de volumes impressos no Brasil.

Entretanto, Correa afirma que, em meados da metade do mesmo século, o

Brasil começou a fazer do livro escolar, um texto impresso com maior

circulação.

Os livros escolares devem seguir normas estabelecidas por uma

legislação. Em outras palavras, a legislação estabelece para a escola aquilo

que ela deve seguir. Para Correa (2000), o livro pode ser útil como fonte de

conhecimento histórico. Neste contexto, quando utilizado num ambiente

escolar, pode proporcionar para os alunos um conhecimento rico em história,

despertando o prazer pela investigação e curiosidade.

1 Segundo Valente (2008), no Brasil, o tratamento didático da Teoria dos Conjuntos surge pela

primeira vez nos manuais escolares elaborados por Osvaldo Sangiorgi na década de 1960.

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Analisaremos os livros escolares, entendendo que o cidadão pode ter

uma melhor formação desenvolvendo um trabalho de leitura, sendo que esta

leitura é iniciada na escola e, segundo Correa (2000), como o livro tem um

caráter que culmina numa intersecção entre a comunidade escolar e o sujeito

em formação, o livro pode ser de fundamental importância para desenvolver no

leitor uma personalidade própria por meio da leitura. E mais, o livro didático

pode fornecer indícios sobre quais rumos os governantes escolheram para a

educação.

Correa (2000) afirma que é na escola onde o leitor inicia a prática da

leitura. Contudo, essa leitura pode ser atrelada, em muitos casos, com a

história da Matemática, podendo ter como consequência, a formação de um

cidadão investigador e crítico.

Conforme citamos anteriormente, o livro escolar começou a ser

divulgado com maior êxito em meados do século XIX, e Correa (2000) nos faz

refletir ao afirmar:

Não estarei ocorrendo em erro ao afirmar que o livro escolar talvez seja a expressão menos visível, porque sutil, de que ter acesso a uma parcela de conhecimento, o escolar, também significou e tem significado distinguir-se social e economicamente. Principalmente quando é garantido pelo Estado a um segmento populacional economicamente menos favorecido (p. 22).

O livro escolar torna-se uma importante ferramenta para formar o leitor,

já que é destinado a todas as modalidades de ensino, desde a Educação

Infantil, primeira etapa da Educação Básica, até a Educação Superior. Desse

modo, o livro pode acompanhar o aluno durante sua trajetória escolar, fazendo

com que este, tome gosto pela leitura.

A autora entende que o livro escolar pode ser destinado às classes de

alunos menos favorecidas, uma vez que estes, segundo a Secretaria de Estado

da Educação de São Paulo (2008), em geral, frequentam a escola pública.

Segundo Pais (2011), analisar livros didáticos pode ser um possível

caminho para descrever a história de determinada disciplina escolar. Ainda:

São as fontes acessadas e analisadas pelo pesquisador que levam à definição do objeto e não o contrário, quando ocorre uma tentativa de definição de uma intenção de pesquisa sem ter as fontes necessárias. Mas, se cada fonte de pesquisa permite focalizar, mais

Page 20: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

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particularmente, certos aspectos da disciplina, o uso de livros didáticos tem uma importância diferenciada, pois os seus conteúdos permitem visualizar uma prática mais nuclear das práticas escolares (PAIS, 2011, p.129).

No que diz respeito à história dos conteúdos de uma disciplina, Pais

(2011) enfatiza que livros didáticos nos permitem observar melhor tal situação,

pois atendem às perspectivas de um núcleo pedagógico escolar.

A organização e a importância da distribuição dos conteúdos nos livros

didáticos é outro ponto enfatizado por Pais (2011), uma vez que a sequência

de ensino elaborada em um livro didático pode contribuir para o

desenvolvimento da aprendizagem dos alunos durante o ano.

Ainda segundo esse autor, não há um caminho único para conduzir uma

pesquisa histórica. É importante fazer uma síntese das mais diversas

características que possam conduzir a elaboração de um livro, tais como a

legislação e o quadro político e social em vigor em uma determinada época,

assim como outras referências que possam servir para obter maiores

informações a respeito do livro em questão: “A trajetória de um livro didático

pode ser escrita pelo destaque de etapas que passam pela sua concepção,

produção, difusão e ainda pela sua efetiva apropriação por parte de

professores e alunos” (PAIS, 2011, p.131).

Já Freitas e Rodrigues (2007), comentam que o uso do livro didático,

mesmo com as diversas transformações na sociedade, tem importância

fundamental em relação à cultura e à transformação do conhecimento. Deste

modo, os autores classificam o livro didático como mediador da aprendizagem.

O livro didático ainda hoje é tido como um dos únicos meios de

informação em determinadas culturas, pois, conforme constatam Freitas e

Rodrigues (2007), é por meio do livro didático que certos povos conseguem

receber e adquirir informação sobre determinados assuntos.

Por volta da década de 1960, o livro didático começou a mostrar

características que até então dificilmente eram encontradas ou mesmo

inseridas em suas páginas, como por exemplo, ilustrações, imagens e histórias

de animação (FREITAS; RODRIGUES, 2007).

Page 21: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

20

Alan Choppin (2004) observa que, apesar das ilustrações e das novas

características inseridas nos livros didáticos na década de 1960, somente duas

décadas depois, em 1980, essas características deixaram de serem

consideradas enfeites internos do livro e passaram a fazer parte do conteúdo,

de modo a enriquecer o aprendizado do aluno.

Pesquisas sobre livros didáticos têm aumentado desde a década de

1960, com maior ênfase a partir do final dos anos 1980. Após esse período, a

pesquisa histórica enfatizando a análise de livros didáticos começou a ter maior

espaço no meio acadêmico, embora alguns pesquisadores de países como os

Estados Unidos, a Alemanha e o Japão já tivessem reconhecimento

internacional por seu envolvimento nessa área.

Alguns fatores podem ser importantes para a pesquisa histórica no que

dizem respeito ao livro didático:

O interesse de pesquisadores na área de história da educação; os avanços ocorridos no livro didático em meados dos anos 1980; centros de pesquisas destinados a livros didáticos; e, a incerteza do futuro dos livros didáticos (CHOPPIN, 2004, p.552).

Sobre os interesses de pesquisadores na área de História da Educação,

o autor alerta que é nesta área que as pesquisas sobre livros didáticos vêm

crescendo, em relação à demanda social. Ainda segundo Choppin (2004), os

livros didáticos assumem múltiplas funções, sendo que, quatro são essenciais:

função referencial, função instrumental, função ideológica e cultural e função

documental. Na ordem, temos:

i) função referencial: o livro didático é então apenas a fiel tradução do programa ou, quando se exerce o livre jogo da concorrência,uma de suas possíveis interpretações. São técnicas ou habilidades que um grupo social acredita que seja necessário transmitir às novas gerações ii) função instrumental: o livro didático põe em prática métodos de aprendizagem, propõe exercícios ou atividades que, segundo o contexto, visam a facilitar a memorização dos conhecimentos; iii) função ideológica e cultural: instrumento privilegiado de construção de identidade, geralmente ele é reconhecido, assim como a moeda e a bandeira, como um símbolo da soberania nacional e, nesse sentido, assume um importante papel político; aqui, o livro didático assume a mais antiga das funções, desde o século XIX; e iv) função documental: surgiu muito recentemente na literatura escolar e não é universal: só é encontrada — afirmação que pode ser feita com muitas reservas — em ambientes pedagógicos que privilegiam a iniciativa pessoal da

Page 22: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

21

criança e visam a favorecer sua autonomia; supõe, também, um nível de formação elevado dos professores (p.553).

Uma história sobre livros didáticos envolve aspectos distintos os quais

servirão de base para a análise dos conteúdos específicos abordados nesta

investigação, que trata da inserção da Teoria dos Conjuntos nos livros

didáticos. Choppin (2004) enfatiza:

A história que o pesquisador escreve não é, na verdade, a dos livros didáticos: é a história de um tema, de uma noção, de um personagem, de uma disciplina, ou de como a literatura escolar foi apresentada por meio de uma mídia particular; além disso, é frequente que os livros didáticos constituam apenas uma das fontes às quais o historiador recorre (p.554).

A pesquisa acadêmica direcionada ao conteúdo do livro didático vem

aumentando desde a década de 1970, no que se refere à análise científica dos

conteúdos. Entretanto, Choppin (2004) comenta que a pesquisa acadêmica em

livros didáticos, está bastante relacionada sobre o conteúdo ideológico e

cultural do livro e, que na verdade, este tipo de pesquisa, é mais antigo do que

o citado anteriormente, ou seja, a pesquisa sobre análise de conteúdos.

Segundo Choppin (2004), pesquisadores de livros didáticos costumam

analisar sempre os mesmos manuais, sem diversificar. O autor também expõe

que, em meados dos anos 1970, pesquisadores iniciaram um processo de

investigação sobre vários contextos abordados nos livros didáticos escolares.

Nesses contextos, havia perguntas do tipo: “Qual(is) concepção(ões) de

história, qual(is) teoria(s) científica(s) ou qual(is) doutrina(s) lingüística(s)

representam ou privilegiam? Qual o papel que atribuem à disciplina?”

(CHOPPIN, 2004, p. 558).

Salientamos que o estudo histórico sobre manuais didáticos de

Matemática, começou a ganhar força por volta dos anos de 1980. Segundo

Choppin:

Observa-se também, de uns vinte anos para cá, em um número crescente de países, o desenvolvimento de trabalhos que se esforçam em coletar documentos de arquivos muito dispersos, em reconstituir, parcial ou totalmente, a história da política nacional para o livro didático (2004, p.561).

Page 23: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

22

Neste estudo, iremos abordar a Teoria dos Conjuntos presente em

alguns livros didáticos de diferentes épocas. Para tanto, nos basearemos em

alguns pesquisadores, dentre eles, o historiador Wagner Rodrigues Valente.

Conforme Valente (2008), a Matemática se constitui em uma disciplina

que mais tem sua trajetória histórica ligada aos livros escolares. Tomando

como base essa afirmação, pretendemos oferecer aos interessados em

História da Matemática e afins, dados que possam contribuir especificamente

com a História da Teoria dos Conjuntos, especificamente, sobre sua inserção

nos livros didáticos de Matemática do Brasil.

Valente (2008) comenta a respeito de novos manuais didáticos,

enfatizando que é por meio da verificação dos conteúdos dos livros didáticos

que o historiador pode constatar se um novo livro abrange ou não, conteúdos

do passado de uma determinada disciplina:

O estudo desses novos manuais poderá revelar importantes elementos constituintes da trajetória histórica de uma dada disciplina escolar. Caberá ao historiador indagar em que medida o aparecimento de uma nova proposta – apresentada num manual audacioso e inédito – foi capaz de fertilizar produções didáticas posteriores e de ser apropriadas por elas, a ponto de converter-se numa nova vulgata

2 que, em certa medida, poderá atestar o sucesso

da nova proposta contida no manual transformador (VALENTE, 2008, p.142).

Para Valente (2008), por meio da história de livros didáticos podemos

compreender melhor as heranças e as práticas pedagógicas, que existiam e

ainda existem no contexto escolar.

2 Vulgata é um padrão de referência que norteia a produção de livros didáticos quando uma disciplina se estabiliza: “Em cada época, o ensino dispensado pelos professores é, grosso modo, idêntico, para a mesma disciplina e para o mesmo nível. Todos os manuais ou quase todos dizem então a mesma coisa, ou quase isso. Os conceitos ensinados, a tecnologia adotada, a coleção de rubricas e capítulos, a organização do corpus de conhecimentos, mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exercícios praticados são idênticos, com variações aproximadas (CHERVEL, 1990, p.203).

Page 24: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

23

1.2 Procedimentos metodológicos

No presente trabalho optamos pelos livros “Matemática para o Curso

Fundamental”, 5º série, de 1972, dos autores Reginaldo N. de Souza Lima e

Maria do Carmo Vila e “Matemática: Curso Moderno”, 1º série ginasial, de 1968

do autor Osvaldo Sangiorgi. Ambos os livros correspondem ao atual 6º ano do

Ensino Fundamental.

Para tanto, iremos discorrer sobre o período em que a Teoria dos

Conjuntos foi inserida nos livros didáticos, período este que ficou conhecido

como Movimento da Matemática Moderna (MMM). Nossa investigação

abordará as principais características desses livros, tais como, dimensões de

capa, figuras inseridas, metodologia utilizada pelos autores e, especialmente,

as lições apresentas nos livros, de acordo com o nosso interesse de trabalho.

Escolhemos estes livros justamente por contemplarem tópicos

direcionados à Teoria dos Conjuntos. O de Sangiorgi (1968) por ter se tornado

um best-seller durante o MMM e o de Lima e Vila (1972), por ser um livro do

início da década de 1970, ou seja, período no qual o MMM já estava em

declínio. Ainda, o fato do conteúdo do livro de Lima e Vila (1972) ser

praticamente voltado para a Teoria dos Conjuntos, nos incentivou para fazer

uma análise do mesmo.

A fim de compararmos como a Matemática foi desenvolvida em livros

didáticos antes do MMM escolhemos o livro de Osvaldo Sangiorgi “Matemática:

Curso Ginasial”, 1º série (atual 6º ano) de 1954, devido à sua grande aceitação

pelos professores de Matemática daquela época. A fim de verificar como a

disciplina Matemática é desenvolvida atualmente nos livros didáticos, optamos

pelo livro de Luiz Roberto Dante (2012), “Matemática” do Projeto Teláris para o

6º ano, que, conforme o Programa Nacional de Livros didáticos para 2014,

apresenta grande diversidade de problemas articulados a outras áreas do

conhecimento e voltados às práticas sociais (BRASIL, 2013)

Page 25: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

24

CAPÍTULO 2

DESENVOLVIMENTO DA TEORIA DOS CONJUNTOS 2.1 Panorama histórico

Iniciamos este panorama histórico sobre a Teoria dos Conjuntos,

discorrendo, primeiramente, sobre alguns matemáticos que tiveram

contribuição significativa para a criação e desenvolvimento da Teoria dos

Conjuntos. Leonhard Euler (1707 - 1783), Augustus De Morgan (1806 - 1871) e

George Boole (1815 – 1864).

Leonhard Euler (1707 – 1783), matemático suíço, contribuiu

significativamente para o desenvolvimento da Matemática. Foi responsável por

algumas notações importantes no campo da Matemática, como por exemplo,

f(x) para o campo das funções e i, para a unidade imaginária dos números

complexos (EVES, 2011).

Destaquemos os Diagramas de Euler, conhecidos na Educação Básica

por Diagramas de Venn3 e que são utilizados no estudo da Teoria dos

Conjuntos. Segundo Eves (2011), Euler elaborou um dispositivo para ser

utilizado como teste de validade de raciocínios dedutivos. Este dispositivo

passou a ser conhecido como Diagramas de Euler. É possível verificar a

utilização desses diagramas por parte de Euler a partir de cartas enviadas à

princesa Phillipine Von Schwedt. O fato ocorreu durante a Guerra dos Sete

Anos (1756 – 1763), ocasião em que Euler dava aulas para a princesa

Phillipine por cartas, pois ela vivia com a corte berlinense em Magdeburg, por

causa da guerra.

Uma dessas cartas, intitulada “Of the Perfections of a Language.

Judgments And Nature of Propositions, Affirmative And Negative; Universal, or

Particular”4 sob o número 102, foi escrita em fevereiro de 1761. Nela, Euler

3 O matemático inglês John Venn (1834-1923), dedicou-se ao estudo da Lógica utilizando

diagramas, hoje conhecidos como “diagrama de Venn”, ampliando e formalizando estudos posteriores efetuados pelos matemáticos Euler e Leibniz. 4 Tradução: Sobre a perfeição da linguagem. Juízos e a natureza das proposições, afirmativa e

negativa; universal ou particular.

Page 26: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

25

especifica quatro espécies de proposições para, na próxima carta, utilizar os

diagramas para representar conjuntos.

The first is that of affirmative and universal propositions, the form of which in general is: Every A is B. The second species contains negative and universal propositions, the form of which in general is: No A is B. The third is, that of affirmative propositions, but particular, contained in this form: Some A is B.

4

And, finally, the fourth is that of negative and particular propositions, of which the form is: Some A is not B. (EULER, 1761a, p.313)

5.

Na carta de número 103, com o título “Of Syllogisms And Their Different

Forms, When The First Proposition is Universal”6, são enfatizadas palavras que

dizem respeito aos círculos ou espaços.

These circles, or rather these spaces, for it is of no importance of what figure they are of, extremely commodious for facilitating our reflections on this subject, and for unfolding all the boasted mysteries of logic, which that art finds it so difficult to explain (EULER, 1761b, p. 315)

7.

Assim sendo, são apresentadas as quatro proposições por meio dos

diagramas, que são chamados de emblemas, conforme figura a seguir:

Figura 1 – Diagramas de Euler Fonte: (EULER, 1761b, p. 315)

5 Tradução: A primeira é que das proposições afirmativa e universal, as quais, a forma geral é:

todo A é B. A segunda espécie contém proposições negativas e universais, a qual, a forma geral é: Nenhum A é B. A terceira é, que das proposições afirmativas, mas particulares, contém esta forma: Alguns A são B. E, Finalmente, a quarta é que das proposições negativas e particulares, as quais possuem esta forma: Alguns A não são B. 6 Tradução: Sobre silogismos e suas diferentes formas, quando a primeira proposição é universal.

7 Tradução: Estes círculos, ou estes espaços, não tem importância da figura que são, pois são

extremamente cômodos para facilitarem nossas reflexões sobre este assunto, e para desenrolar todos os mistérios da lógica, que a arte encontra dificuldade para explicar.

Page 27: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

26

O que se pode verificar, ao ler essas cartas é que, muito antes da

utilização dos diagramas pelo matemático Venn, Euler já fazia uso deles em

seus estudos, que podem ser considerados como embriões para investigações

posteriores, especialmente na área de Lógica e da Teoria dos Conjuntos e que,

com o passar do tempo, vieram a ser tratados no ensino de Matemática da

escola básica.

George Boole (1815 – 1864) teve papel importante no que se refere às

operações da Teoria dos Conjuntos. Boole mostrou uma nova maneira de se

fazer matemática.

Segundo a história, muito do que George Boole aprendeu, foi apenas

com estudos em livros e, ainda na adolescência, começou a ensinar

Matemática para crianças. Contudo, devido ao esforço e a grande aptidão que

mostrava para a Matemática, conseguiu alcançar voos mais altos,

compreendendo obras de matemáticos de renome como Lagrange e Laplace,

por exemplo (GARBI, 2007).

Garbi (2007) ressalta que um dos grandes méritos de Boole foi observar

que operações matemáticas como adição, subtração e multiplicação, não

precisavam se restringir apenas aos números. Estendendo o conceito das

operações matemáticas para o universo dos Conjuntos e por meio de

diagramas de Venn, Boole mostrou que essas operações podiam ser

exploradas por meio de conjuntos. Iremos apresentar algumas dessas

operações, aquelas que julgamos mais coerentes com esta pesquisa, tais

como união, intersecção e inclusão entre conjuntos.

Por volta do ano de 1847, apareceu então uma nova álgebra, que

passou a ser conhecida como a Álgebra de Boole ou Álgebra dos Conjuntos

(BOYER, 1996). George Boole apresentou as operações entre Conjuntos, por

meio dos seguintes símbolos:

i) com o +, Boole indicou a união entre conjuntos, ou seja, o que hoje

conhecemos pela notação A U B (união entre conjuntos), Boole indicou como A

+ B para indicar esta operação entre conjuntos. Podemos dizer que A U B é o

conjunto formado pelos elementos que pertencem a A ou a B (GARBI, 2007).

Page 28: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

27

ii) com o símbolo de multiplicação (x) mostrou a intersecção entre

conjuntos, ou seja, a notação que hoje é conhecida como A B (lê-se: A

intersecção B), Boole denotou por A x B. Nesta ocasião, dizemos que A B é

o conjunto formado pelos elementos em comum a A e a B. Gostaríamos de

chamar a atenção do leitor para não confundir a notação A x B (intersecção de

Boole), com A X B, que lemos “A cartesiano B”, ou seja, produto cartesiano

(GARBI, 2007).

O símbolo para representar o conjunto vazio, denotado hoje por , na

Álgebra dos Conjuntos de George Boole, era o “0” (zero), responsável para

dizer que um conjunto não possui nenhum elemento. O símbolo foi inventado

por André Weil8 (DUARTE, 2007).

George Boole defendia que a lógica teria de estar associada diretamente

com a Matemática chegando a escrever:

Poderíamos com justiça tomar, como característica definitiva de um verdadeiro Cálculo, ser um método que se apóia no uso de símbolos, cujas leis de combinação são conhecidas e gerais, e cujos resultados admitem uma interpretação consistente... É com base nesse princípio geral que eu pretendo estabelecer o Cálculo da Lógica, e que reivindico para ele um lugar entre as formas reconhecidas da Análise Matemática. (BOYER, 1996, p.401).

Essa nova Álgebra estava se caracterizando, justamente por mostrar

que a Matemática não precisava se restringir somente a números. Desde que

fosse feita uma estrutura que permitisse compreender sua precisão, seja por

meio de simbologias ou não, tal área do conhecimento poderia fazer parte do

universo matemático.

Boole obteve reconhecimento, e sua obra causou comentários elogiosos

entre os matemáticos de sua época, chegando ao ponto de Bertrand Russel,

dizer que a Matemática pura havia sido descoberta por ele (BOYER, 1996).

8 o símbolo é uma letra dos alfabetos norueguês e dinamarquês que, foi sugerido pelo

matemático francês André Weil (1906 - 1998). André Weil, matemático integrante do grupo Bourbaki, foi professor da USP (Universidade de São Paulo) entre os períodos de 1945 e 1947) (DUARTE, 2007).

Page 29: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

28

O matemático Augustus De Morgan (1806 – 1871) graduou-se em

Cambridge e foi professor na Universidade de Londres, tendo iniciado neste

cargo no ano de 1828. De Morgan também mostrou muito interesse pela

História da Matemática (EVES, 2011).

Entretanto, o fato de citarmos De Morgan em nossa pesquisa, é

justamente pelo motivo do matemático ter dado continuidade à Álgebra dos

Conjuntos de George Boole, sendo responsável pela dualidade da Teoria dos

Conjuntos representadas pelas chamadas leis De Morgan:

Se A e B são subconjuntos de um dado conjunto universo, então o complemento da união de A com B é a intersecção dos complementos de A e de B, e o complemento da intersecção de A e

B é a união dos complementos de A e B (em símbolos: (AUB)’=A’

B’ e (A B)’ = A’U B’ onde X’ indica o complemento de X) (EVES,

2011, p.558).

Os estudos sobre a Teoria dos Conjuntos aconteceram após o período

da História da Matemática conhecido como a “Crise dos Fundamentos”. Esta

crise ocorreu após o surgimento da Geometria não-euclidiana, em parte como

consequência dos matemáticos tentarem demonstrar o 5º postulado de

Euclides9. A Geometria Euclidiana, considerada como modelo por filósofos e

matemáticos até o século XIX, deixou de ser um modelo lógico para a

Matemática. A partir de então, os matemáticos começaram a buscar outros

sistemas para fundamentar as várias áreas da Matemática. (DUARTE, 2007).

Nessa época, ocorreu o aprofundamento da Análise. Foi no século XIX

que ocorre a preocupação em fundamentar a Análise por meio da Aritmética.

Começa-se a estabelecer definições de número irracional, sem o recurso a

intuições geométricas. Até então o número real era concebido de maneira

intuitiva, por meio da Geometria e da Álgebra. Esse período ficou conhecido

como a Aritmetização da Análise ou redução dos princípios da Análise ao

conceito de número real.

9 Segundo a história, Euclides viveu por volta dos anos 300 a.C. e, é autor da famosa obra Os

Elementos. Esta obra é famosa por ser uma das maiores influências no pensamento ocidental e, até por volta do século XIX, foi considerada um modelo a ser seguido pelo pensamento científico (DUARTE, 2002).

Page 30: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

29

Três nomes importantes surgem então: Karl Weierstrass (1815 – 1897),

Richard Dedekind (1831 – 1916) e Georg Cantor (1845 – 1918), sendo que

este último tratou a Matemática buscando uma linguagem diferente. Tributa-se

a criação da Teoria dos Conjuntos a George Cantor. Esses três matemáticos

acreditavam que a Matemática deveria, por meio de provas e definições,

apresentar mais consistência, ser mais rigorosa do que da forma como vinha

sendo feito até então (DUARTE, 2007). Para tanto, tiveram que aprofundar os

estudos sobre o infinito.

Segundo Clímaco (2007) e Carvalho (2012), o matemático Weierstrass

foi um dos pioneiros neste contexto. Seu trabalho forneceu fundamentos

sólidos para a Análise, conduzindo a uma formalização rigorosa a partir da

noção de Limite.

Richard Dedekind construiu uma teoria rigorosa sobre os números

irracionais. Ao observar os números racionais na reta, verificou que entre dois

racionais quaisquer sempre há um terceiro racional. Verificou também que

havia espaços na reta que não seriam preenchidos por este conjunto numérico

ou, em outras palavras, que os números racionais não formariam o continuum.

Dedekind, então, constatou que o conjunto dos números racionais poderia ser

estendido para outro conjunto, formando assim, o conjunto dos números reais

(BOYER, 1996). Portanto, a Matemática começou a ser exposta por meio de

um novo universo e, em palavras, Dedekind se manifestou: “Por observação

trivial o segredo da continuidade será revelado” (BOYER, 1996, p.390).

Georg Cantor estava voltado para os estudos que envolviam a análise

de Weierstrass e, sendo assim, começou a explorar o campo do infinito de

maneira mais profunda, de tal modo que nenhum outro matemático tinha

ousado explorar. Isto não significa que ninguém antes de Cantor, tivesse

pensando ou exposto o assunto em questão, mas foi Cantor que lapidou e

explorou o campo do infinito com maior profundidade (BOYER, 1996).

Alguns matemáticos afirmavam que a Teoria dos Conjuntos de Cantor,

poderia servir como base fundamental para toda Matemática, tais como Gottlob

Frege (1848 – 1925) que mostrou que os números naturais poderiam ser

construídos por meio de um conjunto vazio.

Page 31: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

30

Não menos importante, nesta época em que a Teoria dos Conjuntos

estava se consolidando como uma linguagem para toda a Matemática,

Bertrand Russel e Whitehead (1861 – 1947) foram personagens extremamente

significativos neste contexto, pois o “programa dos lógicos”, desenvolvido por

ambos, sustentava mais ainda a ideia de que a Teoria dos Conjuntos de Georg

Cantor era fundamental para a construção de toda Matemática. (CARVALHO,

2012).

Entretanto, para Carvalho (2012), Bertrand Russel descobriu uma

contradição na Teoria dos Conjuntos, e começaram surgir incertezas sobre a

teoria, começaram a surgir paradoxos, dentre os quais, um ficou mais

conhecido como Paradoxo de Russell.

2.1.2 O paradoxo de Russell

Dificilmente pode recair sobre um autor científico maior infortúnio do que ver abalada uma das fundações do seu edifício depois do trabalho terminado. Foi essa a posição em que me vi colocado por uma carta do Sr. Bertrand Russell [...] Mesmo agora, não vejo como a aritmética pode ser cientificamente estabelecida; de que modo os números podem ser apreendidos como objetos lógicos e reexaminados; a não ser que nos seja permitido – ao menos condicionalmente – passar de um conceito para a sua extensão. (ACZEL, 2003, p.156)

As palavras acima se referem à reação do lógico alemão Frege (1848 –

1925), ao lembrar-se da carta recebida de Bertrand Russell (1872 – 1970), em

meados dos anos 1901. Frege, lembrou-se da reação que teve ao ler a carta

de Russell, o qual explicava que teria descoberto um paradoxo no campo da

Teoria dos Conjuntos, justamente quando Frege estava prestes a terminar uma

obra sobre axiomas direcionados à Teoria dos Conjuntos (ACZEL, 2003). Este

paradoxo ficaria conhecido no universo matemático, como o “paradoxo de

Russell”.

Seja um R-conjunto de tal forma que este seja um conjunto que se inclui. Consideremos um conjunto M, cujos membros são todos os conjuntos possíveis, excetuando-se os R-conjuntos. M é um R-conjunto? Resposta: Não. M não é um R-conjunto? Resposta: Também não. Ou seja, a definição de M, que parecia inofensiva, mostrou-se autocontraditória. (DAVIS; REUBEN, 1985, p.374-375).

Page 32: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

31

Russell, conhecido assim pelos matemáticos, foi considerado um

excelente filósofo que chegou a publicar obras nos campos da metafísica e da

ética por exemplo e, no universo matemático é dono da obra “princípios

matemáticos” (ACZEL, 2003). Esta obra de Russel é dividida em três partes,

ou seja, três volumes, mas não iremos nos aprofundarmos neste assunto, com

o intuito de não fugirmos da proposta de nosso objeto de estudo.

Ainda segundo Aczel (2003), o paradoxo de Russell se tornou o maior

perturbador de sonos dos matemáticos da época, isto se tratando do campo da

Teoria dos Conjuntos. Porém, este paradoxo não foi um problema acerca

somente da Matemática, pois, segundo Gonçalo (2008), o paradoxo de Russell

também se tornou um problema na parte de filosofia, historicamente falando.

Conforme afirma Ávila (2000) os paradoxos surgem por causa de o

discurso ser amplo demais, ou seja, por existirem lacunas que permitem às

pessoas interpretar determinadas situações de mais de uma maneira e,

portanto, o discurso em questão, tem de ser fechado dentro de um contexto

não havendo assim, a possibilidade de sair do universo do discurso. Logo, para

que não haja paradoxos, Ávila (2000) afirma que o universo deve ser restrito.

O paradoxo de Russell pode ser entendido por meio de alguns exemplos

envolvendo situações-problema. Vamos colocar em nossa pesquisa, o

problema do “barbeiro” que remete o seguinte contexto: “O barbeiro de Sevilha

barbeia todos os homens da cidade de Sevilha que não se barbeiam sozinhos.

E o barbeiro de Sevilha, faz a própria barba? Se faz, então ele não faz. Se não

faz, então faz” (ACZEL, 2003, p.154).

Neste tópico, detivemos nossa atenção sobre a origem da Teoria dos

Conjuntos, enfocando, especialmente, a participação de George Cantor, bem

como Georg Boole, Richard Dedekind e outros, mostrando as dificuldades

enfrentadas por esses matemáticos, suas hesitações e convicções, de modo a

despertar a atenção para os aspectos históricos envolvidos na construção

desse conteúdo matemático.

Page 33: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

32

2.1.3 Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845 – 1918)

Cantor nasceu em S. Petersburgo, cidade russa, no dia 3 de março de

1845 e ainda menino mudou-se para a Alemanha, onde cresceu e fez sua

carreira como matemático. Doutorou-se no ano de 1867 na Universidade de

Berlin, quando defendeu uma tese sobre a teoria dos números (DOMINGUES,

2003).

Casou-se aos 29 anos com Vally Guttmann. Em um feriado de 1874

conheceu Dedekind10 em Interlaken, Suiça, e começaram a discutir a Teoria

dos Conjuntos. Dedekind foi um dos matemáticos que deu apoio a Teoria dos

Conjuntos de Cantor, pois, na época, a teoria de Cantor contrariava muitos

conceitos matemáticos aceitos até então. Isto ocasionou problemas em sua

carreira, como por exemplo, para fazer publicações, quando muitos de seus

artigos eram barrados, sendo um deles, sobre a própria Teoria dos Conjuntos,

devido a um editor do jornal, Leopold Kronecker11 (1823 – 1891), que também

foi seu professor na Universidade de Berlin e que tinha ideias contrárias

àquelas defendidas por Cantor. Kronecker chegou a pedir que os números

negativos, fracionários, imaginários e irracionais fossem banidos, alegando que

os problemas dos matemáticos estavam ao redor de todos esses números.

Kronecker foi o autor da frase : “Deus fez os números inteiros e o resto é

criação humana”. Boa parte das teorias que Cantor publicou foram totalmente

ignoradas, graças à Kronecker (BOYER, 1996, p.394).

Por outro lado, Cantor teve apoio de outros matemáticos, sendo um

deles Dedekind, conforme já mencionamos. Cantor costumava escrever para

Dedekind sobre suas ideias e, em 1877, enviou um artigo para a revista

Crelle’s Journal, que foi publicado no ano seguinte. Neste artigo, discutia os

conjuntos enumeráveis (conjunto cujos elementos podem ser postos em

10

Richard Dedekind (1831 – 1946) foi um matemático que, ao considerar a estrutura lógica da Física imprecisa, resolveu se dedicar ao estudo da Matemática, com ênfase aos estudos do Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Analítica e Teoria dos Números. Obteve o título de Doutor em 1852, sob supervisão de Frederich Gauss (1777 – 1855). Sua principal obra, intitulada Stetigkeit Und Irrationale Zahlen, foi publicada em 1872 e é conhecida como cortes de Dedekind, onde elaborou uma definição aos números irracionais. 11

Leopold Kronecker (1823 – 1891). Matemático alemão, obteve o grau de doutor em 1845 com tese sobre Teoria dos Números. As suas principais contribuições para a matemática foram no campo da álgebra e continuidade de funções.

Page 34: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

33

correspondência biunívoca com os elementos do conjunto dos números

naturais) (BOYER, 1996).

Cantor foi um matemático que não teve o reconhecimento que esperava

durante sua carreira. Cantor pretendia ser professor em uma universidade

conceituada, mas durante sua carreira permaneceu como professor da

universidade de Halley, não conseguindo atingir o posto tão desejado,

justamente pelas críticas desferidas por matemáticos que não aceitavam suas

ideias e teorias. Quando Leopold Kronecker morreu, os trabalhos de Cantor

começaram a ser valorizados e seu nome começou aparecer como um dos

grandes matemáticos da época.

Entretanto, a fama para Cantor chegou tarde, já que seu estado de

saúde não permitia que ele continuasse com suas teorias, sendo uma delas,

conhecida como “A hipótese do contínuo”. Cantor não conseguiu provar essa

hipótese. Somente em 1963, Paul Cohen12 provou que não seria possível fazer

a demonstração dessa hipótese.

Georg Cantor desenvolveu outros ensaios antes mesmo de criar a

Teoria dos Conjuntos, como por exemplo, as Séries trigonométricas, Teoria dos

números, Aritmética dos números transfinitos e A hipótese do contínuo, como

foi citado anteriormente. Os Números transfinitos receberam este nome

simplesmente para diferenciar que existiam diferentes tipos de infinitos.

Georg Cantor, interessado em explorar novos campos dentro da

Matemática, mais necessariamente o conceito do infinito, estava disposto a

elaborar uma estrutura que o levasse a provar a existência de infinitos maiores

que outros infinitos, por meio da definição de conjunto potência.

Podemos construir toda uma estrutura no campo de conjuntos, partindo

do conjunto vazio, denotado por , que aliás, é o único conjunto que podemos

dizer que existe uma definição (ACZEL, 2003).

12

Paul Cohen (1934 – 2007). Matemático americano, chegou a receber a medalha Fields no ano de 1966, pelo seu trabalho fundamentado da Teoria dos Conjuntos.

Page 35: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

34

Como exemplo13, se considerarmos o conjunto S = {x, y, z}, o conjunto

potência do conjunto S, será dado por:

i. Sendo o conjunto vazio, subconjunto de qualquer conjunto, então o

primeiro subconjunto de S, será o .

ii. Em seguida, escrevemos todos os subconjuntos, unitários de S. Logo,

obteremos {x}, {y} e {z}.

iii. Depois, formamos os subconjuntos com os pares de S, ou seja,

teremos {x, y}, {x, z} e {y, z}.

iv. Finalizamos com o subconjunto formado pelos três elementos de S,

obtendo {x, y, z}.

Reunindo os novos conjuntos obtidos em i, ii, iii e iv, que são

subconjuntos do conjunto S, teremos um novo conjunto formado por oito

elementos, sendo o qual, podemos escrever:

P(S) = { , {x}, {y}, {z}, {x, y}, {x, z}, {y, z}, {x, y, z}}.

Como podemos observar, este novo conjunto P(S), possui 8 elementos,

enquanto que o conjunto S, possui 3 elementos. P(S), é dito como conjunto

potência de S, ou conjunto das partes de S, sendo que, Georg Cantor observou

que o conjunto das partes de um conjunto, era maior do que o conjunto inicial e

verificou que o número de elementos do conjunto das partes é 2n, sendo que n

representa o número de elementos do conjunto inicial.

Desta forma, podemos estabelecer a quantidade de elementos do

conjunto das partes de qualquer conjunto com n elementos por meio da

expressão 2n. Contudo, segundo Aczel (2003), Georg Cantor fez a seguinte

pergunta para si mesmo: Como representar o conjunto das partes de um

conjunto infinito? Cantor estava interessado em analisar se o conjunto potência

de um conjunto infinito, poderia ser definido por meio do mesmo contexto de

um conjunto finito, ou seja, por uma expressão como 2n.14

13

Exemplo inspirado em leituras efetuadas nas obras de Garbi (2007) e Aczel (2003). 14

Exemplo inspirado em leituras efetuadas nas obras de Garbi (2007) e Aczel (2003).

Page 36: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

35

2.1.4 O conceito de infinito e a Hipótese do Continnum

O matemático Georg Cantor, no desenvolvimento da Teoria dos Conjuntos,

ao explorar conjuntos infinitos, de maneira surpreendente concluiu que

poderiam existir dois tipos de infinitos:

i) o infinito correspondente à cardinalidade do conjunto dos números naturais;

ii) o infinito correspondente à cardinalidade do contínuo, ou seja, ao conjunto de pontos do segmento de uma reta (CARVALHO, 2012).

Envolvido com a questão de como poderia analisar o infinito,

Cantor resolveu nomear os diferentes tipos de infinitos como números

transfinitos. Para tanto, utilizou a primeira letra do alfabeto hebraico para

representar os números cardinais transfinitos, o alef, em símbolo, . Segundo

Aczel (2003), Georg Cantor escolheu o alef quando estava procurando provas

da existência de diferentes tipos de infinitos. Na ocasião, obteve apoio do papa

Leão XIII, pois este levantava a hipótese de que, por meio da melhor

compreensão do conceito de infinito, poderia chegar mais próximo da

existência do divino. O símbolo representa Deus e sua infinitude, de tal modo

que Cantor acreditava que por meio do infinito poderia chegar próximo de

Deus.

Assim, Cantor resolveu denominar o menor dos infinitos como alef-zero

( 0) e, desde então, começou uma busca pelo conjunto das partes de 0 , sendo

que, todas essas buscas apontavam para a veracidade da expressão em que o

conjunto das partes do alef zero seria igual a um infinito maior, denominado 1

(lê-se: alef um), ou seja, 0 = 1 . Posteriormente, essa hipótese não se

confirmou.

Para tal busca, Cantor acreditava que estaria entrando num novo campo

matemático e, resolveu assim, nomear todos os seus estudos em relação ao

menor dos infinitos como a Hipótese do Continnum que, em símbolos, seria a

Page 37: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

36

expressão 0 = 1. Aczel (2003) afirma, em obra de sua autoria, intitulada “O

mistério do Alef” que uma das possibilidades de Georg Cantor ter ficado

gravemente enfermo, foi justamente por estar totalmente concentrado em

provar a Hipótese do Continnum. O que Cantor estava fazendo era muito

complexo e difícil de compreender, tanto que ele mesmo chegou a escrever

cartas para o amigo Mittag-Leffler (1846 – 1927), por volta do ano 1884, sendo

que, ora dizia ter demonstrado a Hipótese do Continnum e ora dizia ter

demonstrado o inverso, ou seja, que seria impossível demonstrar tal hipótese.

Magnus Gösta Mittag-Leffler, estudante e seguidor de Karl Weierstrass,

de certa forma teve importância na vida de Georg Cantor. Mittag-Leffler fundou

o periódico Acta Mathematica e tinha o costume de se corresponder com

matemáticos de vários lugares, auxiliando-os, dentre eles, Georg Cantor

(Boyer, 1996). Essa correspondência foi intensa justamente na época em que

Cantor estava tentando provar a Hipótese do Continuum, por volta do ano de

1884.

Retomando à Hipótese do Continnum, Cantor se complicou ainda mais

para provar tal hipótese após os paradoxos relacionados à Teoria dos

Conjuntos, principalmente, devido à sua saúde precária. Neste período em que

Cantor estava obcecado em provar a Hipótese do Continuum, frequentemente

delirava, não fazendo distinção entre o mundo real e outro mundo totalmente

abstrato, cheio de fantasias (ACZEL, 2003).

Georg Cantor morreu no dia 6 de janeiro de 1918. Pouco antes de

falecer, deixou o registro de que não poderia haver um conjunto que contivesse

tudo, ou seja, um conjunto com a maior cardinalidade de todos. (ACZEL, 2003).

Surge então, outro matemático genial que pode ser considerado como o

sucessor de Georg Cantor, não apenas por concentrar-se na Hipótese do

Continuum e o profundo interesse pelo infinito, mas também, coincidentemente,

por adoecer e começar a delirar sobre o real e o imaginário, chegando ao ponto

de sofrer das mesmas características de Cantor. Este gênio matemático,

sucessor de Cantor, foi Kurt Friedrich Gödel (1906 – 1978), nascido na

Tchecoslováquia (República Tcheca) (ACZEL, 2003).

Page 38: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

37

Gödel viria a demonstrar que diante de um sistema dado na Matemática,

mesmo havendo um teorema que implicasse numa verdade, poderia acontecer

diante do mesmo, proposições impossíveis de serem provadas. Um dos

teoremas mais conhecidos de Kurt Gödel é o Teorema da Incompletude que,

segundo Aczel (2003), se relaciona diretamente com o teorema de Cantor, ou

seja, não existe um conjunto com o maior cardinal.

Contudo, Gödel estaria mostrando aos matemáticos que nem todos os

teoremas poderiam ser submetidos a provas, mesmo sabendo que a

Matemática depende de coisas dadas como verdades, tais como um conjunto

de axiomas, em que podemos partir desse princípio para fazer uma

demonstração e obter uma prova. Sendo assim, considerando que existem

teoremas que não podem ser provados, Kurt Gödel concentrou suas forças

naquilo que teria atormentado Georg Cantor durante anos, ou seja, a Hipótese

do Continuum, que não poderia ser provada, embora Cantor, por diversas

vezes, chegasse a escrever para Mittag-Leffler dizendo ter conseguido provar

tal hipótese e, outras vezes, dizendo não ser possível comprovar essa

hipótese, conforme já vimos neste trabalho.

Aczel (2003) nos transmite a ideia de que, para Cantor, dentro de um

sistema, sempre existe a possibilidade de haver propriedades que a mente

humana jamais conseguirá compreender, ou em outras palavras, em se

tratando da Teoria dos Conjuntos, dado um conjunto qualquer, sempre existirá

um conjunto maior que o conjunto dado, se utilizarmos o critério do conjunto

potência, assim definido por Cantor.

Voltemos nossa atenção novamente para Gödel. Após ter provado que

no universo matemático, sempre existirão resultados que jamais poderão ser

provados, Gödel se concentrou na Hipótese do Continuum. O contínuo

começou a tomar conta da mente de Gödel e, assim como Cantor, aos poucos

ele perdeu o senso entre a realidade e o mundo real.

Por volta da década de 1930, Gödel resolveu concentrar todos os

esforços na Teoria dos Conjuntos, especialmente aos problemas do infinito.

Apesar de ter recebido muitos convites para estudar na América, como no IEA

(Instituto de Estudantes Avançados) dos EUA, Gödel apostava fortemente que

Page 39: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

38

conseguiria provar que a Hipótese do Continuum, seria consistente com a

Teoria dos Conjuntos e, segundo Aczel (2003), nas noites de 14 e 15 de junho,

ele teria conseguido então, êxito com a Hipótese do Continuum.

Ainda com base em Aczel (2003), a prova que Gödel obteve sobre a

Hipótese do Continuum, no final da década de 1930, implicava em dizer que tal

hipótese funcionava num campo fora da Matemática, ou seja, num campo

diferentemente daqueles que constroem os fundamentos matemáticos.

Contudo, assim como Cantor, Kurt Gödel começou a acreditar que ora teria

encontrado uma prova consistente da Hipótese do Continuum e ora teria

conseguido o contrário. Isso fez com que Gödel abandonasse a tentativa de

provar que o Continuum pertencesse a um campo distinto da Matemática e

começasse a pensar em provar outras coisas, totalmente fora do contexto

matemático.

Em sua obra “O Mistério do Alef”, Aczel (2003) comenta o fato de Kurt

Gödel ter desacreditado que a Hipótese do Continuum pudesse ser provada,

tanto que começou a ter ideias contrárias as de Georg Cantor. Mas essas

ideias não vem ao caso, pelo menos em nossa pesquisa. O leitor pode estar

nos questionando sobre que fim levou a Hipótese do Continuum. Afinal, o

continuum era consistente, era verdadeiro de acordo com o que Cantor e Gödel

tentaram demonstrar durante tantos anos? Por fim, no ano de 1963, o

matemático Paul Cohen (1934 - 2007), conseguiu demonstrar que a Hipótese

do Continuum era independente de todos os axiomas da Teoria dos Conjuntos.

Logo, Paul Cohen provou que a Hipótese do Continuum seria algo impossível

de se trabalhar dentro do atual sistema de axiomas, ou seja, seria impossível

dizer se a Hipótese de Cantor era verdadeira ou não.

O que Cohen fez foi determinar um conjunto de postulados com regras

de lógica, dando assim, o ponto de partida para provar a Hipótese do

Continuum e, consequentemente, ampliou este conceito para um sistema de

regras que seriam aplicáveis naquilo que queria demonstrar. Apesar de obter

êxito, alguns matemáticos encontraram erros em sua demonstração, mas

Cohen os corrigiu e finalmente provou que a Hipótese do Continuum de Cantor,

seria impossível de demonstrar dentro do atual sistema de axiomas da Teoria

Page 40: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

39

dos Conjuntos. Desde então, independentemente de tal hipótese ser

verdadeira ou não, o que se sabe, é que a hipótese de Cantor é incompatível

com nosso atual sistema, ou seja, para fins matemáticos a Hipótese do

Continuum não tem como ser demonstrada (ACZEL, 2003).

Apresentemos a seguir, um esquema retirado da obra “O mistério do

Alef”, de Amir O. Aczel (2003). O autor procura nos mostrar a cardinalidade de

finitos e cardinais não acessíveis de ordem inferior e, mostrando o menor

infinito, o 0 (alef-zero).

(ACZEL, 2003, p. 186)

Nos últimos tempos do século XX, teóricos de conjuntos

desenvolveram trabalhos sobre a Teoria dos Conjuntos que dizem respeito aos

números transfinitos. Assim, a Teoria dos Conjuntos foi tema de interesse de

muitos matemáticos como Cantor, Gödel, Cohen e, mais recentemente, em

1974, Jack Silver, da Universidade da Califórnia provou resultados

relacionados aos alefs, abrindo novos caminhos para pesquisas dentro desta

teoria (ACZEL, 2003).

Page 41: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

40

CAPÍTULO 3

A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS NO MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA

Neste capítulo apresentamos um panorama sobre a implementação da

Teoria dos Conjuntos durante o Movimento da Matemática Moderna (MMM).

3.1 O primeiro movimento internacional

Conforme vimos no capítulo anterior, a Teoria dos Conjuntos apareceu

no final do século XIX e ganhou força no Ensino Secundário durante o período

denominado como Movimento da Matemática Moderna (MMM), ou seja, entre

1950 e 1970. Procurando melhor compreender as causas da implementação da

Teoria dos Conjuntos, iniciamos esse capítulo discorrendo, de forma sucinta,

sobre a época que antecipou o MMM.

Segundo Vitti (1998), um dos principais matemáticos que demonstrou

preocupação com o ensino da disciplina de Matemática, foi Felix Klein (1849 –

1925). Klein percebeu que os estudantes universitários de cursos de

Matemática mostravam falta de alguns pré-requisitos, razão pela qual começou

a pensar em uma aproximação entre a Matemática, como disciplina escolar e a

Matemática, como instrumento de trabalho dos matemáticos.

Acreditando que uma das causas que levava a Matemática ser

entendida de forma distinta entre professores, educadores e matemáticos era a

separação entre a educação humanística e científica, Felix Klein defendeu a

necessidade de uma eficiente formação para os professores, alegando que as

aulas do Ensino Secundário, precisavam englobar métodos mais atraentes,

vivenciados com entusiasmo (VITTI, 1998).

Assim sendo, Felix Klein organizou um curso durante a Páscoa no ano

de 1908 para professores de Matemática e Física. Este curso, posteriormente,

foi publicado em 1939 e foi reeditado em 2004. Nele Klein manifestou interesse

Page 42: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

41

em fazer uma ligação entre a Matemática escolar e aquela trabalhada no

Ensino Superior:

I am glad to refer to a vacation course for teachers of mathematics and physics which was given here in Gottingen during the Easter vacation in 1908. In it I gave an account of my winter lectures. In connection with this, and also with the address of Professor Behrendsen of the local gymnasium, there arose an interesting and stimulating discussion concerning the reorganization of school instruction in arithmetic, algebra, and analysis, and more particularly about the introduction of differential and integral calculus into the schools (KLEIN, 2004, p.1 )

15

Entretanto, Klein jamais descartou o ensino da Matemática pura e,

segundo ele próprio, “o estudo da Matemática deveria acontecer em conjunto

com Matemática Pura” (VITTI, 1998, p.36)

Klein defendia que a Matemática poderia servir de alicerce para outras

áreas. Com isso, chegou a declarar que outros cursos deveriam ter aulas de

Matemática, como por exemplo, o curso de Medicina, conforme afirma Vitti:

Partindo do princípio do estudo da Matemática como uma ferramenta educacional formal, declarou que por esse motivo todos os demais cursos deveriam ter aulas de Matemática, até mesmo o curso de medicina (VITTI, 1998, p.37).

Ainda, segundo Vitti (1998), Felix Klein, preocupado em diminuir a

distância entre a Matemática e a Matemática do ensino secundário, juntamente

com outros professores e pesquisadores, decidiu criar um espaço para debates

que envolvesse as ideias dos profissionais envolvidos com a Matemática.

A necessidade de socializar as descobertas de todo esse período de florescimento da Matemática e das questões relacionadas com o seu ensino, culminou com a organização de sociedades especializadas, bem como a publicação de periódicos específicos e, por fim, com o surgimento de encontros internacionais (VITTI, 1998, p.38).

Felix Klein também teve importante destaque no IV Congresso

Internacional de Matemática que foi realizado na cidade de Roma, Itália,

15

Tradução: Estou contente por me referir a um curso de férias para professores de matemática e física, que foi dado aqui em Göttingen, durante as férias de Páscoa em 1908. Nele eu dei uma parte de minhas palestras de inverno. Em conexão com isto, e também com o endereço do Professor Behrendsen do ginásio local, surgiu uma discussão interessante e estimulante sobre a reorganização da instrução escolar da aritmética, álgebra e análise e, mais particularmente, sobre a introdução do cálculo diferencial e integral nas escolas.

Page 43: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

42

durante o ano de 1908. Naquela ocasião presidiu uma comissão internacional,

a CIEM (Commission Internationale de l'Enseignement Mathématique) ou

IMUK (Internationale Mathematische Unterrichtskommission), encarregada de

realizar um levantamento da educação matemática praticada em diversos

países. A grande quantidade de relatórios produzidos pelos diferentes países

permitiu analisar o ensino de Matemática daquela época, favorecendo a Klein

conduzir uma proposta de internacionalização de reformas curriculares

efetuadas na Alemanha, a qual inspirou o primeiro projeto de

internacionalização do ensino de Matemática. A partir daquele ano, até por

volta dos anos de 1920, iniciava-se uma forte manifestação de educadores em

prol do ensino de Matemática voltado para a Educação Básica, desencadeando

por diversas partes do mundo uma preocupação com a maneira de se ensinar

a Matemática. Todo esse trabalho foi fortemente apoiado pelo CIEM, então

comandada justamente por Felix Klein (PEREIRA, 2012).

O movimento modernizador que estava acontecendo na Europa,

presidido por Klein, começou a surtir efeito no Brasil por volta do ano de 1927.

O professor Euclides de Medeiros Guimarães Roxo (1890 – 1950), na época

Diretor do Externato do Colégio Pedro II16, propôs a renovação do ensino de

Matemática para a Congregação do Colégio Pedro II. A partir de 1931, as

medidas de reestruturação do ensino secundário propugnadas por Euclides

Roxo passaram a ser adotadas em todas as escolas brasileiras, uma vez que o

Colégio Pedro II era referência para todo o Brasil. No caso, Euclides Roxo

apropriou-se da proposta renovadora defendida por Felix Klein:

Convidado pelo ministro Francisco Campos para elaborar os novos programas de Matemática baixados com o decreto 19890 de 18 de abril de 1931, redigiu os programas e as instruções pedagógicas para o ensino dessa disciplina de acordo com as modernas tendências e com os pontos de vista que foi o primeiro a preconizar entre nós (APER, E.R.T.1.007 apud DUARTE, 2002, p.77).

16

Colégio Pedro II – Atualmente é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) situada no Rio de Janeiro, que conta com 12 unidades. Sua origem foi marcada em 1739, quando foi fundado o Colégio dos Órfãos de São Pedro pelo 4º Bispo do Rio de Janeiro. Em 1837, o Ministro do Império, Bernardo Pereira de Vasconcelos, apresentou decreto, que assim mudava-lhe o nome para Imperial Colégio Pedro II. Foi considerado colégio modelo para os demais estabelecimentos de ensino existentes no país (DANTAS, 2011, p.15).

Page 44: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

43

Dessa forma, com o propósito de reorganizar o ensino de Matemática,

Euclides Roxo propôs em 1929 unificar a Aritmética, a Álgebra e a Geometria

numa só disciplina, ou seja, a Matemática. Nesse sentido lançou a obra “Curso

Matemática Elementar”, em três volumes, de acordo com essa nova

reestruturação (DUARTE, 2002).

Segundo Euclides Roxo, a nova reforma defendia três tendências do

movimento de reforma internacional, quais sejam, a metodologia, a seleção da

doutrina e a finalidade do ensino.

A primeira tendência, a metodologia, dizia respeito à importância de um

ensino voltado para o ser humano, mais do que ao conteúdo a ser ensinado,

conforme a maturidade do aluno, começando pela intuição e pouco a pouco ir

apresentando os elementos lógicos. Já a segunda tendência referia-se à

escolha da matéria a ensinar, considerando as aplicações da Matemática ao

conjunto das outras disciplinas, de modo a preparar o aluno para a vida,

utilizando aplicações práticas. A terceira tendência, qual seja, a subordinação

da finalidade do ensino às diretrizes culturais da época, considera que o ensino

da Matemática deveria estar subordinado às aplicações das ciências físicas e

naturais e à técnica (DUARTE, 2002).

Destas tendências, segundo Euclides Roxo, derivavam outras

características, a saber: a fusão dos diferentes ramos da Matemática: a

aritmética, a álgebra e a geometria em uma única disciplina; a introdução da

noção de função; o abandono, em parte, da rígida geometria euclidiana;

introdução das noções de coordenadas e de geometria analítica; introdução

das noções de cálculo diferencial e integral; a introdução do método de

laboratório, com o propósito levar o aluno à descoberta de fatos matemáticos;

desenvolver no aluno uma base sólida em História da Matemática (DUARTE,

2002).

Contudo, mesmo com as ideias inovadoras de Euclides Roxo em torno

do movimento internacional que estava acontecendo na Europa, por meio das

ideias de Felix Klein, a reforma do ensino de Matemática proposta por Roxo

não contemplava a Teoria dos Conjuntos (DUARTE, 2002).

Page 45: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

44

Nessa época, até a década de 1950, não se pensava na inserção da

Teoria dos Conjuntos no ensino secundário. Essa inserção ocorreu a partir do

Segundo Movimento Internacional para a renovação do ensino de Matemática,

durante o Movimento da Matemática Moderna (MMM) (DUARTE, 2002).

3.2 O segundo movimento internacional: o Movimento da Matemática

Moderna (MMM)

Em meados do século XX, educadores e matemáticos preocupados

com os avanços econômicos e tecnológicos que estavam ocorrendo na

sociedade e verificando que o ensino da Matemática escolar não acompanhava

os avanços da sociedade, entenderam que a Matemática ensinada aos alunos

do ensino secundário deveria contemplar alguns conteúdos que até então

somente eram trabalhados no Ensino Superior. Justificavam essa proposta

alegando que havia um descompasso entre os conteúdos ministrados no

secundário e os do ensino superior, pois os alunos que chegavam para

frequentar os cursos nas universidades apresentavam dificuldades no

aprendizado de Matemática (SARTIRO, 2011).

O Movimento da Matemática Moderna (MMM), acontecimento de

abrangência internacional, contou com a participação de vários países. Dentre

eles, destacamos a Alemanha, a Itália, a Inglaterra, a França e os EUA. Apesar

da diversidade cultural dos países envolvidos, tinham um objetivo comum, qual

seja, reformar o ensino de Matemática, adequando-o às necessidades da

sociedade da época (DUARTE,2002).

O MMM tinha como ideário unificar a Matemática, utilizando como

linguagem a Teoria dos Conjuntos. Entendia-se que os alunos da Educação

Básica, poderiam assimilar melhor a disciplina “Matemática”, por meio da

Teoria dos Conjuntos.

Segundo Pereira (2012), o início do MMM pode ser ligado à convenção

da OECE (Organização Europeia de Cooperação Econômica) realizada em

Royaumont, França, no ano de 1959. Essa convenção teve como intuito

reformular o ensino da Matemática escolar na Europa. Entretanto, países de

Page 46: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

45

outros continentes, como Canadá e Estados Unidos foram convidados, com o

propósito de contribuir com o novo ensino de Matemática. Durante esse

encontro, os participantes decidiram constituir uma comissão de especialistas

para elaborar um quadro contendo as matérias que o ensino secundário de

Matemática deveria abordar, indicando, ainda, os assuntos que deveriam ser

ensinados, os métodos a serem utilizados e as justificativas das sugestões

apresentadas. De modo que,

... a OECE constituiu essa comissão, delegando-lhe a missão de elaborar um programa moderno de ensino da Matemática para as escolas secundárias. A Sessão de Trabalho da Comissão realizou-se na Yugoslávia, de 21/08 a 19/09/1960. A partir desse novo programa, livros escolares e manuais deveriam ser redigidos. Com isso, estimulou-se a elaboração de vários livros escolares em diversos países, como forma de difundir a Matemática Moderna (WIELEWSKI; WIELEWSKI, p.2, 2009).

Conforme entendimento de Burigo (1989) a preocupação era a de formar

pessoas com melhor entendimento matemático, e, para tanto, essa Matemática

deveria ser totalmente reformulada, ou seja, deveria ser elaborado um

programa moderno de Matemática:

Realizou-se uma sessão de trabalhos com especialistas, com a incumbência de elaborar um programa “moderno” de matemática, tendo como alvo fundamentalmente os estudantes mais “bem dotados”, e que se orientavam para os estudos científicos e técnicos de nível superior (BURIGO, 1989, p.73)

A Conferência de Royaumont, que tinha como foco discutir o ensino de

Matemática no nível secundário, apresentou alguns objetivos, dentre os quais

destacamos:

a)Esclarecer e resumir os principais pensamentos em Matemática e o currículo de Matemática na escola elementar e no ensino secundário, recrutar e treinar professores de Matemática para as necessidades de pesquisa em Educação Matemática; b)Especificar (i) os propósitos da Educação Matemática; (ii) quais as mudanças desejáveis a serem feitas quanto ao conteúdo a ser ensinado; (iii) novos objetivos, novos materiais e novos métodos de ensino e (iv) dar treinamento adicional adequado aos professores de Matemática em vista das novas mudanças; (c) indicar procedimentos e métodos específicos que devem ser levados em consideração em qualquer país visando obter uma reserva – tanto em número quanto em qualidade – de matemáticos para o ensino e pesquisa e pessoas matematicamente competentes na ciência, na indústria e no governo; (d) sugerir uma ação de acompanhamento das atividades propostas tanto a nível nacional quanto internacional (MOON, apud SOARES, 2001, p. 28).

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46

A partir de então, a Matemática passou a ser repensada em diversos

países, os quais estavam interessados em uma Matemática mais atual,

começando a deixar de lado o currículo tradicional de Matemática. O

matemático Jean Dieudonné, durante a Conferência Internacional de

Royaumont, entendendo que a Geometria ensinada nas escolas estava

desatualizada e, como a Matemática teria de se modernizar, defendeu o slogan

“abaixo Euclides” (VITTI, 1998).

Nessa época, criaram-se grupos de matemáticos, professores de

Matemática e pessoas ligadas com o ensino de Matemática, tendo como foco

levantar discussões de como deveria acontecer tal reforma dentro do ensino de

Matemática.

Após análises de algumas obras, tais como Macedo (2008), Duarte

(2007) Vitti (1998), Búrigo (1989) entre outros, entendemos que o MMM tinha

como ideário unificar a Matemática, principalmente por meio da Teoria dos

Conjuntos. As análises feitas nos fornecem indícios de que a aposta para tal

unificação era fortemente entendida por meio de uma visão de que os alunos

da Educação Básica poderiam assimilar melhor a disciplina “Matemática”,

estudando a Teoria dos Conjuntos.

No que diz respeito ao termo “Matemática Moderna”, Kline (1976),

observa que muitos professores começaram a escrever e publicar livros,

sempre mencionando o novo currículo em suas obras:

O que não deixa de surpreender um pouco, os inúmeros grupos e autores independentes de compêndios dirigiam-se todos mais ou menos para a mesma direção. Foram todos portanto – e com muita justiça – descritos pelo termo de “matemáticos modernos” ou “novos matemáticos” (KLINE, 1976, p.34).

A justificativa para usar uma nova Matemática, era a de que até então, o

que estava sendo ensinado aos jovens nas escolas, seria o mesmo conteúdo

matemático ensinado do período de 1700.

Os professores sentiam dificuldades para ensinar essa nova proposta da

Matemática para os alunos, pois, como iriam fazê-lo, se os próprios

professores não estavam conseguindo entender esses novos conteúdos

matemáticos e as novas metodologias, de modo a sentirem segurança para

Page 48: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

47

levá-las a diante? Por essa razão, por diversas, o professor Morris Kline, na

obra “O Fracasso da Matemática Moderna”, ofereceu críticas ao Movimento.

O Movimento da Matemática Moderna causou muita discussão,

principalmente no quesito da palavra “moderna” ligada diretamente com a

disciplina de Matemática. Assim, Soares (2001) expõe sobre o significado

desse termo:

A ampla veiculação da palavra "moderna" não deixou de ser motivo de discordância. O que é moderno é oposto ao que é velho, antigo, ultrapassado. Assim, a Matemática Moderna era associada ao novo, atual, avançado. Para os opositores do Movimento, usar tal expressão e defender a introdução de assuntos descobertos nos séculos XVIII e XIX no ensino secundário, era desprezar toda a Matemática desenvolvida até então, o que era visto como um absurdo. Por outro lado, os defensores da reforma diziam não querer descartar a Matemática velha, mas sim renová-la aplicando a ela novos métodos de ensino (SOARES, 2001, p.2).

O termo Matemática Moderna, de certa forma, ficou ligado à Teoria dos

Conjuntos e, ao pesquisarmos algumas obras, percebemos que muitos autores

também fizeram essa ligação, como por exemplo, Elenir Soares (2009) ao

enfatizar por diversas vezes em seu trabalho que a preocupação das pessoas,

por volta da década de 1970, em entender o significado da palavra “moderna”

em Matemática, acabava por assimilar automaticamente este termo à Teoria

dos Conjuntos.

Havia uma necessidade de unir a Matemática voltada para a

axiomatização e aquela voltada para a Teoria dos Conjuntos. Pereira (2012)

afirma que o termo Matemática Moderna passou a ser utilizado a partir da

década de 1930, considerando a linguagem da Teoria dos Conjuntos, de

acordo com a escola de Bourbaki.

3.2.1 O Grupo Bourbaki

Bourbaki é um pseudônimo que designa um grupo de matemáticos que

se conheceram na ENS (École Normale Supérièure), escola destinada a formar

professores para o ensino secundário na França. Inicialmente, o grupo tinha

como ideário, discutir a Matemática clássica e Moderna e, segundo Pires

(2006), também unificar a Matemática.

Page 49: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

48

A ideia de criar um grupo teria começado por volta de 1920, mas

somente em 1934, no dia 10 de dezembro que o grupo denominado Bourbaki

foi realmente concretizado com nove membros, dentre eles, nomes conhecidos

como Henri Cartan (1904 - 2008), Claude Chevalley (1909 – 1984), Jean

Delsart (1903 – 1968), Jean Dieudonné (1906 – 1992) e André Weil (1906 –

1998), sendo estes, considerados como cinco dos principais fundadores do

grupo. Esses matemáticos decidiram formar o grupo por estarem descontentes

com o desenvolvimento da Matemática e com o ensino da mesma,

principalmente no que se diz respeito ao ensino de Análise. Criticavam o Curso

de Análise Matemática de autoria de Edouard Goursat (1858 – 1936)

considerado ultrapassado para aquela época e resolveram formar um grupo

para escrever outra obra mais moderna (PIRES, 2006).

Pires (2006) comenta que dentre os motivos que vieram a entusiasmar a

criação do grupo, um deles foi o fato de que para a Matemática do Ensino

Superior francês não se consideravam noções e conteúdos de Matemática

mais modernos em voga naquela época. Um assunto considerado moderno,

era a Teoria dos Conjuntos, mas era totalmente desprezado pelo ensino

universitário francês, conforme afirma Pires:

Em média o que se ensinava nas faculdades de ciências tinha um século de atraso sobre a pesquisa. Os pré-julgamentos epistemológicos atribuíam como irreais certas noções modernas, em particular a Teoria dos Conjuntos e provocaria o que J. Leray, que não foi bourbakista, chamou a “agorafobia” dos matemáticos (PIRES, 2006, p.18).

Com o passar do tempo, escrever um tratado de Análise não mais

satisfazia e provocou a escrita de um tratado de Matemática intitulado

Éléments des mathématiques. O primeiro volume apareceu em 1939 e o último

data de 1998. Consistem, hoje em dia, em dez livros, cada um deles, em geral,

com vários volumes: Teoria dos conjuntos; Álgebra; Topologia geral; Funções

de uma variável real; Espaços vetoriais topológicos; Integração; Álgebra

comutativa; Variáveis diferenciais e analíticas; Grupos e álgebras de Lie;

Teorias espectrais.

No início do grupo, os temas abordados eram noções de Álgebra, Teoria

dos Conjuntos e Topologia. Ao iniciar a escrita da obra Éléments des

Page 50: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

49

Mathématiques, o grupo Bourbaki começou a se destacar na comunidade de

matemáticos. Os Bourbakistas afirmavam que a Matemática poderia ser

construída a partir do conceito das estruturas algébricas (que introduzem a

noção de operação), de ordem (que introduzem as noções de ordenação) e

topológicas (que permitem um tratamento de noções tais como limite,

continuidade e vizinhança) (DUARTE, 2007).

Uma das regras do grupo era que a idade máxima de seus integrantes

era de 50 anos. Após completarem essa idade, eram automaticamente

excluídos do grupo. O grupo Bourbaki acreditava que, as grandes criações

matemáticas, não poderiam se dar após essa idade. Entretanto, o ex-membro

do grupo Bourbaki, não perdia totalmente o contato com os outros membros e

continuava a receber informações e publicações internas do grupo. As

amizades com os ex-membros do grupo Bourbaki continuavam normalmente

(PIRES, 2006).

O grupo Bourbaki tinha como ideário utilizar um linguajar matemático

mais preciso e rigoroso por intermédio da Teoria dos Conjuntos. O grupo é

considerado como responsável pela utilização dos símbolos e , sendo

união, intersecção e vazio, respectivamente, além de ter créditos na

representação do conjunto dos números racionais, pelo símbolo Q (DUARTE,

2007).

O tratamento matemático adotado pelo grupo inspirou o movimento de

renovação do ensino de Matemática. Com isso, a Teoria dos Conjuntos ganhou

espaço e, com o passar do tempo, tornou-se um dos principais conteúdos no

currículo da Matemática escolar. Porém, Bourbaki não foi um grupo destinado a

modificar o ensino de Matemática. Seu propósito era reestruturar a Matemática

pura (DUARTE, 2007).

3.2.2 O Movimento da Matemática Moderna em alguns países

Neste tópico apresentamos breve panorama sobre como o MMM foi

divulgado e apropriado em alguns países. Discorremos sobre o Movimento na

Inglaterra, Portugal, Estados Unidos, França, Bélgica e Canadá. Também

Page 51: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

50

abordamos como se deu a apropriação do ideário desse Movimento na

America Latina, dando especial destaque ao Brasil. Fazemos, ainda, breve

síntese sobre Congressos que ocorreram durante a implantação e

desenvolvimento desse Movimento.

A Inglaterra contou com alguns grupos que se dedicaram em projetos,

dentre os quais, destacamos o SMP (School Mathematics Projetc), projeto

considerado líder na década de 1960 e liderado por Bryan Thwaites. Segundo

Soares (2001), o SMP se destacou na Inglaterra pelo fato de contar com

professores mais experientes e não necessariamente pelo currículo que

apresentava para o ensino de Matemática.

Entretanto, a autora enfatiza que além do SMP, o país também contou

com mais dois grupos importantes que se mostraram preocupados com a

modernização do ensino de Matemática. Estes grupos foram o MME (Midlands

Mathematical Experiment) e o CSM (Contemporary School Mathematics

Project).

Os três projetos citados, tinham seus próprios métodos pedagógicos,

mas todos respeitavam a tradição do ensino inglês. Contudo, nenhum projeto

inglês, no que diz respeito ao SMP, MME e CSM, contava com a ajuda do

governo. Outro fato que contribuiu para que o School Mathematics Projetc de

Bryan Thwaites obtivesse maior aceitação por parte do ensino inglês de

Matemática era por contar com apoio das indústrias. Entendia-se que, no caso

de imprevistos financeiros, o SMP poderia contornar a situação, pois teria ajuda

do setor industrial, ou seja, não dependeria de dinheiro público ou do Ministério

da Educação (SOARES, 2001).

Ainda com base em Soares (2001), o SMP teve origem em conferências,

realizadas nos anos de 1959, 1961 e 1963 as quais, tiveram como

participantes, além de professores do ensino secundário e professores

universitários, também representantes das indústrias e comércios ingleses.

Essas conferências haviam sido convocadas por causa do crescente interesse gerado, tanto nas universidades quanto nos setores da indústria, visando a uma adaptação do programa de Matemática às futuras necessidades profissionais dos estudantes (SOARES, 2001, p.32).

Page 52: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

51

Em Portugal, um dos problemas enfrentados com o ensino de

Matemática, era o de que os exercícios propostos aos estudantes admitiam

resoluções principalmente por meio de técnicas. Soares (2001) comenta que

na década de 1960, iniciava-se, de forma experimental, a implementação de

um novo currículo para o ensino de Matemática. Entretanto, a ordem seria para

que os professores do ensino secundário deixassem a postura tradicional e

começassem a desenvolver, durante as aulas, estratégias que levassem os

alunos a terem maior participação, maior interatividade e usar a imaginação de

tal forma, que os levassem a descobertas.

A proposta do ensino não estava ligada apenas com a questão de

modificar o conteúdo desenvolvido em Matemática, mas modificar a maneira de

ensinar Matemática nas escolas.

No início dos anos 70 realizaram-se várias ações de formação contínua de professores, mas o grande objetivo destas formações era uma atualização científica relativa aos novos temas introduzidos nos programas: Teoria de Conjuntos, Relações Binárias, Lógica Matemática, Transformações Geométricas. (...) De uma forma geral, podemos dizer que passaram a ser tratados outros conteúdos mas que continuou sempre presente a ênfase no domínio de técnicas (PORFÌRIO, apud SOARES, 2001, p.33).

Um dos principais defensores da Matemática Moderna em Portugal foi o

professor de Matemática José Sebastião Silva17

A Teoria dos Conjuntos, inserida no currículo das escolas portuguesas

fazia parte do que os alunos deveriam aprender, mas não significava

necessariamente que as aulas seriam aplicadas de maneira diferente, o que

ocasionaria apenas uma mudança no currículo de Matemática, mas não uma

alteração na postura de como os professores desenvolveriam o currículo. Em

outras palavras, prevaleceria o domínio da técnica (SOARES, 2001).

Nos Estados Unidos, o movimento que ficou conhecido como Movimento

da Matemática Moderna, se popularizou devido à preocupação com a

deficiência em Matemática dos estudantes americanos, durante o período da

17

José Sebastião Silva (1914 – 1972) foi um dos mais importantes nomes no ensino de Matemática em Portugal. Coordenou por cerca de 20 anos o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa contribuindo para a formação de vários professores no país. Também escreveu muitas obras que contribuíram para a Educação Matemática portuguesa, as quais obtiveram destaque pelo rigor e precisão no contexto matemático. (SPM, 2013).

Page 53: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

52

segunda Guerra Mundial. Nesse período, os Estados Unidos decidiram investir

na ciência, acreditando que se os alunos obtivessem maior êxito nos estudos

de Matemática, o país alcançaria maior desenvolvimento econômico e

científico. Dentre muitos fatores que desencadearam a reformulação do

currículo de Matemática, destaque-se o lançamento do primeiro satélite russo,

o Sputinik, no ano de 1957.

Esse acontecimento convenceu o governo norte-americano e o país de que deviam estar atrás dos russos em matemática e ciência, e teve o efeito de afrouxar os cordéis das bolsas das agências governamentais e funções. Talvez seja coincidência, mas nessa ocasião muitos outros grupos decidiram entrar no negócio de criar um novo currículo (KLINE, 1976, p.33)

Entendendo que o ensino de Matemática americano estava defasado em

relação à Matemática, e também, cientificamente, os americanos procuraram

reformular o ensino de Matemática, apresentando conteúdos que julgavam

necessários para os jovens. Dentro deste novo modelo de ensino, também

estava a Teoria dos Conjuntos, assim como outros tópicos, como por exemplo,

funções. A ideia era de concentrar a Matemática num modelo moderno, assim

como viria acontecer em outras partes do mundo.

Sendo assim, iniciava-se uma mobilização para que o currículo do

ensino secundário fosse reformulado, por meio do grupo de “Estudos de

Matemática Escolar” tendo como responsável Edward G. Begle da

Universidade de Yale. Segundo Kline (1976), o grupo de “Estudos de

Matemática Escolar” é oriundo do “American Mathematical Society” (Sociedade

de Matemática Americana) e foi criado justamente para desenvolver um novo

modelo para o currículo da disciplina de Matemática.

Burigo (1989) enfatiza que, pouco tempo após o lançamento do Sputink,

em 1957, ganhou maior relevo a necessidade dos Estados Unidos terem maior

número de cientistas e técnicos:

A maior lição que deveríamos aprender de um fato como o lançamento do satélite soviético é que liderança é uma proposição cara. (...) Em cada encontro nós teremos que confrontar nossos homens de ciência um por um, contra esse exército soviético. E da capacidade e do valor de cada homem que nós teremos que depender. Porque nós precisamos lembrar que uma democracia não pode sobreviver sem o melhor em educação para cada um, mas que

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53

muita educação não faz nem é a salvaguarda da democracia (DEWITT, apud BURIGO, 1989, p.68).

Determinados grupos americanos, interessados em fazer uma reforma

do ensino durante a década de 1950, apostavam fortemente numa melhora do

ensino de Matemática. Para tanto, organizaram uma comissão para refletir

sobre a Matemática escolar, no ano de 1952. Esta comissão teve como líder o

professor Max Beberman18. A ideia dessa comissão era de reformular o

currículo de Matemática, começando por designá-lo como currículo moderno

(COUSIN, 2011).

Antes mesmo do lançamento do satélite russo já havia fortes

movimentos que defendiam uma reforma em relação à melhora da formação de

cientistas nos Estados Unidos. Começaram então, a serem criados grupos

para tratarem a respeito de um novo modelo de ensino da Matemática, e

também, para a formação dos professores. Dentre os grupos criados, um que

obteve grande destaque foi o “School Mathematics Study Group” (SMSG) , no

ano de 1958.

O professor Suppes, da Universidade de Stanford, optou por um ensino

mais avançado em torno das operações com Conjuntos. Esse professor

defendia que as crianças tinham capacidade de aprender algo além daquilo

que era ensinado a elas (BURIGO, 1989).

Nesse contexto, a Matemática do ensino secundário passou a sofrer

pressão para que ocorresse uma modernização, o que acarretou

reformulações em sua grade. No ano de 1959, por exemplo, a College

Entrance Examination Board (CEEB), publicou que um candidato capacitado

para entrar na Universidade deveria ter conhecimento de conteúdos como

Conjuntos, Função e Relação (BURIGO, 1989).

O Grupo de Cambridge, formado em 1963, durante a Conferência de

Cambridge, apresentou um relatório com o título “Objetivos da Matemática

Escolar”, coordenado por Francis Keppel, na época comissário de Educação

dos Estados Unidos. Um dos objetivos do grupo de Cambridge, dizia respeito à 18

Max Beberman (1925-1971) foi educador da High School University e professor da Universidade de Illinois. Contribuiu para o desenvolvimento dos programas de Matemática dos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1960 (KLEIN, 2005).

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54

preparação do professor, ou seja, havia uma preocupação em melhorar a

qualidade do ensino, mas também havia a necessidade de preparar melhor os

professores para desenvolverem o ensino de Matemática, com a nova reforma.

Esta visão do grupo de Cambridge era diferenciada em relação a outros grupos

existentes, posto que, apenas ofereceriam uma reforma no ensino de

Matemática, mas sem a preocupação, pelo menos explícita, de melhorar a

preparação do professor para que este conseguisse desenvolver um trabalho

com mais qualidade diante do novo currículo. O grupo de Cambridge mostrava-

se preocupado não só com o preparo do professor do Ensino Fundamental

(ciclo II) e do Ensino Médio, mas com o professor das séries iniciais (Ensino

Fundamental I), pois para este, também seria apresentado uma reforma no

ensino de Matemática (KLINE, 1976).

O outro grupo de destaque foi o denominado “Study to improve the

mathematics curriculum of the school” (Estudo de Melhoria do Currículo de

Matemática da Escola Secundária), criado no ano de 1965, por Howard Fehr,

na época professor da Universidade de Colúmbia. Tendo como propósito

melhorar o ensino de Matemática nas escolas, o grupo do professor Howard

apostava em unificar o currículo de Matemática, por meio da inserção da Teoria

dos Conjuntos, Operações e Estruturas (KLINE, 1976).

No que diz respeito ao MMM na França, Soares (2001), enfatiza que no

final dos anos 1950, o país ainda não apresentava um clima favorável à

modernização do ensino de Matemática. A modernização do ensino de

Matemática na França deu-se na década de 1960, mais precisamente, por

volta do ano de 1967, período em que o governo francês desenvolveu projetos

para reformar o ensino de Matemática no ensino secundário.

Em 1967, foi criada uma comissão ministerial para planejar a reforma dos programas de Matemática da escola secundária que ficou conhecida como Comissão Lichnerowicz devido à liderança do matemático André Lichnerowicz, um dos maiores defensores da reforma (SOARES, 2001, p.36).

O matemático André Lichnerowicz presidiu essa comissão, encarregada

em elaborar recomendações para o currículo de Matemática francês, dentre as

quais, a ênfase na Teoria dos Conjuntos e a introdução das estruturas

Page 56: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

55

matemáticas. Cabe aqui destacar que André Lichnerowicz não foi bourbakista,

mas mantinha amizade com integrantes do grupo Bourbaki e se baseou nas

ideias que esse grupo propunha para a Matemática pura para tentar reformular

o currículo do ensino de Matemática (SOARES, 2001).

Soares (2001), ainda destaca a Association des Professeurs

Mathématiques de L’Enseignement Public (APMEP). Essa associação teve

grande importância para que o governo francês investisse na modernização da

Matemática.

Além disso, um dos principais fatores para que o Movimento da

Matemática Moderna viesse a tornar forte na França foi a criação dos IREM’s

(Instituts de Recherche sur L’Enseignement des Mathématiques) que

proporcionaram cursos de formação para os professores do ensino Secundário.

A Bélgica também se destacou no que diz respeito ao Movimento da

Matemática Moderna e a inserção da Teoria dos Conjuntos que se deu por

meio do professor Georgy Papy, da universidade de Bruxelas. Durante a

Conferência de Lima, Papy comenta sobre o Movimento na Bélgica:

A experiência intensiva e extensiva da Reforma da instrução Matemática na Bélgica entra neste ano escolar (1969) em seu nono ano. A experiência segue para a classe final da seção científica da instrução secundária (estudantes de 17 a 18 anos de idade) (FEHR apud VITTI, 1998, p.83).

Vitti (1998) enfatiza que o programa de ensino belga deu ênfase na

inserção da Teoria dos Conjuntos no ensino secundário.

O Canadá também sofreu reformas com o ensino modernizador de

Matemática. As mudanças acrescidas com a Matemática Moderna no país,

principalmente na parte de Conjuntos, foram implementadas a partir do 1º ano

do ensino secundário, tendo em comum acordo, interesse por parte dos

professores do ensino secundário e do ensino superior (SOARES, 2001).

A parte direcionada para a Teoria dos Conjuntos foi inserida em diversas

regiões do Canadá, com variações nos anos escolares. Como exemplo, em

Ontário, a Teoria dos Conjuntos foi inserida somente a partir do 9º ano do

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56

ensino secundário, por recomendação do Departamento da Educação

(SOARES, 2001).

Na América do Sul, um dos passos para discutir a reforma do ensino de

Matemática foi dado em 1961, com a realização da primeira Conferência

Interamericana sobre Educação Matemática, em Bogotá, Colômbia. Nessa

conferência, houve também a preocupação com os professores que já atuavam

na área da Educação, assim como com a formação desses profissionais:

A respeito dos professores em exercício, foi proposto um intercâmbio com os professores da universidade em forma de cursos de aperfeiçoamento. Além disso, foi também pedido que fossem tomadas medidas para melhorar o nível econômico e social do professor, incentivando a dedicação exclusiva e proporcionando melhores condições salariais (SOARES, 2001, p.42).

A Conferência Interamericana foi presidida pelo matemático americano

Marshall Stone. Contou com a presença de 23 países, entre participantes e

convidados. Estiveram presentes

... conferencistas convidados como Laurent Pauli, da Suiça; Sven Bundgaard, da Dinamarca e Laurent Schwartz e Gustave Choquet, da França. Os participantes do Brasil foram os professores Omar Catunda e Alfredo Pereira Gomes, além do professor Leopoldo Nachbin que participou do comitê organizador da Conferência (SOARES, 2001, p.41).

A Conferência realizada em Bogotá serviu de alicerce para que a

Matemática Moderna viesse a ser implementada em diversos países da

América do Sul, dentre eles a Argentina, que realizou um trabalho direcionado

aos ideais propostos em Bogotá. A influência do congresso, fez com que o

professor Marshall Stone fizesse uma visita à capital Argentina para ajudar a

traçar um plano de ação direcionado a Matemática Moderna (VITTI, 1998).

3.2.3 O Movimento da Matemática Moderna no Brasil

No Brasil, o Movimento da Matemática Moderna teve seus primeiros

passos na década de 1950, e atingiu o auge entre as décadas de 1960 e 1970.

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57

A Matemática durante o MMM era considerada uma disciplina fundamental

como requisito para o progresso perante a cidadania (BURIGO, 1988)

O Ensino no Brasil começou a levantar uma preocupação no sentido de

que, se modernizar, significava ir de encontro com a economia do país, ou, em

outras palavras, o Brasil estava preocupado com uma sociedade que viesse a

conquistar certo patamar social. Isto, segundo Burigo (1988), estava ligado ao

desenvolvimento da ciência como um dos principais fatores para que a

sociedade viesse conseguir tal feito e, para isto, começaram então, a serem

criados órgãos destinados a Educação, como por exemplo, o CNPq (Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a CAPES (Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Burigo (1989) aponta que o estado de São Paulo, por volta da década

de 1960, contava com a comunidade científica mais ativa e articulada do Brasil.

Ao citar que o Movimento ganhou força em São Paulo, Burigo destaca também,

o crescimento da economia e o índice de alfabetização e escolarização, ambos

com dados superiores à média, se comparados com outros estados do Brasil.

Assim, a “população matriculada no ensino secundário em São Paulo

representava 27,9% do total de alunos do secundário no país” (BURIGO, 1989,

p.99).

Contribuiu para que esse movimento modernizador de Matemática

tivesse o estado de São Paulo como o principal centro para dar início a uma

nova proposta curricular no ensino de Matemática foi o fato de que este estado

contava com a Universidade de São Paulo, USP, a qual oferecia melhores

condições para o desenvolvimento de pesquisas, superiores a outras

instituições, como por exemplo, as Universidades do Rio de Janeiro e Minas

Gerais. Assim, no ano de 1960, quando o Movimento já estava acontecendo

nos Estados Unidos e Europa, começou a ganhar espaço no Brasil, mais

especificamente, em São Paulo (BURIGO, 1989).

Para nos aprofundarmos um pouco mais em relação ao MMM no Brasil,

entendemos ser indispensável nos posicionar, mesmo que de maneira breve,

no que diz respeito ao professor Osvaldo Sangiorgi e ao Grupo de Estudos do

Ensino de Matemática, o GEEM.

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58

Após permanecer nos Estados Unidos por quatro meses, observando a

maneira que os americanos estavam tratando este movimento modernizador

de Matemática para com os seus professores, Osvaldo Sangiorgi organizou um

curso de aperfeiçoamento por meio de um acordo com a National Science

Foundation. Para tanto, Sangiorgi trouxe o professor americano George

Springer19 para o Brasil (BURIGO, 1989).

O objetivo da vinda de George Springer ao Brasil era divulgar o MMM.

Dessa maneira, o Movimento começou a ser difundido no Brasil a partir da

fundação do GEEM, fundado no dia 31 de outubro de 1961, após o curso

realizado por Osvaldo Sangiorgi e George Springer.

Antes mesmo da criação do GEEM, em 1961, entre os meses de agosto

e setembro, Sangiorgi organizou um curso para professores de Matemática,

subdividido em quatro disciplinas, sendo uma delas, a Teoria dos Conjuntos.

Foi ministrada pelo professor Alésio de Caroli, que se tornou vice-presidente do

GEEM, durante sua segunda gestão, nos anos de 1964 e 1965. Tendo

Sangiorgi como presidente, o GEEM foi responsável por desenvolver

experiências que envolviam a Matemática Moderna (BURIGO, 1989).

O MMM consolidou-se em território nacional após o IV Congresso

Brasileiro de Ensino da Matemática, realizado em Belém/PA, em julho de 1962.

Segundo Burigo (1989), a magnitude atingida pelo GEEM neste Congresso

ocasionou a formação de outros grupos em diversas regiões do país.

O GEEM logo começou a organizar cursos de curta duração para

divulgar a Matemática Moderna e, em parceria com a Secretaria de Estado de

Educação, parte desses cursos era destinada à formação matemática do

professor, tendo como um dos conteúdos, a Teoria dos Conjuntos (BURIGO,

1989). Além disso, o GEEM foi responsável pela publicação de diversas obras

que enfatizavam a Matemática Moderna:

A presença de matemáticos no interior do GEEM também permitiria que o grupo tivesse publicações suas na área da Matemática superior: “Elementos da Teoria dos Conjuntos” (CASTRUCCI, 1965),

19

George Springer – professor da universidade de Kansas, matemático envolvido no MMM, proferiu uma conferência abordando o movimento da “Nova Matemática” que estava ocorrendo nos EUA (D’AMBROSIO, 2007).

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59

“Combinatória e Probabilidade” (BARBOSA), “Iniciação às Estruturas Algébricas” (JACY MONTEIRO) (BURIGO, 1989, p.112).

Conforme citação, podemos observar que a Teoria dos Conjuntos fez

parte dos tópicos ensinados nos cursos promovidos pelo GEEM, que começou

a conquistar espaço após o grupo iniciar, não somente os cursos preparatórios,

mas também, quando publicou, no ano de 1963 o primeiro livro intitulado

“Matemática Moderna para o Ensino Secundário”.

Burigo (1998) enfatiza que a Matemática Moderna que Osvaldo

Sangiorgi estava implantando por meio do GEEM, não era, necessariamente,

igual a Matemática Moderna que observou durante os meses que passou nos

Estados Unidos, por meio de demonstrações, e sim, uma Matemática

destinada diretamente para o ensino.

Sobre a colaboração do GEEM para esta nova proposta para o currículo

de Matemática destacamos a participação do professor Benedito Castrucci,

que ministrou vários cursos para o GEEM sobre a Teoria dos Conjuntos. Além

disso, Benedito Castrucci publicou uma obra pelo GEEM, no ano de 1967, na

“Série Professor”, de número 3, com o título “Elementos de Teoria dos

Conjuntos” (DUARTE, 2007).

A obra “Elementos de Teoria dos Conjuntos” tinha como princípio

oferecer para o professor do ensino Secundário alguns dos assuntos

considerados como fundamentais em relação aos Conjuntos. Essa relevância

em relação a essa área de Matemática devia-se ao fato de que a Teoria dos

Conjuntos era considerada como elemento unificador da Matemática, seja por

sua linguagem, seja por sua parte teórica.

O propósito do GEEM era modernizar o linguajar matemático por meio

do conceito da Teoria dos Conjuntos e das Estruturas, tendo em vista, a

formação do aluno. Outro ponto que entendemos ser de interesse de nossa

pesquisa, é destacar que Osvaldo Sangiorgi tinha a preocupação de mostrar

que a Matemática era uma disciplina que proporcionaria alicerce ao aluno, para

que este viesse a construir o conhecimento por meio do currículo, desde a

escola primária ao ensino secundário, chegando à Educação Superior. Ou seja,

não havia diferentes matemáticas nas etapas da escolaridade que o aluno

Page 61: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

60

frequentava, mas uma única Matemática construída por meio de degraus

(BURIGO, 1989).

Segundo Soares (2001), a proposta de cursos preparatórios para

professores que viriam a trabalhar com a Teoria dos Conjuntos, foi solicitada

pela professora Martha Maria de Souza Dantas, durante o Congresso Nacional

de Ensino de Matemática, realizado no Rio de Janeiro, em 1959. A

preocupação com o ensino tradicional recebia duras críticas até então e,

durante congressos realizados a fim de melhorar o ensino de Matemática,

muito se falava sobre o fato de que o aluno concluía o Ensino Secundário sem

saber realmente, se a Matemática que aprendeu na escola iria contribuir em

sua vida prática. A ideia que norteava era a de que nada poderia contribuir para

a aprendizagem do aluno, se este ficasse apenas decorando fórmulas e

teoremas. Nesse caso, a Matemática era considerada inútil, pois não havia

aplicabilidade na vida do estudante. Alguns críticos afirmaram que a beleza das

demonstrações matemáticas encantavam somente os próprios professores

desses alunos, nada mais além (SOARES, 2001).

3.2.4 Críticas ao Movimento da Matemática Moderna

Para Soares (2001), uma das causas do Movimento da Matemática

Moderna ter sido mal interpretada, é que, muitos não procuraram buscar

informações suficientes sobre o ideário do Movimento, especificamente sobre

qual o motivo da inserção da Teoria dos Conjuntos no Movimento da

Matemática Moderna.

Assim como em outros países, o Brasil também estava interessado em

realizar uma reforma no Ensino de Matemática de tal forma que, alguns

congressos foram realizados com o intuito de mostrar aos professores, a ideia

do Movimento da Matemática Moderna (COUSIN, 2011).

A chamada Matemática Moderna, que numerosos grupos americanos e europeus têm divulgado com êxito invulgar nas escolas primárias e secundárias (isso por que o ensino superior já gozava desse privilégio) de seus países nos últimos cinco anos, chegou também até nós, graças ao trabalho ininterrupto e eficiente, de quase três anos, do Grupo de Estudos do Ensino da Matemática (GEEM), que congrega em seus seio professores das três Universidades de São Paulo (USP, Mackenzie e Católica) e de

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61

outros estabelecimentos de ensino superior do país (SANGIORGI, 1964, p.76, apud COUSIN, 2011).

Durante o MMM, entendia-se que a Matemática não estava

acompanhando os avanços da sociedade e, com isto, o que era ensinado na

escola, estava fora de um contexto ligado à praticidade, ou seja, o conteúdo

matemático ensinado nas escolas não era útil para a vida prática (SOARES,

2008). Contudo, Morris Kline (1976) na obra “O fracasso da Matemática

Moderna” rebateu essa ideia alegando que durante o período da Matemática

Moderna, os alunos não estavam aprendendo assuntos relativamente fáceis,

para se aventurarem num campo com conteúdos matemáticos que não iriam

contribuir em suas vidas. Assuntos que matemáticos consagrados levaram

séculos para desvendar foram distribuídos aos alunos de tal forma que estes

precisavam resolvê-los por meio de demonstrações, em um tempo muito

menor, ou seja, em um número reduzido de aulas.

Kline (1976) enfatiza que os tropeços enfrentados por matemáticos para

compreender e desvendar alguns assuntos, durante milênios, possivelmente

são os tropeços que os estudantes da escola Básica enfrentavam. Porém,

durante o Movimento, esses estudantes deveriam compreender tais assuntos

somente com algumas aulas de Matemática.

Segundo Morris Kline (1976) o currículo de Matemática estava

totalmente voltado para um linguajar de terminologias as quais eram

desenvolvidas durante as aulas para os alunos por meio de conteúdos que

encabeçavam principalmente a Teoria dos Conjuntos, com tópicos ligados a

União entre Conjuntos, Intersecção entre Conjuntos, Conjunto das Partes,

Igualdade entre Conjuntos, Conjunto Vazio dentre outros assuntos.

Ainda de acordo com Morris Kline (1976), os alunos não precisavam ter

um novo currículo de Matemática, pelo menos, não daquela maneira, voltado

para um linguajar destinado a definições, terminologias e símbolos, os quais

afastavam os alunos de mostrarem interesse pela disciplina de Matemática.

Contudo, o novo currículo realmente oferece certo novo conteúdo. Até então, o mais enfatizado entre os novos tópicos, é a Teoria dos Conjuntos. Este assunto é agora ensinado a partir do jardim da infância como se os estudantes morressem de fome, pelo menos mentalmente, se não tivessem esta dieta (KLINE, 1976, p.108).

Page 63: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

62

Ao que parece, o uso abusivo da linguagem da Teoria dos Conjuntos

acabava por complicar assuntos que os alunos tinham, de certo modo, algum

entendimento. Por exemplo, ao resolverem uma expressão do tipo x + 12 = 19,

alunos do Ensino Fundamental, se fossem questionados pelo professor, sobre

qual seria o valor que “x” deveria assumir para que, somado com 12, tivesse

como resultado 19, provavelmente, parte desses alunos responderiam que x

deveria assumir o valor igual a 7. Contudo, Kline (1976) pondera que, com a

Teoria dos Conjuntos, o aluno era compelido a pensar desde o universo

numérico a ser trabalhado numa expressão desse tipo, até encontrar um

possível valor que devesse resultar num conjunto verdade. Uma expressão

desse tipo começou, então, a ser chamada de expressão aberta, justamente

por não sabermos, ou, pelo menos julgarmos assim, qual seria o valor que “x”

devesse assumir (KLINE, 1976).

Os alunos, então, eram impelidos a trabalhar com uma Matemática

escolar que não os ajudava em absolutamente nada num contexto prático,

pois, segundo o autor, as pessoas não vivem, no dia-a-dia, entre conversas e

atividades práticas, preocupadas se o linguajar a ser utilizado é rígido ou não.

Page 64: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

63

CAPÍTULO 4

A TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE

MATEMÁTICA NO BRASIL

Pretendemos, neste capítulo, verificar como a Teoria dos Conjuntos foi

inserida nos livros didáticos por meio de análise de alguns livros das décadas

de 1960, 1970 e da atual. Apresentamos, também, breve resumo da Proposta

Curricular de Matemática do Estado de São Paulo (2008) assim como do

Caderno do Professor, material pedagógico elaborado e disponibilizado por

essa proposta. Pretendemos, com as análises feitas nos livros citados

anteriormente, assim como a Proposta Curricular de Matemática (SEE-SP),

mostrar algumas fases da Teoria dos Conjuntos inseridas nestas obras.

Analisamos os seguintes livros, nesta ordem: 1º) Osvaldo Sangiorgi,

“Matemática: Curso Ginasial”, 1º série, 6º edição de 1954; 2º) Osvaldo

Sangiorgi, “Matemática: Curso Moderno”, volume 1 para os ginásios, 10º

edição de 1968; 3º) Reginaldo N. de Souza Lima e Maria do Carmo Vila, 5º

série, “Matemática para o Curso Fundamental”, de 1972 e; 4º) Luiz Roberto

Dante, 6º ano, “Matemática”, de 2012.

Em seguida, analisamos o Caderno do Professor e a Proposta Curricular

de Matemática do Estado de São Paulo, Secretaria do Estado de Educação

(SEE-SP), Ensino Fundamental de 2008.

Nossa intenção é investigar como a Teoria dos Conjuntos foi inserida

nos livros didáticos do Ensino Fundamental, durante o Movimento da

Matemática Moderna (MMM) no Brasil.

A escolha dos livros de Sangiorgi (1968) e Lima & Vila (1972) deveu-se

ao fato de que esses exemplares foram publicados durante o MMM. Utilizamos

ainda o livro de Sangiorgi (1954) destinado à 1º série do ginásio (6º ano do

Ensino Fundamental), para verificar como os conteúdos matemáticos foram

Page 65: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

64

tratados antes da inserção da Teoria dos Conjuntos nos livros didáticos

brasileiros.

Nessa perspectiva, esse capítulo encontra-se dividido em três tópicos.

No primeiro, voltamos nosso olhar para o ensino da Matemática nas escolas

secundárias em momento anterior ao MMM. Em seguida, destacamos como os

livros didáticos tratam da Teoria dos Conjuntos, quando damos ênfase na fase

em que o referido Movimento estava no auge. Finalizando, verificamos se, e

como, a Teoria dos Conjuntos é tratada atualmente, seja por meio de livros

didáticos ou pela Proposta Curricular do Estado de São Paulo.

4.1 A Portaria de 1951

Primeiramente, descrevemos a Portaria de 1951, com a finalidade de

apresentar os conteúdos matemáticos solicitados pelos legisladores da década

de 1950, ou seja, antes do MMM.

O conteúdo matemático sofreu alterações em 1951, com a portaria que

ficaria conhecida como “Portaria de 1951”, a qual precedeu o programa do

ensino de Matemática que vigorou durante a Reforma Gustavo Capanema

(1942). A portaria de 1951 modificou especificamente o conteúdo de

Matemática pela lei nº 966, de 2.10.1951, promulgada pelo Ministro da

Educação Simões Filho (MARQUES, 2005).

Marques (2005) relata que a Portaria de 1951 tinha como propósito

estabelecer um conteúdo programático mínimo (três aulas semanais) de modo

a ser utilizado em todas as escolas brasileiras. As escolas deveriam adequar

os conteúdos de acordo com as próprias necessidades levando em

consideração as diferentes regiões de cada uma. Essa legislação ainda

enfatizava que, no caso de alguma escola, independentemente a qual o estado

pertencesse, não se adequasse em suas próprias particularidades, estas

deveriam seguir o plano de ensino do Colégio Pedro II. Em conformidade com

Marques:

A legislação permitiria que cada estado elaborasse seus próprios

planos desenvolvidos dos programas mínimos, de modo que

Page 66: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

65

pudessem adequá-los às suas características particulares

(MARQUES, 2005, p. 48).

Em sua investigação Marques (2005) concluiu que a Portaria de 1951

tinha como propósito não só modificar o conteúdo específico de Matemática,

mas, sobretudo, que os professores começassem a trabalhar com os alunos,

sem forçar demonstrações e métodos para fazê-los decorarem conteúdos. A

ideia era mostrar maior flexibilidade nas aulas de Matemática e no conteúdo a

ser ensinado. A seguir, com base na obra de Marques (2005), mostraremos um

breve resumo da grade curricular de Matemática da década de 1950.

Quadro I: Grade curricular apresentado na Portaria de 1951

Série Conteúdo

1º (ginásio)

Números Inteiros, Operações Fundamentais, Números Relativos.

Divisibilidade Aritmética, Números Primos.

Números fracionários.

Sistema legal de unidades de medir, Unidades e medidas usuais.

2º (ginásio)

Potências e raízes, Expressões Irracionais.

Cálculo literal, Polinômios.

Binômio Linear, Equações e Inequações do 1º grau com uma incógnita, Sistemas lineares com duas incógnitas.

3º (ginásio)

Razões e Proporções, Aplicações aritméticas.

Figuras geométricas planas, reta e círculo.

Linhas proporcionais, semelhança de polígonos.

Razões trigonométricas no triângulo retângulo, Tábuas naturais.

4º (ginásio)

Trinômio do 2º grau, equações e inequações do 2º grau com uma incógnita.

Relações métricas no polígono e no círculo.

Cálculo de .

Figuras planas.

Fonte: Marques (2005, p.56)

Por meio da tabela referente à grade curricular da década de 1950,

pode-se verificar que os conteúdos matemáticos arrolados não contemplam a

Teoria dos Conjuntos, ou seja, provavelmente os professores do Ensino

Fundamental não faziam uso desse conteúdo em suas aulas de Matemática.

Page 67: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

66

4.2 O livro “Matemática: Curso Ginasial” na década de 1950

Fig. 2 - Capa do livro de Osvaldo Sangiorgi “Matemática: curso ginasial” de 1954

O livro intitulado “Matemática: curso ginasial”, de 1954 (6ª edição) e

destinado à 5ª série é uma obra de autoria de um dos professores mais

conceituados em tempos do Movimento da Matemática Moderna e anterior a

ela, qual seja, Osvaldo Sangiorgi. Conforme Valente (2009), os livros didáticos

de Matemática de autoria de Osvaldo Sangiorgi se tornaram best-sellers para o

ginásio20, desde a metade dos anos 1950, com expressivas tiragens, tanto no

que tange ao livro anterior ao MMM quanto o destinado à Matemática Moderna.

Destaque-se que o livro de Sangiorgi (1954) não contempla tópicos

ligados à Teoria dos Conjuntos, pois, conforme podemos verificar no quadro I,

este conteúdo não estava contemplado na Portaria de 1951, momento que

antecedeu o Movimento da Matemática Moderna.

A capa do livro de Sangiorgi (1954) é menor do que a de costume

atualmente, nas dimensões 13,5cm x 19,4cm. Com capa dura e conteúdo que

20

Ginásio: nível de ensino que compreende, atualmente, do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental.

Page 68: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

67

fornecem apenas informações necessárias para a resolução de exercícios, o

livro também não apresenta desenhos ou partes coloridas no seu interior, com

exceção do último capítulo que traz desenhos voltados para a Geometria, mas

sem figuras coloridas.

O exemplar de nº 5716 da 6º edição da primeira série ginasial, indica

que a obra está de acordo com a Portaria de 1951, conforme figura a seguir:

Fig. 3 - Portaria de 1951 (SANGIORGI, 1954)

O livro de Sangiorgi (1954) encontra-se dividido em quatro capítulos, a

saber:

Capítulo I – Números inteiros; operações fundamentais; números

relativos;

Capítulo II – Divisibilidade aritmética; números primos; máximo

divisor comum; mínimo múltiplo comum;

Capítulo III – Números fracionários; operações fundamentais; métodos

de resolução de problemas sobre frações; frações decimais como números

decimais;

Capítulo IV – Sistema legal de unidades de medir; unidades e

medidas usuais; sistema métrico decimal; sistema de medidas não decimais.

Antes de iniciar o Capítulo I, no prefácio, Sangiorgi (1954) enfatiza que

sua obra está de acordo com a última reforma dos programas, ou seja, a

Portaria de 1951.

Ainda no prefácio, o autor expõe o motivo que o levou a apresentar a

operação potenciação antes da divisão, saindo assim da clássica ordem das

Page 69: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

68

quatro operações (adição, subtração, multiplicação e divisão) e, segundo

Sangiorgi (1954), esta ordem clássica, já fora introduzida no Curso Primário.

Naquela época, Osvaldo Sangiorgi defendia que o curso ginasial,

deveria ter pelo menos quatro aulas semanais, e fecha o seu prefácio da

seguinte maneira:

Embora seja facultado aos estabelecimentos de ensino secundário elevar o número de horas de aulas semanais, continuamos partidários de pelo menos 4 aulas semanais obrigatórias de Matemática, em todas as séries do curso secundário, com pequenas restrições apenas no curso clássico (SANGIORGI, 1968, p.16)

Podemos observar pelo índice, registro constatado anteriormente, que o

livro de Sangiorgi segue a Portaria de 1951 e, portanto, não contempla tópicos

voltados à Teoria dos Conjuntos. Apresentamos a seguir duas obras que

contemplam assuntos relacionados à teoria de Georg Cantor, ou seja, a Teoria

dos Conjuntos.

Conforme tópico 4.1 dessa pesquisa, verificamos que existia uma lei,

que assegurava uma grade curricular para o ensino de Matemática, no caso, a

lei nº 966 de 02.10.1951, conhecida como Portaria 51.

Entretanto, a partir dos anos 1960, em conformidade com a Lei 4024/61

da Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Brasil deixou de seguir um

currículo único no ensino de Matemática e cada Estado passou a elaborar seu

próprio currículo educacional, conforme enfatiza Lavorente (2008): “A L.D.B.

estabelecida em 1961 teve como uma de suas características principais a

descentralização que atribuiu a cada Estado a liberdade e incumbência de

cuidar de seu sistema educacional” (p. 44).

Sendo assim, após a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o

sistema educacional no Brasil deixou de seguir um modelo de ensino, no caso,

o do Colégio Pedro II e, segundo Lavorente:

Com a L.D.B. cada Estado passou a cuidar de seu sistema educacional, havendo autonomia na elaboração dos currículos. Entretanto, não há referência que tenha sido elaborado pelas Secretarias de Educação de São Paulo e Rio de Janeiro, durante a década de 60, algum programa ou currículo detalhado para as disciplinas (LAVORENTE, 2008, p.45).

Page 70: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

69

A vigência da LDB/1961 facilitou, portanto, a inserção de novos

conteúdos nos currículos escolares. Foi o caso da Teoria dos Conjuntos,

considerada naquela época assunto indispensável para trabalhar com a

Matemática Moderna.

4.3 O livro “Matemática: Curso Moderno” de Sangiorgi (1968)

Fig. 4 – Capa do livro de Osvaldo Sangiorgi – “Matemática: Curso Moderno” de 1968

Iniciamos este tópico com a ilustração da capa do livro de Osvaldo

Sangiorgi (1968), 10a edição, destinado à 5a série do curso ginasial.

O livro contém capa dura nas dimensões 15 cm x 24 cm, com 371

páginas. No final do livro há uma página com um desenho (ver fig. 04)

representando o painel de abertura da exposição organizada pelo Instituto de

Educação de Araçatuba, destinado ao 5º Congresso Brasileiro do Ensino de

Matemática, realizado na cidade de São José dos Campos/SP, no ano de

1966. No referido emblema, consta a frase, de forma destacada, “Na era do

espaço...”, o que denota uma associação da Matemática Moderna e a era

Page 71: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

70

espacial, considerando o ensino da Matemática Moderna fator primordial para o

desenvolvimento tecnológico daquela época.

Fig. 5 – Painel de abertura do 5º Congresso Brasileiro do Ensino de Matemática (SANGIORGI,

1968, p.373)

Nesse livro, os assuntos abordados são direcionados para a primeira

série do Ginásio (atual 6º ano), sendo distribuídos nos seguintes capítulos: 1.

Noções de conjunto; operações com conjuntos; relações; 2. Número natural;

numerais de um número; sistema de numeração; bases; 3. Operações com

números naturais; propriedades estruturais; 4. Divisibilidade; múltiplos e

divisores; números primos; fatoração completa; 5. Conjunto dos números

racionais; números fracionários; operações; propriedades estruturais; e 6.

Estudo intuitivo das principais figuras geométricas planas e espaciais; sistemas

de medidas; decimal e não decimais.

Antes do índice, o autor dedica uma página totalmente voltada para o

aluno. Procurava incentivar o estudante mostrando que o mesmo iria aprender

Matemática por meio do seu livro, de maneira moderna e mais próxima da

realidade. Osvaldo Sangiorgi especifica que a Matemática apresentada em seu

livro, era totalmente diferente da Matemática ensinada em outras décadas.

Page 72: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

71

No “Capítulo 1: Conjuntos e Relações” é apresentada uma definição de

conjunto, de um modo coloquial, exemplificando: “Toda coleção de objetos,

pessoas, animais ou coisas, constitui um conjunto” (SANGIORGI, 1968, p.3).

Em seguida, o autor expõe algumas figuras:

Fig. 6 - Exemplos de conjuntos do livro de Osvaldo Sangiorgi (1968, p.3)

Logo após Sangiorgi (1968) apresenta maneiras de se escrever

conjuntos, afirmando que os elementos de um conjunto podem ser escritos

entre chaves e separados por vírgula. Cita o conjunto das vogais: {a, e, i, o, u}

e apresenta os símbolos e que indicam pertence ou não pertence,

respectivamente.

Ao que tudo indica, o autor pretendeu mostrar alguns símbolos e

linguagens mais comuns utilizados dentro da Teoria dos Conjuntos, no que diz

respeito à parte voltada para o Ensino Fundamental. É apresentada, segundo o

nosso entendimento, uma noção simples de exemplos de conjuntos por se

Page 73: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

72

tratar de alunos com faixa etária de 10 e 11 anos. Na página 4, temos um

exemplo que caracteriza a ideia de conjunto, segundo Osvaldo Sangiorgi

(1968):

Um conjunto fica conhecido quando você sabe se um dado objeto, pessoa, animal ou coisa, pertence ou não pertence a esse conjunto. Assim, por exemplo, se você tiver 12 anos, então não pertence ao conjunto dos alunos de sua classe que tem 11 anos. Por outro lado, se o Paulo é um coleguinha de sua classe que tem 11 anos, então ele pertence aquele conjunto.

O autor enfatiza que a palavra conjunto, ao longo da obra, adquiria um

significado mais amplo, diferentemente do significado da palavra conjunto

utilizado no linguajar comum.

Osvaldo Sangiorgi (1968) apresenta símbolos que são utilizados na

Teoria dos Conjuntos, dentre os quais, destacamos:

i) Conjunto Vazio, indicado por { } ou ; ii)Inclusão ou está contido,

indicado por ; iii)não está contido, indicado por iv)igualdade entre

conjuntos, indicado por A = B; v)intersecção entre conjuntos, indicado por ;

vi)união entre conjuntos, indicado por .

A princípio, são dados alguns exemplos seguidos de exercícios, sendo

ora chamados de exercícios de fixação, teste de atenção ou exercícios

exploratórios.

Os testes são do tipo V (verdadeiro) ou F (falso) e os exercícios de

fixação e exploratórios, pedem para que os alunos escrevam determinados

conjuntos. A seguir, um exemplo de cada exercício.

a) Exercício de fixação

Escrever os seguintes conjuntos, nomeando seus elementos entre chaves, onde couber: a)Conjunto dos dias da semana cujos nomes comecem por s. b)Conjunto dos números ímpares menores que 10. (SANGIORGI, 1968, p.8)

b) Exercício exploratório: “Escrever o conjunto dos nomes dos

alunos de sua classe com menos de 12 anos” (1968, p. 9).

Page 74: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

73

c) Teste de atenção: “Escrever ao lado de cada uma das seguintes

sentenças a letra V ou F, no caso de a sentença ser verdadeira ou falsa,

respectivamente: 1º) 2 {3, 2, 1} 2º) 2 {3, 2, 1} 3º) 8 {8}” (1968,

p.9).

Na parte voltada para os diagramas de Venn e Conjunto Universo,

Sangiorgi (1968) apresenta alguns exemplos e exercícios envolvendo situações

com o intuito de despertar a atenção dos alunos no que diz respeito à relação

desses exemplos e exercícios com situações que os alunos provavelmente

conheciam, como por exemplo, ao citar: na página 15.

O conjunto dos alunos que constituem a 1º série A de seu colégio, por exemplo, faz parte de um conjunto mais amplo – o conjunto de todos os alunos do colégio – que é suposto como Conjunto Universo (fig. 3). Para ajudar a “ver” as relações entre conjuntos, bem como as operações a serem estudadas entre eles, usa-se o Diagrama de Venn (*), onde um retângulo e sua região interior representam o Universo U. Os subconjuntos de U são representados por círculos (ou outras curvas simples fechadas) pertencentes à região interior do retângulo (SANGIORGI, 1968, p.15).

A seguir o livro ilustra o diagrama de Venn:

Fig. 7 - Diagrama de Venn (SANGIORGI, 1968, p.15)

O livro de Sangiorgi traz alguns lembretes para auxiliar o aluno na

resolução dos exercícios. Nesta primeira parte do capítulo 1, entendemos que

havia uma preocupação maior do autor com esses lembretes, justamente pelo

fato de conter muitos símbolos. Apresentamos a seguir, o que Sangiorgi (1968)

chamou de “Lembrete amigo”.

Page 75: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

74

Fig. 8 – Lembrete amigo (SANGIORGI, 1968, p.15)

Como se pode observar, esse “Lembrete amigo” conta com uma

pequena nota referindo-se ao Matemático Georg Cantor, o que nos leva a crer,

que o autor também tinha interesse em mostrar parte da História da Teoria dos

Conjuntos.

No capítulo intitulado “As operações com conjuntos – intersecção,

reunião (união), complementação e produto cartesiano”, o livro apresenta

exemplos simples sobre intersecção, conforme exemplo a seguir, da página 15:

“Sejam os conjuntos A = {1, 2, 3, 4} e B = {2, 3, 5}”. O autor especifica que o

conjunto formado pelos elementos comuns a A e B, é denominado como

intersecção entre A e B, e indicado por: A B = {2, 3}.

Logo em seguida, o autor comunica que, quando não houver elementos

comuns entre conjuntos, a intersecção será vazia, indicada geralmente por

ou, também por { }, sendo esta última simbologia menos utilizada.

Na parte voltada para reunião ou união entre conjuntos, o livro foge um

pouco dos exemplos com conjuntos apenas formados por números e apresenta

em determinados pontos, exemplos de conjuntos formados por símbolos (como

quadrados, triângulos, círculos e asteriscos) ou formados com nomes de

pessoas. Tomemos então, um exemplo da página 17: sendo X = {Nelson,

Lúcia, Carlos, João} e Y = {Maria, Carlos, Antônio, Lúcia}. A união entre X e Y é

dada por X U Y = {Nelson, Lúcia, Carlos, João, Maria, Antônio}.

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75

Em seguida, o livro de Sangiorgi apresenta uma nota no qual afirma: “É

indiferente a ordem com que os elementos de um conjunto são considerados

para construir o conjunto intersecção e o conjunto reunião” [Grifo nosso]

(1968, p.18).

O complementar de um conjunto ou complementação é apresentado

com um exemplo envolvendo números e com um exemplo envolvendo cores.

Sangiorgi (1968) define o complementar de um conjunto da seguinte forma: “O

complementar de um conjunto A, em relação a um conjunto Universo U, é o

conjunto constituído por todos os elementos do universo U que não pertencem

a A. Indicação: A’ (lê-se: “conjunto complementar de A”)” (p.19).

Apresenta ainda o seguinte exemplo: Supondo U = {2, 4, 6, 8, 10} e A =

{2, 8} o complementar de A em relação a U será: A’ = {4, 6, 10}. Pretendendo

mostrar exemplos que não envolvam apenas o contexto numérico na

Matemática, exemplifica, na página 20: “Se U = {verde, amarelo, branco, azul}

e A = {verde}, então: A’ = {amarelo, branco, azul}”.

Enfatizamos que, em todos os exemplos envolvendo as operações com

conjuntos, são apresentados diagramas de Venn, mostrando os conjuntos

dados e o Conjunto Universo.

O livro didático contém um tópico denominado “Práticas modernas” que

trata de atividades, apresentando alguns modelos como exemplos para o

aluno, como se pode observar nas páginas 22 e 23.

Fig. 9 – Exemplos de aplicações com conjuntos (modelo 1) (SANGIORGI,1968)

Page 77: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

76

Fig. 10 – Exemplos de aplicações com conjuntos (modelo 2) (SANGIORGI, 1968)

Finalizando as operações com conjuntos, o autor discorre sobre o

produto cartesiano, sendo denotado por X e classificado como uma das

operações mais importantes no contexto de conjuntos, segundo Sangiorgi

(1968).

A segunda parte do capítulo 1 é destinada ao Conjunto dos Números

Naturais, denotado pelo símbolo N.

Antes de estabelecer uma possível definição para número natural,

Sangiorgi (1968) apresenta a correspondência biunívoca – conjuntos

equipotentes. Por meio de diagramas de Venn, o autor mostra que, quando

cada elemento de um conjunto A se corresponde com um único elemento de

um conjunto B, há, entre esses conjuntos, uma correspondência biunívoca e

que são chamados de conjuntos equipotentes.

Entendendo que o autor pretendia mostrar um ensino de Matemática

moderno, deixando de lado o tradicionalismo que antes existia nas escolas, por

meio dos livros didáticos, Sangiorgi (1968) procurou trazer exemplos mais

próximos da realidade dos alunos. A seguir, um exemplo envolvendo conjuntos

equipotentes com alunos, os nomes dos alunos e as carteiras utilizadas na sala

de aula.

Page 78: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

77

Fig. 11 – Exemplo sobre correspondência biunívoca (SANGIORGI, 1968, p.33)

O autor finaliza a parte de conjuntos equipotentes com um breve

resumo, mostrando que a equipotência entre conjuntos goza das propriedades:

i) “reflexiva: A eq A. (lê-se: “A equipotente a A”).

ii) simétrica: se A eq B B eq A.

iii) transitiva: se A eq B e B eq C A eq C” (SANGIORGI, 1968, p.

34)

É apresentada também, uma pequena observação sobre o símbolo

lógico , que indica implicação e que se lê: “implica”.

Após a apresentação dos conjuntos equipotentes, o livro de Sangiorgi

(1968) apresenta o tópico que caracteriza a primeira ideia de um número

natural, assim colocado pelo autor:

...dos elementos que figuram nos conjuntos equipotentes e apoiando-se tão somente na correspondência biunívoca existente entre os seus elementos, destaca a permanência de uma propriedade comum: a quantidade ou o número de elementos, também chamado número natural (1968, p.35).

A seguir, o autor destaca que as palavras número e numeral tem

significados diferentes:

As palavras número e numeral têm significados diferentes. Enquanto número é uma ideia, associada a conjuntos equipotentes entre si, numeral é qualquer nome ou símbolo que possa usar para exprimir o

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78

número, e, portanto, a ideia (propriedade comum) ele representa [Grifos do autor] (SANGIORGI, 1968, p. 43).

Ainda sobre o conjunto dos números naturais, esse livro apresenta a

sucessão dos números naturais e a estrutura de ordem dos números naturais,

dando ênfase aos símbolos de desigualdade, denotados por > ou <. O autor

apresenta um exemplo sobre correspondência biunívoca entre dois conjuntos,

tentando trazer a realidade do dia-a-dia do aluno para o contexto matemático,

como mostra a figura 12:

Fig. 12 – Correspondência biunívoca entre alunos e carteiras (SANGIORGI, 1968, p.48)

Ao que parece, Sangiorgi (1968) mostrou-se preocupado no que diz

respeito à leitura da simbologia, tanto que o autor mostra por diversos

momentos, como se lê os símbolos de desigualdades, como por exemplo, ao

indicar que: “a < b (lê-se: a menor que b) ou b > a (lê-se: b maior que a)” (p. 48,

1968).

Na terceira e última parte do capítulo 1, o livro trata do Sistema de

numeração e bases, com os seguintes tópicos: sistema de numeração decimal;

sistemas de numeração antigos e modernos e experimentos sobre contagens

em diversas bases. Sangiorgi (1968) também procurou resgatar um pouco da

História do sistema de numeração apresentando alguns sistemas de

numeração antigos, como por exemplo, o egípcio, babilônico e romano.

O capítulo 2 diz respeito às “Operações com números naturais e

Propriedades estruturais”. Sangiorgi (1968) trata das quatro operações (adição,

subtração, multiplicação e divisão), nesta ordem. Após a apresentação da parte

Page 80: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

79

teórica e definição de cada operação, o autor complementa, a cada explicação

teórica, uma série de exercícios, sem enfatizar a Teoria dos Conjuntos.

Na parte referente à adição, Sangiorgi (1968) inicia especificando que é

uma operação cujo resultado é a soma. O autor apresenta um exemplo

envolvendo a união entre conjuntos, na página 86.

Consideremos dois conjuntos A e B, finitos e disjuntos:

“A = {*, , } e B = { , } sendo n(A) = 3 e n(B) = 2. O autor enfatiza

neste exemplo que A B = já que A e B são disjuntos, ou seja, diferentes”.

Em seguida, comenta que a união entre os elementos do conjunto A

com os elementos do conjunto B pode ser denotada por: S = (A U B) = {*, ,

, , , }, sendo n (s) = 5, pois o resultado da soma é igual a 5. Por fim,

Sangiorgi (1968) observa que, de modo geral, a operação adição pode ser

expressa por meio da seguinte notação:

“(a, b) a + b = s, sendo os termos a e b as parcelas e s, o

resultado, ou seja, a soma (SANGIORGI, 1968, p.86)”.

Ainda, segundo Sangiorgi, “A adição é denominada uma operação

binária porque, atuando sobre dois números naturais, produz sempre um

terceiro número natural (resultado)” (1968, p.86)

Na página 89, o autor discorre sobre as propriedades estruturais do

conjunto dos números naturais (fechamento, comutativa, elemento neutro e

associativa). Com alguns exemplos, procura mostrar que o conjunto N é

fechado para a adição, já que a soma de dois naturais será sempre um natural.

Em seguida, chama a atenção para o fato da ordem das parcelas não alterar a

soma, (propriedade comutativa) e, dando continuidade nas propriedades

estruturais, mostra que, de um modo geral, podemos escrever: a + 0 = 0 + a =

a, para qualquer a natural. Neste caso, Sangiorgi apresenta a propriedade do

elemento neutro da adição.

Por fim, Sangiorgi (1968) afirma que a propriedade associativa é

representada por meio da adição de três números naturais, sendo feita

associando-se as duas primeiras parcelas ou as duas últimas. O autor traz

Page 81: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

80

exemplo: “(4 + 5) + 7 = 4 + (5 + 7). De um modo geral: (a + b) + c = a + (b + c),

para qualquer a, b ou c, natural” (SANGIORGI, 1968, p.90).

A seguir, o autor apresenta a subtração como operação inversa da

adição. Comenta que, de um modo geral, a operação que permite encontrar um

terceiro número natural, desde que, somado ao segundo, é denominada

subtração e, apresenta exemplos do tipo: 7 – 3 = 4, pois 4 + 3 = 7.

Sangiorgi (1968), também mostra alguns exemplos os quais possibilitam

ao aluno verificar que a subtração é uma operação impossível de ser realizada,

em alguns casos, entre dois números naturais quaisquer.

Segundo o autor: “Ao par de números naturais (a, b), com a b,

operação subtração (inversa da adição) faz corresponder um número natural d,

denominado diferença” (SANGIORGI, 1968, p.94).

Na parte do capítulo sobre o conjunto N, no “Lembrete amigo”, página

97, destaca a propriedade do fechamento em relação à adição:

Fig.13 – Lembrete amigo em relação ao conjunto N (SANGIORGI, 1968)

No que diz respeito à operação multiplicação, o autor especifica que seu

resultado é denominado de produto. Os exemplos do livro de Sangiorgi são

feitos por meio do produto cartesiano entre conjuntos após enfatizar que:

“O produto de um número natural n por um número natural a é a soma

de n parcelas iguais a a: n X a = a + a + a + ... + a” (SANGIORGI, 1968, p.107).

n parcelas

Page 82: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

81

Sangiorgi (1968) mostra as propriedades estruturais da multiplicação e,

após alguns exercícios, inclusive com expressões numéricas.

À respeito da divisão, o livro não envolve características em relação à

conjuntos como vimos na adição e na multiplicação. Entendemos que naquele

tópico a preocupação do autor foi explorar a divisão como inversa da

multiplicação. Sangiorgi (1968) ainda destaca, na página 120, que a divisão

não apresenta as propriedades: fechamento, comutativa, elemento neutro e

associativa.

Na última parte do capítulo 2 do livro de Sangiorgi (1968) são

apresentadas as operações de maximação e minimação, normalmente

conhecidas como máximo divisor comum (m.d.c.) e mínimo múltiplo comum

(m.m.c.), respectivamente.

Por meio das propriedades estruturais, o autor usa a intersecção entre

conjuntos para montar os conjuntos dos divisores entre dois ou três números.

No caso, Sangiorgi (1968) trabalha com a maximação (m.d.c.). No que diz

respeito à minimação (m.m.c.), Sangiorgi (1968) também trabalha com a

intersecção entre conjuntos, nesse caso, com conjuntos infinitos.

No capítulo 3, Sangiorgi (1968) apresenta o Conjunto dos números

racionais e algumas operações e, no final do capítulo enfatiza que:

“Todo número racional pode ser representado por uma fração , onde a e

b são números naturais, sendo b 0 (SANGIORGI, 1968, p.282)”.

O capítulo 4 é voltado para medidas, não havendo ligação com tópicos

direcionados para a Teoria dos Conjuntos.

Como se pode notar, o livro didático “Matemática moderna” de autoria de

Osvaldo Sangiorgi (1968) foi elaborado tomando como principal referência as

recomendações propostas pelo MMM.

Para tanto, a linguagem adotada para trabalhar os conteúdos da

primeira série do Ginásio foi a Teoria dos Conjuntos, que está presente em

todo o livro, com exceção da parte referente aos sistemas de medidas.

Page 83: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

82

4.4 O livro “Matemática para o Curso Fundamental” de Lima e Vila (1972)

“O aluno trabalha e o mestre orienta” (LIMA e VILA, 1972)

Fig.14 – Capa do livro “Matemática para o curso fundamental” (1972)

Apresentamos o livro “Matemática: para o curso fundamental” dos

autores Reginaldo N. de Souza Lima e Maria do Carmo Vila, destinado à 5a

série (6º ano do Ensino Fundamental) com a 1ª edição publicada em abril de

1972 e a 2ª edição em janeiro de 1973, pela Editora Veja A.A.

Na unidade 1, os autores abordam conjuntos por meio de uma história

em quadrinhos, tendo em destaque um professor que almeja interagir com os

alunos, sobre a ideia intuitiva de Conjuntos, por meio de uma máquina

denominada Minimac. A máquina auxilia o professor como mostrar para os

alunos alguns significados da palavra Conjunto.

Mostramos a seguir, uma foto ilustrativa da Minimac sendo apresentada

para os alunos, na página 2 da referida obra didática.

Page 84: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

83

Fig.15 – Apresentação da Minimac (LIMA; VILA, 1972, p.2)

Como se pode notar, na apresentação do Minimac, os autores não

fizeram menção à Teoria dos Conjuntos. No entanto, o diálogo com o leitor é

feito por meio de história em quadrinhos, tendo como personagens principais

professor e alunos no ambiente da sala de aula. Nota-se que o professor

diferencia-se dos alunos por trajar um avental cujo bolso pende uma caneta.

Os alunos não estão de uniforme e o diálogo entre professor e aluno dá-se

num ambiente descontraído. Os autores pretenderam retratar uma sala de aula

moderna e, para estudar Matemática, nada como um instrumento tecnológico

como o Minimac, cuja concepção lembra a de um computador. Trata-se de

uma escola “moderna”, com a presença de uma ferramenta tecnológica

avançada, representada pelo Minimac. É nessa nova proposta de ambiente

escolar que se pretende inserir uma nova forma de abordar a Matemática, qual

seja, por meio da Teoria dos Conjuntos.

Page 85: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

84

Esta unidade é dividida em quinze lições, dentre as quais, podemos

destacar algumas que, de acordo com o nosso entendimento, mostram um

trabalho mais voltado para o tema desta pesquisa. Sendo assim, não

destacaremos as lições 4,11,14 e 15, por julgarmos que não contemplam

tópicos necessários em nosso trabalho.

Na lição 1 do livro, os autores apresentam algumas ideias simples do

significado da palavra conjunto e, iniciam especificando que um conjunto pode

ser simples, apresentando a seguinte frase: “A palavra conjunto indica uma

coleção, um grupo, um agrupamento. Assim, palavras como enxame, cardume,

pilha, esquadrilha, caravana, povo etc., nada mais são que conjuntos de

objetos” (LIMA e VILA, 1972, p. 6).

Em seguida, são apresentados alguns conjuntos sendo destacado o

conjunto dos dias da semana, por meio da Minimac, conforme podemos

verificar a seguir:

Fig. 16 – Representação analítica da Minimac (LIMA; VILA, 1972, p. 7)

Dando continuidade, por meio da Minimac, informa-se ao leitor que os

elementos de um conjunto devem ser colocados entre chaves e separados por

vírgula, conforme figura a seguir.

Page 86: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

85

Fig.17 – Conjunto dos dias da semana formado pela Minimac (LIMA; VILA, 1972, p.7)

Na lição 2 é apresentada a nomeação de conjuntos. Os autores iniciam

a lição propondo aos alunos que, em todos os lugares, costuma-se dar nome

às coisas e, na Matemática, isto também acontece. Como exemplo, é citado o

conjunto dos dias da semana, sendo denotado por D.

Importante ressaltar que o livro sempre apresenta o desenvolvimento

das lições mostrando que a Minimac é a responsável por produzir a ideia de

conjunto. Neste exemplo, a Minimac, teria produzido o conjunto D, dos dias da

semana como: D = {segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo}

(LIMA e VILA, 1972, p.12).

Ainda é especificado na lição 2, que um conjunto deve ser indicado por

meio de uma letra maiúscula e, consequentemente, são propostos alguns

exercícios para os alunos resolverem, como por exemplo, criar nomes para

alguns conjuntos.

Fig.18 – Exercício sobre conjuntos (LIMA; VILA, 1972, p.13)

Page 87: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

86

Nesta lição os autores abordam o assunto pertinência, denotado na

Teoria dos Conjuntos pelo símbolo . De início, é apresentado um conjunto V =

{a, e, i, o, u}, formado pelas vogais do alfabeto. Em seguida, são sugeridas

algumas perguntas, tais como: “a” é elemento de V? “b” é elemento de V?

Segundo esse livro didático, os alunos devem utilizar o símbolo de

pertinência caso um elemento pertença ao conjunto dado. Portanto, os

alunos deveriam dizer que “o elemento a pertence ao conjunto V”,

representando esta frase por a V. (LIMA; VILA, 1972, p. 14).

Em seguida, Lima e Vila (1972) observam que quando um elemento não

pertence ao conjunto dado, devemos utilizar o símbolo . Como exemplo, os

autores perguntam se o elemento b faz parte do conjunto V. Como podemos

observar, b não é elemento de V. Portanto, devemos escrever que b V.

A lição 3 é finalizada mostrando que um conjunto também pode conter

outros conjuntos. Lima e Vila (1972), apresentam esta situação da seguinte

maneira:

São dados alguns conjuntos, tais como: V = {a, e, i, o, u}, Y = {A, E, I, O,

U} representando as vogais minúsculas e maiúsculas respectivamente e T = {a,

b, c} e U = { }, as três primeiras letras do alfabeto latino e grego,

respectivamente. No caso, o livro mostra que estes conjuntos também podem

fazer parte de outro conjunto, como por exemplo, o conjunto X. Logo,

poderíamos representar este novo conjunto como X = {V, Y, T, U}. (LIMA; VILA,

1973, p.15).

A representação sintética de conjuntos é apresentada na lição 5, sendo

destacada por Lima e Vila (1972), como assunto extremamente importante no

entendimento sobre conjuntos. É apresentada a seguinte ilustração:

Page 88: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

87

Fig.19 - Representação sintética de conjuntos (LIMA; VILA, 1972, p.25)

Após a ilustração, os autores informam que a representação sintética do

conjunto M, pode ser expressa da seguinte maneira:

Fig.20 - Representação Sintética pela Minimac (LIMA; VILA, 1972, p.25)

Conforme a figura 20, verificamos que o livro apresenta o símbolo

para representar a nota musical, sendo que, os autores classificam este

símbolo como uma indeterminada. A intenção é que o leitor preencha o espaço

do quadradinho com a nota musical correspondente.

O tópico tratado na sexta lição se refere ao conjunto referencial. Os

autores citam um garoto chamado Kioko, que foi ao supermercado fazer

compras com a mãe. Nesse caso, o conjunto das mercadorias à venda é:

Fig.21 - Conjunto Referencial (LIMA; VILA, 1972, p.28)

Page 89: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

88

Em seguida, é apresentado o conjunto L, cujos elementos pertencem a

M, mas não são legumes. Então, a Minimac mostra sua representação

analítica:

Fig.22 - Representação Analítica do Conjunto L (LIMA; VILA, 1972, p.28)

Por meio de outra figura, o livro mostra a representação sintética do

conjunto L, pela Minimac, cujos elementos de L, também são elementos de M.

Assim:

Fig.23 - Conjunto L (LIMA; VILA, 1972, p.29)

Em seguida, o livro apresenta exemplos e atividades que não

contemplam situações-problema, mas sim, situações envolvendo apenas o

universo matemático, como por exemplo, conjuntos referenciais formados por

elementos, tal que os mesmos, são vogais do nosso alfabeto.

Ao tratar o conceito de conjuntos vazio e unitário, na lição 7, os autores

enfatizam de maneira simples e objetiva que um conjunto, quando formado por

apenas um elemento, é tido como conjunto unitário e, quando um conjunto não

possui elemento algum, é dito como conjunto vazio. Na sequência informa-se

ao estudante que, quando um conjunto for vazio, pode ser representado pelo

símbolo .

As lições de 8 a 10 de Lima e Vila (1972) tratam dos Diagramas de

Venn, partes de um conjunto e conjunto das partes. Os autores adotam como

exemplo, diagramas que podem ser representados por meio de desenhos com

característica oval e, dentro desses desenhos, citam os próprios alunos, como

Page 90: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

89

elementos dos conjuntos. Na sequência, as duas próximas lições mostram a

ideia de conjunto das partes, por meio da seguinte situação:

Consideremos como referencial o seguinte conjunto Q = {quarta, quinta}. Queremos encontrar TODAS as partes, isto é, TODOS os conjuntos formados com os elementos de Q. A MINIMAC nos

apresentará o conjunto cujos elementos são: { , {quarta, quinta},

{quinta}, {quarta}} (LIMA e VILA, 1972, p.39).

Esse livro define plano como: “O plano P é um conjunto infinito de

pontos (LIMA ; VILA, 1972, p. 45)”. A seguir, especifica que é possível se

utilizar de dois esquemas para representar um plano.

Fig.24 - Esquema Geométrico e Diagrama de Venn (LIMA; VILA, 1972, p.45)

Finalizamos o estudo da unidade 1 desse livro com a lição 13 que, assim

como a lição 12, trata do estudo da reta, que pode ser representada tanto pelo

esquema geométrico como pelo Diagrama de Venn.

Na unidade 2 desse livro, Lima e Vila (1972) apresentam o tópico

“Relação entre conjuntos”, por meio de situações-problema e com uso da

Minimac. Como na unidade 1, destacamos as lições que julgamos abordam o

tema de nossa pesquisa.

A unidade 2 inicia com a lição 16, voltada para a relação de um conjunto

em outro conjunto, solicitando ao estudante representar essas relações por

meio de diagramas e tabelas. Os autores destacam o conjunto de partida, o

conjunto de chegada e os pares ordenados formados pela relação entre

Page 91: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

90

conjuntos. Ainda nesta lição, é mostrada a questão de domínio da relação e

contra-domínio da relação.

Assim sendo, Lima e Vila (1972) finalizam a lição 16:

Fig.25 - Definição de Relação, Domínio e Contra Domínio (LIMA; VILA, 1972, p.63)

O produto cartesiano é o assunto da lição 18 e, segundo os autores, as

relações entre conjuntos, tratadas em lições anteriores, poderiam facilitar o

aprendizado no que diz respeito ao produto cartesiano.

Lima e Vila (1972), por meio de uma situação prática, introduzem o

assunto exemplificando com um torneio de futebol a ser realizado numa escola,

com 7 times, conforme o quadro:

Fig.26 - Quadro sobre torneio de futebol (LIMA; VILA, 1972, p.66)

Nessa atividade, cada time da manhã, deve jogar com todos os times da

tarde e, por meio da Minimac, o livro mostra os pares ordenados formados com

os times. Lima e Vila (1972) complementam que a relação obtida entre os times

de futebol pode ser traduzida em Matemática como produto cartesiano e tal

Page 92: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

91

produto representado por meio das siglas M x T, sendo M, os times de futebol

da manhã e T os times de futebol da tarde.

Nas lições 22, 23, 24, 25 e 26, o livro trata das propriedades Reflexiva,

Anti-Reflexiva, Simétrica, Anti-Simétrica e Transitiva, respectivamente. Essas

cinco lições são tratadas de forma resumida e não apresentam exercícios

propostos. As lições são apresentadas em dez páginas, com exemplos práticos

utilizando os personagens da história do início do livro, com a Minimac.

As relações de igualdade, inclusão e a operação intersecção são

assuntos das lições 32 a 34. Na relação de igualdade, Lima e Vila (1972),

apresentam o tópico conjuntos iguais, com o seguinte exemplo:

Fig.27 - Relação de Igualdade entre Conjuntos (LIMA; VILA, 1972, p.103)

A relação de inclusão é desenvolvida por meio de subconjuntos, sendo

mostrado que, um conjunto A é parte ou subconjunto de um conjunto B se, e

somente se, todos os elementos de A são também elementos de B. (LIMA e

VILA, 1972, p. 107).

Na lição 34, Lima e Vila definem: “Dois conjuntos A e B são

intersecantes se, e somente se, há elementos comuns entre eles, mas cada um

tem elemento não comum com o outro (LIMA e VILA, 1972, p.110).” Em

seguida, mostram os seguintes exemplos:

Page 93: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

92

Fig.28 - Conjuntos Intersecantes (LIMA; VILA, 1972, p.111)

Fig.29 - Conjuntos Não-Intersecantes (LIMA; VILA, 1972, p.111)

A lição 35 trata da relação entre conjuntos disjuntos. Mais uma vez os

autores procuram contextualizar a ideia de conjuntos com a prática do dia-a-

dia. Mostram, como exemplo, o passeio de um personagem da história do livro,

Pintinha, que foi ao zoológico e ficou impressionado com os leões e os

elefantes. No caso, Lima e Vila (1972) destacam que o conjunto dos leões é

diferente do conjunto dos elefantes, ou seja, que não existem elementos

pertencentes ao mesmo tempo nos dois conjuntos e, portanto, são

considerados como conjuntos disjuntos.

A unidade 3 é voltada para as aplicações entre conjuntos. A lição 37,

que introduz este tópico, conta a história de dois garotos que foram pescar e,

consequentemente, numa pescaria, duas pessoas não podem pescar o mesmo

peixe. Em seguida, são construídos dois conjuntos, conforme vemos a seguir:

Page 94: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

93

Fig.30 – Exemplos de aplicações de um conjunto em outro conjunto (LIMA; VILA, 1972, p.120)

Assim contando histórias e fazendo uso de diagramas, o livro procura

levar o leitor ao entendimento da ideia de aplicação de um conjunto em outro

conjunto.

Dando sequência, na unidade 4, Lima e Vila (1972) apresentam

operações entre conjuntos. Para trabalhar a União e a Intersecção os autores

fazem uso de dois painéis (1 e 2), sendo o primeiro, formado por um sorvete

(s), uma uva (u), uma casa (c) e um balde (b) e, o segundo painel formado por

uma Lua (l), um sorvete (s), um balde (b), um pássaro (p) e uma esmeralda (e).

Em seguida, o livro mostra a intersecção entre os paineis 1 e 2, por meio de

diagramas. A diferença entre conjuntos é definida utilizando os mesmos

elementos dos painéis, por meio de diagramas:

Fig.31 – Painéis e diagramas – operações entre conjuntos (LIMA; VILA, 1972, p.145)

Page 95: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

94

Ainda nessa unidade o livro apresenta o conteúdo voltado para conjunto

complementar, sendo assim, definido pelos autores: “Se A é uma parte do

conjunto E, chama-se Complementar de A em relação a E, o conjunto dos

elementos de E que não pertencem a A” (LIMA e VILA, 1972, p.153).

Finalizando a unidade 4 são apresentadas as propriedades comutativa,

associativa e distributiva, complementando o estudo das operações entre

Conjuntos.

O sistema dos números naturais, é apresentado na unidade 5, num

capítulo dividido em 22 lições, das quais destacamos: Conjuntos Equipotentes,

Cardinais, Conjuntos Finitos e Conjuntos Infinitos, Conjunto dos Números

Naturais, Relação de ordem em N, União Soma e Adição, Produto Cartesiano e

Potenciação.

O livro apresenta diversos exemplos com os números naturais.

Contextualizar a ideia de conjunto com a praticidade do nosso dia-a-dia, é um

dos focos de Lima e Vila (1972).

A noção de conjuntos equipotentes é introduzida da seguinte forma:

Fig.32 – Introdução de Conjuntos Equipotentes (LIMA; VILA, 1972, p.165)

Page 96: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

95

A cardinalidade de um conjunto também é assunto trabalhado nesse

livro e é apresentado por meio de uma tabela:

Fig.33 – Tabela de Conjuntos Padrões e Cardinais Padrões (LIMA; VILA, 1972, p.170)

A definição de números naturais é dada pelos autores da seguinte

forma:

Os cardinais padrões recebem o nome de números naturais. Representamos por N o conjunto dos números naturais.

CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS

N = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, ...} (LIMA e VILA,

1972, p.175)

Page 97: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

96

A última unidade do livro apresenta o Sistema dos Números Inteiros,

representado por Z. Esta unidade compreende as lições 72 a 78, sendo

composta pelas operações de adição, subtração, módulo e multiplicação.

O referido livro didático também introduz o conceito de equação, sendo

perguntado para o aluno, se é possível resolver problemas apenas no universo

do conjunto dos números naturais.

Fig.34 – Resolução de equações (LIMA; VILA, 1972, p.247)

Assim, Lima e Vila (1972), introduzem em seu livro os números inteiros

e, finalizam esta última unidade com a lição 78, com um resumo que diz

respeito às seguintes propriedades dos números inteiros.

Fig.35 – Corte na adição (LIMA; VILA, 1972, p.271)

Page 98: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

97

Fig.36 – Corte na multiplicação (LIMA; VILA, 1972, p.272)

Como podemos observar, o livro elaborado por Lima e Vila (1972), do

mesmo modo que o de Sangiorgi (1968) seguem as recomendações do MMM.

Os autores procuram manter diálogo com o leitor em todos os tópicos do livro,

mas de forma intensificada. Toda a obra se volta para cativar o estudante para

a Teoria dos Conjuntos, realçada pelas histórias em quadrinhos, por

personagens do universo escolar e pela presença de uma máquina, a Minimac,

símbolo de modernidade e do desenvolvimento tecnológico da época.

Para compor esse ambiente moderno, os autores entendem que a

linguagem da Teoria dos Conjuntos é a que melhor caracteriza e propicia uma

nova maneira de ensinar e aprender Matemática, condizente com a

necessidade de modernização da escola.

Page 99: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

98

4.5 O livro “Matemática” de Dante (2012)

Fig.37 – Capa do livro de Dante (2012) – 6º ano

Do mesmo modo como os livros da época do MMM, tais como os de

Sangiorgi (1968) e Lima e Vila (1972), o livro “Matemática” de autoria de Luiz

Roberto Dante (2012) procura interagir com o aluno por meio de uma

linguagem coloquial, sempre que possível. Na apresentação, além de citar que

a Matemática é parte importante do cotidiano do aluno, o autor destaca que, no

processo de estudo, o aluno irá encontrar trechos relacionados à evolução da

História da Matemática.

O livro, de capa branca e detalhes verdes, nas dimensões 24 cm x

27,6cm contém 304 páginas e mais 112 páginas voltadas para o manual do

professor. Está dividido em quatro unidades e nove capítulos, sendo os três

primeiros capítulos na primeira unidade, o quarto e quinto capítulos na segunda

unidade, o sexto e sétimo capítulos na terceira unidade e, na última unidade, os

dois últimos capítulos. O livro também apresenta glossário, respostas, leituras

Page 100: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

99

complementares e sugestões de sites, bibliografia e lista dos objetos

educacionais digitais.

Antes do sumário é apresentada uma seção de duas páginas com o

título “Conhecendo seu livro de Matemática”. Nesta seção, Dante (2012)

mostra em breves comentários alguns destaques do livro.

Verificamos que esse livro didático não contempla tópicos direcionados

para a Teoria dos Conjuntos, como os que foram analisados anteriormente. A

tabela a seguir apresenta os conteúdos tratados no livro de Dante (2012).

Quadro II: Conteúdo programático do livro de Dante (2012)

Capítulo 1 Números naturais e sistemas de numeração

Capítulo 2 Operações fundamentais com números naturais

Capítulo 3 Geometria: sólidos geométricos, ângulos e polígonos

Capítulo 4 Potenciação, raiz quadrada e expressões numéricas

Capítulo 5 Divisores e múltiplos de números naturais

Capítulo 6 Frações e porcentagens

Capítulo 7 Números decimais

Capítulo 8 Explorando a ideia de medida

Capítulo 9 Perímetros, áreas e volumes

No primeiro capítulo são apresentados os números naturais e um pouco

de História da Matemática, sendo que o autor destaca os povos primitivos e os

sistemas de numeração egípcio, romano e indo-arábico.

Page 101: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

100

Fig. 38 - Breve histórico dos números naturais (DANTE, 2012, p.13)

O livro de Dante (2012) apresenta o conjunto dos números naturais por

meio da seguinte definição:

Fig. 39 – Conjunto dos Números Naturais (DANTE, 2012, p.27)

Conforme figura 39, verifica-se que o livro enfatiza que os elementos de

um conjunto devem ser colocados entre chaves e separados por vírgula.

Verifica-se que, em seguida, é apresentado o conjunto dos números naturais,

denotado por N.

No capítulo 2, Dante (2012) apresenta algumas propriedades da adição,

tais como: comutativa e elemento neutro. Ainda neste capítulo o autor destaca

algumas propriedades da multiplicação, como a comutativa, elemento neutro,

elemento nulo, associativa e distributiva.

Page 102: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

101

Verificamos na introdução do capítulo 4, o autor traz um exemplo,

tomando um grupo de adolescentes para explicar potenciação. Observa-se,

entretanto, que o livro não faz uso da palavra conjunto, embora seja possível

perceber certa ligação com a Teoria dos Conjuntos, ao ser citado a palavra

grupo.

Fig.40 – Introdução capítulo 4 (DANTE, 2012, p.106)

No capítulo 5, no tópico destinado aos múltiplos de um número natural,

na apresentação desses múltiplos, o autor desenvolve um processo de

formação de subconjunto dentro do universo do conjunto dos números naturais,

da seguinte forma:

Fig.41 – Conjunto dos múltiplos de um número natural (DANTE, 2012, p.139)

Page 103: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

102

No capítulo 6, na parte voltada para a leitura das frações, nota-se a

preocupação do autor em interagir com o aluno por meio da História da

Matemática, sendo destacado o Papiro de Rhind.

Fig.42 – Frações unitárias e Papiro de Rhind (DANTE, 2012, p.156)

O que se pode notar, pela leitura da obra “Matemática” de autoria de

Dante (2012) é que esse autor apresenta a definição de conjunto e sua

representação, mas trabalhou esse assunto quando julgou estritamente

necessário.

4.6 O caderno do professor da Proposta Curricular de Matemática do

Estado de São Paulo

Neste tópico, pretendemos verificar como e, se, a Teoria dos Conjuntos

está inserida nos conteúdos da Proposta Curricular do Estado de São Paulo.

Este caderno, publicado no ano de 2008 por meio da Secretaria de Estado da

Educação de São Paulo, tem como objetivo auxiliar o professor de Matemática

durante as aulas (SEE, 2008). Nossas observações recaem sobre o material

disponível para o 6º ano do Ensino Fundamental, porquanto os outros livros

analisados nesta pesquisa são desse mesmo nível de ensino.

Page 104: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

103

Para o 6º ano, foram elaborados quatro cadernos, um para cada

bimestre, contendo os conteúdos distribuídos com certa flexibilidade, de modo

que, o professor possa modificar a maneira da distribuição desses conteúdos

quando necessário. A seguir, foto da capa do caderno do professor do 1º

bimestre.

Fig. 43 – Capa do Caderno do Professor de Matemática

Os outros cadernos possuem a mesma capa, mudando apenas o

bimestre a ser trabalhado, conforme podemos ver a seguir:

Fig. 44 – Emblema do Caderno do 2º bimestre

Os conteúdos matemáticos estão distribuídos ao longo da série, em

conformidade com a SEE (2008):

Page 105: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

104

Quadro III: Proposta curricular de Matemática

6º ano Conteúdo

1º bimestre Números naturais: múltiplos e divisores; números primos; operações

básicas; Introdução às potências;

Frações: representação; comparação e ordenação; operações básicas;

2º bimestre Números decimais: representação; transformação em fração decimal;

operações (+, -);

Sistemas de medida: medidas de comprimento; sistema métrico decimal;

múltiplos e submúltiplos da unidade;

3º bimestre Formas geométricas: formas planas; formas espaciais;

Perímetro e área: unidades de medida; perímetro de uma figura plana;

cálculo da área por composição; área e perímetro de figuras planas;

4º bimestre Estatística: leitura e construção de gráficos e tabelas; média aritmética;

problemas de contagem.

No início do caderno do 1º bimestre são destacados os principais

conteúdos a serem trabalhados: os números naturais e as frações. E, segundo

a SEE (2008), pelo fato dos alunos terem o primeiro contato com esse tipo de

conteúdo nas séries anteriores, o professor deverá retomá-lo a fim de ampliar o

conhecimento dos alunos em relação a esses números. Todos os cadernos

estão divididos em oito unidades e, segundo dados da SEE (2008), a intenção

foi focar essas unidades em temáticas principais, conforme quadro III.

Dentre as oito unidades que compõem o Caderno, na unidade 1,

pudemos constatar tópicos direcionados para a Teoria dos Conjuntos, como

por exemplo, correspondência biunívoca. O caderno do professor trabalha com

a questão de correspondência e agrupamento.

O aluno deve reconhecer e compreender os fundamentos que caracterizam o sistema de numeração decimal, tais como: a ideia de correspondência, a contagem em agrupamentos de dez unidades e o valor posicional dos algarismos (SEE, 2008, p.8).

A unidade 2 é voltada para a questão dos múltiplos de um número

natural, sendo enfatizado que: “Não é o momento de se formalizar o conceito

de número natural dentro da Teoria dos Conjuntos, e sim de explorar as ideias

principais associadas a ele” (SEE, 2008, p.15). Esse assunto foi abordado mais

adiante, especificamente no 9º ano do Ensino Fundamental.

Page 106: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

105

Na unidade 2, solicita-se que o professor desenvolva a questão dos

principais subconjuntos dos números naturais, sendo: números pares, números

ímpares, números primos e múltiplos e divisores.

Nas unidades de 3 a 8, não estão inseridos tópicos que nos remetem à

Teoria dos Conjuntos, mesmo que de maneira breve. Já no caderno do 2º

bimestre (2008), os temas principais são os números decimais e os sistemas

de medidas. Aqui, também não se enfatizou Teoria dos Conjuntos. O caderno

do 3º bimestre é voltado para o estudo de Geometria. Também não apresenta

tópicos relacionados com a Teoria dos Conjuntos. Por fim, o quarto e último

Caderno de Matemática (2008), destinado ao 4º bimestre abrange tópicos

relacionados com a Estatística, tendo como foco principal o tratamento de

informação e, não faz relação com a Teoria dos Conjuntos.

4.7 O Currículo do Estado de São Paulo – Matemática e suas tecnologias

O Currículo do Estado de São Paulo foi implantado no ano de 2008, com

o objetivo de apoiar o trabalho desenvolvido nas escolas estaduais. Segundo a

SEE (2010), foram tomadas algumas iniciativas, dentre as quais, levantar um

acervo documental técnico pedagógico e consultar escolas e professores, a fim

de identificar e divulgar práticas existentes nas escolas do estado de São

Paulo.

O Currículo, além de ser completado com documentos dirigidos para os

professores e alunos, também é composto com um documento básico

curricular com orientações a gestão do Currículo na escola, denominado

Caderno do Gestor, destinado aos professores coordenadores, diretores,

professores coordenadores das oficinas pedagógicas e supervisores (SEE,

2010).

Verificamos que o Currículo de Matemática reitera a importância de se

dar atenção especial aos recursos tecnológicos, dando ênfase na

transformação da informação em conhecimento. “Instrumentos como as

calculadoras ou os computadores podem e devem ser utilizados

Page 107: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

106

crescentemente, de modo crítico, aumentando a capacidade de cálculo e de

expressão (SEE, 2010, p.35)”.

Também é enfatizada a importância do trabalho da Matemática como

disciplina escolar paralelamente a língua materna, ou seja, com a Língua

Portuguesa. A proposta apresentada pelo Currículo procura não se distanciar

dos conteúdos trabalhados pelos professores atualmente em salas de aulas.

Assim sendo, o Currículo de Matemática é organizado em três blocos

temáticos: números, geometria e relações (SEE, 2010).

No que diz respeito aos números, podemos dizer que é o conteúdo que

mais se aproxima com o tema do nosso trabalho, pois, em conformidade com o

Currículo, os números envolvem as noções de contagem e representação de

simbologias (SEE 2010).

Ainda, destacamos que a SEE (2010), por meio do Currículo em

questão, menciona a importância do professor de Matemática se apoiar na

História, sempre que necessário, como por exemplo, ao trabalhar com os

conjuntos dos números naturais e inteiros.

Tais situações podem estar apoiadas na história, como, por exemplo, a ampliação dos números naturais para os inteiros devido às necessidades prementes do desenvolvimento comercial e financeiro dos séculos XV e XVI (SEE, 2010, p.40).

Este Currículo tende a mostrar para o professor, possíveis possibilidades

de um trabalho interdisciplinar, sempre o lembrando da importância da

exploração de recursos tecnológicos, a fim de transformar as informações em

conhecimento. Deste modo, é especificado que: “a ideia geral norteadora é a

de que os conteúdos são meios para a criação e a exploração de centros de

interesse” (SEE, 2010, p.51).

No nosso entendimento, não há, nesse documento, destaque à Teoria

dos Conjuntos. Não observamos recomendação para que os professores

trabalhassem com a Teoria dos Conjuntos e tampouco não se enfatiza a

linguagem dos conjuntos nas atividades envolvendo conteúdos matemáticos.

Page 108: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

107

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito dessa pesquisa foi estudar a inserção da Teoria dos

Conjuntos nos livros didáticos de Matemática, pretendendo verificar como

esses manuais trabalharam e se ainda trabalham com a Teoria dos Conjuntos,

especificamente, no 6º ano do Ensino Fundamental.

Nesse sentido, procuramos responder as seguintes questões de

pesquisa: “como os manuais escolares elaborados para o Ensino Fundamental

incorporaram conteúdos referentes à Teoria dos Conjuntos durante o MMM?” e

“quais relações podem ser estabelecidas entre a história da Teoria dos

Conjuntos e o desenvolvimento desse conteúdo em sala de aula?”.

Ao destacarmos importância da pesquisa histórica sobre livros didáticos,

levamos em conta, em conformidade com Valente (2008) que, por meio da

análise dos conteúdos de livros didáticos, o historiador pode constatar se um

novo livro abrange ou não, conteúdos do passado de uma determinada

disciplina. Ainda, lembramos Choppin (2004), sobre as múltiplas funções que

os livros didáticos assumem. Dentre elas, destaque-se a função referencial, em

que se pode verificar as técnicas ou habilidades que determinado grupo social

entende como necessário transmitir às futuras gerações; a função instrumental,

uma vez que colocam em prática métodos, exercícios ou atividades que

procuram facilitar a aprendizagem; a função ideológica, uma vez que é

reconhecido como instrumento privilegiado para a construção da identidade

nacional e função documental, que supõe que o livro didático desenvolve a

autonomia da criança bem como contribui para a formação dos professores.

A fim de buscar respostas aos questionamentos propostos, realizamos

uma descrição da trajetória histórica da Teoria dos Conjuntos, enfatizando o

seu desenvolvimento no final do século XIX.

Ressaltamos a vida e a obra de alguns matemáticos que antecederam a

época da criação da Teoria dos Conjuntos. Dentre eles, destacamos Leonhard

Euler (1707 – 1783), que contribuiu em diversos campos da Matemática.

Page 109: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

108

Referimo-nos a Euler justamente pelo fato desse matemático ser o responsável

por desenvolver diagramas que, hoje, na Educação Básica, são conhecidos por

diagramas de Venn, para representar operações entre conjuntos e afins.

No panorama histórico sobre a Teoria dos Conjuntos discorremos sobre

George Boole (1815 – 1864), cuja obra teve importância significativa para o

desenvolvimento da Álgebra, em especial, ao tratar conjuntos por meio das

operações que eram utilizadas apenas em contextos numéricos. Esse

matemático mostrou que as operações matemáticas não precisavam,

necessariamente, ficarem restritas aos números e desde então, foi

estabelecida uma nova álgebra, conhecida como a Álgebra de Boole.

Pudemos verificar também que, Georg Cantor (1845 – 1918), foi um dos

responsáveis para o desenvolvimento de uma Matemática mais consistente por

meio de provas e não apenas pela intuição. Cantor desenvolveu um trabalho

inédito para a sua época, no século XIX, a Teoria dos Conjuntos. Georg Cantor

exerceu papel fundamental para o desenvolvimento da Teoria dos Conjuntos

que, em meados do século XX, veio a fazer parte dos currículos escolares do

mundo todo, mais necessariamente, na década de 1960.

Também nos dedicamos a verificar a inserção da Teoria dos Conjuntos

nos livros didáticos antes, durante e após o Movimento da Matemática

Moderna (MMM), uma vez que essa teoria se consolidou no Ensino Secundário

no decorrer desse Movimento, ou seja, entre 1950 e 1970.

Considerando, como constatado por diversos autores (BÚRIGO, 1988;

VITTI,1988; SOARES, 2001), que o MMM tinha como ideário unificar a

Matemática, utilizando como linguagem a Teoria dos Conjuntos e que os

alunos da Educação Básica poderiam assimilar melhor a disciplina

“Matemática”, por meio da Teoria dos Conjuntos, intentamos verificar como a

Teoria dos Conjuntos foi inserida nos livros didáticos por meio de análise de

alguns livros das décadas de 1960, 1970 e da atual.

Para tanto, analisamos os seguintes livros: “Matemática: Curso Ginasial”

de autoria de Osvaldo Sangiorgi, 1º série, 6º edição de 1954; “Matemática:

Curso Moderno”, Osvaldo Sangiorgi, volume 1 para os ginásios, 10º edição de

1968; “Matemática para o Curso Fundamental”, de Reginaldo N. de Souza

Page 110: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

109

Lima e Maria do Carmo Vila, 5º série, de 1972 e “Matemática”, de Luiz Roberto

Dante, 6º ano, de 2012.

Quanto às dimensões das capas dos livros analisados, ressaltamos que

no livro de Sangiorgi (1954), as dimensões são menores do que as dimensões

do livro de Sangiorgi (1968) e, este último, possui dimensões menores do que a

do livro de Lima e Vila (1978). Já as dimensões do livro de Dante (2012), se

aproximam das dimensões do livro de Lima e Vila (1972). Não podemos afirmar

se as capas seguem algum padrão da época, mas, ao que tudo indica, as

dimensões dessas capas sofreram alterações de acordo com a época em que

estavam sendo trabalhadas e, ainda hoje, alguns livros didáticos seguem

características parecidas com os livros didáticos produzidos durante o

Movimento da Matemática Moderna.

Verificamos então, que o conteúdo interno dos livros foi sofrendo

modificações, de tal modo que, ilustrações e histórias começaram a fazer parte

do conteúdo a ser desenvolvido durante o processo de aprendizagem do aluno.

Nossas análises revelam que o livro “Matemática: Curso Ginasial 1º

série”, de Sangiorgi (1954), o qual antecede o Movimento da Matemática

Moderna, encontra-se totalmente de acordo com a Portaria de 1951. Nesse

sentido, o autor não apresentou tópicos da Teoria dos Conjuntos ou adotou a

linguagem dessa Teoria em sua obra.

Observamos que, tanto o livro de Sangiorgi (1968) como o livro de Lima

e Vila (1972), seguiram o currículo escolar que contemplava a Teoria dos

Conjuntos. Quanto ao livro de Sangiorgi (1968), “Matemática: Curso Moderno”

destinado aos alunos que cursavam a antiga 5º série do Ginásio, podemos

notar que se mostra totalmente envolvido com as recomendações do MMM. O

autor adotou a linguagem da Teoria dos Conjuntos para trabalhar os conteúdos

matemáticos, com exceção ao capítulo referente aos sistemas de medidas.

Apresentou diversas ilustrações, fazendo uso principalmente dos diagramas de

Venn.

Além disso, o autor expôs, em pequenas notas de rodapé, sobre

momentos históricos da Matemática, como por exemplo, cita que a Teoria dos

Conjuntos foi criada pelo matemático Georg Cantor. Desse modo, entendemos

Page 111: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

110

que houve, por parte do autor, uma preocupação em apresentar os conteúdos

matemáticos para os alunos, não apenas por meio de exercícios envolvendo

cálculos, mas também com curiosidades, fazendo uso do recurso histórico.

No que tange ao livro de Lima e Vila (1972), intitulado “Matemática para

o Curso Fundamental” pode-se notar que, do mesmo modo que Sangiorgi

(1968), encontra-se totalmente impregnado das ideias modernistas. Os autores

procuraram desenvolver os conteúdos por meio de diálogos em quadrinhos

com os alunos, ou seja, uma abordagem diferente dos livros didáticos

publicados naquela época. A obra dedica-se a encantar o estudante por meio

de histórias em quadrinhos, cujos personagens fazem parte do ambiente

escolar. Por meio de uma máquina, a Minimac e utilizando a linguagem da

Teoria dos Conjuntos é que são abordados os conteúdos matemáticos. Em

geral, esse livro didático apresenta ilustrações voltadas principalmente para a

Teoria dos Conjuntos.

O livro didático de autoria de Lima e Vila (1972) é recheado com figuras

ilustrativas para proporcionar um melhor entendimento aos leitores dos

conteúdos. Essa constatação vai de encontro com o que diz Choppin (2004),

ao afirmar que as ilustrações passaram a fazer parte do conteúdo do livro

didático, em meados da década de 1980. Talvez essa afirmação tenha sido

feita levando-se em conta os livros didáticos franceses, embora não tenhamos

notado por parte autor qualquer esclarecimento nesse sentido.

Voltando à nossa questão de pesquisa, entendemos que os livros

didáticos de Matemática brasileiros incorporaram a Teoria dos Conjuntos como

foco principal de aprendizado para os alunos durante o MMM. Ressaltamos

que nossa afirmação é feita com base nos livros analisados destinados ao 6º

ano do Ensino Fundamental.

Concluímos, então, que a Teoria dos Conjuntos foi amplamente utilizada

nos livros didáticos de Matemática, durante as décadas de 1960 e 1970, época

em que o Movimento da Matemática Moderna estava no auge.

Cabe ressaltar, entretanto, que durante o período modernizador da

Matemática, dos livros analisados, aquele que mais abrangeu a Teoria dos

Page 112: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

111

Conjuntos, não foi o de Sangiorgi (1968) e, sim, o de Lima e Vila (1972), no que

tange à 5ª série (atual 6ºano) do Ensino Fundamental.

Verificamos ainda, que tanto nos livros de Sangiorgi (1968) e no de Lima

e Vila (1972) os autores interagiram com o estudante por meio da linguagem da

Teoria dos Conjuntos em situações do cotidiano. Entretanto, não encontramos

evidências do uso da história da Teoria dos Conjuntos no desenvolvimento dos

conteúdos para serem trabalhados em sala de aula, com exceção em algumas

notas de rodapé expressas no livro de Sangiorgi (1968).

Conforme verificamos, o MMM sofreu duras críticas, como por exemplo,

aquelas proferidas pelo professor Morris Kline (1976) e no final da década de

1970 começou o declínio desse Movimento. Essa situação refletiu na Educação

Básica. Com o declínio do MMM, tópicos da Teoria dos Conjuntos passaram a

ser introduzidos em livros didáticos de Matemática do Ensino Médio, de modo

que, embora fazendo uso da linguagem da Teoria dos Conjuntos não

encontramos evidências explícitas de tópicos dessa nos livros didáticos

analisados, referentes ao atual 6º ano do Ensino Fundamental.

O fato da Teoria dos Conjuntos ter ganhado espaço na educação

escolar, durante o MMM, período em que se pretendia modernizar o ensino da

Matemática nas escolas de todo o mundo, pode ter contribuído para que hoje

em dia esse assunto não esteja incluído no currículo recomendado para o 6º

ano do Ensino Fundamental.

O livro intitulado “Matemática” de autoria de Dante (2012) encontra-se

inscrito no PNLD 2014, o qual especifica algumas competências de conteúdos

matemáticos destinados aos alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

Esse livro didático segue as cinco recomendações organizadas pelo PNLD

2014: números e operações, álgebra, geometria, grandezas e medidas e

estatística e probabilidade.

No referido livro de autoria de Dante (2012), as ilustrações,

recomendações e modo de apresentação dos conteúdos não nos remetem aos

tempos do MMM. A obra não apresenta um capítulo específico que trate da

Teoria dos Conjuntos, sendo escassos e breves os tópicos que tratam de

Page 113: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

112

conteúdos específicos dessa Teoria. Entretanto, enfatizam uma Matemática em

conformidade com a aplicabilidade do cotidiano.

Como o próprio autor informa, nos momentos dedicados aos estudos, o

aluno iria encontrar no manual didático trechos relacionados à evolução da

História da Matemática. Assim, no capítulo sobre os Números Naturais, Dante

(2012) comenta sobre os povos primitivos e os sistemas de numeração egípcio,

romano e indo-arábico e sobre o papiro de Rhind. Entretanto, não observamos

referências sobre a história da Teoria dos Conjuntos.

A análise elaborada no Caderno do Professor de Matemática e no

Currículo do Estado de São Paulo permite verificar que os conteúdos

enfatizados por essa proposta, estão próximos dos conteúdos que atualmente

são propostos para o professor no livro “Matemática” de autoria de Dante

(2012).

Em relação ao Currículo de Matemática, percebemos que os três blocos

temáticos (Números, Geometria, Relações) citados pela SEE (2010), os

“Números” são o que mais se aproximam das análises feitas à Teoria dos

Conjuntos, por envolver noções de contagem e representação simbólica,

considerando os conteúdos matemáticos trabalhados nos livros didáticos do 6º

ano do Ensino Fundamental escolhidos para análise neste estudo. Do mesmo

modo como no livro de Dante (2012) não encontramos comentários sobre a

história da Teoria dos Conjuntos no Caderno do Professor de Matemática e no

Currículo do Estado de São Paulo.

Os resultados obtidos neste estudo necessitam de aprofundamento, uma

vez que esta pesquisa privilegiou o 6º ano do Ensino Fundamental. Desse

modo, consideramos ser interessante dar continuidade ao trabalho, analisando

outros livros didáticos, em outros anos escolares, para que se possa obter uma

visão mais ampla sobre como ocorreu a inserção da Teoria dos Conjuntos na

Educação básica.

Page 114: A INSERÇÃO DA TEORIA DOS CONJUNTOS EM LIVROS

113

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