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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SEED UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ UNIOESTE CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON PARANÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE SONIA AUGUSTA DE MORAES A INTERNET E O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA Marechal Cândido Rondon 2011

A internet e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana

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A internet e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

SONIA AUGUSTA DE MORAES

A INTERNET E O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E

AFRICANA

Marechal Cândido Rondon

2011

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

SONIA AUGUSTA DE MORAES

A INTERNET E O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E

AFRICANA

Projeto apresentado à Secretaria de Estado da Educação SEED como requisito parcial de participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE na área de História.Orientador: Profº. Dr. Marcio Antônio Both da Silva.

Marechal Cândido Rondon

2011

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SUMÁRIO

A) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ................................................................................ 3

B) TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE .......................................................... 3

C) TÍTULO ................................................................................................................... 3

D) JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO .............................................................. 4

E) PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO ...................................................................... 7

F) OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS .................................................................. 14

G) FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................... 15

H) METODOLOGIA/ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ....................................................... 20

I) CRONOGRAMA .................................................................................................... 22

J)REFERÊNCIAS.......................................................................................................23

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PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

A) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: Sonia Augusta de Moraes

Área PDE: História e Cultura afro-brasileira e africana

NRE: Toledo

Professor Orientador IES: Marcio Antônio Both da Silva

IES vinculada: Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus de

Marechal Cândido Rondon Pr.

Escola de Implementação : Colégio Estadual Paulo Freire - Ensino fundamental e

Médio

Público objeto da intervenção: Jovens e Adultos do ensino Médio.

B) TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE

Uma das grandes tarefas da educação atualmente é contribuir com a

discussão sobre a igualdade racial, reconhecimento e valorização da história, cultura

e identidade dos descendentes afro-brasileiros e africanos. Tendo como marco legal

a Lei 10.639/2003 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e

Africana.

Este projeto de pesquisa pretende investigar como as tecnologias de

informação e comunicação (Internet) podem contribuir com o processo de ensino e

aprendizagem da história e da cultura afro-brasileira e africana na educação de

Jovens e Adultos. A intenção é estudar, discutir, trocar experiências com os alunos

Jovens e Adultos em relação a diversidade étnico-racial brasileira.

C) TÍTULO

A Internet e o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana

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D) JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO

Os dispositivos legais, reivindicações e propostas do Movimento Negro que

refere-se a história e cultura afro-brasileira e africana, fazem parte de um processo

histórico construído ao longo do século XX.

A lei 10.639/03 determina a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura

Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares. A lei também estabelece que os conteúdos referentes a história e

cultura afro-brasileira sejam trabalhados no contexto do currículo escolar,

especialmente no âmbito das disciplinas de Educação Artística, Literatura e História

Brasileiras.

O interesse pelo ensino da história e cultura afro-brasileira e africana mediado

pelas tecnologias (Internet) faz parte de um processo histórico construído ao longo

da minha carreira profissional enquanto educadora da rede pública estadual de

ensino. Buscando melhorar a prática pedagógica, passei a estudar questões ligadas

ao uso do computador e a internet no processo educacional e posteriormente sobre

a lei 10639/03.

No ano de 2004 ingressei no curso de Mestrado em Educação pela

Universidade Estadual de Maringá, tendo como linha de pesquisa o uso da internet

na prática docente1. Atualmente trabalho com ambientes virtuais que auxiliam no

processo de ensino e aprendizagem nas disciplinas curriculares.

O interesse por esta temática teve como marco fundamental a formação das

equipes multidisciplinares2 no Colégio Estadual Paulo Freire – Ensino Fundamental

e Médio no ano de 2006 onde atuava como professora na modalidade de ensino da

Educação de Jovens e Adultos.

A determinação da formação das equipes multidisciplinares nas escolas teve

como respaldo legal no estado do Paraná a deliberação nº 04/06 aprovada em

02/08/06 e a instrução 017/06 que institui normas complementares às Diretrizes

1 MORAES, Sonia Augusta. O uso da internet na prática docente: reflexões e uma pesquisadora em ação. Maringá, 2006. 107f .Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Maringá.

2 Equipes Multidisciplinares são instâncias de organização do trabalho escolar, preferencialmente coordenadas pela equipe pedagógica, e instituídas por Instrução da Superintendência da Educação e Secretaria do Estado da Educação, de acordo com o disposto no art. 8º da Deliberação nº 04/06 – CEE/PR, com a finalidade de orientar e auxiliar o desenvolvimento das ações relativas à Educação das Relações Étnico-Raciais e ao Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena nas escolas ao longo do período letivo. (resolução n°. 3399 / 2010 – GS/SEED).

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Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o

ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. A seguir destaco o artigo 8º

da deliberação 04/06 que orienta para a formação de equipes multidisciplinares no

estabelecimento escolar:

Cada unidade escolar/instituição deverá compor equipe Interdisciplinar que estará encarregada da supervisão e desenvolvimento de ações que dêem conta da aplicação efetiva das diretrizes estabelecidas por esta Deliberação ao longo do período letivo e não apenas em datas festivas, pontuais, deslocadas do quotidiano da escola. (PARANÁ, 2006, p.3).

Apesar da resolução e da instrução estabelecer a formação das equipes

multidisciplinares, não houve entendimento satisfatório por parte dos professores e

equipe pedagógica, em relação a finalidade e ao seu funcionamento na escola. Não

havia até então uma regimentação legal para a formação, funcionamento e

atribuições das equipes multidisciplinares nas escolas públicas do estado do Paraná.

As discussões em reuniões pedagógicas sobre a história e cultura afro-brasileira e

africana, não eram suficientes para envolver todos os profissionais da educação. A

resolução 04/06 apresenta no art. 3º a seguinte orientação:

As mantenedoras tomarão providências efetivas e sistemáticas no sentido de qualificar os educadores no que diz respeito à temática da presente Deliberação, promovendo cursos, seminários, oficinas, durante o período letivo, garantindo-se a participação dos educadores sem nenhum prejuízo funcional ou salarial. (PARANÁ, 2006, p. 2).

Apesar da deliberação 04/06 determinar a qualificação dos educadores, a

formação continuada do professor em serviço é restrita, em função da, entre outras

coisas, pouca oferta de vagas para cursos sobre a história e cultura afro-brasileira e

africana. O trabalho realizado nas escolas é um trabalho individualizado, ou seja

apenas alguns professores desenvolvem projetos ou conteúdos sobre a história e

cultura afro-brasileira e africana nas disciplinas curriculares. Em alguns casos os

professores abordam superficialmente esta temática, afirmando não ter a formação

necessária, bem como dificuldades de acesso a cursos de aperfeiçoamentos, em

função dessa realidade, possuem limitações para trabalhar em sua disciplina

conteúdos relacionados a história e cultura afro-brasileira e Africana.

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Um fator importante em relação a formação das equipes multidisciplinares,

ocorreu no ano de 2009. Neste ano alguns professores da rede pública de ensino e

representantes dos núcleos regionais de educação do estado do Paraná foram

convidados pela Secretaria Estadual da Educação (NEREA) para a elaboração da

regimentação das equipes multidisciplinares no Estado do Paraná. Em função do

trabalho que desenvolvia com Jovens e Adultos em sala de aula, fui convidada a

participar desta equipe de trabalho.

As reuniões abordaram principalmente os problemas e dificuldades em

relação aplicabilidade da lei 10639/03 e ao funcionamento das equipes

multidisciplinares nas escolas, pois como já citamos anteriormente as equipes já

existiam, mas não funcionavam plenamente. O envolvimento da escola em relação

a história e cultura afro-brasileira e africana ainda eram insatisfatórias.

No mês de novembro de 2010 o Núcleo de Educação das Relações

Etnicorraciais e Afro-Descendência (NEREA) fez um chamamento para uma nova

formação das equipes multidisciplinares nas escolas públicas do Estado do Paraná.

Mas agora o diferencial é que existe respaldo legal (resolução n°. 3399/2010 –

GS/SEED, orientação nº 002/2010 – DEDI/SEED e instrução n° 010/2010 –

SUED/SEED) definindo os critérios de composição, organização e funcionamento

das equipes multidisciplinares de Educação das Relações Étnico-Raciais nos

núcleos regionais de ensino e nos estabelecimentos de ensino da rede estadual de

educação. A resolução n°. 3399/2010 – GS/SEED define a importância da formação

das equipes multidisciplinares nas escolas:

As equipes Multidisciplinares se constituem por meio da articulação das disciplinas da Base Nacional Comum, em consonância com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, com vistas a tratar da História e Cultura da África, dos Africanos, Afrodescendentes e Indígenas no Brasil, na perspectiva de contribuir para que o aluno negro e indígena mire-se positivamente, pela valorização da história de seu povo, da cultura, da contribuição para o país e para a humanidade. (PARANÁ, 2010, p.1).

Consideramos um grande avanço a regimentação das equipes

multidisciplinares no estado do Paraná. Esperamos que estas equipes realmente

possam articular juntamente com os professores, equipe pedagógica, funcionários e

comunidade, discussões em torno da lei 10639/03. Assim resta saber se a partir

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destas mudanças, as equipes multidisciplinares, vão realmente poder cumprir e

realizar o que determina a lei 10639/03.

É incontestável o avanço da lei 10639/03, e demais regimentações que

refere-se as relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-

brasileira e africana. A lei determina a inclusão de conteúdos referente a História e

Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar, mas isso não é suficiente para garantir a

sua implementação na prática, é preciso envolver a comunidade escolar em debates

e reflexões sobre a lei 10639/03 e sua aplicabilidade em sala de aula.

Na tentativa de promover discussões sobre esta temática, esse projeto de

pesquisa tem como o objeto de estudo: a internet como ferramenta de apoio ao

processo de ensino e aprendizagem de história e cultura afro brasileira e africana na

Educação de Jovens e Adultos.

Diante destas realidades apresentadas nós constatamos que faltam ações

efetivas no âmbito escolar e mais especificamente na Educação de Jovens e

Adultos, que abordem satisfatoriamente a diversidade étnico-raciais dos alunos. As

ações efetivas só vão ocorrer a partir do momento em que as escolas considerarem

os alunos e os professores como sujeitos do processo de ensino e aprendizagem da

educação para as relações étnico-raciais da história e da cultura afro-brasileira e

africana.

E) PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO

Nesta perspectiva este projeto de pesquisa tem o objetivo de investigar como

o avanço das tecnologias de comunicação e informação (Internet) podem, a partir de

políticas públicas, contribuir para a inclusão digital de jovens e adultos nas escolas

públicas. Com a finalidade de promover reflexões sobre a diversidade étnico-racial

brasileira.

A Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos é um documento que

resultou da V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (V Confintea) e

estabelece ações importantes relacionadas aos princípios de uma educação anti-

racista. Para Confintea (1997) a Educação de Jovens e Adultos enfrenta um grande

desafio, que consiste:

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Em preservar e documentar o conhecimento oral e cultural dos diferentes grupos. A educação intercultural deve promover o aprendizado e o intercâmbio de conhecimento entre e sobre diferentes culturas, em favor da paz, dos direitos humanos, das liberdades fundamentais, da democracia, da justiça, coexistência pacífica e da diversidade cultural. (CONFINTEA, 1999, p. 2 ).

As diferenças regionais e a diversidade étnico-cultural, fazem parte da

realidade brasileira. Diante desta constatação este projeto de pesquisa apresenta as

seguintes problemáticas: As produções ético-culturais dos diversos grupos

formadores da nação brasileira têm sido incorporadas aos conhecimentos

escolares? Os costumes, as tradições e suas culturas tem sido considerados como

suporte para seu aprendizado? Que metodologias são usadas na escola para

proporcionar aos alunos de diferentes etnias, diálogos presenciais, síncronos e

assíncronos sobre sua história e sua cultura? Como as tecnologias de informação e

comunicação (internet e suas ferramentas) estão contribuindo para a produção de

conhecimentos desses alunos? Estes questionamentos devem estar presentes nas

discussões de todos (as) profissionais da educação. Nesta perspectiva, ao conhecer

suas dificuldades, necessidades e realidades, alunos jovens e adultos, não serão

excluídos e muito menos agentes passivos, ou meramente ouvintes da sua história e

cultura. Para Ana Lúcia Silva Souza (2006, p. 89):

A escola deve desenvolver ações para que todos (as) negros(as) e não-negros(as), construam suas identidades individuais e coletivas, garantindo o direito de aprender e de ampliar seus conhecimentos, sem serem obrigados a negar a si próprios ou ao grupo étnico-racial a que pertencem. É na perspectiva da valorização da diversidade que se localiza o trabalho com a questão racial, tendo como referência a participação efetiva de sujeitos negros (as) e não- negros (as).

A Modalidade de ensino da Educação de Jovens e Adultos está contemplada

no Plano Nacional de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para

Educação das Relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-

Brasileira e Africana3. O principal objetivo é o de:

3 O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação para as Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2009) é resultado de seis encontros denominados Diálogos Regionais sobre a Implementação da Lei 10639/2003.

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colaborar para que todo o sistema de ensino e as instituições educacionais brasileiras cumpram as determinações legais com vistas a enfrentar todas as formas de preconceito, racismo e discriminação para garantir o direito de aprender e à equidade educacional afim de promover uma sociedade mais justa e solidária. (BRASIL, 2009, p.23).

Entre as ações principais para a Educação de Jovens e Adultos estabelecidas

o Plano Nacional inclui

implementar ações de pesquisa, desenvolvimento e aquisição de materiais didático-pedagógico que respeitem, valorizem e promovam a diversidade, a fim de subsidiar práticas pedagógicas adequadas à educação das relações étnico-raciais. Incluir na formação de educadores de Eja a temática da promoção da igualdade etnicorracial e combate ao racismo. (BRASIL, 2004, p.55).

As Políticas de Reparações, de Reconhecimento e Valorização, de Ações

Afirmativas voltadas para a educação dos negros são fundamentais para garantir a

essa população, o ingresso, permanência e sucesso na educação escolar. Não

podemos mais ignorar esta realidade no qual os alunos (as) principalmente negros

(as) e indígenas sofrem em sala de aula, em função de práticas preconceituosas e

racistas. Práticas estas que ainda infelizmente contribuem para desqualificar os afro-

descendentes e indígenas em sala de aula, na escola e na sociedade em geral.

O parecer CNE/CP n.º 03/044, indica alguns caminhos possíveis para

subsidiar a escola na implementação das políticas de Reparações, de

Reconhecimento e Valorização, de Ações Afirmativas levando em consideração as

relações étnico raciais dos alunos jovens e adultos. Para que isso ocorra é preciso:

valorizar o patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, [...] bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira [...] buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira. [...] Adotar políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos diferentes níveis de ensino. Questionar relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas. [...] Divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na

4 Esse parecer estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Aprovada em 10.03.2004.

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contemporaneidade. [...] Criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele. (BRASIL, 2004, p. 11- 12).

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 205 determina que o estado

promova e incentive as políticas de reparações. As políticas públicas de combate a

desigualdade racial e social no Brasil, tem como objetivo “reparar” as mazelas

sociais construídas historicamente por relações sociais que são atravessadas por

conflitos e desigualdades. Neste sentido, é necessário analisar estas políticas a

partir de sua inserção em um conjunto de relações mais amplas, lembrando que

historicamente a sociedade brasileira é atravessada por desigualdades sociais que

não estão isentas de participarem e definirem o modo como são pensadas e

aplicadas estas políticas. Assim, como mostra Virgínia Fontes, devemos levar em

conta que

É nas relações sociais, econômicas, políticas, culturais, organizativas, de cotidiano onde se implanta e se exerce a desigualdade como condição de existência, que se originam os meios de coerção para assegurar a desigualdade. (FONTES, 2005, p.12) .

Ou seja, não podemos naturalizar a relação entre Estado e Movimento Negro.

Pois as políticas públicas em relação à história e cultura afro-brasileira são oriundas

de uma desigualdade construída historicamente, sendo que o Estado muitas vezes

cria legislações com o intuito de silenciar e abafar as reivindicações (lutas sociais)

do Movimento Negro e comunidade em geral para legitimar o seu poder e dos

grupos de interesses que ele defende.

Apesar de todas estas legislações sobre a história e cultura afro-brasileira e

africana, entre os professores existem muitas dúvidas em relação, principalmente

sobre como proceder para que estas políticas de Reparações, de Reconhecimento e

Valorização, de Ações Afirmativas sejam realmente efetivadas em sala de aula. E

quais conteúdos trabalhar em sua disciplina (principalmente as disciplinas como

matemática, química, física, biologia e ciências). Em relação aos conteúdos do

ensino de história e cultura afro-brasileira e africana que poderão ser abordados em

sala de aula pelas disciplinas curriculares, as diretrizes curriculares nacionais para a

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educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e Cultura Afro-

Brasileira e Africana5 apresentam algumas sugestões:

trabalhar às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente

africano e os da diáspora; - à formação compulsória da diáspora, vida e existência

cultural e histórica dos africanos e seus descendentes fora da África; - à diversidade

da diáspora, hoje, nas Américas, Caribe, Europa e Ásia.

abordar celebrações como: congadas, moçambiques, ensaios, maracatus,

rodas de samba, entre outras.

incluir a história dos quilombos, a começar pelo de Palmares, e de

remanescentes de quilombos.

abordar sobre as tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivos, de

mineração e de edificações trazidas pelos escravizados, bem como a produção

científica, artística política, na atualidade.

promover um estudo da participação dos africanos e de seus descendentes

em episódios da história do Brasil, na construção econômica, social e cultural da

nação, destacando-se a atuação de negros em diferentes áreas do conhecimento,

de atuação profissional, de criação tecnológica e artística, de luta social.

Após oito anos da publicação da lei 10639/03 ainda constatamos que existem

várias dúvidas e questionamentos por parte dos profissionais da educação que

atuam na Educação de Jovem e Adultos em relação a lei 10639/03. Consideramos

ainda outro fator agravante o fato de algumas escolas orientarem os professores

para trabalharem apenas no dia 20 de novembro6 conteúdos sobre a história e

cultura afro-brasileira, sendo que anterior e posteriormente a esta data são poucas

as ações ou reflexões que abordem esta temática.

Em algumas escolas o silêncio pedagógico da história e da cultura afro-

brasileira e africana, historicamente vem se constituindo em um dos principais

motivos para a não efetivação da lei 10639/03 na escola pública e mais

especificamente em sala de aula. Esse silêncio só é quebrado quando o professor

questiona sobre a obrigatoriedade de trabalhar os conteúdos da história e cultura

5Destacamos apenas alguns conteúdos proposto pelo documento, para obter os conteúdos na íntegra consulte as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura afro-brasileira e Africana (BRASIL, 2004, p. 21-23).

6 Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. (BRASIL, 2003).

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afro-brasileira e africana. Estes questionamentos não devem ser interpretados como

uma afronta a lei, mas como um pedido de ajuda que deve servir de alerta para

todos os envolvidos no processo educacional. Apesar do apoio institucional restrito

(cursos, aperfeiçoamentos, discussões, reflexões, leituras de textos, materiais

didáticos impressos) o professor ainda desenvolve bons trabalhos em sala de aula

em relação a história e cultura afro-brasileira e africana. Para a lei 10639/03 chegar

no chão da escola o professor deve buscar subsídios teóricos- metodológicos para

abordar os conteúdos da história e da cultura afro-brasileira e africana, desprovidos

de preconceitos que reforçam uma imagem esteriotipada do Continente Africano e

seus descendentes. Não queremos com isso, afirmar que apenas o professor é

responsável pela aplicabilidade da lei, antes de atribuirmos responsáveis,

precisamos analisar situação numa visão macro-institucional.

É necessário como destacamos anteriormente, que o professor tenha uma

formação continuada sobre a história e cultura afro-brasileira e africana. E esta

formação é atribuição dos órgãos governamentais (SEED e demais instituições

envolvidas na implementação da lei 10639/03). Estas instituições também precisam

segundo a lei possibilitar o envolvimento do professor por meio de cursos e de uma

formação continuada.

Sabemos que a lei 10639/03 é resultado de um processo histórico construído,

por órgão governamentais, não governamentais, Movimento Negro, militantes

individualmente, Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, Secretaria da

Educação, comunidades quilombolas, fóruns entre tantos outros. O professor

precisa ser envolvido (envolver não significa apenas comunicar ao professor a

existência da lei) caso contrário a lei ficará apenas no papel. Envolver requer:

estudos, cursos, leituras, debates, reflexões, elaboração de materiais didáticos

impressos ou on-line. Acreditamos que esta ainda seja a grande lacuna que impede

o avanço mais rápido para obtenção de êxito em relação ao ensino da história e

cultura afro-brasileira e africana.

As diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-

raciais e para o ensino de história e Cultura Afro-Brasileira e Africana além de

sugerir alguns conteúdos para serem trabalhados nas disciplinas curriculares,

também fazem um alerta em relação de como trabalhar a História e cultura afro-

brasileira e africana. Pois alguns livros didáticos trabalhados nas disciplinas de

história, apresentam textos recortados e imagens que contribuem para uma análise

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superficial do continente africano, seus países e povos. Nesse sentido Ana Célia

Silva comenta sobre as possíveis seqüelas sofridas pela população negra, quando

sua imagem nos livros didáticos reforçam os esteriótipos.

A presença dos estereótipos nos materiais pedagógicos e especificamente nos livros didáticos, pode promover a exclusão, a cristalização do outro em funções e papéis estigmatizados pela sociedade, a auto-rejeição e a baixa auto-estima, que dificultam a organização política do grupo estigmatizado. O professor pode vir a ser um mediador inconsciente dos estereótipos se for formado com uma visão acrítica das instituições e por uma ciência tecnicista e positivista, que não contempla outras formas de ação e reflexão. (SILVA, 2008, p.24)

As imagens e textos presentes no livro didático e também em outros meios de

comunicação (Internet) que apresentam os negros apenas escravizados ou em

situação degradante, trabalhos forçados, vendidos como mercadorias nos comércios

de escravos ou sendo punidos, devem ser o ponto de partida para uma análise

crítica do processo histórico da história e cultura afro-brasileira e africana. Em

relação a essa situação presente no livro didático e outros meios de informação

(internet) Silva (2008, p. 21) comenta:

A presença do negro nos livros, freqüentemente como escravo, sem referência ao seu passado de homem livre antes da escravidão e às lutas de libertação que desenvolveu no período da escravidão e desenvolve hoje por direitos de cidadania, pode ser corrigida se o professor contar a história de Zumbi dos Palmares, dos quilombos, das revoltas e insurreições ocorridas durante a escravidão; contar algo do que foi a organização sócio-político econômica e cultural na África pré-colonial; e também sobre a luta das organizações negras, hoje, no Brasil e nas Américas.

Constatamos que a falta de material didático impresso, que aborde

conhecimentos significativos, positivos, livres de preconceitos e esteriótipos sobre a

história e cultura afro-brasileira e Africana , ainda são empecilhos para o trabalho do

professor na Educação de Jovens e Adultos.

O livro didático é apenas um referencial para o processo de ensino e

aprendizagem. Ao utilizá-lo o professor precisa analisar criticamente seus

conteúdos, principalmente aqueles que referem-se a história africana e seus afro-

descendentes. Este projeto de intervenção pedagógica propõe trabalhar os

conteúdos da história e da cultura afro-brasileira e africana mediados não apenas

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pelo livro didático, mas também pelas tecnologias de informação e comunicação

(Internet e suas ferramentas).

A Internet, assim como os livros didáticos também apresentam em seus

conteúdos, textos e imagens preconceituosas em relação a cultura afro-brasileira e

africana. A grande variedade e quantidade de materiais on-line: vídeos, softwares,

textos, charges, imagens, teses, dissertações, bibliotecas, museus, mapas

disponíveis em rede, poderão auxiliar o professor no ensino da história e da cultura

afro-brasileira e africana em sala de aula. Outro aspecto a ser considerado é que

todos esses recursos multimídias despertam o interesse do aluno pelo processo de

ensino e aprendizagem. A internet e suas ferramentas possibilitam: publicação em

rede do patrimônio cultural dos grupos que compõem a formação étnico racial do

Brasil, diálogos síncronos e assíncronos sobre temas relacionados ao racismo,

preconceito e discriminação, inclusão digital, registrar, documentar, preservar,

divulgar relatos e histórias de vida dos alunos.

O trabalho utilizado corretamente com as mídias poderá ser uma fonte

alternativa para produção e acesso aos materiais relacionados a diversidade étnico-

racial brasileira. Mas segundo Teruya (2006, p.94) “é preciso uma interpretação

crítica dos conteúdos que circulam nos diversos meios de comunicação”.

Na perspectiva de contribuir para a valorização da diversidade étnico-racial e

para que o aluno negro-descendente mire-se “positivamente”, apresentamos o

projeto de intervenção pedagógica: A internet como ferramenta pedagógica de apoio

ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na Educação de Jovens e

Adultos.

F) OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS

As diretrizes curriculares da educação básica da disciplina de História do

Estado do Paraná determinam que seja considerado a diversidade cultural e a

memória paranaenses, destacando:

o cumprimento da lei n. 10639/03, que inclui no currículo oficial a obrigatoriedade da História e Cultura Afro-Brasileira, seguida das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. (PARANÁ, 2008, p.44-45).

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Este projeto de pesquisa tem como objetivo geral promover na Educação de

Jovens e Adultos uma reflexão da diversidade étnico-raciais. E a partir destas

reflexões, utilizar as tecnologias da informação e comunicação para a construção de

conhecimentos significativos sobre a história e cultura afro-brasileira e Africana.

A opção por este estudo deu-se em função da falta de material didático sobre

esta temática na Educação de Jovens e Adultos. O material7 disponível para uso do

aluno e professor nas disciplinas curriculares , são apostilas que foram elaboradas

no ano de 2004 e distribuídas gratuitamente pelo Departamento de Educação de

Jovens e Adultos do Estado do Paraná. Estas apostilas apresentam os conteúdos

fragmentados e descontextualizados, não possibilitando ao aluno e professor uma

análise crítica dos conteúdos da história e da cultura afro-brasileira e africana. A

seguir destacamos os objetivos específicos:

incluir nos conteúdos desenvolvidos na Educação de Jovens e adultos a

temática da igualdade étnico-racial e do combate a práticas racistas, discriminatórias

e preconceituosas .

possibilitar a preservação da memória cultural de alunos da Educação de

Jovens e Adultos e a divulgação e produção textual da história destes alunos por

meio do uso das tecnologias de informação e comunicação.

elaborar um blog, utilizando a ferramenta Wiki, para publicação de texto,

vídeos, fotos, slides da história e cultura afro-brasileira e africana e da diversidade

cultural da população brasileira.

produzir música, vídeos, textos, jornais e exposições referente a diversidade

cultural da população do Brasil.

analisar e interpretar textos e imagens na internet e livro didático em relação

a história e cultura afro brasileira e africana.

G) FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O computador e os recursos da Internet são usados para vários fins, e a sua

utilização chegou também à área da educação e isto tem gerado muitas discussões.

Para alguns autores o uso do computador e de seus recursos na educação pode

7 Esse material foi elaborado pelo departamento de educação de Jovens e adultos do Estado do Paraná.

Page 17: A internet e o ensino da história e cultura  afro-brasileira e  africana

16

ampliar o mundo daqueles que a utilizam, abrindo novas possibilidades tanto para

professores como para alunos. Outros até apoiam o uso do computador na

educação, mas consideram que se deve ter cautela ao trabalhar com esse recurso e

há ainda aqueles que não veem com bons olhos a utilização do computador na sala

de aula, ou podemos dizer, no processo educativo do aluno.

Por isso é pertinente avaliar quais as competências necessárias para lidar

com as novas tecnologias? A competência do professor não refere apenas a

aspectos técnicos do manuseio dos instrumentos. Há atualmente muitos cursos que

ajudam a trabalhar com os diversos tipos de “software”. A competência se refere ao

uso pedagógico das novas tecnologias, buscar formas alternativas de se relacionar

com o conhecimento, com os outros e com o mundo, numa perspectiva colaborativa.

É preciso usar os computadores em situações em que os conteúdos

trabalhados nas disciplinas curriculares façam sentido ao aluno, nas quais as

produções escolares sejam significativas. Na concepção de Freire (1998, p. 96):

a educação constitui-se em um ato coletivo, solidário, uma troca de experiências, em que cada envolvido discute suas idéias e concepções. A dialogicidade constitui-se no princípio fundamental da relação entre educador e educando. O que importa é que os professores e os alunos se assumam epistemologicamente curiosos.

A curiosidade é fator fundamental para que o professor possa buscar novas

formas de incorporar as tecnologias de informação e comunicação em sua prática

docente:

faço questão de ir me tornando um homem do meu tempo. Como indivíduo, recuso o computador porque acredito muito na minha mão. Mas como educador, acho que o computador, o vídeo, tudo isso é muito importante. (FREIRE, 2001, p. 198).

As tecnologias, por si só, não respondem aos questionamentos que fazem

parte do processo histórico, tanto da sociedade quanto da escola, geradas e

impulsionadas por seres humanos em suas manifestações, propostas,

reivindicações, lutas e conquistas ao longo da história da humanidade. Mas podem

ser uma ferramenta de apoio, aos professores e alunos na criação, construção e

publicação de conhecimentos significativos em relação a sociedade brasileira.

Os professores devem romper com as práticas da “educação bancária”, de

ser um depositador de conhecimentos. Essa forma de educação, segundo Paulo

Page 18: A internet e o ensino da história e cultura  afro-brasileira e  africana

17

Freire (1987) reflete a sociedade opressora e a “cultura do silêncio”, não dando

espaço para o diálogo e a criatividade.

Sinalizando para a potencialidade destas mudanças, já podemos verificar

alterações até na estrutura física da escola, pois o modelo presencial de ensino que

marcou toda a história da educação, hoje já abre espaço para o que alguns autores

chamam de aprendizagem virtual colaborativa (ALCÂNTARA; BEHENS, 2003).

Moran (2003. p.3), recomenda que a escola precisa mostrar sua “cara”, para

que a sociedade conheça os projetos que são desenvolvidos. Além da escola,

mostrar o que está fazendo, o professor pode usar este recurso para proporcionar

aos seus alunos um espaço virtual de troca e construção de conhecimentos.

Contudo, devemos alertar os alunos quanto alguns problemas relacionados ao uso

da internet na educação. Pois na Internet também encontramos textos, frases,

charges e vídeos que propagam práticas racistas preconceituosas e discriminatórias

em relação a história e cultura afro-brasileira e africana. Mas também a Internet

pode ser uma ferramenta onde as experiências vivenciadas pelo professor e pelo

aluno em relação a sua história e cultura sejam divulgadas nos espaços virtuais.

Lévy (1999, p.16), trabalha com a noção de virtual e afirma que:

O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e ao constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização. [...] O virtual constitui a entidade [...] A atualização é criação, invenção de uma forma a partir de uma configuração dinâmica de forças e de finalidades.

Essa escola virtual já é realidade, embora para um número ainda pequeno de

alunos, que por meio de comunidades virtuais, passam a estabelecer novas formas

de aprendizagem, intercambiando conhecimentos e informações. Mas cabe aqui

destacar a importância do papel do professor na formação intelectual do aluno. Pois

o professor por meio dos conhecimentos científicos poderá conduzir diálogos críticos

sobre saberes referentes as tecnologias e sua função na sociedade. A citação a

seguir destaca a importância dos saberes técnicos e científicos na educação

brasileira

A educação não se reduz à técnica, mas não se faz educação sem ela. Utilizar computadores na educação, em lugar de reduzir, pode

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expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas. Dependendo de quem o usa, a favor de que e de quem e para quê. O homem concreto deve se instrumentar com o recurso da ciência e da tecnologia para melhor lutar pela causa de sua humanização e de sua libertação (FREIRE, 2001, p.98).

Quando ouvimos o discurso sobre as tecnologias aplicadas a escola virtual,

dá a impressão de que a maioria das escolas, dos alunos da educação de Jovens e

Adultos já tem ou terão, em pouco tempo, acesso aos recursos tecnológicos,

principalmente ao computador conectado a internet. No entanto é importante

registrar nesse momento a “exclusão digital” entre brancos e negros. De acordo com

levantamento do PNAD realizado em 2001 da porcentagem da população de

brancos e negros com acesso a algumas tecnologias digitais, a população negra

apresenta uma considerável desigualdade em relação ao acesso aos computadores.

Abaixo, apresentamos a porcentagem da população com acesso a algumas

tecnologias digitais, por raça:

Page 20: A internet e o ensino da história e cultura  afro-brasileira e  africana

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Percebemos que o percentual de negros (as) que não tem acesso é

consideravelmente maior. Em relação a estes dados Roberto Borges Martins8 faz a

seguinte observação:

os diferenciais observados são preocupantes, pois, se não forem rapidamente revertidos, certamente se constituirão em mais um poderoso mecanismo de geração de outras desigualdades e de ampliação das exclusões já existentes. (MARTINS, 2004, p. 29)

As organizações não governamentais e comunidades estão desenvolvendo

projetos para incluir a população de alunos excluídos da era digital. Mas estes

projetos são insuficientes para atender essa demanda. Por isso consideramos

8 Roberto Borges Martins é economista e historiador, PhD in Economics (Vanderbilt University). Membro, representando a América Latina e o Caribe, do Grupo de Trabalho de Cinco Especialistas sobre Afrodescendentes, do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU.

Ilustração 1. Porcentagem da população com acesso a algumas tecnologias digitais, por raça, 2001

Fonte: IPA com base na PNAD-IBGE (apud MARTINS, 2004, p. 29)

Page 21: A internet e o ensino da história e cultura  afro-brasileira e  africana

20

fundamental que a escola desenvolva metodologias de estudos utilizando a internet

como ferramenta de apoio ao processo de ensino e aprendizagem nas modalidades

de ensino.

H) METODOLOGIA/ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

O fato de alunos estarem distantes geograficamente, suas culturas tradições

e costumes são conhecidos apenas em suas localidades. Com a publicação de sua

cultura e história em rede será possível divulgar, conhecer, publicar e escrever

colaborativamente o cotidiano e a história das comunidades dos alunos da educação

de Jovens e Adultos.

Este projeto de pesquisa propõe investigar questões relacionadas a história e

cultura afro-brasileira e africana e envolver alunos da educação de Jovens e Adultos

do ensino médio nesta discussão. Estes alunos estão matriculados no Colégio

Estadual Paulo Freire de Marechal Cândido Rondon, Paraná.

Para possibilitar reflexões e ações referente a esta temática utilizaremos a

Internet e suas ferramentas bem como alguns materiais didáticos disponíveis na

escola como material de apoio ao processo de ensino e de aprendizagem, das

relações étnico-raciais e da história e da cultura afro-brasileira e africana. A seguir

apresentamos as estratégias de ação para a realização do projeto de pesquisa:

estudar textos relacionados as diretrizes curriculares Nacionais para a

educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-

brasileira e africana, a lei 10639/03, cadernos temáticos e demais materiais que

abordem esta temática.

analisar os livros didáticos que abordam a história e cultura afro-brasileira

e africana.

produção de material on-line relacionado a história e cultura afro-brasileira e

africana e demais grupos étnicos raciais formadores da nação brasileira.

Criação de uma home-page com atividades a serem desenvolvidas pelos

alunos da Educação de Jovens e Adultos

Este projeto de intervenção pretende principalmente ouvir os Jovens e adultos

sobre suas falas, história, suas expectativas, a problematizar questões relacionadas

Page 22: A internet e o ensino da história e cultura  afro-brasileira e  africana

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a diversidade étnico-racial presentes na Educação de Jovens e Adultos. Neste

sentido, é fundamental que a escola elabore um plano de ação que contemple

discussões para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino da história e

cultura afro-brasileira, levando em consideração as realidades vividas pelos alunos.

As ações efetivas só vão ocorrer a partir do momento em que a escola pública

e a sociedade como um todo reconhecerem os alunos e professores como sujeitos

do processo de ensino e aprendizagem. E enquanto sujeitos do sistema educacional

e cidadãos brasileiros, estes alunos e professores possuem o direito de acesso e

produção de conhecimento sobre sua história e cultura em rede.

I) CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Atividades e datas

1º Semestre 2010

2º Semestre 2010

1º Semestre 2011

2º Semestre 2011

Elaboração do pré- projeto

x x x

Pesquisas relacionadas ao pré-projeto

x x x

Elaboração do Projeto de intervenção na escola

x x x

Conclusão e entrega do projeto de intervenção na escola

x

Produção Didático pedagógica

x x

Implementação do projeto de intervenção pedagógica na escola

x

Produção de Artigo científico

x x

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J) REFÊRENCIAS

ALCÂNTARA, P.; BEHENS, M. Metodologia de projetos em aprendizagem colaborativa com tecnologias interativas. Teoria e Prática da Educação, v. 6, n. 14, p. 469-481, 2003. BRASIL. Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de

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