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A Questão da Água no Século XXI 1 Debates sobre a CDS (Comissão de Desenvolvimento Sustentável) Publicado em 18/05/2004 - 02:00 Relações Internacionais Contemporâneas - ´Visão Panorâmica` "A Globalização consiste num mundo caracterizado por redes de interdependência estabelecidas em distâncias multicontinentais, em número cada vez maior e com efeitos cada vez maiores. Entenda-se por redes de interdependência um conjunto de fluxos (econômicos, militares, sociais-culturais e ambientais) entre múltiplos agentes do sistema internacional - Estados nacionais e agentes não-soberanos, tais como as Organizações Não-Governamentais (ONGs), corporações multinacionais etc. Interdependência entre agentes existe quando as ações de um agente influenciam o resultado das ações de outros agentes" (Robert Keohane & Joseph Nye Jr.) O surgimento dos Estados Nacionais (coincidente com o início da Era Moderna) é tido por diversos estudiosos como pré- condição para o estudo das Relações Internacionais. A chamada Paz de Westfália (1648), que consagrou o conceito de soberania e deu origem a um sistema de equilíbrio entre os estados europeus, é considerada marco zero da idéia de sistema internacional - um sistema de estados soberanos contendo "regras limitadas de coexistência entre os vários estados" (Hurrell, 2000), que se traduziam em "...entendimentos e instituições minimalistas, planejados para restringir o conflito inevitável a ser esperado num sistema político pluralista e fragmentado" (Hurrell, 2000). Diversos acontecimentos no plano internacional - como a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais - reforçaram essa concepção de sistema internacional "...no qual Estados nacionais soberanos, agentes exclusivos, buscavam resolver seu ´Dilema de Segurança` através da maximização do poder" (Rosenau, 1990: p.245). As duas grandes guerras colaboraram para o predomínio dessa forma de conceber as Relações Internacionais. Os estudiosos das Relações Internacionais consideram que o período pós-Segunda Guerra Mundial (especialmente as décadas de 60 e 70) representou um ponto de inflexão na disciplina. Mudanças profundas na realidade internacional se repercutiram 1 Fonte: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=4053

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A questão da água no Século XXI

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A Questão da Água no Século XXI1

Debates sobre a CDS (Comissão de Desenvolvimento Sustentável) Publicado em 18/05/2004 - 02:00

Relações Internacionais Contemporâneas - ´Visão Panorâmica`

"A Globalização consiste num mundo caracterizado por redes de interdependência estabelecidas em distâncias multicontinentais, em número cada vez maior e com efeitos cada vez maiores. Entenda-se por redes de interdependência um conjunto de fluxos (econômicos, militares, sociais-culturais e ambientais) entre múltiplos agentes do sistema internacional - Estados nacionais e agentes não-soberanos, tais como as Organizações Não-Governamentais (ONGs), corporações multinacionais etc. Interdependência entre agentes existe quando as ações de um agente influenciam o resultado das ações de outros agentes" (Robert Keohane & Joseph Nye Jr.)

O surgimento dos Estados Nacionais (coincidente com o início da Era Moderna) é tido por diversos estudiosos como pré-condição para o estudo das Relações Internacionais. A chamada Paz de Westfália (1648), que consagrou o conceito de soberania e deu origem a um sistema de equilíbrio entre os estados europeus, é considerada marco zero da idéia de sistema internacional - um sistema de estados soberanos contendo "regras limitadas de coexistência entre os vários estados" (Hurrell, 2000), que se traduziam em "...entendimentos e instituições minimalistas, planejados para restringir o conflito inevitável a ser esperado num sistema político pluralista e fragmentado" (Hurrell, 2000). Diversos acontecimentos no plano internacional - como a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais - reforçaram essa concepção de sistema internacional "...no qual Estados nacionais soberanos, agentes exclusivos, buscavam resolver seu ´Dilema de Segurança` através da maximização do poder" (Rosenau, 1990: p.245). As duas grandes guerras colaboraram para o predomínio dessa forma de conceber as Relações Internacionais.

Os estudiosos das Relações Internacionais consideram que o período pós-Segunda Guerra Mundial (especialmente as décadas de 60 e 70) representou um ponto de inflexão na disciplina. Mudanças profundas na realidade internacional se repercutiram na produção do conhecimento, gerando novos paradigmas e escolas de pensamento1. Para tal contribuíram tanto o crescimento da importância de "novos agentes", não-estatais, quanto à emergência de "questões globais" (dentre elas as questões ambientais) que demandam soluções superiores à capacidade de resposta individual dos Estados nacionais soberanos e são, portanto, potenciais propulsoras da cooperação internacional, contrapondo-se à visão de que os Estados não teriam incentivos "sistêmicos" para cooperar, vivendo em permanente situação de conflito, e confrontando uma visão "minimalista" dos relacionamentos internacionais. Nas palavras de Andrew Hurrell (2000):

"O objetivo de uma ordem mínima tornou-se cada vez mais inadequado, dado o alcance e a gravidade dos problemas e desafios apresentados à sociedade 1 Fonte: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=4053

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internacional. Particularmente, a ampliação da interdependência e o grau no qual sociedades individuais dependem umas das outras para obter segurança, prosperidade e capacidade para gerir seu Meio Ambiente denotam que a legitimidade dos Estados depende atualmente da sua capacidade de satisfazer a um vasto e incrementado leque de necessidades, demandas e exigências".

Exigências aos Estados para que demandem maior atenção "...a questões de direitos humanos individuais e coletivos, como também à promoção de padrões mínimos de bem-estar e prosperidade humanos mundo afora" (Hurrell, 2000) ocorrem nesse contexto, inclusive advindas de seus próprios cidadãos. As organizações internacionais (como a Organização das Nações Unidas - ONU) crescentemente tornaram-se cada vez mais relevantes. Os Estados nacionais continuaram, contudo, a ser os repositórios primordiais de autoridade no sistema internacional (Young, 1997: pág. 2) e as perspectivas de estabelecimento de um "governo mundial" continuaram remotas. Novas formas de equacionar as questões da ordem, da cooperação, da eficácia de agência e da democratização no sistema internacional tornaram-se necessidade imperiosa. Esse é o nosso mundo - marcado pela dita "GLOBALIZAÇÃO". É nesse contexto que soluções eficientes deverão ser criadas.

1Elementos desse contexto de "mudança turbulenta" (Rosenau, 1990: p.295) são: o "desaquecimento" da Guerra Fria pós-1970, a derrota das superpotências no Vietnã e Afeganistão, o fim da paridade ouro-dólar, levando à erosão do sistema financeiro de Bretton Woods, a substituição do Fordismo por um modelo de produção flexível, a emergência da Ásia liderada pelo Japão, a unificação européia, o crescimento econômico cada vez mais desvinculado da atividade bélica, a emergência do "Terceiro Setor", o incremento do fluxo transnacional de capital especulativo etc.

CDS: História do Comitê

"Desenvolvimento sustentável é atender a todas as necessidades do presente sem solapar a cobertura das necessidades no futuro"; Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia.

As atividades ambientais promovidas pela ONU durante seus primeiros 20 anos de existência eram poucas em número, limitadas em escopo e estavam concentradas sob a égide de poucas agências especializadas. Podiam ser classificadas em duas categorias: (1) pesquisa e intercâmbio científico e (2) regulação de uns poucos poluentes em certos ambientes. Na virada para os anos 70, impulsionada pelas mudanças então em curso no plano internacional, a ONU busca desenvolver respostas mais coordenadas, abrangentes e eficazes para as questões ambientais. Instrumentos legais relacionados às questões ambientais se multiplicaram dentro e entre os estados, muitos deles negociados sob os auspícios da ONU. Esta, por sua vez, criou algumas novas estruturas e programas destinados às questões de meio ambiente, mas sua principal estratégia foi integrar as preocupações ambientais às

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estruturas e programas já existentes, o que descentralizava, de grande maneira, o modo de se tratar os problemas.

O primeiro marco no trato da ONU das questões ambientais foi a I Conferência Mundial sobre a Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, Suécia, em 1972. Apesar de suas modestas conquistas, esse evento pioneiro foi deveras relevante, tendo aberto discussões frutíferas a respeito de temas outrora relegados a um segundo plano, não obstante o caráter controverso dos mesmos. Os trabalhos da conferência foram mais difíceis do que se pensava, dado que esta foi realizada num contexto de pouca efetividade dos órgãos da ONU graças às tensões e limites próprios da Guerra Fria entre Estados Unidos e a então União Soviética. Quando o direito de participar da República Democrática Alemã não foi reconhecido, os Estados do Pacto de Varsóvia (socialistas) boicotaram a conferência em uma demonstração de solidariedade. Com a ausência desses estados, as maiores diferenças se deram entre os estados industrializados do Norte e os estados em desenvolvimento do Sul. Tais diferenças dominaram as abordagens atinentes às questões ambientais pelas duas décadas seguintes.

Em Estocolmo, muitos estados em desenvolvimento deixaram claro que não era de seu interesse adotar os mesmos níveis de proteção ambiental de alguns estados do Norte. Eles reclamavam responsabilidades e soluções diferenciadas, alegando que as causas dos problemas ambientais diferiam de acordo com os níveis de desenvolvimento. Assim, a Declaração de Estocolmo incluiu um número de princípios destinados às necessidades especiais dos estados do Terceiro Mundo, demandando "a transferência de quantidades substanciais de assistência financeira e tecnológica (...) para os estados em desenvolvimento", para superar as "deficiências ambientais geradas pelas condições de subdesenvolvimento" (Princípio 9) e "preservar e melhorar o meio ambiente" e cobrir os custos de "incorporação de salvaguardas ambientais" (Princípio 12).

A Declaração de Estocolmo sustentava que, em caso de dúvida, desenvolvimento econômico tinha prioridade sobre proteção ambiental. Tais atenuantes para os estados em desenvolvimento, juntamente com a reafirmação da soberania do Estado e do direito do Estado de "explorar seus próprios recursos" (Princípio 21), deram margem para os Estados para tratar as questões ambientais como bem quisessem. Além do mais, a Declaração de Estocolmo e o Plano de Ação não eram de caráter vinculante, isto é, não obrigavam os Estados legalmente.

Com o fim da Guerra Fria, os antigos padrões de "votação por bloco" não mais se sustentaram, e novos alinhamentos emergiram em torno de interesses econômicos e ambientais. Entretanto, ao final dos anos 80, era notório que as respostas das várias agências das Nações Unidas freqüentemente se sobrepunham e ocasionalmente se contradiziam, obstruindo uma verdadeira e eficaz proteção ambiental. Este período ficou marcado pela preparação, e pelos subseqüentes resultados, de duas conferências mundiais: a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano de 1972 (Estocolmo), e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (UNCED - United Nations Conference on Environment and Development - ou Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro).

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Na Conferência de Estocolmo os governos participantes definiram as direções da política ambiental das Nações Unidas para os próximos 20 anos e propuseram o que veio a se tornar o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP - United Nations Environment Programme), sob os auspícios da Assembléia Geral. Uma das missões do UNEP desde então é a de insistir para que os estados se comprometam com um progressivo desenvolvimento da lei ambiental, além de encorajá-los a adotar uma legislação nacional adequada. Após a Conferência de Estocolmo, a cooperação interestatal relacionada a assuntos ambientais aumentou sobremaneira. Entre 1972 e 1992, foram negociados mais 100 novos tratados multilaterais.

A Conferência do Rio foi o primeiro encontro global após o fim da Guerra Fria, e questionava se novas políticas poderiam ser forjadas em torno de um futuro comum mundial. Foi também a maior e mais universal das conferências até então promovidas pelas Nações Unidas, com 178 estados representados nas negociações e 118 chefes de Estado participando da "Cúpula da Terra".

Construída sobre as premissas de Estocolmo, a Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), ou Cúpula da Terra foi convocada com o propósito de discutir problemas urgentes referentes à proteção ambiental e ao desenvolvimento sócio-econômico. Os líderes governamentais então reunidos assinaram a Convenção sobre o Clima e a Convenção sobre a Biodiversidade; endossaram a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Declaração de Princípios sobre Florestas; e adotaram a Agenda 21, um plano de ação analítico com cerca de 500 páginas para a realização do desenvolvimento sustentável no século XXI.

Durante a Cúpula da Terra foi proposta a criação de um órgão especializado, destinado a facilitar os acordos intergovernamentais sobre mudança climática, biodiversidade, Princípios das Florestas, Declaração do Rio (Declaração de Meio Ambiente e Desenvolvimento) implementação da Agenda 21. A Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (CDS) foi então criada em Dezembro de 1992 para que fosse assegurado o efetivo prosseguimento dos trabalhos da UNCED; para monitorar e relatar a implementação dos acordos firmados durante a Cúpula da Terra em nível local, nacional, regional e internacional.

O CDS é um comitê funcional do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas UN Economic and Social Council (ECOSOC) , composto por 53 membros. Em conformidade com a resolução da Assembléia Geral que a estabeleceu, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável é responsável por:

"... controlar o progresso realizado na aplicação da Agenda 21 e integrar os objetivos correlatos ao meio ambiente e ao desenvolvimento dentro da totalidade do sistema das Nações Unidas, através do exame e análise de relatórios fornecidos por todos os órgãos, organismos, programas e instituições das Nações Unidas que lidam com os diversos aspectos do meio ambiente e do desenvolvimento, os quais eles julgam pertinentes."

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A comunidade das nações passou a dispor de um acervo conceitual moderno, no qual se inserem expressões como "responsabilidades comuns, mas diferenciadas"; "parceria global com eqüidade"; "princípio da precaução"; "recursos financeiros novos e adicionais"; "partilha dos benefícios auferidos pela exploração tecnológica". Pela primeira vez, admitiram-se, como categorias de negociação, os "padrões de produção e consumo insustentáveis" e o "direito ao desenvolvimento", este último, uma velha aspiração dos estados do Sul. Tais categorias, constantes da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, foram pela primeira vez acolhidas em instrumento multilateral acordado por consenso. Estabeleceram-se as premissas basilares para um novo regime internacional para a cooperação em desenvolvimento sustentável.

Uma revisão dos progressos e implementação dos compromissos de 5 (cinco) anos da Cúpula da Terra ("Rio +5") foi realizada em 1997 por uma sessão especial da Assembléia Geral das Nações Unidas, seguida de uma revisão dos 10 (dez) anos, em 2002, pela Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável ("Rio +10"). Foi então acordado que o balanço de todo o processo se daria em 2002, em Johanesburgo, na II Conferência Mundial de Desenvolvimento Sustentável.

A Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas, realizada em Junho de 1997 (Cúpula da Terra + 5) adotou um documento detalhado intitulado Programa para a Implementação da Agenda 21, preparado pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável. Também adotou o programa de trabalho da Comissão para o período de 1998-2002.

A 10ª sessão da CDS em 2001 atuou como o Comitê Preparatório (ComPrep) Preparatory Committee (PrepCom) para o processo de revisão dos progressos e implementação dos compromissos de 10 (dez) anos da Agenda 21 Um total de quatro PrepComs, incluindo um último em nível Ministerial, realizado em Bali, Indonésia, consolidaram as bases de uma agenda para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS) World Summit on Sustainable Development (WSSD), realizada em Johanesburgo, África do Sul, de 26 de Agosto a 04 de Setembro de 2002. Mais de 22.000 pessoas participaram da Cúpula, incluindo 100 chefes de Estado e de Governo. Cerca de 10.000 delegados, 8.000 representantes dos chamados grupos importantes (identificados na Agenda 21: empresas e indústria, crianças e juventude, agricultores, populações indígenas, autoridades locais, comunidade científica e tecnológica, organizações não-governamentais [ONG], mulheres e trabalhadores) e 4.000 representantes dos órgãos de comunicação social/mídia estiveram credenciados para a Cúpula de Johanesburgo.

Realizada pouco após os atentados terroristas de 11 de Setembro, a conferência de Johanesburgo não obstante a tensão internacional produziu admiráveis resultados, reiterando o mandato e funções iniciais da CDS como um fórum de alto nível sobre desenvolvimento sustentável, e deliberou o aumento de seu papel para que possa corresponder às novas demandas surgidas a partir do Plano de Implementação do WSSD - o "caminho" para que os estados progressivamente tornem seu trato com o Meio Ambiente compatível com as metas de seu desenvolvimento.

Na 11ª Sessão do CDS (CDS-11, realizada em Nova Iorque, de 28 de Abril a 09 de Maio de 2003), foram tomadas decisões a respeito dos futuros programas e

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organização de trabalho da Comissão. Foi acordado que o programa de trabalho plurianual da CDS posterior a 2003 seria organizado com base em sete ciclos bienais, com cada ciclo enfatizando um determinado grupo temático de questões.

CDS: Definição do problema

"A água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é garantir que suprimento adequado de água de boa qualidade seja mantido para toda a população do planeta, ao mesmo tempo preservando as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, adaptando a atividade humana para os limites de capacidade da Natureza e, ainda, combatendo os vetores de doenças relativas à água. A natureza multisetorial do desenvolvimento de recursos hídricos no contexto do desenvolvimento sócio-econômico deve ser reconhecida, da mesma forma que a utilização multidimensional de recursos hídricos - para suprimento de água, saneamento, agricultura, indústria, transporte, recreação, desenvolvimento urbano, geração de energia elétrica, pesca, gerenciamento de terras rebaixadas e outras atividades" (Agenda 21, Capítulo 18)

"Tornou-se uma afirmação dificilmente contestável a idéia de que o Século XXI será confrontado com inúmeras disputas entre estados e comunidades pelo acesso à água potável, sedentos e cada vez mais desesperados pelo acesso ao recurso natural mais fundamental e precioso que há. Novas estatísticas alarmantes e visões do futuro catastrófico surgem continuamente".

Um terço do mundo vive em áreas com baixa disponibilidade de água potável, onde o consumo supera em muito a demanda. Em 2025, dois terços da Humanidade estarão sujeito a esta condição, se nada for feito para modificar as tendências atuais. Um quinto da população do mundo já não tem acesso a fontes confiáveis de água potável. 6000 pessoas morrem diariamente como resultado de consumo de água contaminada ou suja - a maior parte delas crianças, habitantes de estados do Terceiro Mundo. Anualmente, é como se a população de uma cidade do porte de Belo Horizonte desaparecesse.

A poluição dos rios e mares produziu efeitos devastadores na saúde da Humanidade. O consumo de carne de peixe contaminada origina 2.5 milhões de casos de Hepatite Infecciosa e mais de 25000 mortes anuais. Por volta da metade dos rios do mundo estão grandemente poluídos. Algumas das terras alagadas e lagos mais importantes do mundo foram soterrados ou secaram nas últimas décadas - dentre esses os casos mais chocantes são os do Mar de Aral, na Rússia e de planícies alagadas no Iraque de Saddam Hussein. Catástrofes ambientais e humanas de proporções alarmantes foram o resultado mais lamentável desse processo.

Dois bilhões de pessoas dependem da retirada de água do subsolo para sobreviver. Em alguns estados (Índia, China, estados da Ásia Central, da Península Árabe, da ex-União Soviética e áreas do Oeste dos Estados Unidos) essas fontes estão

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desaparecendo, resultado de sua utilização desregrada nos últimos 2 séculos. Quando não se esgotam, essas fontes sofrem crescente contaminação por produtos químicos, especialmente os utilizados na agricultura e agroindústria.

Nada surpreendente, portanto, pensar que a questão da Água seja um dos mais graves problemas que a Humanidade enfrentará no corrente Século XXI. Conflitos intercomunitários e internacionais pelo acesso a este recurso inevitavelmente ocorrerão, dado o aumento projetado da população mundial em mais de 2 bilhões de habitantes até 2050. O espectro sombrio do Efeito Estufa torna a situação ainda mais dramática, podendo se prever grandes secas nos próximos 50 anos, se nada mudar. Mas, tomando como guia a História, temos motivos para não perder as esperanças de que possamos mudar a situação, afastando da Humanidade as previsões mais sombrias.

Pesquisa apresentada no III Fórum Mundial da Água (realizado em Quioto, Japão), coincidindo com o Dia Mundial da Água, analisou a história de acordos relativos à utilização da água potável nos últimos 4500 anos. Ela indica que a cooperação foi mais freqüente que o conflito nos últimos séculos, relativa ao gerenciamento dos recursos hídricos de rios e áreas contíguas. A pesquisa mostra que, confrontados com previsões sombrias, nações e comunidades mais do que ocasionalmente adotam o caminho da Paz e dividem, mais que vedam, o acesso a recursos hídricos escassos - esteja este relacionado com estoques de água para consumo, proteção do Meio Ambiente ou geração de energia elétrica.

Há outros sinais positivos. Até 50 anos atrás, muitos rios na América do Norte e Europa Ocidental, contíguos a grandes complexos industriais, foram tão severamente poluídos que foram dados como "mortos". A água de alguns deles era tão contaminada que podia ser usada como tinta e alguns rios chegavam mesmo a pegar fogo quando um palito de fósforo era aceso em suas margens, dado o grau de contaminação dos mesmos.

Atualmente, após bilhões de dólares em investimentos de tratamento e despoluição, bem como acordos com as indústrias para reduzir a poluição, peixes estão novamente voltando a povoar estes rios um dia dados como mortos. O rio Tamisa, na Inglaterra, é o exemplo mais admirável nesse sentido. Declarado morto há 150 anos, hoje 120 espécies animais e vegetais podem ser nele encontrados.

Avanços também foram verificados no Terceiro Mundo, ao contrário do que dita o senso comum. No sul da Ásia, acesso a sistemas eficientes de saneamento básico entre 1990 e 2000 beneficiou 220 milhões de pessoas. Infelizmente, tal progresso tem sido inferior ao crescimento populacional, ou seja, 800 milhões de pessoas ainda não tem acesso a sistemas seguros e salubres. Entretanto, tais avanços revelam que, uma vez havendo interesse políticos, mudanças reais podem ocorrer e a esperança pode substituir o medo.

A Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (realizada em 2002 em Johanesburgo, África do Sul) deu guias de ação deveras valiosos para que nações e comunidades promovam o desenvolvimento sustentável - desenvolvimento contínuo, que respeita as pessoas e o planeta, e que pode ser alcançado.

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Não precisamos de mais declarações. O que é necessário agora são ações para implementar o Plano de Implementação da conferência de Johanesburgo, partindo de uma miríade de parcerias voluntárias entre a indústria, organizações não-governamentais, governos e a ONU. A meta: baixar pela metade até 2015 o número de pessoas sem acesso a fontes seguras de água potável. Algo que está intrinsecamente ligado à melhoria das condições de vida dos pobres.

2003 é o Ano Internacional da Água Potável. Devemos aproveitar esse momento especial para avançar. Uma grande dose de boa fé, imaginação e empreendedorismo fazem-se grandemente necessária. Não queremos que as previsões sombrias dos profetas do desastre se confirmem. Necessitamos também de fundos para construir a infra-estrutura necessária para prover água mais limpa, saudável e de fontes mais abundantes. As promessas feitas em Monterrey, México, na Conferência de Recursos para o Desenvolvimento, ano passado no sentido de reverter à queda da ajuda externa ao desenvolvimento, devem ser cumpridas.

Muita água está sendo desperdiçada. Mais de 50% da água em algumas cidades africanas é perdida em dutos de condução danificados ou pouco confiáveis. Uma verdadeira tragédia! Agricultura, onde 70% da água potável disponível é utilizada, é uma grande fonte de desperdício. Tecnologias de reaproveitamento e canos subterrâneos são baratos e de simples utilização. Façamo-nos mais facilmente disponíveis.

Devemos conferir valor à água, tanto espiritual quando econômico. Isso, entretanto, não deve ser feito às custas dos pobres urbanos, que já pagam um alto preço por esse recurso. Então devemos ser criativos em alterar a forma em que a água recebe seu preço, oferecendo alternativas baratas, economizadoras de água, para agricultores, indústria, cidades e consumidores. A História nos ensina que cooperação no gerenciamento de fontes de água potável, como os rios, são a norma. Ela também nos ensina que a complacência não é uma opção. Há mais de 150 bacias hidrográficas onde há acordos cooperativos ineficientes. Devemos aprimorá-los.

Dessa forma, é igualmente urgente que as organizações internacionais apliquem as lições do passado, para o benefício de todos no presente e no futuro. Isso pode ser feito de fuás formas: mediando, ajudando a resolver amigavelmente, as controvérsias entre estados e comunidades que estejam em um impasse, bem como dirimindo a dúvida dos que possam estar reticentes quanto a cooperar e auxiliando-os a estabelecer parcerias e acordos.

Temos, no início do novo século, todos os recursos - intelectuais, financeiros e tecnológicos - necessários para superar as crises presentes e futuras relativas à água. Da mesma forma que a água que tanto prezamos, não desperdicemos essa oportunidade."

(Editorial das Agências das Nações Unidas e da Universidade da ONU, lançado em 22 de Março de 2003 - DIA MUNDIAL DA ÁGUA)

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CDS: Análise do Problema

Publicado em 18/05/2004 - 02:00

"A Terra tem 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos de água. A parte doce corresponde a míseros 2,5% desse total. Só que 68,7% disso está nos pólos, em forma de gelo, e 29,9% em lençóis subterrâneos. Os rios e lagos, de onde a humanidade tira quase toda a água, só concentram 0,26% do total disponível do líquido. É preciosa, mesmo" (Revista SuperInteressante, Junho de 2003)

Cientes das características do contexto internacional atual ("Globalização"), os representantes dos estados componentes da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, reunida em Belo Horizonte para debater "A Questão da Água no Século XXI", deverão, em prol do sucesso dos trabalhos do comitê, levar em conta, não necessariamente nessa ordem:

Os debates sobre a questão ocorridos no seio do comitê nos últimos anos; Os debates sobre a questão ocorridos em outros órgãos da ONU, bem como

nas Conferências Mundiais promovidas pela organização, nos últimos anos;

Os debates sobre a questão ocorridos em outras organizações internacionais, tais como a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Liga Árabe (LA) etc, nos últimos anos;

Os desdobramentos dos acontecimentos mais recentes ocorridos no plano internacional;

As respectivas políticas nacionais dos estados componentes da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, bem como as políticas conjuntas adotadas por blocos regionais (Mercosul, União Européia, APEC, Nafta etc).

As diversas parcerias multilaterais estabelecidas no plano internacional para o trato da questão: estados-estados, estados-organizações internacionais, estados-outros agentes (ONGs etc.), organizações internacionais-organizações internacionais, organizações internacionais-outros agentes, outros agentes-outros agentes.

Dada a escassez de espaço disponível no Guia de Estudos para apresentar TODOS esses elementos já por si sós deveras extensos e complexos, procederei a uma sumarização dos principais pontos envolvidos, combinado com abundante disponibilização de fontes de pesquisa, escritas e em meio eletrônico, para que o trabalho dos caros representantes seja o mais frutífero possível. Nesse sentido, assume fundamental importância a formação de uma lista de mensagens em meio eletrônico, através da qual atualizações e dados poderão ser municiados aos senhores e senhoras até a data da reunião da Comissão, em Agosto próximo.

Passemos, portanto, ao trato das questões relativas à "Água no Século XXI". Tratarei de modo sucinto das questões aqui abordadas, sempre lançando mão de referencias. A sumarização obedecerá ao seguinte esquema expositivo:

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A - ControvérsiasB - SoluçõesC - Operacionalização das soluções

A - Controvérsias

1. Escassez das fontes de água potável conhecidas

Como manifesto na frase que abre essa seção do Guia de Estudos, apenas 0,26% do imenso volume de água existente no planeta está disponível para o ´consumo humano` em suas muitas acepções. O relatório "O Estado da População Mundial", do Fundo das Nações Unidas para a População, divulgado em novembro do ano passado, indica que já no ano de 2001, havia 508 milhões de pessoas vivendo em 31 estados que já estavam sujeitos a alguma medida de racionamento de água. Este relatório ainda oferece perspectivas nada otimistas do futuro do planeta em relação à exaustão dos recursos hídricos, caso não se concretizarem mudanças efetivas: em 2025, serão 3 bilhões de pessoas passando sede em mais de 48 estados, e em 2050, estima-se que mais de 4 bilhões de pessoas estarão em estados que não serão capazes de suprir a necessidade mínima diária de 50 litros de água. O precário abastecimento d´água desses lugares vai falir por vários motivos. "Nos últimos cinqüenta anos, a população mundial triplicou e o consumo de água aumentou seis vezes", sintetiza o ecólogo paulista José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia. Com a população cresce também a agricultura, a atividade humana que mais consome o líquido. "Os estados em desenvolvimento vão aumentar seu uso de água em até 200% em 25 anos", disse o geólogo Igor Shiklomanov, do Instituto Hidrológico Estatal de São Petersburgo, Rússia. Como lidar com esse problema, senão através da cooperação (enquanto não se torna economicamente viável a conversão de parte dos 99,74% restantes em água potável)?

2. Disputas territoriais pelas fontes conhecidas

Disputas houve, na História, pelo controle das fontes de água, bem como as mesmas foram utilizadas como armas na guerra - sem mencionar o fato de que os rios, ao longo da História, constituíram marcos fronteiriços privilegiados. Fontes de água são elementos cruciais em diversos enfrentamentos político-militares globo afora, do conflito israelo-palestino aos conflitos na Ásia Central, passando pelo Norte da África etc. Como impedir (ou minimizar a ocorrência destas) que estas surjam, num cenário de escassez de fontes? Como dirimir os conflitos já existentes?

3. Desperdício nas fontes conhecidas

Boa parte da água retirada das fontes existentes se perde antes de chegar aos consumidores finais. O problema tem origens variadas - tecnologia, insuficiência de

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recursos para implementar tecnologia existente, consumo desregrado. Enquanto as doenças provocadas pelo escasso ou nulo acesso às fontes hídricas afetam os estados do Sul, muitos lares dos estados ricos chegam a consumir mais de dois mil litros diários de água de boa qualidade (a Organização Mundial da Saúde considera necessário o consumo de um mínimo de 150 litros por dia). O esbanjamento da minoria mais rica e a escassez da maioria não fazem mais que acentuar as diferenças entre o Norte e o Sul. Com o agravamento da deterioração ambiental, na maioria dos estados pobres as condições econômicas da população se estagnaram ou degradaram, aumentando a distância entre ricos e pobres. Se na década de 1960 a diferença de receita era de 30 para 1, em 2000 era de 60 para 1.

4. Poluição das fontes conhecidas

Boa parte das fontes conhecidas encontra-se poluída em graus diversos, comprometendo tanto as gerações presentes quanto às futuras, bem como a vida animal e vegetal das regiões afetadas. Só a Ásia despeja anualmente em seus cursos d´água 850 bilhões de litros de esgoto. E cada litro de sujeira num rio inutiliza 10 litros da sua água. "A Humanidade sempre tratou a água como um recurso inesgotável", explica o hidrogeólogo Aldo Rebouças, da Universidade de São Paulo (USP). "Estamos descobrindo, da pior forma possível, que não é bem assim".

5. Tecnologia para descobrir novas fontes e maximizar as já conhecidas

O progresso tecnológico pode ampliar o escopo das fontes de água disponíveis, descobrindo novas fontes bem como tornando mais eficiente o uso das já existentes. Mas gerar tecnologia é um processo dispendioso, bem como os fluxos tecnológicos não são livres de considerações econômico-políticas. Nem todos podem usufruir desta como seria desejável.

6. Água e Desenvolvimento - impactos desiguais no Primeiro e Terceiro mundos

O impacto provocado pela questão da Água assume formas desiguais, ainda que atinja a todos. Os mais prejudicados são os estados do Sul, onde nascem 95% das 80 milhões de pessoas que a cada ano aumentam a população do planeta. A escassez repercute diretamente sobre a saúde dos habitantes, já que, segundo estimativas, 80% de todas as enfermidades e 33% das mortes nos estados do Sul estão relacionados com a inadequada qualidade da água (seis milhões de crianças morrem por ano por beber água contaminada). estados em desenvolvimento, ou do Terceiro Mundo, sofrem maiores constrangimentos, chegando a ter seu desenvolvimento futuro seriamente comprometido.

7. Cooperação para o Desenvolvimento - quem paga a conta?

Page 12: A Questão Da Água No Século XXI

Como decorrência do item anterior, novamente nos defrontamos com um dos grandes dilemas das Relações Internacionais e da ONU em particular - recursos financeiros para empreender qualquer curso de ação. Mesmo que estados desejem cooperar, eles podem ser impedidos de faze-lo, por carência de recursos. E ninguém deseja prover seus recursos sem garantia de reavê-los de alguma forma em algum tempo. A própria ONU sofre com o atraso dos pagamentos de seus estados membros. Ter isso em mente não torna as coisas mais fáceis, mas pode ajudar a separar soluções aparentemente simples, mas ilusórias, de medidas realmente eficazes, conquanto difíceis de serem implementadas.

8. Desenvolvimento Sustentável - gerações presentes X gerações futuras

Enfim, chegamos ao último dos dilemas. Problemas no presente os temos aos montes. Quanto dos recursos disponíveis devem ser destinados a garantir o bem estar das gerações futuras? Seria melhor se tais recursos fossem empregados para resolver problemas atuais, igualmente dramáticos (Fome, Educação etc.)? Tais questões sempre se fazem presentes nos trabalhos nos foros multilaterais de concertação, lado a lado com as discordâncias entre os estados acerca de qual solução seria a mais desejável para todos os problemas citados.

B - Soluções

1. Plano de Ação de Mar Del Plata (1977) (ainda não disponível na NET)

2. Declaração de Dublin sobre a Água e o Desenvolvimento Sustentável (1992) *http://www.wmo.ch/web/homs/documents/english/icwedece.html

3. AGENDA 21, Capítulo 18 (1992) *http://www.un.org/esa/sustdev/documents/agenda21/english/agenda21chapter18.htm

4. 1ª Recomendação da Comissão em Desenvolvimento Sustentável acerca da AGENDA 21 (1994)http://www.un.org/esa/sustdev/sdissues/water/CSD%20report%20on%20second%20session.pdf

5. 2ª Recomendação da Comissão em Desenvolvimento Sustentável acerca da AGENDA 21 (1998)http://www.un.org/esa/sustdev/sdissues/water/CSD%20report%20on%20sixth%20session.pdf

6. Relatório do grupo de especialistas em abordagens estratégicas para gerenciamento de água potável (1996)

http://www.un.org/esa/sustdev/sdissues/water/harare_report_water.pdf

7. Sessão Especial da Assembléia-Geral da ONU dedicada à revisão da implementação da AGENDA 21 (1997)

Page 13: A Questão Da Água No Século XXI

http://www.un.org/esa/sustdev/sdissues/water/CSD%20Special%20session.pdf8. Declaração de Desenvolvimento do Milênio da ONU (2000)

http://www.un.org/millenniumgoals/index.html9. Plano de Implementação de Johanesburgo-2002 *

http://www.johannesburgsummit.org/html/documents/summit_docs/131302_wssd_report_reissued.pdf10. Decisões da CDS-11 (Maio 2003) *

http://www.un.org/esa/sustdev/csd/csd11/CSD11.htm11. Medidas tomadas nos planos regional e nacional **

* Esses documentos fundamentais, sendo deveras extensos, serão entregues em data oportuna aos representantes dos estados na Comissão de Desenvolvimento Sustentável, na forma de atualizações em meio impresso ou meio eletrônico. Os endereços eletrônicos onde tais documentos podem ser acessados, não obstante, estão disponíveis acima. Os documentos, via de regra, estão disponíveis infelizmente apenas em INGLES, visto não ser o Português uma das línguas oficiais do "sistema ONU". Algumas vezes é possível obter-se tais documentos em Espanhol, mas somente algumas vezes.

** Devido à multiplicidade de tais medidas e o caráter particularista dessas (inadequadas, portanto, para preencher as poucas páginas desse guia), indico alguns endereços eletrônicos chave onde tais medidas podem ser encontradas, na seção ANEXOS desse Guia de Estudos. Ter conhecimento das medidas que diretamente implicam seu respectivo estado é fundamental para o trabalho de cada representante em nosso comitê.

C - Operacionalização das Soluções

1. Parcerias multilaterais (estados, organizações internacionais, outros agentes)

O escopo (amplitude) das parcerias que podem ser relevantes para a solução das controvérsias associadas à "Questão da Água no Século XXI" está expresso nos documentos e acordos dos quais tratei no item B. A leitura dos mesmos, portanto, faz-se necessária para se estimar os muitos desafios e obstáculos que podemos enfrentar na promoção de soluções ativas para os problemas que serão debatidos. Vale a lembrança: atores não-estatais (ONGs etc) têm um papel fundamental em quase todas as iniciativas tomadas dentro e fora da ONU para a solução de questões ambientais.

2. Financiamento e contrapartidas não-financeiras das parcerias

O problema perene do financiamento (e de contrapartidas não-financeiras de parcerias, como transferência de tecnologia etc) é tratado de forma mais genérica nos documentos que citei no item B. Sendo um problema particularmente grave este, que especialmente vitima a ONU e seus órgãos, espera-se que os representantes empenhem-se particularmente na busca de soluções minimamente eficazes e algo originais, distantes das soluções triviais que pouco ou nenhum efeito produzem na realidade. Para tal, cabe lembrança de que documentos de outros órgãos da ONU lidam com esta mesma questão, relevadas as particularidades de cada comitê. Sugestão valiosa seria a leitura de documentos do 4o Comitê da Assembléia-Geral (comitê orçamentário-fiduciário) bem como documentos recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Banco Mundial,

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Fundo Monetário Internacional, além de conhecimento desejado sobre os órgãos de fomento nacionais e regionais (Banco Inter-Americano de Desenvolvimento, BNDES no caso do Brasil etc). O mesmo vale para as contrapartidas não-financeiras - a dica é busca informações em comitês do ECOSOC tais como a Comissão de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento e o já citado PNUD.

CDS: Posições de Estados e Blocos

Publicado em 18/05/2004 - 02:00

Seria temerário, para não dizer impossível, fazer uma análise extensiva das posições dos mais de 190 estados membros da ONU, bem como de blocos formados por estes, no trato da "Questão da Água no século XXI" nas escassas páginas desse Guia de Estudos. Dessa forma, portanto, além dos endereços eletrônicos onde as respectivas posições podem ser buscadas em profundidade, disponibilizo aos senhores representantes um "esquema analítico" para determinar, uma vez de posse dos dados particulares de seu estado e bloco regional, a sua forma de atuação nos debates de nosso comitê.

Esquema Analítico

1. Caracterização do Estado

1.1 Geografia Física (quantas e quais são as fontes de água do seu estado, se são contíguas a outros estados - havendo, assim, possibilidade de compartilhamento e potencial para conflitos - a ou se são internas, se são de fácil ou difícil acesso, se estão dispersas pelo estado ou concentradas em algumas poucas regiões etc);1.2 Geografia Humana (população do estado, consumo de água per capita e concentração deste pelas respectivas classes sociais, necessidade ou não de importação do produto, padrão do consumo futuro - crescimento, estagnação etc - acompanhando o crescimento populacional e o volume das fontes conhecidas etc);1.3 Economia (importância econômica das fontes de água, utilização nas diferentes atividades econômicas - Agricultura, Indústria, Terceiro Setor etc, custo da extração, preço do produto, razoabilidade ou não da expansão da produção ou, da exportação ou da importação do mesmo, tecnologia disponível etc);1.4 Sociedade (Analisar, nas respectivas sociedades, significância cultural, religiosa ou artística da água, que possam influenciar de alguma forma no gerenciamento e utilização do mesmo, se houver);1.5 Política (disputas pelo poder, no âmbito doméstico, relativas ao controle das fontes de água disponíveis - como e por que se dão, se houver; relacionamento dos diferentes poderes do Estado na gestão do produto; relacionamento das diferentes unidades constituintes dos estados na gestão dos recursos hídricos se houver unidades menores constituintes (Minas Gerais em relação ao Brasil, por exemplo).

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2. Situação/Posicionamento do Estado

2.1 Posição no espectro do desenvolvimento internacional: desenvolvido, ´em desenvolvimento` (Brasil, Índia etc), menos desenvolvido (em inglês, less developed country - LDC)2.2 Posição no espectro dos recursos hídricos mundiais (se o estado detém uma porção significativa destes ou se carece dos mesmos - por exemplo, Brasil, no primeiro caso, Japão no segundo)2.3 Filiação a algum bloco regional (União Européia, Mercosul, NAFTA, APEC etc.)2.4 Atuação nos órgãos da ONU (quais órgãos, de que forma, destaque para a Comissão de Desenvolvimento Sustentável)2.5 Atuação em outras organizações internacionais (OEA, União Africana, Liga Árabe etc.)2.6 Alianças no campo do Desenvolvimento Sustentável e nas questões ambientais2.7 Alianças em outras questões (econômicas, de segurança etc) que possam influir direta ou indiretamente na formação de posições quanto à "Questão da Água no Século XXI" (exemplo: Israel e Estados Unidos)2.8 Relacionamento com agentes não-estatais (ONGs), especialmente nas Conferências Mundiais organizadas pela ONU.2.9 Controvérsias com outros estados que possam estar diretamente relacionadas com a gestão de recursos hídricos (exemplo: Israel e Síria, disputa pelas fontes de água das Colinas de Golã)2.10 Controvérsias com outros estados, de natureza diversa, que influa na formação das posições no seio do comitê (exemplo: Coréia do Sul e Coréia do Norte)

Uma vez dotados de alguma noção, ou mais do que isso, acerca dos pontos acima mencionados, os senhores e senhoras representantes disporão do instrumental necessário para negociar tendo em vista não somente obter soluções eficientes para os problemas com os quais vocês serão confrontados, mas igualmente fazer com que tais soluções atendam aos interesses dos seus respectivos estados.

CDS: Questões que uma resolução deve responder

Publicado em 18/05/2004 - 02:00

O trabalho dos senhores e senhores representantes deverá estar corporificado em uma RESOLUÇÃO a ser adotada pela ONU, respondendo aos questionamentos levantados durante os debates e aos previamente colocados diante de vocês. Espera-se que os questionamentos contidos nesse Guia de Estudos, bem como nos documentos oficiais mencionados neste, sejam os objetos da citada RESOLUÇÃO. De forma sumarizada, espera-se que nela vocês abordem:

As CONTROVÉRSIAS relativas à "Questão da Água no Século XXI"; As SOLUÇÕES existentes e que forem criadas pelos senhores e senhoras,

para tais controvérsias;

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As formas de se OPERACIONALIZAR tais soluções, especialmente as já existentes, levando em conta as questões correlatas das parcerias com agentes não-estatais e do financiamento.

Como se vê, tarefa eivada de criatividade é a que os senhores e senhoras terão em Agosto próximo!

CDS: Documento de Posição Oficial

O Documento de Posição é uma declaração da política nacional de um estado a respeito de determinado tema. Cada estado representado deve apresentar um documento (1 página ou 2 NO MÁXIMO, não sendo 2 páginas uma recomendação, com escrita em apenas um dos lados) por comitê. Na Comissão de Desenvolvimento Sustentável, cada estado deverá apresentar um Documento de Posição a respeito do tema "A Questão da Água no Século XXI", no qual deverá estar expressa a posição de seu estado a respeito do tema, fazendo também referência às questões e comentários apresentados nesse Guia de Estudos. O Documento de Posição deverá ser entregue durante o primeiro dia, no momento do registro dos delegados. Posteriormente cópias serão produzidas e distribuídas a todos os estados presentes, de forma a permitir que todos compreendam melhor a política dos estados com quem vão negociar durante os 3 dias de simulação. estados que não apresentarem seu Documento de Posição no momento do registro não terão sua participação permitida nas sessões da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, bem como nos demais comitês do IV MINI-ONU.

CDS: Bibliografia e Sites na Internet BENVENISTI, Eyal. "Collective Action in the Utilization of Shared Freshwater: The challenges of International Water Resources Law". In: American Journal of International Law, Vol. 90, Tópico 3, Julho de 1996. BRANCO, Samuel Murgel. "Água: Origem, Uso e Preservação". Coleção Polêmica. São Paulo: Moderna, 1993, 4ª ed.DONAHUE, John M. et JOHNSTON, Barbara Rose. "Water, Culture & Power: Local struggles in a Global Context". Island Press: Washington D.C., 1998.GAMA, Carlos Frederico Pereira da Silva. "O Regime Global de Direitos Humanos e a Governança Global" in REVISTA FRONTEIRA DE RELAÇÔES INTERNACIONAIS. Volume 2, 2002.GLEICK, Peter H. "Water and Conflict: Fresh Water Resources and International Security". In: International Security. Volume 18, Tópico 1, 1993.GORDENKER, Leon & WEISS, Thomas. "Pluralizing Global Governance: analytical approaches and dimensions" in GORDENKER, Leon & WEISS, Thomas (editores). NGOS, THE UN, AND GLOBAL GOVERNANCE. Londres: Lynne, 1996.HURRELL, Andrew. Sociedade internacional e Governança global. In: LUA NOVA - REVISTA DE CULTURA E POLÍTICA, n46, 2000.KRASNER, Stephen. INTERNATIONAL REGIMES. Ithaca: Cornell University Press, 1983.

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http://www.mini-onu.pucminas.brSite MINI-ONU Fãs

http://www.minionu.hpg.com.brSite de O DEBATEDOURO, periódico em Relações Internacionais

http://www.odebatedouro.com.brESTADOS E POSIÇÕES OFICIAISSite das Representações Diplomáticas Permanentes junto à ONU

http://www.un.intSite do EOJEDA (sites governamentais de vários países)

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