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    A Utilizao de Ferramentas Ergonmicas em Percias Judiciais de DORT.

    Carrara, P.R.; Abreu, M.J.

    Fisioterapia do Trabalho So PauloColgio Brasileiro de Estudos Sistmicos CBES

    Resumo

    Na atualidade vivemos uma grande polmica em relao ao nexo entre as doenas

    relacionadas questo DORT e o trabalho. O assunto tornou-se evidente desde a publicao

    da Norma de Avaliao de Incapacidade do Instituto Nacional de Seguridade Social, que

    regulamenta o critrio de nexo tcnico entre as patologias e suas causas. Recentemente o

    assunto voltou tona, com a renovao da Lei 10.666/03 e as resolues do INSS 1236/04 e

    1269/06 que introduziram duas novas prticas na rotina de sade ocupacional das empresas: o

    FAP (Fator Acidentrio Previdencirio) e o NTEP (Nexo Tcnico Epidemiolgico). Essa nova lei

    inverte o nus da prova do nexo epidemiolgico. Se a empresa no concordar com o nexo

    estabelecido, ter de provar que no foi o trabalho o causador da doena ou leso no

    trabalhador. Essa nova situao gerou aumento na demanda de percias.Percia o exame de

    situaes ou fatos relacionados a coisas e pessoas, praticado por especialista na matria que

    lhe submetida, com o objetivo de elucidar determinados aspectos tcnicos. Percia Judicial

    a diligncia designada pelo juiz para que o perito esclarea atravs de um laudo tcnico um

    fator indispensvel para a concluso final do juiz. A percia realizada por requisio formal da

    instituio, pblica ou privada, ou de pessoa jurdica. Nas percias judiciais sobre DORT, a

    grande necessidade dos juzes de saber se a doena que acometeu o reclamante tem o nexo

    com as atividades exercidas por ele na reclamada, e saber se essa doena est ou vai

    incapacitar esse indivduo. Para entendermos e correlacionarmos o nexo entre as atividades e

    a doena, temos que entender da atividade e das causas das doenas. Os resultados da

    percia clnica e in lcus, so apresentadas atravs de parecer sucinto, apenas com repostas

    aos quesitos formulados, ou de um laudo tcnico com exposio detalhada dos elementos

    investigados, sua anlise e fundamentao tcnica-cientfica das concluses. Dentre eles

    feita a utilizao de ferramentas de diagnstico de risco biomecnico da tarefa como: NIOSH,

    RULA e OWAS. Essas ferramentas possuem adequao para cada tipo de movimento e

    segmento corporal, e suas interpretaes podem ser adaptadas nos laudos periciais que sero

    descritas nesse trabalho.Palavras-chave: Ergonomia, Niosh, Owas,Percia Judicial, Rula.

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    Introduo

    Os Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) tem se constitudo um

    grande problema de sade pblica em muitos pases industrializados. Com advento da

    Revoluo Industrial, quadros clnicos decorrentes de sobrecarga esttica e dinmica do

    sistema osteomuscular tornaram-se mais numerosos.Diferentemente do que ocorre com doenas no ocupacionais, as doenas relacionadas ao

    trabalho tm implicaes legais que atingem a vida dos pacientes. O seu reconhecimento

    regido por normas e legislaes especficas a fim de garantir a sade e os direitos do

    trabalhador.

    Atualmente o nmero de processos trabalhistas contra empresas vem aumentando

    consideravelmente. Com o advento da Lei 11.430, de 26 de dezembro de 2006, regulamentada

    pelo decreto 6.042, de 12 de fevereiro de 2007, as empresas tero que provar, doravante, queum acidente ou doena de seu empregado no est relacionado com a natureza de sua

    funo. a chamada inverso do nus da prova.

    O NTEP pode ser traduzido pelo nexo presumido em funo da incidncia de patologias,

    estatisticamente encontradas, em trabalhadores de um grupo especfico e o FAP pode ser

    representado por um coeficiente, partir do NTEP qeu ser aplicado no momento que a

    empresa realizar o pagamento da contribuio previdenciria.

    Essa lei aumentou consideravelmente a demanda de pericias judiciais trabalhistas.

    Segundo Vendrame (1997), o perito indivduo de confiana do juiz, sendo at denominado de

    os olhos e ouvidos do juiz, figurando como auxiliar da justia, e, ainda que seja serventurio

    excepcional e temporrio, deve reunir os conhecimentos tcnicos e cientficos indispensveis

    elucidao dos problemas fticos da questo.

    De acordo com o dicionrio escolar da lngua portuguesa de Dermival Ribeiro Rios, percia a

    habilidade em alguma arte ou profisso; vistoria ou exame tcnico.

    Conforme o dicionrio Aurlio, Perito sbio, hbil, o que sabedor ou especialista em

    determinado assunto, nomeado judicialmente para avaliao, exame e vistoria.

    Para Brandimiller (1996), o trabalho pericial abrange diferentes atividades tais como:

    - Anlise direta de coisas, situaes e fatos estabelecidos e documentados apresentados

    percia;

    - Observao qualitativa e quantitativamente atravs de (exame, vistoria, inspeo);

    - Estudo qualitativo, incluindo avaliaes, medies, clculos;

    - Investigaes e fatos, voltada para o esclarecimento de circunstncias de sua ocorrncia e

    determinadas relaes (temporais, causa-efeito, responsabilidade etc).

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    As percias judiciais especficas para DORT tem como objetivo principal saber se a doena de

    que o reclamante portador possui nexo com as atividades exercidas por ela na reclamada

    (estabelecimento do nexo causal) e se essa doena da qual portador traz ou vai trazer

    alguma incapacidade em uma das esferas funcionais. A funcionalidade, bem como o nexo da

    doena com a atividade laboral exercida, exige conhecimento profundo da cincia domovimento e da biomecnica laboral para se chegar a um laudo esclarecedor e fidedigno,

    auxiliando assim o parecer final do juiz.

    O conhecimento da anatomia, fisiologia, histologia, biomecnica ocupacional, biomecnica

    fisiolgica, da ergonomia e das normas trabalhistas so fundamentais para a formulao de

    uma percia estruturada, objetiva e concreta (VERONESI, 2008).

    A percia tcnica cinesiolgia-funcional, pode se feita em trs fases:

    FASE 1-PERCIA CL NICA

    Atravs da anamnese, exame fsico clnico com auxilio da fotogrametria computadorizada,

    testes palpatrios, testes especficos, testes especficos para amplitude de movimento, testes

    de confiabilidade, teste temporal com a eletromiografia de superfcie.

    FASE 2-

    PERCIA IN LOCUS

    Anlise de documentos como PPRA e PCMSO, coleta de materiais audiovisuais (filmadora e

    cmera digital) da atividade laboral desenvolvida pelo reclamante na reclamada e entrevista

    com testemunhas.

    FASE 3-

    CONSTRU O DO LAUDO PERICIAL

    Com todos os dados obtidos na percia clnica e in lcus, ser realizado uma anlise destes

    dados, atravs de um processo programado e organizado.

    Primeiramente ser feita a anlise de risco biomecnico da atividade laboral, utilizando

    ferramentas mundialmente reconhecidas como: OWAS, RULA E NIOSH.

    Essas ferramentas nos do a porcentagem de risco biomecnico para a sade do trabalhador

    da atividade analisada. Independente do trabalhador, a ferramenta analisa o risco da atividade

    em questo. Com o resultado final da ferramenta, associado ao resultado do exame clnico

    pericial, conseguimos fazer a construo da existncia ou no do nexo causal.

    seguir ser descrita as ferramentas para anlise do posto de trabalho que auxiliam o

    fisioterapeuta do trabalho a investigar e diagnosticar as situaes em se encontra o trabalho

    em uma determinada atividade laboral. Fazendo uma comparao das interpretaes de uma

    anlise ergonmica e um laudo pericial.

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    FERRAMENTAS ERGONMICAS EM PERCIA JUDICIAL DE DORT

    MTODO OWAS

    Este mtodo foi desenvolvido na Finlndia para analisar as posturas de trabalho na indstria de

    ao, e foi proposto por trs pesquisadores finlandeses (KARKU, KANSI e KUORINKA: 1977)para Ovaco Oy Company em conjunto com o Instituto finlands de Sade ocupacional, seu

    nome OWAS, deriva de Ovaco Working Posture Analysing System.

    Eles comearam com anlises fotogrficas das principais posturas tpicas, observando o

    trabalho dos refrataristas no reparo e troca da proteo refrataria dos conversores para

    fabricao de aos especiais onde as posturas requeridas pelo trabalho eram muito

    constrangedoras para os operrios (SANTOS: 2000).

    Os pesquisadores definiram 72 posturas tpicas, que resultaram de diferentes combinaes dasseguintes posies: Dorso 4 posies tpicas; Braos 3 posies tpicas; Pernas - 7

    posies tpicas, conforme o quadro abaixo.

    Classe 1Postura normal dispensa cuidados, a no ser em casos excepcionais.

    Classe 2Postura que deve ser verificada na prxima reviso dos mtodos de trabalho.

    Classe 3Postura que deve merecer ateno a curto prazo.

    Classe 4Postura que deve merecer ateno imediata.

    A aplicao desse mtodo durante dois anos nas siderrgicas finlandesas levaram melhoria

    das condies de trabalho, contriburam de forma relevante para remodelao de linhas de

    produo e identificou e solucionou problemas h muito pendentes onde tentativas anteriores

    fracassaram.

    O sistema se baseia na amostragem da atividade em intervalos constantes ou variveis,

    verificando-se a freqncia e o tempo gasto em cada postura. Nas amostragens soconsideradas as posies das costas, braos, pernas, uso de fora e fase da atividade aos

    quais so atribudos valores consubstanciados em um cdigo de seis dgitos. O primeiro dgito

    do cdigo indica a posio das costas, o segundo, a dos braos, o terceiro, a das pernas, o

    quarto indica a carga ou uso da fora e o quinto e sexto dgitos, a fase de trabalho, conforme

    mostrado no quadro acima (WILSON e CORLETT:1995).

    Para o registro das posturas o procedimento observar o trabalho, com ateno na postura,

    fora e fase do trabalho que o indivduo est executando e logo fazer o registro. Contudo, o

    mais utilizado fazer fotos da seqncia de posturas ou filmes acompanhados de uma

    observao direta e a partir da efetuar o registro.

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    Nas atividades cclicas deve ser observado todo o ciclo e nas atividades no cclicas deve ser

    observado um perodo de trinta a sessenta segundos.

    Para se analisar a atividade, ou um segmento da atividade, levando em conta o tempo que o

    operrio permanece em cada posio tpica usa-se um quadro que determina a categoria de

    ao baseada nos parmetros e concluses dos pesquisadores e idealizadores do mtodoOWAS, que a chave para enquadrar a seqncia de posturas em anlise e determinar a

    categoria de ao correspondente.

    Este mtodo dispe de programa para computador denominado winOWAS que automatiza o

    processo, uma vez preenchido j faz automaticamente e apresenta ferramentas grficas que

    auxiliam na visualizao e anlise. O endereo na internet www.turva.me.tut.fi/owas da

    Tempere University of Technology Tempere Finland.

    METODO RULA

    Rapid Upper Limb Assessment (RULA) desenvolvido por Lynn McAtamney e Nigel Corlett

    (1993) Universidade de Nottinghan, foi descrita pela primeira vez em uma edio de 1993 da

    revista Applied Ergonomics.

    RULA um mtodo ergonmico utilizado para avaliar a exposio de indivduos, fora,

    posturas e atividades musculares que podem ocasionar doenas ocupacionais (LER/DORT).

    uma ferramenta de triagem que avalia a carga biomecnica e postural em todo o corpo, com

    especial ateno para o pescoo, tronco e membros superiores. Estudos de confiabilidade

    foram realizados utilizando RULA em grupos de usurios VDU e operadores de mquinas de

    costura. A avaliao requer da ferramenta RULA pouco tempo para completar o placar e gera

    uma lista de aes que indicava o nvel de interveno necessrio para reduzir os riscos de

    leso devido carga fsica do operador. RULA se destina a ser usado como parte de um

    amplo estudo ergonmico. Ela foi desenvolvida para detectar posturas de trabalho ou fatores

    de risco que merecem mais ateno.

    As posturas so enquadradas de acordo com as angulaes entre os membros e o corpo,

    obtendo-se escores que definem o nvel de ao a ser seguido, similares aos adotados pelo

    mtodo OWAS.

    A uma pontuao possue 4 categorias, que indicaro os nveis de aco: 1 ou 2 pontos

    (situao aceitvel); 3 ou 4 (necessidade de mais investigao); 5 ou 6 (necessidade de mais

    investigao e mudana breve); 7 (investigao e mudana imediata).

    McAtamney e Corlett citam que pontuaes baixas no garantem que postos de trabalho esto

    livres de riscos ergonmicos e pontuaes altas no asseguram que problemas graves

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    existem. uma ferramenta para detectar posturas do trabalho ou fatores de riscos que

    merecem ateno.

    A ltima etapa a observo da tarefa, sendo analisadas as atividades realizadas pelo

    trabalhador, a sua movimentao na produo e o entendimento da tarefa que realmente ele

    realiza.Para avaliao com o mtodo RULA, pode-se utilizar fotografias sequenciais, onde ser

    analisado o momento em que o membro analisado atinge o ponto mximo ou extremo do ciclo

    da atividade laboral.

    METODO NIOSH

    Em 1980, nos Estados Unidos, sob iniciativa do National Institute for Ocupational Safety and

    Health NIOSH, patrocinou-se o desenvolvimento de um mtodo para determinar a cargamxima a ser manuseada e movimentada manualmente numa atividade de trabalho NIOSH

    Work Practices Guide for Manual Lifting (1981).

    Para isto, um grupo de pesquisadores reuniu-se para a formulao de um mtodo consistente

    sobre o assunto, levantando referncias bibliogrficas de todo o mundo e concluram que este

    mtodo deveria levar em conta quatro aspectos bsicos:

    - o epidemiolgico > Que o estudo das doenas, sua incidncia, prevalncia, efeitos e os

    meios para sua preveno ou tratamento (Barbanti, 1994).

    - o psicolgico > que considera o comportamento humano numa determinada situao. No

    caso do trabalho, observamos que a imposio de certas tarefas depende da aceitao do

    prprio trabalhador;

    - o biomecnico> levando em conta as estruturas e funes dos sistemas biolgicos, usando

    conceitos, mtodos e leis da mecnica;

    - o fisiolgico > estudando as funes do organismo vivo. Procurou-se por meio da fisiologia

    do exerccio, estudar as funes do organismo em relao ao trabalho fsico.

    Foi estabelecido um critrio no baseado em determinada carga, acima da qual seria

    problemtico e abaixo da qual haveria segurana, nem se basearam em estabelecer uma

    freqncia mxima, nem uma tcnica especifica para se fazer um esforo.

    O mtodo utilizado estabeleceu que, para uma situao qualquer de trabalho, no levantamento

    manual de cargas, existe um L.P.R. O L.P.R, uma vez calculado, compara-se com a carga real

    levantada, obtendo-se ento o ndice de Levantamento (I.L).

    Assim, estipula-se que se o valor do I.L for menor que 1.0, a chance de leso ser mnima e o

    trabalhador estar em situao segura; se o valor for de 1.0 a 2.0, aumenta-se o risco; e se a

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    situao de trabalho for maior que 2.0, aumentar o risco de leses na coluna e no sistema

    msculo-ligamentar (Waters, 1993; Couto, 1995).

    Segundo os pesquisadores uma carga abaixo dos limites recomendados:

    - a incidncia de leses dorsais e de acidentes no aumenta significativamente;

    - a carga limite induz uma fora de compresso da ordem de 350 kg sobre o disco L5-S1, quepode ser tolerado pela maioria dos trabalhadores jovens e em boas condies de sade;

    - o gasto energtico ultrapassaria 240 Watts quando a tarefa superior a CLR;

    - mais de 75% das mulheres e 95% dos homens so muscularmente capazes de levantar

    cargas correspondentes a CLR.

    FRMULA DO NIOSH

    Limite de peso recomendado:

    LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC ou;

    LPR = 23 x HM x VM x DM x FM x AM x CM

    Onde o valor 23, corresponde ao peso limite ideal, quer dizer, aquele que pode ser manuseado

    sem risco particular, quando a carga est idealmente colocada, compreendendo:

    FDH corresponde a distncia horizontal (em centmetros) entre a posio das mos noincio do levantamento e o ponto mdio sobre uma linha imaginria ligando os dois

    tornozelos. Calcula-se divindo a constante 25 pela distncia mensurada. Portanto se a

    carga est 30 cm de distncia do corpo, teremos: 25/30= 0,83 (fator de multiplicao da

    frmula)

    FAV corresponde distncia vertical (em cm) das mos com relao ao solo no incio

    do levantamento. O clculo se d por meio da frmula: 1 (0,003 x [V-75]) para

    alturas at acima de 75 cm e; 1 (-0,003 x [V-75]) para alturas at 75 cm . Lembramosque os nmeros apresentados so constantes da frmula e no devem ser modificados,

    cabendo apenas ao analista a mensurao da distncia das mos (na pega) no incio do

    levantamento Fator V. Por exemplo, se no levantamento de uma caixa sobre um

    palet de 20 cm: 1 (-0,003 x [20-75]) = 0,835 (Fator de multiplicao)

    FDVP corresponde distncia vertical percorrida desde do incio do levantamento at

    o trmino da ao. Sua frmula de clculo assim utilizada: (0,82 + 4,5/D); onde D a

    distncia total percorrida. Muitas pessoas acabam se confundindo neste fator em

    situaes em que a carga encontra-se em alturas elevadas, como por exemplo esteiras

    rolantes (trabalho de sacaria). Nesta condio podemos encontrar alturas iniciais de at

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    200 cm (ou 2 metros). O que fazer? Na verdade o procedimento o mesmo: se o

    trabalhador apanha um saco nesta altura e leva at o palet (40 cm), teremos: altura

    inicial (200) altura final (40) = distncia percorrida D (160 cm). Ai s substituir na

    frmula de clculo: (0,82 + 4,5/160) = 0,85 (fator de multiplicao);

    FFL o fator freqncia de levantamento obtido por meio de uma tabela pr-estabelecida. Nesta tabela deveremos observar quantas vezes o funcionrio realiza o

    levantamento dentro de um minuto, a durao desta atividade e a distncia vertical (V)

    em que o levantamento acontece.

    FRLT o fator rotao lateral do tronco como o prprio nome sugere, verifica a rotao

    em graus durante o transporte da carga. A frmula de clculo se d por: 1-(0,032 x A).

    Ento se um funcionrio realiza uma pega a sua frente e leva at uma esteira lateral

    esse ngulo pode aproximar-se de 90, ento: 1-(0,032 x 90) = 0,71 ser o fator declculo;

    FQPC o fator qualidade de pega da carga segue alguns fatores mais qualitativos. A

    figura abaixo explicita algumas recomendaes para se determinar a qualidade da pega:

    ndice de Levantamento (IL) do mtodo Niosh o que determina se uma atividade apresenta

    risco de leso msculo esqueltica e ainda quantifica esse risco.

    Ao contrrio do que muitas pessoas imaginam, o ndice de 23 Kg amplamente difundido no aplicvel todas as situaes de trabalho encontradas; e sim o IL.

    O IL nada mais do que a diviso da constante (23 kg) pela multiplicao de todos os outros

    fatores como j apresentados previamente.

    A interpretao dos resultados segue os seguintes parmetros:

    IL menor que 1,0> condio segura chance mnima de leso; IL entre 1,0 e 2,0> condio insegura mdio risco de leso;

    IL acima de 2,0> condio insegura alto risco de leso.

    O Niosh um mtodo amplamente difundido e utilizado no Brasil e no mundo. Podemos citar

    aqui algumas situaes em que pode ser aplicado, mas no podemos nos restringir a elas:

    Anlise de postos de trabalho;

    Percias ocupacionais; Priorizao de riscos entre diversos postos;

    Adequao legislao;

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    Simulao de projetos de melhoria

    Objetivo

    O objetivo deste trabalho fazer um levantamento bibliogrfico quanto utilizao de

    ferramentas de anlise de risco ergonmicos, em percias judiciais in lcus, demonstrando qual

    a sensibilidade de cada ferramenta, em situaes ergonmicas e segmentos corporais

    diferentes, enfim a ferramenta mais adequada, posteriormente foi demonstrada tabelas

    comparativas das interpretaes entre uma anlise ergonmica e um laudo pericial. Sendo as

    ferramentas citadas neste artigo: NIOSH, RULA E OWAS; que so ferramentas reconhecidas

    mundialmente.

    Metodologia

    Contextualizou-se a pesquisa realizando uma investigao bibliogrfica sobre percia judicial do

    trabalho, DORT e o histrico das ferramentas ergonmicas OWAS, RULA e NIOSH, que so

    mtodos de anlise dos fatores de risco ocupacionais, que podem ser aplicados em Pericia

    Judicial de DORT.

    Aps a reviso da literatura sobre os diversos instrumentos de anlise, procedeu-se o

    comparativo das interpretaes entre uma anlise ergonmica e um laudo pericial, e a

    avaliao desses instrumentos e a escala de mtodos de anlise ideais para aplicao em

    Percias Judiciais em casos investigativos de DORT.

    Resultados e Discusso

    O trabalho influencia na postura e nas condies musculoesquelticas do trabalhador, porm

    para obter essa correlao, fundamental termos instrumentao cientfica, que venham

    elucidar os fatos (VERONESI,2009).

    Por isso as ferramentas de anlise dos postos de trabalho so instrumentos qualitativos e/ou

    quantitativos fundamentais para a anlise ergonmica do trabalho, para analisar o riscomusculoesqueltico que a atividade laboral traz para a sade do trabalhador, possvel, no

    somente categorizar e quantificar as atividades laborais, como verificar as fases de maiores

    riscos biomecnicos, e verificar os segmentos que esto em riscos dentro da atividade. Essa

    identificao so fatores fundamentais para o estabelecimento do nexo causal e a fomentao

    da concluso do laudo pericial (VERONESI, 2009).

    A mesma tarefa realizada por diferentes trabalhadores nem sempre efetuada segundo um

    nico protocolo. Possivelmente em funo da natureza da tarefa, pelas caractersticasneuroorganizacional de cada indivduo, das diferentes formas de execut-las e de interagir com

    a organizao do trabalho, alguns indivduos apresentam problemas de sade que podem

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    manisfestar-se de diferentes formas, como as doenas do sistema musculoesqueltico, entre

    elas as posturais. (DUL e WEERDMEESTER, 1998 apud VERONESI, 2008).

    Dessa forma, para um trabalho pericial, fundamental que se analise todas as etapas da

    atividade laboral e o uso de uma ferramenta diagnstica torna mais claro e objetivo esse

    trabalho (VERONESI,2009).Estudos biomecnicos demonstram que determinada postura apresenta maior vantagem em

    determinada tarefa pela menor carga estrutural, menor gasto energtico, pelo menor tempo de

    fadiga e menores riscos de leses. (GIL, 1999 apud VERONESI, 2008). Em contrapartida,

    algumas atividades laborais, em razo da sua caracterstica operacional, proporcionam

    condies contrrias, favorecendo o aparecimento da leso. essa quantificao dos riscos

    biomecnicos que as atividades comportam que torna fundamental o uso das ferramentas em

    trabalhos periciais (VERONESI, 2009).Em percia devemos analisar o que a atividade laboral exige do trabalhador, e no analisar o

    que o trabalhador realiza. Quando falamos em atividade laboral, estamos falando em

    movimentos realizados em determinada postura de trabalho e a caracterstica que gera uma

    ao (amplitude de movimento, tipo de contrao, tipo de alavancas, tempo de durao e ciclo

    de movimento), para entender a atividade laboral que est em anlise na percia judicial.

    As ferramentas de anlise ergonmica citadas neste trabalho possuem grande importncia na

    elaborao do laudo pericial, que sero utilizadas conforme a atividade de trabalho realizada e

    a regio que se deseja avaliar, proporcionando assim uma prova bem fundamentada para

    expor a existncia ou no de nexo de causa.

    Ressaltando sempre que as ferramentas ergonmicas so mtodos auxiliares e no podem ser

    fator conclusivo em trabalhos periciais com anlise ergonmica da atividade laboral.

    A Ferramenta OWAS, a mais antiga das ferramentas, sendo um modelo simples para

    registro e anlise de posturas corporais em situaes ocupacionais. Avalia diferentes

    segmentos do corpo: membros superiores (trs posies), membros inferiores (sete posies)

    e coluna vertebral (quatro posies). Cada posio analisada refere-se a um nmero que deve

    ser assinalado no menu da folha de registro. Aps completar o registro, esses valores so

    lanados em uma tabela de inter-relao dos dados, chegando assim a uma classificao

    geral, a qual pode ser interpretada em quatro categorias de anlise, as quais indicam a

    necessidade de interveno daquela postura e o risco de leso biomecnica para cada

    categoria (GIL, 1999, apud VERONESI, 2008).

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    Quando utilizado no trabalho pericial, analisado o conjunto postural de maior sobrecarga

    biomecnica que a atividade exige do trabalhador e consequentemente exigiu para o

    reclamante e fazer a anlise tendo em vista essa situao. (VERONESI, 2010)

    Na percia ela analisa de forma relativamente rpida um grande nmero de posturas,

    identificando assim as mais crticas que tenham riscos de leses, utilizada principalmente naavaliao de riscos da coluna lombar, especialmente em atividades que exigem movimentos de

    flexo lombar. Durante a anlise, so consideradas as posturas relacionadas s costas,

    braos, pernas e carga manuseada pelo trabalhador ou reclamante. Cada segmento

    receber uma pontuao correspondente condio biomecnica que a atividade laboral

    proporcionar. Esses dados so lanados em tabelas pr-definidas e com o cruzamento

    dessas informaes, chega-se a um resultado final. O resultado final dado por meio de

    nmeros, onde cada um tem uma interpretao especfica, tento para anlise ergonmica,quanto para anlise pericial.

    Abaixo segue uma tabela comparativa entre uma anlise ergonmica e um laudo pericial

    usando a ferramenta OWAS. (VERONESI, 2009)

    RESULTADO FINAL INTERPRETAO

    ERGONMICA

    INTERPRETAO

    PERICIAL

    1 No so necessrias medidas

    corretivas.

    Sem riscos de leso.

    2 So necessrias correes

    em futuro prximo.

    Riscos mnimos de leso

    (25% - 50%)

    3 So necessrias correes

    to logo quanto possvel.

    Riscos moderados de leso

    (50% - 75%)

    4 So necessrias correes

    imediatamente.

    Riscos mximos de leso

    (75% - 100%)

    A Ferramenta RULA um mtodo de avaliao ergonmica rpida para identificar o nvel de

    risco ergonmico de indivduos, fora, trabalho muscular esttico, amplitude de movimento,

    posturas e atividades musculares. Em percia ideal na anlise de atividades que exigem

    repeties de membros superiores, pois avalia cada segmento separadamente. Para facilitar o

    registro o corpo foi dividido em dois grupos, A e B: o grupo A formado pelo membro superior

    (brao, antebrao e punho); o grupo B formado pelo pecoo, troco e pernas. adotada uma

    pontuao a cada movimento de cada segmento, onde o nmero 1 representa a pontuao

    mnima equivalente quele movimento ou quela postura de menor risco, enquanto vai

    aumentando a pontuao, aumentando o risco de leso. Para cada articulao, existem

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    condies que podem agravar ou atenuar o risco envolvido, chamadas de ajustes.Nas

    condies que podem aumentar o risco de leso, acrecido 1 ponto; por outro lado,

    subtraido 1 ponto das condies atenuantes. O trabalho muscular esttico ou repetitivo

    considerado pela ferramenta RULA como atividade muscular de riscos msculoesquelticos. A

    contrao considerada esttica, quando permanece sem movimentopor mais de 1 minutopara execuo de tarefas e consederada repetitiva quando ocorrem 4 movimentos ou

    repeties por minuto (VERONESI,2009).Aps as anlises e pontuaes dos segmentos

    corporais, elas so transportadas para tabelas pr-definidas pela ferramenta. feito o

    cruzamento dos dados em cada tabela de cada bloco, obtendo-se assim um resultado parcial

    representando cada bloco. Esse resultado parcial de cada bloco lanado em uma terceira

    tabela e, no cruzamento desses resultados parciais, obtido o resultado final. O resultado final

    uma interpretao correspondente ao rsco musculoesqueltico dos membros superiores.(GIL,1999 apud VERONESI,2008). Abaixo segue uma tabela comparativa entre uma anlise

    ergonmica e um laudo pericial usando a ferramenta RULA. (VERONESI, 2009)

    RESULTADO FINAL INTERPRETAO

    ERGONMICA

    INTERPRETAO

    PERICIAL

    1 ou 2 Anlise aceitvel. Sem riscos de leso.

    3 ou 4 Necessita de investigaes

    das informaes em breve.

    Riscos mnimos de leso

    (25% - 50%)

    5 ou 6 Necessita de investigaes

    das informaes e

    modificaes o mais rpido

    possvel.

    Riscos moderados de leso

    (50% - 75%)

    7 Necessita de investigaes

    das informaes e

    modificaes imediatamente.

    Riscos mximos de leso

    (75% - 100%)

    A Ferramenta NIOSH, mtodo para determinar a carga mxima a ser manuseada e

    movimentada manualmente numa atividade de trabalho; em percia judicial aplicado para

    analisar as condies biomecnicas em atividade de levantamento e transporte de carga exige,

    associado com o peso de manuseio; essa ferramenta analisa principamente o risco

    musculoesqueltico para a coluna lombar em atividades de levantamento e transporte de

    cargas como descritas acima. Leva em considerao quatro aspectos bsicos:

    epidemiolgicos, psicolgicos, biomecnicos e fisiolgicos. O mtodo propem o Limite de

    Peso Recomentado (L.P.R) e o ndice de Levantamento (I.L). O limite de peso recomentado

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    (L.P.R) significa o peso que deve ser manipulado nas caractersticas ergonmicas,

    organizacionais e de modo operatrio da atividade analisada. O ndice d Levantamento (I.L) o

    resultado final da ferramenta NIOSH, em que cada valoradquirido possui uma correlao de

    rsico de leso msculoesqueltico da regio lombar. O ndice de Levantamento adquirido por

    meio da diviso da carga real levantada com o Limite de Peso Recomendado encontrando naequao do NIOSH. (VERONESI,2009)

    Assim calcula-se que se o valor do I.L for menor do que 1.0, a chance de leso ser mnima e

    o trabalhador estar em situao segura; se o valor for de 1.0 a 2.0, aumenta-se o risco; e se a

    situao de trabalho for maior que 2.0, aumenta o risco de leso de colun e no sistema

    msculo-ligamentar (COUTO,1995). Pode-se fazer uma adequao na interpretao do NIOSH

    para ser utilizadas nos laudos cinesiolgicos-funcionais em percias judiciais e em laudos

    ergonmicos. Essa adequao foi dada tomando como base o I.L2, que corresponde a 100%de rsco de leso musculoesqueltico da regio lombar. A partir dessa referncia foi utilizada

    uma correlao matemtica para adquirir as porcentagens dos outros resultados finais do I.L,

    como demosntra a tabela abaixo (VERONESI,2009).

    RESULTADO FINAL (I.L) INTERPRETAO PORCENTAGEM DE

    RISCOS

    0 0,9 Risco mnimo 25%

    1 1,5 Risco moderado 50%

    1,6 2,0 Risco mximo 100%

    3,0 Acima do risco mximo 150%

    4,0 Acima do risco mximo 200%

    Consideraes finais: no presente levantamento bibliogrfico notou-se grande carncia de

    materiais de estudo em pericia judicial, especialmente da aplicabilidade de ferramentas

    ergonmicas em pericias judiciais trabalhistas.

    Referncias

    COUTO, H.A: Gerenciando a LER e os DORT nos tempos atuais. Belo Horizonte, 2007.

    MCATAMMEY, L.; CORLLET, E.N. RULA: A survey method for investigation of work releated

    upper limb disorders. Applied Ergonomics, 1993.

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    Mtodo RULA: IN. Apostila do Curso de Atualizao em Ergonomia do Centro de Estudos

    Augusto Leopoldo Ayrosa Galvo do Departamento de Medicina Social da FCM da Santa Casa

    SP. So Paulo: CEALAG, 2006.

    RULA:Rapid Upper Limb Assessment. Desenvolvido pela OSMOND, Ergonomic WorkplaceSolutions. Apresenta sistemas de avaliao de riscos ergonmicos.

    Disponvel em: . Acesso em: 06 maio. 2010.

    VERONESI, J.R.J: Percia Judicial para Fisioterapeutas. So Paulo, 2008.

    VERONESI, J.R.J: Fisioterapia do Trabalho:Cuidando da Sade Funcional do Trabalhador. So

    Paulo, 2008.