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Informativo da Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS
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Arquitetura e saúdeA identificação de que ambientes agradáveis podem ser mais do que coadjuvantes na promoção do bem-estar revela um promissor campo para o desenvolvimento de uma arquitetura mais humana nos estabelecimentos de assistência à saúde. Além disso, a permanente transformação dessas edificações para atender com mais conforto aos usuários e adequar os espaços às inovações em equipamentos e serviços configura um mercado em expansão para os arquitetos e urbanistas, que são competentes para projetar hospitais, clínicas, consultórios e laboratórios, abrangendo desde a concepção, dimensionamento, planejamento das complexas instalações e tratamento dos seus espaços internos e externos. PáginAs 18 A 21
PublicAção dA AssociAção de Arquitetos de interiores do brAsil/rs
#69Ano 13 | out/noV/deZ | 2014
P R O J E T OReferência internacional,
os diferenciais do trabalho do arq. e urb. João Filgueiras Limas
na Rede Sarah de HospitaisPáginas 24 a 26
P R O F I S S Ã OA especialização em
Arquitetura Hospitalar: desafios e oportunidades
Páginas 20 a 22
r o t e i r oOs harmoniosos contrastes da arquitetura de Córdoba,
na ArgentinaPáginas 28 a 31
S E M I N Á R I OAAI Brasil/RS reúne expoentes
da nova geração de profissionais de arquitetura em Porto Alegre
Páginas 32 a 35
Projeto Arq. e urb. PAtríciA sinisgAlli, sóciA do escritório gebArA conde sinisgAlli Arquitetos | Foto: Acervo
Arq. e urb. Silvia BarakatPresidente AAi BrAsil/rs - 2014-2015
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sArquitetura e Medicina. Uma relação impor-
tante, que merece a nossa atenção. Dedica-
mos esta edição da AAI em revista para tratar
desse tema, apresentado sob diversos enfo-
ques e de forma abrangente. Entendemos a
necessidade e percebemos o esforço das ins-
tituições do setor da saúde pela humanização
da arquitetura hospitalar. A qualificação dos
espaços internos em prol do bem-estar, do
conforto e da segurança dos pacientes e de-
mais usuários dos estabelecimentos ganha ain-
da mais importância com a expansão da “ten-
dência” da hotelaria hospitalar. Esse é um mer-
cado que nos diz respeito e que exige capa-
citação profissional e atuação multidisciplinar.
Nas próximas páginas, discorremos sobre a
complexidade desse segmento e você obser-
vará que se trata de um significativo nicho de
atuação para quem se dedica à Arquitetura de
Interiores. É preciso estar sintonizado com as
necessidades específicas, com as inovações
tecnológicas e com os preceitos de um proje-
to eficiente de arquitetura – como destacamos
na matéria sobre o trabalho exemplar desen-
volvido pelo grande arq. e urb. Lelé durante
décadas à frente da Rede Sarah de Hospitais.
IV REcIcLAgEM pRofISSIoNALFerramentas de trabalho para a arquitetura: Abnt – reformas; biM e Pós-ocupação. esses foram os temas dos três encontros realizados em agosto como parte do Programa de Atua-lização e valorização Profissional da entidade. A quinta edição da reciclagem Profissional es-tá prevista para os dias 3, 10 e 17 de novembro.
Parceiros aai Brasil/rs
2014
Estas empresas garantiram participação nos eventos e projetos da AAI Brasil/RS.
DIREToRIA - gESTão 2014/2015 pRESIDêNcIA Arq. e urb. silvia Monteiro barakat VIcE-pRESIDêNcIA Arq. e urb. cármen lila gonçalves Pires DIR. DE ExERcícIo pRofISSIoNAL Arq. e urb. Flávia bastiani DIR. DE RELAçõES AcADêMIcAS Arq. e urb. Maria bernadete sinhorelli e Arq. e urb. elisabeth sant’Anna DIR. DE coMUNIcAção / RELAcIoNAMENTo Arq. e urb. Ana Paula bardini DIR. DE MARKETINg Arq. e urb. Andres luiz Fonseca rodrigues DIR. DE oRgANIzAção DE EVENToS Arq. e urb. cezar etienne Machado de Araújo DIR. fINANcEIRA / TESoURARIA Arq. e urb. gislaine saibro
JoRNALISTA RESpoNSÁVELletícia Wilson (reg. 8.757)
coLAboRAçãotatiana gappmayer (reg. 8.888)
coNSELHo EDIToRIALArq. e urb. gislaine saibro
letícia Wilson
coMERcIALIzAçãoProjetato Assessoria e comunicação
51 3239.2273 - 51 [email protected]
EDIção gRÁfIcAevaldo tiburski | tiba
rua sport club são josé, 67/407Porto Alegre/rsceP 91030-510Fone 51 3228.8519www.aaibrasilrs.com.br
conceitos e opiniões emitidos por entrevistados e colaboradores não refletem, necessariamente, a opinião da revista e de seus editores. não publicamos matérias pagas. todos os direitos são reservados. Publicação trimestral, com distribuição dirigida a arquitetos e urbanistas, entidades de classe, instituições de ensino e empresas do setor. órgão oficial da AAi brasil/rs.
AAI EM REVISTA - ARQUITEToSA 12ª edição da publicação anual da AAi brasil/rs apresentará projetos de 20 arquitetos e urba-nistas associados. são eles: Aclaene de Mello, Albert Wainer, Alessandra Alves e daniela Zoppas, Ana lore burliga Miranda, Angela limberger, beatriz regina cherubini Alves e isabel grazziotin, carlos jardim e lisete jardim, cristiana brodt bersano, débora schmitt noronha e Maria Alice car-valho, gislaine saibro, Karen Haas, laline bittencourt, Marcelo john, nilza colombo, Paula Araújo ribeiro lino, tania bertolucci delduque de souza e tina Zimmermann. o lançamento acontecerá no dia 9 de dezembro, no jantar comemorativo ao dia do Arquiteto, quando igualmente será re-velado o vencedor do concurso ‘Melhores trabalhos da Arquitetura de interiores’ que conta, tam-bém, com o patrocínio do cAu/rs.
RT EM DEbATEem junho, a AAi brasil/rs promoveu novo encontro sobre “reserva técnica”, agora entre empre-sários e representantes da AsbeA/rs e do sAergs e com a participação do coordenador da co-missão de Ética e disciplina do cAu/rs, Marcelo Petrucci Maia.
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l A necessidAde de AdAPtAr os esPAços de sAúde às noVAs tecnologiAs e de deixá-los mAis Acolhedores Vem AmPliAndo o mercAdo PArA A AtuAção dos ProfissionAis nessA áreA
Arquitetura pelo bem-estar
com espaços menos estressantes as pessoas
curam-se mais rapidamente e as internações são
menos prolongadas, gerando maior rotatividade
e movimento nos hospitais, garantindo o retorno
do investimento na qualidade das estruturas. A
experiência do arquiteto e urbanista João filguei-
ras lima, o lelé – falecido em maio deste ano –
na rede sarah de hospitais contribuiu muito para
alterar as concepções tradicionais desses edifí-
cios, integrando conceito arquitetônico às neces-
sidades médicas e terapêuticas. “mostrou ainda
a importância da racionalização e da viabilidade
econômica dos processos unidos aos cuidados
com a higiene, com o aprimoramento dos espa-
ços internos, entradas de luz natural e renovação
do ar, o contato com a natureza através de liga-
ções com jardins e solários, o uso de cores, bem
Acervo gcsA
SEGUINDO O CONCEITO DA HOTELARIA, ÁREAS COMUNS DE HOSPITAIS E CLÍNICAS RECEBEM TRATAMENTO ATUAL E MODERNO, EM RELAÇÃO A REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIO
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como a parceria das artes plásticas”, detalha a
professora doutora da faculdade de Arquitetura
e urbanismo da Pucrs, leila nesralla mattar.
um dos conceitos que vem sendo traduzido
nessas construções para atender às novas expec-
tativas é o da hotelaria, uma vez que a hospeda-
gem passou a ser valorizada tanto pelos pacien-
tes como por seus acompanhantes. dessa forma,
áreas comuns como recepções, circulações, es-
tares e esperas começaram a ter uma atenção
especial quanto ao tratamento da luz natural e
artificial, revestimentos, mobiliário mais moder-
no, utilização de tonalidades diferenciadas para
as diferentes alas, aparelhos que contribuem pa-
ra maior comodidade e segurança do paciente,
adornos e complementos. “A melhoria dos am-
bientes internos e a hospitalidade também se tor-
naram primordiais nas unidades de internações,
distinguindo-as dos empreendimentos mais an-
tigos desse setor”, afirma leila.
A arquiteta e urbanista Patrícia sinisgalli, sócia
do escritório gebara conde sinisgalli Arquitetos
(gcsA) de são Paulo – que há 20 anos atua nes-
se segmento–, complementa que ao procurar um
hospital, inconscientemente, o usuário busca in-
dicadores de qualidade, competência e integri-
dade. nesse sentido, o espaço é uma das refe-
rências analisadas pelos pacientes e que deve
promover o máximo de conforto e funcionalida-
de. “os recursos destinados para hotelaria nesses
lugares transmitem a sensação de acolhimento,
trazem resultados físicos e emocionais e aumen-
tam os índices de satisfação em relação aos ser-
viços prestados”, aponta. Patrícia acrescenta que
o principal desafio para os profissionais é proje-
tar ambientes que sejam ao mesmo tempo refe-
rência de excelência, reduzindo o estresse e au-
xiliando na recuperação da saúde, que originem
maior produtividade aos funcionários e comuni-
quem sinais positivos aos clientes. A melhoria dos
locais de saúde, inclusive, foi um dos temas abor-
dados durante o Vi congresso brasileiro para o
desenvolvimento do edifício hospitalar, ocorrido
em florianópolis, em agosto passado, assim co-
mo as tendências nesse campo.
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“Assim como o projeto de interiores, A luminotécnicA tem o objetivo de descArActerizAr A imAgem friA hospitAlAr”, enfAtizA A Arq. pAtríciA sinisgAlli, sóciA do escritório gebArA conde sinisgAlli Arquitetos (gcsA). nAs fotos, projetos desenvolvidos por suA equipe, em são pAulo
uti de um dos novos Anexos do hospitAl de clínicAs de porto Alegre . nA expAnsão dA instituição, Atenção à tecnologiA, sustentAbilidAde e humAnizAção. As sAlAs têm AmplA vistA pArA A áreA externA
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l todos os complexos dessa área devem ser
criados de acordo com as regras da Agência na-
cional de Vigilância sanitária (Anvisa), vinculada
ao ministério da saúde, assim como das vigilân-
cias estaduais e municipais de saúde, que as ajus-
tam às especificidades locais. eles devem res-
ponder às resoluções rdc-50/2002 e rdc-51/
2011, que tratam da regulamentação técnica pa-
ra planejamento, programa, elaboração e ava-
liação de projetos físicos de estabelecimentos
assistenciais de saúde.
REDUzINDo A coMpLExIDADEPor serem edificações sempre sujeitas a mudan-
ças e ampliações, pensar a flexibilidade dos am-
bientes é essencial na concepção de projetos de
hospitais, ressalta a sócia do escritório gcsA, que
já realizou trabalhos em são Paulo de reforma e
revitalização do prédio dos ambulatórios do hos-
pital das clínicas, de interiores para a expansão
do hospital nossa senhora de lourdes, de refor-
ma da unidade de internação e uti pediátrica do
hospital sírio libanês, entres outros. Patrícia re-
força ainda a importância de simplificar a com-
plexidade dessas construções sempre que for viá-
vel, adotando soluções como circulações amplas
e bem sinalizadas para ajudar o usuário a se lo-
calizar, priorizar o paciente e acompanhantes per-
sonalizando os espaços, empregar iluminação na-
tural sempre que possível e proporcionar conta-
to com o exterior. “Assim como o projeto de in-
teriores, a luminotécnica tem o objetivo de des-
caracterizar a imagem fria hospitalar”, frisa.
uma ressalva que a arquiteta faz refere-se aos
materiais utilizados nesses prédios: além de suas
características técnicas, estéticas e assépticas,
devem ser consideradas questões ambientais, co-
mo o uso de produtos que causem baixo impac-
to ao meio ambiente, reuso da água, redução da
geração de resíduos e eficiência energética, por
exemplo. ela conta que nos empreendimentos
desenvolvidos pelo escritório costumam optar por
itens como forro removível, que facilita o acesso
e manutenção das instalações, e pisos em man-
tas. esse recurso é bastante empregado por ser
resistente a produtos químicos e ao tráfego de
carrinhos e macas, possuir propriedades térmi-
cas agradáveis, não ser tão frio como mármores
e granitos, absorver parcialmente os ruídos e por
permitir criar desenhos que auxiliam na setoriza-
ção. A utilização de cores também afeta o com-
portamento humano, gerando estímulos que fa-
vorecem a saúde. contudo, adverte Patrícia, é
preciso tomar cuidado com a superestimulação
que pode promover resultados negativos nas pes-
soas. ela pondera que os arquitetos interessados
em atuarem nesse setor precisam de especiali-
zação para conhecer como esses espaços fun-
cionam e suas particularidades.
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SUSTENTAbILIDADE EM pAUTAcom uma área construída que chegará a 88 mil
m2, os dois novos anexos do hospital de clínicas
de Porto Alegre foram projetados com caracte-
rísticas de greenbuilding por uma equipe multi-
disciplinar formada por profissionais especializa-
dos em arquitetura e engenharia hospitalar. se-
gundo o chefe do serviço de engenharia e edi-
ficações da instituição, engenheiro civil fernando
martins Pereira da silva, uma das inovações da
obra envolve o reaproveitamento dos insumos
térmicos dos prédios. Para isso, está sendo er-
guido um complexo que funcionará como um cen-
tro de distribuição, englobando o conceito de
co-geração de energia. “hoje, o sistema todo é
gerado e co-gerado a gás natural. o excedente
das temperaturas dos gases será utilizado para
o aquecimento de água através de trocadores de
placas, não vamos usar resistências elétricas, se-
rá tudo através de troca térmica”, explica.
Além disso, outras iniciativas sustentáveis se-
rão adotadas como a recuperação de água do
lençol freático, o reaproveitamento da água e a
instalação de uma praça de convivência, que te-
rá projeto paisagístico da arquiteta e urbanista
léa Japur. “A ideia é integrar a sociedade a esse
espaço do clínicas, tornando mais agradável a
permanência das pessoas que ficam no entorno
aguardando atendimento, muitas vezes vindas do
interior do estado e que não têm onde ficar”, sa-
lienta silva. com relação às cerca de 240 árvores
que foram retiradas para o início dos trabalhos,
o engenheiro destaca que serão plantadas como
compensação aproximadamente três mil mudas.
o hospital contratou uma bióloga para atuar em
conjunto com a engenheira ambiental da institui-
ção na avaliação do melhor lugar para concreti-
zar esse plantio.
com previsão de conclusão em 2017, as duas
edificações contarão ainda com dois subsolos ca-
da uma, acrescentando 722 vagas de estaciona-
mento, ampliação do ambiente da emergência
de 1.700 m2 para 5.159 m2 e dos 54 leitos do cen-
tro de tratamento intensivo (cti) para 110. silva
assinala que a humanização foi uma questão es-
sencial na concepção da expansão. “A cti será
toda monitorada e os pacientes terão janelas pa-
ra o lado externo”, descreve.
A recepção e o registro ambulatoriais recebe-
rão novas instalações, mais amplas, modernas e
hospital da unimed em caxias do sul: inovação, tecnologia e referências à tradição italiana no tratamento da fachada
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novAs instAlAções do hospitAl mãe de deus, em porto Alegre. mudAnçAs pAssArAm pelA reorgAnizAção do processo de Acolhimento pArA proporcionAr mAis AgilidAde no Atendimento e segurAnçA Aos pAcientes
Fotos: MArcelo donAdussi / divulgAção HosPitAl Mãe de deus
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acolhedoras aos usuários. ele complementa que
a sala de recuperação pós-anestésica passará dos
atuais 22 leitos para 90 e possuirá mais 60 pol-
tronas de restabelecimento. “As modificações, as-
sim como atenderão melhor às pessoas, aumen-
tarão a produção assistencial e aperfeiçoarão o
atendimento e os processos realizados no clíni-
cas. isso traz um ganho fantástico em termos de
qualidade e segurança à saúde”, argumenta.
êNfASE NA HUMANIzAçãoA principal característica do projeto do hospital
da unimed nordeste, em caxias do sul, foi o fo-
co no lado humano. “nossa preocupação era ofe-
recer espaços nos quais os usuários se sentissem
confortáveis e valorizados. Pesquisadores indi-
cam que a mente, o cérebro e o sistema nervoso
podem ser diretamente influenciados pelos ele-
mentos sensoriais do meio ambiente e propõem
que, em vista disso, os locais sejam estimulantes
e dinâmicos”, detalha o responsável pelo empreen-
dimento, arquiteto e urbanista Jonas badermann,
do escritório badermann Arquitetos Associados,
de Porto Alegre. nesse sentido, em um hospital,
a humanização, ambiência e a consequente res-
posta positiva das pessoas a estímulos como co-
res são fundamentais para disponibilizar “espa-
ços terapêuticos”, como define o profissional es-
pecializado em arquitetura hospitalar.
inaugurado em dezembro de 2004, o com-
plexo possui uma área construída de 12.280 m2,
116 leitos, sendo 20 de unidade de terapia in-
tensiva, oito salas de cirurgia e serviços de he-
modinâmica, endoscopia e parque de imageno-
logia completo. Além do projeto arquitetônico,
o escritório concebeu o detalhamento do mobi-
liário e a comunicação visual. outra particulari-
dade da edificação refere-se a como o conceito
de humanização foi traduzido nas fachadas. “co-
mo o prédio encontra-se em caxias do sul, re-
gião de tradição italiana, utilizamos uma com-
posição com elementos que remetem à lingua-
gem clássica, com um desenho de esquadrias
muito usado nas casas coloniais”, revela. dessa
forma, o projeto promoveu uma identificação do
paciente com sua cultura, de maneira que a ar-
quitetura já o acolhesse conforme ele se apro-
ximasse do edifício, assim como, em alguns mo-
mentos, o emprego de materiais como o vidro
espelhado permite que os usuários identifiquem
nas fachadas a alta tecnologia correspondente
ao seu interior.
REoRgANIzAção DoS fLUxoSA ampliação e melhoria da área de emergência
e Pronto-atendimento do hospital mãe de deus
(hmd), foram concluídas no primeiro semestre
deste ano, sob a responsabilidade do arquiteto e
urbanista Paulo cassiano. A intervenção resultou
em um modelo diferente de acolhimento dos pa-
cientes, estabelecido por meio da separação fí-
sica da recepção dos casos de alta, média e bai-
xa complexidade. Para isso, a instituição investiu
na criação de um ambiente específico para os
atendimentos de baixa complexidade, que repre-
sentam cerca de 70% da procura no hmd. esses
usuários passam, agora, por triagem inicial e, em
seguida, são encaminhados para o novo espaço
e recebidos nos consultórios médicos do local. o
padrão adotado também prevê uma considera-
ção especial para os acompanhantes dos clien-
tes, com um fluxo de informações mais ágil sobre
cada um deles.
de acordo com o diretor geral do sistema de
saúde mãe de deus, claudio seferin, o objetivo
é atender aos pacientes em menos tempo, des-
congestionando a emergência e dando atenção
personalizada a cada usuário e familiar. seguin-
do a premissa de reorganização do processo de
acolhimento, para proporcionar mais agilidade e
segurança, uma sala de monitoramento e con-
trole de fluxo de usuários será responsável pelo
sistema de gerenciamento do atendimento de
cada cliente, assim como pelos tempos deman-
dados em cada etapa: exames, medicação e pe-
ríodo de internação, entre outras informações
em tempo real.
com investimentos de cerca de r$ 5 milhões,
a emergência conta atualmente com cinco con-
sultórios e sala de medicação com seis lugares.
o lugar onde já funcionava esse espaço ficou de-
dicado exclusivamente aos pacientes de alta com-
plexidade e teve sua estrutura expandida. A sala
de observação, por exemplo, antes com nove lei-
tos, hoje possui 16 leitos e a uti da emergência
ganhou mais três leitos, além dos dez já existen-
tes. todas as mudanças realizadas resultarão em
um aumento de 30% na capacidade de atendi-
mento do mãe de deus.
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Inovação em complexo médicotudo no mesmo lugar. essa é a essência do novo empreen-
dimento que a cyrela goldsztein está desenvolvendo em Por-
to Alegre, o medplex medical center. Voltado para atender
aos profissionais da saúde em praticamente todos os níveis
de suas necessidades, o prédio com duas torres – localizado
no bairro santana, próximo à Avenida ipiranga – terá desde
elevadores com grande capacidade para evitar filas e trans-
portar macas até descarte de lixo hospitalar em todos os an-
dares e redes de infraestrutura específicas. o projeto contem-
pla também corredores com 2m de largura, portas com folhas
duplas e abertura de 1,3m, banheiros com acessibilidade em
todos os pisos, consultórios preparados para junções em qua-
tro, seis e oito unidades para formação de clínicas, estaciona-
mento rotativo com serviço de manobrista e lojas e consultó-
rios com iniciativas integradas e complementares. A previsão
de entrega é 2017.
conforme o diretor de negócios da companhia, ricardo Jor-
nada, a possibilidade de comprar uma unidade em um polo de
saúde completo é um dos principais diferenciais do complexo.
“normalmente, existe apenas a locação como modelo possível
nesse tipo de construção. no medplex, o médico, por exemplo,
é dono do seu endereço”, ressalta. A integração é outro ponto
destacado por ele, uma vez que a edificação reúne, na mesma
estrutura, clínicas day hospital, bloco cirúrgico de oftalmologia,
demandas ambulatoriais e outros serviços, como exames labo-
ratoriais, diagnósticos por imagem e terapias. A arquiteta e ur-
banista sandra Axelrud, responsável pelo projeto, acrescenta
que tanto pacientes quanto profissionais da saúde contarão com
espaços bem planejados e facilidades como operações “ânco-
ra”, café, farmácia, fitness com pilates, auditório, salas de reu-
niões e área gourmet com terraço e banco.
sandra explica que o empreendimento busca, além de enten-
der os seus usuários, oferecer atributos de comodidade, segu-
rança e “muita arquitetura funcional”. “As regulamentações da
Anvisa aplicáveis a edifícios de saúde foram observadas deta-
lhadamente para que o ambiente fosse adequado aos serviços
ali realizados e, assim, o profissional o reconhecesse como seu”,
afirma. segundo ela, o complexo permite ainda intercalar ativi-
dades de estudo, lazer, esporte e confraternização, uma vez que
as pessoas que trabalharão no local passam, muitas vezes, a
maior parte do dia longe de suas residências.
com relação aos desafios de projetar um estabelecimento li-
gado à saúde, sandra observa que, em primeiro lugar, a equipe
de arquitetura, engenharia e desenvolvimento imobiliário teve
de sair de sua “zona de conforto” para pensar em um conceito
inédito para eles. “contratamos a assessoria da lúcia lisboa
Arquitetura hospitalar para contribuir com as ideias de fluxo e
de operação de um centro como esse”, salienta. com uma área
total de 30.500 m2, em um terreno de 7 mil m2, o medplex pos-
suirá 187 consultórios de 35 m2 a 375 m2, com junções de até
745 m2, e três lajes inteiras de 745 m2 para grandes clínicas. Já
a torre office, terá 154 salas comerciais de 29 m2 a 215 m2.
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com área total de 30,5 mIl metroS QUadradoS No BaIrro SaNtaNa, em Porto aleGre, emPreeNdImeNto VaI INteGrar dUaS torreS, reUNINdo HoSPItal dIa, coNSUltÓrIoS mÉdIcoS, laBoratÓrIoS e eSPaÇoS de laZer e de eSPorteS
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sala de espera de uma clínica de psiquiatria infantil e hebiátrica localizada em florianópolis. projeto da idein – ideia + desenvolvimento – arquitetura, dirigida por emerson
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A comPlexidAde do desenVolVimento do edifício hosPitAlAr mereceu A criAção de um congresso nAcionAl esPecífico. em suA sextA edição, reAliZAdA em Agosto, o cbdeh trAtou dA excelênciA em Ambientes de sAúde: exPeriênciAs e eVidênciAs
estAbelecimentos de sAúde de menor
Porte, descentrAliZAdos nAs grAndes
cidAdes e hotelAriA hosPitAlAr são
AlgumAs dAs chAmAdAs tendênciAs do
setor, como APontA, nestA entreVistA à
AAi em revista, o Arquiteto e urbAnistA
emerson dA silVA, Presidente do cbdeh e
futuro Presidente dA AssociAção
brAsileirA PArA o desenVolVimento do
edifício hosPitAlAr. o congresso foi
reAliZAdo em floriAnóPolis/sc
um novo modeloAAi em revista – o cbdeh apresentou modelos nacionais e internacionais de hospitais pri-vados e públicos em diversos países. dos exemplos apresentados, quais os diferenciais e qual a tendência no exterior no planejamento desses espaços?emerson – o congresso trouxe diversas experiências do exterior, em especial os trabalhos
que vêm sendo realizados na Argentina, espanha, escandinávia, estados unidos e Austrália.
foram várias contribuições, mas cabe destacar uma reflexão bastante interessante para o
contexto urbano – a redução no tamanho das edificações hospitalares. A tendência é a cons-
trução de hospitais com no máximo 200 leitos, em estruturas de saúde descentralizadas, dis-
tribuídas pela cidade, contribuindo para a redução dos trajetos e fluxos internos do ambien-
te urbano. A maior proximidade entre a estrutura assistencial e os bairros permite um acesso
fácil ao equipamento e menores deslocamentos, exatamente o que preconizam as cidades
contemporâneas preocupadas com a sustentabilidade e a qualidade do viver urbano.
outro destaque é a evolução nos estudos que demonstram que um ambiente hospitalar
adequadamente projetado, de caráter acolhedor, seguro e organizado, pode contribuir signi-
ficativamente para a cura dos usuários. essa situação está cada vez mais sendo pauta de pes-
quisas em centros renomados pelo mundo afora. A “ambiência” dos espaços vem sendo tra-
tada por diversas disciplinas, com destaque para a psicologia, onde as reflexões sobre a psi-
codinâmica dos ambientes recebe especial atenção nos estudos mais recentes.
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AAi em revista – em que nível estão os projetos brasileiros nesta área?emerson – temos diversos exemplos de relativa
expressividade no contexto internacional, em es-
pecial nas questões regulatórias, onde o brasil
tem destaque e vem sendo copiado por outros
países que estão em processo de desenvolvimen-
to de seus marcos regulatórios. outro item que
nos coloca em destaque internacional é o avan-
ço nas questões de segurança nos ambientes hos-
pitalares, alguns hospitais são referência neste
assunto, é o caso do hospital moinhos de Vento,
em Porto Alegre, que possuí um sistema de ges-
tão de infraestrutura, compatível com os grandes
centros internacionais.
AAi em revista – o mercado nacional, em relação a materiais e equipamentos, está bem abastecido?emerson – como em outras áreas da economia,
o brasil vem recebendo atenção especial dos fa-
bricantes internacionais de materiais e equipamen-
tos médicos. esses, vislumbrando um mercado
atrativo, implantam aqui suas unidades de produ-
ção e distribuição, uma vez que grande parte dos
financiamentos do setor (ex.: finAme) exigem re-
gistros nacionais dos produtos, e uma alternativa
amplamente empregada pelos grandes players
do setor é a instalação de unidades no brasil.
da mesma forma, muitos fabricantes nacionais,
vêm desenvolvendo linhas de produtos orienta-
das para esse segmento. o momento de reestru-
turação de grandes complexos, a necessidade de
construção de novos equipamentos e a exigência
cada vez maior dos usuários do sistema impul-
sionam o setor e tornam o mercado muito atrati-
vo para empresas que não exploravam esse setor.
AAi em revista – diretores de instituições de saúde costumam reclamar da falta de mão de obra especializada para a construção de edifí-cios hospitalares. segundo eles, é grande o des-preparo de construtoras e empreiteiras. essa é uma realidade local, regional, nacional? como resolver essa questão?emerson – definitivamente, essa situação não é
uma peculiaridade local ou regional. falta mão de
obra qualificada para o setor de construção nesse
segmento, em especial por conta de sua peculia-
Arq. e urb. emerson dA silvA, diretor de relAcionAmento dA idein ArquiteturA e presidente do congresso, defende A especiAlizAção nA áreA. “não é mAis Admissível que edifícios com tAmAnhA complexidAde sejAm projetAdos e construídos com desconhecimento de cAusA”
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l “os estAbelecimentos de sAúde não deVem ser de ProPorção
muito exíguAs, Pois se tornAm Pouco rentáVeis nA suA
oPerAção; e nem de ProPorções exAgerAdAs, que dificultem
o controle e A mAnutenção dAs Ações do cotidiAno.”
15
ridade. As instalações especiais, os acabamentos
diferenciados, os sistemas e a complexidade das
relações entre eles exigem um conhecimento mais
específico para a execução a contento das obras
hospitalares. muitos critérios de segurança a se-
rem seguidos e um controle mais rígido do crono-
grama de execução – uma vez que diferentes agen-
tes interagem no mesmo espaço, no mesmo ins-
tante ou em momentos sincronizado, fazem com
que poucas empresas explorem esse segmento.
AAi em revista – você costuma dizer que o mo-delo ideal de edifício hospitalar deve compor-tar até 200 leitos. por quê?emerson – A gestão de um complexo com gran-
des proporções vem se mostrando cada vez mais
ineficaz, sejam nas suas relações internas ou ex-
ternas. no ambiente urbano, as operações de trá-
fego estão se tornando cada vez mais restritivas,
o grande fluxo de pacientes, carga e descarga
em grandes montas, a geração de resíduos em
larga escala colocam em risco a ambiência do
entorno. operações menores podem ser uma al-
ternativa para mitigar o impacto desses equipa-
mentos na sua implantação urbana. outra ques-
tão importante diz respeito ao controle e a ras-
treabilidade dos diferentes agentes que interagem
no ambiente hospitalar, pessoas e insumos, ad-
ministrá-los em grandes proporções vem se tor-
nando uma operação cada vez mais complexa e
onerosa. A alternativa de centros com dimensões
mais reduzidas pode permitir uma gestão mais
assertiva e direcionada.
AAi em revista – você considera possível, em médio prazo, que os imponentes e complexos edifícios hospitalares deixem de existir, em subs-tituição a unidades menores e descentralizadas?emerson – Acredito que sim. A tendência, cada
vez maior, é a busca por equipamentos mais sus-
tentáveis, sejam pelas questões ambientais, eco-
nômicas ou sociais. talvez os grandes complexos,
já configurados, permaneçam como estão, mas,
os novos devem seguir essa orientação. eles não
devem ser de proporção muito exíguas, pois se
tornam pouco rentáveis na sua operação; e nem
de proporções exageradas, que dificultem o con-
trole e a manutenção das ações do cotidiano.
AAi em revista – esse é um mercado que está em expansão, considerando as diversas inicia-tivas empresariais na região sul, especialmen-te, com a construção ou reforma de hospitais e de centros médicos? qual a motivação, na sua opinião?emerson – o mercado de saúde vem sendo mo-
tivado pelo momento econômico que o País vive
nesta década. A pirâmide social brasileira vem
sofrendo uma alteração significativa – um “incha-
ço” na faixa etária compreendida entre os 20 e
60 anos, exatamente o período mais produtivo
da vida, onde o poder aquisitivo, resultado desta
etapa economicamente ativa, impulsiona o cha-
mado “poder de compra”. também é nessa eta-
pa de vida que se formam as famílias, e a saúde
aparece como elemento indispensável nesse ce-
nário, com filhos em fase de crescimento. É ce-
nário fortuito para os planos de saúde, que vêm
implantando, cada vez mais, seus serviços pró-
prios – centros de saúde, unidades de diagnósti-
co, hospitais e estruturas de atendimento.
Por outro lado, a população brasileira enve-
lheceu, e muito, nos últimos anos. no início dos
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Sala de eSpera Secundária de um laboratório de FlorianópoliS. projeto da idein arquitetura
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“o ProfissionAl de ArquiteturA que se dedique Ao
entendimento de todA A comPlexidAde do temA deVe ser
o ‘mAestro’ dessA oPerAção. mAs, PArA tAnto, deVe ter
consigo umA equiPe muito bem PrePArAdA.”
anos 1990, a expectativa de vida era de 66,9
anos. hoje, passa dos 74. A vitória da longevida-
de, a perspectiva de viver mais, no entanto, nos
trouxe um novo problema. o perfil das enfermi-
dades que mais afligem os brasileiros mudou.
são as doenças crônicas mais comuns em idosos
e o tratamento especializado para elas o maior
gargalo do sistema de saúde. As estruturas exis-
tentes são insuficientes para tamanha demanda.
temos muito por fazer.
AAi em revista – como o arquiteto e urbanis-ta pode e deve se preparar para atuar nesse mercado?emerson – Assim como em qualquer negócio,
a especialização e a compreensão dos temas
em questão permitem ao profissional maior in-
serção no segmento. não é mais admissível que
edifícios com tamanha complexidade sejam pro-
jetados e construídos com desconhecimento de
causa. o planejamento é o principal aliado. com
as verbas disponíveis, poderia ser feito muito
mais se tudo fosse pensado de acordo com as
necessidades de cada localidade. A eficiência e
a segurança de um empreendimento de saúde
estão cada vez mais associadas à localização,
aos projetos e à manutenção adequada, além
da adaptação aos novos tratamentos, profissio-
nais e tecnologias incorporadas pela medicina
contemporânea.
AAi em revista – considerando a tendência de investir cada vez mais na promoção do bem-es-tar do paciente, hospitais têm adotado clara-mente a linguagem do segmento hoteleiro. qual a importância desse movimento e quais os re-sultados reais possíveis?emerson – A hotelaria hospitalar já é uma reali-
dade em diversos centros de atenção à saúde.
mas, ela é bem mais complexa do que vem sen-
do difundido por aí. nesse contexto, os serviços
de apoio, normalmente esquecidos ou relegados
como questões secundárias, são vitais para o ple-
no funcionamento das operações. não se pode
exigir que a alimentação seja adequada e satis-
fatória se o local onde ela é produzida não este-
ja projetado e implementado a contento. como
exigir que o atendimento do corpo de enferma-
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18
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gem seja de excelência se as estações de traba-
lho não apresentam condições adequadas para
o desenvolvimento das rotinas? enfim, para que
os protocolos possam ocorrer com eficiência e o
atendimento ser de excelência, precisamos pro-
jetar o edifício hospitalar com muito rigor, sejam
nas áreas onde se executam as atividades “fim”
(assistenciais), ou as atividades “meio” (apoio).
AAi em revista – com a crescente oferta de uni-dades hospitalares, essa questão passará a ser considerada pelo paciente na escolha do local onde quer ser internado?emerson – Acredito que não só pelos pacientes,
mas também pelos médicos e equipes assisten-
ciais. um cirurgião renomado e sua equipe com
certeza irão optar por unidades de saúde que
lhes permitam maior segurança e confiabilidade
no desenvolvimento das suas atividades, bem co-
mo maior conforto e tranquilidade no seu coti-
diano de trabalho. esses agentes são os que cha-
mamos de “clientes internos”, os geradores de
clientela externa. um bom cirurgião que opere
no meu corpo clínico atrairá uma clientela expres-
siva para o meu negócio!
AAi em revista – em relação à promoção da se-gurança no espaço hospitalar, quais os desafios?emerson – são vários aspectos envolvidos com
o tema segurança no ambiente hospitalar, tanto
que em 2013 a AnVisA publicou uma resolução
diretiva de colegiado, a rdc 36, específica para
esse tema, com vistas à promoção de ações para
a segurança do paciente em serviços de saúde.
Ações de gestão dos riscos no serviço de saú-
de conforme as atividades desenvolvidas pela uni-
dade, que vão desde a implementação de pro-
cessos, passando pelo controle da qualidade das
instalações e infraestrutura até os protocolos de
controle de contaminação, e nesse contexto o
ambiente seguro é uma meta a ser atingida pelas
instituições.
AAi em revista – A promoção do conforto am-biental e a garantia da qualidade do ar, por exem-plo, parece ser um dos maiores desafios, certo?emerson – o sistema de condicionamento de ar,
e todos os seus agregados – exaustão, renovação
e outros sistemas térmicos –, se não for bem pro-
jetado e operado dentro dos critérios adequados
de mantenabilidade, torna-se um grande vilão do
ambiente hospitalar seguro. Para tanto, é neces-
sário o estabelecimento de protocolos rígidos du-
rante o processo de projeto, instalação e operação.
Afinal, de nada adianta a instalação de um sistema
complexo se não temos uma manutenção especí-
fica e adequada para o seu pleno funcionamento.
AAi em revista – percebe-se que a formação de uma equipe multidisciplinar é imprescindível para um projeto eficiente, certo? o arquiteto e urbanista é o profissional habilitado a coorde-nar esta equipe?emerson – Acredito que o profissional de arqui-
tetura que se dedique ao entendimento de toda
a complexidade do tema deva ser o “maestro”
dessa operação. mas, para tanto, deve ter consi-
go uma equipe muito bem preparada. com a par-
ticipação de profissionais de diversas áreas, des-
de o engenheiro clínico, indispensável na defini-
ção das instalações adequadas para a implemen-
tação do parque tecnológico, até o corpo de en-
fermagem, que realmente “presta o serviço as-
sistencial”, passando por um grupo de engenhei-
ros com conhecimento específico das instalações
e peculiaridades do ambiente hospitalar.
“A hotelAriA hosPitAlAr Já É umA reAlidAde em diVersos centros de Atenção à sAúde.
mAs, elA É bem mAis comPlexA do que Vem sendo difundido Por Aí.”
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OutrO ângulO da sala de espera da clínica de psiquiatria infantil
e hebiátrica em flOrianópOlis
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ão
recepção do hospital são lUiZ JaBaQUara/rede d’or, em são paUlo. proJeto da GeBara coNde siNisGalli arQUitetos
Acervo gcsA
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ProJetos nA áreA dA sAúde demAndAm ProfissionAis com formAção AProfundAdA
conhecimento especializado
A busca por uma vida mais saudável tem leva-
do um número cada vez maior de pessoas a pro-
curarem os serviços médicos de maneira preven-
tiva. esse movimento, em conjunto com a atuali-
zação permanente dos espaços de hospitais, clí-
nicas e consultórios, representa uma oportunida-
de de negócios para os arquitetos que desejam
atuar nesse segmento. contudo, para entrar nes-
se mercado, é preciso conhecimento especializa-
do devido à complexidade das estruturas de as-
sistência à saúde.
desde 2007, o instituto de Administração hos-
pitalar e ciência da saúde (iAhcs), em Porto Ale-
gre, conta com a pós-graduação em Arquitetura
hospitalar com o objetivo de capacitar os profis-
sionais nos aspectos técnicos e normativos espe-
cíficos para o planejamento físico e funcional des-
ses ambientes. “A saúde precisa ser vista de mo-
do global, abrangendo também seus sistemas,
organização, recursos tecnológicos e humanos e
legislação”, observa o arquiteto e urbanista Jonas
badermann, coordenador do curso e especialista
em Administração e Arquitetura hospitalar.
com duração de 18 meses e professores bra-
sileiros e argentinos que trabalham no setor, são
oferecidas pela instituição até 40 vagas anual-
mente para arquitetos e urbanistas e engenheiros
civis que buscam aprofundar conteúdos que vão
desde como aliar, em seus projetos, os quesitos
arquitetônicos às exigências das vigilâncias sani-
tárias, ao entendimento das funções de cada uma
das unidades e serviços de um hospital. os alu-
nos saem preparados para avaliar as necessida-
des de instalações especiais, mobiliário e equi-
pamentos, como climatização, gases medicinais,
instalação elétrica, proteção radiológica e pre-
venção contra incêndio. conforme badermann,
aqueles que não destinam tempo para o estudo
não têm condições para atuar nesse campo por
causa dos inúmeros processos e requisitos legais
que envolvem a construção de um empreendi-
mento dessa natureza.
“o profissional precisa saber o que acontece
na portaria, em uma sala de cirurgia, no berçário,
conhcer as rotinas e os fluxos, por exemplo. com
isso, ele ganha mais segurança para projetar”,
aponta o coordenador. ele explica que o curso
do iAhcs foi criado em razão da inexistência de
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iss
ão disciplinas exclusivas nos currículos de gradua-
ção sobre o planejamento arquitetônico de esta-
belecimentos assistenciais de saúde.
com experiência de 16 anos no desenvolvimen-
to de especializações em arquitetura e saúde, a
coordenadora do departamento de cursos do
instituto de Arquitetos do brasil no estado (iAb/
rs), tatiana santiago, reforça a importância da-
queles que trabalham nesse setor estudarem as
especificidades das estruturas hospitalares para
poder criar bons projetos. “uma das grandes di-
ficuldades enfrentadas pelos profissionais envol-
ve a não aprovação dos complexos pelo não aten-
dimento às resoluções rdc 50 e 51, da Agência
nacional de Vigilância sanitária (Anvisa)”, relata.
tatiana comenta que o iAb já realizou, neste ano,
um curso específico sobre normatização exata-
mente para tratar das exigências legais que de-
vem ser cumpridas nos empreendimentos. ela
antecipa que os próximos encontros abordarão
temas como projetos para estabelecimentos de
saúde e prevenção contra incêndio.
criadas para responder à demanda dos arqui-
tetos, as atividades do instituto são de curta du-
ração, de 12 a 48 horas, e têm como caracterís-
tica principal serem informativas e práticas, com
a possibilidade de aplicar o conhecimento adqui-
rido logo em seguida. A coordenadora revela que
já formou mais de 300 profissionais ao longo de
sua trajetória, iniciada no centro de ensino con-
tinuado (cenec) e após na sua empresa tgs, que
teve sua última turma de especialização em Ar-
quitetura hospitalar concluída em maio de 2014.
sobre as vantagens de quem se aprimora na área,
ela ressalta o reconhecimento dos arquitetos es-
pecialistas, inclusive, com concursos que solici-
tam esse diferencial, a contribuição que eles dão
ao bem-estar das pessoas e a capacitação para
planejar qualquer complexo relacionado à saúde.
DA TEoRIA à pRÁTIcAA arquitetura hospitalar tem um cunho social. ela
não cura o paciente, mas ajuda na sua recupera-
ção. dessa forma a arquiteta Adriana silva da sil-
va define o segmento em que atua. Para ela, o
ambiente hospitalar é um local onde ocorre um
cruzamento de sentimentos, de expectativas, um
espaço que o profissional busca tornar mais ame-
no, levando conforto àqueles que nele permane-
cem. trabalhando exclusivamente com estruturas
médico-hospitalares, Adriana fez pós-graduação
em Arquitetura e engenharia de estabelecimen-
tos Assistenciais de saúde (promovida pelas ins-
tituições unievangélica e tgs) e em gestão de
recursos físicos e tecnológicos em saúde (da
fiocruz), ambas na capital gaúcha.
o interesse pelo setor começou quando ainda
era estudante de Arquitetura e foi estagiar na
parte Administrativa do hospital luterano, da ul-
bra, em Porto Alegre. “essa experiência com os
pacientes, seus familiares e funcionários naquele
local me motivou a procurar mais conhecimentos
dentro do meu campo”, revela. ela também pas-
sou pelo outro lado da moeda, sendo contratada
pela Vigilância sanitária de canoas, lugar em que
aprovava projetos voltados para a saúde e com-
provou a relevância do papel do arquiteto no es-
paço hospitalar. Adriana salienta que os princi-
pais desafios que se enfrenta nessa área são as
adaptações que precisam ser feitas, às vezes, em
função das obrigações legais e o entendimento
do cliente em relação a essa questão.
Para o arquiteto Paulo cassiano, que foi coor-
denador da especialização em Arquitetura hospi-
talar da tgs, o segmento atrai poucos profissio-
nais devido a sua complexidade e às regras espe-
cíficas de cada uma das unidades de um estabe-
lecimento de assistência à saúde. “É preciso com-
preender as relações entre as alas, a relevância da
proximidade entre algumas delas e os projetos
arquitetônicos devem ser compatíveis com outros,
como os relacionados ao conforto e à assepsia.
são muitas variáveis a serem respeitadas”, argu-
menta. na pós-graduação, a meta era apresentar
os diferentes locais que compõem um hospital,
com suas particularidades e as obrigações deter-
minadas pelas normas existentes. Ao final do cur-
so, os alunos concebiam a ideia de um ambiente.
cassiano salienta que os benefícios para aque-
les que se qualificam nesse assunto vão do me-
lhor credenciamento para a idealização desses
empreendimentos até a possibilidade de entrar
em um mercado em que um número pequeno de
pessoas se aventura. o arquiteto adianta que, em
breve, deve ser lançado um novo curso de espe-
cialização na área de gestão de espaços de saú-
de, em uma parceria entre a escola de saúde da
unisinos e o hospital mãe de deus. mais informa-
ções: [email protected].
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fAchAdA e espAço externo do hospitAl dA rede sArAh em sAlvAdor, inAugurAdo em 1994. tomAndo pArtido dA grAnde áreA de terreno destinAdA Ao empreendimento, lelé Adotou umA implAntAção horizontAl, em ApenAs dois níveis. dessA formA, foi possível integrAr todAs As áreAs de trAtAmento e de internAção Aos Amplos jArdins de AmbientAção. A coordenAção do projeto ficou A cArgo do Arq. e urb. hAroldo pinheiro, que já hAviA AtuAdo com ele no hospitAl do sArAh de brAsíliA
25
ícone dA ArquiteturA hosPitAlAr, João filgueirAs limA, lelÉ, deixA um legAdo nA áreA dA sAúde no PAís que se tornou referênciA internAcionAl
Medicina e arquiteturaum dos membros da tríade responsável pelo nascimento de brasília, o
arquiteto e urbanista carioca João da gama filgueiras lima, conhecido
como lelé, foi considerado “o construtor” por lucio costa – autor do pro-
jeto do Plano Piloto da capital federal –, ao lado do colega oscar nieme-
yer, o “criador”. na defesa da racionalização e da industrialização na ar-
quitetura, lelé deixou sua marca em brasília, mas ganhou fama e notorie-
dade pelo trabalho exemplar desenvolvido junto à rede sarah de hospi-
tais desde o final dos anos 1970 até maio deste ano, quando faleceu, em
salvador, aos 82 anos.
os prédios hospitalares projetados associam estética e tecnologia, com
o emprego de métodos desenvolvidos por ele próprio, como da pré-fabri-
cação de componentes em série e o da argamassa armada. o máximo apro-
veitamento da ventilação e da luz naturais é outra característica marcante,
dispensando o uso de aparelhos condicionadores de ar e, assim, reduzindo
o risco de infecções. esse princípio básico da era da “sustentabilidade” era
considerado por ele, simplesmente, resultado de um bom projeto de arqui-
tetura. “não precisamos desenvolver teorias de sustentabilidade para saber
que quando você pôe um vidro na fachada, ele esquenta; e que se você não
proteger o vidro, ele vai ter mais calor”, disse ele em uma entrevista conce-
dida ao conselho de Arquitetura e urbanismo do brasil (cAu/br) em 2012.
na oportunidade, lamentou que a “industrialização esteja fora de moda” no
meio, considerando os fortes lobbies existentes no setor da construção ci-
vil. “temos que ocupar os nichos que surgirem”, enfatizou.
o início do legado na área da saúde se deu em 1980, com a inauguração
do primeiro hospital da rede sarah Kubitschek, em brasília, especializado
em neurorreabilitação de pacientes. nos anos 1990, a rede inicia o projeto
de expansão, inaugurando unidades em são luís, belém, macapá, fortale-
za, salvador, belo horizonte e rio de Janeiro.
os primeiros projetos concebidos como hospitais satélites da rede sarah
foram os da cidade de são luís e de salvador. Ambos foram elaborados si-
multaneamente, empregando a tecnologia de pré-fabricação e argamassa
armada desenvolvida na fábrica de equipamentos comunitários (fAec) de
salvador, criada nos anos 1980 por lelé e que produziu de bancos e passa-
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relas de pedestres a escolas e creches. em seu
livro “Arquitetura, uma experiência na área da saú-
de”, lançado em 2012 pela editora romano guer-
ra, o arquiteto descreve em detalhes as técnicas
utilizadas em seus projetos hospitalares. Vale acres-
centar que no ano passado a publicação conquis-
tou o segundo lugar na categoria Arquitetura da
55a edição do Prêmio Jabuti, a maior e mais tra-
dicional premiação de literatura do País.
o sistema de ventilação natural implantado,
considerado mais eficiente que o adotado na uni-
dade de brasília, foi, mais tarde, aperfeiçoado pa-
ra os demais hospitais instalados no nordeste.
executada na direção piso-teto, a proposta resul-
ta basicamente do aproveitamento das galerias
de tubulação localizadas nos subsolos para insu-
flamento de ar nos ambientes. “o deslocamento
do ar nas galerias é provocado pelo próprio ven-
to ou por ventiladores localizados em suas res-
pectivas aberturas para o exterior. A pulverização
de água, prevista na entrada de cada galeria, além
de funcionar como filtro para captação de partí-
culas em suspensão, proporciona também, pelo
efeito de evaporação, um rebaixamento de tem-
peratura em cerca de dois graus centígrados”,
escreveu lelé na publicação. A proteção contra
a insolação norte foi garantida pelas criação de
amplas varandas, com 2,50 metros de largura,
que também funcionam como áreas de estar e
de tratamento, integradas aos jardins externos.
A infraestrutura do conjunto de edifícios é cons-
tituída de uma trama de galerias subterrâneas
que acompanha a distribuição dos pilares da su-
perestrutura, projetada em aço. essas galerias
exercem tripla função: constituem o próprio sis-
tema de fundações do edifício; canalizam o ar
externo para todos os ambientes do hospital; e
aloja todas as tubulações gerais de suprimentos
e serviços, possibilitando sua fácil manutenção.
todas as tubulações correm ao longo dos tetos
e paredes das galerias. As tubulações de esgoto
foram dispostas fora do corpo das galerias, mas
são acessíveis através de caixas herméticas loca-
lizadas ao longo das paredes. o objetivo foi evi-
tar que um eventual vazamento possa provocar
a contaminação do ar insuflado que penetra nos
ambientes do hospital.
o arquiteto considerou a dificuldade de mobi-
lidade dos pacientes, projetando equipamentos
e instalações específicas. As piscinas, externas e
interna, contam com rampas para a entrada de
pessoas em cadeiras de rodas ou macas. nos
quartos, os pacientes acamados têm acesso ao
controle de luz individual, ao interruptor para cha-
mada da enfermagem e ao ponto de insuflação
de ar exterior conduzido através das galerias. ino-
vação, pioneirismo, técnica e bom senso a favor
da saúde e do bem-estar. o trabalho de lelé na
área hospitalar é a prova da eficiência de um bom
projeto de arquitetura.
destAque pArA As AberturAs dos sheds, voltAdAs intencionAlmente pArA A direção dos ventos
dominAntes e A fAvor. “o efeito de sucção produzido dessA formA tAmbém AjudA nA extrAção do Ar dos
Ambientes”, enfAtizou lelé no seu livro “ArquiteturA, umA experiênciA nA áreA dA sAúde”. muros vAzAdos
pré-fAbricAdos em ArgAmAssA pintAdA, com 1,80m de AlturA, promovem o fechAmento. neles, A Arte do
pArceiro Athos bulcão
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IRO EDIFICAÇÕES DE DIFErEntES EStIloS
ConStroEm um rICo DIálogo Em CÓrDoBA, A SEgunDA CIDADE mAIS populoSA DA ArgEntInA
Harmonia arquitetônicatexto e Fotos: tAtiAnA gAPPMAyer
A forte herança jesuítica, ordem que chegou a córdoba por volta
de 1589, deixou importantes marcas nas edificações locais. uma ca-
minhada pela região central e pelos bairros próximos revela, através
da arquitetura, traços da trajetória dessa cidade de cerca de 1,3 mi-
lhão de habitantes. Patrimônios nacionais como a manzana Jesuítica
– que reúne a iglesia de la compañía de Jesus (a mais antiga do país),
capilla doméstica, colégio nacional de monserrat e a antiga sede da
universidade nacional de córdoba – e a catedral convivem em per-
feita sintonia com prédios góticos e contemporâneos e deixam a pai-
sagem urbana cordobesa diversificada e ainda mais interessante. ou-
tra característica que chama a atenção são os vários calçadões (pea-
tonales) na área do centro, privilegiando a circulação dos pedestres,
e os caminhos de pedra existentes entre os edifícios históricos.
pAsseio de pedrAs originAis no cAminho entre o museu dA memóriA e A cAtedrAl. os cAsArões históricos gAnhAm novos usos, com A inAugurAção de espAços culturAis, comerciAis e de serviços, integrAndo AindA mAis o centro histórico às edificAções modernAs erguidAs nA região nos últimos Anos
29
Aliás, o contraste entre o passado e o presente é constante e a ocupação
de sobrados em estilo colonial, transformados em lojas e cafés, demonstra
na prática a possibilidade de preservar a memória e manter uma persona-
lidade única sem deixar de estar atualizado com o que há de mais moderno
nas técnicas construtivas. Preservação e revitalização andam juntas nos re-
centes empreendimentos em desenvolvimento na localidade e a criação do
espaço cultural e de lazer Paseo buen Pastor, no bairro nueva córdoba, é
um exemplo dessa harmonia. A edificação, que já funcionou como um asi-
lo de mesmo nome e uma prisão de mulheres, inclusive no final dos anos
1970, durante a ditadura argentina, passou por modificações para recupe-
rar a estrutura e receber novas funções. foram mantidas originais a facha-
da voltada para a Avenida hipólito Yrigoyen e a capela, seus afrescos e o
pAseo buen pAstor: de Asilo e presídio feminino A um dos mAis
importAntes centros de comprAs e lAzer dA cidAde
30
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formato em cruz grega, ambiente que atualmen-
te é usado para apresentações musicais e teatrais.
devido às condições dos muros e demais pré-
dios, foi optado pelo governo de córdoba optou
por demolir o que havia, abrindo o complexo
para mais ruas e permitindo visualizar a impres-
sionante iglesia del sagrado corazón, da ordem
dos capuchinhos. desenhada em estilo neogó-
tico pelo artista e engenheiro italiano Augusto
ferrari, a igreja possui duas torres, porém ape-
nas uma delas está acabada, simbolizando a per-
feição de deus ante a imperfeição humana. em
cada escultura e detalhe ornamental nota-se o
trabalho desempenhado pelos artesãos da ci-
dade, que tornaram a construção uma verdadei-
ra obra de arte.
inaugurado em 2007, o projeto do Paseo tem
mais de 10 mil m2 de área e cerca de 3 mil m2 de
área construída e foi conduzido pelo arquiteto
héctor spinsanti. hoje, abriga restaurantes, ba-
res, lojas de produtos locais e áreas para mostras
e exposições de arte, espaços distribuídos em
uma construção contemporânea com destaque
para o uso de vidro e estruturas metálicas, uma
interferência urbana que não “briga” com a par-
te conservada.
UM oLHAR DE VALoRIzAçãona mesma linha de restauração arquitetônica está
o museu emilio caraffa, que alia um edifício de ca-
racterísticas neoclássicas a um mais moderno. ou-
tros destaques de córdoba são suas diversas igre-
jas, com diferentes estilos que impressionam pela
riqueza das pinturas, do teto ao chão, e seus mu-
seus, como o Palácio ferreyra e o da memória – pri-
são clandestina da época da ditadura, onde homens
e mulheres eram torturados. um triste retrato de um
dos tempos mais duros vividos pelos argentinos. A
antiga casa conta a breve trajetória de pessoas que
continuam desaparecidas até hoje através de de-
poimento de familiares e amigos e de seus objetos.
A história e sua preservação têm papéis im-
portantes na construção da identidade dos cor-
dobeses, que valorizam seu passado e seus pa-
trimônios arquitetônicos. Para chamar ainda mais
a atenção de moradores e visitantes, a municipa-
lidade elaborou uma iniciativa diferente para atrair
o olhar dos pedestres que passam diante de edi-
ficações simbólicas e que, na correria diária, nem
as percebem. foram instaladas, no centro da ci-
dade, sombras feitas de pedras brancas nas cal-
çadas em frente a esses prédios, levando as pes-
soas a desviarem a visão e apreciarem esses lo-
cais. outras ações estão em andamento nessa
área, com muitos edifícios de valor cultural, reli-
gioso e social em obras de revitalização. A ocu-
pação desses espaços, com eventos ligados à ar-
te, atrai um grande público e traz segurança pa-
ra circular em regiões como a Praça san martín,
o edifício do cabildo e a calle de las flores.
o museu de belAs Artes emilio cArAffA é outro exemplo de restAurAção, integrAndo o edifício de estilo neoclássico projetAdo em 1915 pelo Arquiteto juAn kronfuss com o Anexo de linhAs modernAs criAdo em 2008 pelo Arquiteto lucio morini e pelA equipe do escritório ggmpu Arquitectos
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pátio olmos shopping, no bAirro nuevA córdobA, instAlAdo em edificAção de ArquiteturA centenáriA. criAdo pelo Arquiteto elíAs senestrAri em 1909, o prédio AbrigAvA umA escolA. pArciAlmente destruídA por um terremoto em 1977, A estruturA permAneceu AbAndonAdA por duAs décAdAs Até A suA trAnsformAção em shopping
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s AssociAção reúne exPoentes dA noVA gerAção de Arquitetos e urbAnistAs wem mAis umA edição do seminário de quAlificAção ProfissionAl
referênciastécnica, pesquisa, talento, ousadia e muita criatividade. É dessa mistura
que nascem projetos surpreendentes das mãos e das mentes de expoentes
da nova geração de arquitetos e urbanistas brasileiros. Já bastante conhe-
cidos por profissionais e estudantes de Arquitetura e urbanismo – divulga-
dos pela imprensa especializada nacional e pelas redes sociais – alguns des-
ses destaques foram apresentados em detalhes por seus autores no semi-
nário realizado pela AAi brasil/rs no dia 16 de outubro, na fiergs, em Porto
Alegre. mais de 60 pessoas participaram do evento, que contou com o pa-
trocínio do cAu/rs e das empresas expresso do oriente e Puxadores & cia.
sob o tema “uma Viagem pela Arquitetura”, os palestrantes foram con-
vidados a apresentar seu trabalho com ênfase na inovação, nos diferenciais
e nos desafios superados. thiago rodrigues e Antonio carlos figueira de
mello, dois dos quatro sócios do escritório paulista superlimão studio, fun-
dado em 2002, detalharam trabalhos que revelam o interesse deles pela
transformação de materiais industriais, reciclados ou recicláveis, em reves-
timentos e estruturas. eles destacaram a característica do desenvolvimento
de uma linguagem estética inspirada no cotidiano das grandes metrópoles.
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seminário AtrAiu profissionAis e estudAntes pArA As ApresentAções dos Arquitetos e
urbAnistAs convidAdos. com A propostA de oferecerem umA “viAgem pelA ArquiteturA”,
os pAlestrAntes AbordArAm sobre Alguns de seus principAis trAbAlhos, destAcAndo os
diferenciAis de projeto e de métodos construtivos e os desAfios enfrentAdos pArA
execução dAs propostAs. nA foto, os pAlestrAntes com A diretoriA dA AAi brAsil/rs
os jornAlistAs convidAdos pelA AAi brAsil/rs que elegerAm o vencedor do “prêmio imprensA” dentre os projetos finAlistAs do concurso “melhores trAbAlhos de ArquiteturA de interiores”
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s de são Paulo, também foi convidada a equipe do fg-
mf Arquitetos, criado há 15 anos, representado pelo
arq. e urb. rodrigo marcondes ferraz, um dos três só-
cios. em sua definição, eles procuram realizar uma ar-
quitetura “contemporânea, investigativa e inovadora”.
totalizando quase 300 projetos desenvolvidos, o gru-
po acumula diversos prêmios nacionais e internacio-
nais. recentemente conquistou o re-thinking the fu-
ture Awards; o internacional rogélio salmona, rece-
bido na colômbia; e o wan 21 for 21, ingressando na
seleta lista dos 21 escritórios de arquitetura do século
21. outro destaque do evento foi a participação da jo-
vem designer inglesa francesca wade, radicada em
são Paulo. ela é a mentora do disputado workshop
de criatividade mesa & cadeira e do estúdio multidis-
ciplinar todos. única representante gaúcha dentre os
palestrantes, a arquiteta e urbanista Kelen tomazelli
apresentou o trabalho da Pop studio Arquitetura cria-
tiva, fundada em 2011 em Porto Alegre. A empresa é
especializada no desenvolvimento de projetos de ar-
quitetura efêmera e de arquitetura de interiores, resi-
denciais e comerciais. o mais experiente dentre os
palestrantes era o arquiteto e urbanista paranense sér-
gio Parada, que comanda empresa própria desde 1997,
com sede em brasília (df), a sérgio Parada Arquite-
tos Associados, em sociedade com rodrigo mônaco
biavati e Kyle bussinger spínola de Andrade. o pro-
fissional já atuou em outros escritórios, em curitiba;
em grandes construtoras, em brasília; no governo mu-
nicipal da cidade do méxico; foi professor universitá-
rio; e possui importante trajetória na defesa da classe,
junto ao iAb. Acumula prêmios e homenagens, tanto
no brasil como no exterior. “seja qual for o programa
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edifício comerciAl corujAs, em são pAulo. com gAbArito bAixo, o empreendimento foi plAnejAdo considerAndo os jArdins do entorno dAs AntigAs cAsAs do bAirro, nA escAlA do usuário. restAurAnte deliqAtê, recém-inAugurAdo nA cApitAl pAulistA. estruturA em Aço, fAchAdA envidrAçAdA pArA mAnter “contAto permAnente com A ruA”. AcimA, detAlhe dA “cAsA grelhA”, em mAdeirA e vidro: respeito à topogrAfiA, à vegetAção existente, à privAcidAde dos morAdores e Ao visuAl dA serrA dA mAntiqueirA. projetos dA fgmf Arquitetos
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arquitetônico a ser traduzido em um edifício,
desde o mais corriqueiro até o mais sofistica-
do, sempre resultará numa atitude complexa”,
é a mensagem transmitida pelo arquiteto.
A pREMIAçãodurante o seminário, foi realizada a última das
três etapas do processo de escolha dos ven-
cedores da primeira edição do concurso “me-
lhores trabalhos de Arquitetura de interiores”,
realizado pela AAi brasil/rs com o apoio do
cAu/rs. na ocasião, para análise e votação
secreta de todos os participantes do evento,
foram apresentados os três projetos finalistas,
sem a identificação dos autores. cinco jorna-
listas especialmente convidados pela AAi bra-
sil/rs, presentes no seminário, elegeram ainda, dentre esses trabalhos, aque-
le que receberá o “Prêmio imprensa”: eleone Prestes, do caderno casa & cia
da Zero hora; eduardo bins ely, do Jornal do comércio; Patrícia castro dos
sites Pauta social e Palpitadas.com; lisiani mottini, da tVcom; e marcela
brown, da revista decor. os vencedores serão divulgados no evento come-
morativo ao dia do Arquiteto, que será realizado pela AAi brasil/rs no dia 9
de dezembro, em Porto Alegre. o projeto vencedor estampará a capa da 12ª
edição da publicação anual AAi em revista - arquitetos.
Participaram do concurso, os trabalhos de ambientes participantes da pu-
blicação, os quais se inscreveram para a premiação. A primeira seleção ocor-
reu no dia 3 de setembro, pelo conselho editorial e pela presidência da As-
sociação, mantendo todos os inscritos. A segunda etapa foi eliminatória, du-
rante um café da manhã promovido no dia 1 de outubro especialmente para
a ocasião, quando um júri formado por arquitetos e urbanistas convidados
apontou os três finalistas, considerando a solução técnica adotada a partir
do programa de necessidades, das condicionantes de projeto e do problema
apresentado pelo cliente.
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ApArtAmento, em são pAulo, projetAdo em 2011 pelA equipe do escritório superlimão estúdio. AbAixo, montAgem de fotos do “pArAdouro gAúcho” no evento criAdo pelo sebrAe/rs, em pArceriA com o governo do estAdo pArA receber os visitAntes durAnte A copA do mundo 2014. montAdo no ArmAzém b do cAis do porto, em porto Alegre, o espAço foi projetAdo pelA pop studio
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os novos chuveiros de teto italianos da Al-
tero da linha sPA têm como destaque a ino-
vação tecnológica. com jatos para massa-
gem de diferentes intensidades e leds cro-
moterápicos, o produto está disponível em
três versões: 42x26cm, 42x42cm e 60x60cm.
saiba mais em www.altero.com.br
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seguindo o conceito de móveis planejados para
“vestir a casa”, a dell Anno firmou parceria, este
ano, com o estilista Pedro lourenço, que assinou
um padrão de madeira que alia desenho orgânico
com textura futurista. batizada de moon, a super-
fície foi inspirada na era da corrida espacial e che-
gada do homem à lua, no final dos anos 1960, em
que as casas no mundo passavam por um perío-
do de transição com uso de elementos orgânicos
em abundância, como a madeira, a pedra e o cou-
ro, e estabeleciam contraste com o metal, que re-
fletia a aspiração pela tecnologia, pelo futurismo.
saiba mais em www.dellanno.com.br
Arrojado, o pendente td 593 da taschibra
combina a sutileza do vidro com o requin-
te da madrepérola, em base de alumínio.
outras informações em www.taschibra.com.br
na primeira edição da idA – exposição internacional
de design e Arte, realizada em gramado em setembro,
a sergio bertti apresentou a Poltrona Zózimo, assina-
da pelo designer ronald scliar sasson, na mostra “iné-
ditos: design-arte”. somente 28 peças faziam parte
do acervo montado
por Alberto Vicente e
marcelo Vasconcellos,
proprietários da galeria
carioca mercado moderno
(memo). com revestimento me-
tálico maciço, o móvel foi produ-
zido em uma série de apenas três
unidades, duas em cobre e uma em latão. o
nome da poltrona é uma homenagem ao prestigiado co-
lunista social carioca Zózimo barrozo do Amaral (1941-1997).
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A primeira e única Entidade do Brasil exclusivamente de arquitetos e urbanistas que atuam em Arquitetura de Interiores. A Associação de Arquitetos de Interiores do Rio Grande do Sul - AAI-RS
foi criada em 1997, em Porto Alegre/RS; o objetivo é a valorização do exercício profissional, divulgando a produção dos associados e esclarecendo o mercado quanto as particularidades
da atividade. Em 2009, passou a chamar-se AAI Brasil/RS, Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil - Seccional RS, congregando a entidade nacional também fundada no
Estado, a Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil - AAI Brasil.
você ainda não é parte da AAI?
A AAI Brasil/RS promove a troca de experiências entre seu associados, incentiva o aprimoramento profissional, propondo o debate sobre a Arquitetura e Urbanismo;
busca o estabelecimento de procedimentos uniformes para os aspectos principais do exercício profissional, promovendo a valorização da Arquitetura
de Interiores; com outras entidades, sugere ações de para a regulamentação e fiscalização do exercício profissional da Arquitetura de Interiores nos
âmbitos estadual e nacional.
por que participar?
venha para a AAI:
Para saber mais: AAI Brasil/RS www.aaibrasilrs.com.br e 51 3228 8519 Projetato Assessoria [email protected] www.facebook.com/aaibrasilrs twitter: @aaibrasilrs
Arquiteto e urbanista, faça parte deum grupo especial de profissionais!