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 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA                 T            R           I B      U N A L  D E   J   U    S     T       I                    Ç            A     R S   AAL Nº 70036683050 2010/CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL E AGRAVO RETIDO. REGISTRO DAS PESSO AS JU DICAS E DE TÍT UL OS E DOCUMENTOS. COMPETÊNCIA DA JU ST A COMUM PARA JULGAMENTO DO CONFLITO, AINDA QUE TENHA ORIGEM EM ATOS DA JUNTA COMERCIAL DO ESTADO. ABERTURA DE FIRMA INDIVIDUAL EM NOME DO AUTOR. DOCUMENTOS FALSOS. NEGLIGÊNCIA DA JUNTA COMER CIAL NA CONFERÊNCIA DOS DOCUMENTOS. PROTESTOS DE TÍTULOS. RESTRI ÇÃ O DE CRÉDITO. BLOQUEIO DO CPF. QUANTUM MANTIDO. RECURSOS DESPROVIDOS. No caso concreto, demonstrado que o autor  efetivamente sofreu danos morais em face da conduta ne gligente da Junt a Comercial, órgão público subordinado ao Estado, ao efetuar abertura de firma individual em nome do apelado, mediante apresent ão de do cu mentos e fa ls if icaç ão da as sin atu ra, en sej ando di verso s co nstran gi men tos , como restrição de crédito e bloqueio do CPF, cumpre manter o juízo de procedência do pedido indenizatório. Quantum mantido, ad equ ado às pecul iar idades da situação em apreço. Desproveram o agravo retido e o apelo. Unânime.  APELAÇÃO CÍVEL SEXTA CÂMARA CÍVEL 70036683050 COMARCA DE PORTO ALEGRE ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELANTE JACKSON SOARES DOS SANTOS APELADO ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. 1

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R  S   AALNº 700366830502010/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL E AGRAVO RETIDO. REGISTRODAS PESSOAS JURÍDICAS E DE TÍTULOS EDOCUMENTOS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇACOMUM PARA JULGAMENTO DO CONFLITO,AINDA QUE TENHA ORIGEM EM ATOS DA JUNTACOMERCIAL DO ESTADO. ABERTURA DE FIRMAINDIVIDUAL EM NOME DO AUTOR. DOCUMENTOSFALSOS. NEGLIGÊNCIA DA JUNTA COMERCIALNA CONFERÊNCIA DOS DOCUMENTOS.PROTESTOS DE TÍTULOS. RESTRIÇÃO DE

CRÉDITO. BLOQUEIO DO CPF. QUANTUM MANTIDO. RECURSOS DESPROVIDOS.

No caso concreto, demonstrado que o autor efetivamente sofreu danos morais em face da condutanegligente da Junta Comercial, órgão públicosubordinado ao Estado, ao efetuar abertura de firmaindividual em nome do apelado, medianteapresentação de documentos e falsificação daassinatura, ensejando diversos constrangimentos,como restrição de crédito e bloqueio do CPF, cumpremanter o juízo de procedência do pedido indenizatório.

Quantum mantido, adequado às peculiaridades dasituação em apreço.

Desproveram o agravo retido e o apelo. Unânime.

 APELAÇÃO CÍVEL SEXTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70036683050 COMARCA DE PORTO ALEGRE

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELANTE

JACKSON SOARES DOS SANTOS APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

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 Acordam os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, desprover o agravo

retido e o apelo.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (PRESIDENTE) E DES.

NEY WIEDEMANN NETO.

Porto Alegre, 26 de maio de 2011.

DES. ARTUR ARNILDO LUDWIG,Relator.

RELATÓRIO

DES. ARTUR ARNILDO LUDWIG (RELATOR)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, pela Procuradoria do

Estado, apela da sentença que JULGOU PROCEDENTE o pedido efetuado

por  JACKSON SOARES DOS SANTOS, para determinar a anulação do

registro de firma individual na Junta Comercial e para condenar a parte

demandada ao pagamento de indenização por danos morais em valor 

equivalente a R$ 15.000,00 (quinze mil reais), corrigido pelo IGP-M FGV,desde a data da sentença, até o efetivo pagamento, acrescido de juros

moratórios, no percentual de 1% ao mês, a contar do evento danoso (24-6-

2003), data da abertura da firma.

Condenou o Estado ao pagamento das custas processuais e

honorários advocatícios, no percentual de 15% sobre o valor da

condenação, nos termos do § 3º do artigo 20 do CPC. Suspendeu, por ora, a

condenação do ente público ao pagamento das custas aos Cartórios

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R  S   AALNº 700366830502010/CÍVEL

Judiciais Privatizados, Contadoria e Distribuição, em virtude da decisão

proferida em liminar pelo STF, na Medida Cautelar em Reclamação nº 7362.

Com o trânsito em julgado, determinou seja oficiada a Junta

Comercial para cumprimento da decisão.

 A apelante narra que o autor ingressou com o pedido

indenizatório por danos morais em face de restrições de crédito decorrentes

de atos praticados por uma firma individual aberta em seu nome, comdocumentos falsos.

Reitera as razões tecidas no agravo retido para o fim de ver 

reconhecida a incompetência da Justiça Comum para processar e julgar o

feito.

Sustenta que o ato lesivo reclamado não decorre de atuação

estatal, mas de conduta de terceiro não identificado, de modo que resta

afastada a responsabilidade objetiva prevista no artigo 37, § 6º, do CPC.

Entende que o terceiro não agiu na condição de agente

público, equiparando-se ao caso fortuito, sendo, portanto, excludente da

responsabilidade civil do Estado.

 Aponta que o próprio Supremo Tribunal Federal já assinalou

que o princípio da responsabilidade objetiva não se reveste de caráter 

absoluto, admitindo o abrandamento e até a exclusão da responsabilidade

nas hipóteses de caso fortuito, força maior, ou culpa atribuível à vítima.

Refere ter ficado plenamente demonstrado nos autos que os

documentos do apelado foram furtados em duas oportunidades, quando os

meliantes de utilizaram de tais papéis para abrir empresa individual

fraudulenta, inclusive, falsificando a assinatura do autor, o que afasta o

requisito do nexo causal.

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Menciona que a culpa pela abertura da citada firma não pode

ser atribuída à negligência dos servidores da Junta Comercial, já que não se

trata de falsificação grosseira, ao contrário, há similitude gráfica.

Discorre acerca da descaracterização da responsabilidade

subjetiva por falta do serviço, na medida em que não se pode atribuir culpa

anônima ao recorrente.

 Ainda que reste mantida a condenação postula a redução dovalor fixado em R$ 15.000,00, destacando que embora o apelado tenha feito

ocorrência policial de perda ou furto de documentos, deixou de efetuar 

registro junto ao SPC e SERASA.

Cita que, além disso, a prova oral aponta para a conclusão que

o apelado não ficou desempregado, ou foi impedido de abrir conta bancária,

assim como não existem restrições em seu CPF, como declarou em seu

depoimento pessoal.

Requer o provimento do recurso.

O apelo foi recebido somente no efeito devolutivo e

apresentadas as contrarrazões.

Foi lançado parecer ministerial pelo desprovimento dos

recursos.

Houve declinação da competência para julgamento do feito

pela Colenda 9ª Câmara Cível.

É o relatório.

VOTOS

DES. ARTUR ARNILDO LUDWIG (RELATOR)

AGRAVO RETIDO- COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM

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R  S   AALNº 700366830502010/CÍVEL

Não merece reparos a decisão que deixou de acolher a

preliminar de incompetência da Justiça Estadual, suscitada pelo ente

estadual, considerando que o pedido indenizatório vem calcado em ato

perpetrado por preposto da Junta Comercial do Estado do Rio Grande do

Sul.

 A Junta Comercial é subordinada e administrada pelo Estado

do Rio Grande do Sul como atesta o próprio oficio firmado pelo Presidenteda JUCERGS.(fl. 65)

Dessa forma, existindo subordinação administrativa da Junta à

Secretaria do Estado e figurando o ente estatal no polo passivo da demanda,

a competência para julgamento da demanda é da Justiça Comum Estadual,

afastando qualquer ingerência da Justiça Federal pelo vinculo às normas do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Sobre o tema impende citar os seguintes julgados do Superior Tribunal de Justiça:

“CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 90.338 - RO(2007/0226151-0) RELATOR : MINISTROFERNANDO GONÇALVES AUTOR : ISMAELBRAGA SOBRINHO ADVOGADO : RAIMUNDOGONÇALVES DE ARAÚJO E OUTRO(S)RÉU : JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DERONDÔNIA – JUCER PROCURADOR : IVALDOFERREIRA DOS SANTOS E OUTRO(S)

SUSCITANTE : JUÍZO FEDERAL DA 2A VARA DASEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIASUSCITADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADODE RONDÔNIA EMENTA CONFLITO DECOMPETÊNCIA. JUNTA COMERCIAL. ANULAÇÃODE ALTERAÇÃO CONTRATUAL. ATOFRAUDULENTO. TERCEIROS. INDEVIDOREGISTRO DE EMPRESA.

1. Compete à Justiça Comum processar e julgar ação

ordinária pleiteando anulação de registro de alteração

contratual efetivado perante a Junta Comercial, ao

fundamento de que, por suposto uso indevido do nome doautor e de seu CPF, foi constituída, de forma irregular,

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sociedade empresária, na qual o mesmo figura como sócio.

 Nesse contexto, não se questiona a lisura da atividade

federal exercida pela Junta Comercial, mas atos antecedentes

que lhe renderam ensejo.

2. Conflito conhecido para declarar competente o Tribunal

de Justiça do Estado de Rondônia, o suscitado.

Brasília, 12 de novembro de 2008. (data de julgamento)

MINISTRO FERNANDO GONÇALVES, Relator”

“RELATOR : MINISTRO HÉLIO QUAGLIABARBOSA AGRAVANTE : ROBERTO VIOLAADVOGADO : MARCELO AUGUSTO PIMENTAAGRAVADO : JOSÉ ARAÚJO DA COSTA E OUTROADVOGADO : SILVIO PRETO CARDOSO E OUTROSUSCITANTE : JUÍZO DA 25 A VARA DOTRABALHO DE SÃO PAULO – SP SUSCITADO :JUÍZO DE DIREITO DA 22A VARA CÍVEL DE SÃOPAULO – SP AGRAVO REGIMENTAL NOCONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DENULIDADE DE ATO JURÍDICO

CONSISTENTE EM ALTERAÇÃO DOCONTRATO SOCIAL. PEDIDOS DECANCELAMENTO DO CONTRATOPERANTE A JUNTA COMERCIAL ECONDENAÇÃO EM PERDAS E DANOSDECORRENTES DE FRAUDE NOREGISTRO. NATUREZA CIVIL. AUSENTEQUALQUER PEDIDO DE ÍNDOLETRABALHISTA. COMPETÊNCIA DAJUSTIÇA COMUM ESTADUAL. AGRAVO

IMPROVIDO.1. O pedido de cancelamento de contrato social perante a

Junta Comercial, bem como perdas e danos decorrentes de

eventual fraude no registro do contrato não possui índole

trabalhista.

2. A competência em virtude da matéria é definida em

função do pedido e da causa de pedir; in casu, ambos

 possuem natureza cível.

3. Agravo regimental improvido.”

Com tais considerações, nego provimento ao agravo retido.

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RAZÕES DE APELO

Da mesma forma não merece prosperar a insurgência do ente

público apelante no tocante à responsabilidade e condenação do Estado

pelo abalo moral causado ao recorrido.

Os fatos descritos na peça inicial estão devidamente

comprovados pela documentação acostada e prova oral produzida.

Outrossim, não logrou o Estado do Rio Grande do Sul provar 

as alegações de defesa em torno da culpa exclusiva de terceiro ou ausência

de nexo causal.

Incumbia aos prepostos do Estado assegurar-se, prevenir-se e

usar de toda a cautela para verificar a autenticidade dos documentos

utilizados para abertura de empresa em nome do apelado. Não o fazendo,

negligenciando no seu dever estatal, acabou causando danos à moral do

recorrido, por certo, ultrapassando meros dissabores da vida cotidiana.

Nesse contexto, não há como afastar-se do juízo de

procedência, lançado pela magistrada da causa, Dra. Viviane Souto

Sant’Anna, cumprindo adotar seus inarredáveis fundamentos como razões

de decidir:

“Do evento danoso

Da análise da prova trazida aos autos, restou

demonstrada a ocorrência do evento danoso, qual seja, a

abertura de firma individual em nome do autor, sem o seu

conhecimento, resultando, em virtude de negócios

realizados por esta empresa, além de outros sérios

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transtornos, a sua inclusão em cadastro de proteção ao

crédito e o protesto de títulos em seu nome.

Neste passo, a parte autora efetivamente sofreu prejuízo

em face da conduta da Junta Comercial, órgão público

subordinado ao Estado, responsável pelo arquivamento

do registro de firma individual. O demandado, demonstrou

agir com negligência quando efetuou o procedimentonecessário para a constituição de empresa, sem proceder 

à devida conferência da documentação apresentada e da

assinatura do demandante.

Note-se que o autor comprova nos autos que efetuou o

registro de duas ocorrências policiais quando teve seus

documentos perdidos/furtados, demonstrando assim a

cautela necessária para evitar o uso indevido de suadocumentação. Portanto, não teve nenhuma participação

no evento danoso, não podendo ser atribuída a este

qualquer tipo de culpa como deseja o réu em sua

contestação.

Percebe-se que, diante do erro por parte do órgão ligado

à administração pública, houve indevida inscrição do

nome do demandante nos cadastros de maus pagadoresdo SPC, além de ter ocorrido diversos protestos de títulos

em seu nome, o que resulta no dever de indenização do

Estado, face à conduta de seus agentes.

Em simples averiguação dos documentos juntados aos

autos, é possível notar a discrepância com relação à

assinatura do autor na sua carteira de identidade

acostada à fl.14, quando comparada à assinatura presente no requerimento de empresário (fl. 66).

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Dessa forma, tudo leva a concluir que, uma análise com

maior cuidado da documentação apresentada para

abertura da firma, o que inclusive se espera do órgão

 público no exercício de suas funções, teria evitado o dano

sofrido pelo autor. Em vez disso, a própria Junta efetuou

o reconhecimento da assinatura falsa.

 Ademais, não merece guarida a tese defensiva, pois nãose trata de dano causado por ato de terceiro, uma vez 

que a aceitação da documentação falsa foi da própria

Junta Comercial, tendo esta efetivado o procedimento

 para a criação de empresa fraudulenta. Dessa forma, não

 pode o Estado tentar se eximir da culpa, quando, por ato

de seus agentes, no execício de sua funções públicas,

causa dano a alguém. A Constituição Federal, em seu art. 37, §6º, prevê a

responsabilização do Estado nesses casos:

“  Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,

 publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

 prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus

agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito

de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” 

De qualquer sorte, ainda que induzida em erro, a

responsabilidade da administração pública é objetiva,

havendo o liame entre o agir do servidor, nesta qualidade,

e o evento danoso, estabelecido está o dever indenizatório. É impossível desvincular o caso concreto

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do óbvio, pois caso a Junta Comercial não tivesse

efetivado o procedimento de registro da falsa firma,

nenhum dano teria sofrido o demandante.

Do dano moral 

 À toda evidência existem danos morais. Consoante

entendimento pacífico no direito brasileiro, o caso em tela

retrata a configuração do dano moral in re ipsa. Danoeste, que não exige a demonstração de sua extensão e

 prova, justificado o dever de indenizar na própria

existência do evento danoso.

 Assim, a abertura fraudulenta de firma, fato que gerou a

inscrição indevida e os protestos, limitando ou até mesmo

impedindo definitivamente a parte autora de obter crédito,

demonstra com clareza a presença do dano moral  passível de indenização, em função da conduta lesiva do

réu.

O dano causado ao autor se presume, face aos inúmeros

transtornos pelo qual passou na tentativa de obter 

esclarecimentos e elucidar o ocorrido quanto ao seu

nome. Cabe ressaltar, as ausências constantes em seu

estágio com o intuito de diligenciar frente aos órgãos públicos para solucionar a questão, todas devidamente

relatadas no depoimento do supervisor do autor à época

dos fatos (fl. 121v.-122).

Diante do reconhecimento da existência de dano moral no

 presente caso, há necessidade de estabelecer os

 parâmetros para quantificação dos danos, nos termos que

segue: a) grau de culpabilidade do demandado: trata-sede responsabilidade objetiva do Estado, na medida em

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que o evento danoso foi causado, em virtude da conduta

desidiosa de agentes públicos em proceder o

arquivamento do registro da firma; b) extensão do dano: a

conduta do réu resultou em grave dano, considerando-se

a impossibilidade de atuar no mercado de consumo,

havendo restrição para obtenção de crédito, prejudicando,

até mesmo, a subsistência do autor. De qualquer forma, odano é in re ipsa; c) conduta do autor da ação: o autor em

nada contribuiu para o evento danoso, pois foi vítima de

uso indevido de seus documentos; d) condição

econômica do ofendido e do ofensor: o autor era pessoa

de poucas posses, enquanto que o demandado é o

Estado do Rio Grande do Sul, de modo que a condição

financeira da parte demandada comporta a condenação

ao pagamento de indenização por danos morais.

Para a quantificação do dano moral importa levar em

conta que se trata de responsabilidade objetiva do

Estado, considerando seu grau máximo. Não houve

qualquer contribuição da parte autora para ocorrência do

evento danoso. Assim, levando em consideração a

extensão do dano, tenho que o valor justo para indenizar 

o dano moral sofrido pela autora deve ser R$15.000,00 

(quinze mil reais), suficiente para o cumprimento da

função educativa e reparadora a que se presta o referido

instituto.

Os juros moratórios correm a partir do evento danoso,

conforme Súmula 54 do STJ.

Do pedido de anulação do procedimento de abertura de

firma individual 

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O pedido do autor merece prosperar.

Efetivamente restou comprovada a abertura de empresa

fraudulenta em nome do autor, portanto, pouco resolveria

na vida civil do autor receber a indenização por danos

morais se a firma individual permanecesse ativa.

Dessa forma, entendo que deva ser anulado o

arquivamento do registro de empresário do autor.” 

 Anoto que o “Requerimento de Empresário”, juntamente com a

“Comunicação de Enquadramento de Microempresa”, documentos que

embasaram a abertura da referida inscrição da pessoa jurídica, como

comerciante de peças automotivas, contam com a falsa assinatura do

apelado, sem qualquer exigência de reconhecimento da autenticidade. (fls.

66/67)

Destarte, reconhecido o direito de indenizar cumpre analisar a

adequação do montante indenizatório, considerando as peculiaridades do

caso concreto, mormente, o grau de culpa do causador do dano e a

condição econômica das partes.

Para a difícil tarefa de fixação do valor a ser pago, não há no

direito pátrio, critérios objetivos, somente a orientação contida no artigo 944

do Código Civil, no sentido de que a indenização mede-se pela extensão do

dano.

 Assim, há que ser observar a condição social e econômica do

causador e do ofendido, a capacidade do ofensor em suportar o encargo,

consistindo em uma compensação para o ofendido e uma expiação pelo ato

ilícito para o ofensor.

Os valores devidos, a título de dano moral, devem ser 

expressivos, a fim de evitar a reincidência do ofensor, em violar direito de

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outrem, possuindo caráter pedagógico, sendo por ele suportável, sem

causar enriquecimento ilícito do ofendido.

Esta é também a orientação da doutrina de Caio Mário da Silva

Pereira: 1

“O problema de sua reparação deve ser posto emtermos de que a reparação do dano moral, a par 

do caráter punitivo imposto ao agente, tem deassumir sentido compensatório. Sem a noção deequivalência, que é própria da indenização dodano moral, corresponderá à funçãocompensatória pelo que tiver sofrido. Somenteassumindo uma concepção desta ordem é que secompreenderá que o direito positivo estabelece o princípio da reparação do dano moral. A isso é dese acrescer que na reparação do dano moral insere-se uma atitude de solidariedade à vítima”.

Não se pode desconsiderar também que o nome do apelado

permaneceu cadastrado nos órgãos restritivos de crédito, indevidamente,

durante o período de 2003 a 2005, teve seu CPF bloqueado junto à Receita

Federal, ensejando, por certo, várias situações vexatórias.

E, ainda, atentando para os Princípios da proporcionalidade e

razoabilidade, destacando-se a chamada função punitiva ou pedagógica da

responsabilidade civil, tenho que o montante de R$ 15.000,00, (quinze mil

reais), fixado pela magistrada, mostra-se adequado ao caso concreto, não

configurando excesso para qualquer uma das partes.

Por tais razões, estou desprovendo o agravo retido e o apelo.

É o voto.

LC

1 Responsabilidade Civil, Forense, 6ª ed., 1995, Rio de Janeiro, p. 60:

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

                T

           R

          IB

     UN

A L   D  E     J   U    S     

T       I                    Ç           

 A     

R  S   AALNº 700366830502010/CÍVEL

DES. NEY WIEDEMANN NETO (REVISOR) - De acordo com o(a)

Relator(a).

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (PRESIDENTE) - De acordo com

o(a) Relator(a).

DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA - Presidente - Apelação Cível nº

70036683050, Comarca de Porto Alegre: "DESPROVERAM O AGRAVO

RETIDO E O APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: VIVIANE SOUTO SANT'ANNA

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