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AFRF • Direito Constitucional Brasília 2009 A2-AA214 29/10/2009

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AFRF

• Direito Constitucional

Brasília

2009

A2-AA21429/10/2009

© 2009 Vestcon Editora Ltda.

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Título da obra: Adendo – AFRF

Autor:Aylton Barbosa

DIRETORIA EXECUTIVANorma Suely A. P. Pimentel

DIREÇÃO DE PRODUÇÃOCláudia Alcântara Prego de Araújo

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃOJulio Cesar Joveli

CAPABertoni DesignAgnelo Pacheco

EDITORAÇÃO ELETRÔNICAAntonio Gerardo Pereira

REVISÃOJulio César M. de França

SEPN 509 Ed. Contag 3º andar CEP 70750-502 Brasília/DFSAC: 0800 600 4399 Tel.: (61) 3034 9576 Fax: (61) 3347 4399

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Publicação em 29/10/2009(A2/AA 214)

DIREITOS POLÍTICOS

INTRODUÇÃO

Os direitos políticos, tal como colocados na Constituição Federal, consistem no conjunto de regras, prerrogativas e atributos que possibilitam ao cidadão participar da vida pública de seu país. Assim, tais direitos estabelecem as possibilidades de uma pessoa que, ao preencher as condições exigidas, participe da condução política de seu país, exercendo a soberania popular.

Essa soberania popular, como o disposto no art. 14 da Constituição Federal, é exercida pelo voto, pelo sufrágio universal e pelas demais formas de participa-ção – direita e indireta – na vida política local, regional e nacional.

Não podem ser confundidos três institutos relativos aos direitos políticos: o sufrágio, o voto e o escrutínio.

Sufrágio consiste no direito público subjetivo de manifestação, que não se esgota quando é exercido; permanece latente até nova manifestação.

Já o voto se refere ao modo de exercício do sufrágio, ou seja, à maneira pela qual se exerce o referido direito subjetivo. O voto não se refere apenas à eleição de candidatos a cargos públicos eletivos, mas também às manifestações que os cidadãos expressam em plebiscito ou referendo.

Por último, o escrutínio é a forma pela qual o voto se expressa. Pode ele ser público ou secreto, sendo que no texto constitucional brasileiro se adotou a forma secreta de manifestação do voto.

Instrumentos de Participação

PlebiscitoConsiste em uma consulta popular realizada com precedência ao ato legislativo

ou administrativo. O povo, então, por meio de voto, é que deverá aprovar ou não a questão que lhe tenha sido delegada no plebiscito.

O plebiscito deve ser convocado mediante decreto legislativo do Congresso Nacional, sendo que a iniciativa de tal decreto legislativo deve ser de ao menos um terço dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional. A realização do plebiscito fi ca a cargo da Justiça Eleitoral e a consulta será aprovada ou rejeitada se alcançar a maioria simples dos votantes.

ReferendoInstrumento de participação popular, consiste em uma consulta realizada pos-

teriormente a um ato legislativo ou administrativo. Diferentemente do plebiscito,

DIREITO CONSTITUCIONALAylton Barbosa

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a questão a ser referendada no referendo – ato legislativo ou administrativo – já se encontra com texto fi nal produzido, sendo que a população deve ratifi cá-lo ou rejeitá-lo. Tal mecanismo deve ser autorizado pelo Congresso Nacional, em decreto legislativo cuja iniciativa é de ao menos um terço dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional, sendo que também incumbirá à Justiça Eleitoral a realização do referendo. Bem como no plebiscito, a decisão do referendo, no sentido de aprovar ou rejeitar o ato, também se dá por maioria simples.

Iniciativa PopularA iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos

Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, dis-tribuído pelo menos por cinco estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. O referido instrumento constitui um mecanismo democrático de participação dos cidadãos.

O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto, ou seja, não poderá ter em seu texto mais de um tema a ser deliberado pelo Poder Legislativo. Outro ponto relevante que se refere à iniciativa popular é o fato de que o projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais impropriedades de técnica legislativa ou de redação.

CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

Os direitos políticos podem ser classifi cados em ativos e passivos.

Direitos políticos ativos – Consistem na possibilidade de uma pessoa votar, escolhendo seus representantes políticos. Esse direito traduz, em verdade, um po-der/dever, pois além de poder votar nesses representantes, o texto constitucional prescreve que tal participação será obrigatória.

Importante ressaltar que a obrigatoriedade do voto não se trata de uma cláusula pétrea de nossa Constituição. O § 4º, art. 60, da Constituição estabelece serem cláusulas pétreas o fato de o voto ser direto, secreto, universal e periódico. Em tal texto, não se encontra a obrigatoriedade como cláusula pétrea. Dessa forma, pode uma emenda à Constituição alterar o inciso I do art. 14, tornando o voto facultativo e não mais obrigatório.

Satisfeitos os requisitos exigidos, a pessoa passa a ser chamada de cidadão, ou seja, detentor de direito político. Eis o texto constitucional:

Art. 14. [...]§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:I – obrigatórios para os maiores de dezoito anos;II – facultativos para:a) os analfabetos;b) os maiores de setenta anos;c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

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São obrigatórios o alistamento eleitoral e o voto aos maiores de dezoito anos. Facultativo será o exercício desses direitos quando a pessoa contar com mais de dezesseis e menos de dezoito anos de idade e quando já possuir mais de setenta anos de idade.

Cumpre observar que a idade acima referida é contada na data das eleições, ou seja, no dia em que a pessoa irá depositar seu voto na urna, sendo que o fato de um jovem de dezesseis anos ter se alistado eleitoralmente não torna obrigatório o seu comparecimento às urnas se na data da eleição ele ainda não contar com dezoito anos de idade.

Também os analfabetos possuem direitos políticos ativos, só que de modo facultativo, podendo ou não se alistar e votar.

Há quem afi rme que a obrigatoriedade é de comparecimento para votar, e não do voto em si. É que o cidadão poderia votar em branco ou nulo e, mesmo assim, teria se desincumbido de sua obrigação. Parece não ser essa a melhor conclusão, pois o texto constitucional é claro ao determinar que tanto o alistamento eleitoral quanto o voto são ambos obrigatórios; votar em branco ou nulo, ainda assim, con-siste em exercício do voto.

Direitos políticos passivos – Consistem na possibilidade de um cidadão vir a ser eleito para cargo público eletivo. Cargos públicos eletivos são aqueles aos quais se tem acesso pelo voto, pela escolha de seus pares para os representar.

A Constituição Federal estabelece uma série de requisitos para que uma pessoa seja detentora de direito político passivo, ou de capacidade eleitoral passiva. O § 3º, art. 14, elenca tais requisitos:

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:I – a nacionalidade brasileira;II – o pleno exercício dos direitos políticos;III – o alistamento eleitoral;IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;V – a fi liação partidária;VI – a idade mínima de:a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;d) dezoito anos para Vereador.

1) Nacionalidade brasileira – Pode ser nata ou naturalizada.Para alguns cargos, a Constituição exige a nacionalidade nata. São eles os car-

gos de presidente da República e seu vice, de presidente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Afora tais casos, todos os demais podem ser pleiteados por brasileiros naturalizados.

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Também os portugueses equiparados por força de norma constitucional podem pleitear o acesso aos cargos públicos, caso haja reciprocidade aos brasileiros em Portugal.

2) Pleno exercício dos direitos políticos – A pessoa que deseje se candidatar não deve ter seus direitos políticos perdidos ou suspensos. A perda e a suspensão de tais direitos serão analisadas detalhadamente mais adiante.

3) Alistamento eleitoral – Consiste no fato de o candidato estar inscrito em seção eleitoral pertencente a seu domicílio eleitoral para poder, assim, ser portador do título de eleitor.

4) Domicílio eleitoral na circunscrição – O pretendente a cargo público eletivo deve possuir domicílio no local em que irá colher os votos que pretende.

Assim, o vereador e o prefeito devem possuir domicílio eleitoral no município; já o candidato a presidente da República deve possuí-lo em qualquer local do terri-tório nacional; os pretendentes aos demais cargos – deputados (distritais, estaduais ou federais), senadores e governadores – devem possuir domicílio no estado (ou Distrito Federal) onde irão colher os votos de seus eleitores.

5) Filiação partidária – A Constituição exige, como requisito para a capaci-dade eleitoral passiva, que o candidato seja inscrito por partido político. O sistema democrático estabelecido em 1988 é do tipo partidário, ou seja, exige a presença das agremiações políticas para efetuarem o registro de seus candidatos.

Situação peculiar é a dos militares, tendo em conta que estes estão proibidos pela Constituição – inciso IV, § 3º, do art. 142 – de se fi liarem a partidos políticos. Para resolver o impasse, o Tribunal Superior Eleitoral estabeleceu que os militares podem ser registrados pelos partidos políticos sem a fi liação a estes, bastando, no momento do registro da candidatura, que expeçam um documento concordando com o registro de suas candidaturas.

Com tal situação, os militares poderão concorrer aos cargos públicos eletivos, podendo colher votos pela agremiação política – partido político – em que foram registradas suas candidaturas sem, no entanto, desobedecer à regra constitucional que lhes proíbe a fi liação partidária.

6) Idade mínima – A idade mínima é estabelecida na Constituição em razão dos graus de responsabilidade exigidos para o exercício do cargo. Tais idades devem ser consideradas quando da posse dos eleitos nos respectivos cargos públicos, ou seja, no dia em que o candidato tomar posse e não na data do alistamento eleitoral ou do registro da candidatura. As idades são: 18 anos para vereador; 21 anos para candidatos a prefeito, juiz de paz, deputados estaduais, distritais ou federais; 30 anos para o candidato a governador e 35 anos para os candidatos a senador e a presidente da República. Os candidatos a vice devem seguir a idade estipulada para o titular, o mesmo acontecendo com aqueles que fi caram na condição de suplentes, quando das eleições para os cargos de vereador e deputados.

LEI ELEITORAL

Ainda quanto às eleições, em privilégio ao princípio da segurança jurídica, a Constituição estabelece, no art. 16, que a lei que irá reger o processo eleitoral

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entrará em vigor na data de sua publicação, mas não se aplicará à eleição que ocorra em até um ano da data de sua vigência. Assim, a lei precisa estar publicada não apenas no ano anterior ao das eleições, mas sim em um ano antes da data designada para as eleições. Eis o texto constitucional:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

INELEGIBILIDADES

Introdução

As inelegibilidades consistem nas situações que impossibilitam uma pessoa de concorrer aos cargos públicos eletivos ou, quando relativas, impedem apenas o acesso a determinados cargos públicos ou exigem condições específi cas para que o candidato se apresente ao eleitorado.

A inelegibilidade não pode ser confundida com inalistabilidade. Enquanto a inelegibilidade consiste na impossibilidade de ser eleito, a inalistabilidade se defi ne como a impossibilidade de se alistar como eleitor, ou seja, como exercente de direitos políticos ativos.

Podem ser absolutas ou relativas. Absolutas são aquelas que impedem o acesso a qualquer cargo público eletivo, ao passo que as relativas impedem apenas alguns cargos ou exigem requisitos específi cos para a disputa.

Inelegibilidades Absolutas

Nos termos do § 2º do art. 14 da Constituição Federal, são absolutamente inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Eis o texto:

§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

Inalistáveis são os militares conscritos e os estrangeiros. Quanto aos militares, apenas os conscritos são inalistáveis e, portanto, inelegíveis. Militar conscrito é o jovem que está cumprindo o serviço militar obrigatório. Durante o período de tal cumprimento, esse jovem estará impedido de se alistar como eleitor e, dessa forma, de pleitear cargos públicos.

Já no que diz respeito aos estrangeiros, a regra constitucional encontra uma ex-ceção, a qual diz respeito ao português equiparado. Como visto no capítulo referente à nacionalidade, o texto constitucional determina que aos portugueses se garantirão os mesmos direitos de um brasileiro naturalizado. Assim, caso haja reciprocidade aos brasileiros em Portugal, os portugueses poderão pleitear, no Brasil, os mesmos cargos eletivos que um brasileiro pudesse pleitear em Portugal.

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Ao mencionar os analfabetos como inelegíveis, o texto constitucional quer se referir ao chamado analfabetismo funcional. Analfabeto funcional é aquele que não consegue expressar-se, de maneira produtiva, em texto escrito. Não basta, portanto, saber assinar o próprio nome. É necessário também ter a capacidade de extrair o conteúdo de um texto escrito e de transmitir para texto uma mensagem verbalizada.

Inelegibilidades Relativas

Os §§ 5º a 9º do art. 14 estabelecem as situações de inelegibilidade relativa, donde podem ser extraídas as situações de inelegibilidade funcional, inelegibilidade por parentesco, regras relativas aos militares e as inelegibilidades legais.

Inelegibilidade FuncionalDispõem os §§ 5º e 6º do art. 14:

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Go-vernadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

O princípio republicano exige, para sua manutenção, a alternância no Poder. Partindo de tal pressuposto, a Constituição estabelece que os detentores de cargos públicos eletivos não devam se perpetuar no Poder, estabelecendo regras específi cas acerca da reeleição.

Temos, então, duas situações:Quanto aos detentores de cargos eletivos no Legislativo, a Constituição não

estabelece qualquer restrição quanto a sua reeleição. Assim, vereadores, deputados e senadores podem concorrer a quantos mandatos quiserem, sem que incorram em qualquer restrição constitucional.

Já para os ocupantes de cargos no Poder Executivo, tendo em conta o princí-pio republicano acima enunciado, apenas poderão concorrer a um único mandato subsequente. Apenas poderão, portanto, reeleger-se uma única vez.

Frise-se que a reeleição se defi ne como a eleição para o mesmo cargo que se esteja ocupando, em mandato imediatamente subsequente. Para os detentores de cargo eletivo no Poder Executivo, veda-se o terceiro mandato consecutivo.

Tal impedimento atinge não apenas aqueles que tenham exercido, de forma de-fi nitiva ou perene, tal cargo. Alcança, também, quem os haja substituído no período de seis meses que antecede às eleições. Assim, caso os eleitos para os cargos de vice (vice-prefeito, vice-governador ou vice-presidente) não tenham exercido as funções dos titulares nos seis meses antes do pleito, poderão se candidatar àquele cargo.

Esse período de seis meses é conhecido como período da desincompatibili-zação. A desincompatibilização nada mais é do que a necessidade de renúncia ao

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cargo público ocupado seis meses antes do pleito eleitoral. Tal renúncia, contudo, apenas é exigida do Chefe do Executivo, quando este almejar a concorrência a outro cargo público eletivo. A desincompatibilização visa, sobretudo, a não utilização da máquina administrativa em campanha eleitoral.

Caso, por exemplo, um prefeito queira se candidatar a deputado ou governador, deverá renunciar. Ocorre, porém, que se este pretender se reeleger no cargo de prefeito, não será necessária tal renúncia.

Assim, a desincompatibilização é uma exigência apenas do Chefe do Executivo que se candidate a outro cargo que não o que já esteja ocupando.

Pode-se, portanto, concluir que no atual texto constitucional não se encontra hipótese de reeleição com necessidade de desincompatibilização.

Inelegibilidade Refl exaA Constituição Federal busca a alternância no exercício do poder e impede a

reeleição ilimitada para a chefi a do Poder Executivo. Ocorre que seria muito fácil burlar tal proibição caso se permitisse que pessoas próximas ao Chefe do Executivo pudessem disputar o cargo para o qual ele mesmo não poderia, naquele momento, se candidatar. Para evitar tal burla, estabelece o § 7° do art. 14:

§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afi ns, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Por território de jurisdição entende-se o local em que o titular da inelegibili-dade colha seus votos. Assim, para o prefeito, o território seria o município; para o governador seria o estado, enquanto, para o Presidente, o território de jurisdição é considerado todo o território nacional.

Os parentes podem ser consanguíneos ou afi ns. Consanguíneos são aqueles da mesma família do titular, seja ele prefeito, governador ou Presidente. Parentes afi ns, por seu turno, são os parentes do cônjuge do titular.

Os graus de parentesco são contados excluindo-se a própria pessoa. Desse modo, na linha de ascendência, o pai é parente de primeiro grau, o avô de segundo grau e assim por diante. Já na linha de descendência, o fi lho será parente de primeiro grau, o neto de segundo grau e assim por diante. Os parentes consanguíneos do cônjuge também são parentes do titular, só que por afi nidade. Desse modo, o pai do cônjuge – sogro – é parente em primeiro grau, por afi nidade, e assim por diante.

Tais parentes são inelegíveis no território de jurisdição do titular quando pre-tendem se candidatar para qualquer cargo público eletivo que colha votos naquele território, a partir do que se conclui que:

1) os parentes do prefeito são inelegíveis, no município correspondente, para o cargo de vereador;

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2) os parentes do governador são inelegíveis, no território daquele Estado, para os cargos de vereador, prefeito, vice-prefeito, deputado (estadual, distrital ou federal) e senador;

3) os parentes do Presidente são inelegíveis para todos os cargos públicos eletivos em território nacional, a não ser pela exceção abaixo.

A única exceção estabelecida pela Constituição ocorre quando o parente já seja detentor de cargo público eletivo e pretenda reeleição. Ou seja, se o fi lho do governador de um Estado já for vereador e pretender se reeleger ao cargo de vere-ador, a inelegibilidade refl exa não o alcançaria. Caso, porém, queira se candidatar a outro cargo diferente daquele que já exerce, se tornaria inelegível. É óbvio, por outro lado, que a presente inelegibilidade apenas atinge os parentes do governador no estado por este governado. Tais parentes poderão se candidatar por outra uni-dade da Federação sem que sejam alcançados pelo fato de alguém da família ser governador em unidade federativa distinta.

Um último detalhe precisa ser estabelecido. Como o constituinte passou a entender possível a reeleição do Chefe do Executivo, o Tribunal Superior Eleitoral acabou por estabelecer que seu parente pode ser eleito caso o titular (prefeito, go-vernador ou presidente) também o possa. Nesse caso, o parente estará se elegendo nas mesmas condições do titular. Em consequência, se o titular puder disputar mais um mandato, o parente também poderá. Caso o titular já esteja no segundo mandato consecutivo, o parente não poderá se candidatar para aquele mesmo cargo.

Por outro lado, caso o titular da inelegibilidade (prefeito, governador ou pre-sidente) renuncie seis meses antes das eleições, estará liberando seus parentes a disputar qualquer cargo público eletivo, exceto o que ele ocupava quando da re-núncia, a não ser que ele mesmo – o titular da inelegibilidade – pudesse ser reeleito para aquele mesmo cargo.

Exigências Quanto aos MilitaresA vida militar é área em que devem imperar preceitos como hierarquia e dis-

ciplina. Partindo desse pressuposto, o texto constitucional busca regular a situação dos membros das Forças Armadas e outras Forças Militares (policias militares e bombeiros militares) para que estes possam se candidatar a cargos públicos eletivos, como se constata no texto constitucional:

§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

Em relação ao tema, a constituição distinguiu duas situações, quer o militar tenham menos (inciso I) ou mais de dez anos (inciso II) de serviço militar.

Para os que tiverem menos de dez anos de vida militar, a Constituição exige que eles afastem-se da atividade militar. Assim, o militar nessa situação, para ser candi-dato, deverá abandonar as fi leiras da corporação desde o registro de sua candidatura.

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Aqueles que, quando do registro da candidatura, possuírem mais de dez anos de serviço, não precisarão abandonar sua função. Ao registrarem suas candidaturas, ou seja, enquanto candidatos, tais militares são agregados a seu superior hierárquico, ou seja, fi cam temporariamente afastados de suas funções. Caso não seja eleito, tal militar volta à corporação. No entanto, caso seja eleito, tal militar passará, auto-maticamente, para a inatividade, no ato da diplomação.

Ressalte-se ainda que este militar eleito, ao término do mandato, continuará na inatividade, não podendo regressar às fi leiras militares.

Ao contrário do militar com menos de dez anos, o militar com mais de dez anos, ao passar para a inatividade, tem direito aos seus proventos, os quais serão proporcionais ao tempo de trabalho prestado pelo mesmo.

Inelegibilidades LegaisA constituição estabelece hipóteses de inelegibilidade. Mas também prescreve

que outras hipóteses poderão existir, desde que criadas por lei complementar. No § 9º do art. 14 de seu texto, estabeleceu o constituinte que uma lei, do tipo com-plementar, poderá estabelecer outras hipóteses de inelegibilidade, com a fi nalidade de proteção da administração e de moralização do exercício do mandato. Hoje esta lei é a Lei Complementar nº 64/1990, a qual estabelece tais hipóteses. Eis o texto constitucional:

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

DA IMPUGNAÇÃO DO MANDATO

Por fi m, ainda quanto ao tema das regras relativas aos direitos políticos, esta-belecem os §§ 10 e 11, art. 14, do texto constitucional:

§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

A ação de impugnação do mandato deve ser ajuizada no prazo de 15 dias, não tendo de estar julgada em tal prazo. O ato da diplomação constitui uma ação administrativa da Justiça Eleitoral, que normalmente ocorre cerca de 50 dias após as eleições. A partir de tal ato é que se inicia o prazo para impugnação do mandato.

§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.

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Também com relação à ação de impugnação de mandato, é importante salientar que sua tramitação (condução do processo) ocorre em segredo de justiça, sendo que tal processo apenas será acessível às partes interessadas e seus advogados.

PERDA E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS

Tendo em vista a importância dos assuntos relacionados aos direitos políticos, a Constituição Federal estabeleceu as hipóteses em que tais direitos podem ser perdidos ou suspensos.

Inicialmente observa-se a proibição de cassação dos direitos políticos. A cas-sação seria a retirada dos direitos políticos fora das hipóteses estabelecidas na Constituição, sendo absolutamente proibida pelo texto. As hipóteses de perda e suspensão são disciplinadas no art. 15 da Constituição, em que se estabelece:

É importante salientar que apenas o texto constitucional é que pode criar hipóte-ses de perda ou suspensão de direitos políticos. Qualquer norma infraconstitucional que determine uma hipótese de perda ou suspensão seria, portanto, inconstitucional. Assim, a relação estabelecida no art. 15 é exaustiva, ou seja, estabelecedora de todas as hipóteses de perda ou suspensão.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;II – incapacidade civil absoluta;III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Sobre tais hipóteses, é necessário salientar os seguintes pontos:Cancelamento da naturalização – é uma hipótese de perda dos direitos polí-

ticos de maneira indireta. Como a pessoa não mais é nacional, e sendo a naciona-lidade brasileira um dos requisitos para possuir direitos políticos, o cancelamento da naturalização torna a pessoa um estrangeiro e, consequentemente, sem direito à cidadania.

Recusa de cumprimento de obrigação legal a todos imposta – é a hipótese já analisada no inciso VIII, art. 5º da Constituição Federal, em que a pessoa que se nega a cumprir uma determinação imposta pela lei a todos (ex.: participar como jurado em Tribunal do Júri) perde os direitos políticos. Observe-se, contudo, que o Supremo Tribunal Federal entende que pode haver a reabilitação de tais direitos quando o interessado cumprir a obrigação originária ou a alternativa.

Condenação criminal transitada em julgado – é uma hipótese de suspensão enquanto perdurarem os efeitos da condenação. Não importa se a condenação se deu por crime doloso ou culposo, ou até mesmo por contravenção. Enquanto estiver

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cumprindo a pena à qual foi condenada, a pessoa terá suspensos os seus direitos políticos, tanto ativos quanto passivos.

A referida suspensão dos direitos políticos permanece durante todo o cum-primento da pena, não importando a maneira pela qual ela esteja sendo cumprida. Assim, eventual progressão de regime não afasta a suspensão dos direitos políticos. Mesmo que o condenado já se encontre em regime semiaberto ou aberto, ele per-manecerá com a suspensão de tais direitos.

Incapacidade civil absoluta – nos temos do art. 3º do Código Civil, são con-siderados absolutamente incapazes: I – os menores de dezesseis anos; os que, por enfermidade ou defi ciência mental não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil e os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Nesses casos, tais pessoas terão suspensos seus direitos políticos enquanto perdurarem as causas da incapacidade.

Improbidade administrativa – em tal situação, condenada a pessoa por improbidade administrativa, terá suspensos seus direitos políticos, nos termos do disposto no § 4º, art. 37, da Constituição Federal.

PARTIDOS POLÍTICOS

A Constituição Federal estabeleceu grande liberdade na constituição e funcio-namento dos partidos políticos ao determinar, no caput do art. 17, a possibilidade de sua criação, fusão, incorporação e extinção, nos moldes da legislação civil sobre as associações. Eis o texto:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos po-líticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o plu-ripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:I – caráter nacional;II – proibição de recebimento de recursos fi nanceiros de entidade ou go-verno estrangeiros ou de subordinação a estes;III – prestação de contas à Justiça Eleitoral;IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei.§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para defi nir sua estru-tura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fi delidade partidária.§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.§ 3º Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização para-militar.

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Após sua criação, os partidos deverão ser registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Essas agremiações políticas deverão, entretanto, respeitar os princípios da soberania nacional, regime democrático, pluripartidarismo e os direitos da pessoa humana. Também deverão possuir caráter nacional, devendo prestar suas contas à Justiça Eleitoral, além de estarem proibidos de receber recursos fi nanceiros de entidades ou governos estrangeiros.

Assim, trata-se de pessoas jurídicas de direito privado, dotadas de algumas funções e prerrogativas públicas. Entre tais funções, está a de registrar candidaturas ou de iniciar processo de sustação de processo criminal contra parlamentar, nos termos do § 3º do art. 53. Já quanto às prerrogativas, poderão eles, nos termos da lei, utilizar-se de recursos do fundo partidário e terem acesso a programas gratuitos de rádio e televisão. Frise-se, contudo, que nem todos os partidos criados poderão gozar de tais prerrogativas ou exercer tais funções, pois a Constituição estabeleceu a possibilidade de a lei, ao regulamentar a matéria, estabelecer os requisitos neces-sários a essas funções ou prerrogativas.

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ANOTAÇÕES: ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Formato15x21cm

Mancha11,5x17,5 cm

PapelOffset

Gramatura70 gr/m2

Número de páginas16

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