ALEXY. Colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrático

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  • 7/23/2019 ALEXY. Coliso de Direitos Fundamentais e Realizao de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrtico

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    COLISO

    DE

    DIREITOS FUNDAMENTAIS E REALIZAO DE DIREITOS

    FUNDAMENTAIS NO ESTADO DE

    DIREITO

    DEMOCRTICO*

    ROSERT ALEXY

    I O fenmeno

    da

    coliso de direitos fundamentais. I. Colises de direitos

    fundamentais em sentido estrito. a Colises de direitos fundamentais de

    direitos fundamentais idnticos. b Coliso de direitos fundamentais de

    direitos fundamentais diferentes. 2. Colises de direitos fundamentais em

    sentido amplo. 11 A soluo do problema da coliso.

    I

    fora vinculativa

    dos direitos fundamentais.

    2

    Regras e princpios. a A distino. b

    s

    opes da teoria das regras. c

    O

    caminho

    da

    teoria dos princpios. d

    Vinculao e flexibilidade.

    Os direitos fundamentais so, por um lado, elementos essenciais da ordem

    jurdica nacional respectiva. Por outro, porm, eles indicam alm do sistema nacional.

    Nessa passagem

    do

    nacional deixam-se distinguir dois aspectos: um substancial e

    um sistemtico. Os direitos fundamentais rompem, por razes substanciais, o quadro

    nacional, porque eles, se querem satisfazer os requisistos que lhes podem ser postos,

    devem incluir os direitos do homem. Os direitos do homem tm, porm, inde

    pendentemente de sua positivao, validez universaL Eles pem, por conseguinte,

    exigncias a

    cada

    ordem jurdica.

    Uma

    contribuio importante para a sua concre

    tizao internacional forneceu e fornece a Declarao Universal dos Direitos do

    Homem, de 10 de dezembro de 1948. Os direitos do homem tornaram-se vinculativos

    jurdico-positivamente no plano internacional pelo Pacto Internacional sobre Direitos

    Civis e Polticos, de

    19

    de dezembro de 1966.

    Uma

    pea paralela a

    ele

    o Pacto

    Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais, do mesmo dia, que,

    naturalmente, est dotado com muito menor fora de concretizao. Ao lado deles

    e de outros pactos delineados internacionalmente colocam-se convenes regionais.

    Tudo isso cria comunidades substanciais.

    s comunidades substanciais correspondem as sistemticas. Em toda a parte

    onde direitos fundamentais existirem, colocam-se os mesmos ou semelhantes pro

    blemas. Apenas

    para

    mencionar alguns: que diferenas estruturais existem entre

    direitos de defesa liberais, direitos

    proteo, direitos fundamentais sociais e direitos

    de cooperao poltica? Quem

    o destinatrio, quem o titular de direitos fundamen

    tais? Sob quais pressupostos formais e materiais direitos fundamentais podem ser

    limitados?

    Com que

    intensidade pode um tribunal constitucional controlar o legis

    lador sem que sejam violados o princpio democrtico e o princpio da separao de

    poderes? A comunidade de semelhantes questes sobre a estrutura de direitos fun

    damentais e jurisdio constitucional abre, diante do fundo das comunidades subs-

    I

    Comparar R Alexy, Diskurstheorie und Menschenrechte, in: ders., Recht, Vernunft, Diskurs,

    Frankfurt a.M. 1995,

    S

    144

    f

    Palestra proferida na sede

    da

    Escola Superior

    da

    Magistratura Federal (ESMAFE) no dia 7

    de

    dezembro

    de

    1998.

    67

    ALEXY, Robert. Coliso de direitos fundamentais e realizao de direitos fundamentais no estado de direito

    democrtico. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 217, p.67-79, jul/set. 1999.

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    tanciais. a possibilidade de uma cincia dos direitos fundamentais transcendente s

    ordens jurdicas particulares. a qual muito mais que uma mera comparao de

    direito. a cincia dos direitos fundamentais ampla O objetivo da cincia dos

    direitos fundamentais ampla no , de nenhum modo. a nivelao das ordens dos

    direitos fundamentais. Ao contrrio, as diferenas lhe do estmulos e tarefas. Seu

    intento vale, antes. revelao das estruturas dogmticas e ao destacamento dos

    princpios e valores que esto atrs das codificaes e da jurisprudncia. O intrincado

    e complicado pode, assim, converter-se em uma multiplicidade sistematicamente

    preenchida e, com isso. entendida no melhor sentido que, dessa forma, compreen

    de-se, simultaneamente, como unidade.

    I O fenmeno da coliso de direitos fundamentais

    A maioria das constituies contm hoje catlogo de direitos fundamentais

    escritos. A primeira tarefa da cincia dos direitos fundamentais, como uma disciplina

    jurdica, a interpretao desses catlogos. Nisso, valem as regras tradicionais da

    interpretao jurdica. Estas, todavia, na interpretao dos direitos fundamentais.

    chocam-se logo com limites. Uma razo essencial para isso a coliso de direitos

    fundamentais.

    O conceito de coliso de direitos fundamentais pode ser compreendido estrita

    ou amplamente. Se ele compreendido estritamente, ento so exclusivamente

    colises nas quais direitos fundamentais tomam parte coliso de direitos fundamen

    tais. Pode-se falar aqui de colises de direitos fundamentais em sentido estrito. Em

    uma compreenso ampla so. pelo contrrio. tambm colises de direitos fundamen

    tais com quaisquer normas ou princpios, que tm como objeto bens coletivos.

    colises de direitos fundamentais. Isso o conceito de coliso de direitos fundamen

    tais em sentido amplo. Ambos os tipos de coliso so temas centrais da dogmtica

    dos direitos fundamentais. Sua anlise conduz a quase todos os problemas dessa

    disciplina. Todavia, antes de iniciar essa anlise, deve, primeiro, o fenmeno a ser

    analisado ser considerado mais de perto.

    No existe catlogo de direitos fundamentais sem coliso de direitos fundamen

    tais e tambm um tal no pode existir. Isso vale tanto para colises de direitos

    fundamentais em sentido estrito como tambm para tais em sentido amplo.

    I Colises de direitos fundamentais em sentido estrito

    Colises de direitos fundamentais em sentido estrito nascem sempre ento,

    quando o exerccio ou a realizao do direito fundamental de um titular de direitos

    fundamentais tem conseqncias negativas sobre direitos fundamentais de outros

    2 Comparar

    P

    Haberle, Verfassungsentwicklung in Osteuropa - aus der Sicht der Rechtsphilo

    sophie und der Verfassungslehre, in: AOR 117

    \

    992),

    S

    170

    ff

    68

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    titulares de direitos fundamentais. Nos direitos fundamentais colidentes pode tratar

    se

    ou dos mesmos ou de direitos fundamentais diversos.

    a olises de direitos fundamentais idnticos

    Deixam-se distinguir quatro tipos de colises de direitos fundamentais idnticos.

    No primeiro tipo est, em ambos os lados, afetado o mesmo direito fundamental

    como direito de defesa liberal. Uma tal coliso existe, por exemplo, ento, quando

    dois grupos polticos hostis, por

    um

    motivo atual, querem demonstrar-se, ao mesmo

    tempo, no centro de uma cidade e h o perigo de choques. No

    segundo

    tipo trata-se

    do mesmo direito fundamental, uma vez como direito de defesa liberal de

    um

    e.

    outra, como direito de proteo do outro. Um tal caso existe, por exemplo, quando

    atirado em

    um

    detentor de refm para salvar a vida de seu refm. Nisto, contudo,

    deve ser acentuado que com a coliso entre o direito vida, de um lado, do detentor

    do refm, e, de outro, do refm. somente compreendida uma parte do problema

    total.

    freqentemente possvel salvar a vida do refm pelo fato de simplesmente

    atender

    s

    exigncias do detentor do refm. Vem, ento, como terceiro elemento da

    coliso total uma obrigao de proteo ... diante da totalidade dos cidados 3 em

    jogo, que pede do Estado no fazer nada que possa dar estmulo a outras tomadas

    de refns. O objeto imediato desse dever de proteo

    um

    bem coletivo: a segurana

    pblica. Isso torna claro que muitas colises so complexas. Exatamente para com

    preender adequadamente colises complexas, porm, necessrio identificar clara

    mente os elementos fundamentais dos quais elas so compostas. O

    terceiro

    tipo de

    coliso de direitos fundamentais iguais resulta disto, que muitos direitos fundamen

    tais tm

    um

    lado negativo e um positivo. Isso especialmente claro na liberdade de

    crena. Ela compreende tanto o direito de ter e de praticar uma crena. como tambm

    o direito de no ter uma crena e de ser poupado da prtica de uma crena. Quais

    problemas podem resultar disso mostra a resoluo-crucifixo, uma das decises mais

    discutidas do Tribunal Constitucional Federal alemo,4 com toda a clareza. Nesta

    deciso trata-se da questo se o Estado pode ordenar que nas salas de aula de escolas

    pblicas deve ser colocada uma cruz. Aqui colide a liberdade de crena negativa dos

    no-cristos que, assim o Tribunal Constitucional Federal,

    em

    classe, por ordem

    do Estado e sem possibilidade de evitar, so confrontados com esse smbolo e so

    obrigados a aprender

    'sob

    a cruz'

    5

    com a liberdade de crena positiva dos cristos,

    de praticarem sua convio de crena no quadro das instituies estatais .

    6

    O

    tribunal dissolve

    essa

    relao de tenso entre liberdade religiosa negativa e positi-

    3 BVerfGE 46, 16 (165).

    4 Comparar, para isso, Winfried BruggerlStefan Huster (Hg.), Der Streit

    um

    das Kreuz in der

    Schule, Baden-Baden 1998.

    5

    BVerfGE 93, 1 (18).

    6

    BVerfGE 93, 1 (24).

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    va

    q

    ao ele proibir a

    colocao

    de cruzes ou crucifixos em espaos escolares pblicos.

    em que, para a fundamentao, outros pontos de vista so aduzidos, especialmente

    aquele da neutralidade religioso-poltica.

    x

    A quarta variante de colises dos mesmos

    direitos fundamentais de titulares diferentes resulta quando se acrescenta ao lado

    jurdico de um

    direito

    fundamental um ftico. Como exemplo, seja considerada a

    jurisprudncia do Tribunal Constitucional Federal

    alemo

    sobre auxlio de

    custas

    processuais. Se se parte da igualdade jurdica.

    ento

    pobres e ricos so tratados

    igualmente

    quando

    nenhum deles recebe apoio estatal para o financiamento de custas

    judiciais e honorrios

    de

    advogado. Sob o

    ponto

    de vista da igualdade ftica,

    porm,

    isso um tratamento desigual, porque do pobre. com isso. as oportunidades de

    concretizar seu

    direito

    so tomadas ou

    e s t r e i t a d a s . ~

    Se se fomenta, porm, o pobre,

    ento trata-se os ricos

    juridicamente

    de

    outra

    forma

    como

    os pobres, portanto,

    desigualmente, porque:

    Fomentar

    determinados grupos significa

    j

    tratar outros

    desigualmente. 111 Se se estende o princpio da igualdade tanto igualdade jurdica

    como ftica, ento

    topa-se

    forosamente com esse paradoxo da igualdade. O

    paradoxo

    da

    igualdade

    uma

    coliso que se apresenta tanto mais intensamente

    quanto

    mais realizado em Estado social. No , portanto, acaso que o Tribunal Constitu

    cional Federal alemo

    enlaa

    a idia da igualdade ftica

    com

    o princpio

    do

    Estado

    sociaL

    b) oliso de direitos fimdamentais de direitos fundamentais diferentes

    Sob

    as

    colises entre

    direitos fundamentais

    diferentes

    de titulares de direitos

    fundamentais diferentes, a coliso da liberdade de manifestao de opinio com

    direitos fundamentais

    do

    afetado negativamente pela manifestao de opinio toma

    uma posio especial.

    essa

    a problemtica que. em 1958. deu motivo ao Tribunal

    Constitucional Federal com sua

    s e n t e n a - L t h l ~

    uma

    das

    sentenas mais significa

    tivas da jurisdio constitucional alem, de

    colocar

    os trilhos bsicos para a

    sua

    jurisprudncia da ordem de valores que conduz a duas

    conseqncias

    fundamentais

    para os direitos fundamentais: primeiro, irradiao dos direitos fundamentais sobre

    o sistema

    jurdico

    total e, segundo, onipresena da ponderao. Um efeito tardio

    dessa sentena

    a

    resoluo

    soldados-so-assassinos,

    na

    qual a

    condenao

    de

    pacifistas, que qualificaram soldados de assassinos, por ofensa foi classificada como

    inconstitucional. Aqui colide a liberdade de manifestao de opinio artigo

    51l.

    alnea

    I, frase I, da Lei

    Fundamental)

    dos pacifistas

    com

    o direito de personalidade geral

    7 BVerfGE 93, I 22).

    8 Ebd

    9

    BVerfGE 56, 139 144).

    1 BVerfGE 12,354 367).

    I BVerfGE 12,354 367); 56,139 143).

    12 BVerfGE 7,198.

    70

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    (artigo 2. alnea I em unio com o artigo I alnea

    I

    da Lei Fundamental) dos

    soldados. que inclui a proteo da honra.

    1.

    O debate exacerbado. que essa sentena

    promoveu, mostra que material explosivo colises de direitos fundamentais podem

    ocultar.

    Na resoluo soldados-so-assassinos trata-se de uma coliso de direitos de

    liberdade diferentes de titulares de direitos fundamentais diferentes. Colises de

    direitos fundamentais diferentes de titulares de direitos fundamentais diferentes

    existem no s no mbito dos direitos de liberdade. Elas so possveis entre direitos

    fundamentais de qualquer tipo. Especialmente importante aquela entre direitos de

    liberdade e igualdade. Se se aplica a proibio de discriminao ordem jurdica

    total, portanto, tambm ao direito privado. ento colises entre a autonomia privada

    do empregador e o direito ao tratamento igual do empregado so inevitveis.

    2 Colises de direitos fundamentais em sentido amplo

    At agora tratou-se de colises de direitos fundamentais em sentido estrito,

    portanto, de colises entre direitos fundamentais iguais e diferentes de titulares de

    direitos fundamentais diferentes. No menos significativas so as colises de direitos

    fundamentais em sentido amplo, portanto, as colises de direitos fundamentais com

    bens coletivos. Um exemplo para isso oferece a resoluo da dragagem do Tribunal

    Constitucional Federal alemo. Nela tratou-se da questo se em qual proporo e

    como o legislador pode proibir ao proprietrio aproveitamentos de seu terreno que

    prejudicam a gua subterrnea.

    4

    A qualidade da gua um bem coletivo clssico.

    A viso, que se

    toma

    sempre mais penetrante, sobre problemas ecolgicos, eleva

    sempre mais colises desta natureza de bens coletivos ecolgicos com o direito

    fundamental propriedade luz.

    Bens coletivos no so s, naturalmente, adversrios de direitos individuais.

    Eles tambm podem ser pressuposto ou meio de seu cumprimento ou fomento.

    s

    Assim, o dever legal da indstria de tabacos de colocar advertncias sobre prejuzos

    sade em seus produtos uma interveno na liberdade de exerccio profissional

    dos produtores de tabaco, portanto, em um direito fundamental. A justificao direta

    dessa interveno reside na proteo da populao diante de riscos sade , 16

    portanto,

    em

    um bem coletivo. Indiretamente, trata-se, nisso, de algo

    que

    tambm

    por direitos individuais protegido, ou seja, da vida e da sade do particular. O mais

    claro o carter ambivalente no bem coletivo clssico da segurana interna ou

    pblica. O dever do Estado de proteger os direitos de seus cidados obriga-o a

    produzir uma medida to ampla quanto possvel deste bem. Isso, porm, no

    3

    BVerfGE 93, 266 (290).

    14

    BVerfGE 58, 300 (318 ff.).

    15

    Comparar, para isso, R. A1exy lndividuelle Rechte und kollektive Gter,

    in:

    Recht, Vernunft,

    Diskurs, Frankfurt a.M. 1995,

    S.

    243 ff.

    16

    BVerfGE 95, 173 (185).

    7

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    possvel sem intervir na liberdade daqueles que prejudicam ou ameaam a segurana

    pblica.

    A segurana interna

    um

    bem coletivo central do Estado de direito liberal. A

    proteo do meio ambiente define sua variante mais nova: o Estado de direito

    ecolgico. Visto historicamente, entre ambos est o Estado de direito social. O

    cumprimento dos postulados do Estado de direito social apresenta poucos problemas

    quando um equilbrio econmico cuida disto, que todos os cidados mesmos ou por

    sua famlia estejam dotados suficientemente. Quanto menos isso o caso, tanto mais

    os direitos fundamentais sociais pedem redistribuio. Disto existem duas formas

    bsicas. A primeira ocorre quando o Estado, por impostos ou outras contribuies,

    consegue o dinheiro que necessrio para atender ao mnimo existencial dos pobres.

    O dever de pagar impostos, porm, intervm em direitos fundamentais. Duvidoso

    somente quais so eles: o direito de propriedade ou a liberdade de ao geral. 7 Como

    o Estado nunca cobra impostos somente para a finalidade do cumprimento de

    postulados estatal-sociais, no conveniente aduzir diretamente os direitos funda

    mentais sociais para a justificao dessa interveno. Antes, a cobrana de impostos

    serve diretamente s produo da capacidade de ao financeira do Estado. A

    capacidade de ao financeira do Estado , em termos genricos, um pressuposto de

    sua capacidade de ao. O Estado social pede que ela seja consideravelmente am

    pliada.

    A segunda forma da redistribuio estatal-social no sucede pelo errio pblico,

    que enchido de antemo por impostos ou outras contribuies, seno diretamente

    de um para outro cidado. Assim, trata-se de uma redistribuio direta de

    um

    cidado

    para outro cidado quando o legislador, para a proteo do locatrio, promulga

    prescries que dificultam o aviso de sada ou limitam as possibilidades do aumento

    de aluguel.

    8

    O artigo 7

    2

    da Constituio brasileira de 5 de outubro de 1988 utiliza

    intensamente uma redistribuio direta desta natureza ao, por exemplo, o inciso I

    prescrever uma proteo contra despedida, o inciso IV um salrio mnimo, o inciso

    XIII um horrio de trabalho mximo e o inciso XVII frias anuais remuneradas. O

    problema de tais direitos fundamentais sociais custa de terceiros, ou seja, do

    empregador, que,

    no

    fundo, o mercado decide sobre isto,

    se

    eles so efetivos. Para

    aquele que no encontra emprego esses direitos correm no vazio. Aqui deve interessar

    somente que nesses direitos se trata de uma situao de coliso complexa. Do lado

    do empregador o assunto ainda

    simples. Sua liberdade empresarial limitada. Um

    direito no est diretamente diante daquele

    do

    lado do empregado, mas somente

    um

    direito a isto, que ele ento, quando achar

    um

    empregador que o empregue, obtenha

    um salrio mnimo. Isso um direito social condicional. Diretamente pelo artigo 7

    somente criado

    um

    bem coletivo, ou seja, um estado da economia no qual - se essa

    prescrio for observada - existem somente empregos com salrio mnimo, em que

    a questo sobre sua distribuio ainda permanece totalmente aberta.

    7

    BVerfGE 93,

    2

    137 f.).

    18

    Comparar BVerfGE

    68 361

    367); 89, 1 5 ff.).

    7

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    U

    A soluo do problema da coliso

    o olhar sobre o fenmeno da coliso de direitos fundamentais deu luz cons

    telaes altamente diferentes que. porm, tm algo em comum: todas as colises

    podem somente ento ser solucionadas

    se

    ou de um lado ou de ambos, de alguma

    maneira. limitaes so efetuadas ou sacrifcios so feitos. A questo como isso

    deve ocorrer.

    Na

    resposta a esta questo devem ser tomadas decises fundamentais

    sobre a estrutura fundamental da dogmtica dos direitos fundamentais.

    I

    A fora vinculativa dos direitos fundamentais

    A questo mais importante para cada catlogo de direitos fundamentais se nos

    direitos fundamentais se trata de normas juridicamente vinculativas ou no. O con

    ceito da vinculao jurdica determinado diferentemente na teoria geral do direito.

    Em um sistema jurdico que conhece a separao dos poderes e, com isso, o poder

    judicial

    como

    terceiro poder, tudo fala a favor disto, de qualificar

    como

    juridica

    mente vinculativas somente aquelas normas de direitos fundamentais cuja violao,

    seja em que procedimento for, possa ser verificada por um tribunal, que so, portanto,

    justiciveis ideal, quando esta verificao, em ltima instncia, deixada a cargo

    de um tribunal constitucional, porm, tambm possvel que ela caiba somente na

    competncia dos tribunais profissionais. Normas de direitos fundamentais, cuja

    violao no pode ser verificada por nenhum tribunal tm, pelo contrrio, um carter

    no-justicivel e so, nisso, vinculativas no juridicamente, seno, talvez, moral ou

    politicamente. Elas so meras normas programticas ou, se se quer formular pole

    micamente, mera lrica constitucional.

    O problema da coliso iria,

    como

    problema jurdico, desaparecer

    j

    totalmente

    se se declara todas as normas de direitos fundamentais como no-vinculativas. As

    colises seriam, ento, problemas polticos ou morais e no caberiam, como tais, na

    competncia dos tribunais. Na Alemanha, essa soluo excluda pelo artigo 1

    2

    alnea 3, da Lei Fundamental, que vincula todos os trs poderes aos direitos funda

    mentais como direito diretamente vigente. Tambm no Brasil o caminho de uma

    declarao de no-vinculao de todos os direitos fundamentais deveria ser intran

    sitvel, porque o artigo 52 alnea I declara, pelo menos, as prescries de direitos

    fundamentais desse artigo

    como

    diretamente aplicveis. Mas tambm independente

    de ordens de vinculao jurdico-positivas desta natureza a justiciabilidade dos

    direitos fundamentais deve ser exigida. Direitos fundamentais so essencialmente

    direitos do homem transformados em direito positivo.1

    9

    Direitos do homem insistem

    em sua institucionalizao. Assim, existe no somente um direito do homem vida,

    seno tambm um direito do homem a isto, que exista um Estado que concretize tais

    direitos.

    2u

    A institucionalizao inclui necessariamente justicializao.

    19

    R. Alexy, in: Lexikon der Philosophie, hg. v. Hans Jrg Sandkhler, Hamburg 1999 (im Druck).

    20

    Ders., Die lnstitutionalizierung der Menchenrechte

    im

    demokratischen Verfassungsstaat, in:

    Stefan Gosepath/Georg Lohmamm (Hg.), Philosophie der Menschenrechte, Frankfurt a.M. 1998,

    S. 254 ff.

    73

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    Poder-se-ia achar agora que a justiciabilidade no precisa ser total ou ampla.

    Assim. por exemplo. a clusula de vinculao do artigo 5. pargrafo

    I

    Q

    da Consti

    tuio brasileira. est nos direitos de defesa clssicos e no nos direitos fundamentais

    sociais. Tal poderia ser entendido como convite a isto. declarar os direitos funda

    mentais sociais como no-justiciveis. A no-justiciabilidade nisso poderia esten

    der-se a todos os direitos fundamentais sociais ou a alguns da respectiva constituio.

    O problema da coliso com isso sem dvida no estaria totalmente solucionado

    porque h como mostrado numerosas colises entre direitos fundamentais de tra

    dio liberal. mas ele seria desagravado consideravelmente. Colises estatal-sociais

    restam possveis sem dvida conforme o objeto

    se

    maioria parlamentar por si

    portanto sem estar obrigado a isso pela constituio. fica ativa no campo da redis

    tribuio estatal-social. O social porm teria diante do liberal pouca fora porque

    ele no poderia apoiar-se em princpios jurdicos. Ademais. colises estatal-sociais

    no teriam lugar totalmente se o legislador renunciasse completamente a atividades

    sociais. Onde no existe dever jurdico nada pode colidir juridicamente. Anlogo

    vale para o lado ecolgico da constituio.

    A todas as tentativas de desagravar o problema da coliso pela eliminao da

    justiciabilidade deve opor-se com energia. Elas no so outra coisa seno a soluo

    de problemas jurdico-constitucionais pela abolio de direito constitucional. Se

    algumas normas da constituio no so levadas a srio dificil fundamentar por

    que outras normas tambm ento devem ser levadas a srio

    se

    isso uma vez causa

    dificuldades. Ameaa a dissoluo da constituio. A primeira deciso fundamental

    para os direitos fundamentais por conseguinte aquela para a sua fora vinculativa

    jurdica ampla em forma de justiciabilidade.

    2 Regras e princpios

    A segunda deciso fundamental

    se

    direitos fundamentais tm o carter de

    regras ou o de princpios. Na primeira deciso fundamental tratava-se disto: se

    direitos fundamentais so direitos; objeto da segunda o que eles so como direito.

    No s a soluo do problema da coliso seno tambm as respostas a quase todas

    as questes da dogmtica dos direitos fundamentais geral dependem desta deciso

    fundamental. Isso esclarece a intensidade e a amplitude da discusso. Aqui devem

    bastar algumas observaes

    tese que a teoria dos princpios dos direitos fundamen

    tais oferece a melhor soluo do problema da coliso.

    a A distino

    Segundo a definio standard da teoria dos princpios 21 princpios so normas

    que ordenam que algo seja realizado em uma medida to ampla quanto possvel

    relativamente a possibilidades fticas ou jurdicas. Princpios so portanto

    manda

    21 R Alexy. Theorie der Grundrechte 3. Aufl. Frankfurt a.M. 1996 S

    75

    f

    74

  • 7/23/2019 ALEXY. Coliso de Direitos Fundamentais e Realizao de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrtico

    9/14

    mellfos de

    otimizaoY Como tais, eles podem ser preenchidos em graus distintos.

    A medida ordenada do cumprimento depende no s das possibilidades fticas, seno

    tambm das jurdicas. Estas so determinadas,

    ao

    lado, por regras, essencialmente

    por princpios opostos.

    As

    colises de direitos fundamentais supra delineadas devem,

    segundo a teoria dos princpios, ser qualificadas de colises de princpios. O proce

    dimento para a soluo de colises de princpios a ponderao. Princpios e

    ponderaes so dois lados do mesmo objeto. Um do tipo terico-normativo, o

    outro, metodolgico. Quem efetua ponderaes no direito pressupe que as normas,

    entre as quais ponderado, tm a estrutura de princpios e quem classifica normas

    como princpios deve chegar a ponderaes. A discusso sobre a teoria dos princpios

    , com isso, essencialmente, uma discusso sobre a ponderao.

    Bem diferente esto as coisas nas regras. Regras so normas que, sempre, ou

    s podem ser cumpridas ou no cumpridas. Se uma regra vale, ordenado fazer

    exatamente aquilo que ela pede, no mais e no menos. Regras contm, com isso,

    determinaes no quadro do fatica e juridicamente possvel. Elas so, portanto,

    mandamentos definitivos A forma de aplicao de regras no a ponderao, seno

    a subsuno.

    A teoria dos princpios no diz que catlogos de direitos fundamentais no

    contm absolutamente regras, portanto, absolutamente determinaes. Ela acentua

    no s que catlogos de direitos fundamentais, na medida em que efetuam determi

    naes definitivas, tm uma estrutura de regras, seno salienta tambm que o plano

    das regras precede prima facie o plano dos princpiosY Seu ponto decisivo que

    atrs e ao lado das regras esto princpios. A parte correspondente de uma teoria dos

    princpios , por conseguinte, no uma teoria que aceita que catlogos de direitos

    fundamentais

    tambm

    contm regras, seno uma teoria que afirma que catlogos de

    direitos fundamentais somente

    consistem de regras. Exclusivamente tais teorias

    devem aqui ser qualificadas de teoria das regras .

    b s opes da teoria das regras

    teoria das regras dos direitos fundamentais esto abertos trs caminhos para

    a soluo de coliso de direitos fundamentais: primeiro, a declarao, pelo menos,

    de uma das normas colidentes como invlida ou juridicamente no-vinculativa,

    segundo, a declarao, pelo menos, de uma das normas como no-aplicvel ou

    correspondente e, terceiro, a insero livre de ponderao de uma exceo em uma

    de ambas as normas.

    O

    primeiro

    caminho j foi declarado como no-transitvel, visto que se trata,

    nas normas de direitos fundamentais, de normas com hierarquia constitucional e

    22 Um aperfeioamento

    que

    replica a crticos dessa definio encontra-se em

    R

    Alexy, Zur Struktur

    der

    Rechtsprinzipien, conferncia no simpsio sobre regras, princpios e elementos no sistema do

    direito, Graz 1997 (no prelo).

    23 R. Alexy, Theorie der Grundrechte (nota 21), S. 121 f

    75

  • 7/23/2019 ALEXY. Coliso de Direitos Fundamentais e Realizao de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrtico

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    constituies devem ser levadas a srio. Poder-se-ia. talvez. pensar nisto. de renunciar

    a contedos jurdico-fundamentais que foram ganhos por interpretao. Assim, po

    deria-se eliminar, por exemplo, a coliso no caso jurdico dos pobres mencionado

    pelo fato de se interpretar excluindo

    c d

    elemento da igualdade ftica do princpio

    da igualdade. Contra isso falam, todavia, razes fortes. De resto. o problema da

    coliso no estaria solucionado

    com

    isso, porque existem colises suficientes que

    no podem ser eliminadas desta forma.

    O

    segundo

    caminho seguido quando se reconhece a norma de direito funda

    mental, tambm aquela ganha por interpretao, como tal, interpretando esta, ento,

    porm, estritamente. Assim, poder-se-ia no caso-soldados-so-assassinos pensar nis

    to, de negar

    afirmao de que soldados so assassinos, o carter de uma manifes

    tao de opinio. A manifestao dos pacifistas ento no mais caberia no mbito

    de proteo da liberdade de manifestao de opinio. A coliso desapareceria. Porm,

    como se deveria fundamentar que a manifestao duvidosa no

    um

    manifestao

    de opinio? O texto e o sentido e finalidade da liberdade de manifestao de opinio

    falam a favor de uma qualificao

    como

    manifestao de opinio. O pacifista efetua

    uma

    tom d

    de posio avaliadora para com a profisso de soldado e todos -

    sobretudo os soldados - percebem isso assim. Poder-se-ia dizer, no mximo, que

    uma manifestao de opinio protegida jurdico-fundamentalmente no existe, por

    que a manifestao uma ofensa. Porm, com isso, a coliso entra novamente em

    jogo. A proteo da honra aduzida como fundamento a isto, que no concedida

    nenhuma proteo jurdico-fundamental definitiva. Isso, porm, deveria ser cons

    trudo sobre uma ponderao aberta e no por uma compreenso estrita do mbito

    de proteo. Isso vale para todas as tentativas de contornar colises

    por

    construes

    de mbitos de proteo estritas.

    24

    A terceir opo da teoria das regras dos direitos fundamentais consiste na

    insero livre de ponderao de uma exceo no direito fundamental. Tome-se, por

    exemplo. o caso supra mencionado das advertncias sobre prejuzos sade nas

    embalagens de mercadorias de tabaco. Poderia ser dito que a melhor soluo reside

    nisto, de prover a liberdade do exerccio da profisso com uma exceo, o que,

    aproximadamente, deixa-se formular como segue: cada um tem o direito de deter

    minar livremente a maneira de seu exerccio da profisso, a no ser que se trate de

    advertncias sobre prejuzos sade nas embalagens de mercadorias de tabaco. Isso

    uma concepo algo bizarra de

    um

    exceo, porque se se qualifica tal como

    exceo, c d direito fundamental cercado de uma srie quase infinita de excees.

    A isso serve m io conceito de exceo. Aqui, isso, porm, no deve importar. A

    questo , pelo contrrio, se a .. exceo mencionada antes pode ser fundamentada

    livre de ponderao. O texto

    d

    parte

    d

    formulao do direito fundamental que

    concede ao cidado a liberdade do exerccio da profisso para isso nada d. Isso vale

    tanto para o artigo 12, alnea I, frase 2, da Lei Fundamental,

    como

    tambm para o

    artigo

    51 ,

    inciso XIII, da Constituio brasileira. Poder-se-ia, porm, achar que o

    caso se deixa subsumir livre de ponderao sob a clusula de limitao. Aqui

    24 Comparar. para isso, R. Alexy, Theorie der Grundrechte (Rota

    21

    l

    S.

    278 ff

    76

  • 7/23/2019 ALEXY. Coliso de Direitos Fundamentais e Realizao de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrtico

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    considerado somente o artigo 12. alnea I. frase 2. da Lei Fundamental. L diz que

    o exerccio da profisso pode ser regulado por lei ou com base em uma lei . Se se

    subsume sob esta formulao, ento pode-se. de fato, rapidamente e sem qualquer

    problema

    verificar livre de ponderao que o dever de colocao de advertncias

    em

    produtos de tabaco

    uma

    regulao

    com

    base em

    uma

    lei.

    2

    Com

    isso o problema

    da

    coliso est solucionado? A teoria das regras venceu?

    Deve-se olhar somente sobre as conseqncias de um tal procedimento para

    reconhecer que isso no o caso. Doces. cucas e tortas so. segundo convico

    propagada, menos sadios

    para os

    dentes do que po. Suponha-se que um partido de

    fanticos de sade

    ganha

    a maioria no parlamento. Ele probe aos padeiros e todos

    os outros a produo de doces. cucas e tortas. Mais tarde. tambm proibido o po

    branco e somente ainda admitido po preto. Isso , sem dvida. uma interveno na

    liberdade do exerccio da profisso dos padeiros.

    porm, tambm, sem dvida,

    uma interveno que sucede por lei . Se isso devesse bastar

    para

    a justificao

    da

    interveno, o direito fundamental perderia, diante do legislador, toda fora. O direito

    fundamental correria. nisso, no vazio. O dever do po preto seria constitucional.

    c caminho d teoria dos princpios

    a grande vantagem da teoria dos princpios que ela pode evitar um tal correr

    no vazio dos oireitos fundamentais sem conduzir ao entorpecimento. Segundo ela.

    a questo de que uma interveno em direitos fundamentais esteja justificada deve

    ser respondida por uma ponderao. O mandamento da ponderao corresponde ao

    terceiro princpio parcial do princpio

    da

    proporcionalidade do direito constitucional

    alemo. O primeiro o princpio da idoneidade do meio

    empregado

    para o alcance

    do

    resultado com ele pretendido, o segundo, o da necessidade desse meio. Um meio

    no

    necessrio se existe um meio mais ameno, menos interventor.

    um dos argumentos mais fortes tanto para a fora terica como tambm para

    a prtica da teoria dos princpios que todos os trs princpios parciais do princpio

    da

    proporcionalidade resultam logicamente da estrutura de princpios das normas

    dos direitos fundamentais e essas, novamente, do princpio

    da p r o p o r c i o n a l i d a d e 2 ~

    Isso, todavia, no pode aqui

    ser

    seguido. Deve ser lanado somente um olhar sobre

    o terceiro princpio parcial, o princpio da proporcionalidade

    em

    sentido estrito

    ou

    da

    proporcionalidade. porque ele o meio para a soluo das colises de direitos

    fundamentais.

    O princpio da proporcionalidade em sentido estrito deixa-se formular como

    uma

    lei de ponderao,

    cuja

    forma mais simples relacionada a direitos fundamentais

    27

    soa:

    25 Comparar BVerfGE 95, 173 (174).

    26

    R. Alexy, Theorie der Grundrechte (nota 21),

    S

    100 ff

    27 Para uma formulao geral relacionada a princpios, comparar R Alexy, Theorie der Grun

    drechte (nota 21), S 146.

    77

  • 7/23/2019 ALEXY. Coliso de Direitos Fundamentais e Realizao de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrtico

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    Quanto mais intensiva uma interveno em um direito fundamental tanto mais

    graves devem ser as razes que a justificam.

    Segundo a lei da ponderao, a ponderao deve suceder em trs fases. Na

    primeira fase deve ser determinada a intensidade da interveno. Na segunda fase

    se trata, ento, da importncia das razes que justificam a interveno. Somente na

    terceira fase sucede, ento, a ponderao no sentido estrito e prprio.

    Muitos acham que a ponderao no um procedimento racional. A possibili

    dade do exame de trs fases mostra que o ceticismo acerca da ponderao injus

    tificado. Seja, para isso, lanado mais uma vez um olhar sobre o caso-tabaco e o

    caso-padeiro. No caso-tabaco, a interveno na liberdade de profisso tem somente

    uma intensidade muito pequena. A indstria de tabacos pode ainda ser ativa, tambm

    por propaganda. Ao fumante tornado,

    como

    o tribunal muito bem diz,

    consciente

    somente um fundamento de considerao que deveria, segundo o nvel de conheci

    mento mdico atual, ser universalmente consciente .28 As razes que justificam a

    interveno, a conteno dos prejuzos relativos sade causados pelo fumo que,

    muitas vezes, tm como conseqncia a morte, pelo contrrio, so mais graves. A

    ponderao conduz, portanto, quase obrigatoriamente

    soluo da coliso: a inter

    veno na liberdade da profisso constitucional. No caso-padeiro as coisas esto

    ao contrrio. A proibio de produzir doces, cucas e tortas intervm muito intensi

    vamente na liberdade de profisso do padeiro. Isso ainda reforado quando acresce

    a proibio do po branco. A sade , como mostra o caso-tabaco, sem dvida, um

    bem de alta hierarquia, mas deve ser diferenciado. Aqui, trata-se, sobretudo, de

    adoecimentos dos dentes pelo consumo de comidas doces e macias. Impedir isso

    no insignificante, contudo, talvez, de peso mediano. Com isso, tambm no caso

    padeiro o resultado est fixado: a regulao que est em questo seria inconstitucio

    nal. Pois bem, ambos os casos so muito simples. Existem numerosas colises cuja

    soluo no to simples, seno prepara grandes dificuldades. Casos dessa natureza

    existem, por exemplo, ento, quando tanto a interveno muito intensiva

    como

    tambm as razes que a justificam so muito graves. O caso-tomadas de refm supra

    mencionado desse tipo. Tornam-se ento necessrios outros argumentos e bem

    possvel que no se possa acordar sobre a soluo. Isso, todavia, no uma objeo

    contra a ponderao, seno uma qualidade universal de problemas prticos ou nor

    mativos.

    d) inculao e flexibilidade

    A teoria dos princpios

    capaz no s de estruturar racionalmente a soluo de

    colises de direitos fundamentais. Ela tem ainda uma outra qualidade que, para os

    problemas terico-constitucionais que devem aqui ser considerados, de grande

    significado. Ela pfl ihilita um meio- termo entre vinculao e flexibilidade. A teoria

    28 BVerfGE 95,173 (187).

    78

  • 7/23/2019 ALEXY. Coliso de Direitos Fundamentais e Realizao de Direitos Fundamentais No Estado de Direito Democrtico

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    das regras conhece somente a alternativa: validez ou no-validez. Em uma consti

    tuio como a brasileira. que conhece numerosos direitos fundamentais sociais

    generosamente formulados, nasce sobre esta base uma forte presso de declarar todas

    as normas que no se deixam cumprir completamente simplesmente como no-vin

    culativas, portanto, como meros princpios programticos. A teoria dos princpios

    pode, pelo contrrio, levar a srio a constituio sem exigir o impossvel. Ela declara

    s normas que no se deixam cumprir de todo como princpios que, contra outros

    princpios, devem ser ponderados e. assim. so dependentes de uma reserva do

    possvel no sentido daquilo que o particular pode exigir razoavelmente da socieda

    de

    .29

    Com isso, a teoria dos princpios oferece no s uma soluo do problema da

    coliso, seno tambm uma do problema da vinculao.

    29 BVerfGE 33, 303 (333).

    79

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    Aspectos Modernos do

    Direito Societrio

    Nelson Eizirik

    Esta obra rene parte dos estudos e

    pareceres

    de

    Direito

    Societrio

    e mercado de capitais escritos

    nos

    ltimos quatro anos pelo autor quase todos indi

    tos. A eventual modernidade da

    obra

    dada

    pelos

    temas

    que

    a

    compem

    - ainda pouco analisados

    na doutrina nacional - e pela abordagem utilizada

    na qual os institutos jurdicos so estudados tendo

    em

    vista

    sua funo econmica.

    Ref 0038

    Form 14x21

    Brochura

    1992

    238

    pgs

    As

    Sociedades

    Cooperativas

    e a sua DisciplinaJurdica

    Waldirio ulgarelli

    Nesta obra o

    autor tem

    o

    intuito de

    esclarecer

    de

    um lado a situao jurdica das sociedades coope

    rativas

    no

    Brasil e

    de outro alm

    das lies

    da

    doutrina cooperativista tambm os problemas que

    as assoberbam

    necessitando

    constantemente de se

    guidos esclarecimentos.

    Ref 0186

    Form 14x21

    Brochura

    1998

    392 pgs