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Alimentos alternativos para ruminantes Visualizações: 1108 Cheyla Magdala de Souza Linhares 1 e João Batista Freire de Souza Junior 2 1 Discente do Curso de Agronomia da UFERSA. 2 Discente do Curso de Zootecnia e pertencente ao Núcleo de Estudo e Pesquisa em Biometeorologia e Bem-Estar Animal da UFERSA. Resumo Tendo em vista o alto custo de produção existente na busca de uma boa alimentação para os ruminantes, têm-se pensado em alternativas mais econômicas e bastante viáveis para minimizar essa situação. Sendo assim, os alimentos alternativos representam uma fonte nutricional bastante favorável à alimentação desses animais, diminuindo significativamente os custos e promovendo ainda uma maior produção de carnes, leite e couro. Há a necessidade de mais estudos para saber quais os melhores alimentos alternativos a serem utilizados nas diferentes espécies e em diferentes estados fisiológicos dos animais, com o intuito de fornecer

Alimentos alternativos para ruminantes

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Page 1: Alimentos alternativos para ruminantes

Alimentos alternativos para ruminantesVisualizações: 1108

Cheyla Magdala de Souza Linhares1 e João Batista Freire de Souza

Junior2

 1Discente do Curso de Agronomia da UFERSA.2Discente do Curso de Zootecnia e pertencente ao Núcleo de Estudo e

Pesquisa em Biometeorologia e Bem-Estar Animal da UFERSA.

                                                                      

 

Resumo

 

Tendo em vista o alto custo de produção existente na busca de uma

boa alimentação para os ruminantes, têm-se pensado em alternativas

mais econômicas e bastante viáveis para minimizar essa situação.

Sendo assim, os alimentos alternativos representam uma fonte

nutricional bastante favorável à alimentação desses animais,

diminuindo significativamente os custos e promovendo ainda uma

maior produção de carnes, leite e couro. Há a necessidade de mais

estudos para saber quais os melhores alimentos alternativos a serem

utilizados nas diferentes espécies e em diferentes estados fisiológicos

dos animais, com o intuito de fornecer energia, proteína, vitaminas e

minerais necessários para o seu desenvolvimento ponderal e

produtivo.

 

Alternative foods for ruminant

 

Abstract

 

Tends in view the high cost of existent production in the search of a

good feeding for the ruminant ones, they have been thinking her in

more economical and quite viable alternatives to minimize that

Page 2: Alimentos alternativos para ruminantes

situation. Being like this, the alternative victuals represent a source

quite favorable nutrition to the feeding of those animals, reducing the

costs significantly and still promoting a larger production of meats,

milk and leather. There is the need of more studies to know which the

best alternative victuals be used her/it in the different species and in

different physiologic states of the animals, with the intention of

supplying energy, protein, vitamins and you mine necessary for your

development ponderal and productive.

 

Introdução

 

        A utilização de fontes alimentares alternativas na dieta de

ruminantes, como aproveitamento de subprodutos do processamento

de frutas, tem-se mostrado uma ótima alternativa nutritiva para estes

animais, suprindo assim suas necessidades nas épocas de seca, e

conseqüentemente os produtores na alimentação de seus rebanhos,

pois se sabe que o custo da alimentação na atividade pecuária é

bastante elevado. A disponibilidade e a qualidade desses materiais

são bastante variáveis em função do nível de industrialização e de

acordo com as características de cada região. Produzir alimentos

indispensáveis aos animais têm-se tornado um desafio constante a

ser enfrentado por aqueles que residem nos limites do semi-árido.

Portanto, o objetivo dessa revisão é mostrar algumas fontes

alimentares alternativas que possam promover dietas balanceadas

aos animais e obter economia aos sistemas de produção.

 

Cana-de-açúcar: opção acessível

 

A cana-de-açúcar apresenta uma série de características

desejáveis: grande produção por unidade de área (20 a 30 t MS/ha) e

baixo custo por unidade de matéria seca produzida, período de

colheita e disponibilidade constante ao longo do ano, manejo simples

e manutenção do valor nutritivo por até seis meses depois da

Page 3: Alimentos alternativos para ruminantes

maturação (Silva, 1995). A cana é uma planta de características

como: alto potencial de produção, bom perfilhamento, resistência a

pragas e doenças, resistência ao florescimento e alto teor de

sacarose.

 

Do ponto de vista nutricional, apresenta duas limitações

principais: baixos teores de minerais, principalmente fósforo (0,07%)

e baixo teor de nitrogênio (1,5% a 5%) (Silva, 1995). A fim de

melhorar a qualidade e valor nutritivo da cana, sem, com isso,

acarretar maiores custos, faz-se uso de uréia ou sulfato de amônio.

Normalmente, a mistura uréia: sulfato de amônio (9:1) é utilizada na

proporção de 0,5% a 1% em relação ao peso da cana picada.

 

No ano de 2001, o Nordeste produziu 60,25 milhões de

toneladas de cana-de-açúcar (Anuário Estatístico do Brasil, 2003).

Esta produção foi utilizada na fabricação de açúcar, álcool,

aguardente, rapadura entre outros, produzindo vários subprodutos

com potencial de uso na alimentação animal. Da lavoura, vem a

ponta de cana, da indústria açucareira: o bagaço, a torta de filtro e o

melaço e da indústria alcoólica (Santana & Sousa, 1984). Destes, o

bagaço-de-cana é o mais disponível.

 

O bagaço é o produto resultante do esmagamento da cana-de-

açúcar na extração do caldo. Anualmente, são gerados mais de 75

milhões de toneladas no país inteiro. Devido ao seu alto teor de fibra

(45%) e baixa proteína (2,5%), sua digestibilidade é baixa. Por outro

lado.

 

A utilização do bagaço de cana-de-açúcar na alimentação de

ruminantes pode ser feita em sua forma in natura. Todavia seu alto

teor de fibra, baixo teor de proteína, associado a outros fatores como

baixa densidade, restringem seu uso na dieta desses animais.

Segundo Teixeira (1992), o bagaço de cana in natura apresenta baixo

Page 4: Alimentos alternativos para ruminantes

valor nutritivo, digestibilidade menor que 35% e uma densidade que

não ultrapassa 150 kg/m3, o que limita drasticamente o consumo,

limitando sua utilização para níveis inferiores a 30% da ração total.

 

Tabela1. Composição do bagaço de Cana in natura (BIN)

% na MSAlimento            MS             PB             FDN             FDA             DIGMS1             EE2          CHOT3

BIN                    58,06         1,6              72,76           57,96              44,66              2,59            92,25

1:Digestibilidade da matéria seca. 2:Extrato etéreo. 3:Carboidratos totaisFonte: Adaptado de Capelle e Valadares Filho (1999).   

         Para que a cana possa ser fornecida como alimentação aos

animais, com melhor aproveitamento, é necessário submetê-la ao

processo de hidrólise, que consiste em alterar a composição química

da matéria, o que favorece a digestão e o consumo. (CHAGAS)

Os tratamentos químicos e físicos utilizados para melhorar a

qualidade do bagaço de cana-de-açúcar, visam eliminar ou diminuir

os efeitos prejudiciais da lignina sobre a degradação de compostos

celulósicos pelos microrganismos do rúmen, promovendo a ruptura

das complexas ligações químicas daquele componente com a celulose

e hemicelulose, disponibilizando o material, teoricamente, para

adesão da população microbiana e ataque enzimático fibrolítica (VAN

SOEST, 1994).

 

        A amonização promove o aumento nos teores de nitrogênio não-

protéico e atuando na fração fibrosa do alimento, causando

solubilização de parte da hemicelulose, aumentando, assim, a

digestibilidade e o consumo de volumosos de baixa qualidade

(GARCIA, 1992). A amonização tem apresentado resultados

promissores, pois promove, entre outros efeitos, redução no teor de

fibra do material (BUETTNER et al., 1982), tornando-o mais digestível

pelas bactérias do rúmen (SAENGER et al. 1983).

 

Page 5: Alimentos alternativos para ruminantes

        Uma alternativa interessante é a uréia, por ser considerada

produto de alta disponibilidade, menos perigosa à intoxicação

humana e, muitas vezes, menos onerosa, tornando-se, portanto,

viável como fonte de amônia. É um sólido cristalino produzido

tecnicamente a partir da amônia e do dióxido de carbono, contém em

média 45% de nitrogênio e aproximadamente 280% de equivalente

protéico e apresenta a propriedade de se dissolver facilmente em

água formando na presença de urease a amônia. O tratamento

químico com uréia é uma das melhores formas factíveis para

melhorar o valor nutritivo de materiais fibrosos. (SARMENTO et al.,

1999).

 

        Segundo Burgi (1995), o tratamento com vapor sob pressão é o

que apresenta resultado mais efetivo em termos de aumento do valor

nutritivo. Este tratamento é realizado no recinto da própria indústria

devido à disponibilidade do vapor a menor custo. As indústrias o têm

preferido e adotado em larga escala e o resíduo assim tratado é

chamado de bagaço de cana auto-hidrolisado (BAH).

 

        Então, o excedente do bagaço de cana-de-açúcar pode ser

utilizado pelos ruminantes desde que bem tratados. Dos tratamentos

que são utilizados, o que mais apresenta resultados efetivos com

relação ao valor nutritivo é o físico, o qual também é

economicamente viável. A utilização do (BAH) revela um enorme

potencial de utilização desse subproduto na alimentação de

ruminantes, além de ser um destino sustentável ao resíduo.

 

Subprodutos da agroindústria: aproveitamento de resíduos

 

O uso da irrigação tem proporcionado o desenvolvimento da

fruticultura em diversas áreas da Região Nordeste nos últimos anos,

produzindo desde a fruta de mesa até industrializados como: polpa,

sucos, doces, entre outros (Vasconcelos, 2002). Em todos os estados

Page 6: Alimentos alternativos para ruminantes

dessa região, há produção de algum resíduo agroindustrial com

potencial para uso como alimento para os animais. Na Bahia e em

Sergipe, destaca-se a produção de resíduo da cultura de citrus, no

Maranhão, a casca do arroz, no Ceará, o bagaço de caju e no Rio

Grande do Norte, o aproveitamento dos resíduos da fruticultura

irrigada (melão, principalmente). E, desta maneira, aproveitam-se as

potencialidades do local, objetivando fornecer alimento e nutrientes

para os animais durante todo o ano.

 

O processo produtivo, a depender do tipo de fruta, pode render

subproduto de até 70%, constituindo-se em interessante opção para

uso na alimentação animal, principalmente em sistemas de

confinamento durante a época seca (Vasconcelos, 2002). Isto porque

o aproveitamento dos subprodutos, provenientes da indústria,

assume papel de significativo valor econômico, face ao volume dos

resíduos e sua disponibilidade (Marques Neto & Ferreira, 1984).

 

Outro importante fator relacionado ao uso dos subprodutos é o

valor nutritivo. Estes podem ser consumidos na sua forma in natura,

bem como desidratados na forma de feno e, também, sob a forma de

silagem. Na inclusão de subprodutos na dieta dos rebanhos, deve-se

atentar para a composição química e balanço dos nutrientes. Por

exemplo, o feno do resíduo de Abacaxi possui teor adequado de

cálcio, mas é pobre em fósforo. Este desbalanço precisa ser ajustado

para melhorar o aproveitamento desse resíduo na alimentação

animal. Um fator muito importante e determinante para o uso de

subprodutos na alimentação animal é determinar os níveis de adição

dos mesmos às rações. A polpa cítrica pode ser adicionada em até

30% na silagem para caprinos e ovinos. O resíduo da indústria de

suco de goiaba, pode ser adicionado em até 15% também na silagem.

 

O caju é alimento que não deve ser consumido puro em

nenhuma das opções de utilização. Embora apresente baixo teor de

Page 7: Alimentos alternativos para ruminantes

tanino (0,43%), é deficiente em cálcio (0,059%), fósforo (0,037%) e

cobre (0,87 ppm) e apresenta baixos teores de cobalto. Para bovinos,

têm-se usado quantidades superiores a 50%, obtendo-se rações

concentradas com teor protéico da ordem de 18%, com custo total

variando de R$ 0,20 a R$ 0,22/kg. Vale a ressalva de que, se o

produtor estiver em região de alta disponibilidade e fizer uso de

programas de ração com mínimo custo, os custos de produção

certamente irão declinar.

 

A produção do suco de caju, mediante prensagem dos

pedúnculos, gera como subproduto o bagaço, normalmente

descartado ou utilizado para elaboração de ração animal.

(RODRIGUEZ-AMAYA, 1984). O farelo de castanha de caju possui um

valor nutricional bastante satisfatório, e pode ser incluído também

nas dietas dos ruminantes. NEIVA et al.,(2002) relata valores para

este subproduto de 91,0% MS; 22,1% PB; 35,8% EE; 18,76% FDN e

6,9% de Cinza.

 

A casca desidratada de maracujá em dietas para ruminantes,

especialmente animais leiteiros, deve ser incluída até um nível de

22% na composição de rações. Outra forma de uso do maracujá é a

silagem. Siqueira et al. (1998) avaliaram o uso da silagem de

maracujá sobre o desempenho de bovinos em confinamento. O ganho

médio diário de 1,4 kg/animal x dia e o consumo de 2% do peso vivo

indicaram que o resíduo do maracujá ensilado, representa boa fonte

de nutrientes para ruminantes.

 

O beneficiamento do maracujá produz uma quantidade de

resíduos que corresponde, aproximadamente, de 65 a 70% do total

da fruta (Neiva Jr., 2007). A sua composição química-bromatológica

sofre variações de acordo com as variedades nos seguintes

parâmetros: (11,21 a 17,57% para MS); (7,53 a 0,82%para PB); (37,47

a 44,16% para FDN); (31,11 a 37,73%para FDA); (0,28 a 0,35% para

Page 8: Alimentos alternativos para ruminantes

Ca); (0,08 a 0,13% para P). Dependendo desses níveis o resíduo de

maracujá pode ser utilizado como uma boa fonte de nutrientes para

ruminantes (Vieira et al., 1999).

 

Maniçoba: alternativa para o período de escassez de alimento

 

A maniçoba (Manihot sp.) é uma planta nativa da caatinga que

possui grande tolerância à seca. Assim como a mandioca, possui um

sistema de raízes tuberculosas, bastante desenvolvido onde acumula

suas reservas. As maniçobas são espécies nativas da família

Euphorbiaceae, bastante difundidas no Nordeste, aparecendo

também nas regiões Centro Oeste, até o Mato Grosso do Sul. Crescem

em áreas abertas e desenvolvem-se na maioria dos solos, tanto

calcários e bem drenados, como também naqueles pouco profundos e

pedregosos das elevações e das chapadas (Soares, 1995).

 

Tendo em vista diversas características apresentadas pela

maniçoba, e sendo esta considerada uma forrageira de boa

qualidade, têm-se intensificado seu cultivo como parte dos sistemas

de produção animal, principalmente na região semi-àrida brasileira.

 

Estudos realizados na Embrapa Semi-árido demonstram que a

maniçoba pode ser considerada recurso forrageiro de boa qualidade,

podendo ser cultivada para esta finalidade. Esse cultivo possui alta

palatabilidade, 21% de proteína bruta, 8% de estrato etéreo, 7% de

cinzas, carboidratos totais perto de 65% e digestibilidade in vitro de

62%. As plantas de maniçoba são, normalmente, utilizadas como

forragem verde pelos animais que pastejam livremente na caatinga.

Entretanto, deve haver restrições a seu uso sob esta forma quando

em pastejo exclusivo, devido à possibilidade de provocar intoxicação

(Soares, 1995).

 

Page 9: Alimentos alternativos para ruminantes

A maniçoba, como as demais plantas do gênero Manihot,

apresenta em sua composição quantidades variáveis de glicosídeos

cianogênicos (linamarinae lotaustralina), que ao hidrolisarem-se

mediante a ação da enzima linamarase, dão origem ao ácido

cianídrico (HCN) (Soares, 1995) que é tóxico e pode levar os animais

à morte, dependendo da quantidade consumida.

 

O ácido cianídrico, entretanto, volatiliza-se facilmente. Tewe

(1991) e Ravindran (1991) salientam que quando a planta é triturada,

espalhada e revirada, e submetida à murchamento ou secagem ao sol

reduz o nível de HCN. Nestas condições, o material desidratado pode

ser utilizado na alimentação animal (Soares, 1995). Araújo &

Cavalcanti (2002) citam que a planta verde apresenta teor médio de

HCN próximo a 1.000 mg/ Kg de matéria seca e quando fenada este

valor cai para menos de 300 mg/Kg.

 

O processo fermentativo da ensilagem também reduz a

concentração de HNC (Tewe, 1991; e Ravindran, 1991). Preston et al.

(1998) observaram que a concentração de HCN em folhas de

mandioca (M. esculenta Crantz) reduziu de 336 para 96 mg/ kg MS da

primeira para a oitava semana de ensilagem.

 

A fenação após trituração é o meio mais recomendado para o

seu uso. A suplementação usando o feno de maniçoba elevou o

desempenho de animais que eram alimentados apenas com feno de

capim-búffel, durante a fase de crescimento (Salviano & Nunes,

1991).

 

Em virtude de a maniçoba apresentar mecanismos que

garantam produção de maneira eficiente na caatinga, ela possui um

grande potencial de exploração no semi-árido do Nordeste e

apresenta compostos que se assemelham com plantas que são

tradicionalmente utilizadas na nutrição de ruminantes. E com relação

Page 10: Alimentos alternativos para ruminantes

ao seu consumo, deve ser utilizada na forma de fenação ou

ensilagem.

 

Palma Forrageira: riqueza na Caatinga

 

As secas e as incertezas climáticas recorrentes na região semi-

árida do Nordeste do Brasil constituem os fatores mais limitantes à

produção animal. Além da escassez de forragens o valor nutritivo se

apresenta em níveis bastante baixos o que acarreta queda de

produtividade e compromete a produção de leite e carne (Lima et al.,

2004). Devido às suas características morfofisiológicas, as cactáceas

representam fonte de água e alternativa alimentar para as regiões

subúmida e semi-árida.

 

As espécies de palma forrageira mais utilizadas na alimentação

animal no Nordeste são Opuntia ficus Mill e Nopalea cochenillifera

Salm-Dyck (Oliveira, 1996). A palma constitui alimento volumoso

suculento de grande importância para os rebanhos, notadamente nos

períodos de secas prolongadas, pois, além de fornecer alimento

verde, contribui no atendimento de grande parte das necessidades de

água dos animais (Lira et al., 1990).

 

A palma é uma cultura de elevado potencial de produção e,

para expressar esse potencial necessita de adubação, controle de

plantas daninhas e densidade de plantio adequados, podendo a

produção de matéria seca variar de 12 a 47 toneladas a cada dois

anos (Nascimento et al., 2002).

 

A produtividade média da palma pode ser estimada em torno

de 80 toneladas de matéria verde/ha x corte, com valores superiores

a 200 t/ha x corte quando do uso de adubações pesadas. O uso do

esterco deve ser feito a cada dois anos, na dose de cerca de 2 t/ha,

Page 11: Alimentos alternativos para ruminantes

enquanto que, em termos de adubação mineral, é recomendada a

fórmula 90-60 kg/ha de N-P O (Albuquerque, 2000).

 

A composição química da palma forrageira é variável com a

espécie, idade dos artículos e época do ano e independente do

gênero ela apresenta baixos teores de matéria seca (11,69 ± 2,56%),

proteína bruta (4,81 ± 1,16%), fibra em detergente neutro (26,79

±5,07%), fibra em detergente ácido (18,85 ± 3,17%) e teores

consideráveis de matéria mineral (12,04 ± 4,7%) (FERREIRA et al.,

2006).

 

 A palma apresenta baixa proteína digestível e valor

equivalente à silagem de milho em extratos não nitrogenados, além

de elevado índice de digestibilidade da matéria seca (75%). Um fator

limitante para a nutrição dos animais com uso da palma é a baixa

quantidade de matéria seca consumida, visto que esse cultivo

apresenta alta quantidade de água (90%).

 

A palma não pode ser fornecida aos animais exclusivamente,

pois apresenta limitações quanto ao valor protéico e de fibra, não

conseguindo assim atender as necessidades nutricionais do rebanho.

Então, torna-se necessário o uso de alimentos volumosos e fontes

protéicas. Segundo Albuquerque et al. (2002), animais alimentados

com quantidades elevadas de palma, comumente, apresentam

distúrbios digestivos (diarréia), o que, provavelmente, está associado

à baixa quantidade de fibra dessa forrageira. Daí a importância de

complementá-la com volumosos ricos em fibra, a exemplo de

silagens, fenos e capins secos.

 

A palma forrageira apresenta baixo conteúdo de matéria seca,

quando comparada à maioria das forrageiras. Este aspecto

compromete o atendimento das necessidades de matéria seca dos

animais que recebem exclusivamente palma e, provavelmente, a

Page 12: Alimentos alternativos para ruminantes

elevada umidade limita o consumo pelo controle físico, por meio do

enchimento do rúmen. Portanto, vale ressaltar que a elevada

umidade observada na palma forrageira, independente da cultivar, é

uma característica importante, tratando-se de região semi-árida, pois

atende grande parte da necessidade de água dos animais,

principalmente no período seco do ano (Santos et al., 2001).

 

Logo, tendo em vista essa situação climática presente nessa

região, a palma apresenta-se como uma alternativa eficaz para

minimizar os prejuízos ocasionados pela precariedade das chuvas. É

uma forrageira muito eficiente utilizada na nutrição dos animais, a

qual é bastante rica em carboidratos, constituindo assim a principal

fonte de energia para os ruminantes. Entretanto, deve-se ressaltar

que a palma necessita de se associar com outros alimentos de baixo

custo para realmente ser considerado um alimento viável.

 

Mandioca: aproveitamento total da planta

 

Entre os cultivos produtores de alimentos energéticos, com

tolerância às condições de semi-aridez, destaca-se a mandioca, que é

tradicionalmente cultivada nas áreas com solos de textura leve e boa

profundidade. No Nordeste, onde está concentrada 50% da produção

do país, o cultivo é utilizado, basicamente, para a produção de

farinha. Segundo o Anuário Estatístico do Brasil (2003) 95 t/ha de

mandioca foram produzidas no Nordeste Brasileiro em 2001.

 

Na alimentação animal, são utilizados os subprodutos (raspas,

cascas, crueiras e etc) da produção da farinha de mesa e raízes

frescas, ou picadas e mais recentemente, raízes picadas e secas,

conhecidas como raspas ou aparas (EMBRAPA, sd), Além do

aproveitamento da parte aérea. CAVALCANTI (2002) afirma que as

raízes da mandioca possuem valor energético semelhante ao milho.

MARQUES et al.(2000) vê a mandioca e seus resíduos como fontes

Page 13: Alimentos alternativos para ruminantes

alternativas de energia, uma vez que os grãos são largamente

utilizados na alimentação humana e de animais monogástricos.

 

Raspas de mandioca são raízes picadas em máquinas simples e

secadas ao sol, preferencialmente em terrenos cimentados. É

alimento rico em energia e pobre em proteína. Por essa razão deve

ser fornecido aos animais junto com alimentos ricos em proteína

como o feno de leguminosas (leucena e guandu), farelos (soja,

algodão) ou com substâncias nitrogenadas como a uréia de uso

exclusivo para ruminantes (Cavalcanti, 1994).

 

A viabilidade técnica da utilização da raspa de mandioca em

substituição parcial a cereais na alimentação animal é bem aceita e

seu uso pela Comunidade Econômica Européia mostra que a referida

substituição é também econômica para as condições locais. A

economicidade do uso da raspa de mandioca depende da relação de

preço entre a raspa e o cereal mais utilizado como ração, que é o

milho. O valor de mercado da raspa de boa qualidade é 80% do valor

do milho e 85% do valor do sorgo. Portanto, seu uso é recomendado

quando seu preço de aquisição ou seu custo de produção for inferior a

80% do valor do milho.

 

Uma forma de melhorar o valor nutritivo da raspa seria através

da adição de uréia. O uso mais tradicional da uréia é realmente em

confinamento, na mistura com melaço, porém, tal produto é de

disponibilidade e preço inacessíveis em regiões não produtoras, como

o Nordeste. A raspa de mandioca é tão eficiente na utilização da uréia

pelos ruminantes quanto o melaço (Cavalcanti & Guimarães Filho,

1997).

 

A parte aérea da mandioca corresponde a toda porção da

planta acima do solo, apesar de alguns autores considerarem como

aproveitável para alimentação animal ou humana, apenas o terço

Page 14: Alimentos alternativos para ruminantes

superior, mais enfolhado e, conseqüentemente, mais rico do ponto de

vista nutricional (Carvalho & Kato, 1987). Além da alta produtividade,

a parte aérea da mandioca, bem como suas folhas, apresentam

elevados teores protéicos e com teores de fibra inferiores aos de

várias forrageiras tropicais.

 

A raiz da mandioca, sendo um produto basicamente energético

e de baixo custo, tem sido utilizada como o principal ingrediente

energético do concentrado em lugar do milho, conforme vários

estudos (RAMOS et al., 2000). Outro resíduo da mandioca que merece

destaque é o chamado bagaço da mandioca que é um subproduto da

fabricação do polvilho, podendo conter até 60% de amido, sendo

assim, uma fonte de carboidratos de rápida fermentação (BUTRIAGO,

1990). De acordo com ZEOULA et al. (2002), a atividade dos

microrganismos ruminais dá aos ruminantes a capacidade de

utilizarem carboidratos estruturais (amido, celulose, hemicelulose e

outras) como fonte de energia e nitrogênio não-protéico como fonte

protéica.

 

Portanto, os resíduos de mandioca podem ser utilizados como

substitutos dos alimentos energéticos tradicionalmente utilizados na

alimentação de ruminantes com desempenho similar e redução nos

custos de produção. Presente em diversas regiões do país, estes

resíduos representam uma alternativa biológica e economicamente

viável.

 

Considerações Finais

 

Com base nesta revisão, pôde-se concluir que a utilização

destas formas alternativas de alimentos na alimentação dos

ruminantes é viável economicamente, visto que a alimentação ocupa

de 70% a 80% dos custos de produção. Portanto, há a necessidade de

mais estudos para saber quais os melhores alimentos alternativos a

Page 15: Alimentos alternativos para ruminantes

serem utilizados nas diferentes espécies e em diferentes estados

fisiológicos dos animais, com o intuito de fornecer energia, proteína,

vitaminas e minerais necessários para o seu desenvolvimento

ponderal e produtivo.

 

Referências Bibliográficas

 

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Informações Bibliográficas

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Alimentos alternativos para ruminantes. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 34, Ed. 45, Art. 337, 2008. Disponível em: http://www.pubvet.com.br/artigos_det.asp?artigo=337. Acesso em: 24/08/2010.