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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - UTP PÓS-GRADUAÇÃO GERENCIAMENTO INTEGRADO EM SEGURANÇA PÚBLICA ANÁLISE DA RELAÇÃO DA IMPRENSA COM OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ERNI JERKE Curitiba 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - UTP

PÓS-GRADUAÇÃO GERENCIAMENTO INTEGRADO EM SEGURANÇA PÚBLICA

ANÁLISE DA RELAÇÃO DA IMPRENSA COM OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

ERNI JERKE

Curitiba

2012

  

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - UTP

PÓS-GRADUAÇÃO GERENCIAMENTO INTEGRADO EM SEGURANÇA PÚBLICA

ANÁLISE DA RELAÇÃO DA MÍDIA COM OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

ERNI JERKE

Trabalho apresentado para conclusão do Curso de Gerenciamento Integrado em Segurança Pública da Universidade Tuiuti do Paraná como requisitos para obtenção do título de Especialista em Segurança Pública.

Orientador: Profº. Cel. Cesar Aberto Souza

Curitiba

2012

  

ANÁLISE DA RELAÇÃO DA MÍDIA COM OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA

ERNI JERKE1

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a relação que existe entre a mídia brasileira e

os Órgãos de Segurança Pública. Nem sempre essa relação foi boa, sendo que o

estado democrático de direito no Brasil ainda é recente (1985), ou seja, apenas 27

anos, sendo que os Estados Unidos tem mais de 200 anos de democracia. Existe

uma desconfiança ou ranço entre a imprensa e a polícia, devido ao fato que não

muito tempo atrás uma era opressora da outra. Tem-se a sensação de que a mídia

dá uma ênfase maior que a realidade em si, na tentativa de atrair o seu cliente e há

também o fato dos órgãos de segurança omitir fatos perante a mídia. O objetivo

deste trabalho é tentar identificar os fatores que deixam essa relação muitas vezes

tensa e avaliar a necessidade e dependência uma da outra. Analisamos a mídia

como formadora de opiniões em massa, sendo que grande parte da população não

tem educação suficiente para ter o senso crítico sobre o que é divulgado, aceitando

com facilidade como verdade, julgando conforme o que lhe é induzido. Conclui-se

que os órgãos de segurança pública e a mídia devem andar lado a lado, pois uma

necessita da outra para desenvolver melhor o seu trabalho. A democracia ainda

caminha ao amadurecimento, porém cada um fazendo a sua parte dentro do

respeito mútuo, compromissado com a ética e moral, com certeza pode-se ter uma

sociedade cada vez melhor.

Palavras-chave: Relação. Mídia. Imprensa. Polícia. Órgãos de segurança pública.

                                                            1Funcionário público estadual exercendo funções  como 2º sargento da Policia Militar do estado do Paraná, licenciado em Pedagogia pela faculdade internacional de Curitiba (FACINTER). Email; [email protected]  

  

LA RELACION ENTRE LOS MEDIOS DE COMUNICACION Y LOS ÓRGANOS DE SEGURIDAD PULICA EN BRASIL

RESUMEN:

Este artículo se propone analizar la relación entre los medios de comunicación y los órganos

de seguridad pública en Brasil. Esta relación ni siempre ha sido buena, y el Estado de

Derecho democrático en Brasil es reciente (1985), es decir, sólo 27 años y los EE.UU. tiene

más de 200 años de democracia. Existe la sospecha o rancios entre la prensa y la policía,

debido al hecho de que no hace mucho tiempo, eran opresivas entre sí. Uno tiene la

sensación de que el énfasis de los medios de comunicación es más grande que la realidad,

en un intento de atraer a su cliente y también está el hecho de que los órganos de seguridad

omitiendo hechos ante los medios de comunicación. Nuestro objetivo es tratar de identificar

los factores que hacen de esta relación a menudo tensa y evaluar la necesidad y la

dependencia de unos a otros. Se analizan los medios de comunicación como la formación

de opiniones sobre la masa, con gran parte de la población no está suficientemente

educados para tener un pensamiento crítico acerca de lo que se desprende fácilmente

aceptando como verdad, creyendo que es inducido. Llegamos a la conclusión de que los

organismos de seguridad pública y medios de comunicación deben ir de la mano porque uno

necesita del otro para desarrollar mejor su labor. La democracia todavía camina hacia la

madurez, pero cada uno haciendo su parte en el respeto mutuo, comprometida con la ética y

la moral, de seguro vamos a tener una sociedad cada vez mejor.

Palavras clave: Relación, Medios de comunicacion. La Prensa. Policía. Órganos de seguridad pública

  

SUMÁRIO:

1- INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

2- HISTORICO DA MIDIA .............................................................................. 2

3- A MIDIA NA ATUALIDADE ........................................................................ 4

4- PODER DA MIDIA COMO FORMADORA DE OPINIÃO ........................... 5

5- ORGAOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ..……………………………………. 8

6- POLICIA X IMPRENSA .............................................................................. 11

7- CONCLUSÃO ............................................................................................ 15

8- REFERÊNCIAS .......................................................................................... 17

1  

 

1‐ INTRODUÇÃO: 

Este artigo em questão ressalta a relação da mídia brasileira, tanto a escrita, falada

e televisiva, com os Órgãos de Segurança Pública. Num país com uma democracia

jovem como o Brasil, onde a população ainda tem lembranças da época da ditadura

militar, caminha-se a passos lentos para o amadurecimento em certas questões. Se

levarmos em conta outros países da América, por exemplo, os Estados Unidos, a

democracia tem larga experiência, de mais de 200 (duzentos) anos. No Brasil houve

uma época em que os órgãos do governo usavam a mídia para informar ou repassar

ao povo desinformado as informações que desejavam repassar. Pode-se dizer que o

governo muitas vezes também usava a força policial para controlar ou reprimir os

excluídos e/ou insatisfeitos com a situação política governamental no momento. Se

no passado os órgãos do governo utilizavam ambas as forças para controlar a

população e os dois órgãos satisfaziam os interesses do governo, quase pode-se

afirmar que os órgãos de segurança pública e a mídia brasileira estavam em total

sintonia, será? E atualmente na democracia? O que pode ser dito da relação da

mídia com os Órgãos de Segurança Pública? Muitas vezes vê-se uma relação tensa.

A mídia criticando duramente a polícia ou o governo, ou através da polícia atingir o

governo, atribuindo a ela a responsabilidade de não ter evitado algo desagradável

ou um ato criminoso. 

Pensa-se na hipótese de a mídia dar uma ênfase maior do que a realidade em si na

tentativa de atrair o seu cliente, e também os órgãos de segurança omitir fatos

perante a mídia. Porém o objetivo é tentar identificar os fatores que deixam essa

relação muitas vezes tensa e avaliar a necessidade e dependência uma da outra. 

Por um lado tem-se a mídia criticando, muitas vezes a polícia pela falta de

informações, que não são repassadas pelos órgãos de segurança (polícia), pois

embasada na afirmação de ser informação sigilosa, ou que poderia prejudicar o

andamento da investigação, deixa de repassar informações que a mídia necessita

para divulgar. Por outro lado as autoridades ou membros das instituições policiais

reclamam da maneira como as informações são repassadas para a sociedade, que

muitas vezes condizem apenas com meias verdades, enfatizando mais os critérios

2  

usados pela polícia no combate ao criminoso do que na prática delituosa (crime)

realizada pelo próprio delinqüente. 

 

2‐ Histórico da mídia: 

Para iniciar este artigo, a proposta é conhecer um pouco da história da mídia no

Brasil. O primeiro jornal, o Correio Braziliense, surgiu em 1808, ou seja, há mais de

duzentos anos, com a transferência da Corte de Portugal para o Brasil e da

liberação das restrições impostas pela política colonial (LUSTOSA, 2003). Porém, o

jornal era editado, impresso e distribuído a partir de Londres, então se pode

considerar que o primeiro jornal efetivamente impresso no Brasil foi a Gazeta do Rio

de Janeiro, que também fora lançado em 1808. No começo a pauta se limitava

apenas à publicação dos decretos da Corte e à cobertura das atividades da família

real, exilada no Brasil. Presume-se então, que a relação da mídia com os órgãos de

segurança estavam em sintonia: tinham o mesmo objetivo, ou seja, ambos serviam

ao governo e eram por ele sustentados. Somente a partir de 1821 surgem outros

jornais, boa parte deles ligada aos liberais e à maçonaria. Após a Independência e

ao longo do Império, a imprensa brasileira não só se ampliou como se diversificou,

com a publicação de dezenas de pequenas folhas, panfletos e pasquins, em geral

de vida intermitente e breve. Na passagem do século XIX para o XX é que a

imprensa brasileira começaria a ganhar uma estrutura empresarial que redefiniria a

relação dos jornais com a política, os anunciantes e o leitor. Porém, a efetiva

modernização industrial, comercial e gráfica dos jornais só iria ocorrer de fato a partir

das décadas de 1960 e 1970 (ABREU, 2002), onde começaram a surgir críticas a

alguns órgãos do governo, entre eles os órgãos de segurança pública. Com o

surgimento do rádio, no início da década de 1920, teria o início da era da

comunicação de massa. Contudo, o processo de formação de um mercado de

massa foi demorado e só se completaria com a chegada posterior da televisão, na

década de 1950, e a criação e expansão das redes nacionais de rádio e televisão na

década de 1970. Assim, somente a partir dos anos 1980 é que o sistema de mídia

ganharia uma feição inequívoca de uma indústria de massa, com a televisão

ocupando um lugar central no mercado nacional de entretenimento e informação.

 

3  

 

3‐ A MIDIA NA ATUALIDADE: 

Antes mesmo de se instalar a atual democracia no país, já havia a mídia como órgão

transmissor e formador de opinião pública, muitas vezes do lado da oposição do

governo. Não se pode negar que a mídia possui um papel de expressar opiniões

críticas referentes ao poder político vigente, com isso enfraquecendo a sua

autoridade, domínio e aceitação do seu povo. 

O professor Pedro Henrique Pedreira Campos, do Departamento de História e

Relações Internacionais (DHIST) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

(UFRRJ) comenta: 

“Veículos de imprensa alternativa, de opinião, periódicos de partidos e movimentos políticos

e sociais sofreram um processo de dura perseguição, censura e até fechamento, de forma

mais ampla e sistemática do que o que era endereçado aos grandes veículos de

comunicação, mesmo os que sofreram com a censura prévia, como ‘O Estado de São

Paulo. A propaganda ao longo da ditadura civil-militar brasileira foi usada em grande escala

por parte do governo de modo a dar legitimidade e adesão popular ao regime, em especial

nos períodos de maior fechamento, a partir do AI-5 (1968)”, afirma Campos. 

Percebe-se que a imprensa, naquela época, sofreu perseguição do governo e suas

determinações contra a liberdade de expressão. Poucos veículos livres de opinião

conseguiram se manter, como foi o caso do periódico “O Pasquim”, que utilizava a

crítica e a ironia para informar a população. Para citar um exemplo: quando a

imprensa não atendia aos interesses do governo ou publicava atos de manifestação

contrária, simplesmente era proibido e ordenado o seu fechamento, como aconteceu

no ano de 1893, com o periódico “Jornal do Brasil”, ordenado pelo então presidente

Floriano Peixoto. Já na era do ditador Getulio Vargas, criou-se o departamento de

imprensa e propaganda (DIP) e foi criado para controlar, centralizar, orientar e

coordenar a propaganda oficial, que se fazia em torno de sua figura. Abrangia

a imprensa, a literatura, o teatro, o cinema, o esporte, a recreação, a radiodifusão e

quaisquer outras manifestações culturais. Os meios de comunicação oficiais

4  

associavam a figura do presidente a feitos que eram de interesse de grande parte da

população:

De 1964 a 1985 aconteceu a ditadura militar, e apesar dos órgãos militares, exército

ou polícia terem fechado muitas redações que divulgavam uma opinião oposta, eles

também viam na imprensa uma forma de se sustentarem no comando do país e

controlar a população. Assim, governantes investiam na propaganda política para

conseguir o apoio da população em geral. Sendo assim prevalecia uma relação

tensa entre a mídia e os órgãos de segurança do governo durante a ditadura. Se por

um lado a mídia precisava dos investimentos financeiros do governo para se

sustentar, por outro lado jornalistas, intelectuais e formadores de opinião,

necessitavam da mídia para divulgar suas idéias perante a sociedade. 

Para evitar que esse poder fosse usado sem escrúpulos, foi criada a Lei nº 5.250, de

9 de fevereiro de 1967, denominada Lei de imprensa. Responsabilizava penalmente

os órgãos que publicavam ou divulgavam “notícias falsas, fatos verdadeiros

truncados ou deturpados”, na tentativa de segurar os ânimos desenfreados de

publicar algo antes mesmo de ter certeza se era verdadeiro ou não. Mas

infelizmente essa lei foi revogada pelo Supremo Tribunal Federal no dia 30 de abril

de 2009, conforme publicação no jornal “O estadão” de São Paulo. Confira trecho da

reportagem a seguir;

[...]O presidente do STF, Gilmar Mendes, queria manter em vigor artigos da Lei de Imprensa que

estabelece as regras para o requerimento e a concessão de direito de resposta. Para tentar

convencer os seus colegas, ele chegou a citar o caso da Escola Base. Em 1994, vários veículos de

comunicação divulgaram reportagens sobre suposto abuso sexual cometido contra crianças que

estudavam naquela escola. Mas nada ficou comprovado. "Os veículos da mídia produziram

manchetes sensacionalistas", lembrou Gilmar Mendes. Mas a maioria dos ministros entendeu que a

lei deveria ser derrubada integralmente. [...] http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,stf-derruba-

lei-de-imprensa,363661,0.htm

Portanto, hoje não temos nenhuma lei de imprensa, apenas a Constituição Federal

de 1988 para ter um controle sobre o que quer que seja considerado abuso. É como

se, em vez de retirar as pulgas (maus artigos) da lei, resolveu-se matar o cachorro.

 

5  

Atualmente os Órgãos de Segurança Pública têm um papel importante e se

transformou numas das áreas básicas para a sociedade. Quase sempre, nos

discursos políticos, ouve-se a promessa do empenho na área de segurança,

educação e saúde. Com isso, percebe-se que a sociedade anseia por uma

segurança pública eficiente e que lhe dê uma sensação de segurança no dia a dia.

Já a mídia tem na insegurança social o meio de sobrevivência, onde as notícias dos

crimes ajudam no comércio, criando o fenômeno do “espetáculo da notícia”. Talvez

devido á rapidez da tecnologia atual, o cidadão já atarefado no seu dia-a-dia deseja

ver o noticiário, ou seja, a novela da vida real, sem se importar se existe a

probabilidade de ser inverdade ou não. Se existe uma pequena chance do individuo

ser inocente ou não, ele deseja o pacote completo com a

“informação+opinião+condenação” pronta, de forma rápida, sem ser necessário

respeitar e pensar nos direitos do outro.

 

4‐ PODER DA MIDIA COMO FORMADORA DE OPINIÃO: 

Por uma busca desenfreada de altos níveis de audiência, órgãos da imprensa em

geral, muitas vezes, ferem os direitos constitucionais das pessoas que são

investigadas por inquérito policial, sendo que o mesmo é apenas inquisitório, as

provas ainda não foram contestadas, e posteriormente cabe o direito de ampla

defesa, podendo as provas serem refutadas no futuro. Recentemente foi publicado

em uma revista semanal, uma das mais lidas no país, a foto do pai e da madrasta na

capa da revista, com os dizeres garrafais “foram eles”, caso da menina Isabella.

Baseado apenas nos depoimentos das testemunhas e dos investigadores

encarregados do caso, ou seja, depois de noticiado e divulgado pela mídia, já tinham

sido julgados e condenados pela sociedade. Sem terem o direito à defesa ou

contraditório, antes de ser impresso e divulgado pela revista, sendo que o transitado

e julgado aconteceu meses após. Os órgãos de segurança também não impediram e

inclusive colaboraram, se antecipando na divulgação dos laudos, colaborando no

pré-julgamento, sem se ater ao contido no art. 20 do Código Processual Penal, que

diz que o inquérito policial será sigiloso. 

Há ainda o fato da mídia se adiantar perigosamente às investigações ou provas e se

basear apenas em depoimentos da população local, proclamando e divulgando o

6  

veredicto antes do indiciado realizar a sua defesa. Para que o leitor se recorde de

um fato no exemplo acima, no dia 6 de março de 1994, uma revista de repercussão

nacional no Brasil estampou na reportagem “Escola dos Horrores”. Indicava que os

diretores e alguns funcionários da Escola de Educação Infantil Base, localizada no

bairro da Aclimação, em São Paulo, seriam responsáveis por abusos sexuais em

alunos. 

A denúncia partiu inicialmente de duas mães de alunos que observaram severas

assaduras em seus filhos e, em pouco tempo, tomou lugar nos principais noticiários

(impressos e televisionados). A polícia deu crédito à denúncia e a imprensa, antes

mesmo de concluídas as investigações, baseado no depoimento das duas

testemunhas (mães), assumiu a queixa como se fosse fato provado. Com a noticia

espalhada de forma sensacionalista e exaustiva, a população também deu seu

veredicto e, conseqüentemente, condenou e revoltou-se com o caso, invadindo o

prédio da escola e destruindo totalmente as instalações — que, diga-se de

passagem, era alugado, causando danos a terceiros.

Os donos da Escola Base foram presos. "Perua escolar carregava crianças para

orgia", estampou um jornal de grande circulação, estampando os acusados como

monstros. Os acusados tiveram suas vidas pessoais e profissionais completamente

devassadas, desmoralizadas e destruídas.

Ao final do processo foram considerados inocentes, em um inquérito que continha

perícias dúbias e que foi encerrado às pressas para que todos esquecessem o

pesadelo. Nenhum policial ou repórter foi punido. Mas o estrago já havia sido

causado na vida de seis inocentes, previamente julgados e condenados pela

imprensa e também pela opinião pública. Sem falar no prejuízo material a terceiros

(donos do prédio da escola) que nada tinham a ver com o fato, o espaço dado pela

imprensa para noticiar a inocência dos acusados foi mínimo. (Escrito por Daniel

Christianini Nery, qui, 01 de maio de 2008, processo penal x processo da mídia).

Recentemente aqui em Curitiba-PR tivemos o caso da sanepar, anunciado e

criticado pela mídia, dizendo que a policia federal achou vários defeitos e

irregularidades e antes da empresa se defender a população imediatamente ou

inconscientemente a condenou. A sanepar por sua vez, sabiamente, imediatamente

utilizou a própria mídia para transmitir e fazer propaganda dizendo que a água é de

7  

boa qualidade e que é uma empresa idônea e investe muito na qualidade do

produto. Claro que com tudo isso teve que desembolsar uma certa quantia de

dinheiro para custear a propaganda para a mídia local, para a mesma mídia que a

prejudicou.

Como bem escreveu Carlos Brickmann: “A acusação é feita em manchete, o desmentido

precisa ser lido com lupa”. Supondo que um sujeito lance ao vento as penas (comentários)

de um travesseiro (fato) do alto de um edifício e depois se conscientize que não deveria ter

feito aquilo, determine a centenas de pessoas que as recolham. Jamais será possível

recolher todas. O mesmo ocorre com a calúnia e a difamação. “Por mais cabal que seja a

retratação do autor, e dificilmente será, nunca poderá alcançar todas as pessoas que

tomaram conhecimento da imputação ofensiva”. 

Acredita-se que a educação é a base da sociedade para se tornar cada vez melhor,

mas que tipo de educação? Com certeza não é essa que se apresenta, onde as

coisas são aceitas como verdade, sem mesmo ter o senso crítico de analisar as

notícias. Sem comparar os fatos, sem ver o outro lado da questão, analisar as

prioridades da sociedade, país onde se tem o orgulho de dizer que é o país do

futebol. E daí? Qual o grande mérito ou qual grande valor social nisso? Governo até

muda o horário da copa e orienta a fechar o comércio no horário quando a seleção

brasileira de futebol está jogando. Como ficam os outros esportes? Não teriam o

mesmo direito? O futebol é superior e tem mais direitos que o basquete, vôlei,

corrida, etc. Mas isso já é assunto para outro tema de discussão. Só será uma

grande e valorosa nação quando prevalecer o senso crítico, de analisar o que

realmente é importante para a sociedade. Não concordar cegamente com o

noticiário ou propaganda que bombardeia as casas, dizendo que isto é bom ou

aquilo é ruim. Cada um precisaria analisar no próprio contexto em que vive, se quer

algo ou não. Assim é fundamental educar o povo a ter um senso crítico, ensinar nas

escolas um pensamento crítico apurado e não apenas receber a educação e

informação que vem dos meios de comunicação de massa.

 

Como disse o filósofo William Graham Sunmer (1906) : 

"[Pensamento crítico]... é a análise e o teste de proposições de qualquer tipo que

nos são oferecidas, de forma a descobrir se elas correspondem à realidade ou não.

É um hábito e um poder mental. É uma condição primária para o bem da sociedade

8  

que homens e mulheres sejam treinados nele. É a nossa única garantia contra a

ilusão, enganação, superstição e incompreensão de nós mesmos e de nossas

circunstâncias mundanas. Nossa educação é boa na medida em que ela produz

uma bem desenvolvida capacidade crítica... A educação na capacidade crítica é a

única educação da qual se pode verdadeiramente dizer que forma bons cidadãos." 

 

5- ÓRGÃOS DE SEGURANÇA PÚBLICA: 

A Constituição Federal, em seu art. 144 diz que a segurança pública é direito e

também responsabilidade de todos, como também relata os órgãos que fazem parte

da segurança pública e suas atribuições; sendo Polícia Federal, Polícia Rodoviária

Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Civil e Polícia Militar, tendo ainda em seu

§ 8º incluso as Guardas Municipais. Num contexto mais amplo não se pode deixar

de observar que há outros órgãos que, impreterivelmente fazem parte da segurança

da sociedade em geral, como o Ministério Público, Ministério da Justiça, Conselho

Tutelar, OAB e outros. Recentemente sente-se o sentimento de justiça, pois o órgão

do Supremo Tribunal Federal julga “o mensalão”, em que o STF comprovou

formação de quadrilha e grandes desvios de dinheiro público. Espera-se a

condenação dos culpados, principalmente porque os envolvidos pertencem a um

nível social mais alto, em que as pessoas de outras classes sociais acreditam serem

inatingíveis pela justiça, devido ao alto índice de impunidade que paira no país,

como amplamente divulgado pela mídia e logo aceito como verdade pela população. 

Além destes órgãos de segurança pública, existem ainda as Forças Armadas,

constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, que conforme a Constituição

Federal destinam-se à defesa da pátria, do povo e à garantia dos poderes

constitucionais, como também a estabelecer a lei e a ordem. Todos estes órgãos de

Segurança Pública têm como missão e o dever de preservar a ordem pública e a

incolumidade das pessoas e do patrimônio. Quem tem um poder econômico mais

elevado, além de ter o direito de proteção desses órgãos, se não se sentir seguro o

suficiente, ainda pode contar com a vigilância privada, como proteção patrimonial e

escolta pessoal, porém com ônus pessoal. 

Em uma época não muito distante, a polícia ou os órgãos de segurança pública

existiam a serviço do governo estadual ou nacional. O cidadão, com um pensamento

9  

um pouco diferente, era considerado suspeito ou inimigo, ou seja, o cliente para os

órgãos de Segurança Pública era o governo Estadual ou Federal. Hoje, devido à

democracia vigente no país, o cliente ou consumidor de segurança é a própria

população, que quer desfrutar de sensação de segurança no meio onde vive. Segue

um depoimento de Jacqueline Muniz, pesquisadora do centro de Estudos de

Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Cândido Mendes no Rio de

Janeiro, registrada no site (www.comciencia.br), em resposta à seguinte questão: 

Com Ciência - Como a sra avalia a atuação da polícia brasileira no decorrer da nossa história? Jacqueline Muniz - Elas foram, ao longo de 160 anos, mais instrumentos militares do que

propriamente organismos policiais Guardadas as devidas proporções e diferenças, o mesmo

se deu com as polícias civis que foram prestar outros serviços ao Estado que não segurança

pública. Ao longo da tradição brasileira se confundiu segurança pública com segurança

interna e defesa nacional. Numa sociedade em que estas noções e conceitos estão

confundidos, a segurança é assunto exclusivo e reservado do Estado, e não cabe e nem

compete perceber o cidadão como um cliente desta polícia. O cliente dos mecanismos de

regulação social se torna o próprio Estado. É evidente que isto criou este hiato histórico

entre a polícia e a comunidade. 

O que dá razão de ser da polícia e dá origem as organizações policiais modernas é uma

premissa básica: "a polícia é o público e o público é a polícia". Contudo no caso brasileiro,

as nossas organizações, apesar de serem bicentenárias, são apenas balzaquianas no que

diz respeito à tentativa de serem polícias de verdade.  

Esta confusão custa muito caro à sociedade brasileira, aos governantes e às organizações

policiais que, hoje, quando abrem as portas para a sociedade a encontram mais complexa,

com conflitos e dinâmicas diferenciadas daquelas vistas pela última vez em 1840. Os

problemas têm magnitudes e complexidades distintas e isso é um desafio, em função do

próprio mercado de demanda da cidadania. Só se pode falar de polícia em Estado de direito,

pois no momento em que ele é suprimido, que se tem cidadania restritiva, o lugar de polícia

fica comprometido. Porque o que difere polícia de exército e dos meios combatentes, é que

ela é uma ferramenta civil que presta serviços civis à sua comunidade.  

É como se a sociedade fosse composta por elementos suspeitos, que variam de acordo com

o que é tido como suspeito em cada época, sejam eles capoeiras, negros alforriados,

comunistas, desempregados ou bandidos. Ao invés dos conflitos serem um motor positivo

de construção dos vínculos sociais e da sociabilidade, ele se torna algo a ser extirpado. 

Esta é uma história de conflito, animosidade e preconceito, seja das organizações policiais

em relação às suas comunidades, ou das comunidades em relação as suas polícias. Se, de

10  

um lado, os policiais em suas organizações foram condicionados a se afastarem de suas

comunidades de origem e a experimentar uma espécie de isolamento social, de outro lado,

a sociedade foi socializada entendendo que a polícia "está do outro lado", era contra nós,

era algo do Estado ou do governo, contra a sociedade. 

Nota-se um raciocínio que não podemos ignorar e aproveito para relatar minha

percepção como policial militar: sinto-me muitas vezes excluído da sociedade que

me rodeia, pois amigos e parentes sempre têm uma reclamação de policiais que os

abordaram e criticam os altos índices de assaltos e furtos a residências. É como se

eu estivesse do outro lado da sociedade, do lado do Estado, do lado dos políticos e

ninguém percebe ou vê que a população é cliente da polícia num todo. Polícia vem

da sociedade e executa serviço para a sociedade, a qual também pertence.

Na essência, pouca coisa diferencia o bombeiro do policial, ambos estão a serviço

do bem estar da sociedade e do bem maior que é a vida. Com a ajuda da imprensa

o bombeiro é bem visto e aceito pela sociedade como herói, enquanto o policial, que

também põe a vida em risco (e muitas vezes mais risco de vida que o bombeiro), em

qualquer ocorrência, em combate ao marginal (este deseja eliminar a vida do

policial) entretanto, o policial é criticado e rejeitado nas suas operações e muitas

vezes condenado pelas ações mal sucedidas. Temos aqui a mídia como co-

responsável por este pensamento e opinião da sociedade, pois ela geralmente

informa as coisas boas que os bombeiros executam (principalmente no atendimento

a incêndios e atendimentos a feridos em acidentes). Enquanto o noticiário das ações

dos policiais geralmente se refere a ocorrências em que meliantes praticaram a ação

e conseguiram fugir, ficando no ar a sensação que policiais não fizeram o seu

serviço e aqueles marginais estão impunes para realizar novamente o crime. Seria

diferente se a mídia desse maior ênfase àquilo que a polícia provavelmente evitou:

impediu que a ação se alastrasse ou ficasse num patamar pior e que, se não fosse

os órgãos de Segurança Pública a criminalidade estaria num patamar muito mais

avançado e certamente a insegurança seria muito grande e a sociedade estaria num

caos.  

 

 

 

11  

6- POLÍCIA X IMPRENSA: 

Antes de relatar ou descrever a minha opinião a respeito do assunto, segue um

trecho do depoimento de um repórter, de um policial e de um político a respeito do

assunto em questão neste artigo: 

Desde quando comecei na profissão, como repórter policial do Diário do Paraná, de

Curitiba, me surpreendi com a relação promíscua entre a Polícia Militar e os

jornalistas. Lá, os policiais nos chamavam carrapichos – um mato que só incomoda

– e um coleguinha chegou a participar de uma surra em um preso, até hoje não sei

com que propósito. A violência e criminalidade em Brasília aumentaram

superlativamente e jornalistas tarimbados da área já cansaram de alertar contra a

podridão geral do sistema carcerário sem que os jornais dessem continuidade ou o

governo tomasse qualquer providência. Ao mesmo tempo, cresceu uma campanha

geral e violenta, principalmente na rádio e TV, pela pena de morte e criminalização

de menores. Agora, voltaram os esquadrões da morte dentro da polícia e

desmandos de toda natureza da Polícia Militar em todo o país – o filósofo Vladimir

Safatle ousou retomar a discussão da desmilitarização da PM apenas para apanhar

mais do que tamborim de escola de samba. Pelo menos, na mesma Folha de

S.Paulo, houve reportagem sobre os salários astronômicos dos coronéis da PM

paulista, que já nos legaram entre outros o saudoso governador Fleury. O vespeiro é

grande. Ninguém quer por a mão, como se vê nas explosões sem fim das PMs do

Rio e da Bahia. E a grande imprensa, tão pugnaz contra a corrupção, não se dá

conta dos milhares de mortes no país de um lado e de outro porque elas acontecem

fora dos portões de suas ultra protegidas redações (Zulcy Borges de Souza,

jornalista, Itajubá, MG) publicado Jornal observatório da imprensa edição 707, dia

14/08/2012. 

 

Flavio Henrique on 23/04/2012 in opinião polemica, (www.diariodeumpm.net) disse;

Não é novidade que a polícia por vezes é massacrada pela imprensa, principalmente

os agentes que lidam diariamente com as mazelas sociais. Muito do que se divulga

é lamentável, contudo credito à imprensa sensacionalista a responsabilidade sobre

tantas injustiças. A mídia inúmeras vezes condena as pessoas, manipula

12  

acontecimentos e faz muito estardalhaço em assuntos que não merecem tanto

destaque enquanto outros de maior importância social são ignorados. 

O pior é que ela faz isso escondida em palavras, melhor dizendo, “meias verdades”.

Quem acompanha as páginas policiais percebe que as matérias nunca acusam

diretamente o indivíduo. Sempre são “supostos” ou “de acordo com” para se

esquivar da responsabilidade de suas produções. Acontece que mesmo com a

ressalva dessas suposições o estrago contra a moral do sujeito citado é irreversível

assim como irreparável. Por mais que se publiquem retratações o dano causado

jamais será revertido, ou seja, uma vida foi mudada drasticamente.

 

Relato de um Deputado Estadual, Olímpio Gomes, (PDT) São Paulo:  O cidadão chega na “banca” e pergunta: “Qual o preço do jornal? O jornaleiro

responde: “R$ 4,00 reais, pois é a edição de domingo”. O cidadão pega o jornal,

localiza o preço e diz: “Mas aqui está escrito R$ 3,00”. Imediatamente o jornaleiro

contra-argumenta: “O senhor não pode acreditar em tudo que lê no jornal, não é

doutor? 

Piada de mau gosto à parte, esta anedota é contada de geração em geração nos

quartéis e nas delegacias de polícia. Então pergunto: Por que é tão difícil o

relacionamento entre a Polícia e a Imprensa? Afinal de contas, se ambas se pautam

pela ética, pela verdade, pela moralidade e pela legalidade, então, por que a

convivência nem sempre é harmônica? 

A resposta, muito provavelmente, está nos exageros, nas omissões ou nos desvios

de conduta de ambas as partes. A Polícia não pode se queixar, quando a notícia diz

respeito a possíveis erros cometidos por policiais, mas entende que a notícia deve

ser levada ao público por uma imprensa, que, ancorada em sua missão de informar,

não falseia a verdade e nem dela se afasta. A grande reclamação dos profissionais

de segurança pública, normalmente, acontece quando a mídia exagera, fantasia ou

cria versões que acabam distorcendo ou prejudicando a atuação policial. Mas, de

um jeito ou de outro, quando a ação policial acontece, rigorosamente, dentro dos

parâmetros éticos, morais e legais, pode haver a cobertura jornalística que houver

que a imagem da Polícia não será maculada. 

13  

O jornalismo policial chama a atenção do público pelo espanto, terror, violência e

crueldade e isso faz com que alguns órgãos da mídia se voltem para o jornalismo

sensacionalista, que, pouco compromissado com a verdade, não tem como objetivo

maior informar, mas sim chamar a atenção, ganhar audiência ou leitores, pois assim

irá “vender mais com a tragédia” 

Prestando atenção na divulgação do “Caso Isabella Nardoni”, percebemos as redes

de televisão colocando apresentadores, artistas, jogadores de futebol e, até políticos

inescrupulosos se passando por “peritos” e “legistas”, procurando, com esse

deplorável comportamento, ludibriar a opinião pública com falsos “pareceres

técnicos” emitidos sobre o caso. Pouca ética, e muita busca de audiência, a

qualquer custo.  

Outro fator que, ao longo dos anos, vem dificultando o relacionamento da Polícia

com a Imprensa, reside no fato de a polícia brasileira ter sido usada como um braço

de investigação (ou repressão) nos chamados “anos de chumbo”. Perseguições e

até mortes de profissionais de imprensa, que teriam ocorrido naquele interregno,

deixaram um ranço, que permanece até hoje, alimentando um sentimento de mútua

desconfiança. Embora quem cerceou a liberdade de imprensa foi o regime de

governo e não a Polícia. Não foi a Polícia que suprimiu direitos, pois os seus

profissionais, no exercício de suas funções, como agentes do Estado, sempre

atuaram sob ordens e, portanto, no estrito cumprimento do dever legal. 

A realidade é que a Polícia, que atua com mínimos e insuficientes recursos estatais,

muitas vezes se irrita com o fato de que o jornalismo investigativo, realizado com

recursos e habilidade, não raras vezes, consegue elucidar e identificar erros,

derrubando teses apresentadas e defendidas pela Polícia. Pode até ser irritante,

mas é muito comum a Polícia se esmerar em suas investigações em busca do

resultado, em função do acompanhamento da Imprensa. Exemplifico: Não fosse o

destaque dado pela imprensa ao “Caso Isabella”, será que seriam deslocados tantos

profissionais e tanta tecnologia para a apuração do trágico acontecimento?

Resposta: Jamais, pois tragédias similares ocorrem, diariamente, sem a mesma

presteza direcionada para a devida apuração dos fatos. 

O bom repórter policial, assim como o bom policial, trabalha com suas fontes, que

são preservadas com amparo no devido e necessário sigilo profissional e, não raras

vezes, o brilhante repórter policial tem como fonte um brilhante policial. Quando

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temos essa comunhão de capacidade e compromisso ético, um não atrapalha o

outro, a sociedade é corretamente informada e a transparência e a verdade

transbordam. Publicado no Jornal Imprensa Paulista, da API – Associação Paulista

de Imprensa, Edição 981/Maio de 2008.

São relatos de três diferentes profissionais da área, num dos quais o repórter acusa

a Polícia Militar de Curitiba de ter uma relação promíscua com os repórteres

policiais, que em nível de País, há desmandos em todos os níveis no órgão policial,

inclusive com afirmação do retorno do esquadrão da morte e que há uma podridão

geral no sistema carcerário. 

No relato do policial, a polícia é massacrada pela imprensa e credita à imprensa

sensacionalista a responsabilidade sobre tantas injustiças. Trazendo os fatos

escondidos em “meias verdades”, nunca assumindo as responsabilidades da notícia,

escrevendo “suposto assassino” ou “de acordo com a polícia”, sempre se

esquivando da responsabilidade da produção, caso atinja uma injustiça ou dano. 

No relato do deputado estadual de SP, percebe-se uma declaração mais coerente e

sensata, talvez até imparcial, afirmando que o jornalismo policial chama mais

atenção do público pelo espanto, terror, violência e crueldade. Que o jornalismo

sensacionalista, pouco compromissado com a verdade, tem mais objetivo de chamar

a atenção ou ganhar audiência a qualquer custo, pois assim irá “vender mais com a

tragédia”. Ele afirma que o relacionamento com os órgãos policiais muitas vezes é

tenso, um sentimento de desconfiança, pois no passado, nos chamados “anos de

chumbo” a polícia foi usada como braço de repressão aos órgãos de imprensa,

causando perseguições e até morte de profissionais. Hoje a realidade também

contrasta com os mínimos e insuficientes recursos que a polícia dispõe, sendo que a

imprensa com recursos e habilidade (se o fato interessa e rende lucros) consegue

elucidar crimes e identificar erros, derrubando inclusive teses apresentadas pela

polícia. É irritante para os policiais, mas muitas vezes se não fosse a imprensa em

cima do caso, a polícia não deslocaria tanto efetivo ou esforços para resolver certos

casos, exemplo “caso Isabella”, pois tragédias semelhantes acontecem no país todo,

porém sem a mesma presteza direcionada. 

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Num debate do dia 03 de setembro de 2007, realizado na UNIBRASIL, o delegado

de Furtos e Roubos, Rubens Recalcatti, afirmou que a imprensa muitas vezes pode

auxiliar a polícia, “O jornalismo também é uma fonte de investigação” resume; e que

a relação com a imprensa tem os altos e baixos. A acadêmica Berquis Koschanski

diz ter acompanhado um trabalho de imprensa no caso do assassinato de um

jornalista no Jardim Botânico de Curitiba, que rolou um tipo de combinação entre a

imprensa e a polícia, determinando o que podia ser ou não mostrado. “A relação que

faço, é que a reportagem policial é a única que pode ser censurada em prol não do

poder político, mas em benefício da população, para colocar os verdadeiros

criminosos na cadeia e muitas vezes o mau jornalismo pode atrapalhar as

investigações” destaca Berquis.

 

7- CONCLUSÃO: 

Não se pode negar que a imprensa ou mídia tem o papel regulador da sociedade,

mantenedora das características da democracia, expressando opiniões críticas ao

poder político vigente, primordial para o avanço da democracia no país. Porém é

necessário responsabilizar as divulgações infundadas ou sensacionalistas, em que o

único interesse é capitalista e com o objetivo de alcançar alto índice de audiência, a

qualquer custo. Muitas vezes é necessário respeitar o ser humano em sua

totalidade, aguardar o trâmite final do processo, pois conforme a carta magna do

país, todo cidadão é considerado inocente até que se prove o contrário e o

contraditório acontece muito após o inquérito policial ser instaurado e finalizado. 

A relação entre os órgãos de segurança e a imprensa em geral é tensa pelo fato de

alguns ainda não terem esquecido a relação que houve na época da ditadura. Onde

o governo usava a polícia como órgão repressor e como braço de investigação,

suprimindo os direitos de imprensa, causando inclusive morte e desaparecimento de

profissionais da área, causando sentimento de desconfiança. Porém, considerando

que a polícia naquela época estava no exercício de suas funções, sendo

funcionários e a serviço do Governo, moralmente estavam no estrito cumprimento do

dever legal. 

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Os Órgãos de Segurança Pública necessitam ter uma consciência maior sobre quem

é o cliente ou consumidor final da segurança. Caso a polícia queira agradar apenas

ao governo, pequenas classes dominadoras ou certos políticos de influência será

fadada ao fracasso futuramente, pois num Estado democrático o que não estiver

agradando ou servindo aos interesses da sociedade em geral, estará sujeito

futuramente ao fracasso ou á sua extinção. 

O relacionamento entre órgãos de segurança e a mídia em geral, pode ter um

relacionamento de cooperação, pois ambas dependem uma da outra. A mídia, para

ter acesso às notícias ou novidades, para ter material para divulgação. Para os

Órgãos de Segurança, como fonte de informação ou mesmo como órgão de

divulgação, para combater certos problemas sociais ou novos crimes que surgem no

dia a dia, como crimes da internet, clonagem de cartão, etc... Sendo que a

sociedade em si necessita muitas vezes de orientações da polícia ou de qualquer

órgão de segurança pública, através da mídia, para saber como agir perante alguns

novos golpes ou ações de marginais que estão surgindo a cada momento. 

Como no Brasil a democracia ainda não está totalmente madura (apenas vinte e

sete anos de estado democrático), se compararmos com os Estados Unidos que já

desfrutam da democracia há mais de 200 (duzentos) anos, é pedir muito que

estejamos de igual pra igual em tão pouco tempo. O aperfeiçoamento da relação

entre polícia e imprensa ainda é questão de tempo, pois ambas as instituições ainda

deverão aprender como lidar uma com a outra e a aperfeiçoar a democracia,

deixando-a mais madura como em alguns países. Espera-se que este caminho seja

harmonioso e compromissado com a ética profissional, com a moral, com a verdade

e com a lei. 

Este artigo pode ser utilizado, aprofundado e complementado por quem quer que

seja e que se ache no direito. Policiais de todos os níveis, membros dos órgãos de

segurança, profissionais de imprensa, estudantes em geral, enfim, qualquer cidadão

que tenha o interesse de amadurecer a democracia e criar uma sociedade ainda

melhor para se viver.  

 

 

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8- REFERÊNCIAS:

AGNALDO VIEIRA, disponível em: http://reporteragnaldovieira.blogspot.com.br/2010/02/policia-x-imprensa.html Acesso em: 07 Nov. 2012

AZEVEDO, Fernando Antonio; universidade Federal de São Carlos. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-62762006000100004&script=sci_arttext Acesso em 10 Nov. 2012.

BONDARUK, R. L., SOUZA, C. A., Polícia Comunitária, Polícia Cidadã para um Povo Cidadão, Curitiba, Comunicare 3ª edição- maio 2007.

GOMES, Olimpo, Deputado Estadual (PDT) Publicado no Jornal Imprensa Paulista, da API – Associação Paulista de Imprensa, Edição 981/Maio de 2008.

INSTITUTO DE PESQUISA ISRAELITA ALBERT EINSTEIN, disponível em; http://www.mundovestibular.com.br/articles/4272/1/A-DEMOCRACIA-NO-BRASIL/Paacutegina1.html Acesso em: 07 Nov. 2012.

JORNAL O ESTADÃO, Edição digital, disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,stf-derruba-lei-de-imprensa,363661,0.htm Acesso em: 07 Nov. 2012.

MUNIZ, Jacqueline, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Cândido Mendes no Rio de Janeiro www.comciencia.br

Site de Linhares - ES, disponível em: http://www.sitedelinhares.com.br/noticia-4038-policia+Militar+X+imprensa+comando+do+12+Batalhao+promove+palestra+para+debater+sobre+o+relacionamento, Acesso em: 07 Nov. 2012.

SOUSA, Alexandre, Tenente do estado do Rio de Janeiro, DIARIO DE UM PM, disponível em; http://www.diariodeumpm.net/2009/04/23/imprensa-x-policia/ Acesso em: 07 Nov. 2012.

SOUZA, Zulcy Borges, jornalista, Itajubá, MG) publicado Jornal observatório da imprensa edição 707, dia 14/08/2012.