Upload
rafael-salgado
View
356
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Projeto financiado pelo CNPq-UFV. O presente trabalho visa analisar a influência do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares, beneficiados por ele, ao longo de sua implementação no município de Viçosa/MG.
Citation preview
Universidade Federal de ViçosaCentro de Ciências Agrárias
Departamento de Economia Rural
Projeto de Pesquisa
ANÁLISE DO IMPACTO DO PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) SOBRE A QUALIDADE DE VIDA DE AGRICULTORES FAMILIARES
EM VIÇOSA-MG
Prof°. Marcelo Miná DiasRafael Jr. S. F. Salgado
Projeto aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências da seleção de bolsistas do PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.
VIÇOSA-MGMAIO – 2011
2
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa analisar a influência do Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA) na melhoria da qualidade de vida dos agricultores
familiares, beneficiados por ele, ao longo de sua implementação no município
de Viçosa/MG.
Este Programa foi instituído pela Lei 10.696, de 02/07/203,
regulamentada pelo decreto n° 4772, de 07 de maio de 2008, e objetiva
incentivar a produção agropecuária e a sustentação de preços, adquirindo
alimentos produzidos por agricultores familiares organizados em cooperativas
ou associações. Este alimento é comprado pela Conab a um preço de
referência, utilizando a da tomada de preço médio no mercado regional. O PAA
ainda conta com a participação dos Conselhos Municipais de Segurança
Alimentar (CONSEA), como mecanismo de controle social do projeto,
conferindo maior confiabilidade à sua fiscalização e execução.(BRASIL, 2010)
O PAA é uma das principais ações estruturantes do Programa Fome
Zero. Como tal, busca também combater a pobreza e o desemprego,
causadores da fome. Entende-se que os problemas da fome são oriundos da
insuficiência da oferta de produtos agropecuários, dificuldades relativas à
distribuição e comercialização dos produtos oriundos da agricultura familiar e
também a falta de poder aquisitivo da população decorrente dos altos níveis de
desemprego e subemprego. Estando o PAA intrinsecamente voltado à
resolução dos problemas específicos de abastecimento alimentar, geração de
renda e combate a fome YAZBEK (2004).
3
Pode-se citar também outros benefícios do programa, como distribuição
de renda, valorização da cultura e culinária local, já que os produtos fornecidos
são em sua maioria característicos da região, diversificação da produção,
segurança alimentar, investimento local, planejamento organizacional e
produtivo, acesso a técnicas de cultivo e manejo, por estarem em contato com
órgãos de assistência técnica, e financiamentos públicos. Todos estes fatores
contribuem para um efetivo incremento de renda do produtor, possibilitando
aumento nos índices de qualidade de vida CERQUEIRA (2006).
Outros benefícios como aumento de renda, estabilidade dos preços
agrícolas, interações sociais entre os agricultores, entidades beneficiárias e
gestores locais, aumento da capacidade técnica, possibilitaram maior
autonomia e estabilidade desses produtores, contribuindo assim com aumento
de confiança e da qualidade de vida dos envolvidos no Programa (DEVES et.
al., 2010 e SILVESTRE et. al., 2005).
Um conhecimento mais detalhado sobre o contexto supracitado e como
ele poderia melhorar as condições socioeconômicas do meio rural, se deu a
partir da experiência acadêmica extracurricular ligada à Secretária de
Assistência Social do município de Viçosa/MG, e posteriormente permitiu uma
percepção da necessidade de estudos que avaliasse se o PAA estaria
promovendo melhoria na qualidade de vida dos agricultores familiares por ele
atendidos.
Levantamento de dados, realizados junto a EMATER local e baseados
na Proposta de Participação – Doação Simultânea de 2010 – apresentaram
informações, como o número de agricultores familiares atendidos pelo
programa e a localização destes no município, delineando o perfil dos
4
atendidos pelo programa. São nove agricultores familiares que fornecem 25
diferentes tipos de produtos alimentícios a cinco instituições filantrópicas, que
receberiam R$ 30.018,71 no ano de 2010. Vale ressaltar que a duração do
contrato é de 12 meses com necessidade de renovação posteriormente.
Porém, há ausência de dados que caracterizem e verifiquem a evolução das
condições socioeconômicas, quais mudanças ocorridas no processo de
produção e escoamento dos produtos produzidos na unidade familiar, bem
como informações sobre o desenvolvimento da qualidade de vida, a partir da
implementação deste programa.
Ainda foi realizada revisão de literatura, que mostrasse a necessidade
deste estudo científico. ASMUS (2004), afirma que a maioria das pesquisas
sobre qualidade de vida retratam as sociedades urbanas, raramente
sociedades rurais. A autora também afirma que as pesquisas atuais tendem a
olhar a qualidade de vida de fora para dentro, ou seja, de forma objetiva, pouco
se importando com o que pensam os indivíduos, principalmente no meio rural.
Assim é necessária uma pesquisa que avalie a qualidade de vida dos
agricultores beneficiados pelo PAA de forma subjetiva.
2. JUSTIFICATIVA
As políticas específicas para a agricultura familiar surgiram na década de
1970, criadas inicialmente para diminuir os efeitos negativos da modernização,
esses benefícios foram utilizados para compra de equipamentos e melhoria da
infraestrutura comunitária, sendo que nos anos 90 surgiu o PRONAF buscando
estimular a produção (RIBEIRO et. al., 2007). Tais políticas têm tomado corpo
5
e vem se apresentando quanto alternativas de desenvolvimento na agricultura
familiar, levando a diversificação produtiva e a fomento à pluriatividade, que
buscam promover a segurança alimentar e maior autonomia dos agricultores
(DEVES et. al., 2010).
Corroborando, VIEIRA et. al. (2007) argumenta que a agricultura familiar
recentemente vem ganhando espaço nos debates sobre políticas públicas no
Brasil, com diversos estudos e pesquisas mostrando sua importância para o
desenvolvimento socioeconômico mais equilibrado e sustentável no meio rural.
É nesse cenário que são desenvolvidas estratégias de desenvolvimento
sustentável, geração de novas oportunidades de trabalho e renda,
implementadas pelas políticas públicas.
Mas os investimentos oriundos do poder público são poucos. Assim,
políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar têm sido
desenhadas, sendo um exemplo o Programa de Fortalecimento da Agricultura
Familiar (PRONAF), que surgiu através da pressão de movimentos sociais
ligados à agricultura familiar, facilitando o acesso dos agricultores familiares ao
crédito (SILVESTRE et. al., 2005).
Essas políticas se destinam prioritariamente às atividades de custeio
e/ou investimento nas atividades produtivas e pouco beneficia a
comercialização dos produtos agrícolas dos produtores familiares, o Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA), um dos braços do Fome Zero, veio para
fazer frente as dificuldades enfrentadas nessa atividade (DEVES et. al., 2010).
O PAA beneficia diretamente as instituições atendidas por esse
programa, já que fornece alimentos de ótima qualidade, diversificado e
estimulando os beneficiários a alimentar-se de forma saudável, fortalecendo
6
assim a política de segurança alimentar adotada pelo programa Fome Zero.
Através do PAA, a produção familiar tende a adquirir papel importante na
manutenção da segurança alimentar e nutricional do país (DEVES et. al., 2010;
GHIZELINI, 2006).
Devem-se destacar ainda os problemas citados pelos agricultores
atendidos pelo PAA, segundo CERQUEIRA et. al. (2006), estes seriam: a
documentação exigida, a qualidade da produção, falta de sincronismo entre o
calendário do Programa e a produção da região, a sazonalidade da produção e
falta de apoio técnico para realizar as atividades propostas, sendo essas
questões os principais gargalos que dificultam a operacionalização do
programa nos municípios (GHIZELINI, 2006).
Devido às situações enfrentadas pelos agricultores familiares,
principalmente no que refere ao empobrecimento no meio rural, é de grande
importância um estudo que dê ênfase às políticas públicas destinadas a esse
meio, pois estas podem possibilitar melhorias significativas nos indicadores
socioeconômicos desses produtores, auxiliando assim na melhoria da
qualidade de vida dos mesmos (BUAINAIN et. al., 2004).
Estudos foram elaborados e implementados buscando solucionar as
dificuldades enfrentadas no escoamento da produção da agricultura familiar
que foram, e ainda são, alvos de políticas seja do governo ou de organizações
não governamentais (SILVESTRE et. al., 2005). Muitos destes estudos
discorreram sobre os benefícios do PAA e seus entraves, mas poucos trataram
da mensuração da “qualidade de vida” ao longo da implementação do
programa. Na verdade, pouquíssimos são os trabalhos que discorrem sobre a
qualidade de vida no meio rural (ASMUS, 2004).
7
Diante dessa realidade, SIQUEIRA (2008) afirma que o estudo da
qualidade de vida se tornou uma área de grande interesse no meio cientifico.
Através de pesquisas neste tema é possível compreender os processos que
fortalecem os indivíduos diante de adversidades.
Corroborando GRISA (2009) acrescenta que as políticas institucionais
são um meio capaz de contribuir para o desenvolvimento, redução da pobreza
e fortalecimento da qualidade de vida dos indivíduos, principalmente dos
produtores familiares, que muitas vezes se encontram desamparados GRISA
(2009).
3. PROBLEMA
O PAA é um programa que cria mecanismos de comercialização da
produção através da articulação com os mercados institucionais, principal
entrave para o desenvolvimento da agricultura familiar. Ele busca proporcionar
maior estabilidade e melhoria de vida aos agricultores familiares, bem como
beneficiar os enquadrados no PRONAF, através da compra condicionada, sem
licitação, de produtos agrícolas. Essas aquisições são destinadas à formação
de estoque e à distribuição de alimentos para pessoas em situação de
insegurança alimentar (FUSCALDI, 2010; GRISA, 2009; CERQUEIRA et. al.,
2006; GHIZELINI, 2006).
Os programas governamentais de fortalecimento da agricultura familiar
visam também dinamizar a economia dos agricultores familiares, incentivando
a produção e comercialização de seus produtos. De acordo com SILVESTRE
et. al.(2005) as políticas de comercialização dos produtos da agricultura familiar
8
têm como uma de suas orientações o cooperativismo, que busca reduzir as
dificuldades de comercialização de pequenos produtores, que devido à
possibilidade de obter ganhos em escala, proporciona menores custos de
produção e comercialização, além da regularidade de oferta e maior poder de
negociação dos preços.
Devido aos problemas enfrentados pelos agricultores familiares, que têm
dificuldade para produzir e comercializar seus produtos, muitos vivem apenas
do que produzem, sendo essencial e importante realizar estudos no contexto
atual, sobre como as políticas públicas podem influenciar, localmente, no
desenvolvimento socioeconômico desses agricultores, podendo ser este capital
humano, recursos naturais e capital social, gerando maior desenvolvimento
rural (FUSCALDI, 2010; BUAINAIN, 2004).
Desenvolvimento rural pode ser entendido como um meio que envolve o
crescimento da produção, de renda, implicando na melhoria das condições de
vida e trabalho das populações do meio rural, englobando também a formação
e desenvolvimento da infraestrutura econômica e social, podendo melhorar os
indicadores sociais de qualidade de vida (CASTILHOS et. al. 2001). Neste
contexto de desenvolvimento rural se inserem as politicas públicas, como o
PAA, visto que elas se fundamentam na agricultura familiar como geradora de
emprego e renda. Buscando aumentar a capacidade produtiva bem como a
melhoria da renda dos agricultores familiares. Deste modo, se bem aplicadas,
poderão contribuir para o desenvolvimento local e regional sustentável (DEVES
et. al. 2010; GAMA, 2008).
Segundo SILVESTRE et. al. (2005, p.03) “no decorrer dos anos várias
propostas foram elaboradas e implantadas visando à incorporação dos
9
agricultores familiares ao mercado, buscando a melhoria da qualidade de vida
através de incrementos na sua renda”. Esse é um dos objetivos do PAA em
Viçosa/MG, que visa integrar os produtores do município aos mercados
institucionais, através da compra direta de sua produção, para abastecimento
das entidades filantrópicas municipais. Se aplicado corretamente no
desenvolvimento equilibrado e sustentado desses agricultores, possibilitará a
geração de renda e diversificação produtiva, o que contribui para dinamização
da economia nos municípios (DEVES et. al., 2010). Podendo possibilitar uma
mudança significativa na qualidade de vida dos agricultores e das famílias
atendidas pelas entidades.
Considera-se que a principal contribuição dessa pesquisa reside no fato
de que são escassos trabalhos que mensurem e analisem o desenvolvimento
da qualidade de vida dos agricultores familiares nos municípios brasileiros.
Bem como pesquisas que tratem da influência do PAA nas condições
socioeconômicas desses agricultores no município de Viçosa/MG.
Diante da possibilidade das políticas públicas poderem influenciar na
qualidade de vida dos agricultores familiares, principalmente dos beneficiários
do PAA, é necessário que se levante uma questão:
A implementação do PAA no município de Viçosa é uma possibili-
dade para o desenvolvimento da qualidade de vida dos produtores famil-
iares atendidos pelo Programa?
4. OBJETIVO
10
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o PAA no
município de Viçosa/MG, para saber como este, ao longo de sua implantação e
desenvolvimento, influenciou na qualidade de vida das famílias de agricultores
familiares participantes do programa no município de Viçosa/MG.
Diante deste contexto os objetivos específicos estão enumerados
abaixo:
1. Caracterizar o PAA no município de Viçosa-MG, a partir de seus
gestores e agricultores familiares participantes.
2. Identificar a percepção dos agricultores, quanto ao que eles entendem
por qualidade de vida.
3. Verificar como a qualidade de vida se modificou a partir da aderência ao
programa.
4. Levantar dados socioeconômicos dos produtores atendidos pelo PAA
antes da aderência ao programa.
5. Levantar dados socioeconômicos dos produtores atendidos pelo PAA,
ao longo da implementação do programa, para saber como ele tem
promovido melhoria na qualidade de vida dos agricultores familiares no
município de Viçosa/MG.
5. MARCO TEÓRICO
5.1. Agricultura Familiar
Os agricultores familiares historicamente foram deixados à margem dos
investimentos governamentais, que estão voltados principalmente para os
11
grandes produtores e exportadores de commodities para a geração de divisas
para o país (SILVESTRE, 2005). É nesse setor do agronegócio que a maior
parte dos recursos públicos está sendo investido.
Mesmo com poucos recursos governamentais, a agricultura familiar
responde por boa parte do abastecimento interno do país, segundo
GUANZIROLI et. al. (2001), ela constitui cerca de 85,5% dos 4.859.864
estabelecimentos rurais, ocupando 30,5% da área (107,8 milhões de há) e
37,9% do Valor Bruto da Produção agropecuária (18,1 bilhões do total). A
análise da Renda Total (RT) mostra que os estabelecimentos familiares
possuem renda total média de R$ 2.717,00/ano. A produção familiar é a
principal fornecedora de alimentos do país, mas esta condicionada a receber
poucos recursos de crédito e de investimentos oriundos do poder público. Por
falta de investimentos nesse tipo de produção, os produtores estão
empobrecendo, assim acabam deixando o campo para procurar melhores
oportunidades nos centros urbanos.
Diante da importância da agricultura familiar no contexto brasileiro,
programas e políticas governamentais que apóiem este segmento são
necessárias, para possibilitar melhores condições de vida, e estruturação da
produção dessas famílias. Um exemplo de política institucional eficiente de
apoio aos produtores rurais é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
5.2. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
Foi instituído pelo Art. 19 da Lei n. 10.696, de 02 de julho de 2003, e
regulamentado pelo Decreto n. 6.447, de 07 de maio de 2008, tem como
12
finalidade apoiar os agricultores familiares, por meio da aquisição de alimentos
de sua produção, com dispensa de licitação até o limite máximo de R$
4.500,00 (BRASIL, 2010). Surgiu como um braço do Programa Fome Zero,
onde seu objetivo principal esta inserida na concepção de desenvolvimento
rural, sendo seu público alvo os agricultores familiares e incide sobre o principal
entrave para o desenvolvimento desses agricultores: a comercialização dos
produtos.
De acordo com CERQUEIRA et. al. (2006), o PAA é um programa de
natureza interministerial, sua gestão é formada por representantes dos
ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Desenvolvimento
Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Fazenda e
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Sua operacionalização é de
responsabilidade do MDS e da Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB) que é responsável também pela formação de estoques
governamentais de alimentos. Já os recursos repassados ao Programa vêm do
MDS, que é responsável pela maioria das ações do Programa Fome Zero.
Ainda segundo CEQUEIRA et. al. (2006), existem três modalidades
desse Programa, que é gerenciado pela CONAB: Compra Antecipada da
Agricultura Familiar (CAAF) que disponibiliza recursos ao plantio, é exclusiva
para o público que não é atendido pelo PRONAF. O Contrato de Garantia de
Compra da Agricultura Familiar (CGAF), que busca assegurar a opção de
venda da produção familiar ao Estado a preço pré-determinado. Já a
modalidade Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF) possibilita a venda
de alimentos ao Estado a preços de referência, visando garantia de renda ao
agricultor familiar. Finalmente a compra Antecipada Especial da Agricultura
13
Familiar, modalidade implantada no município a ser estudado, objetiva a
formação de estoques ou a doação simultânea para a população em situação
de insegurança alimentar.
A modalidade de Compra Antecipada Especial da Agricultura Familiar
com Doação Simultânea é operacionalizado pela CONAB, que adquire
produtos agropecuários de agricultores familiares, beneficiando entidades
beneficiadas que promovem a segurança alimentar. Os alimentos são
entregues diretamente às entidades obedecendo a um cronograma, cuja
execução é fiscalizada por um conselho municipal, no caso de Viçosa/MG o
Conselho Municipal de Segurança Alimentar (COMSEA) (MÜLLER, 2007).
Essa política é desenvolvida via mercados institucionais, sendo uma
alternativa para solucionar o empobrecimento dos agricultores no meio rural,
além de favorecer a diversificação produtiva. A compra da produção familiar
feita pelo governo permite que os agricultores planejem e repensem estratégias
de sustentabilidade econômica e produtiva, baseadas no abastecimento local
(GHIZELINI, 2006).
CERQUEIRA et. al. (2006) afirma ainda que, o PAA objetiva beneficiar
os agricultores familiares, principalmente aqueles que produzem em pequena
escala e que enfrentam dificuldades para agregar valor a sua produção,
viabilizando a comercialização dos seus produtos sem a necessidade dos
“intermediários”. Através da garantia de compra e da definição dos preços,
minimizando assim os riscos da atividade produtiva e estimulando o aumento
da produção, bem como a diversificação.
Este programa visa também fortalecer a política global de combate à
fome, incentivando a agricultura familiar através de ações vinculadas à
14
distribuição de alimentos de origem agropecuária aos grupos sociais em
situação de insegurança alimentar facilitando a comercialização no mercado
local, além de promover estoques estratégicos (MATTEI, 2007).
Segundo CERQUEIRA et. al. (2006), o PAA como política estruturante,
atua como instrumento de sustentação de preços e garantia de renda aos
pequenos produtores, reduzindo assim, a dependência dos agricultores em
relação aos “intermediadores”, funcionando como mecanismo de sustentação
de preços dos produtos oriundos da agricultura familiar. Há também um
incentivo ao produtor em aumentar e diversificar sua produção, já que ele
passa a ter garantias de venda, sabendo qual será seu retorno monetário.
Para participar do programa os agricultores devem estar organizados em
associações ou cooperativas, buscando integrá-los às organizações,
incentivando o trabalho em equipe. O programa visa ainda valorizar o agricultor
familiar, assim como a sua importância para o abastecimento alimentar numa
escala local e regional, o que contribui para a dinamização da economia dos
municípios (DEVES et. al., 2010).
Corroborando, DORETTO (2007) afirma que por estarem os agricultores
organizados em associações e/ou cooperativas, eles passaram a perceber que
sozinhos não poderiam alcançar resultados satisfatórios na sua produção. O
associativismo traz responsabilidades, pois eles passam a ter que tomar
decisões coletivas, que podem afetar o grupo como um todo.
Por fim, DELGADO et. al (2005) afirma que do ponto de vista do
desenho institucional, o PAA inovou ao criar instrumentos de crédito com
garantia de compra, visando concretizar a estratégia de fortalecimento da
15
agricultura familiar através do fomento à produção e garantia de renda,
resultando no atendimento a populações em risco alimentar.
5.3. Qualidade de vida
Segundo COSTA (2009), políticas públicas, como o PAA, são
alternativas viáveis capazes de solucionar problemas estruturais, que assolam
especificamente os mais pobres, como o desemprego, pobreza, desnutrição,
baixo nível de escolaridade, sendo esses decorrentes da atual conjuntura
econômica brasileira, influenciando assim na qualidade de vida da população.
Para NUSBAUM & SEM. (1995), a qualidade de vida pode ser medida
através da avaliação das necessidades, como o grau de satisfação e dos
patamares desejados. Podemos medir a qualidade de vida através da distância
entre o que deseja e o que se alcança ou também pode ser mensurada através
do julgamento substantivo feito pelo próprio entrevistador, sobre como a vida
se tornaria melhor. Assim a definição de qualidade de vida variará de acordo
com as diferenças individuais, sociais e culturais e também pela acessibilidade
a inovações.
De acordo com ASMUS (2004), a qualidade de vida de uma população
pode ser estudada e medida através de dois objetos de análise: objetiva e
subjetiva. A primeira reflete as circunstâncias de vida nas quais essa população
esta inserida. Já a segunda esta relacionado à forma com que os indivíduos
percebem determinada situação ou circunstância. Também denominas
pesquisas de foco interno onde os sujeitos da pesquisa emitem suas opiniões e
respostas pessoais, emitindo sua percepção da vida, no seu contexto de
valores e em relação às suas expectativas, padrões e preocupações.
16
A autora supracitada acrescenta que a avaliação subjetiva tem sido
relegada a um plano de menor importância, principalmente na área rural. Este
eixo compreende a satisfação promovida pelas dimensões e a avaliação da
sua importância para o individuo.
Através de pesquisa bibliográfica ASMUS (2004) identificou sete
dimensões subjetivas para avaliar a qualidade de vida: saúde, bens materiais,
produtividade, bem-estar emocional, segurança, espaço na comunidade e
relações afetivas.
Corroborando NERI (2007) afirma que o aspecto essencial do conceito
de qualidade de vida e do bem-estar é o caráter subjetivo, onde a avaliação é
feita pelo individuo com base em critérios pessoais e referenciados aos
padrões e às expectativas sociais (NERI, PAG 23-24).
Desse modo, é possível aferir a qualidade de vida dos produtores
familiares, através dos benefícios e oportunidades oferecidos a eles pelo PAA.
Pois este programa busca melhorar as condições de vida dessas famílias
através da distribuição direta de renda, qualificação profissional e técnica,
segurança alimentar, valorização dos costumes, hábitos e cultura regional e
local.
6. HIPÓTESE
Políticas públicas de apoio à agricultura familiar influenciam no
desenvolvimento socioeconômico dos agricultores, possibilitando assim uma
significativa melhoria na sua qualidade de vida, através de oportunidades
oferecidas pelo PAA, como a distribuição de renda, remuneração da produção,
17
diversificação produtiva, segurança alimentar, incentivo à coletividade entre
outros.
7. METODOLOGIA DE PESQUISA
7.1. População e amostra
A população a ser investigada será constituída pelas famílias atendidas
pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no município de Viçosa/MG,
que se localizam na zona rural Córrego São Francisco (Juquinha de Paula),
sendo o total de famílias atendidas segundo a Proposta de Participação –
Doação Simultânea (CONAB), igual a nove.
Por ser pequeno o numero de famílias atendidas pelo PAA será possível
entrevistar e aplicar questionários a todos os chefes das famílias beneficiadas
deste programa na cidade de Viçosa. Optou-se pelo método de amostra não
probabilística, pois segundo Gil (2002), quando a mostra for selecionada de
forma precisa, é possível conseguir resultados fidedignos sobre a avaliação da
população ou do universo da pesquisa, podendo assim representar
significadamente a população estudada.
Será utilizada amostra intencional, preconizada por MORESI (2003) que
diz que deverão ser escolhidos casos para a mostra que representem o “bom
julgamento” da população/universo. Optarei por eleger os chefes de cada
família pesquisada para aplicar entrevistas e questionários, pois estes
representam a família em geral e por serem os responsáveis podem apresentar
experiências práticas com o problema pesquisado.
18
7.2. Métodos de coleta de dados
Segundo SILVA (2004) o procedimento técnico de estudo de caso deve
ser usado quando envolve um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos
objetivos de maneira que se permita o amplo e detalhado conhecimento. BOYD
& STASCH (1985) apud. CAMPOMAR (2005) corrobora afirmando que:
“estudo de casos envolve a análise intensiva de um número relativamente pequeno de situações e, ás vezes, o número de casos estudados reduz-se a um. È dada ênfase à completa descrição e ao entendimento do relacionamento dos fatores de cada situação, não importando os números envolvidos”.
GIL (2002) afirma que este tipo de estudo proporciona uma visão geral
acerca do problema pesquisado, além de oferecer a possibilidade de detectar
fatores que influenciam ou são influenciados por ele.
Diante deste contexto, optou-se por trabalhar com o procedimento de
coleta de dados, pois este é o método mais adequado ao objetivo da pesquisa,
que é avaliar as variações da qualidade de vida dos agricultores beneficiários
ao longo da implementação do Programa de Aquisição de Alimentos no
município de Viçosa-MG. Além de ser o tipo de estudo que mais apareceu nas
pesquisas bibliográficas sobre o tema.
7.3. Técnicas de coleta de dados
Utilizar-se-á técnicas de coleta de dados através de aplicação direta de
entrevistas e questionários. Serão aplicadas preferencialmente nas unidades
produtivas dos chefes das famílias atendidas pelo PAA no município de Viçosa-
MG, para que se possa fazer uma análise visual da estrutura, podendo assim
19
perceber características da propriedade e do produtor que por serem delicadas
não serão mencionados nos questionários e entrevista.
O método de coleta através de questionários será usado, pois GIL
(2002) diz que é um meio rápido e barato para se obter informações além de
não precisar possibilitar o anonimato dos entrevistados.
Segundo YIN (2001) entrevistas são usualmente aplicadas em estudos
sobre questões humanas, tema chave deste trabalho. Estas questões devem
ser registradas e interpretadas através da observação direta do pesquisador.
Este tipo de coleta deve ser usado para corroborar com informações obtidas
através de outras fontes, como por exemplo, o questionário.
7.4. Método de analise de dados
Quanto à análise de dados, será feita após a aplicação dos
questionários e entrevistas, serão agrupados os dados e informações com
especificidades e características semelhantes. Após este processo os dados
serão lançados na planilha eletrônica Statistical Package for the Social
Sciences – SPSS, gerando assim dados quantitativos e estatísticos como
gráficos e tabelas, facilitando o entendimento das informações coletadas.
ASMUS (2004) afirma que é de fácil e rápida utilização e tem grande
potencialidade para o tratamento dos dados.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
20
ASMUS, R. M. F. Qualidade de vida na agricultura familiar. 2004. 295f. Dissertação (Doutorado em Politica e Gestão Ambiental), Centro de Desenvolvimento Sustentável, UnB, Brasília, 2004.
BOYD, W & S. Marketing research: text and cases. IIIinois: Richard D. Irwin, Inc.1985.
BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e abastecimento. Programa de Aquisição de alimentos. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/agriculturaFamiliar/paa_o_que_e.html > Acesso em: 10 set. 2010.
BUAINAIN, A. M.; SABATTO, A.; GUANZIROLI, C. E. Agricultura familiar: um estudo de focalização regional. In: XLII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural - 25 a 28/07/2004, 2004, Cuiabá/MT. SOBER. Brasília/DF: SOBER, 2004. v. 1. p. 1-20.
CAMPOMAR, M. C.; Do uso de estudo de caso em pesquisas para dissertações e teses em administração. Revista de Administração (FEA-USP), São Paulo, v. 26, n. 3, p. 95-97, 1991.
CASTILHOS, D. S. B.; DENARDI, R. A.; HENDRIX, E. ; BIANCHINNI, V.. Fatores que Afetam o Desenvolvimento dos Pequenos Municípios do Paraná. In: XXXIX Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 2001, Recife. CD Room do XXXIX Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 2001.
CERQUEIRA, P. S. ; ROCHA, A. G. ; Coelho, V. P. Agricultura familiar e políticas públicas: algumas reflexões sobre o Programa de Aquisição de Alimentos no estado da Bahia. Revista Desenbahia, v. 3, p. 55-78, 2006. Disponível em: < http://www.mesteco.ufba.br/scripts/arquivos/at_ecoreg_05.pdf. > Acesso em: 11 agosto 2010.
COSTA, E. M. A. ; PINTO, N. A. ; LEMOS, C. A ; FIUZA, A. L.C ; CARNEIRO, M. P.A. K. A construção da autonomia e do empoderamento das famílias beneficiárias do pgrm: uma realidade possível? 2009. (Apresentação de Trabalho/Simpósio).
DELGADO, G. C.; CONCEIÇÃO, J. C. P. R da; OLIVEIRA, J. J. . Relatório de Avaliação do Programa de Aquisição de Alimentos- PAA. Cadernos do CEAM (UnB), v. 6, p. 11-40, 2006.
DEVES, O. D.; RAMBO, A. G.; FILIPPI, E. E. A dinâmica das políticas públicas e das organizações locais em processos de desenvolvimento rural: o caso do Programa de Aquisição de Alimentos no município de São Pedro do Butiá (RS). In: 48º Congresso da SOBER - Tecnologias, Desenvolvimento e Integração Social, 2010, Campo Grande (MS). 48º Congresso da SOBER - Tecnologias, Desenvolvimento e Integração Social. Campo Grande (MS) : UFMS, 2010. p. 1-19. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/pgdr/arquivos/762.pdf Acessado em: 25/10/2010.
DORETTO, M.; MICHELLON, E. Avaliação dos Impactos Econômicos, Sociais e Culturais do Programa de Aquisição de Alimentos no Paraná. In: Flávio Borges Botelho Filho / Amauri Daros de Carvalho. (Org.). Avaliação de
21
Políticas de Aquisição de Alimentos. 27 ed. Brasilia: UnB / CEAM / NER, 2007, v. 7, p. 107-138.
FUSCALDI, K. C. Políticas de apoio à agricultura familiar: uma análise do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA. Sociedade e desenvolvimento rural, v. 4, p. 117-132, 2010.
GAMA, J. B. O Pronaf e o Programa de Aquisição de Alimentos: instrumentos de desenvolvimento da agricultura familiar no município de Petrolina-PE. 2008. 128f. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) Departamento de Economia Rural, UFV, Viçosa, 2008.
GHIZELINI, A. A. M. Políticas Públicas de Segurança Alimentar como processo de intervenção direta na produção e no consumo de alimentos no Brasil. In: VII Congresso Latino Americano de Sociologia Rural, 2006, Quito. Anais do VII Congresso Latino Americano de Sociologia Rural, 2006. Disponível em: < http://www.alasru.org/cdalasru2006/11%20GT%20Andr%C3%A9%20Michelato%20Ghizelini.pdf >. Acesso em 25 de agosto 2010.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
GRISA, C. As redes e as instituições do Programa de Aquisição de Alimentos: uma análise a partir do enraizamento estrutural e político. In: 47 Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2009, Porto Alegre. Anais do 47 Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2009.
HERCULANO S. C. A Qualidade de Vida e seus Indicadores. Revista Ambiente e Sociedade, Campinas, v. ano I, n. 2, p. 77-99, 1998.
MATTEI, L. Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA): antecedentes, concepção e composição geral do Programa. Cadernos do CEAM (UnB), v. 7, p. 33-44, 2007.
MORESI, E. Metodologia de Pesquisa. Brasília . Universidade Católica de Brasília – UCB, Pró-reitoria de Pós –Graduação – PRPG, 2003.
MÜLLER, A. L.; SCHNEIDER, S. ; SILVA, M. K. . A construção das políticas públicas para a agricultura familiar no Brasil: o caso do programa de aquisição de alimentos. In: 31º Encontro Anual da Anpocs, 2007, Caxambu. Publicado no site do Evento, 2007.
NERI, A. L. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. 1. ed. Campinas: Editora Alínea, 2007. p. 23-24.
RIBEIRO, E.M. et. al. Agricultura familiar e programas de desenvolvimento rural no Alto Jequitinhonha. Revista de Economia Rural, Rio de Janeiro, v. 45 nº 04, p. 1075-1102, 2007.
SILVA, C. R. O. Metodologia e Organização do projeto de pesquisa. Guia prático. Fortaleza: maio de 2004.
SILVESTRE, L. H. A.; CALIXTO, J. S.; RIBEIRO, A. E. M. Mercados locais e políticas públicas para a agricultura familiar: em estudo de caso no município de Minas Novas, MG. In: XLIII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 2005, Ribeirão Preto. Anais do XLIII
22
Congresso da Sober, 2005. Disponível em: < http://www.sober.org.br/palestra/2/767.pdf >. Acesso em: 08 set. 2010.
SIQUEIRA, M. M. M.; PADOVAN, V. A. R. Bases teóricas de bem-estar subjetivo, bem-estar psicológico e bem-estar no trabalho. Psicologia. Teoria e Pesquisa, v. 24, p. 201-209, 2008.
VIEIRA, D. F. A. ou ALBERNAZ, D. F ; VIANA, C. A. S. . O Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e sua relação com o modo de funcionamento da Agricultura Familiar. In: VII Congresso Brasileiro de Sistemas de Produção, 2007, Fortaleza. Anais do VII Congresso Brasileiro de Sistemas de Produção, 2007.. s.d. Disponível em: <www.conab.gov.br > Acesso em: 17/01/2009.
YAZBEK, M. C. O Programa Fome Zero no Contexto das Políticas Sociais Brasileiras. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 2 jun 2004, p. 104-112, 2004.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. trad. Daniel Grassi. 2.ed. ISBN: 85-7307-852-9. Porto Alegre: Bookman, 2001. p. 112-115
23