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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECNICA EMCLABORATORIO DE MATERIAIS LABMATLABORATRIO DE CARACTERIZAO MICROESTRUTURAL E ANLISE DE IMAGENS LCMAI

    MICROSCOPIA ELETRNICA DE

    VARREDURA

    Profa. Ana Maria Maliska

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    Microscopia Eletrnica de Varredura e Microanlise

    MICROSCOPIA ELETRNICADE VARREDURA E MICROANLISE

    1. Introduo1.1. Preliminares 031.2. Introduo 031.3. Escopo do Trabalho 05

    2. Princpios Bsicos de Funcionamento do Microscpio Eletrnico de Varredura 062.1. Introduo 062.2. Breve Histrico 072.3. Componentes do MEV 08

    2.4. Coluna ptico-eletrnica 092.4.1. Canho de Eltrons 092.4.2. Caractersticas da Fonte 12

    2.5. Sistema de Lentes 162.6. Demagnificao do Feixe Eletrnico 192.7. Aberraes das Lentes 212.8. Varredura do Feixe de Eltrons 24

    3. Formao, Processamento e Interpretao da Imagem 273.1. Introduo 27

    3.2. Interaes Eltrons-amostra 273.3. Origem dos Sinais 313.4. Imagem por Eltrons Secundrios 36

    3.4.1. Distribuio de energia 363.4.2. Dependncia dos Eltrons Secundrios com a composio da

    amostra e a energia dos ep 37

    3.4.3. Profundidade de escape dos eltrons secundrios 373.4.4. Resoluo espacial 403.4.5. Deteco dos eltrons secundrios 41

    3.4.6. Mecanismos de contraste 433.5. Imagem por Eltrons Retroespalhados 47

    3.5.1. Distribuio de energia 483.5.2. Profundidade de Escape 483.5.3. Resoluo Espacial 483.5.4. Deteco dos Eltrons Retroespalhados 483.5.5. Mecanismos de Contraste 49

    4. Microanlise por Energia Dispersiva 514.1. Introduo 514.2. Breve Histrico 51

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    4.3. Origem dos Sinais 534.3.1. Radiao Contnua 534.3.2. Radiao Caracterstica 544.3.3. Energia Crtica de Ionizao 574.3.4. Energia dos Raios-X Caractersticos 574.3.5. Eltrons Auger 59

    4.4. Caractersticas da Radiao de Raios-X 604.4.1. Resoluo Espacial 614.4.2. Direcionalidade do Sinal 624.4.3. Profundidade de Excitao 634.4.4. Absoro do Raio-X 634.4.5. Fluorescncia do Raio-X 64

    4.5. Espectrmetro de Energia Dispersiva 654.5.1. Processamento do Sinal 664.5.2. Eficincia do Detector 674.5.3. Eficincia da Geometria do Detector 694.5.4. ngulo de Sada (take-off angle) 694.5.5. Resoluo do Detector 704.5.6. Relao entre Altura do Pico e Background 71

    4.6. Artefatos no Processo de Deteco do Espectro 714.6.1. Picos de Escape 71

    4.6.2. Absores Laterais 724.6.3. Pico de fluorecncia interna do Silcio 734.6.4. Picos Somados (Sum Peaks) 734.6.5. Radiaes Perdidas (Stray Radition) 734.6.6. Aquecimento do Detector 74

    4.7. Anlise Qualitativa 744.7.1. Guia para Anlise Qualitativa por Energia Dispersiva 804.8. Anlise Quantitativa 824.8.1. Procedimento para Anlise Quantitativa 83

    4.8.2. Fatores de Correo na Quantificao dos Elementos 844.8.3. Origem dos Efeitos na Matriz 854.8.4. Efeito do Nmero Atmico 864.8.5. Profundidade de formao dos Raios-X 884.8.6. Fatores ZAF na microanlise 894.8.7. Efeito da absoro dos Raios-X 904.8.8. Fluorescncia dos Raios-X 954.8.9. Tipos de Correo de matriz 964.8.10. Requisitos para a Anlise Qumica 97

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    CAPTULO UM

    INTRODUO

    1.1. PRELIMINARES

    Durante a fase de produo ou anlise de materiais, quase sempre se torna

    necessrio analisar a sua microestrutura. Esta anlise microestrutural muito importante

    pois permite:

    entender as correlaes microestrutura - defeitos - propriedades;

    predizer as propriedades do material quando estas correlaes so estabelecidas.

    As tcnicas mais utilizadas para este tipo de anlise so a Microscopia tica e

    Eletrnica.No caso da microscopia tica, o contraste da imagem resultado da diferena

    de reflectividade da luz nas diversas regies da microestrutura, uma vez que o sistema

    constitudo basicamente pela fonte de iluminao e do sistema de lentes. Para materiaisque so opacos a luz visvel, como o caso dos metais, da maioria dos cermicos e

    polmeros, somente a superfcie pode ser observada e a mesma precisa ser cuidadosamente

    preparada de maneira a revelar os detalhes da microestrutura.

    Uma das limitaes da microscopia tica o aumento mximo conseguido que fica

    em torno de 2 000 vezes. Como conseqncia, pequenos detalhes estruturais no so

    possveis de serem detectados atravs desta tcnica. Nesta era de intenso avano

    tecnolgico, cada vez mais os cientistas tm a necessidade de observar, analisar e explicarcorretamente os fenmenos que ocorrem na escala micromtrica ou submicromtrica. A

    microscopia eletrnica de varredura se apresenta como a tcnica mais adequada, pois

    permite alcanar aumentos muito superior ao da microscopia tica. Dependendo do

    material pode atingir at 900 000 vezes, mas para a anlise de materiais normalmente o

    aumento da ordem de 10 000 vezes. No caso da microscopia eletrnica a rea ou o

    microvolume a ser analisado irradiado por um fino feixe de eltrons ao invs da radiao

    da luz. Como resultado da interao do feixe de eltrons com a superfcie da amostra, uma

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    srie de radiaes so emitidas tais como: eltrons secundrios, eltrons retroespalhados,

    raios-X caractersticos, eltrons Auger, ftons, etc. Estas radiaes quando captadas

    corretamente iro fornecer informaes caractersticas sobre a amostra (topografia dasuperfcie, composio, cristalografia, etc.).

    Na microscopia eletrnica de varredura os sinais de maior interesse para a

    formao da imagem so os eltrons secundrios e os retroespalhados. A medida que o

    feixe de eltrons primrios vai varrendo a amostra estes sinais vo sofrendo modificaes

    de acordo com as variaes da superfcie. Os eltrons secundrios fornecem imagem de

    topografia da superfcie da amostra e so os responsveis pela obteno das imagens de alta

    resoluo, j os retroespalhados fornecem imagem caracterstica de variao decomposio.

    O Microscpio Eletrnico de Varredura (MEV) se tornou um instrumento

    imprescindvel nas mais diversas reas: eletrnica, geologia, cincia e engenharia dos

    materiais, cincias da vida, etc. Em particular, o desenvolvimento de novos materiais tm

    exigido um nmero de informaes bastante detalhado das caractersticas microestruturais

    s possvel de ser observado no MEV. Podemos afirmar que onde haja um grupo de

    desenvolvimento de materiais, h a necessidade de um MEV para as observaes

    microestruturais.

    O MEV tem seu potencial ainda mais desenvolvido com a adaptao na cmara da

    amostra de detectores de raios-X permitindo a realizao de anlise qumica na amostra em

    observao. Atravs da captao pelos detectores e da anlise dos raios-X caractersticos

    emitidos pela amostra, resultado da interao dos eltrons primrios com a superfcie,

    possvel obter informaes qualitativas e quantitativas da composio da amostra na regio

    submicrometrica de incidncia do feixe de eltrons. Este procedimento facilita a

    identificao a de precipitados e mesmo de variaes de composio qumica dentro de um

    gro. Atualmente quase todos os MEV so equipados com detectores de raios-X, sendo

    que devido a confiabilidade e principalmente devido a facilidade de operao, a grande

    maioria faz uso do detector de energia dispersiva (EDX).

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    1.2. ESCOPO DO TRABALHO

    Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de transmitir aos usurios da

    microscopia eletrnica de varredura os princpios bsicos de funcionamento desta tcnica e

    sua aplicao para a caracterizao de materiais. muito importante que as pessoas que

    usam esta tcnica na anlise de seus trabalhos no a utilizem como uma caixa preta, mas

    conheam seus recursos e tambm de suas limitaes. Com este objetivo no captulo dois

    ser apresentado a fundamentao terica e os princpios bsicos de funcionamento do

    microscpio eletrnico de varredura (MEV).

    Apesar da imagem gerada no microscpio ser bastante clara de ser entendida

    preciso que se tenha noo que existem muitos parmetros que podem ser variados para

    melhorar a qualidade desta imagem. No captulo trs deste trabalho so apresentados os

    processos bsicos de formao e obteno das imagens, com enfoque nas imagens geradas

    pelos eltrons secundrios e eltrons retroespalhados.

    Neste trabalho ser dado nfase tambm microanlise qumica por energia

    dispersiva (EDX), j que esta tcnica se encontra extremamente correlacionada com a

    microscopia eletrnica de varredura, sendo muito usada para a determinao dos

    elementos presentes em volumes micromtricos. Devido a sua potencialidade e

    versatilidade de uso, atualmente a maioria dos microscpios eletrnicos de varredura

    possuem acoplado um espectrometro por energia dispersiva. Os principais fenmenos que

    regem esta tcnica e os princpios bsicos da anlise qualitativa e quantitativa dos

    elementos qumicos so obtidos no captulo 3.

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    CAPTULO DOIS

    PRINCPIOS BSICOS DE FUNCIONAMENTO DO

    MICROSCPIO ELETRNICO DE VARREDURA

    2.1. INTRODUO

    Microscpio Eletrnico de Varredura (MEV) um instrumento muito verstil e

    usado rotineiramente para a anlise microestrutural de materiais slidos. Apesar da

    complexidade dos mecanismos para a obteno da imagem, o resultado uma imagem

    de muito fcil interpretao.

    O aumento mximo conseguido pelo MEV fica entre o microscpio tico (MO) e

    o Microscpio Eletrnico de Transmisso (MET). A grande vantagem do MEV em

    relao ao microscpio tico sua alta resoluo, na ordem de 2 a 5 nm (20 - 50 A o) -atualmente existem instrumentos com at 1 nm (10 Ao) - enquanto que no tico de 0,5

    m. Comparado com o MET a grande vantagem do MEV est na facilidade de

    preparao das amostras.

    Entretanto, no so apenas estas caractersticas que fazem do MEV uma

    ferramenta to importante e to usada na anlise dos materiais. A elevada profundidade

    de foco (imagem com aparncia tridimensional) e a possibilidade de combinar a anlise

    microestrutural com a microanlise qumica so fatores que em muito contribuem para o

    amplo uso desta tcnica. A observao e anlise de fratura teve um grande avano com

    o uso do microscpio eletrnico de varredura.

    Neste captulo sero apresentados os diversos componentes do MEV e os seus

    princpios bsicos de funcionamento. muito importante que se entenda as funes

    desses componentes para que se possa ajustar adequadamente os diversos parmetros

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    (voltagem, dimetro do feixe) e obter um bom sinal de eltrons secundrios, eltrons

    retroespalhados ou raios-X.

    2.2. BREVE HISTRICO

    Historicamente, a microscopia eletrnica de varredura teve seu incio com o

    trabalho de M. Knoll (1935), descrevendo a concepo do MEV [1]. Em 1938 von

    Ardenne construiu o primeiro microscpio eletrnico de transmisso de varredura

    adaptando bobinas de varredura ao microscpio eletrnico de transmisso. Neste caso

    as amostras no podiam ser amostras espessas, pois se tratava de um microscpio detransmisso, e o tempo para obter uma foto era de cerca de 20 min. O aumento mximo

    conseguido foi de 8 000x, com resoluo aproximada de 50 nm.

    O primeiro microscpio eletrnico de varredura para observao de amostras

    espessas foi construdo em 1942 nos laboratrios da RCA usando o detector de eltrons

    secundrios para obter a imagem [2]. No entanto, a resoluo conseguida neste caso foi

    de apenas 1 m, o que era muito ruim j que com o microscpio tico era possvel obter

    resoluo de 0,5 m. Melhoramentos foram feitos para reduzir o dimetro do feixe de

    eltrons e melhorar a parte eletrnica, principalmente a relao sinal-rudo atravs do

    uso de eltron-multiplicadora. Com estas modificaes se conseguiu obter imagem com

    resoluo de 50 nm (500 Ao). A substituio das lentes eletrostticas por lentes

    eletromagnticas permitiu melhorar ainda mais a resoluo passando para 25 nm.

    Modificaes foram sendo introduzidas atravs de melhoras nos detectores,

    como por exemplo, a introduo do cintilador que converte os eltrons em sinal de luz,

    e a sua captao por uma fotomultiplicadora. Em 1965 foi ento construdo o primeiro

    MEV comercial pela Cambridge Scientific Instrument. Desde ento, muitos avanos

    tm sido feito, principalmente em relao as fontes de eltrons, a parte eletrnica e

    computacional. A substituio do sistema analgico pelo digital permite que as imagens

    sejam armazenadas e processadas facilmente. O advento dos microcomputadores e o

    desenvolvimento de programas especficos para operao e anlise dos resultados

    facilitou ainda mais a utilizao do MEV.

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    2.3. COMPONENTES DO MEV

    O MEV, conforme pode ser visto na Fig. 2.1, consiste basicamente da coluna

    otico-eletrnica (canho de eltrons e sistema de demagnificao1), da unidade de

    varredura, da cmara de amostra, do sistema de detectores e do sistema de visualizao

    da imagem.

    Figura 2.1. Representao esquemtica dos componentes do Microscpio Eletrnico deVarredura [3].

    O canho de eltrons usado para a produo do feixe de eltrons com energia e

    quantidade suficiente para ser captado pelos detectores. Esse feixe eletrnico ento

    demagnificado por vrias lentes eletromagnticas, cuja finalidade produzir um feixe

    de eltrons focado com um pequeno dimetro numa determinada regio da amostra.

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    A palavra demagnificaoest sendo usada neste texto como sinnimo de reduo do dimetro do feixeeletrnico

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    2.4. COLUNA OPTICO-ELETRNICA

    Na coluna tico-eletrnica ficam localizados o canho de eltrons, que gera os

    eltrons primrios, as lentes condensadoras, que colimam o feixe de eltrons primrios,

    as bobinas, que promovem a deflexo do feixe de eltrons primrios no sentido

    horizontal e vertical sobre uma dada regio da amostra, e ainda as bobinas que fazem as

    correes de astigmatismo. Toda a coluna deve estar sob vcuo durante a emisso do

    feixe de eltrons primrios.

    2.4.1. Canho de Eltrons

    O canho de eltrons o conjunto de componentes cuja finalidade a produo

    dos eltrons e a sua acelerao para o interior da coluna. Este feixe de eltrons deve ser

    estvel e com intensidade suficiente para que ao atingir a amostra possa produzir um

    bom sinal. O dimetro do feixe produzido diretamente pelo canho de eltrons muito

    grosseiro para produzir uma boa imagem em grandes aumentos e por isso precisa ser

    reduzido pelas condensadoras (lentes eletromagnticas). A maioria dos MEV capaz de

    produzir um feixe de eltrons que ao atingir a amostra tenha um dimetro da ordem de

    10 nm ( 100 Ao) e que ainda possua corrente suficiente para formar uma imagem comboa resoluo.

    Vrios tipos de canho de eltrons so usados nos microscpios variando assim a

    quantidade de corrente que as mesmas podem produzir, o tamanho da fonte, a

    estabilidade do feixe produzido e o tempo de vida da fonte. O modelo mais usado

    formado por trs componentes (tipo triodo ): um filamento de tungstnio, que serve

    como ctodo, o cilindro de Wehnelt e o nodo, conforme pode ser visto na Fig. 2.2. O

    microscpio eletrnico Philips-XL30, instalado no Labmat/EMC possui este tipo de

    canho.

    O filamento de tungstnio tem seu funcionamento baseado no efeito termoinico

    de emisso dos eltrons. A emisso termoinica dos eltrons pelo filamento ocorre

    quando fornecido calor suficiente ao mesmo e os eltrons podem ultrapassar a barreira

    de energia para escapar do material. Para reduzir o efeito de evaporao do filamento,

    que comum a elevadas temperaturas, procura-se usar como filamento um material que

    precise de baixa energia para emitir eltrons. No caso do tungstnio possvel obter

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    uma boa emisso de eltrons, ou seja, produzir um feixe eletrnico com alta densidade

    de corrente, em temperatura bem abaixo da temperatura de fuso do tungstnio. A

    temperatura de emisso do tungstnio de 2427o

    C e a de fuso de 3410o

    C,ocasionando uma baixa evaporao deste filamento e consequentemente um maior

    tempo de vida. A durao de um filamento de tungstnio da ordem de 60 h, podendo

    variar dependo da saturao.

    Figura 2.2.Diagrama esquemtico do canho de eltrons tipo triodo [2].

    O filamento de tungstnio aquecido resistivamente pela fonte, cuja voltagem,

    na maioria dos casos, varia entre 200 V e 30 KV. Durante a operao o filamento

    mantido num potencial altamente negativo, pela fonte de alta voltagem, e os eltrons

    so emitidos pelo filamento aquecido em todas as direes. Envolvendo o filamento h

    o cilindro de Wehnelt ou grade catdica. Essa grade catdica funciona como um

    eletrodo adicional de controle e polarizada negativamente por cerca de 500 V, atravs

    de uma resistncia varivel, em relao ao filamento. O cilindro de Wehnelt atua no

    sentido de focar os eltrons emitidos pelo filamento para dentro do canho e controlar a

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    quantidade de eltrons emitidos pelo filamento, (Fig. 2.2). Abaixo do conjunto

    filamento/cilindro de Wehnelt se encontra um outro componente polar, o nodo.

    O filamento ao ser aquecido pela passagem da corrente eltrica (corrente de

    saturao) a uma temperatura de 2700 K (2427 oC) comea a emitir eltrons. Esses

    eltrons so repelidos pela polarizao negativa da grade catdica, passando pelo

    orifcio central existente na grade catdica e so ento acelerados para dentro da coluna

    do MEV, devido a diferena de potencial ( ddp ) entre a voltagem aplicada no fi lamento

    e o nodo (terra). Para entender isso, bom lembrar que entre o filamento e o nodo h

    uma superfcie equipotencial que atua no sentido de acelerar o feixe de eltrons

    primrios do ctodo (maior potencial) para o nodo (menor potencial). O furo no nodopermite que somente uma frao dos eltrons emitidos continuem em direo ao interior

    da coluna. Em cada lente eletromagntica e abertura existente ao longo da coluna o

    dimetro do feixe de eltrons se torna menor, e, consequentemente, a corrente do feixe

    fica algumas ordens de grandeza menor quando atinge a amostra. No caso do filamento

    de tungstnio a corrente de emisso que dentro do canho (no crossover) de 100 A

    ao atingir a amostra da ordem de 1 pA - 1 A. De fato, a corrente do feixe que atinge

    a amostra seria a mesma corrente do crossover se a maioria dos eltrons no fosseinterceptada pelas aberturas na coluna, especialmente pelo nodo.

    Efetivamente, o cilindro de Wehnelt e o nodo funcionam como um sistema de

    lentes eletrostticas. O resultado a produo de um feixe de eltrons com um pequeno

    dimetro focalizado num ponto chamado de entrecruzamento (crossover), prximo ao

    orifcio do nodo. O ponto de entrecruzamento o primeiro foco e uma imagem da

    rea de emisso do filamento, cujo tamanho depende do valor da tenso aplicada na

    grade. Aumentando a tenso, as linhas equipotenciais se afastam do filamento at um

    momento em que cessa a emisso. Portanto, para se obter uma corrente de feixe

    satisfatria, a rea da emisso deve ser grande. Dependendo das distncias filamento-

    grade catdica e grade catdica-nodo, a imagem do primeiro foco pode ser feita menor

    que a rea de emisso, permitindo assim a produo de um fino feixe de eltrons

    primrios. Na realidade o ponto de entrecruzamento, e no o filamento, que usado

    como a fonte de eltrons para as lentes eletromagnticas.

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    importante que a imagem do primeiro foco seja menor possvel porque a

    funo das lentes condensadoras a de tornar o feixe eletrnico divergente quando se

    afasta do canho, em um feixe o mais fino possvel, monocromtico e focado nasuperfcie da amostra. O dimetro do crossover o ponto de partida para a colimao

    e focagem do feixe eletrnico sobre a amostra. Se o dimetro do crossover for grande,

    pode haver perda de resoluo ou as lentes magnticas sero muito solicitadas para

    colimarem e assim no haver perda de desempenho da coluna.

    Observa-se do exposto acima que a resoluo de um MEV no depende apenas

    da tenso de acelerao utilizada, mas tambm do desempenho das lentes

    condensadoras e do nmero de eltrons que se consegue tirar do filamento, mantendo area de emisso a menor possvel.

    2.4.2. Caractersticas das Fontes

    Para que uma fonte de eltrons seja considerada uma boa fonte, alguns parmetros

    de desempenho devem ser considerados: densidade de corrente, brilho, tempo de vida,

    tamanho e estabilidade da fonte. O feixe eletrnico frequentemente caracterizado pela

    densidade de corrente, expressa como:

    Jb= (corrente/rea) = ib/ (d/2)2 (2.1)

    e que pode ser medida em qualquer ponto da coluna. O valor de Jbvaria ao passar por cada

    lente eletromagntica e pelas aberturas devido ao espalhamento angular (divergncia) e

    interceptao do feixe. A medida da densidade de corrente no leva em conta a divergncia

    do feixe eletrnico. Portanto esta grandeza no caracteriza de forma adequada o

    desempenho da fonte. No adianta uma fonte produzir uma quantidade muito grande de

    eltrons se os mesmos so perdidos ao serem colimados pelas lentes eletromagnticas,

    devido a grande divergncia do feixe de eltrons. A divergncia do feixe est diretamente

    relacionada com a rea de emisso do filamento e com o tamanho do crossover. Quanto

    menor estas reas, menos divergente ser o feixe. O brilho ( ) o parmetro mais

    adequado para caracterizar o desempenho de uma fonte. O brilho leva em conta tanto a

    densidade de corrente, como a divergncia do feixe de eltrons e expresso pela equao:

    = corrente / [(rea) (angulo slido)] = 4 ib/ 2d22 (2.2)

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    medida em A/cm2sr, e onde ib a corrente do feixe em qualquer ponto da coluna, fora do

    canho, d o dimetro do feixe neste ponto e o angulo de divergncia (ou

    convergncia) do feixe. Estes parmetros esto representados na Fig. 2.2.

    O brilho do feixe eletrnico uma grandeza muito importante para avaliar o

    desempenho de uma fonte, de tal maneira que mesmo valores aproximados so validos. Um

    importante resultado que o brilho do feixe de eltrons aumenta com a voltagem e diminui

    com o aumento da temperatura do filamento.

    O filamento de tungstnio vem sendo a fonte mais utilizada nos ltimos 50 anos

    pela maioria dos microscpios eletrnicos, apesar da existncia de outras fontes emissoras;como o Hexaboreto de Lantneo (LaB6), o Field Emission Gun (FEG), ( Fig. 2.3) e que

    apresentam brilho mais intenso. Isto conseqncia do seu baixo custo aliado ao seu bom

    desempenho. Em aplicaes onde o alto brilho da fonte no muito necessrio, como para

    mdios aumentos (na faixa de 10 000x e que so os aumentos normalmente usados para a

    anlise de materiais), e onde se deseja um feixe bastante estvel (caso da microanlise), o

    filamento de tungstnio pode ser considerado como a melhor opo de fonte.

    Uma fonte tpica de tungstnio um filamento com cerca de 100 m de dimetro

    dobrado na forma de V, conforme pode ser visto na Fig. 2.3.a. Sob condies normais de

    operao a rea de emisso de eltrons pelo filamento de cerca de 100 m x 150 m e o

    tamanho da fonte no crossover fica entre 30 a 100 m. Devido a este grande tamanho do

    crossover necessrio que o mesmo sofra uma grande reduo no seu dimetro pelas

    lentes eletromagnticas para que o MEV tenha uma boa resoluo. O brilho de uma fonte

    de tungstnio com o dimetro do feixe no entrecruzamento, do, de 30 a 100 m e ode 3 x

    10 -3 a 8 x 10 -3 em torno de 9,2 x 104A/cm2sr a 20 KV. Aumentando a voltagem do

    filamento para 30 KV o brilho aumenta para cerca de 1,5 x 105A/cm2sr.

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    (a) (b) (c)

    Figura 2.3. Micrografia eletrnica de um filamento de W (a), LaB6(b) e FEG (c) [1].

    A boa estabilidade, na ordem de 1%, das fontes termoinicas (W e LaB6) outro

    parmetro muito importante a ser considerado principalmente no caso do uso de

    microanlise. A durabilidade de um filamento de tungstnio, quando sob razovel vcuo,

    da ordem de 10-3 Pa (10-5 Torr), de 30 a 100 h. Os parmetros discutidos acima so

    apresentados na Tab. 2.1, onde so comparados com outras fontes.

    Uma maneira de melhorar o brilho da fonte mudar o material da fonte (LaB 6) ou

    mudar o mecanismo de emisso (FEG) aumentando em uma ou mais ordens de grandeza.

    Das fontes de alto brilho, a fonte termoinica de LaB6 a mais comum. Esta fonte oferece

    cerca de 5 a 10 vezes mais brilho que a fonte de tungstnio e um tempo de vida muito

    maior, conforme pode ser visto na tabela 2.1. No caso da fonte de LaB6 a energia

    necessria para que ocorra emisso termoinica dos eltrons aproximadamente metade da

    energia necessria para o caso do filamento de tungstnio. O valor tpico da densidade de

    corrente de operao do LaB6 de 40 A/cm2a 1800 K (1527 oC). No caso do filamento detungstnio de 3,4 A/cm2quando aquecido a uma temperatura de 2700 K (2427 oC). Uma

    fonte de LaB6 geralmente de maior custo operacional do que uma fonte de tungstnio. O

    vcuo necessrio para sua operao bem mais elevado, menor do que 10-5Pa (10-7Torr),

    necessitando do uso de bombas turbomoleculares. O custo de uma fonte de LaB6 cerca de

    10 vezes maior que uma fonte de tungstnio. Entretanto o aumento significado da corrente

    do filamento e o grande tempo de vida destas fontes ( 1000 h ) justificam o seu emprego.

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    Tabela 2.1. Comparao de vrias fontes a 20 kV [1].

    Fonte Brilho(A/cm2sr)

    Tempo de vida(h)

    Tamanho da Fonte(no crossover)

    Estabilidade dacorrente do feixe

    Tungstnio 103 40 100 30 - 100 mm 1%

    LaB6 106 200 - 1 000 5 - 50 mm 1%

    FEG 108 > 10 000 < 5 nm 5%

    As fontes de eltrons descritas anteriormente so fontes termoinicas cuja

    desvantagem o menor brilho e a evaporao da fonte. A fonte de emisso eletrosttica

    (Field Emission Electron Guns) normalmente um monocristal de tungstnio na forma de

    um fio com uma ponta extremamente fina (Fig. 2.3.c). Como a ponta do filamento muito

    fina, cerca de 100 nm ou menos, o campo eltrico fica extremamente alto. Como resultado

    tem-se uma grande emisso de eltrons e consequente uma elevada densidade de corrente,

    cerca de 105

    A/cm2

    , quando comparada com a do filamento de tungstnio que de 3 A/cm2

    .Como a rea do primeiro foco (fonte virtual) de aproximadamente 10 nm a

    demagnificao (reduo) do feixe de eltrons no precisa ser to intensa podendo se obter

    uma resoluo de 1 a 2 nm. As fontes de emisso eletrostticas podem ser aquecidas ou

    no, sendo que as fontes frias necessitam de vcuo mais elevado (

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    2.5. SISTEMA DE LENTES

    O objetivo do sistema de lentes do MEV, situado logo abaixo do canho de eltrons, o de demagnificar a imagem do crossover (do~10-50 m no caso das fontes

    termoinicas) para um tamanho final de 1 nm - 1 m ao atingir a amostra. Isto representa

    uma demagnificao da ordem de 10 000 vezes. No caso do sistema de emisso

    eletrostticas, como o tamanho da fonte j pequeno, essa reduo da ordem de 10-100

    vezes.

    Os eltrons podem ser focados pela ao de um campo eletrosttico ou de um campo

    magntico. A primeira focagem dos eltrons dentro do canho e que resultou no

    crossover realizada pela ao de um campo eletrosttico. As demais lentes dentro da

    coluna, na grande maioria dos microscpios, so lentes eletromagnticas. Nos trabalhos

    iniciais de construo do MEV foram utilizadas lentes condensadoras eletrostticas e que

    mais tarde foram substitudas pelas lentes eletromagnticas. Essas lentes so as mais usadas

    pois apresentam menor coeficiente de aberrao. Mesmo com a focagem magntica, as

    lentes eletrnicas so bem menos eficiente do que as lentes de vidro para focar a luz.

    Algumas aberraes que podem ser corrigidas com as lentes de vidro no possvel com aslentes eletrnicas.

    Fazem parte do sistema de lentes trs condensadoras, sendo a ltima chamada de

    objetiva. As duas primeiras condensadoras atuam no sentido de colimar o feixe de eltrons

    primrios o mximo possvel, demagnificando a imagem do crossover, enquanto que a

    objetiva atua no sentido de reduzir aberraes esfricas. Normalmente as lentes

    condensadoras e a objetiva so controladas automtica e simultaneamente.

    A lente eletromagntica consiste num cilindro de ferro com um furo central atravs

    do qual passa o eixo tico eletrnico do microscpio. No interior do cilindro, e envolvendo

    o eixo tico existem muitas bobinas de cobre (Fig. 2.4) atravs da qual circula uma corrente

    quando a lente est em operao. Esta configurao cria um campo magntico homogneo

    no centro do cilindro com o campo magntico na direo norte - sul.

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    Figura 2.4.Diagrama esquemtico de uma lente eletromagntica [3].

    Na parte central da lente existe uma fenda no cilindro de Fe (Fig. 2.4) de tal modo a

    modificar o campo magntico e desviar os eltrons do feixe que se encontram fora do eixo

    tico. O grau de deflexo dos eltrons com mesma energia ser maior para aqueles que se

    encontram mais distante do eixo tico.

    A deflexo do feixe de eltrons ir depender tambm da energia dos eltrons do

    feixe e da intensidade do campo magntico. Quanto menor a energia dos eltrons, maior

    ser a deflexo do feixe e quanto maior a intensidade da corrente nas bobinas de cobre,

    mais intenso ser o campo magntico e maior ser a deflexo do feixe de eltrons.

    O campo magntico dentro da fenda tem duas componentes: uma ao longo da

    direo do eixo tico e outra perpendicular ao mesmo. Esta ultima que causa o

    movimento em espiral dos eltrons a medida que os mesmos atravessam a coluna. Quanto

    mais intenso for o campo magntico, mais intenso ser este movimento. este efeito em

    espiral do movimento dos eltrons que causa a rotao da imagem quando a corrente na

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    lente final alterada, por exemplo, quando se refoca a amostra que tenha sido mudada para

    uma diferente altura.

    Quando se altera a altura da amostra em anlise, ou seja, quando se desloca o eixo

    Z, a superfcie da amostra perde foco. Esse movimento altera a distncia de trabalho

    (working distance - WD), que a distncia entre a superfcie da amostra e a parte inferior

    da lente objetiva. Neste caso a focagem feita ajustando a corrente na lente objetiva, para

    obter a distncia focal correta para a mostra em anlise.

    A distncia focal f diminui com o aumento da corrente nas bobinas, tornando a

    lente mais intensa. A distncia focal tambm dependente da voltagem de acelerao do

    feixe eletrnico, pois a velocidade dos eltrons aumenta com o aumento da voltagem do

    feixe (alto KV). Todos os microscpios modernos automaticamente variam a corrente das

    lentes em funo do aumento da voltagem do feixe compensando assim a mudana na

    distncia focal.

    Lentes Condensadoras

    A maioria dos microscpios equipado com duas lentes condensadoras, cuja

    funo demagnificar o feixe eletrnico. Conforme descrito anteriormente, quanto maior a

    corrente que flui pelas condensadoras, menor o tamanho final do feixe eletrnico e

    consequentemente menor a corrente do feixe que atinge a amostra. As condensadoras so

    normalmente refrigeradas ao ar, pois so lentes mais fracas e o calor por elas gerado devido

    a passagem de corrente facilmente dissipado.

    Lente Objetiva

    A ltima lente da coluna a objetiva, cujo principal papel focar a imagem variando a

    distncia focal do feixe eletrnico ao longo do eixo tico (eixo Z) da coluna. Como a lente

    objetiva a lente mais potente do MEV, com uma intensa corrente fluindo atravs de suas

    bobinas, ela normalmente precisa ser refrigerada. Esta lente normalmente contm as

    bobinas defletoras, as bobinas de correo do astigmatismo e a abertura final.

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    2.6. DEMAGNIFICAO DO FEIXE ELETRNICO

    A demagnificao de um feixe eletrnico similar a demagnificao de um feixe deluz. A equao que descreve a distncia focal a mesma que a usada na tica:

    1/f = 1/p + 1/q (2.3)

    onde p a distncia do objeto ao centro da lente e q a distncia do centro da lente a

    imagem, conforme mostrado na Fig. 2.5. Observe que a distncia focal a distncia do

    centro da lente at um ponto onde um raio paralelo ao eixo cruza o eixo pela ao da lente.

    Figura 2.5. Esquema da trajetria do raio para determinao def.

    A Fig. 2.6. mostra o esquema de controle dos parmetros do microscpio para o

    caso de um MEV com duas lentes. claro que os desvios do feixe causado pelas lentes

    esto mostrados de maneira exagerada, o ngulo tpico da ordem de 0,001 a 0,02

    radianos (0,05 - 1o). O crossover do canho eletrnico, de dimetro do e ngulo de

    divergncia o, ao atravessar a primeira condensadora reduzido para um dimetro d1com

    um aumento do ngulo de divergncia para 1. Nos microscpios de varredura antes da

    primeira condensadora existe uma abertura cujo papel bloquear os eltrons que saem do

    crossover muito espalhados (com grande o).

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    (a) (b)

    Figura 2.6.tica geomtrica da demagnificao do feixe eletrnico para uma coluna com

    duas lentes: uma condensadora e uma objetiva. Em (a) com pequena distncia de trabalho e

    em (b) com grande distncia de trabalho [1].

    Observa-se na Fig. 2.6 que a distncia p1 do crossover at a depresso central dalente constante, enquanto que a distncia q1entre a lente condensadora e o prximo ponto

    de entrecruzamento do feixe varivel variando a corrente na lente condensadora. A

    medida que a corrente nas bobinas da lente aumenta a distncia focal f1 diminui. Como

    visto anteriormente, tambm a medida que a corrente nas bobinas da lente aumenta a

    demagnificao do feixe ser maior, reduzindo o tamanho do dimetro do feixe d 1 e

    aumentando o ngulo de divergncia 1dos eltrons no ponto de entrecruzamento abaixo

    da lente condensadora.

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    Efeito do tamanho da abertura final

    A abertura final, com dimetro de 50 a 300 m, colocada na ltima lente(objetiva), conforme pode ser visto na Fig. 2.6.a. Esta abertura diminui o ngulo de

    divergncia 1dos eltrons da condensadora para um ngulo odos eltrons que entram na

    objetiva. O ngulo final de divergncia 2 do feixe eletrnico que ir determinar a

    profundidade de foco e que est relacionado com o tamanho da abertura final. Pequenos

    ngulos 2causam maior profundidade de foco.

    Efeito da distncia de trabalho

    A lente objetiva pode focar o feixe final em diferentes alturas, conforme pode ser

    visto na Fig. 2.6. Em ambos os esquemas da Fig. 2.6 a intensidade das lentes

    condensadoras igual, causando uma mesma reduo do feixe. O tamanho das aberturas

    tambm igual, de tal maneira que a o mesmo, em ambos os casos. Para que o feixe

    final possa ser focado a uma distncia maior da objetiva, aumentando a distncia de

    trabalho, a corrente na lente objetiva deve ser diminuda, aumentando a distncia focalf2da

    lente. O ngulo de convergncia 2, neste caso, diminui e como conseqncia tem-se umaumento na profundidade de foco.

    Observando a Fig. 2.6 fica fcil de entender o que ocorre quando uma distncia de

    trabalho selecionada fixando a corrente na objetiva e se move a amostra verticalmente ao

    longo do eixo z at que a amostra alcance o foco.

    2.7. ABERRAES DAS LENTES

    Como resultado da deflexo no ideal da lente magntica, erros ticos na formao

    do feixe so introduzidos. Esses erros so conhecidos como aberraes e causam uma

    defasagem dos raios eletrnicos no foco. Como resultado a imagem fica desfocada. As

    trs principais aberraes das lente eletromagnticas so: astigmatismo, aberrao esfrica

    e aberrao cromtica.

    Astigmatismo

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    Resultado do campo magntico no simtrico de maneira que a lente atua de

    maneira diferente nas diferentes direes do feixe eletrnico. Esta no simetria do campo

    resultado da no homogeneidade do material usado na lente, assimetria das bobinas,mnima sujeira na abertura, carregamento das regies vizinhas ao eixo tico ou mesmo do

    prprio carregamento da amostra. Por exemplo, se devido a esta no simetria a lente

    apresentar uma forma elptica ao invs de circular, dois eltrons que divergem de um

    mesmo ponto sero focados em pontos diferentes, como duas linhas separadas ao invs de

    um ponto, Fig. 2.7. O astigmatismo causa um alargamento final do feixe para um tamanho

    da, mesmo que a lente esteja livre de todas as outras aberraes.

    Figura 2.7. Diagrama esquemtico mostrando a origem do astigmatismo [3].

    O astigmatismo fica evidenciado para aumentos relativamente grandes, da ordem de

    10.000 x ou maior. O efeito do astigmatismo detectado quando ao se focar a imagem e a

    mesma for levemente desfocada acima ou abaixo da distncia focal correta, a imagem fica

    esticada em direes perpendiculares. Esse estiramento da imagem desaparece no ponto

    correto do foco, mas a imagem fica nublada, como se continuasse desfocada. A correo do

    astigmatismo feita pelo uso de oito bobinas, divididas em dois grupos de quatro. A

    aplicao de um leve campo magntico suplementar, na direo correta, fazem a lente

    aparecer simtrica em relao ao feixe eletrnico. Na Fig. 2.7 observa-se que um ponto ao

    ser focado aparece como duas linhas na imagem e que ao se corrigir o astigmatismo com o

    uso das bobinas, as duas linhas so foradas para um mesmo foco de tamanho do. Se os

    parmetros do MEV estirem corretos e no for possvel corrigir o astigmatismo da imagem,

    necessrio ento limpar as aberturas e/ou o tubo da coluna e alinhar a coluna.

    Aberrao Esfrica

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    A aberrao esfrica ocorre quando a trajetria dos eltrons que esto mais

    distantes do centro do eixo tico muito mais defletida pelo campo magntico do que a

    trajetria dos eltrons prximos ao centro, Fig. 2.8.a. Neste caso, a deflexo do feixeeletrnico ir originar vrios focos cuja posio depende da distncia do centro do eixo

    tico. A menor imagem do ponto P ocorre I e I e conhecida como disco esfrico de

    mnima distoro.

    (a) (b)

    Figura 2.8. Diagrama esquemtico mostrando aberrao esfrica (a) e cromtica (b) [2].

    A aberrao esfrica do feixe eletrnico no pode ser removida como no caso da

    tica pela combinao de uma lente positiva e uma negativa. No caso do feixe de eltrons a

    nica maneira diminuir a divergncia do feixe pelo uso de uma abertura menor na

    objetiva. Infelizmente isto ir causar uma diminuio na corrente do feixe.

    Aberrao Cromtica

    A aberrao esfrica ocorre como resultado da variao de energia dos eltrons dofeixe primrio. A deflexo da trajetria dos eltrons depende no somente da sua posio

    mas tambm da sua energia. Desta maneira eltrons que estejam posicionados a uma

    mesma distncia do centro do eixo eletrnico, sero focados em pontos diferentes

    dependendo dos valores de suas energias.

    A Fig. 2.8 mostra que para dois eltrons de mesma trajetria PB mas com diferentes

    energias, por exemplo Eo e Eo - E, os mesmos sero focados em diferentes pontos no

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    plano da imagem (respectivamente Q e Q). Esta aberrao faz com que a imagem do ponto

    P seja aumentada para 2QQ. A menor imagem do ponto P o disco esfrico d C.

    2.8. VARREDURA DO FEIXE DE ELTRONS

    Nas sees anteriores foi visto a formao do crossover pelo canho eletrnico e a

    demagnificao e focagem do feixe de eltrons na superfcie da amostra. O resultado a

    incidncia sobre a amostra de um feixe estacionrio. Este feixe ento defletido sobre a

    amostra por um par de bobinas eletromagnticas situadas numa depresso dentro da

    objetiva, acima da abertura final. O feixe defletido sobre a amostra na direo x e y,

    conforme pode ser visto na Fig. 2.9.

    A varredura do feixe de eltrons pelas bobinas defletoras tambm acompanhado

    pela deflexo de sua imagem no video. O aumento da varredura da imagem

    simplesmente a relao entre o tamanho da imagem no video pelo tamanho da rea varrida

    na amostra. Como o tamanho da imagem do video no varia, as bobinas de deflexo que

    sero as responsveis pelo aumento da amostra. Quanto maior o aumento, menor a regio

    varrida e menor a deflexo do feixe.

    muito importante do fato de se poder variar o aumento da imagem somente

    variando a rea varrida sem ter que modificar outros parmetros do MEV. Uma

    consequencia a possibilidade do operador selecionar um aumento maior do que o

    desejado para a imagem, podendo ento focar adequadamente o feixe na amostra e com

    isso obter uma correta focagem.

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    Figura 2.9.Esquema da varredura do feixe de eltrons [3].

    Conforme pode ser observado na Fig. 2.9, o tamanho do feixe considerado ideal,

    para um determinado aumento, aquele cujas bordas do feixe tocam levemente a linha

    anteriormente varrida. Se o dimetro do feixe muito grande, ocorre uma sobreposio das

    linhas varridas e o resultado uma imagem fora de foco.

    A outra situao quando o dimetro do feixe muito pequeno. Neste caso ao reduzir

    o dimetro do feixe pelo ajuste da corrente nas lentes condensadoras, conforme visto

    anteriormente, o nmero de eltrons no feixe, e, consequentemente, o nmero de eltrons queiro interagir com a amostra tambm reduzido. Isto significa que para obter o mesmo brilho

    na imagem, como seria com o feixe ideal, o sinal reduzido precisa ser amplificado, resultando

    em aumento de rudo eletrnico. Outra conseqncia do tamanho do feixe muito pequeno que

    algumas reas da amostra, onde as bordas do feixe no se encontram no sero varridas pelo

    feixe de eltrons.

    Quando a voltagem de acelerao do feixe primrio diminuda, o circuito eletrnico

    automaticamene compensa a corrente das lentes de tal maneira a acomodar esses eltrons

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    menos energticos e manter as mesmas condies de demagnificao do feixe e de foco como

    as que se tinha para elevada voltagem. Entretanto esse eltrons menos energticos so mais

    sujeitos a aberraes ticas (aberraes cromticas) e mais sensveis a pequenas variaes docampo magntico.

    Resumindo; as correntes nas lentes condensadoras, o material da amostra e a voltagem

    aplicada influenciam efetivamente no tamanho do dimetro do feixe selecionado. De tal

    maneira que o procedimento mais correto para selecionar o dimetro ideal do feixe para uma

    determinada condio atravs da experincia. Isto normalmente feito selecionando o

    aumento que se deseja da imagem e gradualmente ir reduzindo o dimetro do feixe at que

    depois de ajustado a correo do astigmatismo e refocada novamente obtida uma imagembem ntida.

    Como visto anteriormente, a quantidade de rudo eletrnico ir aumentar a medida que

    se reduz o tamanho do feixe. Este rudo pode ser eletronicamente retirado da imagem ao

    selecionar uma varredura mais lenta. Geralmente quanto menor a velocidade de varredura,

    maior ser a reduo do rudo eletrnico.

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    CAPTULO TRS

    FORMAO, PROCESSAMENTO EINTERPRETAO DA IMAGEM

    3.1. INTRODUO

    A versatilidade da microscopia eletrnica de varredura e da microanlise se encontra

    na possibilidade de se poder captar e medir as diversas radiaes provenientes das

    interaes eltron-amostra. Estas interaes podem revelar informaes da natureza da

    amostra incluindo composio, topografia, potencial eletrosttico, campo magntico local

    e outras propriedades da amostra.

    Para que o analista possa entender e fazer uso das ricas informaes provenientes

    destas radiaes na forma de imagem ou da microanlise, necessrio que o mesmo

    entenda os fenmenos fiscos que ocorrem nestas interaes.

    Neste captulo sero apresentadas as noes bsicas das complexas interaeseltron-amostra com a finalidade de fornecer as informaes necessrias para a

    interpretao das imagens fornecidas pelo MEV. muito importante observar que apesar

    do grande controle dos parmetros do feixe eletrnico antes de atingir a amostra, assim que

    os eltrons penetram na mesma, o processo de espalhamento que ir controlar as

    informaes obtidas. Por isso muito importante saber qual o volume da amostra em que

    ocorrem estas interaes.

    3.2. INTERAES ELTRONS-AMOSTRA

    O eltron do feixe eletrnico ao atingir a superfcie da amostra ir interagir com os

    tomos da amostra. Como conseqncia da presena do potencial atmico e nuclear da

    amostra este eltron sofrer modificao na sua velocidade inicial. Esta variao da

    velocidade pode ser somente na direo ou pode ocorrer tanto na direo quanto no mdulo

    (magnitude). As interaes nas quais ocorre a mudana na trajetria do eltron, sem que

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    ocorra variao na sua energia cintica so ditas interaes elsticas. Aquelas em que h

    transferncia de energia do eltron primrio (ep) para os tomos da amostra so chamadas

    de interaes inelsticas.

    Se o eltron penetra no tomo de maneira a alcanar o ncleo, o potencial

    columbiano do ncleo carregado positivamente ir influenciar na velocidade do eletron.

    Classicamente, este mecanismo de interao conhecido como espalhamento Rutheford e o

    desvio do eltron da sua trajetria inicial pode ser calculado com boa preciso. A fora que

    atua sobre o eltron ao se aproximar do ncleo a fora de Coulomb, portanto diretamente

    proporcional a carga do ncleo, ou seja, ao numero atmico Z. importante observar que o

    movimento do ncleo muito pouco afetado pelo movimento do eltron devido a suagrande massa, cerca de 1830 vezes a massa do eltron. Na interao entre o eltron e o

    ncleo existe conservao do momento e energia, sendo portanto uma interao do tipo

    elstica.

    Entretanto, para uma correta interpretao e necessrio tambm levar em conta a

    presena dos eltrons do prprio tomo. O eltron do feixe ao penetrar no tomo ir

    interagir tambm com os eltrons ao redor do tomo resultando principalmente em

    espalhamento inelstico do eltron e transferncia de energia para o tomo. Como resultado

    destas interaes, eltrons das vrias camadas do tomo podero ser liberados e\ou

    excitados. A maioria dos eltrons das camadas externas do tomo sofrem este tipo de

    interaes inelsticas pois estes eltrons requerem pouca energia para serem removidos.

    Estes eltrons iro se mover pelo material e tambm podero sofrer interaes inelsticas.

    Alem disso, o tomo excitado, aquele do qual foi retirado um eltron, poder captar um

    eltron que esteja se movendo na amostra, resultante de outras excitaes ou eltrons

    provenientes do aterramento da amostra. Estes eltrons so eltrons pouco energticos esomente aqueles que se encontram muito prximos da superfcie e que possuem energia

    suficiente para ultrapassar a barreira superficial que conseguem escapar do material.

    A profundidade de penetrao dos eltrons depende da composio do material a

    qual influencia tanto o espalhamento elstico quanto o inelstico. Em particular o

    espalhamento inelstico, que causa a reduo da velocidade, mais intenso para materiais

    com elevado Z do que para materiais com baixo Z. Isso significa que apesar do

    espalhamento elstico aumentar para materiais com elevado Z, a profundidade de

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    penetrao menor do que para baixo nmero atmico. Com base em modelos de

    probabilidade de ocorrncia de espalhamentos elsticos e inelsticos, foi criada a simulao

    de Monte-Carlo, onde so definidos os ngulos de espalhamento e transferncia de energia[1-4]. Atravs desta simulao as direes aleatrias dos eltrons no interior da amostra so

    calculadas e estatisticamente os caminhos mais provveis obtidos, resultando numa boa

    aproximao do volume de interaes. Alguns desses tipos de simulao so mostrados na

    Fig. 3.1 para o C, Fe, Ag e Au.

    (a) (b)

    (c) (d)

    Figura 3.1. Simulao de Monte-Carlo para o volume de interao de amostra de Carbono

    (a), Ferro (b), Prata (c) e Ouro (d) com o feixe de eltrons primrios de 20 KeV [3].

    Analisando os aumentos destas figuras, observa-se que existe uma grande influncia

    no valor de Z do material com o volume de interao. Neste caso, onde a energia do feixe

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    de eltrons primrios de 20 KeV, a profundidade de penetrao para o caso do carbono

    de 3 m e para a prata de 0,7 m.

    Figura 3.2.Simulao de Monte Carlo do espalhamento dos eltrons no ferro usando

    diferentes energias no feixe de eltron primrio [3].

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    A influncia da energia inicial do feixe de eltrons primrios pode ser observada na

    Fig.3.2 para o caso do ferro. Como pode ser visto nestas figuras a profundidade de

    penetrao aumenta com o aumento da energia do feixe primrio. Um bom conhecimentoacerca da regio de interao muito importante quando se trabalha com materiais no

    homogneos, como o caso de camadas, filmes finos, incluses em metais.

    A forma do volume de interao tambm influenciada pela estrutura interna do

    material. Por exemplo, num material com estrutura cristalina, os eltrons penetram por

    determinados canais preferenciais, sem muita perda de sua energia interna. Se a direo

    destes canais for a mesma dos eltrons primrios, haver um aumento na profundidade de

    penetrao.

    3.3. ORIGEM DOS SINAIS

    Como foi discutido na seo anterior, o eltron perde energia no seu caminho

    atravs do material. Esta energia ento liberada da amostra de diferentes formas,

    dependendo do tipo de interao entre o eltron primrio e os tomos da amostra.

    Como resultado das interaes elsticas e inelsticas o eltron pode se tornar um

    eltron retroespalhado (ERE), com energia mxima igual a energia do eltron primrio

    (neste caso ocorreu somente uma nica coliso). Tem-se tambm a ocorrncia de

    ionizao, com a produo de eltrons em todo o volume de interao. Os eltrons

    produzidos deixam o material com uma energia mdia de 2 a 5 eV. Esses eltrons so

    chamados de eltrons secundrios e so provenientes de uma regio de muito poucaprofundidade, cerca de 1 nm para os metais e 10 nm para o carbono. importante observar

    que os eltrons retroespalhados produzidos em regies mais profundas na amostra, tambm

    tm energia suficiente para originar eltrons secundrios quando esto voltando para a

    superfcie. Isto significa que os eltrons secundrios (ES) podem tambm ser gerados fora

    do volume de interao do eltron primrio. Esta produo de eltrons secundrios pode

    inclusive ocorrer fora da amostra. Por exemplo, quando um eltron retroespalhado (ERE)

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    atinge a parede da cmara da amostra ou a parte inferior da coluna. Estes efeitos esto

    representados esquematicamente na Fig. 3.3.

    O resultado da ionizao do tomo pela interao do eltron primrio, a presena

    do vazio numa das camadas. Uma das maneiras do tomo perder o excesso de energia

    atravs da sua transferncia para um eltron de outra camada, resultando na formao de

    um eltron com energia caracterstica do material. Estes eltrons possuem energia mxima

    de cerca de 2 keV e so chamados de eltrons Auger.

    Figura 3.3. Esquema da produo dos eltrons secundrios e retroespalhados [3].

    O espectro de todos os eltrons provenientes da amostra quando a mesma irradiada por um feixe com energia EP mostrado na Fig. 3.4. Os eltrons secundrios

    possuem energia inferior a 50 eV e os eltrons retroespalhados energia superior a esta.

    O elevado pico em torno dos eltrons primrios devido ao espalhamento

    Rutherford e este processo aumenta com o aumento do nmero atmico Z. Portanto, os

    eltrons retroespalhados emitidos pela amostra refletem o valor mdio de Z do material:

    este o mais importante mecanismo de contraste dos ERE e que ser visto na seo 3.4.

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    Figura 3.4.Espectro dos eltrons que deixam a amostra [3].

    Uma outra maneira do tomo preencher a vacncia em uma de suas camadas

    atravs da captura de um eltron de uma camada de maior energia. Este eltron salta para

    uma camada de menor energia e a diferena na energia emitida na forma de um quantum

    de raio-X. Como os nveis de energia de um tomo so fixos, e como as transies

    permitidas de uma camada para outra so estabelecidas pelas leis da mecnica quntica, a

    energia dos raio-X caracterstica de cada tomo.

    Os raios-X so produzidos em qualquer regio pelos eltrons primrios e tm

    suficiente energia para remover um eltron de uma camada interna de outro tomo. No seu

    trajeto em direo a superfcie o quanta de raio-X pode ser capturado por um outro tomo,

    e que por sua vez pode originar um outro raio-X, normalmente com menor energia. Este

    fenmeno conhecido como fluorescncia, influenciando na posio na qual os raios-X so

    emitidos e diminuindo tambm a quantidade de raios-X que seriam originalmente

    produzidos.

    Se um eltron do feixe primrio interage com o ncleo, de maneira que o mesmo

    retroespalhado, existe uma fora intensa movendo o eltron (partcula carregada). Como

    resultado desta interao uma onda eletromagntica originada durante esta desacelerao.

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    O resultado a gerao de raio-X com energia ou comprimento de onda variando de 0 at o

    valor da radiao caracterstica. Como resultado da emisso de raios-X existem sempre

    cargas se movendo e esta radiao de desacelerao (Bremsstrahlung) conhecida comoraios-X contnuos.

    A energia entregue amostra pelo feixe de eltrons tambm pode ser liberada da

    amostra na forma de luz (ftons). O fton de luz originado em transies eletrnicas de

    baixa energia, isto , transies da banda de conduo para a banda de valncia ou pela

    desexcitao de tomos ou molculas. Neste processo de emisso de luz, que chamado de

    catodoluminescencia, os eltrons da camada externa so envolvidos. A capacidade de um

    material emitir ou no luz como resultado de um bombardeamento eletrnico, ir dependerda sua estrutura e da sua transparncia em relao ao comprimento de onda envolvido.

    Minerais e materiais semicondutores so materiais que apresentam boa luminescncia e

    neste caso a intensidade luminescente depende fortemente do tipo e da concentrao dos

    dopantes [5].

    Se as amostras forem muito finas, os eltrons sero capazes de atravessar o material,

    emergindo com energia inferior e com um leve desvio em relao a direo do feixe

    incidente (difrao). Esses eltrons que emergem da amostra com trajetria dependente da

    difrao sofrida e com energia que traz informaes da amostra, so analisados pela

    Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET).

    No caso da Microscopia Eletrnica de Varredura as amostras so espessas o

    suficiente para se assumir que o feixe eletrnico totalmente desacelerado na amostra. A

    quantidade de eltrons secundrios que deixam a amostra iES est relacionado com o

    nmero total de eltrons que chegam na amostra (eltrons primrios iEP) pelo coeficiente de

    emisso de emisso de eltrons secundrios :

    = i iES EP (3.1)

    Da mesma maneira para os eltrons retroespalhados (ERE)

    = i iERE EP (3.2)

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    De tal maneira que o nmero total de eltrons que deixa a amostra dado por:

    i i iES ERE EP EPi+ = + = . .

    i

    (3.3)

    Se = 1 no ocorrer o carregamento da amostra pois para cada eltron que atinge a

    amostra um eltron deixar a mesma. Os valores de e dependem da alta tenso

    (voltagem do feixe) selecionada e do tipo de material, isto , do valor de Z da amostra. Se

    1 existe um fluxo de eltrons deixando ou penetrando na amostra. Na MEV o

    carregamento da amostra compensado pelo aterramento da amostra. Esta corrente de

    compensao chamada de corrente da amostra (CA). O balano da corrente dado entopor:

    i i iEP ES ERE CA= + +( ) (3.4)

    ou

    i iCA EP= ( )1 (3.5)

    Um esquema destas correntes de compensao mostrado na Fig. 3.5.

    Figura 3.5.Balano da corrente total em uma espcie irradiada por um feixe de eltrons.

    Como (iES + iERE) pode ser igual ou maior que iEP a corrente da amostra pode ser

    positiva ou negativa, dependendo do valor de . A varredura do feixe de eltrons resulta

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    numa dependncia da corrente com o tempo (iES+ iERE) e como iEP constante, a variao

    de iCAso complementares as de iES+ iERE. Portanto a imagem feita com o sinal de CA o

    complemento do sinal de ES + ERE.

    No caso de iCAfor forada a ser zero, ou por ter desconectado a amostra ou por ser

    uma amostra no condutora, existir um fluxo de cargas para dentro ou para fora da

    amostra. Como resultado ocorrer um acmulo de cargas positivas ou negativas com um

    efeito negativo sobre a imagem da amostra. Por esta razo uma camada condutora, isto ,

    um metal depositado sobre a superfcie da amostra, conforme ser visto na prxima

    seo.

    3.4. IMAGEM POR ELTRONS SECUNDRIOS

    Eltrons secundrios (ES) so eltrons que so ejetados de tomos da amostra

    devido a interaes inelsticas dos eltrons energticos do feixe primrio com eltrons

    pouco energticos da banda de conduo nos metais ou de valncia nos semicondutores e

    isolantes. Por definio os eltrons que so emitidos da amostra com energia inferior a 50

    eV so chamados de eltrons secundrios. Portanto, os eltrons secundrios so definidos

    somente com base na sua energia cintica. Dentro desta faixa de energia claro que sempre

    existir alguns eltrons retroespalhados que perderam quase toda a sua energia, mas como a

    sua contribuio muito pequena eles podem ser efetivamente ignorados.

    De todos os sinais que podem ser usados para anlise de amostras no MEV o sinal

    de eltrons secundrios o mais usado e por isso nesta seo sero discutidas as principaiscaractersticas deste tipo de sinal.

    3.4.1. Distribuio de energia

    Devido a grande diferena entre a energia dos eltrons primrios (eltrons do feixe

    eletrnico) e a dos eltrons da amostra, somente uma pequena quantidade de energia

    cintica pode ser transferida para os eltrons secundrios. Enquanto que para os eltrons

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    secundrios com energia de at metade da energia dos eltrons primrios, o nmero desses

    eltrons rpidos muito pequeno quando comparado com os eltrons secundrios pouco

    energticos.

    A grande maioria dos eltrons secundrios possuem energia entre 2 e 5 eV, sendo

    que cerca de 90% dos eltrons secundrios emitidos pela amostra possuem energia inferior

    a 10 eV. A posio exata do pico varia para os diferentes materiais. Para o detector mais

    usado a posio exata do pico no afeta o sinal coletado, como ser visto mais adiante.

    3.4.2. Dependncia dos ES com a composio da amostra e a energia dos ep

    O coeficiente de emisso dos eltrons secundrios praticamente insensvel com a

    variao do Z dos elementos, mas aumenta com a diminuio da energia do feixe

    incidente, conforme pode ser visto na tabela 3.1 para o caso do Al e Au. Este

    comportamento ocorre porque os eltrons secundrios escapam da amostra de uma regio

    muito superficial, na ordem de nm, de tal maneira que todos os eltrons originados em

    regies mais profundas so perdidos na amostra. Quando a energia do feixe de eP

    reduzida em torno de 3 keV, o mesmo penetra to pouco que uma quantidade muito maior

    de es produzida numa regio bem superficial.

    Tabela 3.1. Coeficiente de emisso dos eltrons secundrios em funo da energia do feixe

    [4].

    Elemento 5 keV 20 keV 50 keV

    Al 0,40 0,10 0,05

    Au 0,70 0,20 0,10

    3.4.3. Profundidade de escape dos eltrons secundrios

    Uma das caractersticas dos eltrons secundrios a sua baixa profundidade de

    escape, resultado direto da baixa energia com que so produzidos. Os eltrons secundrios

    eS so produzidos durante todo o caminho do eltron primrio ep pela amostra, como

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    conseqncia das interaes inelsticas, mas somente aqueles que se encontram prximos a

    superfcie que tem energia suficiente para escapar da amostra.

    Os eS que so produzidos mais para o interior da amostra no seu caminho at a

    superfcie devido ao espalhamento inelstico perdem muita energia. Quando este eltron

    secundrio alcanar a superfcie necessrio que o mesmo possua energia suficiente para

    transpor a barreira de potencial superficial (funo trabalho), que requer energia da ordem

    de alguns eltron-volts.

    Como conseqncia desta forte atenuao dos eltrons secundrios devido ao

    espalhamento inelstico, a probabilidade de escape diminui exponencialmente com a

    profundidade:

    pz

    ~ esp

    (3.6)

    onde p a probabilidade de escape, z a profundidade onde foi gerado o eltron secundrio

    e o caminho livre mdio do eltron secundrio.

    Portanto, as interaes eltron-amostra produzem eltrons secundrios em todo o

    volume de interao mas somente aqueles que so gerados bem prximos a superfcie que

    escaparo da amostra e iro contribuir para o sinal. Esta profundidade de cerca de 1 nm

    para os metais e 10 nm para os materiais isolantes. O coeficiente de emisso mais baixo

    para os metais, porque a formao de es ocorre principalmente devido as interaes

    inelsticas entre o epe eltrons da camada de conduo, que no caso dos metais so muito

    abundantes, diminuindo ento o livre caminho mdio. No caso dos isolantes a quantidade

    destes eltrons muito reduzida, o que causa um aumento do livre caminho mdio.

    Como foi visto anteriormente, a probabilidade de um eSescapar da amostra diminui

    muito com a profundidade, por exemplo, para um feixe incidente com energia de 10 a 30

    keV, a probabilidade de escape dos eltrons secundrios cerca de 1/100 da do eltrons

    retroespalhados. Isto leva a pensar que os eScontm informaes provenientes somente da

    regio bem superficial da amostra, o que no verdade.

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    Os ES so formados em todo o volume de interao do feixe eletrnico com a

    amostra, mas somente aqueles gerados numa distncia em que possa haver escape que

    traro informaes para o microscopista. Basicamente, os eltrons secundrios so geradospelos eltrons do feixe primrio, a medida que o mesmo vai penetrando na amostra, e

    tambm pelos eltrons retroespalhados quando estes vo deixando a amostra, conforme foi

    visto na Fig. 3.3.

    Esta maneira diferente de gerar os eltrons secundrios faz com que os mesmos

    possam ser classificados em dois tipos conforme se encontra esquematizado na Fig. 3.6.

    ESI - so aqueles gerados quando o epinterage numa regio menor que 5. So

    os eltrons de alta resoluo.

    ESII- A medida que o epse espalha pela amostra ir gerar eSdevido as colises

    inelsticas . Quando este eltron retroespalhado se aproxima da superfcie a uma

    distncia de 5, os eltrons secundrios gerados nesta regio iro escapar da

    amostra na forma de ESII. Os ESII so de baixa resoluo e trazem informaes

    do eltron retroespalhado.

    Figura 3.6. Esquema da formao dos eltrons secundrios [2].

    Quando o feixe de eltrons de baixa energia

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    feixe primrio com energia no crossover igual a E2, onde + = 1, a profundidade de

    escape dos eltrons primrios e dos eltrons secundrios aproximadamente igual. Com a

    diminuio da energia do feixe de primrio tem-se um aumento de (coeficiente deemisso dos eltrons primrios), significando um aumento da frao de energia consumida

    do feixe de eltrons primrios na produo dos eltrons secundrios que iro escapar da

    amostra.

    3.4.4. Resoluo espacial

    Na microscopia eletrnica de varredura sinal que fornece a imagem de maior

    resoluo e a dos eltrons secundrios. Isto resultado da profundidade de onde so

    originados o sinais, ou seja, do volume de interao, discutido na seo anterior. O volume

    de interao pode ser descrito como tendo a forma de uma pra (ou de uma gota), conforme

    pode ser visto na Fig. 3.7.

    Figura 3.7.Volume de interao e origem de alguns sinais [3].

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    Para os sinais provenientes da regio mais superficial da amostra a resoluo

    maior pois o sinal vem de uma rea cuja seo transversal se aproxima do dimetro do

    feixe. Portanto, reduzindo o dimetro do feixe eletrnico, ir resultar num sinal de eltronssecundrios com melhor resoluo (maiores aumentos), considerando que outros fatores

    como a relao sinal/rudo no sejam problemas.

    Conforme visto no captulo anterior, considerando a formao e colimao do feixe

    atravs da coluna tica, para que se possa obter um feixe de eltrons com o mnimo

    dimetro e com brilho, necessrio que se tenha uma elevada voltagem de acelerao do

    feixe primrio, e sob estas condies que as imagens de elevada resoluo so obtidas no

    MEV. Entretanto, como resultado do processo de deteco dos eltrons secundrios, o sinaldetectado contm tambm eltrons retroespalhados que iro influenciar na resoluo

    espacial. Esta influncia ser maior quanto maior for a voltagem do feixe. Sob essas

    circunstncias a reduo do kV , entre 20 - 25 kV, pode ser benfica pois ir diminuir o

    volume de interao.

    3.4.5. Deteco dos eltrons secundrios

    O detetor mais usado na microscopia eletrnica de varredura o detetor do tipo

    Everhart-Thornley (ET). O detetor formado pelo cintilador, tubo de luz e a

    fotomultiplicadora. O detetor isolado eltricamente do resto do microscpio e possui na

    sua frente uma grade com potencial de +300 eV. Os eltrons secundrios, que possuem

    energia inferior a 50 eV, so atrados por esta grade carregada positivamente. Este sistema

    permite coletar com muita eficincia os eltrons secundrios provenientes da amostra, sua

    trajetria sendo inclusive defletida em direo ao detetor, Fig. 3.8.

    Uma pequena frao de eltrons retroespalhados tambm atinge o detetor. Todos os

    eltrons que penetram no detector so acelerados em direo ao cintilador por uma

    voltagem de +10 kV aplicada a um filme de alumnio depositado sobre o cintilador. Esse

    potencial deve ser alto para permitir que os eltrons tenham energia suficiente para

    produzir ftons de luz quando atingirem o cintilador. Esses ftons , atravs de um guia de

    luz, so conduzidos a uma fotomultiplicadora onde so transformados num sinal eltrico.

    Atravs de uma janela tica montada na parede da cmara de amostras permite que a luz

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    gerada pelo cintilador seja captada pela fotomultiplicadora que se encontra fora da cmara.

    Com esta montagem a fotomultiplicadora no precisa estar sob o vcuo do microscpio e

    deixando tambm mais espao livre na cmara para manipulao da amostra e de outrosdetetores. A luz ao atingir a fotomultiplicadora cria um cascata de eltrons gerando um

    sinal que amplificado at 108 vezes. Este sistema permite uma grande amplificao do

    sinal (ES) as custas de muito pouco rudo, desde que o cintilador seja eficiente.

    Figura 3.8. Esquema da captao de ES e ERE pelo detetor Evehart-Thornley, onde FM

    a fotomultiplicadora e TB o tubo de luz [2].

    A polarizao da grade na frente do detetor pode ser alterada continuamente de umvalor mximo de +300 volts, onde os ES so coletados, at aproximadamente -200 volts,

    onde os ES so repelidos totalmente. Neste caso somente os ERE, que so emitidos com

    alta energia, que podero ser captados pelo detetor, j que este potencial praticamente no

    afeta sua trajetria. No entanto, a utilizao desse detector para ERE no produz uma

    imagem com bom contraste porque o sinal recebido muito fraco. Isso est relacionado

    com a trajetria dos ERE e com a posio do detector localizado normalmente na parte

    lateral da cmara, a aproximadamente 90

    o

    com o feixe de EP. Este sinal de ERE sempreestar presente independente da polarizao da grade, mas quando esta for positiva os

    mesmos sero altamente mascarados pela grande quantidade de eltrons secundrios.

    O detector de ES bastante eficiente sem ser obstrutivo e as imagens de ES so

    aparentemente fceis de interpretar. basicamente por esta razo que a imagem de

    eltrons secundrios a mais comumente usada na microscopia eletrnica de varredura.

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    3.4.6. Mecanismos de contraste

    A imagem observada no MEV o resultado da variao de contraste que ocorre

    quando um feixe de eltrons primrios varre a superfcie da amostra em anlise ponto a

    ponto. De maneira geral, as variaes de contraste ponto a ponto ocorrem devido a variao

    do nmero de eltrons que so emitidos da amostra e que atingem o detector. As

    informaes contidas numa imagem s podem ser corretamente interpretadas se o

    mecanismo que originou este contraste for corretamente entendido. Por esta razo, a seguir

    sero explicados os mais importantes mecanismos de contraste associados com as imagens

    de eltrons secundrios.

    Influncia da topografia - contraste de orientao

    Este tipo de contraste mais facilmente entendido analisando uma amostra de

    superfcie rugosa, como a esquematizada na Fig. 3.9. Os eltrons que so emitidos do ponto

    A no sofrem obstruo no seu caminho em direo ao detector, sendo praticamente todos

    captados e de grande contribuio para o sinal. J os eltrons emitidos no ponto B tem seu

    caminho obstrudo em direo ao detector, podendo ser reabsorvido pela amostra. O

    resultado que as regies que esto direcionadas para o detector aparecem mais claras doque aquelas que se encontram escondidas.

    Estas regies que se encontram ocultas ao detector podero estar sendo

    bombardeadas pelos EP e consequentemente emitindo ES. Esses ES podem ser coletados

    pelo detector graas ao campo eltrico aplicado na grade do detector que deforma a

    trajetria do ES. Mas mesmo neste caso a intensidade do sinal diminuda.

    Influncia da inclinao da superfcie

    A intensidade de ES que atingem o detector varia com a inclinao da amostra em

    relao ao feixe de EP. Ao inclinar-se a superfcie da amostra a emisso de ES aumenta

    segundo a relao:

    emisso 1

    cos (3.7)

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    onde o ngulo entre o feixe de EP e a normal a superfcie da amostra. A medida que

    aumenta, a emisso aumenta proporcionalmente. Em outras palavras, o nmero de eltrons

    secundrios gerados por eltron primrio incidente, aumenta a medida que a amostra inclinada, aumentando o contraste.

    Fisicamente o que ocorre que os EP tm um maior nmero de interao prximo a

    superfcie, aumentando assim a probabilidade de aumentar a produo de ES. Pequenas

    rugosidades e detalhes na superfcie podem tornar-se visveis aumentando-se a inclinao

    da amostra. Os ngulos de inclinao mais indicados para os detectores de ES ficam na

    faixa de 30 a 45o.

    Influncia das arestas (bordas)

    Existe um aumento da intensidade do sinal nas bordas de certas amostras. A causa

    deste efeito est ilustrado na Fig. 3.9. Quando o feixe eletrnico atinge a amostra no ponto

    A, somente os ES gerados a poucos nanometros da superfcie que so capazes de escapar

    da amostra e contribuir para o sinal. Quando os eltrons atingem o material na posio B,

    maior quantidade de ES so gerados, porque neste caso os eltrons sairo de uma regio

    maior do volume de interao.

    Figura 3.9. Ilustrao do efeito das bordas na formao do eltrons secundrios [3].

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    O efeito das bordas muito importante sobre o contraste da amostra quando o grau

    de aspereza da amostra da mesma ordem ou menor que o volume de interao. Como o

    volume de interao maior para materiais de baixo nmero atmico, nestas amostras estetipo de contraste muito importante. A reduo na voltagem de acelerao do feixe ir

    produzir um menor volume de interao e consequentemente menor efeito do contraste de

    arestas.

    Contraste de composio

    Dependendo do mecanismo de formao, os eltrons secundrios podem ser

    divididos em 3 tipos: ESI , ESII e ESII. Conforme foi visto na seo 3.4.3 os ESI so

    produzidos diretamente pelos eltrons primrios do feixe quando estes esto penetrando na

    amostra e os do tipo ESIIso resultantes da interao dos eltrons retroespalhados quando

    da sua sada da amostra [2,3].

    Foi mencionado anteriormente que o coeficiente de emisso dos eltrons

    retroespalhados est relacionado com o nmero atmico do material. Como os ES do tipo II

    so gerados pelos eltrons retroespalhados eles tambm iro conter informaes sobre a

    composio qumica da amostra e informaes de uma profundidade associada com estes

    eltrons altamente energticos.

    Somente os ES do tipo I que contm as informaes da superfcie. Nos materiais

    de baixo nmero atmico estes sinais so a maior proporo dos ES total que deixam a

    amostra. A medida que o nmero atmico aumenta a proporo do tipo I para o tipo II cai

    consideravelmente. Por exemplo em amostras de carbono a contribuio do tipo I para o

    sinal de ES de aproximadamente 87% caindo para cerca de 50% no caso do cobre.

    O terceiro tipo de sinal de eltrons secundrios ESIII se origina dos eltrons

    retroespalhados emitidos pela amostra a partir da interao com partes do microscpio, tais

    como a base da lente objetiva e as paredes da cmara. Assim como acontece com os

    eltrons secundrios do tipo II a quantidade do tipo III produzida tambm est diretamente

    relacionada com o coeficiente de emisso dos eltrons retroespalhados, mas neste caso a

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    emisso tambm depende da geometria da cmara e da lente final bem como do material

    usado para a sua construo.

    Contraste de voltagem e carregamento

    Na configurao normal de um Microscpio Eletrnico de Varredura a amostra se

    encontra aterrada e a grade do detector de eltrons secundrios, no modo standard, em

    um potencial positivo em relao ao terra, normalmente 300 volts. Se uma amostra

    condutora for colocada no suporte existir ento um gradiente de potencial entre a grade do

    detector e a superfcie da amostra.

    Como conseqncia deste gradiente, qualquer eltron que deixa a superfcie da

    amostra ser atrado em direo ao coletor pelo gradiente de potencial existente. A

    intensidade desta fora de atrao e, consequentemente a eficincia do coletor em captar os

    eltrons secundrios ser maior para as regies da superfcie que se encontram mais

    prximas ao detector. por isso que para baixos aumentos (M < 50), isto , grande regio

    da amostra, um gradiente de brilho pode ser observado na imagem de eltrons secundrios.

    Este mecanismo de contraste ser alterado caso a amostra apresente regies com

    diferentes potenciais. Por exemplo, uma regio com potencial positivo ir provocar uma

    reduo na fora de atrao exercida pela grade do detector de tal maneira que esta regio

    ir aparecer mais escura na imagem do que as regies que se encontram com potencial zero

    (aterradas). Da mesma maneira, aquelas regies que se encontram com potencial negativo

    iro aparecer mais claras. Este mecanismo de contraste chamado de contraste por

    voltagem e bastante til para a indstria de semicondutores.

    Um outro tipo de contraste por voltagem, e que no caso no bem vindo, o

    fenmeno de carregamento, que nos casos mais amenos pode introduzir artefatos na

    imagem, e nos piores casos pode produzir distores e instabilidade to severas que no

    possvel obter a imagem. O carregamento normalmente ocorre em amostras no condutoras

    e que no foram recobertas por um material condutor. Durante a obteno da imagem

    regies no condutoras da superfcie vo gradualmente acumulando cargas negativas a

    medida que o feixe vai varrendo a superfcie. Esta grande quantidade de cargas negativas

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    ir afetar a eficincia do detector de eltrons primrios produzindo uma regio escura em

    torno destas reas muito carregadas.

    A maneira mais eficiente e mais usada para evitar o carregamento da amostra

    atravs do depsito de uma fina camada de um material condutor (Au, Pd, C). Uma outra

    maneira de obter imagem de amostras pouco condutoras sem que se tenha que recobrir a

    amostra, atravs do uso de baixa voltagem de acelerao no feixe de eltrons primrios.

    Isto se torna possvel porque o coeficiente de emisso dos eltrons secundrios depende da

    voltagem do feixe. Para a maioria dos materiais, o uso de voltagem entre 1 a 3 kV no

    produz carregamento na amostra. Nos microscpios mais antigos no era possvel trabalhar

    com voltagens to baixas, mas com as inovaes introduzidas no canho e na coluna, possvel obter resoluo de at 25 nm em tais condies.

    Atualmente, com o advento do microscpio ambiental cuja cmara no precisa ficar

    sob vcuo, possvel trabalhar com voltagens elevadas sem que ocorra o carregamento da

    amostra. No microscpio ambiental usado um gs na cmara da amostra, normalmente

    vapor dgua, e que se torna ionizado como conseqncia da interao com os eltrons do

    feixe, os eltrons retroespalhado e os eltrons secundrios. Os ions positivos gerados neste

    processo so atrados para as regies da superfcie da amostra onde as cargas se encontram

    acumuladas, anulando o campo local e eliminando o carregamento.

    Outros tipos de contraste, como o cristalogrfico e o magntico, existem, mas sua

    contribuio para o contraste da imagem muito fraca quando comparada com os

    anteriores.

    3.5. IMAGEM POR ELTRONS RETROESPALHADOSO sinal de eltrons retroespalhados resulta de uma seqncia de colises elsticas e

    inelsticas, no qual a mudana de direo suficiente para ejet-lo da amostra. Os eltrons

    retroespalhados produzem um sinal muito importante para a obteno de imagens no MEV.

    As principais caractersticas do sinal de ERE sero discutidas nesta seo.

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    3.5.1. Distribuio de energia

    Os eltrons retroespalhados por definio possuem energia varia entre 50 eV at o

    valor da energia do eltron primrio. Os eltrons retroespalhados com energia prxima a

    dos eltrons primrios so aqueles que sofreram espalhamento elstico e so estes que

    formam a maior parte do sinal de ERE.

    3.5.2. Profundidade de escape

    Conforme mencionado na seo anterior, os eltrons retroespalhados de alta energia

    so aqueles que resultam de uma simples coliso elstica, sendo, portanto, oriundos da

    camada mais superficial da amostra. Logo, se somente os eltrons retroespalhados de alta

    energia forem captados, as informaes de profundidade contidas na imagem sero poucas

    quando comparadas com a profundidade de penetrao de penetrao do feixe.

    3.5.3. Resoluo espacial

    O sinal de ERE resultante das interaes que ocorreram mais para o interior da

    amostra, ERE com baixa energia, so provenientes da regio do volume de interao commaior dimetro do que o dimetro do feixe primrio. Portanto a resoluo da imagem

    gerada por esses eltrons pior do que a resoluo da imagem correspondente dos ES.

    Deixando de lado os parmetros do microscpio (isto , dimetro do feixe, alta

    voltagem), a resoluo tambm ir depender do material da amostra. Quanto maior o Z do

    material, menor o volume de interao, e consequentemente maior a resoluo.

    3.5.4. Deteco dos eltrons retroespalhados

    Basicamente existem dois tipos de detectores de ERE: os de estado slido e os

    base de cintilador. O detector de cintilador tem um princpio de funcionamento semelhante

    aos detectores Evehart-Thornley, isto , consistem de uma tela fluorescente, um tubo de luz

    e uma fotomultiplicadora.

    Para o detectore de estado slido no necessrio o uso da grade coletora pois estes

    eltrons so eltrons de elevada energia. Os detectores de estado slido consistem de uma

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    juno P-N que fica entre a lente final e a amostra, portanto na posio da trajetria dos

    ERE para aumentar a eficincia da coleta. Esses eltrons ao penetrarem no detector, geram

    pares eltron-buraco e gerando um fluxo de corrente, que amplificado e tratado de formaadequada para produzir a imagem.

    3.5.5. Mecanismos de contraste

    O mecnismo de contraste mais importante dos ERE o contraste de composio,

    pois o coeficiente de emisso dos eltrons retroespalhados est diretamente relacionado

    com o nmero atmico.

    Em 1966, Heinrich [3,4] mostrou que o coeficiente aumenta com o nmero

    atmico da amostra bombardeada, conforme pode ser visto na Fig. 3.10. O mesmo no

    acontece com os ES, isto , esta dependncia no ocorre.

    Figura 3.10. Variao do coeficiente de emisso com o nmero atmico[4].