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Detalhe do Arco de Tito Arco triunfal, erigido em comemoração à conquista de Jerusalém (70 dC) pelo imperador Tito Flávio, em 81 dC no Fórum Romano

Arco triunfal, erigido em comemoração à conquista de ... filePalavra de Deus, recitando passagens do Antigo Testamento na sua íntegra. Ou seja, não falou de si mesmo, mas

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Detalhe do Arco de Tito

Arco triunfal, erigido em comemoração à conquista de Jerusalém (70 dC) pelo imperador Tito Flávio, em 81 dC no

Fórum Romano

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Projeto Gráfico e Editoração Márcio Bertachini

Digitação Leontina Lobianco

Capa

Parte de imagem do Arco de Tito, dos arquivos da Wikipédia, com permissão de uso

Bertachini, Márcio – 1967 Composição – 1999-2000

Santo André – São Paulo Categoria: Estudo Bíblico e Doutrinário

[email protected]

ministerioescrito.blogspot.com

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“Não atentando nós nas coisas que se veem,

mas nas que não se veem...” 2 Co 4.18

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Tomai a Soma

O longo documento à frente é composto por

aproximadamente 55.250 palavras, das quais cerca de 27.064 são citações diretas da Bíblia, perfazendo 528 versículos do Velho Testamento e 708 do Novo (total de 1236). Ou seja, o texto que você lerá é composto por cerca de 49% da bendita Palavra de Deus.

Assim, quando você ler o texto a frente, 23% corresponderá ao Velho Testamento, 26% ao Novo Testamento, e 51% às palavras do próprio autor. De uma forma mais simples, cada 100 palavras empregadas no livro, 23 foram retiradas do Velho Testamento em forma de citações bíblicas, 26 do Novo e 51 são o manejo do autor.

A média de citações por página é de 6,25 versículos.

Graficamente, teríamos:

NT26%

VT23%

Autor51%

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A Árvore por seus frutos

Quando alguém se propõe a ensinar, defender ou

doutrinar sobre qualquer assunto bíblico, este deve, obrigatoriamente, estar embasado, escorado, alicerçado sobre a Palavra de Deus.

Temos como exemplo máximo a defesa de Jesus junto a Satanás em sua tentação no deserto. Três vezes tentado, três vezes recorreu única e exclusivamente à Palavra de Deus, recitando passagens do Antigo Testamento na sua íntegra. Ou seja, não falou de si mesmo, mas escorou-se 100% sobre o que “Está escrito”.

Analiso um livro de acordo com a proporção do uso da Palavra de Deus em seu texto. Tomando como base os frutos produzidos pela boa semente de Mateus 13.8, se até 30% do texto escrito corresponder a passagens bíblicas transcritas, considero que o livro está alicerçado de forma minimamente aceitável. Neste caso, vale a observação de João Batista: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). De 31% a 60%, considero-o bem alicerçado. De 61% a 100%, excelente.

1 a 30% aceitável 31 a 60% bom 61 a 100% excelente

Pelo gráfico acima, 51% do livro representa o autor falando; em 49% a Palavra de Deus fala, tornando o livro, quanto à questão do alicerce bíblico – Bom.

Claro está que um documento rico em versículos, por si só, não traduz necessariamente pureza de doutrina, entrando em cena outros parâmetros: Jo 7.16-18.

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Referências

As citações bíblicas foram extraídas da Edição Revista e Corrigida (ERC) da Sociedade Bíblica do Brasil de 1994, salvo menção específica:

ERA (Edição Revista e Atualizada da SBB de 1997);

NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje da SBB de 2000);

SBTB (Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil de 1995).

As citações bíblicas com “duplas” aspas são literais (como em “Persiste em ler” na ERC), enquanto as com aspas ‘simples’ são uma adaptação do texto original (como em ‘persistindo em ler’).

Os textos demarcados por [colchetes] dentro das citações bíblicas são acréscimos do autor para uma melhor compreensão do texto.

Os verbetes enfatizados foram consultados no Dicionário Brasileiro Melhoramentos, 4ª Edição, de 1968.

O texto grego do Novo Testamento examinado foi o da “Trinitarian Bible Society, England, 1987 – H KΑINH ΔIAΘHKH”.

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Índice Remissivo

Prólogo .............................................................................. 13

1 Do Princípio ......................................................... 15 Lógica na Criação.................................................. 24 Revelação.............................................................. 26

Sem forma e vazia ......................................... 27 Trevas............................................................ 28

Abismo .......................................................... 35 Dilúvio .......................................................... 39

Resumo ................................................................. 42

2 Dos Ministérios .................................................... 45 Os 3 Ministérios em Deus...................................... 47 O Pai ..................................................................... 47

O Filho .................................................................. 48 O Espírito .............................................................. 50

Os Primeiros Seres ................................................ 51 Miguel ........................................................... 53

Gabriel........................................................... 54 Lúcifer ........................................................... 56

As Pedras do Peitoral e da Nova Jerusalém............ 57 O Sumo Sacerdote Josué........................................ 58

O Sangue derramado desde, mas conhecido

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antes da fundação do mundo .......................... 63

As exigências de um Reino.................................... 66 O Tabernáculo celeste ........................................... 68

O 1º Objetivo para o Holocausto Celeste ............... 70 O 2º Objetivo para o Holocausto Celeste ............... 74

O 3º Objetivo para o Holocausto Celeste ............... 75

3 Da Queda ............................................................. 77 Absalão e Satanás.................................................. 78

Os 3 Céus .............................................................. 82 A 1ª Grande Desgraça – Devastação do Universo .. 85

A Ordem levítica e sacerdotal ........................ 86 A rebeldia de Israel e sua desolação ............... 88

A 2ª Grande Desgraça – Contaminação celeste ...... 90 A contaminação pelo morto e pelo fluxo ........ 90

A 3ª Grande Desgraça – Um lugar vago no Céu..... 92 O Princípio da Substituição ................................... 93

Davi e Saul .................................................... 93 Israel e a Igreja .............................................. 96

Paulo ou Matias? ......................................... 100 Substituir os anjos ou humilhá-los?.............. 103

A Libertação da Terra no Jubileu ................. 108 O Filho é empossado Sumo Sacerdote.......... 111

Resumo ............................................................... 113

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4 Da Sombra ......................................................... 117 A 4ª Grande Desgraça – Intromissão do Pecado... 119

A Divindade do Anjo do Senhor .......................... 121 As 7 Dispensações............................................... 126

Os gentios e Israel........................................ 129 A sequência da montagem do tabernáculo ........... 134

Sua tripla divisão ......................................... 139 A Arca................................................................. 141

As 4 argolas ................................................. 142 As duas varas............................................... 143

O Véu – O 1º impedimento .......................... 144 O Propiciatório – O 2º impedimento ............ 145

O Maná, a Lei e a Vara florescida ................ 149 Os dois anjos do propiciatório...................... 158

A Mesa com os pães ............................................ 160 O Candelabro ...................................................... 164

Atai a vítima da festa... levai-a!.................... 165 As prescrições da Páscoa ............................. 167

O endurecimento de Israel e seus ramos....... 173 A infeliz escolha de Caifás........................... 176

O Altar do Incenso .............................................. 179 O Sangue e a Nuvem ................................... 183

O Altar do Holocausto ......................................... 187

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Cobre ou Bronze? ........................................ 187

O Dia da Expiação............................................... 191

5 Do Verdadeiro ................................................... 197 A Consagração de Aarão ..................................... 197

O novilho e a gordura .................................. 200 O 1º carneiro................................................ 203

O 2º carneiro................................................ 205 O movimento da oferta ................................ 206

Os predicados e exigências do Ofício Sacerdotal . 210 As Luzes e Perfeições do Cordeiro ...................... 214

Solução para a 4ª Grande Desgraça...................... 216 Solução para a 3ª Grande Desgraça...................... 217

Solução para a 2ª Grande Desgraça...................... 219 Solução para a 1ª Grande Desgraça...................... 221

Bibliografia ........................................................ 227

Leia Mais............................................................ 228

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Prólogo

or muito tempo o homem achou que a Terra era o centro do Universo. E ai de quem dissesse o contrário! Estava arriscado ao martírio se não se retratasse.

Mas com o passar do tempo, à medida que o Teocentrismo (Deus no centro de tudo) dava lugar ao Antropocentrismo (homem no centro), o homem percebeu que seu mundo era apenas um pequeno ponto no Universo. E fixando mais nitidamente e demoradamente seus olhos para dentro de si mesmo, esqueceu-se de seu Criador. Como uma criança, que em tudo depende de seus pais, no momento em que percebeu sua individualidade, e suas capacidades começaram a brotar, achou que seu pai já não era tão importante assim. Já podia tomar suas próprias decisões e sair conquistando o mundo.

Mas por mais atarefado ou distante que o homem esteja, ele sempre se lembra da casa de seu pai. Daí essa necessidade profunda de se encontrar a Verdade suprema, seja através dos muitos dogmas religiosos, sacrifícios de todos os tipos, castigos e penitências, pensamentos e filosofias, que, em última análise, não passam de uma tentativa de retorno ao lar, quando o mundo por si só, e seus atrativos, não respondem às nossas questões mais profundas. Como disse Agostinho: “... porque nos criastes para Vós e a nossa alma vive inquieta, enquanto não descansa em Vós”. ¹

Mas podemos perguntar: Para que Deus nos criou? Por que permitiu nossa queda? Por que resolveu salvar?

P

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E quanto aos anjos que pecaram antes de nós, por que foram imediata e irremediavelmente banidos de Sua presença? Por que Deus fez caso dos homens e não dos anjos?

“Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? (Hb 2.5-6)”.

Convido você, caro leitor e leitora, irmão e irmã em Cristo, a chegarmo-nos ousadamente ao mais interior do véu, caminhando confiantemente por entre os recintos sagrados do santuário celeste, e observar os santos movimentos de seus ministros, antes mesmo da existência humana, na eternidade passada. Pois lá o nosso destino foi traçado, tanto nacional, dispensacional e individualmente, “conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).

Esta história abrangerá tudo e todos, em todo o tempo, pelo menos o tempo de que a Escritura cuida. Desde Deus e o princípio da sua criação, a aventura dos anjos e dos homens, até o final de tudo, que na verdade será o recomeço de tudo, para o retorno ao Seu extenso, sábio e maravilhoso Plano Original.

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1 Do Princípio

No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1).

Há frase mais simples e ao mesmo tempo mais complexa do que esta, apesar de toda nossa fé?

“No princípio” é o princípio de tudo. Quem poderia afirmar com certeza o que houve lá, se nós nem estávamos lá? Mas o que diz a Escritura?

“Toda a escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm 3.16).

“Está escrito”, como disse Jesus várias vezes, para que permaneça fiel para sempre, imutável para sempre, Salvadora para sempre, esclarecedora para sempre, condenadora para sempre. Qual o melhor meio de um sábio preservar sua sabedoria para as gerações futuras? Deus usou nossos próprios recursos para perpetuar o conhecimento de sua Pessoa e de suas obras: a Escrita. Nada mais lógico.

E é por fé nesta Palavra que me atrevo a descortinar o que havia ainda antes deste princípio, quando eu ainda só existia na mente e no plano de Deus.

Há muito se discute sobre “como” e “quando” se deu o princípio de tudo. Basicamente, o mundo se divide entre duas teorias: o criacionismo e o evolucionismo. O evolucionismo seria a visão de que tudo está em evolução, do inferior para o superior, do ocasional para o inteligente, e isto já leva alguns bilhões de anos.

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Só para lembrar que toda escolha tem um preço, ou usando uma ilustração de Jesus quando Ele ensina que “conhecereis a árvore pelos seus frutos”, é interessante notarmos que, conforme citação de Archer em seu excelente livro – “Merece confiança o Antigo Testamento?” –, “o evolucionismo de Darwin tornou-se a filosofia oficial dos principais movimentos ateus do século XX (tais como as formas mais puras do Nazismo e do Socialismo Marxista)... Levou inevitavelmente ao resultado que os conceitos de moral e de religião que se descobrem na raça humana sejam considerados a mera combinação fortuita de moléculas, não representando, portanto, qualquer realidade espiritual”. ¹

Nem vou entrar no mérito da questão, já que não me parece lógico que uma explosão acidental, chamada Big-Bang, desse origem a um Universo com tanta Precisão e Ordem, e que o acaso, sem inteligência alguma, pudesse desenvolver algum ser inteligente.

O Criacionismo, por sua vez, seria a visão de que Deus, um Ser Inteligente e Poderoso, criasse com Ordem e Inteligência tudo o que vemos. Este ponto de vista parece ser mais lógico, refletindo também a nossa própria capacidade. Participaríamos de coisas que Deus não participa? O nosso próprio avanço intelectual, social e tecnológico provém do acaso ou de raciocínio e trabalho? Todo e qualquer trabalho que vamos realizar, por mais simples que seja, necessita antes ser contemplado em nossas mentes, planejado, para depois ser executado. Seria diferente com Deus, guardadas as devidas proporções? Vejamos alguns exemplos práticos desta verdade na Bíblia:

“Pois qual de vós querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois

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de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: este homem começou a edificar e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? Doutra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz”.

Esta comparação usada por Jesus, em Lucas 14.28-32, exemplifica desígnio ou propósito escorado num planejamento minucioso anterior.

Em cada vida humana presenciamos objetivos que são direcionados por planejamento, como no caso de um pequeno agricultor, descrito no Provérbio 24.27: “Prepara fora a tua obra, e apronta-a no campo, e então edifica a tua casa”.

Também o rei Davi, e seu filho Salomão, quando intentaram construir uma casa ao Senhor seu Deus, tiveram invariavelmente que passar pela fase de planejamento e preparativos iniciais, como descrito em 1 Reis 5.17-18: “E mandou o rei que trouxessem pedras grandes e pedras preciosas, pedras lavradas, para fundarem a casa. E as lavravam os edificadores de Hirão e os giblitas: e preparavam a madeira e as pedras para edificar a casa.”

Se nestes poucos exemplos vemos planejamento para se alcançar um alvo esperado sem surpresas, será que Deus se prestaria ao ridículo de, antes de formar tudo o que vemos, não ter planejado detalhadamente cada pequena engrenagem de sua grande Criação?

Ouçamos a resposta pela Sua própria boca. “Desde a antiguidade fundaste a terra: e os céus são

obra das suas mãos” (Sl 102.25).

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Embora Deus não tenha realizado sua grande obra com mãos palpáveis, Ele usa de elementos que nós conhecemos, pois fomos feitos “à sua imagem e semelhança”. No estudo teológico, denomina-se este artifício, o de usar elementos humanos para Deus, de Linguagem Antropomórfica.

“Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes, em toda a extensão da terra, e as suas palavras até ao fim do mundo... Ele fez a terra com o seu poder, e ordenou o mundo com a sua sabedoria, e estendeu os céus com o seu entendimento” (Sl 19.1-2 / Jr 51.15).

Estas passagens declaram a Grandeza e a Inteligência infinitas de Deus, refletidas na grandiosidade e precisão do Universo. Assim como apreciamos a criatividade e habilidade de um Michelangelo ao estontear-nos os seus complexos afrescos e esculturas, não deveríamos apreciar a Majestade de Deus ao observarmos sua maravilhosa criação?

“Lançou os fundamentos da terra, para que não vacile em tempo algum... Quem mediu com o seu punho as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e recolheu numa medida o pó da terra e pesou os montes e os outeiros em balanças? Quem guiou o Espírito do Senhor? E que conselheiro o ensinou?” (Sl 104.5 / Is 40.12).

Os fundamentos foram meticulosamente preparados palmo a palmo, milímetro a milímetro, átomo a átomo, como um engenheiro sabe que, numa construção complexa, um erro no fundamento pode ser a ruína certa. Isto lembra aquela conhecida ilustração em que Jesus compara o homem prudente com o insensato.

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“Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto sobre aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto sobre aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína” (Mt 7.24-27).

Com tudo isto em mente, podemos concluir pela lógica, e atestado pelo testemunho da carta áurea de Deus aos homens, que “no princípio criou Deus os céus e a terra”. Eis aqui o primeiro versículo de Gênesis, em que Deus não faz esforço algum para provar sua existência nem seu ato criativo, pois Ele É, e Ele só, como descrito em Isaías 43.13.

“Ainda antes que houvesse dia, EU SOU”.

Como havia dito anteriormente, os homens basicamente se dividem em dois grupos: os que creem na Criação direta de Deus, e os que creem na evolução do nada para o tudo. Embora também encontremos os que tentam conciliar as duas teorias, tentando agradar a Deus e aos homens. Mas mesmo entre os Criacionistas há muita divergência, o que não é estranho, visto a grandeza e dificuldade do assunto.

Os famosos seis dias da criação, e o sétimo de descanso, sempre foram motivo de especulação entre teólogos e leitores da Escritura. Há os que creem que estes seis dias são dias literais, e os que creem que estes dias representam longos períodos de tempo que coincidiriam com as eras geológicas já tanto estudadas e comprovadas

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cientificamente.

Aqui temos muitos problemas, dos quais vou abordar rapidamente o principal, pois não sou perito quanto à parte científica.

Se todo o Universo foi criado em seis dias, sendo que o homem no sexto, pela cronologia e genealogia oferecidas pela Bíblia o planeta não poderia ter mais que dez ou quinze mil anos, o que não corresponderia com a ciência, que, embora moralmente duvidosa, também não pode ser descartada. Seria hipocrisia de nossa parte recorrer constantemente ao avanço tecnológico, que nos é agradável, e desprezarmos cabalmente a ciência quando nos pareça contrária. Já está mais que comprovado cientificamente pela Geologia e estudos afins que a Terra tem milhões de anos.

Mas há uma outra teoria comumente denominada ‘Teoria do Intervalo’, citada pelo Dr. Oswald Chambers no início do século XIX, antes das primeiras descobertas de fósseis e artefatos do homem pré-histórico, feitas na década de 1850, em que provavelmente entre o primeiro versículo de Gênesis e o segundo versículo haja um incalculável espaço de tempo.

Esta teoria, embora não muito divulgada, tenta responder a questões muito importantes que não são totalmente esclarecidas na Bíblia, ou que são esquecidas propositalmente pela dificuldade de interpretação.

Não vou me ater a todas as possíveis teorias a respeito da criação, pois meu objetivo não é tocar em assuntos há muito debatidos. Além de haver escritores infinitamente bem mais capacitados para isto, mencionarei somente a Teoria do Intervalo, por ser esta, a meu ver, a que responde melhor a algumas velhas questões e que melhor se coaduna

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com o todo da Escritura, dentro de princípios de interpretação citados pela própria Revelação da Palavra de Deus, e que mencionarei ao longo do estudo.

Antes, contudo, vale a pena ressalvar que não é mais importante o conhecimento dessas Teorias que a fé depositada na Palavra de Deus. Menciono o fato porque ao iniciar a minha fé em Cristo e os meus estudos na Bíblia, cria com sinceridade que o Universo todo tivesse sido criado em seis dias. Mas conforme fui me desenvolvendo e aprendendo, percebi que ela não respondia a todas minhas indagações; mas a minha fé ainda repousa no testemunho infalível da Palavra de Deus de que tudo foi criado por intervenção direta de Deus. Porque Jesus mesmo disse: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13:31).

Se tudo foi criado em seis dias, ou seis longos períodos de tempo, com ou sem intervalo, ou algo novo que ainda não alcançamos, o que importa, como disse Paulo, é Cristo, e este crucificado por nossos pecados. Embora a Palavra de Deus não possa desmentir a realidade.

Retornando então ao que foi dito, a Palavra de Deus assevera que “no princípio criou Deus os céus e a terra”. O segundo versículo de Gênesis diz por sua vez que “a terra, porém, era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo. E o Espírito de Deus se movia por sobre as águas”.

Se crermos que aqueles seis dias são o começo absoluto da criação dos céus e da terra, teremos então de admitir que Deus começou sua criação com o seguinte projeto arquitetônico para o planeta: não havia forma, estava vazia, havia trevas e uma “face do abismo” de difícil interpretação. Para ajudar, havia uma como que ‘tsunami’ global.

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Eu havia dito há pouco que me basearia em princípios de Interpretação ditados pela própria Palavra de Deus, e isto também segue uma lógica.

Quando se compra algum produto eletrônico sofisticado, a primeira coisa que vamos fazer é dar uma olhada no Manual de Instruções, já que é o fabricante que tem as melhores condições e o dever de nos ensinar como o produto deve funcionar. Jamais o consumidor deve alterar a forma de funcionamento do produto, ou certamente acabará por danificá-lo.

Encaro a Bíblia da mesma forma. Se ela é a Carta de Deus aos homens, e que fala de assuntos complexos e invariavelmente com propósitos bem acima de nosso cotidiano egoísta, também deve conter o Manual de Instruções para seu perfeito funcionamento, que são os Princípios de Interpretação.

É porque não se segue estes Princípios que vemos uma Igreja dividida em tantas denominações e dogmas, tantas manifestações teológicas incongruentes, tantos egos elevados. Esquece-se de um princípio fundamental ditado por Cristo, quando diz que “toda cidade, ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt 12.25).

Antes, porém, vamos analisar esta questão de forma puramente racional e lógica, e depois com o apoio da Escritura. Vou começar pela lógica por ser este argumento natural a todos nós, independente da Revelação Específica de Deus. Embora a lógica possa ser prejudicada por preconceitos vários, ela se encontra naturalmente em todos nós, ainda que em vários estágios. Deve-se lembrar, porém, que o argumento lógico deve ser encarado como um subsídio de demonstração, mas que jamais deve se sobrepor à Revelação Específica de Deus.

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A Revelação é que deve direcionar, ou mesmo redirecionar, o argumento lógico, para que este cumpra o papel simples de atestar, de concordar, de aceitar a Revelação. Portanto, se a lógica não concordar com a Revelação, é porque ela está deturpada por algum motivo, e deve retornar à sua posição primária em obediência à Revelação.

Para quem acha que não há lugar para raciocínio ou inteligência lógica no culto de adoração a Deus, deveria examinar estas passagens:

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1).

Um Deus racional, inteligente, deve ser adorado à altura.

“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1 Co 14.15).

Aqui se vê a interação entre a espiritualidade e a inteligência. A espiritualidade não deve cegar nosso entendimento, antes, deve alargá-lo, como demonstra Paulo em Efésios 1.17-18.

“... para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos...”

Vemos de novo a união da ‘sabedoria e da revelação, para que saibais’. A revelação deve alargar o conhecimento para enxergarmos o que antes estava muito distante. A

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aceitação, porém, de uma revelação sem base lógica ou racional poder-se-ia dizer que se trata de fanatismo religioso.

Dito isto, podemos começar uma análise lógica e racional para o problema da criação original, passando depois para o testemunho da Palavra de Deus.

Lógica na Criação

Sem o testemunho da Escritura, parece-nos lógico e mesmo razoável crermos em um Deus Onipotente, Onisciente e Onipresente. Não haveria nada que Ele não pudesse fazer, ou então não poderia ter controle sobre todo o Universo. Não haveria nada que Ele não pudesse conhecer, ou então Lhe faltaria sabedoria para agir soberanamente. Não haveria nenhum lugar onde Ele não pudesse estar, ou então este lugar estaria fora de Seu domínio.

Se temos uma noção instintiva e universal de um Deus nestas proporções, como poderíamos admitir que este Deus Maravilhoso e Santo, cheio de Amor, pudesse começar nossa habitação, a Terra, sem forma, vazia, com uma face do abismo em trevas, e encoberta por águas?

Esta visão não parece mais uma construção paralisada por falta de verba ou competência, como estamos acostumados a ver, deixada ao relento e aos roedores em meio ao capim que cresce em seus alicerces?

Parece ilógico coadunar um Deus Criador de Ordem e Propósito com expressões tão negativas como trevas, abismo, dilúvio, vazia. Se isso for possível, teremos de admitir que Deus seja o criador das trevas e do abismo, e

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que o Espírito de Deus pairou sobre este dilúvio inicial ocasionado por Ele mesmo. Qual a razão lógica em começar algo assim, se Ele é o dono de todo o poder?

Ou então, numa segunda hipótese mais coerente, Deus, implicando e escorado em todas as Suas Santas Características e Peculiaridades, formou os céus e a Terra em Caráter perfeito, de forma instantânea e madura.

Então, se pouparmos Deus da criação e promoção direta das trevas, abismo, águas inundantes e ambiente sem forma, há que se considerar a possibilidade de um agente externo oposto e contrário à vontade do Criador, que de alguma forma se intrometesse em Seu plano, por Sua permissão onisciente, contaminando Sua Criação Original, sendo, portanto, o verdadeiro responsável por aquele estado deplorável.

Assim como em nosso mundo físico percebemos e convivemos com forças antagônicas, o bem e o mal, a justiça e a injustiça, provavelmente no ambiente celestial também houvesse algo ou alguém que se opusesse à Perfeição e Santidade de Deus. Podemos perceber este antagonismo, como reflexo, em nosso próprio desenvolvimento físico, ao sermos abalados por agentes externos que não temos controle, como as disfunções orgânicas várias, os agentes bacterianos e a própria morte. Também no campo intelectual, e principalmente no moral, vemos uma oposição brutal, e que provavelmente parte daquele mesmo inimigo que se incita contra Deus desde o princípio da criação. E este ser avesso, em luta aberta e franca contra Deus, além de levar à destruição uma possível ordem universal anterior a esta, tem infectado toda a criação desde o princípio.

A questão então se divide em dois pontos: ou Deus é o criador das trevas, ou as trevas se colocaram entre Deus e

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seu plano original.

Visto que pela lógica não podemos imputar a Deus a criação direta das trevas, no sentido de que Ele pudesse dizer a respeito dela que “era boa”, inundemos de luz o quarto escuro e limitado do raciocínio, observando o que está escrito.

Revelação Se a dificuldade da lógica se encontra nas palavras

trevas, abismo, águas inundantes, sem forma e vazia, então essas mesmas palavras deveriam ser examinadas à luz da Revelação, em suas várias aparições pelo texto bíblico, sempre dentro do seu contexto próprio, pois texto sem contexto é pretexto. Os que estas expressões insinuarem através de suas várias ocorrências, deverão ser transportadas na mesma proporção para sua primeira aparição, “olho por olho, dente por dente”. É o que faremos a seguir.

Seguindo pela ordem do texto Sagrado, vemos no 2º verso de Gênesis:

“E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.

Sem forma e vazia Como já foi notado por grandes teólogos bíblicos, a

expressão sem forma e vazia é a tradução do hebraico tohu wabohu, encontrada em algumas passagens que denotam um estado caótico devido ao julgamento Divino. Em sua

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Bíblia anotada, o Dr. Scofield coloca três textos exemplificando esta expressão. ²

“Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a estabeleceu, não a criou vazia [tohu], mas a formou para que fosse habitada” (Is 45.18).

Se Deus não a fez para ser um caos, subentende-se que este estado não fazia parte de Sua Vontade Original.

“Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião... E ele estenderá sobre ela cordel de confusão e nível de vaidade [tohu... wabohu]” (Is 34.8,11).

Tendo-se o cuidado de ler o contexto, veremos Deus usando esta expressão como consequência de julgamento da nação de Edom, por seus maus tratos a Israel.

“Deveras o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; sábios são para mal fazer, mas para bem fazer nada sabem. Observei a terra, e eis que estava assolada e vazia [tohu wabohu]; e os céus, e não tinham a sua luz” (Jr 4.22-23).

Aqui, o profeta Jeremias antecipa a destruição de Jerusalém por seus muitos pecados, antevendo sua destruição total pelo Império Babilônico em 586 a.C., e muito bem registrado pela história.

Nestes três casos, vemos que a expressão tohu wabohu refere-se a um estado de calamidade advindo de um julgamento prévio por Deus, o que nos leva a deduzir que o estado caótico encontrado logo após a criação dos céus e da terra, também sejam resultado de um julgamento ou castigo Divino.

Apesar desta colocação feita por tão renomadas

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autoridades, talvez para muitos não fale com a devida propriedade, devido à falta de conhecimento da língua hebraica. Mas se Deus não faz acepção de pessoas, como está escrito, temos que encontrar indícios mais convincentes dentro de nossa própria capacidade intelectual, ou seja, dentro de nossa própria língua.

Trevas O segundo relato notável a respeito das trevas

encontra-se em Êxodo 10.21-23, quando Deus castiga a nação do Egito por não querer deixar Israel sair ao deserto. Note que, no entanto, Israel permanecia em luz.

“Então disse o Senhor a Moisés: Estende a tua mão para o céu, e virão trevas sobre a terra do Egito, trevas que se apalpem. E Moisés estendeu a sua mão para o céu, e houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias. Não viu um ao outro, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; mas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações”.

Este mesmo castigo com trevas poderá ser visto pelos rebeldes impenitentes durante a tribulação no reinado próximo do anticristo, aquele a quem eu chamo de ‘o filho primogênito da globalização’.

“E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu reino se fez tenebroso; e eles mordiam as suas línguas de dor” (Ap 16.10).

“... porque o dia do Senhor vem, ele está perto: dia de trevas e tristeza; dia de nuvens e de trevas espessas... O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Jl 2.1-2,31).

“Ai daqueles que desejam o dia do Senhor! Para que

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quereis vós este dia do Senhor? Trevas será e não luz... Não será pois o dia do Senhor trevas e não luz? Não será completa escuridade sem nenhum resplendor?” (Am 5.18,20).

“E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem” (Mt 24.29-30), nas palavras do próprio Senhor Jesus.

Vejamos agora algumas exortações para que o homem deixe o mundo das trevas. Sinta o teor espiritualmente negativo em todas as citações a seguir.

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mt 6.22-23).

“E a condenação é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo 3.19-21).

Aqui, além da diferença gritante entre luz e trevas, percebe-se que luz refere-se a boas obras, enquanto trevas referem-se a obras más.

“Falou-lhes pois Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).

“Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo

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aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12.46).

“A noite é passada e o dia é chegado. Rejeitemos pois as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.12).

“Portanto nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual trará também à luz as coisas ocultas das trevas” (1 Co 4.5).

“Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Co 4.6).

Nesta passagem iluminada, vemos o paralelo perfeito entre as trevas da criação e as trevas do coração. Assim como Cristo nos tirou das trevas do pecado, como visto acima, Deus retirou a terra das trevas do castigo, dizendo: “Haja luz. E houve luz” (Gn 1.3).

“Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: andai como filhos da luz” (Ef 5.8).

“Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.12-13).

“Quem há entre vós que tema a Jeová, e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus” (Is 50.10).

Assim como o homem pecador que não se arrepende permanece nas trevas do conhecimento espiritual, se ele morrer nestas condições receberá as mesmas trevas como castigo.