17

ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

  • Upload
    others

  • View
    5

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita
Page 2: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

ARTIGO PDE-2010

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA O PROFESSOR ITINERANTE DA REEDUCAÇÃO VISUAL

Autor: Marilete Buzetti Milano[1]

Orientador:Percy Nohama[2]

Resumo

A falta de cultura inclusiva nas escolas, a formação deficitária dos professores, a falta de clareza epistemológica que envolve as escolas e os paradigmas conservadores educacionais que persistem são fatores determinantes da não inclusão dos alunos de baixa visão. Na perspectiva emancipadora, o trabalho descrito neste artigo visa a capacitação dos professores que atuam na Reeducação Visual com o Serviço Itinerante, a fim de contribuir para o processo de inclusão e de mudanças sociais, garantindo o acesso e permanência dos alunos com baixa visão nas escolas regulares. Foram capacitados vinte professores do Centro de Reeducação Visual no CRAID, que fazem o Serviço Itinerante dos alunos com baixa visão inclusos na rede regular de ensino pública e privada por meio de dinâmicas de grupos e palestras com profissionais da saúde e educação, em oito encontros semanais de quatro horas cada, culminando com uma avaliação inclusiva sobre as ações propostas. Os professores foram unânimes em afirmar a necessidade dessa capacitação, pois o Serviço Itinerante oportuniza os recursos necessários para a participação escolar plena dos alunos com baixa visão, adicionando à sua prática novas técnicas propostas durante a capacitação. O sucesso escolar do aluno com baixa visão só virá a se tornar realidade por meio de um serviço itinerante realizado com qualidade.

Palavras-chave: Serviço Itinerante; Inclusão; Alunos, Baixa Visão; Professores, Rede Pública.

[1] Pós-Graduação em Educação Especial, Pedagoga, Centro de Reeducação Visual no CRAID

[2] Doutor em Engenharia Elétrica, Professor, UTFPR

Page 3: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

1 Introdução

A sociedade escolar é muito diversificada e ao mesmo tempo trabalhada de

maneira tão homogênea e com docentes despreparados para receber a clientela de

inclusão. Sem preparo e conhecimento específicos, por melhor que seja o método, as

chances de sucesso dos professores são limitadas, e os alunos, sem receber estímulos

para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et

al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999).

O aluno com visão subnormal necessita que o professor que o atende na

Reeducação Visual realize um trabalho itinerante de qualidade junto à escola comum.

Este apoio é garantido ao aluno de inclusão na Deliberação nº 02/03 do Conselho

Estadual de Educação referente à Educação Especial, quanto a sua integração em sala

de aula e no ambiente escolar, propiciando a interação com seus colegas, sua

socialização, resgatando sua auto estima e cidadania.

A escola quase sempre utiliza meio visuais em sua prática. É bom lembrar que o

aluno com baixa visão nunca vê todas as partes de um objeto simultaneamente. Ele o vê

fracionado e precisa reconstruí-lo em seu cérebro para formar um objeto conhecido; por

isso, a importância de mover o objeto ou desenho que lhe oferecemos; colocá-lo em

diferentes posições e lugares, unindo as partes para formar uma imagem (Rocha, 1987).

Os outros sentidos, como a audição, são de grande importância, mas a visão parece ser

dominante para que o aluno consiga realizar qualquer atividade escolar. Neste contexto,

o deficiente visual fracassará, pois não poderá contar com o sentido da visão.

A inclusão educacional só ocorrerá com a transformação da escola, tanto no

aspecto organizacional como no didático-pedagógico, para que o aluno com sua

diversidade possam ter acesso às oportunidades educativas e sociais compatíveis com

suas diferenças pessoais (MITTLER, 2003, apud MAZZARO, 2007).

Uma prática democrática com mais investimentos e uma equipe multidisciplinar nos

meios educacionais serviriam para superar as atitudes de segregação e a negação dos

direitos das pessoas com deficiência, a partir das mudanças propostas pela educação

inclusiva calcada nas leis e pareceres (BREGANTINI, 2001).

No entanto, a Educação Inclusiva depara-se com várias dificuldades,

Page 4: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

principalmente, em relação à aceitação nos meios escolares, pois não existe preparo e

investimento na formação do profissional que atua em sala de aula com esses alunos,

sendo necessário um trabalho que se adapte ou se integre aos sistemas de saúde e

educação já existentes (CARVALHO, 1964).

O professor do Centro de Reeducação Visual que faz o Serviço Itinerante pode

contribuir para minimizar tais dificuldades. A atuação deste profissional na inclusão do

aluno com visão subnormal requer uma formação continuada sobre planejamento

sistematizado do trabalho e estudos sobre a fundamentação histórica cultural (da

segregação à inclusão) e legal da inclusão, aspectos biológicos e principalmente,

aspectos sócio-pedagógicos. Um manual de orientação de atendimento seria útil para

legitimar a inclusão escolar e, consequentemente, a social.

Apenas matricular um aluno com deficiência em uma classe comum, não é

educação inclusiva, sendo necessário integrar na prática pedagógica tanto a

compreensão dos processos gerais de desenvolvimento como as especificidades que a

deficiência visual implica.

Neste artigo, descreve-se e discute-se uma proposta de capacitação dos

professores de reeducação visual, responsáveis pelo serviço itinerante, reduzindo as

lacunas na formação dos docentes, tendo como meta principal oferecer subsídios no

sentido de ampliar o conhecimento dos professores quanto às atitudes cotidianas das

práticas de sala de aula com os alunos com baixa visão, objetivando o processo de

inclusão e sucesso socioeducacional dessas pessoas por intermédio do serviço itinerante.

3. Métodos

A capacitação proposta transcorreu em oito encontros compostos de palestras,

dinâmicas de grupo e a presença de profissionais da saúde e da educação.

Com encontros semanais de quatro horas com vinte professores da reeducação

visual que fazem o trabalho itinerante dos alunos, foram desenvolvidos conteúdos que

englobavam: a história cultural do deficiente e da Reeducação Visual e aspectos

fisiológico, cognitivo e sócio-pedagógico da pessoa com deficiência visual. Também foram

apresentadas as tecnologias assistivas aplicadas que contribuem para a aprendizagem do

aluno com baixa visão, a fim de que os professores da Reeducação Visual ao atuarem no

Serviço Itinerante possam descrever aos professores das escolas regulares onde os

Page 5: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

alunos com baixa visão estão inclusos as tecnologias assistivas necessárias ao acesso

aos conteúdos em igualdade de condições aos demais alunos.

No último encontro, foi aplicada aos professores participantes a avaliação inclusiva

onde puderam constatar avanços para a sua prática profissional.

Os conteúdos abordados e a metodologia empregada são descritos na sequência.

1º Encontro – Apresentação do Tema

O primeiro momento da capacitação constou de esclarecimentos sobre as

propostas e reflexões do tema e a justificativa sobre a escolha dele. Foi estabelecida uma

linha de contato inicial, o preenchimento das fichas de inscrição e freqüência e o

conhecimento das expectativas dos professores participantes.

2º Encontro – Fundamentação histórico-cultural da pessoa com deficiência e pressupostos históricos da Reeducação Visual

Nesse encontro, discorreu-se sobre o deficiente na Antiguidade (extermínio), na

Idade Média (segregação), na idade moderna (institucionalização) e na idade

contemporânea (suporte – inclusão).

Sobre os pressupostos históricos da Reeducação Visual, enfatizou-se a data do

início desse programa no Brasil e as principais pessoas envolvidas nesse trabalho com

suas características peculiares.

Foram citados, ainda, autores como Eleonora Faye, Goldstein, Natália Barraga,

entre outros, que são defensores da utilização da visão funcional independente da

acuidade visual e exercícios que estimulam a visão central e periférica. Mesmo que o

aluno com baixa visão progrida lentamente, o importante é que ele possa estar usando ao

máximo a sua visão residual.

3º Encontro – Legislação sobre a inclusão – Direitos Educacionais

Page 6: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

A Inclusão não se faz apenas com leis, resoluções, decretos ou normas, mas elas

garantem o acesso de oportunidades iguais. No quadro 1, listam-se as principais

regulamentações sobre inclusão.

Quadro 1. Evolução histórica das regulamentações sobre inclusão

Ano Legislação Tema

1948 Declaração Universal dos

Direitos Humanos

Diretrizes para a Educação Especial na

Educação Básica

1989 Constituição do Estado

do Paraná

Garantia de igualdade de condições

para as pessoas com deficiência

1990 Lei nº8069. Estatuto da Criança e do Adolescente.

1996 Lei Federal nº9394 Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDBEN

2001 Plano Nacional de

Educação

27 objetivos e metas a para a

educação das pessoas com

necessidades educacionais especiais

2007 Decreto nº 6094 Plano de Metas e Compromisso Todos

pela Educação

2008 PNEE na perspectiva da

Educação Inclusiva

Reitera a Convenção sobre os direitos

da pessoa com deficiência aprovada

pela ONU

2008 Decreto 6571 Atendimento Educacional

Especializado complementar ou

suplementar

2009 Resolução nº4 Alunos com deficiência – ensino

regular e atendimento educacional

especializado

Page 7: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

O Brasil está entre os países que possuem a legislação mais moderna em relação

às pessoas com deficiência, muito embora o tema ainda seja tratado de forma insuficiente

pelas autoridades. Há a necessidade da aceitação da diversidade na vida em sociedade.

A Legislação nem sempre é obedecida e a aceitação à diversidade encontra inúmeros

obstáculos.

4º Encontro – A Deficiência Visual em seus aspectos fisiológico, cognitivo e sócio-pedagógico

Segundo Barraga (1978), a deficiência visual é uma limitação ou perda de uma ou

mais funções básicas do olho e do sistema visual. Os parâmetros mais considerados são

a acuidade visual e o campo visual.

Os distúrbios acarretados pela perda e/ou limitação na visão central referem-se aos

da acuidade visual; já os acarretados pela perda e/ou limitação periférica estão

relacionados ao campo visual. Tais dados estão estritamente ligados aos fatores de

ordem quantitativa.

Os distúrbios funcionais da visão são a defasagens existentes entre a qualidade e

a quantidade de visão que o indivíduo desempenha.

A relação existente entre os dados qualitativos e quantitativos da visão neste

sentido não coincidem, causando os distúrbios funcionais de visão. As funções visuais

(óptica, perceptiva e viso-motora) são a base do programa seqüencial para que a

capacidade e eficiência visual sejam aprendidas.

As dificuldades sócio-pedagógicas dos alunos com visão subnormal estão

relacionadas ao fato de raramente serem tratados como pessoas que possuem

capacidade limitada para enxergar e, às vezes, são tratadas como cegas e, em outros

momentos, como pessoas visualmente normais relacionando suas dificuldades de

aprendizagem ou sócio-afetivas como problemas em outras áreas como incapacidade

mental ou falta de vontade. Sua identidade fica comprometida, pois não é cego e também

não enxerga como os demais.

Segundo Amiralian, (1997), todo o ser humano tem que sentir-se pertencente a um

grupo e a pessoa com visão subnormal com freqüência fica isolada, pois não pertence ao

Page 8: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

grupo dos cegos e nem ao dos videntes. Isto acarreta a desconfiança no ambiente

levando-a ao isolamento e bloqueando sua comunicação.

5º Encontro - A baixa visão e sua implicação no desenvolvimento escolar

Considera-se baixa visão ou visão subnormal a alteração da capacidade funcional

da visão decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados, tais como: baixa

acuidade significativa, redução importante do campo visual, dificuldades de adaptação à

luz e ao escuro e para a percepção de cores, alterações corticais e/ou de sensibilidade

aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho individual da pessoa.

Para CARVALHO (1992, p. 13):

“Visão subnormal (VSN) é uma perda severa de visão que não pode ser corrigida por tratamento clínico ou

cirúrgico nem com óculos convencionais. Também pode ser descrita como qualquer grau de

enfraquecimento visual que cause incapacidade funcional e diminua o desempenho visual. No entanto, a

capacidade funcional não está relacionada apenas aos fatores visuais, mas também às reações das

pessoas à perda visual e aos fatores ambientais que interferem no desempenho.”

O Conselho Internacional para a Educação de Pessoas com Deficiência Visual

(C.I.E.V.I.) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) reuniram-se para discutir o

atendimento das crianças com baixa visão no mundo e elaboraram uma nova definição

incluindo a avaliação educacional e clínica. O desempenho visual é mais um processo

funcional do que simples expressão numérica de acuidade visual.

Foi proposta, então, a seguinte definição para baixa visão:

- comprometimento do funcionamento visual em ambos os olhos, mesmo após tratamento

e/ou correção de erros refracionais comuns;

- acuidade visual inferior a 0,3 até percepção de luz;

- campo visual inferior a 10° do seu ponto de fixação;

- capacidade potencial de utilização de visão para o planejamento e execução de tarefas.

A avaliação clínica realizada pelo médico oftalmologista consta de: diagnóstico e

prognóstico, acuidade visual para perto e longe, avaliação do campo visual e prescrição e

Page 9: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

orientação de recursos ópticos especiais.

A avaliação funcional, realizada pelo professor especialista na área da deficiência

visual é a observação do desempenho visual do aluno em todas as atividades diárias,

desde como se orienta e locomove-se no espaço, alimenta-se, brinca, até como usa a

visão para a realização de tarefas escolares ou práticas. Revela dados qualitativos de

observação informal sobre o nível de desenvolvimento do aluno; o uso funcional da visão

residual para atividades educacionais, de vida diária, orientação e mobilidade;

necessidade de adaptação à luz e aos contrastes; treinamento de recursos ópticos, não

ópticos e equipamentos de tecnologia avançada, indicados pelos oftalmologistas.

O professor especializado fará o trabalho itinerante junto às escolas regulares

transmitindo essas avaliações. Há alunos que necessitam de aumento de contraste, de

ampliação de materiais, aumento ou controle da iluminação para definir imagens, cenas e

cores, decodificar letras, copiar e ler. Com as adaptações dos recursos ópticos e/ou

materiais, as dificuldades visuais serão minimizadas contribuindo para o acesso e

permanência do aluno com baixa visão incluso no ensino regular.

6º Encontro - Tecnologias assistivas aplicadas que contribuem para o desenvolvimento escolar do aluno com baixa visão

Muitos indivíduos com baixa visão severa ou moderada poderão ser beneficiados

da ajuda de recursos ópticos específicos, para perto ou longe, como uma forma de

facilitar o processo de ensino e aprendizagem.

Os recursos ópticos são dispositivos prescritos por um especialista (médico

oftalmologista) e possuem uma ou mais lentes, que se antepõem entre o olho e o objeto,

para aumentar ou ajustar a imagem visual.

Os Auxílios Ópticos para perto corrigem ametropias e possibilitam um aumento

do objeto a ser visto e são utilizados, muitas vezes, mais de um auxílio juntos.

Os Auxílios Ópticos para longe visam melhorar a visão à distância por meio da

correção de alterações ópticas e/ou aumento de tamanho do objeto a ser visto.

Recursos não Ópticos são aqueles que melhoram a função visual sem o auxílio

de lente. São utilizados como complementos dos auxílios ópticos ou, em alguns casos,

podem substituí-los.

Page 10: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

A capacidade de enxergar depende basicamente do tamanho do objeto, da

quantidade de luz ambiental e do contraste do objeto com o fundo. Desse modo, além dos

recursos tecnológicos, são necessárias medidas de adequação curricular, metodologia de

ensino-aprendizagem e no ambiente.

As adequações dos conteúdos curriculares e dos métodos de ensino requerem mudanças de objetivos, do processo de avaliação e didático-pedagógicas. O

aluno com baixa visão pode atingir os objetivos comuns ao grupo em um período de

tempo maior ou com atividades complementares individuais. A aprendizagem cooperativa

é importante para ele. O professor deverá organizar as tarefas escolares permitindo

momentos de descanso ocular.

As adequações na sala de aula requerem, normalmente, o posicionamento em

sala de aula do aluno com baixa visão na primeira carteira da fila central.

7º Encontro – Orientações práticas para o trabalho itinerante

Algumas situações do cotidiano do professor reeducador visual compromete o

sucesso escolar do aluno com baixa visão. As orientações descritas, entre outras,

contribuirão para que a inclusão ocorra efetivamente: modificações ambientais,

melhorando a função visual através do controle da iluminação, da transmissão e da

reflexão da luz e do aumento de contraste, ampliação da imagem através de impressos

ampliados, de sistemas de ampliação de vídeo e dos computadores, utilização de

acessórios para melhorar o conforto físico e o desempenho das tarefas do dia a dia.

Foram citadas algumas sugestões para serem transmitidas aos professores do ensino

comum para melhor incluir o aluno com baixa visão, referentes aos sinais de alerta, para

que o professor encaminhe os alunos ao oftalmologista, dentre elas:

tonturas, náuseas e dor de cabeça;

sensibilidade excessiva à luz (fotofobia);

visão dupla e embaçada;

dor nos olhos;

levantar da carteira para enxergar no quadro;

dificuldade para discriminar e parear cores;

Page 11: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

inclinar a cabeça para um dos lados durante a leitura;

apertar e esfregar os olhos;

irritação nos olhos após esforço visual;

estrabismo;

nistagmo (tremor nos olhos);

franzimento da testa ou piscar contínuo, para fixar perto ou longe;

dificuldade para seguimento de objeto;

quedas freqüentes ou tropeços nos objetos ao redor;

desatenção ou falta de interesse;

inquietação e irritabilidade;

dificuldade para leitura e escrita;

aproximação excessiva para ler;

postura inadequada.

O professor do ensino regular ao perceber em algum aluno um ou mais dos sinais

de alerta citados deverá encaminhá-lo ao oftalmologista, apesar da maioria dos casos

serem apenas erros de refração (ametropias), corrigidos com o uso de óculos.

Os alunos com baixa visão, porém, necessitam de outros recursos e considerações

que facilitem sua integração e rendimento em sala de aula, como a seguir:

1 - a aceitação, compreensão sobre a doença e como afeta sua visão, e a flexibilidade do

professor em relação à limitação do aluno com baixa visão são importantes para a

integração do mesmo na escola;

2 - explicar sobre a melhor posição para o aluno com baixa visão em sala de aula:

normalmente, é a primeira carteira da fila central, mas se for cego ou enxergue menos

com um dos olhos, deverá sentar-se mais à direita ou à esquerda;

3 - caso use telescópio, mostrar aos professores como é sua visão com o aparelho e

explicar que necessita sentar-se a uma distância fixa da lousa (cerca de 2 m);

4 - o quadro deve ser escuro o suficiente para permitir bom contraste com o giz e estar

sempre bem limpo e o giz utilizado deve ser branco ou amarelo;

5 - o professor deverá usar o centro do quadro, espaçar as palavras e linhas, durante

demonstrações, sendo necessário algumas vezes explicar individualmente no caderno do

Page 12: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

aluno;

6 - ler pausadamente o que estiver escrevendo na lousa, para que o aluno escreva como

se fosse um ditado ou permitir que um colega dite em voz baixa para ele;

7 - deixar que ele levante-se da carteira para copiar do quadro;

8 - o material usado deve ter cores fortes e contrastantes para estimular a visão residual

do aluno;

9 - usar cadernos com pautas mais escuras (preto) ou reforçar as linhas com caneta preta

ponta porosa. O lápis deve ser preto nº 1 ou 6;

10 - sugerir ao professor que quando dirigir-se ao aluno com baixa visão, expresse-se

sempre verbalmente e chame-o pelo nome pois ele não consegue ver expressões de

aprovação, sorriso, solicitação de participação ou outras.;

11 - quando houver mudanças mobiliárias, o professor deverá falar para o aluno com

baixa visão;

12 - sempre que possível, ele deverá fazer as atividades sozinho, mas é fundamental a

colaboração dos colegas. Ele deverá ser encorajado a oferecer e aceitar a ajuda dos

demais alunos;

13 - explicar sobre as adaptações dos materiais necessários para a adaptação do aluno

com baixa visão: - melhor tipo de fonte, tamanho, espaço entre letras e linhas e contraste

adequado para ele; este material deverá ser elaborado com antecedência para ele

participar das atividades propostas em igualdade de condições com os demais colegas;

14 - a iluminação na sala de aula não pode causar ofuscamento e deve permitir a melhor

eficiência visual possível;

15 - a prática de atividades físicas bem orientadas é fundamental para um bom

desenvolvimento e crescimento do aluno;

16 - as atividades em grupo devem ser estimuladas, assim todos aprendem com a

diversidade;

17 - adequações dos conteúdos, currículos, métodos de ensino e mudanças de objetivos

e no processo de avaliação podem fazer-se necessárias;

18 - atividades complementares individuais contribuirão para o sucesso escolar do aluno

com baixa visão;

19 – o professor deverá organizar as tarefas escolares permitindo momentos de descanso

Page 13: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

ocular;

20 - se o professor da escola comum apresentar alguma resistência a oferecer as

adaptações necessárias para o aluno com baixa visão e esclarecer sobre os aspectos

legais da educação inclusiva.

8º Encontro – Recomendações aos professores e avaliação inclusiva do programa

Segundo Vigotski, é fundamental compensar as deficiências naturais com a criação

da necessidade de utilizarem novos e diferentes meios externos, de mediadores

específicos utilizando recursos e métodos especiais que busquem a superação da

deficiência.

É necessário que o professor descubra talentos em todos os alunos,

individualmente, partindo do pressuposto de que ninguém é tão severamente prejudicado

que não possua uma habilidade; desta forma, todos podem aprender.

Posteriormente ao desenvolvimento da capacitação, os professores participantes

avaliaram o curso e ponderaram sobre o que mudar e manter em sua prática profissional,

a partir das questões propostas:

1 - APRENDI QUE _______________________________________________

2 - ACREDITO QUE ______________________________________________

3 - TRABALHO __________________________________________________

4 - APONTE AVANÇOS. O QUE VOCÊ PASSOU A COMPREENDER?______

5 - O QUE MANTER EM SUA PRÁTICA PROFISSIONAL? _______________

4. Resultados

Todos os vinte professores participantes da capacitação contribuíram com trocas

de experiências sobre suas práticas, enriquecendo os encontros.

Os vinte concluíram os encontros e nas respostas colocadas na avaliação inclusiva

foram unânimes em observar que algumas mudanças realizariam. Alguns mais outros

Page 14: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

menos, mas todos responderam positivamente.

Assim, verificou-se a necessidade da capacitação para que eles, ao fazerem o

trabalho itinerante, tenham subsídios suficientes para esclarecer às escolas onde os

alunos com baixa visão do Centro de Reeducação Visual estão inclusos, sobre as

necessidades especiais necessárias, para que, em igualdade de condições aos demais

alunos, tenham acesso aos conteúdos e possam aprender.

4. Discussão

No livro “Deficiência Visual na Escola Inclusiva” de Carlos Fernando Mosquera

(2010), são apresentadas sugestões para professores do ensino regular que trabalham

com alunos com baixa visão. Dentre elas, algumas não constam do presente trabalho

como manter o conteúdo programático inalterado e mudar o tempo de aplicação, a

divulgação do material aumentativo aos pais do aluno que tiver necessidade dele, o

professor deverá ser claro e direto em suas explicações, entre outras.

As sugestões que constam das orientações práticas ao serviço itinerante

enumeradas no sétimo encontro do presente trabalho, poderiam ser complementadas

com as do Professor Carlos Fernando Mosquera.

Sobre a organização das tarefas escolares permitindo o descanso ocular, a

iluminação da sala, a aceitação e compreensão da deficiência por parte do professor

promovendo mais atividades em grupo fazendo com que a diversidade seja aceita

também pelos colegas são alguns dos itens constantes tanto do presente trabalho como

do Professor Mosquera, porém tratados com maior ênfase nesse artigo.

5. Conclusão

O objetivo do presente trabalho foi atingido, pois a avaliação inclusiva realizada

pelos professores participantes demonstrou o quanto aprenderam e como projetaram

mudanças em suas práticas no serviço itinerante.

Já durante a implementação do projeto, os professores concordaram sobre a

Page 15: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

importância desse Programa de Capacitação para o Professor Itinerante da Reeducação

Visual, pois não possuíam conhecimentos suficientes para realizar tal trabalho.

A necessidade de um Serviço Itinerante de qualidade para o sucesso escolar do

aluno com baixa visão é indiscutivelmente necessária.

As adequações dos conteúdos, currículos, métodos de ensino e mudanças de

objetivos e no processo de avaliação quando necessário é um direito do aluno com baixa

visão. O professor durante o trabalho itinerante, após essa capacitação, estará mais

seguro para transmitir tais necessidades às escolas regulares, sendo atingido, assim, o

principal objetivo desse trabalho.

O presente trabalho trouxe a certeza que todos os vinte professores que

concluíram a capacitação tem condições de realizar um trabalho itinerante de qualidade.

Conclui-se, então, que o Programa de Capacitação para o Professor Itinerante da

Reeducação Visual elaborado com o objetivo principal de capacitar os professores do

Centro de Reeducação Visual no CRAID deve ser divulgado a todos os professores que

trabalham com alunos com baixa visão e fazem o Serviço itinerante, pois as escolas

regulares necessitam da parceria com a escola especial.

Page 16: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita

Referências

ALVES, M.R.,KARA-JOSÉ, N. O olho e a visão: o que fazer pela saúde ocular de nossas

crianças. Rio de Janeiro. Vozes, 1996.

AMIRALIAN, M.L.T.M. Sou cego ou enxergo? As questões da baixa visão. Educar,

Curitiba, nº23 p.15-28. 2004. Editora UFPR.

AMIRALIAN, M.L.T.M. Compreendendo o cego, uma visão psicanalítica da cegueira por

meio de desenhos e histórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, Fapesp, 1997.

AMIRALIAN, M.L.T.M. A criança deficiente visual com problemas de aprendizagem: um

modelo para atendimento integral. Pesquisa realizada no Lide/IPUSP com apoio do CNPq

e CAPES: São Paulo, 2002.

BARRAGA, N.C. Guia do professor para o desenvolvimento de aprendizagem visual e

utilização da visão subnormal. Fundação para o livro do cego no Brasil. São Paulo, 1978.

BREGANTINI, E.C.O. Mito da dificuldade de aprendizagem e da deficiência. São Paulo:

Revista Psicopedagogia, 2001; v. 19 (56), P. 27-34.

CARVALHO, K.M.M. DE et al. Visão subnormal. Orientações ao professor do ensino

regular. 2ª ed. Campinas, SP: UNICAMP, 1964.

FAYE, E.E. El enfermo com défict visual. Barcelona: Científico Médica, 1972, p. 246

GASPARETTO, M.E.R.F., TEMPORINI, E.R., CARVALHO, K.M.M., KARA-JOSÉ, N.

Dificuldade visual em escolares: conhecimentos e ações de professores do ensino

fundamental que atuam com alunos que apresentam visão subnormal. Arq. Bras.

Oftalmol., 2004; 65-71.

MONTILHA, R.C.I. Escolarização e reabilitação de deficientes visuais: percepção de

escolares e ações de reabilitação. Tese de doutorado. Campinas, SP: Universidade

Estadual de Campinas, 2001.

MOSQUERA, C.F.F. Deficiência Visual na Escola Inclusiva, Editora IBPEX, 2010.

ROMAGNOLLI, G.S.E. Inclusão de alunos com baixa visão na rede pública de ensino,

orientação para professores. Produção didático-pedagógica do PDE. Curitiba – Paraná,

UFPR, 2007.

SANTOS, M.S.O. Diversidade em foco: as necessidades educacionais de alunos com

baixa visão na escola comum. Produção didático-pedagógica do PDE. Jacarezinho –

Paraná, Universidade Estadual do Norte do Paraná, 2008.

Page 17: ARTIGO PDE-2010...para utilização do potencial visual, estão fadados ao fracasso escolar (GASPARETTO et al., 2004; JANIAL E MANZINI, 1999). O aluno com visão subnormal necessita