81
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO STÉFANI LUNKES MOREIRA RODRIGUES Itajaí, novembro de 2008

ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO

ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

STÉFANI LUNKES MOREIRA RODRIGUES

Itajaí, novembro de 2008

Page 2: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO

ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

STÉFANI LUNKES MOREIRA RODRIGUES

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Msc. Sonia Maria Ferreira R oberts

Itajaí, novembro de 2008

Page 3: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

AGRADECIMENTO

Agradeço aos meus pais, Edson Moreira Rodrigues e Liris Lunkes Moreira Rodrigues, pelo

carinho, amor, incentivo e pela atenção que sempre dedicaram à minha educação.

Agradeço a minha orientadora, Professora Msc. Sonia Maria Ferreira Roberts, pelo auxílio e toda

dedicação que me concedeu no decorrer desta monografia.

Agradeço, também, a todos os professores do curso, pelo encaminhamento e pelos

conhecimentos transmitidos.

Por fim, agradeço aos colegas, pelo estímulo e pela amizade demonstrada ao longo de nossa convivência tanto na sala de aula quanto fora

dela.

Page 4: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus queridos pais, Edson e Liris, aos meus irmãos Alexandre, Felipe

e Rochele e aos meus avós, João e Dolvina Rodrigues, Arno e Nelly Lunkes.

Page 5: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, novembro de 2008

Stéfani Lunkes Moreira Rodrigues Graduando

Page 6: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Stéfani Lunkes Moreira Rodrigues,

sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho, foi submetida em 19 de

novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Msc. Sonia Maria Ferreira Roberts (Orientadora e Presidente da Banca) e Msc.

Rosane Maria Rosa, e aprovada com a nota [ ] ( ).

Itajaí, novembro de 2008

Professora Msc. Sônia Maria Ferreira Roberts Orientadora e Presidente da Banca

Professora Msc. Rosane Maria Rosa Coordenação da Monografia

Page 7: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo CC Código Civil C/C Combinado com CF Constituição Federal CLT Consolidação das Leis do Trabalho PL Projeto de Lei STF Superior Tribunal Federal TRT Tribunal Regional do Trabalho UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Page 8: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Assédio Moral

Toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por

comportamentos, palavras, gestos, escritos, que possam trazer dano à

personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr

em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho1.

Dano

É o prejuízo sofrido pela vítima, sendo este elemento objetivo do ato ilícito,

ocasionado pela diminuição de um bem jurídico qualquer do lesado2.

Direito do Trabalho

Conjunto de normas jurídicas que regulam as relações de trabalho, sua

preparação, desenvolvimento, conseqüências e instituições complementares dos

elementos pessoais que nelas intervêm. Não é apenas o conjunto de leis, mas de

normas jurídicas, entre as quais os contratos coletivos, e não regula apenas as

relações entre empregados e empregadores num contrato de trabalho, mas vai

desde a sua preparação com a aprendizagem até as conseqüências

complementares, como por exemplo a organização profissional3.

1 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Tradução de

Maria Helena Kühner. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008, p. 65 – 66. 2 SAAD, Renan Miguel. O ato ilícito e a responsabilidade civil do estado . Rio de Janeiro:

Lúmen Júris, 1994, p. 67. 3 NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho . 25ª ed. São Paulo: LTR, 1999. p. 66

Page 9: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

Indenização

É tornar indene, é repor o patrimônio lesado no seu status quo ante do ato ilícito

que causou o prejuízo. Trata-se, pois, de mera compensação do patrimônio

(material ou moral) desfalcado, nunca de acréscimo real a esse patrimônio4.

Processo do Trabalho

Algo constituído por um conjunto de atividades que devem ser executadas para

produzir pelo menos um resultado identificável e utilizável por um ente

denominado cliente do processo de trabalho. O Processo de Trabalho tem

fronteiras claramente identificadas pelas suas entradas e saídas. Cada saída é

denominada de um resultado do processo de trabalho. Cada entrada é

denominada de um acionamento do processo de trabalho5.

Responsabilidade Civil

O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma

pessoa, natural ou jurídica, deve arcar com as conseqüências de um ato, fato, ou

negócio danoso. Desse modo, toda atividade humana pode acarretar o dever de

indenizar. Portanto, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de

princípios e normas que regem a obrigação de indenizar6.

4 Disponível em http://www.tj.ro.gov.br/emeron/sapem/2002/marco/0803/ARTIGOS/A03.htm, acessado em 03 nov.2008. 5 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho . 2ª ed. São Paulo: LTR, 2003. p. 58. 6 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003.

Page 10: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... XI

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 4

NOÇÕES GERAIS DO ASSÉDIO MORAL ..................... ................... 4

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO .................................................................................4 1.2 CONCEITO .......................................................................................................6 1.3 SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO ....................... ............................................10 1.4 EXEMPLOS E MODALIDADES DE ASSÉDIO MORAL ........ ........................10 1.5 DISTINÇÃO E EQUIPARAÇÃO ENTRE ASSÉDIO MORAL E A SSÉDIO SEXUAL ............................................. ..................................................................14 1.6 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA........ ............................16 CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 21

ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO............. ....... 21

2.1 SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL...................... ...........................................21 2.1.1 ASSEDIADOR ..................................................................................................21 2.1.2 ASSEDIADO ....................................................................................................25 2.1.3 ESPECTADORES .............................................................................................29 2.2 ESPÉCIES DE ASSÉDIO MORAL ...................... ...........................................30 2.2.1 ASSÉDIO MORAL VERTICAL DESCENDENTE ........................................................30 2.2.2 ASSÉDIO MORAL HORIZONTAL ..........................................................................32 2.2.3 ASSÉDIO MORAL VERTICAL ASCENDENTE ..........................................................34 2.2.4 ASSÉDIO MORAL MISTO ...................................................................................35 2.3 CARACTERÍSTICAS DO ASSÉDIO MORAL ............... .................................35 2.4 ASSÉDIO MORAL COMO DANO PESSOAL ................ ................................36 CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 40

RESPONSABILIDADE CIVIL DA CONDUTA .................. ................ 40

3.1 CONCEITO .....................................................................................................40 3.2 REQUISITOS FUNDAMENTAIS ........................ ............................................41 3.2.1 AÇÃO OU OMISSÃO DO AGENTE ........................................................................42 3.2.2 CULPA ...........................................................................................................43 3.2.3 NEXO DE CAUSALIDADE ...................................................................................44 3.2.4 DANO ............................................................................................................44 3.3 TIPOS DE RESPONSABILIDADE ...................... ...........................................46

Page 11: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

3.3.1 OBJETIVA .......................................................................................................46 3.3.2 SUBJETIVA .....................................................................................................48 3.3.3 CONTRATUAL .................................................................................................48 3.3.4 EXTRACONTRATUAL ........................................................................................49 3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADO/EMPREGADOR . ..............50 3.5 DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL........... ...............................52 3.5.1 FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO ...............................................................54 3.6 JUÍZO COMPETENTE....................................................................................56 3.7 A VISÃO DOS TRIBUNAIS SOBRE O ASSÉDIO MORAL.... ........................57 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 65

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 67

Page 12: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

RESUMO

Esta Monografia tem como objetivo analisar o Assédio

Moral nas relações de trabalho. Destaca-se a importância do tema, entre outros

motivos, pela sua atualidade. O presente trabalho é composto por três capítulos,

que se destacam pelos seguintes conteúdos: no primeiro capítulo, abordagem

acerca das noções gerais sobre o Assédio Moral, tratando de seu contexto

histórico, bem como de seu conceito, além de fazer uma distinção entre Assédio

Moral e Assédio Sexual, discorrendo, ainda, sobre o Princípio da Dignidade da

Pessoa Humana; no segundo capítulo, aborda-se o Assédio Moral nas relações

de trabalho propriamente dito, seus sujeitos, espécies, características e seus

danos às pessoas envolvidas; e, no terceiro e último capítulo, como produto final

da investigação estuda-se a Responsabilidade Civil, trazendo seu conceito,

requisitos fundamentais e tipos, bem como a responsabilidade do empregado e

do empregador, finalizando com a possibilidade de indenização por Danos Morais

ao trabalhador oriundas do Assédio Moral no ambiente de trabalho, o juízo

competente e a visão dos tribunais sobre o Assédio Moral. O presente relatório

de pesquisa encerra-se com as Considerações Finais, onde são apresentados os

pontos conclusivos com relação à pesquisa, seguidos da estimulação a

continuidade dos estudos e reflexões sobre o tema.

Page 13: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o Assédio Moral no

Ambiente de Trabalho.

Deve-se ressaltar que o trabalho tem como objetivo

institucional produzir monografia para fins de obtenção do título de Bacharel em

Direito pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI.

Como objetivos investigatórios, em termos gerais, analisar o

Assédio Moral no Ambiente de trabalho.

O presente trabalho tem os seguintes objetivos específicos:

a) pesquisar, sintetizar e descrever sobre as noções gerais

do Assédio Moral;

b) investigar, resumir e comentar a respeito dos principais

aspectos do Assédio Moral nas relações de trabalho;

c) investigar, analisar e descrever acerca da

responsabilidade civil da conduta, e da possibilidade de haver indenização por

danos morais oriundos do Assédio Moral no trabalho;

Para tanto, inicia-se, no Capítulo 1, tratando das noções

gerais do Assédio Moral, seu contexto histórico, conceito, e o significado da

expressão. Logo após são dados alguns exemplos e modalidades de assédio

moral, e também é feita uma distinção entre assédio moral e assédio sexual, bem

como É abordado o princípio da dignidade da pessoa humana.

No Capítulo 2, discorre-se sobre o Assédio Moral nas

relações de trabalho, analisando os sujeitos envolvidos, as espécies de Assédio

Moral existentes, suas principais características e, por fim, os danos pessoais que

causa às suas vítimas.

No Capítulo 3, é estudada a responsabilidade civil da

conduta. Faz-se, primeiramente, uma análise de seu conceito, seus requisitos

Page 14: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

2

fundamentais e tipos. Posteriormente, trata-se da responsabilidade civil do

empregado e do empregador, bem como o direito à indenização por danos

morais, o juízo competente para processar e julgar as ações decorrentes e a

visão dos tribunais sobre o Assédio Moral, através de algumas ementas.

O Relatório de Pesquisa é encerrado com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o assédio moral no ambiente de trabalho.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

1) O assédio moral viola a dignidade da pessoa assediada.

2) Devido às condições de inferioridade e submissão, o

assédio moral tem maior repercussão na psique do empregado.

3) Caracterizado o assédio moral, automaticamente surge o

direito à indenização por dano moral e/ou material.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação7 utiliza-se o Método Indutivo8, na Fase de Tratamento de Dados o

Método Cartesiano9, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

7 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

8 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 104.

9 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

Page 15: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

3

Nas diversas fases da Pesquisa, acionam-se as Técnicas

do Referente10, da Categoria11, do Conceito Operacional12 e da Pesquisa

Bibliográfica13.

10 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 62.

11 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 31.

12 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 45.

13 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 239.

Page 16: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

CAPÍTULO 1

NOÇÕES GERAIS DO ASSÉDIO MORAL

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO

O assédio moral é considerado um fenômeno social com

grande relevância nos dias atuais, todavia, não se caracteriza como um fenômeno

novo, pois sempre foi praticado em vários países. A novidade reside na

intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno que atualmente é

destaque tanto no Brasil, quanto no plano internacional 14.

O tema somente ganhou relevância nas últimas décadas

com a divulgação de pesquisas realizadas na área de Psicologia, desenvolvidas

na Europa, em especial na França e nos países escandinavos, com ênfase

voltada para o mundo do trabalho15.

A pesquisa pioneira em detectar o assédio moral nas

relações humanas foi realizada na década de 60, pelo médico sueco Peter-Paul

Heinemann, que analisava o comportamento de crianças reunidas em grupo,

dentro de um ambiente escolar16.

Somente durante a década de 80 foi que o psicólogo

alemão Heinz Leymann verificou que existia certo nível de violência nas relações

de trabalho. Segundo ele, no processo de assédio moral no ambiente de trabalho

14 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego. Curitiba: Juruá, 2008, p.

35 15FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho. Campinas:

Russell Editores, 2004, p. 37. 16 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 38.

Page 17: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

5

a violência física raramente é usada. Tal assédio é marcado por condutas

insidiosas, de difícil demonstração, como o isolamento social da vítima, causando

conseqüências devastadoras para a saúde mental das mesmas17.

Os estudos de Leymann se desenvolveram principalmente

na Suécia, e evidenciaram que em um ano 3,5% dos trabalhadores de uma

população economicamente ativa de 4,4 milhões de pessoas, sofreram

perseguição moral por um período superior a 15 meses. Para ele, o assédio moral

é caracterizado por humilhações repetitivas, com duração mínima de 6 (seis)

meses e a essa violência ele deu o nome de “psicoterror”18.

Desde o final da década de 90, quando a psicanalista e

vitimóloga francesa Marie-France Hirigoyen lançou um livro a respeito do assédio

moral, países como a França, Noruega, Austrália, Itália e demais Estados tanto na

Europa como fora dela, passaram a produzir leis visando a coibir o assédio moral

nas relações de trabalho. Houve, também, uma maior conscientização dos

trabalhadores, resultante, em grande parte, da ação dos sindicatos19.

No Brasil, a médica do trabalho Margarida Barreto foi quem

fez a primeira pesquisa sobre o tema ao concluir, em 22.05.2000, sua tese de

mestrado “Uma Jornada de Humilhações”. Na realização da pesquisa ouviu 2.072

pessoas, das quais 42% declaram ter sofrido humilhações repetitivas no trabalho.

A autora traçou uma análise das conseqüências dessas humilhações na vida dos

vitimados, a ruptura com o trabalho, a agonia e a dor do desemprego, a

humilhação enquanto dor social, o autoritarismo da sociedade brasileira e as

seqüelas dessa humilhação20.

Até bem pouco tempo não era dada a devida importância ao

assédio moral. Contudo, existem, atualmente, algumas manifestações que

demonstram a intenção de coibir tais atos. Como a violência no ambiente de

trabalho está se tornando cada vez mais freqüente, leis e projetos de leis estão 17FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 39 18 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho. São Paulo: LTr, 2008, p. 27. 19FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 40. 20 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 31.

Page 18: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

6

em tramitação no Brasil, tanto no âmbito federal quanto no estadual e municipal, 21 a exemplo da lei da cidade de Campinas, que dispõe nos seguintes termos:

Art. 1º Fica vedado o assédio moral no âmbito da administração pública direta, indireta, nas autarquias e fundações públicas, que submeta servidor a procedimentos que impliquem em violação de sua dignidade ou, por qualquer forma que o sujeite a condições de trabalho humilhante ou degradante.

No Congresso Nacional tramitam atualmente vários Projetos

de Leis versando sobre o assédio moral. Dentre estes o PL 2369/2003,

apresentado pelo Deputado Mário Passos merece destaque, tendo em vista que

se encontra na fase conclusiva22.

1.2 CONCEITO

O fenômeno recebe denominações como harcèlemente

moral, na França; bullying, com o sentido de tiranizar, na Inglaterra; mobbing, que

significa molestar, nos Estados Unidos; e murahachibu, ostracismo social, no

Japão, que no Brasil ganha o nome de “assédio moral” 23.

Em virtude da carência de material jurídico-científico

publicado acerca do tema, é necessário ter como ponto de partida pesquisas

desenvolvidas no campo da Psicologia e da Sociologia. São esses trabalhos que

servem de base para que se ouse construir um conceito jurídico.

Márcia Novaes Guedes entende o seguinte:

Assédio moral significa todos aqueles atos comissivos ou omissivos, atitudes, gestos, comportamentos do patrão, da direção da empresa, de gerente, chefe, superior hierárquico ou dos colegas, que traduzem uma atitude contínua e ostensiva

21 Disponível em < http://www.assediomoral.com.br/int_lei.htm > Acessado em 18 abr.2008. 22 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 36. 23 BARRETO, Marco Aurélio Aguiar. Assédio moral no trabalho : da responsabilidade do

empregador – perguntas e respostas. São Paulo: LTr, 2007, p. 49.

Page 19: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

7

perseguição que possa acarretar danos relevantes às condições físicas, psíquicas, morais e existenciais da vítima24.

O assédio moral (mobbing, bullying, harcèlement moral ou,

ainda, manipulação perversa, terrorismo psicológico) caracteriza-se por ser uma

conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica,

de forma repetitiva e prolongada, e que expõe o trabalhador a situações

humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à

dignidade ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do

empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada

de trabalho e no exercício de suas funções25.

A psicanalista Marie-France Hirigowen traça o seguinte

conceito para o assédio moral:

Por assédio moral em um local de trabalho temos que entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, gestos, escritos, que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. (...) O assédio nasce como algo inofensivo e propaga-se insidiosamente. Em um primeiro momento, as pessoas envolvidas não querem mostrar-se ofendidas e levam na brincadeira desavenças e maus-tratos. Em seguida esses ataques vão se multiplicando e a vítima é seguidamente acuada, posta em situação de inferioridade, submetida a manobras hostis e degradantes durante um período maior26.

Para Vilja Marques Asse, é “(...) a exposição dos

trabalhadores e das trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras,

24 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 33. 25NASCIMENTO, Sonia Mascaro. O Assédio Moral no ambiente de trabalho. Disponível em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5433, acessado em 18 abr. 2008. 26HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Tradução de

Maria Helena Kühner. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008, p. 65 – 66.

Page 20: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

8

repetitivas e prolongadas, durante a jornada de trabalho e no exercício das

funções profissionais” 27.

No mesmo sentido, conceitua Marco Aurélio Aguiar Barreto:

É o assédio, uma ocorrência de longa duração num cenário de relações desumanas e contrárias à ética, em geral fruto de autoritarismo e abusos de poder, atingindo tanto homens como mulheres, em todos os ramos de atividades28.

A violência, sempre com um caráter sutil e furtivo, merece

destaque também de Cláudio Armando Couce de Menezes, para quem “o assédio

é um processo conjunto de atos, procedimentos destinados a expor a vítima a

situações humilhantes. De regra, é sutil, no estilo ‘pé de ouvido’” 29.

Para o pioneiro nas pesquisas do fenômeno, Heinz

Leymann, “o assédio moral consiste em uma psicologia do terror, ou,

simplesmente, psicoterror, que se manifesta no ambiente de trabalho por uma

comunicação hostil e não ética direcionada a um indivíduo ou mais” 30.

Importante notar, ainda, o conceito de Margarida Barreto,

primeira a pesquisar o fenômeno no Brasil:

É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o

27ASSE, Vilja Marques. Um fenômeno chamado psicoterrorismo . Revista LTr- Legislação do

Trabalho: publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, São Paulo,v.68,n.7,p.819. 28BARRETO, Marco Aurélio Aguiar. Assédio moral no trabalho: da responsabilidade do

empregador – perguntas e respostas, p. 50. 29MENEZES, Cláudio Armando C. de. Assédio moral e seus efeitos jurídicos . Revista LTr-

legislação do trabalho, São Paulo,v.67,n.3, p.292. 30FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 42.

Page 21: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

9

ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego31.

Corrobora também este entendimento Maria Aparecida

Alkimin:

Assédio moral é uma forma de violência psíquica praticada no local de trabalho, e que consiste na prática de atos, gestos, palavras e comportamentos vexatórios, humilhantes, degradantes e constrangedores, de forma sistemática e prolongada, cuja prática assediante pode ter como sujeito ativo o empregador ou superior hierárquico, um colega de serviço, ou um subordinado, com clara intenção discriminatória e perseguidora, visando eliminar a vítima da organização do trabalho32.

No mesmo diapasão dispõe Márcia Novaes Guedes:

Trata-se daquelas atitudes humilhantes, repetidas, aparentemente despropositadas, insignificantes, sem sentido, mas que ocorrem com uma freqüência predeterminada, que vão desde o olhar carregado de ódio, o desprezo e a indiferença, passam pelo desprestígio profissional, por descomposturas desarrazoadas e injustas, tratamento vexatório, gestos obscenos, palavras indecorosas, culminando com o isolamento e daí descambando para a fase de terror total, com a destruição psíquica, emocional e existencial da vítima. (...) é uma violência invisível, banal, silenciosa, cotidiana, pela qual um indivíduo vai aniquilando outro, sem alarde, sem pancadaria, sem sangue. Num massacre desapercebido e sem compaixão se pratica verdadeiro assassinato psíquico e moral33.

O assédio moral, portanto, são todos aqueles atos repetidos

que tenham por finalidade a degradação das condições de trabalho, que lesionam

os direitos e a dignidade do trabalhador, alterando sua saúde física e mental,

comprometendo assim, seu futuro profissional.

31FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 47. 32ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego. Curitiba: Juruá, 2008, p.

36-37. 33 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 34 – 54.

Page 22: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

10

1.3 SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO

A expressão assédio deriva do verbo assediar que significa

“perseguir com insistência, importunar, molestar, com pretensões insistentes;

assaltar (...)” 34, ao passo que a expressão moral pode ser compreendida em seu

aspecto filosófico, referindo-se ao agir ético, ou seja, de acordo com as regras

morais ou normas escritas que regulam a conduta na sociedade, visando praticar

o bem e evitar o mal para o próximo35.

Justificando a utilização da expressão moral, Marie-France

asserva que:

A escolha do termo moral implicou uma tomada de posição. Trata-se efetivamente de bem e de mal, do que se faz e do que não se faz, e do que é considerado aceitável ou não em nossa sociedade. Não é possível estudar esse fenômeno sem levar em conta a perspectiva ética ou moral, portanto, o que sobra para as vítimas do assédio moral é o sentimento de terem sido maltratadas, desprezadas, humilhadas, rejeitadas (...) 36.

1.4 EXEMPLOS E MODALIDADES DE ASSÉDIO MORAL

O assédio moral em geral inicia-se em pequenas doses,

prosseguidas de forma extremamente destrutiva por via do efeito cumulativo de

microtraumatismos freqüentes e repetidos37.

Alguns autores, para melhor defini-lo e compreendê-lo,

valem-se de exemplos, como faz Cláudio Armando Couce de Menezes:

34FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 183. 35ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 37. 36HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral. Tradução

de Rejane Janwitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p. 15-16. 37BARRETO, Marco Aurélio Aguiar. Assédio moral no trabalho: da responsabilidade do

empregador – perguntas e respostas, p. 51.

Page 23: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

11

O assédio também tem lugar por meio de procedimentos mais concretos, como rigor excessivo, confiar tarefas inúteis ou degradantes, desqualificação, crítica em público, isolamento, inatividade forçada, ameaças, exploração de fragilidade psíquica e física, limitação ou coibição de qualquer inovação ou iniciativa do trabalhador, obrigação de realizar autocríticas em reuniões públicas, exposição ao ridículo (impor a utilização de fantasia, sem que isso guarde relação com sua função; inclusão em rol de empregados de menor produtividade); divulgação de doenças e problemas pessoais de forma direta e/ou pública38.

A classificação utilizada pela psiquiatra e psicóloga Marie-

France Hirigoyen, serve para analisarmos atitudes hostis que podem ser

classificadas como assédio moral :

1) Deterioração proposital das condições de trabalho:

- Retirar da vítima a autonomia;

- Não lhe transmitir mais as informações úteis para a realização de tarefas;

- Contestar sistematicamente todas as suas decisões.

- Criticar seu trabalho de forma injusta ou exagerada;

- Privá-lo do acesso aos instrumentos de trabalho: telefone, fax, computador etc;

- Retirar o trabalho que normalmente lhe compete;

- Dar-lhe permanentemente novas tarefas;

- Atribuir-lhe proposital e sistematicamente tarefas superiores às suas competências;

- Pressioná-la para que não lhe faça valer seus direitos (férias, horários, prêmios);

38 MENEZES, Cláudio Armando C. de. Assédio moral e seus efeitos jurídicos. Revista LTr-

legislação do trabalho, São Paulo,v.67,n.3, p. 292.

Page 24: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

12

- Agir de modo a impedir que obtenha promoção;

- Atribuir à vítima, contra a vontade dela, trabalhos perigosos;

- Atribuir à vítima tarefas incompatíveis com sua saúde;

- Causar danos em seu local de trabalho;

- Dar-lhe deliberadamente instruções impossíveis de executar;

- Não levar em conta recomendações de ordem médica indicada pelo médico do trabalho;

- Induzir a vítima ao erro;

2)Isolamento e recusa de comunicação:

- A vítima é interrompida constantemente;

- Superiores hierárquicos ou colegas não dialogam com a vítima;

- A comunicação com ela é unicamente por escrito;

- Recusam todo o contato com ela, mesmo visual;

- É posta separada dos outros;

- Ignoram sua presença, dirigindo-se apenas aos outros;

- Proíbem os colegas de falar com ela;

- Não a deixam falar com ninguém;

- A direção recusa qualquer pedido de entrevista;

3)Atentado contra a dignidade:

- Utilizam insinuações desdenhosas para qualificá-la;

Page 25: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

13

- Fazem gestos de desprezo diante dela (suspiros, olhares desdenhosos, levantar os ombros etc.);

- É desacreditada diante dos colegas, superiores ou subordinados;

- Espalham rumores ao seu respeito;

- Atribuem-lhe problemas psicológicos (dizem que é doente mental);

- Zombam de suas deficiências físicas ou de seu aspecto físico; é imitada e caricaturada;

- Criticam sua vida privada;

- Zombam de sua origem ou sua nacionalidade;

- Implicam com suas crenças religiosas ou convicções políticas;

- Atribuem-lhe tarefas humilhantes;

- É injuriada com termos obscenos ou degradantes;

4) Violência verbal, física ou sexual:

- Ameaças de violência física;

- Agridem-na fisicamente, mesmo que de leve; é empurrada fecham-lhe as portas na cara;

- Falam com ela aos gritos;

- Invadem sua vida privada com ligações telefônicas ou carta;

- Seguem-na na rua, é espionada diante do domicílio;

- Fazem estragos em seu automóvel;

- É assediada ou agredida sexualmente (gestos e propostas);

Page 26: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

14

- Não levam em conta seus problemas de saúde39.

1.5 DISTINÇÃO E EQUIPARAÇÃO ENTRE ASSÉDIO MORAL E A SSÉDIO

SEXUAL

Ambas as modalidades de assédio – moral e sexual – se

traduzem como forma de violência psicológica e atingem a integridade psicofísica

da vítima, ferindo a sua dignidade e seus direitos de personalidade40, pondo em

risco o emprego desta41.

Para Marie-France o assédio sexual é “um passo a mais na

perseguição moral. Tem relação com os dois sexos, mas a maior parte dos casos

descritos refere-se a mulheres agredidas por homens (...)” 42.

Para caracterizar o assédio moral é necessário que as

agressões e humilhações sejam repetidas e freqüentes. A motivação do agressor

costuma ser a de excluir a vítima, levando-a a pedir demissão. Já no assédio

sexual, o objetivo do assediador é o prazer sexual. A Organização Internacional

do Trabalho (OIT) define assédio sexual como “atos, insinuações, contatos físicos

forçados, convites impertinentes (de cunho sexual), desde que apresentem uma

das características a seguir: ser uma condição clara para manter o emprego;

influir nas promoções da carreira do assediado; prejudicar o rendimento

39HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral, p.108-109. 40 Para Carlos Alberto Bittar, os direitos de personalidade se classificam em: direitos físicos

(referentes ao aspecto material da estrutura humana, ou seja, a integridade corporal, compreendendo os órgãos, membros e imagem); direitos psíquicos (compreendem os elementos intrínsecos da personalidade, abrangendo a integridade psíquica, liberdade, identidade); e os direitos morais (relativos aos atributos ou virtudes valorativas da pessoa, isto é, o patrimônio moral da pessoa, no que diz respeito à honra, imagem, identidade, intimidade e boa fama). BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos de Personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 17.

41ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 58. 42HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano, p. 80.

Page 27: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

15

profissional, humilhar, insultar ou intimidar a vítima”. É comum que um assédio

sexual torne-se assédio moral com a recusa do assediado43.

Ao contrário do assédio moral, o assédio sexual ganhou

tipificação legal através da Lei 10.244/91, que acrescentou ao Código Penal

Brasileiro o art. 216-A; in verbis: “Constranger alguém com intuito de levar

vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de

superior hierárquico ou ascendência inerentes ai exercício de emprego, cargo e

função”.

De acordo com Maria Aparecida Alkimin, os três elementos

caracterizadores do assédio sexual são o constrangimento consciente e contrário

ao ordenamento jurídico, pois impõe a vítima atitude contrária à sua vontade; a

finalidade de obtenção de vantagem ou favorecimento sexual e o abuso de poder

hierárquico 44.

Entendimento louvável é o manifestado por Amauri Mascaro

Nascimento:

O assédio sexual do empregador contra o subordinado é o mais grave, porque envolve uma relação de poder, como, também, do preposto do empregador sobre o empregado, podendo configurar dispensa indireta por justa causa do empregador por ato lesivo à honra e a boa fama do empregado (CLT, art. 483, “e”), além de reparações civis, as mesmas previstas para o dano moral e, inclusive, a do empregado contra colega, o que mostra que o assédio sexual não tem como única situação uma relação de poder, podendo sujeita-lo a punição disciplinar ou dispensa por justa causa de incontinência de conduta (CLT, art. 482) 45.

No que concerne à diferenciação elementar entre as duas

figuras, verifica-se que o assédio sexual implica conduta eminentemente sexual,

abrangendo ameaça verbal ou física para lograr êxito no intuito de obter favor ou

43Disponível em http://www.iesc.ufrj.br/assediomoral/duvidas.htm, acesso em 25-04-2008. 44ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 59. 45NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed., ver. E atual. São

Paulo: Saraiva, 2003, p. 426.

Page 28: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

16

vantagem sexual, enquanto o assédio moral é mais amplo, não precisando os

atos apresentar conotação sexual 46.

Márcia Novaes Guedes afirma que existe uma correlação

entre o assédio moral e o assédio sexual, podendo esse “constituir a premissa

para desencadear uma ação do assédio moral, transformando-se na vingança do

agressor rejeitado” 47.

Maria Aparecida Alkimin distingue desta forma:

O assédio sexual importa numa conduta de sedução, tornando evidente a intenção do assediante, ao passo que no assédio moral a violência se instala silenciosamente, sendo perceptível quando os danos ao ambiente de trabalho e à saúde física e/ou mental da vítima estão instalados48.

O assédio moral é toda e qualquer conduta que traz dano à

personalidade, dignidade ou integridade física ou psíquica da pessoa, põe em

risco seu emprego ou degrada o ambiente de trabalho, sem que possua caráter

sexual, já o assédio sexual é o constrangimento e importunação séria, ofensiva,

insistente, chantagiosa com finalidade de obter a vantagem sexual. Enquanto no

assédio moral o agente busca a eliminação da autodeterminação do empregado

no trabalho ou a degradação das suas condições pessoais no trabalho,

acarretando efeitos nefastos à integridade física e psíquica do funcionário, no

sexual pretende a prática de favores sexuais 49.

1.6 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Os princípios são, dentre as formulações deônticas de todo

o sistema ético jurídico, os mais importantes a serem considerados não só pelo

46PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego. 2. ed. rev.

amp. e atual. São Paulo: LTr, 1999, p. 47. 47 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 45. 48ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 60. 49Disponível em http://www.sinasefe.org.br/Cartilha_AssedioSexual.pdf, acesso em 27-04-2008.

Page 29: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

17

aplicador do direito, mas por todos aqueles que, de alguma forma, se dirijam ao

sistema jurídico 50.

A Constituição Federal preconiza o princípio da dignidade

da pessoa humana como fundamento da República brasileira e,

concomitantemente, como finalidade da ordem econômica, assim determinado em

seu artigo 1.º:

Art. 1.º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

(...)

III – a dignidade da pessoa humana;

A dignidade é garantida por um princípio, logo é absoluta,

plena e não pode sofrer arranhões nem ser vítima de argumentos que a coloquem

num relativismo 51.

A dignidade nasce com o indivíduo, É-lhe inata, inerente à

sua essência. Mas nenhum indivíduo vive isolado. Ele nasce, cresce e vive num

meio social. E aí, nesse contexto, sua dignidade ganha ou tem o direito de ganhar

acréscimo de dignidade. Ele nasce com integridade física e psíquica, mas chega

um momento de seu desenvolvimento que seu pensamento tem que ser

respeitado, suas ações e seu comportamento – isto é, sua liberdade, sua imagem,

sua intimidade, sua consciência – religiosa, científica, espiritual – etc – tudo

compõe sua dignidade 52.

O ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Orlando

Teixeira da Costa, define dignidade em um dos seus artigos:

50NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa H umana . São Paulo:

Saraiva, 2002, p. 19. 51NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa H umana , p. 47. 52NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pesso a Humana , p. 49.

Page 30: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

18

A palavra dignidade provém do latim – dignitas, dignitatis – e significa, entre outras coisas, a qualidade moral que infunde respeito, a consciência do próprio valor. Ao falar-se em dignidade da pessoa humana quer-se significar a excelência que esta possui em razão da sua própria natureza. Se é digna qualquer pessoa humana, também o é o trabalhador, por ser uma pessoa humana. É a dignidade da pessoa humana do trabalhador que faz prevalecer os seus direitos estigmatizando toda manobra tendente a desrespeitar ou corromper de qualquer forma que seja esse instrumento valioso, feito à imagem de Deus53.

Pode-se afirmar que a dignidade humana compreende a

liberdade, a igualdade e a fraternidade54, que são escopos da Declaração dos

Direitos dos Homens e princípios basilares que devem nortear as relações da

sociedade. A dignidade humana é considerada “núcleo dos direitos fundamentais

do cidadão”55, e, segundo Bobbio56, integra, tal como a vida, o direito natural, não

podendo haver qualquer tipo de intervenção, salvo quando visar a garantia e

proteção pelo Estado.

Conceituando filosoficamente a dignidade da pessoa

humana, tem-se José Felipe Ledur, que preconiza:

A dignidade humana, do ponto de vista filosófico, pode ser definida, em termos sucintos, como valor da consciência de ser e do ser (consciência ontológica) e da conseqüente capacidade de agir e de incidir livremente no mundo exterior, sob imperativo categórico57.

O fundamento filosófico da dignidade humana está

assentado na obra de Kant, que faz da vontade do indivíduo uma lei universal,

que deve considerar a pessoa humana fim e não meio, sendo isso somente 53 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 90-91. 54 “Art. 1.º: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados

de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. (Declaração Universal dos Direitos do Homem ).

55 LEDUR, José Felipe. A Realização do Direito do Trabalho . Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998, p. 85.

56 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos . Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campu, 1992, p. 74.

57 LEDUR, José Felipe. A Realização do Direito do Trabalho. p. 90.

Page 31: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

19

possível se houver respeito às liberdades individuais e públicas e valorização e

respeito à dignidade da pessoa humana58.

Para o jurista José Afonso da Silva, “a dignidade da pessoa

humana não se restringe à proteção dos direitos personalíssimos, mas também

de direitos sociais, incluindo entre estes o trabalho” 59.

A exposição do trabalhador a situações humilhantes e

constrangedoras, a condições de trabalho precárias e a pressões psicológicas

desumanas é uma total violação ao princípio da dignidade da pessoa humana60.

José Felipe Ledur assim preleciona:

(...) a dignidade não estaria garantida quando a pessoa é humilhada, discriminada, perseguida ou desprezada. (...) R. Alexy inclui, sem qualquer dificuldade, os direitos sociais no catálogo dos direitos fundamentais cuja violação compromete a dignidade da pessoa (...)61.

E prossegue o mesmo autor:

A prevalência da dignidade da pessoa humana como princípio supremo da ordem constitucional e também como fim último da ordem econômica exige que a atividade econômica contribua para a sua efetivação. Se a atividade econômica gera a indignidade, estará em desacordo com a Constituição, impondo-se a ação restauradora do Estado e da Sociedade62.

Tais ensinamentos doutrinários fundamentam a tutela

jurídica do assédio moral, uma vez que esse viola a dignidade da pessoa do

trabalhador.

58 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 17. 59 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo , 18. ed., rev., atual., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 109 60 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 94. 61 LEDUR, José Felipe. A Realização do Direito do Trabalho, p. 97. 62 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 96.

Page 32: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

20

No capítulo seguinte tratar-se-á sobre o assédio moral na

relação de emprego, os sujeitos dessa relação, bem como suas espécies e

características.

Page 33: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

CAPÍTULO 2

ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

2.1 SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL

A conduta, ato ou comportamento que causa o sofrimento

psicológico na vítima pode partir do empregador ou do superior hierárquico

subordinado a este, de algum colega de serviço ou até mesmo de um

subordinado contra um superior hierárquico. Por outro lado, a vítima da

hostilização normalmente é o empregado subordinado ao assediador63.

Para o operador de direito é importante analisar e conhecer

os envolvidos no assédio moral.

2.1.1 Assediador

O assediador ou agressor, também chamado de sujeito

ativo do assédio moral, tanto pode ser uma pessoa quanto um grupo de pessoas.

A doutrina é unânime em traçar o perfil psicológico do assediador como a de uma

pessoa “perversa”, que se utiliza de meios perversos para se defender, mas não

se trata de uma descarga de agressividade de um indivíduo vítima do estresse ou

das condições adversas no trabalho ou mesmo pressão que sofre no mesmo

ambiente, tampouco uma perda de controle, mas sim uma vontade de dominar

sua vítima64.

63 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 42. 64 Disponível em < http://www.boletimjuridico.com.br/curtas/materia.asp?conteudo=120 >

Acessado em 27 de jul.2006.

Page 34: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

22

O perfil psicológico do assediador foi traçado com clareza

por Marie-France Hirigoyen65. Em primeiro lugar, a personalidade do assediador é

narcísica. Como tal, a autora descreve a pessoa que apresenta, pelo menos,

cinco dos seguintes comportamentos:

- o sujeito tem um senso grandioso da própria importância;

- é absorvido por fantasias de sucesso ilimitado, de poder;

- acredita ser “especial” e singular;

- tem excessiva necessidade de ser admirado;

- pensa que tudo lhe é devido;

- explora o outro nas relações interpessoais;

- não tem a menor empatia;

- inveja, muitas vezes, os outros;

-dá provas de atitudes e comportamentos arrogantes.

Os agressores são pessoas que não demonstram qualquer

sentimento de culpa, pelo contrário, crêem estar fazendo alguma coisa boa e dão

aos outros a culpa convencidos de haver apenas reagido a uma provocação; são

aqueles que entre duas alternativas de comportamento, escolhem sempre aquela

mais agressiva e também aqueles que conhecem e aceitam passivamente as

conseqüências negativas da violência moral que fere a vítima 66.

Esclarecedor é o perfil do narcisista apresentado por

Hirigoyen:

65 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral : a violência perversa no cotidiano, p. 142. 66 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 63.

Page 35: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

23

Os grandes perversos são também seres narcisistas e, como tal, vazios, que se alimentam da energia vital e da seiva do outro. O perverso narcisista depende dos outros para viver; sente-se impotente diante da solidão, por isso, agarra-se a outra pessoa como verdadeira sanguessuga. Esta espécie é movida pela inveja e seu objetivo é roubar a vida de suas vítimas. Como sujeito megalômano, o perverso tem um senso grandioso da própria importância, é absorvido por fantasias de sucesso ilimitado e de poder. Acredita ser especial e singular, pensa que tudo lhe é devido; tem excessiva necessidade de ser admirado, e age como um vampiro. Não tem empatia, alimenta-se da energia dos que se vêem seduzidos pelo seu charme; sente profunda inveja daqueles que parecem possuir coisas que lhe faltam, ou que simplesmente sabem extrair prazer da vida. São críticos ferinos; sentem prazer em criticar os outros, assim, provam-se onipotentes, diante da nulidade dos outros. Vazios e despossuídos de subjetividade, os perversos são seres irresponsáveis; por isso, ocultam-se, jogando os seus erros e limitações nos outros. Afinal, tudo que acontece de mau é sempre culpa dos outros67.

Os perversos narcisistas, ainda de acordo com Marie-

France Hirigoyen, para aceitarem-se, têm que vencer e destruir outrem. Sentem-

se felizes com o sofrimento alheio. Agem como parasitas que sugam e que

vampirizam a qualidade que existe no outro e da qual desejam apropriar-se,

porque dela se sentem desprovidos e, por isso, inferiorizados; motivo

determinante de sua conduta descambada na inveja, e seu objetivo, a

apropriação. A inveja, explica a autora, enquanto pesar e descontentamento

diante da felicidade alheia e, ao mesmo tempo, enquanto cobiça do que é do

outro, tem como conseqüência lógica a apropriação e, insatisfeito mesmo assim,

a destruição de quem possui o bem que é cobiçado68.

Márcia Novaes Guedes69, em seu livro Terror Psicológico

no Trabalho, identificou algumas denominações para os assediadores:

- O instigador – É o perverso clássico do assédio moral. Aterroriza a vítima propositalmente, não a deixando em paz. Está sempre

67 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano , p. 144. 68 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano , p. 146-147. 69 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 65-68.

Page 36: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

24

buscando novas formas de ataque e surpreendendo com sua perversidade;

- O casual – Surge a partir de um desentendimento sem sentido, fruto do cansaço, do estresse, do nervosismo normal dentro do local de trabalho. O vencedor, entretanto, escolhe prosseguir o conflito, destruindo o adversário que se torna vítima. Para esse tipo de agressor, a vítima ideal é aquela emotiva e com dificuldade de controlar suas reações;

- O colérico – Não tem tolerância para com os outros. Descarrega o seu mau humor de forma descontrolada diante dos colegas, mas também é capaz de se recompor e retornar ao seu trabalho como se nada tivesse acontecido;

- O megalômano – Possui uma idéia errada de si mesmo. Tem um senso grandioso da própria importância. O ponto fundamental do seu caráter é a ausência de consciência do seu próprio valor. Imagina-se singular e poderoso;

- O frustrado – Enfrenta as frustrações corriqueiras da vida com uma excessiva dose de inveja e ciúme diante dos outros, pois para ele os outros são inimigos porque não sofrem dos seus problemas;

- O sádico – Ao ferir moralmente uma pessoa, a fim de destruí-la, o sádico sente prazer e, na realidade, a pressão exercida sobre a vítima é para ele um estímulo para continuar sua ação;

- O puxa-saco – Se comporta como um tirano diante dos seus pares, mas como um escravo diante dos superiores;

- O tirano – É certamente o pior tipo de agressor moral. Pratica o assédio moral apenas pelo gosto de rebaixar e humilhar a vítima. Seus métodos são freqüentemente muito cruéis. É um ditador que sente prazer em escravizar os outros;

- O aterrorizado – A razão do terror desse tipo de agressor é a competição. Ele entra em pânico ante o simples pensamento de que alguém possa demonstrar-se melhor do que ele. Agride sem piedade;

Page 37: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

25

- O invejoso – Aqui não se trata de inveja ocasional, que é uma fraqueza humana. Trata-se do invejoso crônico, vazio, obsessivamente preocupado com as variações do seu ambiente externo. Ele não aceita que outro seja melhor ou mais afortunado do que ele;

- O pusilânime – é o sujeito que, numa situação de assédio moral, geralmente, age como cúmplice do agressor: é de fato muito medroso das conseqüências de sua ação para agir de modo independente e direto, daí por que prefere ajudar o verdadeiro agressor;

Analisando-se as denominações acima se pode verificar

que apesar de diferentes, os tipos têm sempre o mesmo objetivo, que é de

humilhar, destruir e acabar com a auto-estima da vítima e que terminam afetando

a saúde física e mental da pessoa agredida, desencadeando num pedido de

demissão ou até mesmo num suicídio.

2.1.2 Assediado

O assediado é também chamado de vítima ou sujeito

passivo do assédio moral, e é assim definido pela pesquisadora Maria Aparecida

Alkimin:

Vítima ou sujeito passivo do assédio moral é aquele que sofre agressões reiteradas e sistemáticas, visando hostilizá-lo, inferiorizá-lo e isolá-lo do grupo, comprometendo sua identidade, dignidade pessoal e profissional; além dos danos pessoais que somatiza e reverte em dano à saúde mental e física, o que acaba gerando, conseqüentemente, incapacidade para o trabalho e afastamento, desemprego, depressão e até o suicídio. 70

As vítimas do terror psicológico no trabalho são os

empregados com um senso de responsabilidade quase patológico; são pessoas

70 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 45-46.

Page 38: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

26

genuínas, de boa-fé; geralmente são pessoas bem educadas e possuidoras de

inúmeras qualidades profissionais e morais71.

Márcia Novaes Guedes traz em seu livro a seguinte

definição:

A vítima é uma pessoa que mostra sintomas de doença, debilita-se e se ausenta do trabalho por esta razão. É golpeada pelo estresse psíquico ou sintomas psicossomáticos, sofre de depressão e pensa no suicídio. Define seu papel em termos passivos. Se por um lado está convencida de não ter culpa, doutro lado se crê uma trapalhona. Demonstra falta de confiança em si, indecisão e um sentido de desorientação geral. Recusa qualquer responsabilidade pela situação ou se acusa destrutivamente72.

Segundo a psicóloga Marie-France Hirigoyen73, há certos

tipos de empregados que devido à sua personalidade ou atividade no grupo de

trabalho se tornam presas fáceis para se tornarem vítimas do assédio moral:

aqueles que exercem posição de liderança, como o representante sindical e os

empregados com mais de 40 anos, postos que são tidos como menos produtivos

e com dificuldade de ajustamento e adaptação às mudanças e reestruturações,

ou até mesmo por possuírem alto salário, enquanto podem ser substituídos por

mão-de-obra barata e jovem. Além disso, o empregador acredita que empregados

nessa faixa etária estão mais propensos a doenças e atestados médicos.

Furtado ainda acrescenta:

[...] ante a fragilidade ínsita à idade, a violência moral encontra terreno propício perante o idoso, sendo de fácil dedução que aquele que se encontra debilitado por conta da idade é presa fácil para o que, desonestamente, quer-lhe retirar vantagem, com escudo na pressão psicológica, de mais fácil consecução em relação ao depauperado74.

71 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p 69. 72 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 70. 73 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho- Redefinindo o Assédio Moral, p. 219-225. 74 FURTADO, Emmanuel Teófilo. Preconceito no Trabalho e a Discriminação por Idade . São

Paulo: LTr, 2004. p.304.

Page 39: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

27

Neste mesmo raciocínio complementa Coutinho:

Fato é que as pressões psicológicas são usadas tanto para afastar da empresa aquele trabalhador que não se adapta ao modelo de gestão, como para conformá-lo aos objetivos da organização, fixados em torno do aumento da produtividade e sua resultante, o lucro. Tais pressões também são utilizadas contra os empregados que gozam de estabilidade de emprego - representante sindical, cipeiro, acidentado do trabalho, ou empregada grávida - sempre com o intuito de contaminar o ambiente de trabalho, tornando insuportável sua permanência na empresa75.

Considerando-se os aspectos discriminatórios, dados

coletados por Marie-France76 apontaram que as mulheres são as maiores vítimas

do assédio moral, que, inclusive, pode evoluir e chegar ao assédio sexual, sendo

70% dos casos de assédio dirigidos contra mulheres e 30% contra homens, os

quais são mais resistentes e menos propensos a pedir ajuda externa. No Brasil, a

psicóloga Margarida Maria Silveira Barreto afirmou em sua dissertação de

mestrado77 que dos 2.072 trabalhadores entrevistados, 42% (870) foram vítimas

de humilhações no local de trabalho, sendo 494 mulheres e 370 homens.

Também são vítimas em potencial as pessoas

transparentes e apegadas à ordem, pois estas pessoas julgam o próximo por seu

próprio comportamento. Analisam sempre se de alguma forma não deram causa

ao problema. Assim preleciona Alkimim:

Instalado o processo de assédio moral, o sujeito ativo visa destruir a vítima e afastá-la da organização do trabalho, vítima que, a princípio, não acredita na perversidade do sujeito, imagina-se culpada e busca em si suas falhas, tenta uma melhor solução para evitar o desemprego e a instabilidade do clima de trabalho,

75 COUTINHO, Maria Luiza Pinheiro. Discriminação na Relação de Trabalho : uma afronta ao

princípio da igualdade. Rio de Janeiro: AIDE Editora, 2003.p.49 76 Mal-Estar no Trabalho - Redefinindo o Assédio Moral, p. 99. 77 BARRETO, Margarida Maria Silveira. Uma Jornada de Humilhações . 2000. Dissertação

(Mestrado em Psicologia Social). Pontifícia Universidade Católica de são Paulo, São Paulo, 2000, p. 127.

Page 40: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

28

podendo apresentar queda na produtividade pelo desgaste emocional, que evolui para gerar stress, fadiga e outros efeitos maléficos sobre a saúde física e mental em razão da somatização78.

O tipo ideal de vítima pode ser classificado da seguinte

maneira, conforme preconiza Márcia Novaes Guedes79:

- O distraído – é aquele que não se dá conta de que a situação em torno mudou e não está em condições de avaliá-la correta e realisticamente;

- O prisioneiro – Esse tipo de vítima não encontra em si mesma a capacidade de escapar da violência, permanecendo presa à situação e se deixando arrastar pelo evento, sem reagir;

- O paranóico – Aquele que acredita e vê o perigo por toda parte. São geralmente pessoas inseguras, auto-sugestionáveis e susceptíveis;

- O passivo dependente – Espera muito reconhecimento por parte dos colegas e seu caráter servil pode despertar a antipatia daqueles. É uma vítima muito sensível;

- O hipocondríaco – é o tipo que não tem condições de suportar o peso subjetivo que o trabalho lhe causa, e por isso se lamenta continuamente do esforço que faz para desenvolvê-lo, até provocar nos colegas uma antipatia que evolui para o isolamento, degenerando para o assédio moral;

- O camarada - Esse tipo não tem problemas de relacionamento com os colegas, razão pela qual goza de um alto grau de popularidade. Esse comportamento, entretanto, poderá despertar a inveja de outros;

- O servil – é o bajulador do chefe. Tudo faz para obter a plena satisfação do chefe. Uma personalidade assim, atrai, sem dúvida, muitos inimigos;

78 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 47. 79 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 71-74.

Page 41: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

29

- o sofredor – é uma pessoa que tende para a depressão e para a insatisfação. Cansados das queixas, os colegas não o levam a sério, o que facilita a ação do perverso, que tem mais chances de executar sua agressão impunemente;

- O sensível – Trata-se de uma pessoa egocêntrica, que tem uma necessidade doentia de reconhecimento. Seu equilíbrio precário rompe-se com facilidade diante uma advertência;

- O introvertido – É uma pessoa com extrema dificuldade de se relacionar com os outros. É interpretado pelos colegas como uma pessoa de comportamento arrogante e hostil, assim desencadeando a ação perversa.

2.1.3 Espectadores

Numa empresa, o número de pessoas envolvidas

indiretamente com o assédio moral é grande. Os espectadores são assim

definidos por Márcia Novaes Guedes:

Espectadores são todas aquelas pessoas, colegas, superiores, encarregados da gestão pessoal, que, querendo ou não, de algum modo participam dessa violência e a vivenciam ainda que por reflexo. Dentre os espectadores distinguem-se os conformistas passivos e os conformistas ativos. Os conformistas são espectadores não envolvidos diretamente na ação perversa, mas têm sua responsabilidade porque nada fazem para frear a violência psicológica desencadeada pelo sujeito perverso, ou, muitas vezes, atuam ativamente, favorecendo claramente a ação do agressor80.

Ainda segundo a autora, o espectador conformista ativo não

age frontalmente, mas lateralmente, no confronto com a vítima. São aqueles que

80 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 68.

Page 42: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

30

praticam o assédio moral, mas não são os adversários diretos da vítima. Eles

ajudam o verdadeiro agressor a destruir mais rapidamente a vítima81.

2.2 ESPÉCIES DE ASSÉDIO MORAL

Quanto às espécies, o assédio moral se classifica em:

vertical descendente (parte do superior em relação aos seus subordinados);

horizontal simples ou coletivo (parte de um ou mais trabalhadores em relação ao

colega de serviço); vertical ascendente (de um ou mais assalariados em relação

ao superior hierárquico).

2.2.1 Assédio moral vertical descendente

Esse é o tipo mais freqüente de terrorismo psicológico. É

proveniente do empregador propriamente dito ou de qualquer outro superior

hierárquico (diretor, gerente, assessor, chefe, supervisor etc.) que receba a

delegação do poder de comando82.

Márcia Novaes Guedes entende e define o assédio moral

descendente da seguinte maneira:

Verifica-se o assédio moral do tipo vertical durante a execução do contrato de trabalho, quando a violência psicológica é praticada de cima para baixo, deflagrada pela direção da empresa ou por um superior hierárquico contra o empregado. O grau de subordinação do empregado é irrelevante; no contrato de emprego, a sujeição do empregado é a priori, pois teme perder o emprego. Nesta espécie de terror, a ação necessariamente não precisa ser deflagrada e realizada pelo chefe, mas pode este contar com a cumplicidade dos colegas de trabalho da vítima e por meio destes a violência pode se desencadeada83.

81 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 68. 82 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 61. 83 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 41-42.

Page 43: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

31

O objetivo do assédio moral cometido por superior

hierárquico, em regra, é eliminar do ambiente de trabalho o empregado que tenha

características que representem uma ameaça ao superior, no que tange ao seu

cargo, e também o empregado que, por qualquer fator, não se adapta à

organização produtiva, ou que esteja doente ou debilitado. Igualmente, esta

espécie de assédio moral pode ser praticada com o objetivo de eliminar custos e

forçar o pedido de demissão84.

Sônia A. C. Mascaro Nascimento posiciona-se no mesmo

sentido: para ela o assédio moral descendente instrumentaliza estratégias

empresariais de eliminação a que uma empresa recorre quando pretende afastar

determinado funcionário indesejável, situação em que se verifica o “ abuso de

direito do poder diretivo e disciplinar ”, por meio do qual o agressor objetiva

esquivar-se das obrigações trabalhistas, forçando a auto-exclusão do

empregado85.

Argumenta Marie-France Hirigoyen, que o assédio moral

vertical descendente também encontra terreno fértil nas empresas que sofrem da

ilusão de que quanto maior a pressão, maior a rentabilidade, ignorando o fato de

que funcionários insatisfeitos e infelizes produzem menos e são mais suscetíveis

a erros, a acidentes e a afastamentos por doença. Segundo ela, é bastante

comum o chefe recorrer ao assédio moral como meio de sentir-se valorizado,

compensar a sua “fragilidade identitária” e a sua necessidade de dominar, o que o

leva a tomar atitudes abusivas, como impingir sobrecarga de trabalho, impor a

prática de jornadas extenuantes ou fazer exigências desnecessárias. Essa falta

de visão empreendedora, alerta, pode contaminar todos os níveis de

gerenciamento, produzindo o que chama de efeito cascata, com a repetição do

assédio desde os mais altos postos até a menor chefia na escala hierárquica da

empresa86.

84 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 62-63. 85 NASCIMENTO, Sônia A. C.Mascaro. O assédio moral no ambiente do trabalho. Revista LTr-

Legislação do Trabalho: publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, São Paulo,v.68,n.8,p.923.

86 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano, p. 82-83.

Page 44: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

32

Nessa espécie de assédio moral, a vítima se sente mais

isolada e sente dificuldades para achar a solução do problema,

consequentemente, trazendo mais danos à saúde87.

Marie-France Hirigoyen divide o assédio moral vertical

descendente em dois sub-grupos:

- assédio perverso 88, cujo objetivo é eliminar o outro para, com isso, enaltecer seu próprio poder. É típico de assediadores perverso-narcisistas;

- assédio estratégico,89 aquele “que se destina a forçar o empregado a pedir as contas e assim contornar os procedimentos legais de dispensa”.

Ainda sobre o assédio estratégico, Márcia Novaes Guedes

afirma que, nesse caso, a vítima é duplamente golpeada, pois além de sofrer

pesadas humilhações, é completamente esvaziada dos elementos essenciais que

informam sua profissão, e, consequentemente, sua personalidade90.

2.2.2 Assédio moral horizontal

O assédio horizontal é a perseguição desencadeada pelos

colegas de trabalho, podendo ocorrer de um grupo contra outro, de um colega

contra outro ou de um grupo contra determinado indivíduo.91 Tem como suas

87 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 51. 88 Marie-France Hirigoyen, a respeito da Perversão, define que essa é oriunda “do latim per-

vertere : virar ao contrário, revirar, definida como transformação do bem em mal. Atualmente, para o senso comum, a palavra perverso subentende um juízo moral ”. HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano, p. 41.

89 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-estar no trabalho : Redefinindo o Assédio Moral p.112. 90 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 40. 91 Marie-France apresenta o relato do seguinte caso que exemplifica a definição de Assédio Moral

Horizontal: “Amélia começa a trabalhar em uma pequena empresa como assessora comercial. Nicole, a colega que ocupa a mesma mesa junto da sua, é encarregada de ensinar-lhe o trabalho. As duas fazem um trabalho equivalente. Quando Amélia faz perguntas sobre um programa de computador,Nicole resmunga, dizendo que não tem o dia todo para ficar à disposição dela e, em seguida dá-lhe explicações rapidíssimas, de um jeito que Amélia nunca consegue anotar o que é dito. Se Amélia pergunta de novo, Nicole adota um ar impaciente: ‘ eu já lhe expliquei isso!’ Após várias semanas,Amélia surpreende Nicole falando de seus erros aos

Page 45: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

33

causas mais imediatas a competitividade, a preferência pessoal do chefe, a

inveja, o preconceito racial, a xenofobia, razões políticas ou religiosas, a

intolerância pela opção sexual ou o simples fato de a vítima ser ou comportar-se

de modo diferente dos demais colegas. 92 Manifesta-se através de brincadeiras

maldosas, gracejo, piadas, grosserias, menosprezo, gestos obscenos, isolamento

etc93.

Segundo Marie-France Hirigoyen, a motivação da violência

entre pares surge do fato de que os grupos tendem a nivelar os indivíduos e têm

dificuldade em conviver com a diferença, recusando-a, então, por

comportamentos nitidamente discriminatórios. Ainda segundo a autora, um grupo

não constitui o somatório dos comportamentos individuais de seus integrantes,

apresenta-se como um ente novo e diverso, e que tende a nivelar os indivíduos

que o compõem, ensejando também novas formas de comportamento coletivo.

Expõe também que o comportamento de um indivíduo difere quando o mesmo faz

parte de uma coletividade. Um sujeito pacífico pode praticar atos de violência por

influência do grupo a que está inserido. Nas empresas não é diferente94.

Um dado muito oportuno é posto em relevo pela magistrada

Márcia Novaes Guedes, ao mencionar um aspecto cultural do assédio moral

horizontal no Brasil. Comenta a juíza que:

(...) no caso brasileiro, a ausência de políticas públicas capazes de gerar um desenvolvimento calcado em justiça social, nas regiões do Norte e Nordeste, obriga a população a emigrar para o Sul e o Sudeste do país, em busca de emprego, o que torna freqüentes os casos de humilhações e assédio moral por conta do racismo e da xenofobia. Reflexos disso colhemos no fato de que,

superiores e comentando: ‘ Decididamente, ela não aprende depressa! Eu até chego a duvidar que ela tenha trabalhado com informática antes! ’ Ela termina se aproveitando de um erro em um relatório financeiro para acusar Amélia de desonestidade e fraude. De início, Amélia não compreende a razão do comportamento tão agressivo da colega. Ela reflete bastante e tenta ser mais gentil, até o dia em que encontra a secretária precedente , que havia pedido demissão em conseqüência da hostilidade de Nicole. Então, Amélia se dá conta de que não é sua culpa o fato de a colega ser tão hostil ” . HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho : Redefinindo o Assédio Moral, p. 113.

92 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 40. 93 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 64. 94 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho : Redefinindo o Assédio Moral, p. 37.

Page 46: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

34

em São Paulo, entre os assalariados, quase todo nordestino é designado de “baiano”, ainda que tenha nascido em Pernambuco. Certos instrumentos de trabalho são igualmente conhecidos com a alcunha de “baiano”, e qualquer lapso ou gafe no ambiente de trabalho é designada como “baianada” 95.

O assédio moral cometido na condição horizontal agride os

direitos de personalidade e dignidade do empregado assediado, retirando da

empresa o espaço de sociabilidade, afeto, solidariedade e companheirismo.

2.2.3 Assédio moral vertical ascendente

É uma espécie rara de assédio moral, que parte de um ou

vários subordinados contra o superior hierárquico. Normalmente, é praticado

contra superior que adota posturas autoritárias e arrogantes, ou aquele que não

consegue manter o domínio sobre o(s) trabalhador(es), tendo suas ordens

desrespeitadas ou deturpadas, gerando o fortalecimento do(s) assediador(es)96.

Márcia Novaes Guedes conta o seguinte caso de assédio

moral ascendente, extraído do mundo forense:

Uma jovem bacharela em direito, funcionária de um Tribunal, foi nomeada para ocupar cargo de Diretoria de Secretaria numa Vara do interior. Ao chegar ao fórum foi recebida com hostilidade pelo corpo de funcionários, cuja média de idade girava em torno dos 40 anos. Paulatinamente, foi percebendo que suas determinações para o serviço não era observadas, e as hostilidades foram evoluindo para atitudes de franco desrespeito e deboche por parte de alguns funcionários. Apesar do estresse e da insônia que passou a sofrer, a capacidade e o autocontrole da jovem diretora, bem como o apoio do juiz foram decisivos para que preservasse seu cargo e sua autoridade97.

95 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 41. 96 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 65. 97 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 42.

Page 47: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

35

2.2.4 Assédio moral misto

É aquele estabelecido numa relação horizontal, ou seja,

entre colegas, combinado com a omissão e conivência de superiores

hierárquicos98.

Alia o assédio vertical desentende com o horizontal,

conjuntamente.

2.3 CARACTERÍSTICAS DO ASSÉDIO MORAL

O assédio moral se caracteriza pela presença de dois

requisitos fundamentais que são a duração no tempo e o objetivo de destruir a

vítima, e se desenvolve por meio de um conjunto de atos voltados para três

esferas da vida: comunicação, reputação e prestação de trabalho. Na primeira

esfera é feito terrorismo por telefone, a vítima é tratada aos berros e gritos. Na

segunda, o agressor tem como objetivo derrubar a auto-estima da vítima,

criticando seu modo de ser, suas atitudes e utilizando-se de vocabulário rasteiro,

derrisão e frases de duplo sentido. Na terceira e última esfera a intenção é

golpear a profissionalidade da vítima, seu trabalho é depreciado. 99

Caracteriza-se, também, pela degradação deliberada das

condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos

chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjetiva

que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização.

A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser

hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos

pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem também

humilhados associado ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços

afetivos com a vítima e, freqüentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos

do agressor no ambiente de trabalho, instaurando o ’pacto da tolerância e do

98 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 52. 99 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 34.

Page 48: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

36

silêncio’ no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e

fragilizando, ’perdendo’ sua auto-estima100.

Hirigoyen cita como características do assédio moral: a

recusa do indivíduo em aceitar alguém com algum traço diferente de sua

personalidade; o estímulo à rivalidade entre empregados promovido pela própria

empresa mediante seus prepostos; a exploração do medo dos trabalhadores

diante do desemprego por meio do uso de ameaças de demissões101.

Complementando a idéia citada acima, a psicóloga francesa

comenta:

A rivalidade é uma alavanca de que as empresas se servem, bastante cinicamente, para se livrar de alguém incômodo: joga-se uma pessoa contra outra, a fim de que uma delas decida pedir as contas102.

Assim sendo, percebe-se que o assédio moral caracteriza-

se por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que se exterioriza

através do uso de violência psicológica contra a vítima e sua dignidade que, de

forma repetitiva e prolongada, a expõe a situações vexatórias, seja em seu

ambiente de trabalho, familiar ou educacional.

2.4 ASSÉDIO MORAL COMO DANO PESSOAL

As humilhações que são dirigidas sistematicamente contra o

empregado atingem a esfera de sua vida íntima e de sua vida profissional,

maculando seus direitos de personalidade, com graves conseqüências à sua

integridade físico-psíquica, afetando sua auto-estima e produtividade, podendo,

inclusive, refletir-se na esfera patrimonial103.

100 http://www.assediomoral.org, acesso em 27 ago.2008. 101 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho : Redefinindo o Assédio Moral, p. 38-43. 102 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral, p. 41. 103 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 85.

Page 49: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

37

Segundo a psicóloga Margarida Barreto, o assédio “gera

grande tensão psicológica, angústia, medo, sentimento de culpa e autovigilância

acentuada. Desarmoniza as emoções e provoca danos à saúde física e mental,

constituindo-se em fator de risco à saúde nas organizações de trabalho” 104.

Esse sofrimento psíquico gerado pelo assédio moral,

conduz o assediado a um quadro de depressão com total perda de identidade e

dos próprios valores, com risco até de suicídio105.

A pesquisa realizada pela médica brasileira Margarida

Barreto revela que, embora as mulheres estejam mais expostas e,

consequentemente, sejam mais humilhadas do que os homens, são eles,

entretanto, que pensam mais em suicídio. Todos os 376 homens entrevistados

admitiram que, além de usar drogas, especialmente o álcool, pensaram na

possibilidade ou tentaram cometer suicídio. Nos homens, ainda segundo a

médica, é muito comum o desejo de vingança, enquanto as mulheres passam a

chorar por tudo106.

O assédio moral é um dos maiores fatores de origem do

stress profissional que, por sua vez, pode evoluir para desencadear diversos tipos

de doenças no trabalhador, podendo trazer conseqüências traumáticas e até

mesmo uma desestabilização permanente107.

Márcia Novaes Guedes delimita alguns efeitos nefastos

para o organismo submetido ao assédio moral:

104 BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: uma jornada de

humilhações . São Paulo: EDUC, 2006, p. 140. 105 Há pesquisas que informam que a violência moral no trabalho não só gera, mas também

agrava doenças psicossomáticas, e, segundo pesquisa realizada no Brasil, 18,3% dos trabalhadores tentaram o suicídio, enquanto todos os entrevistados pensaram em suicídio. (Informação retirada da Cartilha Assédio Moral-Violência psicológica que põe em risco sua vida). Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas, Plásticas e Similares de São Paulo e Região, Coleção Saúde do Trabalhador, n.6, p 12. , apud ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 86.

106 www.assediomoral.org, acesso em 27 ago.2008. 107 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral , p. 164.

Page 50: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

38

Os distúrbios podem recair sobre o aparelho digestivo, ocasionando bulimia, problemas gástricos diversos e úlcera. Sobre o aparelho respiratório a queixa mais freqüente é a falta de ar e sensação de sufocamento. Sobre as articulações podem ocorrer dores musculares, sensação de fraqueza nas pernas, sudorização, tremores, como também dores nas costas e problemas de coluna. Sobre o cérebro verificam-se ânsia, ataques de pânico, depressão, dificuldade de concentração, insônia, perda de memória e vertigens. Sobre o coração os problemas podem evoluir de simples palpitações e taquicardias para o infarto do miocárdio. E o enfraquecimento do sistema imunológico reduz as defesas e abre portas para diversos tipos de infecções e viroses108.

Os danos são tão graves que podem levar a vítima a ter até

mesmo amnésia. Além do mais, o assediado ainda passa pelo estresse pós-

traumático, que é gerado por um evento violento que marca profundamente o

psíquico da vítima. O assédio moral, assim, pode ocasionar um estado depressivo

que em alguns indivíduos gera a alienação e uma total solidão; enquanto outros

passam a agir agressivamente.109 Quanto a esta fase, Marie-France Hirigoyen

afirma:

É neste caso que podemos falar de “assassinato psíquico”, a pessoa continua viva, mas se tornou uma marionete. Daí em diante, carrega em si um pedaço do agressor. Incorporou suas palavras110.

Os danos na esfera emocional atingem a vida familiar e

social da vítima, desencadeando crise existencial, crise de relacionamento e crise

econômica. A relação familiar arruína-se na medida em que esta é a válvula de

escape da vítima, que passa a descarregar sua frustração nos membros da

família111. Assim como o assediado, a família desconhece as razões do conflito,

repassando então as mesmas condições do assedio moral praticado no trabalho.

108 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 108. 109 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 75. 110 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano , p. 176. 111 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 108.

Page 51: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

39

Não é raro que aqueles que foram vítimas do assédio, tenham como

conseqüência o fim de seus casamentos112.

A produtividade do empregado também á afetada pelo

assédio moral, pois ela está totalmente ligada à sua satisfação no trabalho.

Logicamente, se no ambiente de trabalho houver pressão psicológica, não haverá

condições de se produzir com qualidade113.

Hirigoyen demonstra em sua pesquisa, que o processo de

assédio moral na maioria das vezes culmina com a saída da vítima do emprego

num estado de saúde extremamente debilitado, o que acaba fazendo com que ela

fique sem condições físicas e mentais para se colocar no mercado. Segundo

Hirigoyen, em 36% dos casos de assédio moral a vítima é desligada da empresa;

em 20% destes, a pessoa é demitida devido a falhas; em 9% a demissão é

negociada; em 7% é a pessoa quem pede demissão; em 1% dos casos a pessoa

é colocada em pré-aposentadoria114.

Os danos do assédio moral, contudo, não se limitam apenas

à pessoa imolada, mas espraia-se, em termos de conseqüências econômicas,

para as empresas, no que diz respeito à sua produtividade e eficácia, e para o

próprio Estado, na área da saúde pública e no que concerne a aposentadorias

precoces115.

Saber dimensionar corretamente os danos gerados na

vítima, seja de ordem física, social ou econômica, ajudará o operador do Direito a

traçar a forma pela qual o assediado deve ser ressarcido e descobrir em que

limites.

O terceiro e último capítulo tratará sobre a responsabilidade

civil tanto do empregado quanto do empregador, bem como o direito à

indenização por danos morais.

112 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 71-72. 113 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 88. 114 HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho: Redefinindo o Assédio Moral , p. 120. 115 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho, p. 110.

Page 52: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

CAPÍTULO 3

RESPONSABILIDADE CIVIL DA CONDUTA

3.1 CONCEITO

A palavra “responsabilidade” tem sua origem no verbo latino

“respondere”, e significa a obrigação de alguém em assumir com as

conseqüências jurídicas de sua atividade116.

A responsabilidade civil decorre de um fato juridicamente

qualificado como ilícito, ou seja, um ato não desejado pelo Direito, pois é

praticado em ofensa à ordem jurídica, violando assim, direito subjetivo

individual117.

Segundo Maria Helena Diniz 118,

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa de animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva) ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva).

Pela responsabilidade civil, o agente que cometeu o ato

ilícito tem a obrigação de reparar o dano causado, buscando restaurar o status

quo ante. Caso tal obrigação não seja mais passível de reparação, é convertida

no pagamento de uma indenização (na possibilidade de avaliação pecuniária do

116 PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego , p. 21. 117 PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego , p. 24. 118 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. São Paulo:

Saraiva , 1995, p. 59.

Page 53: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

41

dano) ou de compensação (na hipótese de não se poder estimar

patrimonialmente este dano) 119.

Na concepção de Stoco120, “a responsabilidade civil traduz a

obrigação da pessoa física ou jurídica ofensora de reparar o dano causado por

conduta que viola um dever jurídico preexistente de não lesionar implícito ou

expresso na lei”.

Nas palavras de Venosa121:

O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deve arcar com as conseqüências de um ato, fato ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar.

Por fim, a responsabilidade civil vem definida pelo Código

Civil Brasileiro122 em seu art. 186 c/c art. 927, como: “Aquele que, por ação ou

omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda quem exclusivamente moral, comete ato ilícito”. E o art. 927,

“aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo”.

3.2 REQUISITOS FUNDAMENTAIS

A teoria da responsabilidade além de se fundamentar na

assertiva de que todo causador de dano tem a obrigação de repará-lo, tem ainda

como pressupostos: a ação ou omissão do agente; a culpa do agente quando

119 PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego , p. 24. 120 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2004, p. 120. 121 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. p. 14. 122 BRASIL, Código Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

Page 54: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

42

subjetiva a responsabilidade; a relação de causalidade e dano experimentado

pela vítima123.

É inconcebível a responsabilidade se não houver uma

relação de causalidade entre a ação ou omissão e o dano causado. Assim, se o

dano ocorreu por culpa exclusiva da vítima, não há responsabilidade por parte do

causador124.

3.2.1 Ação ou omissão do agente

Ação e omissão constituem, tal como no crime, o primeiro

momento da responsabilidade civil125.

Segundo Rui Stoco126, tem-se que “o coeficiente essencial

da ação é vontade”. Já a omissão, ainda conforme o autor, “é uma conduta

negativa que surge porque alguém não realizou determinada ação. A sua

essência está em não se ter agido de determinada forma”.

Frederico Marques apud Stoco127 traz a seguinte definição:

A omissão é uma abstração, um conceito de linhagem puramente normativa, sem base naturalística. Ela aparece, assim, no fluxo causal que liga a conduta ao evento, porque o imperativo jurídico determina um fazer para evitar a ocorrência do resultado e interromper a cadeia de causalidade natural, e aquele que deveria praticar o ato exigido, pelos mandamentos da ordem jurídica, permanece inerte ou pratica ação diversa da que lhe é imposta.

Tanto a ação quanto a omissão acarretam o dever de

indenizar128. 123 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002,

p. 50. 124 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. p. 50. 125 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 131. 126 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 131. 127 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 131.

Page 55: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

43

3.2.2 Culpa

A culpa traduz o comportamento equivocado da pessoa,

que não tem a intenção de lesar ou de violar direito, mas da qual se poderia exigir

comportamento diverso. Pode empenhar ação ou omissão e revelar-se através da

imprudência: comportamento exagerado, apressado ou excessivo; negligência:

quando o agente deixa de agir quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras

subministradas pelo bom senso, que recomendam cuidado e atenção; e imperícia:

a atuação profissional sem o necessário conhecimento técnico que compromete o

resultado e conduz ao dano129.

A respeito do conceito de culpa Aguiar Dias130 assinala:

A culpa é a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das conseqüências eventuais da sua atitude.

Marcel Planiol apud Stoco 131 afirma que a “a culpa é a

infração de uma obrigação preexistente, de que a lei ordena a reparação quando

causou dano a outrem”.

Esclarece Stoco132 que a culpa abrange o dolo e a culpa em

sentido estrito. Dispõe ainda o autor que:

Quando existe intenção deliberada de ofender o direito, ou de ocasionar prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, pleno conhecimento do mal e o direto propósito de praticá-lo. A intenção é o principal atributo do dolo, que se traduz na vontade dirigida a um fim. Esse fim pressupõe-se sempre ilícito, considerando que o agente ou quer obter vantagem, ainda que cause dano a outrem, ou objetiva

128 SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Assédio sexual – Responsabilidade civil. São Paulo: Juarez

de Oliveira, 2001, p. 73. 129 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 133. 130 DIAS. José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 405. 131 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 134. 132 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 135.

Page 56: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

44

apenas causar mal e lesar a vítima, sem o desiderato de beneficiar-se.

No dolo, portanto, há o ato intencional, o agente quer a

ação e o resultado, enquanto na culpa ele só quer a ação, mas não o resultado

lesivo.

3.2.3 Nexo de causalidade

O nexo causal constitui-se no vínculo, ligação ou relação de

causa e efeito entre a conduta e o resultado133.

Na responsabilidade civil estão presentes três elementos

essenciais: a ofensa a uma norma preexistente ou erro de conduta, um dano e o

nexo de causalidade entre uma e outro. Desta forma, o nexo causal se torna

indispensável, sendo fundamental que o dano tenha sido causado pela culpa do

sujeito134.

Sem a relação de causalidade não existe a obrigação de

indenizar, pois conforme afirma Gonçalves135, “se houve o dano, mas sua causa

não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de

causalidade e também a obrigação de indenizar”.

3.2.4 Dano

Conforme os ensinamentos de Maria Helena Diniz136, “o

dano pode ser definido como a lesão que, devido a um certo evento, sofre uma

pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico patrimonial

ou moral”. 133 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros

Editores, 1996, p. 48. 134 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil . p. 146. 135 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil . p. 27. 136 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. p. 49.

Page 57: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

45

Varela137 conceitua o dano da seguinte forma:

O dano é a perda in natura que o lesado sofreu, em conseqüência de certos fatos, nos interesses (materiais, espirituais ou morais), que o direito violado ou a norma infringida visam tutelar. É a lesão causada no interesse juridicamente tutelado, que reveste as mais das vezes a forma de uma destruição, subtração ou deterioração de certa coisa material ou incorpórea.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Pamplona Filho138

também traz um conceito jurídico-doutrinário de dano, e o encara como “a lesão

ou prejuízo que sofre uma pessoa, em seus bens vitais naturais – não

patrimoniais – ou em seu patrimônio valorado economicamente”.

Segundo entendimento generalizado da doutrina, e de resto

consagrado nas legislações, os danos são divididos em danos patrimoniais de um

lado, e danos morais ou extrapatrimoniais de outro.

O dano patrimonial refere-se às lesões ocorridas no

patrimônio material de alguém, entendido este como conjunto de bens e direitos

valoráveis economicamente, enquanto que os danos morais são o sofrimento

psíquico ou moral, as dores, as angústias e as frustrações infligidas ao

ofendido139.

Orlando Gomes140 distingue a lesão ao direito

personalíssimo, que repercute no patrimônio, da que não repercute dizendo o

seguinte:

Ocorrem as duas hipóteses. Assim, o atentado ao direito à honra e boa fama de alguém pode determinar prejuízos na órbita patrimonial do ofendido ou causar apenas sofrimento moral. A expressão dano moral deve ser reservada exclusivamente para designar o agravo que não produz qualquer efeito patrimonial (...).

137 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. p. 592. 138 PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego, p. 34. 139 CAHALI, Yussef Said. Dano moral . 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 21. 140 GOMES, Orlando. Obrigações. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1976. p. 332.

Page 58: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

46

Carlos Bittar apud Cahali141 qualifica o dano moral como:

(...) os danos em razão da esfera da subjetividade ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social).

E ainda o conceito de Yussef Said Cahali:

Tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral: não há como enumerá-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento; no desprestígio, na desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral142.

O dano é, portanto, a lesão (efeito) de um ato humano

ilícito, comissivo ou omissivo, decorrente de dolo ou culpa, que fere interesse

alheio juridicamente protegido, e pode ser tanto moral quanto patrimonial143.

3.3 TIPOS DE RESPONSABILIDADE

3.3.1 Objetiva

A responsabilidade objetiva independe de culpa, pois

aquele que através de sua atividade cria um risco de dano para terceiros, é

obrigado a repará-lo ainda que não se apure a ação culposa. Basta, então, que se

141 CAHALI, Yussef Said. Dano moral . p. 22. 142 CAHALI, Yussef Said. Dano moral . p. 465. 143 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. p. 28.

Page 59: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

47

evidencie a relação de causalidade entre o ato e o dano para configurar-se a

responsabilidade pela reparação144.

Para Rodrigues145:

A responsabilidade objetiva é fundada na teoria do risco, segundo a qual, aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros, deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e seu comportamento sejam isentos de culpa. A situação é examinada e se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, esta tem direito de ser indenizada por aquele.

Acerca da responsabilidade objetiva, elucida Stoco146:

A doutrina objetiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja a resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de causalidade entre uma e outro) assenta-se na equação binária cujos pólos são o dano e a autoria do evento danoso (...) o que importa para assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se dele emanou o prejuízo. Em tal ocorrendo, o autor do fato causador do dano é o responsável.

O autor ainda complementa sustentando que o argumento

que defende a responsabilidade objetiva, é que ela permite sempre reparar o

dano sofrido, mesmo naqueles casos em que, por um motivo qualquer, o lesado

não logra estabelecer a relação causal entre o seu prejuízo e a culpa do causador

deste147.

144 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. p. 54. 145 RODRIGUES, Silvio. Direito civil – responsabilidade civil. p. 11. 146 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 151. 147 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. p. 151.

Page 60: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

48

3.3.2 Subjetiva

A responsabilidade subjetiva apenas se concretiza se

houver dolo ou culpa por parte do causador do dano148.

A teoria da responsabilidade subjetiva embasa-se e

pressupõe uma conduta viciada pela culpa. Assim, estará o agente obrigado a

reparar o dano sempre que seus atos ou fatos violarem direito ou interesse alheio,

contanto que factível a imputação subjetiva149.

Na visão de Gonçalves150,

Diz-se ser subjetiva, a responsabilidade quando se esteia na idéia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa.

Conclui ainda o autor que a responsabilidade subjetiva

subsiste como regra necessária, sem prejuízo da adoção da responsabilidade

objetiva, em dispositivos vários e esparsos.

3.3.3 Contratual

A responsabilidade contratual, também dita negocial ou

obrigacional, deriva de inexecução de negócio jurídico unilateral ou bilateral,

resultando em ilícito contratual, ou seja, falta de adimplemento ou mora no

cumprimento de qualquer obrigação. É o resultado da violação de uma obrigação

anterior. Portanto, para que exista, é imprescindível a preexistência de uma

obrigação151.

148 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. p. 54. 149 MATIELO, Fabrício Zamprogna. Dano moral, dano material e reparação. P. 31. 150 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. p. 25. 151 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. p. 110.

Page 61: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

49

Nalin152 define que a responsabilidade contratual “consiste

na não violação de um dever contratual, previamente estabelecido em contrato,

que não deve ser quebrado pelo sujeito contratual”. O autor ainda evidencia que:

A essência da responsabilidade contratual está na espera do credor pela realização da prestação, à exceção da obrigação de não fazer, a qual não se realiza, ou é realizada defeituosamente, acarretando, o devedor, dano antijurídico em ofensa a direito relevante do credor, (...), surge a responsabilidade contratual do descumprimento do dever jurídico a que estava adstrito o devedor, oposto pelo qual se realiza o cumprimento, tendo, por conseqüência, inexecução ou execução inexata da prestação.

Oliveira153 complementa dizendo que “basta que haja

inadimplemento da obrigação para haver direito à reparação, que só se elide se

ocorrer força maior ou outra excludente de responsabilidade”.

3.3.4 Extracontratual

Leciona Oliveira154 sobre a responsabilidade

extracontratual:

A responsabilidade será extracontratual ou aquiliana se resultante da prática de ato ilícito, inexistindo vínculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma relação obrigacional ou contratual. A fonte dessa responsabilidade é a lesão a um direito, sem que entre ofensor e ofendido preexista qualquer relação jurídica.

No mesmo sentido, Gonçalves155 ensina que na

responsabilidade extracontratual o agente infringe um dever legal e não existe

nenhum vínculo jurídico entre a vítima e o causador do dano, quando este pratica

o ato ilícito. 152 NALIN, Paulo Roberto Ribeiro. Responsabilidade civil – descumprimento do contrato e dano

extrapatrimonial. p. 64. 153 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. p. 55. 154 OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. p. 55. 155 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. p. 22.

Page 62: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

50

Rodrigues156 reafirma a idéia dos autores acima citados

dizendo que na responsabilidade extracontratual “nenhum liame jurídico existe

entre o agente causador do dano e a vítima até que o ato daquele ponha em ação

os princípios geradores de sua obrigação de indenizar”.

A responsabilidade extracontratual, portanto, abrange a

violação dos deveres gerais de abstenção ou omissão, como os direitos reais, os

direitos de personalidade e os direitos de autor157.

3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADO/EMPREGADOR

O assédio moral, além das conseqüências trabalhistas para

o assediante (rescisão indireta no caso de assédio vertical e dispensa por justa

causa no caso de assédio horizontal e ascendente), engendra a responsabilidade

civil e patrimonial do agente causador da conduta ilícita e contrária ao

ordenamento jurídico.

Alkimin158 diz em sua obra que, em conformidade com a

sistemática de nosso Código Civil, o empregador que incidir na prática de assédio

moral cometerá ato ilícito e, conseqüentemente, deverá ser responsabilizado

diretamente pelos danos morais e materiais, sem prejuízo da sua

responsabilidade indireta pelos atos de seus empregados e prepostos (Código

Civil, art. 932, inciso III159 e Súmula 341 do STF160), cuja responsabilidade é

objetiva, ou seja, independe da existência de culpa do empregador.

156 RODRIGUES, Silvio. Direito civil – responsabilidade civil. p.09. 157 VARELA, Antunes. A responsabilidade do direito . 4. ed. São Paulo: Coimbra, 1982. p. 10. 158 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 107. 159 Art. 932: São também responsáveis pela reparação civil:

(...)

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

160 Súmula 341 do STF: “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado preposto”.

Page 63: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

51

Entretanto, a responsabilidade objetiva do empregador só

ocorrerá se o assediador for hierarquicamente superior ao assediado, caso em

que estará presente a culpa in eligendo e a culpa in vigilando, ou seja, a má

escolha pelo empregador de seus chefes e gerentes. Se assediador e assediado

possuírem a mesma situação hierárquica, o empregador só será responsabilizado

se tiver conhecimento do assédio e não tomar as providências devidas161.

Márcia Novaes Guedes162 elucida que no assédio moral

tanto se tem a responsabilidade civil por fato próprio (Código Civil, arts. 186 e

187), que é a ação voluntária do empregador (dolo e abuso de direito no assédio

moral estratégico), quanto se tem a responsabilidade civil pelo fato de outrem

(responsabilidade do empregador pelos atos dos empregados, serviçais e

prepostos quando agem no exercício do trabalho que lhes competir ou por

ocasião dele), verificável no assédio moral vertical, horizontal e ascendente.

Na modalidade de responsabilidade por fato próprio, pode-

se considerar a responsabilidade contratual do empregador quando pratica o

assédio moral, pois é fruto de manifesto inadimplemento das obrigações

contratuais (dever de não discriminar, rigor excessivo, denegrir a imagem pessoal

e profissional do empregado etc.), logo, esse inadimplemento contratual gera o

dever de reparação do dano moral163.

Nos casos em que ocorre o assédio moral entre dois

colegas de serviço, a responsabilidade civil do assediador será enquadrada como

extracontratual, que, como já visto, é aquela que gera o dever de indenizar por

fato culposo que não tem por base uma relação jurídica contratual entre as

partes164.

161 BARRETO, Marco Aurélio Aguiar. Assédio moral no trabalho: da responsabilidade do

empregador – perguntas e respostas . p. 62. 162 GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho , p. 112. 163 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 114. 164 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 115.

Page 64: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

52

Segundo Alkimin, o novo Código Civil prevê também o

direito de regresso contra o agente causador do prejuízo (Código Civil, art.

934)165, visando resguardar o interesse patrimonial daquele que não foi o autor

material do ato ilícito, como, por exemplo, o caso do empregador responsável

pela reparação do dano provocado por um empregado166.

No item subseqüente passar-se-á a abordar o tema relativo

ao direito de indenização.

3.5 DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL

Conforme leciona Ferreira167, a indenização por dano moral

será devida, pois o assédio moral causa a violação de direito e também dano,

ainda que exclusivamente moral, à pessoa assediada.

No mesmo diapasão, Alkimin acrescenta:

Uma situação de assédio moral poderá gerar tanto o dano moral como o dano material, quando, por exemplo, além de atingir a dignidade e personalidade da vítima, acaba por reduzir à condição de desemprego, com flagrante prejuízo econômico e até alimentar para a vítima do constrangimento168.

Conforme Glina e Garbin169:

O dano moral na relação trabalhista assegura que o empregado tem direito à intimidade, à honra e à imagem nas relações de trabalho, sendo que cada qual é autônomo. No que tange à relação contratual entre empregado e empregador, a possibilidade

165 Art. 934: “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago

daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz”.

166 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 107. 167 FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho, p. 117. 168 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 119. 169 GLINA, Débora Miriam Raab, GARBIN, Andréia de Conto. Assédio moral no trabalho:

aspectos conceituais, jurídicos e preventivos. Saúde, Ética & Justiça, São Paulo, 2005. p. 38.

Page 65: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

53

de prática de ato lesivo à honra e boa fama contra o empregado dá margem ao ressarcimento dos danos morais.

Para a configuração de dano moral trabalhista há a

necessidade de que: a) o autor do dano seja comprovadamente subordinado ao

empregador ou comitente; b) o ato tenha sido praticado pelo subordinado no

exercício da atribuição que lhe foi conferida pelo empregador ou em razão dela; c)

que esta pessoa subordinada tenha agido culposamente.

Corrobora Pamplona Filho170:

(...) tanto o empregado quanto o empregador (seja este pessoa física ou jurídica) podem ser sujeitos ativos ou passivos da obrigação de indenizar, quer se coloquem na condição de agentes causadores do dano, quer se apresentem como aqueles que tiveram lesada sua esfera de interesses extrapatrimoniais por ato ilícito praticado pela parte contrária.

Para Glina e Garbin171, “cumpre anotar que a doutrina

moderna prevê o dano moral nas situações de assédio moral. A relevância

jurídica decorre da ilícita finalidade de discriminar, marginalizar ou, de qualquer

outro modo, prejudicar o Trabalhador”.

Afirmam ainda que o assédio moral “permite a rescisão

indireta do contrato de trabalho, o afastamento por doença do trabalho e, quando

relacionado à demissão, a sua reintegração no emprego por nulidade absoluta do

ato jurídico” 172.

No nosso ordenamento pátrio, a CF expressa o direito à

personalidade em seu artigo 5º, inciso X:

170 PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego , p. 83. 171 GLINA, Débora Miriam Raab, GARBIN, Andréia de Conto. Assédio moral no trabalho:

aspectos conceituais, jurídicos e preventivos. p. 40 172 GLINA, Débora Miriam Raab, GARBIN, Andréia de Conto. Assédio moral no trabalho:

aspectos conceituais, jurídicos e preventivos. p. 46.

Page 66: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

54

São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Como visto, a norma constitucional de forma expressa

assegura o direito à dignidade da pessoa humana, tornando inviolável os direitos

de personalidade do indivíduo, além de estabelecer que a violação sujeitará o

infrator ao pagamento de indenização, sem prejuízo de eventuais implicações na

órbita penal que o caso venha a se refletir.

3.5.1 Fixação do valor da indenização

Em razão da subjetividade, um dos grandes problemas

enfrentados pelos os julgadores diante das questões que dizem respeito à

indenização da dor, da moral, da honra, dentre outras situações de cunho íntimo,

é a fixação do valor.

Dispõe Gonçalves173 que:

O problema da quantificação do dano moral tem preocupado o mundo jurídico, em virtude da proliferação de demandas, sem que existam parâmetros seguros para a sua estimação (...) a reparação do dano moral objetiva apenas uma compensação, um consolo sem mensurar a dor. Em todas as demandas que envolvem danos morais, o juiz defronta-se com o mesmo problema: a perplexidade ante a inexistência de critérios uniformes e definidos para arbitrar um valor adequado.

No caso do dano proveniente do assédio moral, a questão é

ainda mais delicada, visto que a vítima busca no trabalho a realização pessoal,

profissional e familiar, e toda essa realização o dinheiro não compra. Interessante

é a abordagem de Philippe Ravisy apud Alkimin174 sobre a questão:

Quando se aborda a questão da escolha da indenização mais adequada com as vítimas de um processo de assédio, a reação

173 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. p. 569. 174 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 119.

Page 67: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

55

delas é sempre a mesma: “Não é dinheiro que eu desejo, é poder trabalhar tranquilamente”, “por que eu deveria deixar a empresa e não ele?”, “Como vocês querem reparar três anos de depressão?”.

Essas observações mostram o quanto é difícil reparar um prejuízo em grande parte imaterial. Reparar integralmente o prejuízo sofrido pela vítima de um assédio significaria: a) que o autor do assédio fosse transferido ou demitido, isto é, que sofresse uma sanção; b)que todas as pessoas que tenham sido testemunhas dos atentados à dignidade da vítima fossem informadas dessa sanção; c) que a vítima seja indenizada pelas conseqüências danosas (tanto morais quanto pecuniárias) sofridas; d) que, finalmente, ela possa retomar seu lugar no trabalho e que a vida na empresa retome seu curso normal.

Para a estimação do valor do dano leciona Cahali:

(...) o juiz terá em conta as peculiaridades de cada caso concreto, fazendo incidir certos princípios informadores próprios da quantificação do dano moral em geral, ministrados pela doutrina e pela jurisprudência, seja em função da natureza e da função da reparação, seja igualmente tendo em vista a conduta do empregador e as condições pessoais das partes175.

No entendimento de Alkimin176, para a fixação do valor da

indenização serão consideradas as seguintes circunstâncias: intensidade da dor

sofrida pela vítima, gravidade e natureza da lesão, intensidade do dolo e grau da

culpa, bem como a condição econômica do agente causador do dano; a

possibilidade de retratação, o tempo de serviço prestado na empresa e a idade do

ofendido, o cargo e a posição hierárquica ocupada na empresa, a permanência

temporal dos efeitos do dano e, por fim, os antecedentes do agente causador do

dano.

Por derradeiro, cabe salientar que é preciso muita cautela

do magistrado ao fixar o valor da indenização, devendo apurar a situação com 175 CAHALI, Yussef Said. Dano moral. p. 491. 176 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 121.

Page 68: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

56

bastante razoabilidade e prudência, para que ao final, em sua sentença, não

cometa nenhuma injustiça.

3.6 JUÍZO COMPETENTE

A competência material da Justiça do Trabalho está

estabelecida no art. 114 da CF e foi sensivelmente ampliada com a Emenda

Constitucional n.º 45/04. Dispõe a CF:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o"; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, "a", e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

Diante do inciso VI do art. 114 da CF, está pacificada a

questão da competência material da Justiça de Trabalho para apreciar e decidir

litígios que envolvam dano moral decorrente da relação de trabalho.

Page 69: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

57

É oportuno citar a lição de Pedro Paulo Teixeira Manus

apud Alkimin177 sobre a competência da Justiça do Trabalho: “(...) toda a questão

que envolve empregado e empregador é da competência da Justiça do Trabalho,

ainda que a matéria de fundo seja outra que não estritamente trabalhista”.

Alkimin acrescenta:

Conjugando-se o disposto no art. 114 da CF, bem como o art. 5º, inciso X da mesma CF, concluímos que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar dissídio entre empregado e empregador, que envolva não apenas matéria trabalhista prevista na CLT, como também pedido de indenização por dano moral, que tenha decorrido da execução do contrato de trabalho, face à ampla garantia constitucional de reparação do dano moral, sendo que o texto constitucional não distingue ou limita a reparação apenas na esfera civil, e face à inovação da subsidiaridade da aplicação do direito comum à relação de emprego178.

Fica, portanto, demonstrada a competência da Justiça do

Trabalho para apreciar e julgar pedido de indenização e reparação por danos

morais decorrentes do assédio moral praticado na vigência do contrato de

trabalho.

Para um melhor entendimento dos temas tratados até aqui,

o subtítulo a seguir trará alguns entendimentos jurisprudenciais de nossos

Tribunais.

3.7 A VISÃO DOS TRIBUNAIS SOBRE O ASSÉDIO MORAL

Nos capítulos e subtítulos precedentes estudou-se o

assédio moral em suas mais variadas formas e, também, a indenização a que se

submetem os assediadores. Com vistas a dar praticidade ao que se leu

177 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 123. 178 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego , p. 123.

Page 70: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

58

anteriormente, transcrevem-se a seguir algumas ementas de acórdãos dos

Tribunais, relativamente às questões mencionadas.

a) Sobre o conceito e caracterização do assédio:

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL. Hipótese em que restou caracterizado o assédio moral,

justificando sua identificação como categoria jurídica específica em relação ao gênero dano moral. Repetição, ao longo do tempo (mais de um mês), de agressões veladas, denotadas pelas omissões sucessivas e diárias do empregador que deixava de ofertar trabalho ao seu empregado. Imposição abusiva da permanência do autor longe de suas funções, em local de exposição a colegas de trabalho, com conotação de punição velada. Situação humilhante e verdadeiramente opressiva, do que emerge claro o propósito final de conduzir o empregado à desestabilização psicológica. Inexistência de prova do eventual exercício de poder disciplinar pela reclamada, por suposta insubordinação. Valor fixado a título de indenização. (TRT – 4.ª Região – RO - 00101-2007-202-04-00-2 – Relatora Juí za Carmen Gonzalez – j. em 23.10.2008).

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. Para a

caracterização do assédio moral são necessários, além de outros fatores, a demonstração de atitude de ofensa à dignidade do trabalhador ou condição degradante que implique ato ilícito capaz de ensejar o pagamento de indenização, nos moldes previstos na Constituição Federal e legislação ordinária. (TRT – 4.ª Região – RO 01973-2007-701-04-00-2 – Relator Juiz Luiz Alber to de Vargas – j. em 24.09.2008).

A ementa imediatamente acima trata de empregado que

postula a reversão da demissão por justa causa, para despedida indireta,

alegando ter ficado cinco meses isolado dentro de um vestiário sem poder exercer

as suas funções, o que caracterizaria o assédio moral, por lesão a sua dignidade.

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. CONFIGURAÇÃO. O que é

assédio moral no trabalho? É a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas

Page 71: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

59

autoritárias, onde predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a Organização. A organização e condições de trabalho, assim como as relações entre os trabalhadores condicionam em grande parte a qualidade de vida. O que acontece dentro das empresas é fundamental para a democracia e os direitos humanos. Portanto, lutar contra o assédio moral no trabalho é contribuir com o exercício concreto e pessoal de todas as liberdades fundamentais. Uma forte estratégia do agressor na prática do assédio moral é escolher a vítima e isolá-la do grupo. (TRT – 17.ª Região – RO – 1142.2001.006.17.00.9 – Relator Juiz José Carlos Ri zk).

No caso, o autor ficou confinado em uma sala, sem ser-lhe

atribuída qualquer tarefa, por longo período, o que teve grande repercussão em

sua saúde, tendo em vista os danos psíquicos por ele sofridos. Os elementos

contidos nos autos conduzem à conclusão de que se encontra caracterizado o

assédio moral.

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. Considerando a utilização, a título

de motivação dos empregados, de linguagem ofensiva e humilhante, e de situações de ridicularização do trabalhador, entende-se que houve extrapolação do direito de direção do empregador, concebendo-o em face de sua limitação pelo respeito aos direitos personalíssimos do trabalhador. Não se trata, no caso dos autos, de pressão natural para obtenção de metas de produção de vendas, decorrente da atividade exercida pelo autor, mas de inequívoca conduta abusiva do empregador, de forma repetitiva, resultante na exclusão do empregado do seu meio social do trabalho. É inegável, assim, o assédio moral do qual decorrem danos à imagem, à honra, e à liberdade do trabalhador (artigo 5º, incisos V e X, da Constituição). Logo, devida a sua reparação (artigo 186 do Código Civil). (TRT – 4.ª Região – RO – 00278 – 2006 – 271 – 04 – 00 -2 – Relator Fabiano d e Castilhos Bertolucci – j. em 06.12.2007).

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. CONFIGURAÇÃO. Para a

configuração do assédio moral é necessário que se produzida prova inequívoca da existência de situações humilhantes, vexatórias e de desprezo ao empregado que se repetem na contratualidade, sendo ainda impróprias a um ambiente de

Page 72: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

60

trabalho e principalmente violadoras ao princípio da dignidade da pessoa humana. (TRT – 12.ª Região – RO – 00361- 2007-008-12-00-6 – Relator Juiz Nelson Hamilton Leiria).

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. CONFIGURAÇÃO. Num contexto

em que as empregadas que chegavam em um novo setor de trabalho eram incitadas a participar de um verdadeiro "show" de auditório, onde dançavam ao som de aplausos, gritos e músicas com conotação sexual (pirim-pim-pim e outras similares), entoadas pelos demais presentes, predominantemente pessoas do sexo masculino, não há como deixar de reconhecer a existência de assédio moral na empresa, seja praticado pelos supervisores que abusavam de seu poder, seja praticado pelos empregados da mesma hierarquia das vítimas, que eram manipulados e incitados uns pelos outros a agir de forma a propiciar vexames e humilhações no local de trabalho. (TRT – 12.ª Região – RO - 07434-2006-014-12-00-1 – Relator Jorg e Luiz Volpato).

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. OFENSA À NORMA JURÍDICA DO EMPREGADOR MANTER UM AMBIENTE LABORAL SAUDÁVEL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. É dever

jurídico da empresa manter o meio ambiente do trabalho saudável, seja no plano físico, seja no psicológico. Constitui ato ilícito do empregador conduta que fere direitos da personalidade do empregado, através de ações representadas por exigência abusiva de metas, com pressão psicológica e ameaça de dispensa, bem como a transferência de agência, onde passou a desenvolver atividades de menor importância e complexidade, diversas das inerentes à função de gerente, como carregar armários e trocar galões de água. Tal procedimento revela o nítido objetivo de inviabilizar a permanência do empregado na empresa após a extinção do setor de expansão, impelindo-o a pedir demissão. (TRT – 12.ª Região – RO – 08448-2005-036-12-00-9 – Relator Juiz Alexandre Luiz Ramos).

b) Sobre a indenização e a fixação do seu valor

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. RESOLUÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO POR JUSTA CAUSA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CABIMENTO. O assédio moral, como forma de

degradação deliberada das condições de trabalho por parte do empregador em relação ao obreiro, consubstanciado em atos e

Page 73: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

61

atitudes negativas ocasionando prejuízos emocionais para o trabalhador, em face a exposição ao ridículo, humilhação e descrédito em relação aos demais trabalhadores, constitui ofensa à dignidade da pessoa humana e quebra do caráter sinalagmático do contrato de trabalho. Autorizando, por conseguinte, a resolução da relação empregatícia por justa causa do empregador, ensejando, inclusive, indenização por dano moral. (TRT – 15.ª Região – 2.ª T. – RO – 01711-2001-111-015-00-0 – Re latora Juíza Mariane Khayat Fonseca do Nacimento – j. em 11.03.2003).

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Indispensável

para o reconhecimento do direito à indenização por danos morais, previsto no art. 5º, V e X, da Constituição Federal, é a existência de conduta antijurídica praticada pelo ofensor, de cuja gravidade decorra lesão à esfera subjetiva do ofendido. Praticando o empregador ato de retaliação contra o empregado através da não-atribuição de tarefas, submetendo-o à situação vexatória e angustiante, além de causar-lhe a perda de material de trabalho, cabível a indenização por danos morais. Recurso da reclamada parcialmente provido apenas para reduzir o valor arbitrado na sentença, porque excessivo. (TRT – 4.ª Região – RO - 02171-2006-203-04-00-0 – Relatora Desembargadora Ione Sal in Gonçalves – j. em 18.9.2208).

A ementa imediatamente supracitada versa sobre

empregado que, em razão de divergência profissional com a gerente de ensino à

distância, sofreu perseguição e assédio moral. O empregado alegou que foi

colocado em uma sala utilizada como estúdio de gravações, sem janelas,

sozinho, permanecendo por cinco meses sem tarefas a realizar, sendo retirados

de sua orientação todos os empregados por ele chefiados, bem como ter sido

afastado do Conselho de ensino à Distância. O empregado recebeu a titulo de

indenização por danos morais o valor de R$90.000,00 (noventa mil reais).

EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL . A conduta abusiva da empresa violadora dos direitos da

personalidade que atenta, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade, a integridade física ou psíquica do trabalhador, ameaçando o seu emprego ou degradando o meio ambiente do trabalho, configura assédio moral e enseja o pagamento de indenização a título de danos morais, nos termos dos arts. 5º, X,

Page 74: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

62

da CF e 186 do Código Civil, mormente no caso destes autos, em que a empregada, submetida a um tratamento vexatório e constrangedor teve sua honra e moral abaladas. (TRT – 12.ª Região – RO - 04001-2007-018-12-00-0 – Relatora Juí za Viviane Colucci).

EMENTA: DANOS MORAIS. FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. Hipótese em que, levando em consideração a

condição pessoal do reclamante, a natureza do dano e o porte econômico da reclamada, entende-se que a indenização deferida deve ser mantida. Recurso da reclamada ao qual se nega provimento. (TRT – 4.ª Região – RO - 01098-2006-029-04-00-6 – Relatora Desembargadora Maria Beatriz Condessa Ferr eira).

EMENTA: INDENIZAÇÃO. ASSÉDIO MORAL. "QUANTUM". O

arbitramento da indenização por assédio moral decorrente das relações de trabalho, embora de caráter subjetivo, tem por escopo restaurar o equilíbrio rompido e atender o abalo moral experimentado pela vítima, otimizando o princípio necessidade/possibilidade, bem como o caráter pedagógico da medida. (TRT - 19.ª Região – RO – 01595-1999-005-19-00-2 – Relator Juiz Severino Rodrigues).

EMENTA: REPARAÇÃO POR DANO MORAL. MONTANTE DA INDENIZAÇÃO. CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO. A indenização por dano moral, segundo remansosa doutrina e jurisprudência, deve observar a noção de razoabilidade entre o abalo sofrido e o valor a ser pago, o qual deve ser suficiente não só para amenização do dano direto, mas de todas as suas conseqüências, além de ostentar o caráter punitivo, indissociável da indenização por dano moral, que tem por finalidade evitar que o empregador continue a cometer excessos no gerenciamento do negócio a ponto de fazer passar pelos mesmos constrangimentos os demais empregados sob o manto da impunidade. (TRT – 4.ª Região – RO – 00984- 2006 – 332 – 04 – 00 -0 – Relator Juiz Fernando Lui z de Moura Cassa – j. em 02.10.2008).

EMENTA: DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. PRÁTICAS REPRESSIVAS E DISCRIMINATÓ-RIAS QUE ATINGEM A DIGNIDADE DO TRABALHADOR. FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO. Indubitavelmente que a instabilidade emocional gerada no empregado submetido a cobranças excessivas de metas ou atitudes de discriminação racial maculam a sua dignidade e o

Page 75: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

63

valor do seu trabalho e implicam dano por assédio moral. Nesses casos é até mesmo presumível a privação do seu bem-estar, com evidente menoscabo espiritual e perturbação anímica, haja vista o constrangimento, a humilhação e outros sentimentos negativos. Nessa situação se vê o trabalhador privado da saúde integral do corpo e da mente e tem reduzida ou eliminada, ainda que temporariamente, a sua capacidade produtiva. (TRT – 12.ª Região – RO - 04692-2006-051-12-00- 6 – Relatora Ág ueda Maria Lavorato Pereira – J. em 12.09.2008).

c) Sobre a responsabilidade civil

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. A

responsabilidade civil do empregador por danos causados aos empregados no exercício de suas atividades laborais é, regra geral, subjetiva, tornando-se necessária a configuração da prática de ato ilícito decorrente de ação ou omissão por negligência, imprudência ou imperícia, bem como o nexo de causalidade entre a conduta culposa do agente e o dano sofrido pela vítima. Não restando comprovada a conduta ilícita do empregador, consistente na prática de atos que submetam o empregado a situação de constrangimento e pressão psicológica, não há falar em responsabilidade da ré de indenizar o trabalhador por danos morais. (TRT – 12.ª Região – RO 02018-2007-055-12-00-3 – Relatora Juíza Gisele P. Alexandrino).

Mostra-se, na prática, com as decisões apresentadas, tudo o

que se estudou nos capítulos antecedentes, com relação ao assédio moral e as

indenizações respectivas. Tratando-se de assunto submetido ao nosso sistema

jurídico a não muito tempo, por certo, com o aprofundamento dos estudos, a

doutrina e a jurisprudência evoluirão, a ponto de caracterizar como Assédio Moral

outras situações fáticas sempre que houver ofensa ao princípio da “dignidade da

pessoa humana”.

O Assédio Moral é caracterizado, portanto, pela ofensa à

dignidade da vítima. É a repetição, ao longo do tempo, de agressões, gestos,

palavras, que acarretam danos relevantes às condições físicas, psíquicas, morais

e existenciais do ofendido.

Pode ser divido em quatro espécies diferentes: assédio moral

vertical descendente, que é o proveniente de um superior hierárquico para um

Page 76: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

64

subordinado; assédio mora horizontal, que ocorre entre colegas de trabalho;

assédio moral vertical ascendente, onde o assédio parte de baixo para cima, ou

seja, de um subordinado para um superior hierárquico; e o assédio moral misto,

que é a união do assédio moral vertical descendente e do assédio moral

horizontal.

No âmbito do direito do Trabalho, para que haja a

caracterização e uma conseqüente indenização do Assédio Moral, mister se faz a

verificação de abuso de direito por parte do empregador sobre o empregado,

abuso este que se exterioriza por meio de atitudes daquela parte que assume os

riscos do empreendimento no sentido de denegrir a imagem do trabalhador,

humilhá-lo ou submetê-lo a condutas discriminatórias por meio do uso exagerado

do poder disciplinar que lhe é conferido.

Page 77: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho monográfico teve como objetivo a análise do

fenômeno do assédio moral no âmbito do Direito do Trabalho.

Embora seja um problema antigo, sua análise é recente e

de grande relevância no mundo do trabalho, principalmente por envolver de um

lado a subordinação do empregado e de outro o poder hierárquico do

empregador. A importância do estudo está exatamente em identificar os limites do

poder hierárquico, levando-se em conta que o local de trabalho não é território

livre ou “zona franca”, onde tudo pode o empregador, especialmente levando em

conta o princípio da dignidade da pessoa humana.

O desenvolvimento lógico desta monografia decorreu da

sua divisão em três capítulos: Noções Gerais do Assédio Moral, Assédio Moral

nas Relações de Trabalho e Responsabilidade Civil da Conduta, sendo estes

compostos por subtítulos.

No primeiro capítulo, foi situado o problema do assédio

moral em seu contexto histórico, vista sua conceituação em conformidade com

diversos autores, foram citados exemplos do fenômeno, feita a distinção entre

assédio moral e assédio sexual e a sua vinculação com o princípio da dignidade

da pessoa humana.

No segundo capítulo, foram identificados os sujeitos do

assédio moral, suas espécies e características, bem como os danos dele

decorrentes.

No terceiro e último capítulo, obteve-se o estudo acerca da

Responsabilidade Civil, trazendo seu conceito, requisitos fundamentais e tipos,

bem como a responsabilidade do empregado e do empregador, finalizando com a

possibilidade de indenização por Danos Morais ao trabalhador oriundas do

Page 78: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

66

Assédio Moral no ambiente de trabalho, o juízo competente e a visão dos

tribunais sobre o Assédio Moral.

Pelo estudo realizado, as hipóteses levantadas para a

realização deste trabalho restaram ratificadas parcialmente, porquanto:

1) A primeira hipótese foi confirmada, uma vez que o

assédio moral viola frontalmente o princípio da dignidade da pessoa humana, por

ofensa a direitos da personalidade.

2) Igualmente confirmada a segunda hipótese, uma vez que

o empregado, por subordinar-se hierarquicamente ao empregador, sente-se ferido

na sua auto-estima e isso pode levá-lo a perder o emprego, tanto por despedida

como por pedido de demissão, quando não há conseqüências mais sérias, como,

por exemplo, levá-lo a pensar em suicídio.

3) Já a última hipótese não se confirmou em sua totalidade,

de vez que, o assédio moral poderá ensejar a reparação do dano, mas, isso não

ocorre automaticamente, pois o ofendido para tanto, deverá socorrer-se do Poder

Judiciário, necessitando comprovar os fatos alegados e a existência de nexo de

causalidade entre os fatos e o dano.

Tecidas tais considerações, cumpre este trabalho

acadêmico a sua finalidade institucional, qual seja, a produção de monografia

para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI e investigatória, buscando através da pesquisa bibliográfica,

jurisprudencial e doutrinária o exame do tema proposto.

Page 79: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego. Curitiba: Juruá, 2008.

ASSE, Vilja Marques. Um fenômeno chamado psicoterrorismo. Revista LTr- Legislação do Trabalho : publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, São Paulo,v.68,n.7.

BARRETO, Marco Aurélio Aguiar. Assédio moral no trabalho : da responsabilidade do empregador – perguntas e respostas. São Paulo: LTr, 2007.

BARRETO, Margarida Maria Silveira. Uma Jornada de Humilhações . 2000. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social). Pontifícia Universidade Católica de são Paulo, São Paulo, 2000.

BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações . São Paulo: EDUC, 2006.

BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos de Personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos . Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campu, 1992.

BRASIL, Código Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

CAHALI, Yussef Said. Dano moral . 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros Editores, 1996.

COUTINHO, Maria Luiza Pinheiro. Discriminação na Relação de Trabalho : uma afronta ao princípio da igualdade. Rio de Janeiro: AIDE Editora, 2003.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTR, 2003. p. 58.

DIAS. José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva , 1995.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

Page 80: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

68

FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho. Campinas: Russell Editores, 2004.

FURTADO, Emmanuel Teófilo. Preconceito no Trabalho e a Discriminação por Idade . São Paulo: LTr, 2004.

GLINA, Débora Miriam Raab, GARBIN, Andréia de Conto. Assédio moral no trabalho: aspectos conceituais, jurídicos e preventivos. Saúde, Ética & Justiça, São Paulo, 2005.

GOMES, Orlando. Obrigações. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1976.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8.ed. São Paulo: RT, 1994.

GUEDES, Márcia Novaes. Terror Psicológico no Trabalho. São Paulo: LTr, 2008.

HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano. Tradução de Maria Helena Kühner. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-Estar no Trabalho : Redefinindo o Assédio Moral. Tradução de Rejane Janwitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

LEDUR, José Felipe. A Realização do Direito do Trabalho . Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1998.

LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica . 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

MATIELO, Fabrício Zamprogna. Dano Moral, dano material e reparação. 4. ed. Ver. E ampl. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1998.

MENEZES, Cláudio Armando C. de. Assédio moral e seus efeitos jurídicos. Revista LTr- legislação do trabalho, São Paulo,v.67,n.3.

NALIN, Paulo Roberto. Responsabilidade civil – descumprimento do contrato e dano extrapatrimonial. Curitiba: Juruá, 1996.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 18. ed., ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003.

NASCIMENTO. Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho . 25ª ed. São Paulo: LTR, 1999.

NASCIMENTO, Sônia A. C. Mascaro. O assédio moral no ambiente do trabalho. Revista LTr- Legislação do Trabalho:publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, São Paulo,v.68,n.8.

Page 81: ASPECTOS DESTACADOS DO ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHOsiaibib01.univali.br/pdf/Stefani Lunkes Moreira Rodrigues.pdf · sob o título Assédio Moral nas Relações de Trabalho,

69

NASCIMENTO, Sonia Mascaro. O Assédio Moral no ambiente de trabalho. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5433, acesso em 18-04-2008.

NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana . São Paulo: Saraiva, 2002.

OLIVEIRA, Paulo Eduardo V. O dano pessoal no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2002.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo Mário Veiga. O Dano moral na relação de emprego. 2. ed. rev. amp. e atual. São Paulo: LTr, 1999.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2001.

SAAD, Renan Miguel. O ato ilícito e a responsabilidade civil do Estado. Rio de Janeiro: Lúmem Júris, 1994.

SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Assédio sexual – Responsabilidade civil. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo , 18. ed., rev., atual., São Paulo: Malheiros, 2000.

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

VARELA, Antunes. A responsabilidade do direito . 4. ed. São Paulo: Coimbra, 1982.

http://www.assediomoral.com.br/int_lei.htm. Acessado em 18 abr.2008 http://www.tj.ro.gov.br/emeron/sapem/2002/marco/0803/ARTIGOS/A03.htm, Acessado em 03 nov.2008.