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1 ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO Lara Pinheiro Bezerra 1 Herika Janaynna Bezerra de Menezes Macambira Marques 2 Sinopse: 1- A pessoa como centro do ordenamento jurídico; 1.1- A evolução histórica da valorização do trabalho como condição de dignidade; 2 - Assédio moral: violação aos direitos da pessoa; 2.1 - O assédio moral no direito comparado; 2.2- A história do assédio moral no Brasil 2.2.1;- O assédio moral e a Consolidação das Leis Trabalhistas. Conclusões. Referências Bibliográficas. Resumo: O presente estudo apresenta o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, e, a partir desse contexto, o aparato normativo de tutela dos direitos da pessoa. Partindo-se dessa premissa, aborda-se a evolução histórica da valorização do trabalho humano como condição de dignidade. Analisam-se os aspectos de afronta aos direitos inerentes à pessoa humana, trazendo como exemplo a violação do princípio da dignidade nas relações de trabalho, comumente denominado assédio moral. Faz-se referência ao assédio moral no direito comparado. Passa-se, em seguida, a abordar o assédio moral no ordenamento jurídico brasileiro, sob o enfoque da Consolidação das Leis Trabalhistas. Examinam-se o conceito, os sujeitos e as relações estabelecidas entre eles, as condutas do agente assediador, as consequências do assédio moral e a possibilidade de auferir indenizações por danos morais e materiais decorrentes de tal comportamento e quem deve ser responsabilizado pela indenização, nos termos da legislação trabalhista. Palavras-chave: Dignidade da Pessoa Humana. Direito da Personalidade. Assédio Moral no Trabalho. 1 BEZERRA, Lara Pinheiro. Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza, Especialista em Processo Civil pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, Especialista em Processo do Trabalho pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. 2 MARQUES, Herika Janaynna Bezerra de Menezes Macambira. Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza.

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ASSÉDIO MORAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Lara Pinheiro Bezerra1

Herika Janaynna Bezerra de Menezes Macambira Marques2

Sinopse: 1- A pessoa como centro do ordenamento jurídico; 1.1- A evolução histórica da

valorização do trabalho como condição de dignidade; 2 - Assédio moral: violação aos direitos

da pessoa; 2.1 - O assédio moral no direito comparado; 2.2- A história do assédio moral no

Brasil 2.2.1;- O assédio moral e a Consolidação das Leis Trabalhistas. Conclusões.

Referências Bibliográficas.

Resumo: O presente estudo apresenta o princípio da dignidade da pessoa humana como um

dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, e, a partir desse contexto, o aparato

normativo de tutela dos direitos da pessoa. Partindo-se dessa premissa, aborda-se a evolução

histórica da valorização do trabalho humano como condição de dignidade. Analisam-se os

aspectos de afronta aos direitos inerentes à pessoa humana, trazendo como exemplo a

violação do princípio da dignidade nas relações de trabalho, comumente denominado assédio

moral. Faz-se referência ao assédio moral no direito comparado. Passa-se, em seguida, a

abordar o assédio moral no ordenamento jurídico brasileiro, sob o enfoque da Consolidação

das Leis Trabalhistas. Examinam-se o conceito, os sujeitos e as relações estabelecidas entre

eles, as condutas do agente assediador, as consequências do assédio moral e a possibilidade de

auferir indenizações por danos morais e materiais decorrentes de tal comportamento e quem

deve ser responsabilizado pela indenização, nos termos da legislação trabalhista.

Palavras-chave: Dignidade da Pessoa Humana. Direito da Personalidade. Assédio Moral no

Trabalho.

1 BEZERRA, Lara Pinheiro. Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza, Especialista em Processo

Civil pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, Especialista em Processo do Trabalho pela Universidade

Estadual Vale do Acaraú. 2 MARQUES, Herika Janaynna Bezerra de Menezes Macambira. Mestre em Direito Constitucional pela

Universidade de Fortaleza.

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INTRODUÇÃO

O artigo 1º, inciso III e IV, da Constituição brasileira de 1988, aponta, entre os

fundamentos da República Federativa do Brasil, enquanto Estado Democrático de Direito, a

dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

O legislador, ao erigir a dignidade da pessoa humana a fundamento da República

Federativa do Brasil, buscou enfatizar que os pilares do Estado Democrático de Direito se

alicerçam nesta noção, constituindo valor indispensável ao cidadão, devendo ser respeitado

perante a sociedade e protegido pelo Poder judiciário e suas normas, como forma de

reconhecimento necessário da condição humana.

A consagração constitucional da dignidade da pessoa humana também resulta na

obrigação de o Estado garantir à pessoa humana o resguardo dos direitos da personalidade, ou

seja, reconhecer que as características e atributos do homem merecem tutela por parte do

ordenamento jurídico.

A pessoa humana é colocada como centro do próprio ordenamento jurídico,

portanto merecedora de tutela, sobretudo nas situações de vulnerabilidade, onde reclama

proteção especial.

Dessa forma, somado a dignidade da pessoa humana surgemoutros direitos

inerentes à pessoa, tais como: direito a vida, direito a liberdade, direito a intimidade, a vida

privada e a honra e odireito ao livre exercício do trabalho.

O direito ao trabalho deve ser compreendido como aquele realizado em condições

dignas, de forma a garantir sua valorização social, assim como o respeito à dignidade da

pessoa humana do trabalhador.

Com o contrato individual de trabalho, tem-se o surgimento de uma relação

jurídica, sujeitando a pessoa do empregado ao poder de direção e ao poder disciplinar do

empregador. Nesse contexto, incumbe ao empregador definir como serão desenvolvidas as

atividades do empregado decorrentes do contrato de trabalho e destinar ordens de serviço que

respeitem à dignidade do trabalhador, e, consequentemente os seus direitos da personalidade.

A subordinação existente entre empregador e empregado não poderá ser exercida

de maneira vexatória e humilhante ao empregado, pois o exercício dospoderesde direção e

disciplina do empregador não extingue os direitos fundamentais do trabalhador, devendo ser

exercido sempre com boa-fé e de maneira pedagógica, evitando assim o assédio moral.

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Nessa esteira, analisam-se o princípio da dignidade da pessoa humana, como um

dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, e, a partir desse contexto, o aparato

normativo de tutela dos direitos da pessoa. Em seguida, aborda-se a evolução histórica da

valorização do trabalho humano, como condição de dignidade, e a preocupação do legislador

constitucional em disciplinar medidas protetivas ao trabalhador, tendentes ao seu bem-estar,

sua saúde física e mental.

O presente artigo é ousado ao tentar comentar os aspectos de afronta aos direitos

inerentes à pessoa humana, trazendo como exemplo a violação do princípio da dignidade nas

relações de trabalho, comumente chamado assédio moral.

Este estudo traz em seu bojo o contexto histórico no qual surgiu o assédio moral

e sua evolução no direito comparado. Comentam-se o assédio moral, sob o enfoque da

Consolidação das Leis Trabalhistas, o conceito, os sujeitos e as relações estabelecidas entre

eles, as condutas do agente agressor, as consequências do assédio moral, a possibilidade de

auferir indenizações por danos morais e materiais decorrentes do assédio moral e quem deve

ser responsabilizado pela indenização, dando-se ênfase à tutela jurídica do assédio moral em

face da legislação, analisando, inclusive, os projetos de lei existentes sobre o assunto.

1 A PESSOA COMO CENTRO DO ORDENAMENTO JURÍDICO

O princípio da dignidade da pessoa humana desponta no ordenamento jurídico

constitucional a partir da sua centralidade que privilegia a posição do homem e suas

necessidades, passando a incidir de forma especial e diversa sobre os demais princípios

constitucionais.

Para Hérika Janaynna Bezerra de Menezes MacambiraMarques (2012, p. 49), a

dignidade é inerente ao ser humano, associada ao aspecto da racionalidade, intrínseca à

condição humana, é o atributo que nos distingue dos outros animais. A raiz da

dignidade,dignus, importa em “aquele que merece honra e estima, é o que é importante”.

A trajetória histórica de evolução da valorização do homem e a dignidade da

pessoa humana perpassam, segundo Ana Paula de Barcellos (2008, p. 122), quatro marcos

fundamentais: o cristianismo, o iluminismo-humanista, a obra de Immanuel Kant e a Segunda

Guerra Mundial.3

3 Para Barcellos (2008, p. 120) As ideias de Jesus Cristo eram voltadas à solidariedade e amor ao próximo e à

compaixão à situação dos miseráveis, ficando na base dos direitos sociais e do mínimo existencial. Tempos

depois, o pensamento iluminista propunha uma mudança no centro do pensamento, substituindo a

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Em cada um desses marcos, Hérika Janaynna Bezerra de Menezes

MacambiraMarques (2012, p. 50) observa uma evolução na própria compreensão do ser

humano. Nesse sentido, diz:

A princípio, como um sujeito merecedor de amor, piedade e solidariedade dos seus

semelhantes. Em seguida, com a prevalência da razão humana e com as ideias

iluministas, o pensamento kantiano apresentará o homem como um ente especial,

dotado de razão e por isso um fim em si mesmo. Após os massacres da Segunda

Guerra mundial, fragilizado o valor que recai sobre a humanidade, entendeu-se pelo

fortalecimento necessário do princípio da dignidade da pessoa humana, já

consagrado no plano internacional.

A personalidade passou a ser atributo de todo ser humano com a ascensão do

cristianismo. A dignidade é considerada como base do ordenamento jurídico, como ensina

José Carlos Vieira de Andrade (1998, p. 102), não importando em quais circunstancias se

encontre a pessoa, devendo ser respeitada em face da dignidade.

Segundo Ronald Dworkin (2003, p. 334), o que garante e fundamenta a dignidade

nada mais é do que a simples condição humana. A partir dessa visão, Hérika Janaynna

Bezerra de Menezes MacambiraMarques (2012, p. 50-51) diz que:

[...] o respeito à dignidade passa a ser compreendido como característica intrínseca

da pessoa e ponto de partida do ordenamento jurídico, portanto, merecedor de tutela

especial que fundamente e comande a lei positivada. Assim, a tutela da pessoa passa

a ser, além de fundamento da ordem constitucional, um fundamento do Estado,

norteando os princípios e regras.

A Carta Magna de 1988 trouxe, em seu art. 1º, III, a dignidade da pessoa humana

como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, e, a partir de então, a pessoa e

suas vulnerabilidades passam a ser tuteladas onde quer que se manifestem. Adota o sistema de

produção capitalista, como se infere do art.170. Estrutura uma ordem econômica com

fundamento na justiça social e na promoção do desenvolvimento da pessoa que, em primeira

análise, também constituem objetivos da República Brasileira.

Verifica-se, conforme Hérika Janaynna Bezerra de Menezes Macambira Marques

(2012, p. 53), ainda que no plano formal, um aparato normativo de proteção à pessoa, desde o

plano dos direitos individuais até o plano dos direitos sociais, com a previsão assistencial do

Estado e chamamento solidário dos segmentos privados, tantas vezes acometidos de funções

sociais a realizar.

religiosidade pelo homem, trazendo como consequências o desenvolvimento da ideia de dignidade humana e

a preocupação com os direitos individuais do homem e o exercício democrático do poder. Já para Kant, o

homem é um fim em si mesmo e não uma função do Estado, da sociedade ou da nação. E por fim, os horrores

da Segunda Guerra, a constatação dos abusos contra as pessoas fizeram com que, segundo Hanna Arendt

(2001), as próprias vítimas perdessem a ideia do valor da vida humana.

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A inserção da dignidade na Constituição apresentou, segundo Hérika Janaynna

Bezerra de Menezes Macambira Marques (2012, p. 53), uma nova concepção de Estado que

tem como objetivo primordial a implantação de direitos e ações que visem à garantia de uma

sociedade onde todos usufruam de condições dignas e de respeito em face de suas

particularidades. Ou seja, uma sociedade justa, fraterna e igualitária.

Ingo WolfgandSarlet (2011, p. 63) complementa a definição de dignidade

registrando que ela deverá ser garantida tanto com relação ao Estado quanto no que se refere à

coletividade, afirmando o seguinte:

A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do

mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando,

neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a

pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como

venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável,

além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos

da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Desse modo, o Estado deve assegurar o respeito ao princípio da dignidade da

pessoa humana, impondo aos cidadãos um dever de respeito e proteção mútuo, refletido na

obrigação de abster-se de atuar na esfera individual, em casos de afronta à dignidade pessoal.

O ente estatal deve ainda proteger o indivíduo em casos de agressões, verificando, conforme

preceitua Ingo WolfgandSarlet (2011, p. 121), que o princípio da dignidade tanto impõe o

dever de abster-se como também determina algumas condutas positivas.

Contudo, para que seja alcançada a garantia da dignidade, é necessário o

reconhecimento dos direitos de personalidade. O direito geral de personalidade, com fulcro no

inciso III, do art. 1º, da Constituição Federal, a dignidade humana, seria, no pensamento de

Gustavo Tepedino (2006, p.50), a própria cláusula geral de tutela. Assim, o princípio da

dignidade da pessoa humana atua como cláusula geral de tutela e promoção da personalidade

nas suas mais diversas manifestações.

Gustavo Tepedino (2001, p. 27) explica que a personalidade pode ser vista como

um conjunto de características e atributos da pessoa humana considerada como objeto de

proteção por parte do ordenamento jurídico.

Para Maria Celina BodinMoraes (2010, p.127), a pessoa humana possui um valor

unitário e, desse valor, o ordenamento jurídico reconhece aquela cláusula geral que consagra a

proteção integral a sua personalidade. Pietro Perlingieri (2008, p.765) afirma que a tutela da

pessoa não pode ser fracionada em unidades autônomas, mas compreendida como um todo,

como um valor unitário, representado pelo valor da pessoa.

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A evolução dos direitos humanos vai, lentamente, concentrando a valoração sobre

a pessoa humana, centro do próprio ordenamento jurídico. Segundo Fábio Konder Comparato

(2008, p.1), “tudo gira, assim, em torno do homem e de sua eminente posição no mundo”.

No escólio de Caio Mario da Silva Pereira (2000, p.153), os direitos da

personalidade podem ser conceituados como:

[...] os direitos de personalidade „inatos‟ (como o direito à vida, o direito à

integridade física e moral) sobrepostos a qualquer condição legislativa, são

absolutos, irrenunciáveis, imprescritíveis: absolutos, porque oponíveis erga ommes;

irrenunciáveis, porque estão vinculados à pessoa de seu titular. Intimamente

vinculados à pessoa, não pode esta abdicar deles, ainda que para subsistir;

intransmissíveis, porque o individuo goza de seus atributos, sendo inválida toda

tentativa de sua cessão a outrem, por ato gratuito como oneroso, imprescritíveis,

porque sempre poderá o titular invocar, mesmo que por longo tempo, deixar de

utilizá-los.

Em que pese às ideias em prol do respeito à dignidade da pessoa humana e o

direito de personalidade, a sociedade ocidental vive contradições especialmente em

decorrência do desenvolvimento capitalista que orienta seu modo de produção e que possui

como premissa o avanço tecnológico e a apropriação do trabalho. O acelerado progresso

tecnológico vem comprometendo as bases da vida em sociedade e acentuando problemas

relativos aos direitos da pessoa.

A disputa entre capital e trabalho continua, mesmo diante das conquistas

alcançadas após a Revolução Industrial, tornando incansável a luta do trabalhador para

conseguir melhorias nas condições de trabalho.

Os valores econômicos, políticos, sociais, éticos e morais passam por

transformações, grande parte originada com o fenômeno da globalização capitalista,

desagregador da humanidade.

As pessoas aproximam-se umas das outras por força do progresso técnico, mas, ao

mesmo tempo, afastam-se pelo efeito da crescente desigualdade econômica, social e política.

Na expressão de Fábio Konder Comparato (2006, p.443):

A globalização capitalista é corpo sem alma; é a louca tentativa de estender ao orbe

terrestre uma mesma dominação oligárquica, sem o mínimo respeito ao princípio

elementar de que todos os seres humanos partilham do mesmo genoma, pertencem à

mesma espécie, e devem, portanto, viver, em qualquer parte do mundo onde se

encontrem, sempre livres e iguais, em dignidade e direitos.

Contudo, quando se estabelece a igualdade entre os homens, nos termos do art. 5º,

inciso I, da CF/88 e, consequentemente, proíbe-se de considerá-los como objeto, degradando-os

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na sua condição de pessoa, coloca-os como o centro do universo jurídico. Este reconhecimento

não está adstrito a determinados indivíduos, mas sim, alberga os seres humanos e cada um

destes considerados individualmente.

1.1 A evolução histórica da valorização do trabalho como condição de

dignidade

Seguindo a evolução histórica sobre a desvalorização e valorização do trabalho,

podem-se identificar, de forma cristalina, as mudanças dos valores na sociedade em relação ao

labor humano que conduziram para o atual panorama de desvalorização do trabalho e violação

da dignidade dos trabalhadores.

Em decorrência dessa desvalorização, é preciso compreender a evolução da

valorização do labor humano a partir de suas formas iniciais até o surgimento das relações de

trabalho.

Nas civilizações da Antiguidade, eram os escravos que faziam o trabalho, tendo

em vista que não era uma atividade digna aos cidadãos. O trabalho humano era considerado

indigno, que trazia sofrimento como forma de castigo e pena, tornando o homem escravo da

matéria, das coisas, sendo desprezível aos homens livres.

Na Antiguidade clássica, os homens livres viviam como filósofos ou políticos

entregues à contemplação ou às atividades da política, em contato com as ideias, regulando os

atos dos outros homens, como cidadãos da polis, deixando o trabalho físico, exatamente por

seu caráter servil e humilhante, como incumbência dos escravos.

Verifica-se, portanto, que, desde aquela época, já existia divisão social do

trabalho. Todavia, o escravo não era visto como ser humano, mas sim, como objeto de

propriedade de algum cidadão. Aos escravos eram dados os serviços manuais exaustivos,

não só por esse motivo, mas também porque tal gênero de trabalho era considerado

impróprio e, até desonroso, para os homens válidos e livres. Sequer era concedida aos

escravos personalidade jurídica.

Na Idade Média, permaneceu a vinculação do trabalho à noção de sofrimento, dor,

castigo, indignidade e desonra, sendo, por esse motivo, realizado pelos escravos. O trabalho

humano continuou sendo visto como um “castigo de Deus”, assim como ocorria na

Antiguidade, conforme descrito na Bíblia, principal fonte histórica, a qual relata, nos seus

primeiros capítulos, que o trabalho foi uma maldição imposta por Deus ao primeiro casal

humano em decorrência de sua desobediência. Trata-se de Adão e Eva, registrado no Livro de

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Gênesis, o livro da criação (Gn, 3:17-19)4. Ainda que a escravidão desse espaço à servidão, o

trabalho continuou sendo visto como um castigo divino aos pecadores.

No entanto, os novos ideais dos pensadores iluministas fizeram com que a ideia de

desvalorização do trabalho perdesse o significado lançando novos valores pautados no tripé

liberdade, igualdade e fraternidade, contrapondo-se ao capital, produção e lucro, e

contribuindo para uma mudança radical que culminou com a Revolução Francesa, em 1789, e

com a Primeira Revolução Industrial, grandes acontecimentos do final do século XVIII.

Assevera o historiador Erick Hobsbawn, em sua obra A era das revoluções, que as

duas revoluções supramencionadas tiveram os mesmos fundamentos e implicações, pois eram

manifestações diferenciadas de idêntico movimento social, cujas transformações alteraram, de

maneira significativa, as dinâmicas de todo o mundo, principalmente a dinâmica do trabalho.

(HOBSBAWM apud FERREIRA, 2004).

A Revolução Francesa e Industrial, chamada revolução dupla por Erick

Hobsbawn, em sua obra, A era das revoluções, fez com que a ideia de desvalorização do

trabalho humano perdesse seu significado e, a partir das ideias iluministas da época, criou-

se uma base para a constituição de uma nova sociedade consubstanciada nos seguintes

valores: liberdade, igualdade e fraternidade versus capital, produção e lucro(HOBSBAWM

apud FERREIRA, 2004).

As péssimas condições de trabalho dentro das fábricas despertaram a

conscientização dos trabalhadores para a necessidade de valorização do labor humano. A cada

conquista dos trabalhadores, o trabalho foi sendo valorizado, passando a ser honroso e digno,

de modo que os homens de bem e livres poderiam realizar. O trabalho transformou-se em

necessidade social, em um direito, em um dever. A necessidade de legislações que

contemplassem a nova visão do trabalho surgiu dessas mudanças.

Assim, a partir do século XVIII, ele não era mais considerado como castigo, pena

ou sofrimento. Em virtude da nova consciência dos trabalhadores e da sociedade, iniciou-se

um processo de valorização onde o trabalho passou a ser tratado como algo honroso e digno,

podendo ser realizado pelos homens de bem e livres.

A Constituição de Weimar, oficialmente Constituição do Império Alemão,

documento que governou a República de Weimar (1919-1933) da Alemanha, foi a primeira a

inserir um capítulo sobre a ordem econômica e social. As próximas legislações começaram a

4 Porque deste ouvido à voz de tua mulher, e comeste da árvore, de que eu tinha te ordenado que não

comesses, a terra será maldita por tua causa; tirarás dela o sustento com trabalhos penosos, todos os dias da

tua vida. Ela produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o pão com o suor do teu

rosto até que voltes à terra, de que foste tomado; porque tu és pó, e em pó de hás de tornar.

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disciplinar medidas protetivas ao trabalhador, visando, sobretudo, seu bem-estar, sua saúde

física e mental.

No Brasil, as lutas sociais não contavam integralmente com o apoio da sociedade.

Sua origem esteve na elite intelectual, que buscava inspiração no novo pensamento europeu.

No entanto, as teorias e os ideais europeus não se identificavam com a realidade do país.

A Revolução de 1930 conferiu maior manifestação à questão social no Brasil. A

Constituição de 1934, nos termosdo art. 121, parágrafo 1º, alínea “a”, e § 2º incorporou essa

preocupação, pois a Constituição de 1891 não fazia menção a qualquer garantia ao trabalho

humano, embora, a partir de 1888, com a abolição da escravatura, restasse assegurado a todos

os indivíduos.

A Constituição de 1967 estabelecia a valorização do trabalho humano como

condição de dignidade. Um dos dispositivos de relevância inerente à dignidade humana era a

proibição da diferença salarial e da estipulação de critérios de admissão conforme o sexo, cor

e estado civil,conforme art. 158, inciso III daquele diploma.

A Constituição de 1988protege a dignidade da pessoa humana, elege o trabalho ao

patamar de direito social e garante tutela jurídica contra o dano moral, sem prejuízo do dano

patrimonial, demonstrando a responsabilidade do empregador por violação contratual e abuso

de poder. (Art. 1.º, inciso IIIe IV; Art. 5.º, inciso X, da CF/88)

Com a Constituição de 1988, a questão social ficou materializada no ordenamento

jurídico pátrio. O constituinte de 1988 deixou patente que o Estado Democrático de Direito

tem como fundamento a dignidade da pessoa humana, conforme previsto no inciso III, do art.

1º, da Constituição de 1988. O trabalho é previsto como direito social e o valor social do

trabalho adquiriu posição de fundamento da República Federativa, conforme prescrito no

inciso IV, do art. 1º, da Carta Magna.

Do reconhecimento jurídico da dignidade da pessoa humana decorre o resguardo

dos direitos da personalidade, como vida, saúde, integridade física, liberdade física e

psicológica, nome, honra, imagem e reserva sobre a intimidade de sua vida privada.

O trabalho, como direito social perpetrado dentre os direitos fundamentais,

quando violado, compromete a dignidade da pessoa do trabalhador. A exposição do

trabalhador a pressões psicológicas desumanas e a condições de trabalho precárias agride

frontalmente ao princípio da dignidade da pessoa humana.

2ASSÉDIO MORAL: VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA PESSOA

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O princípio da dignidade da pessoa humana contempla a repulsa constitucional às

práticas usadas pelos poderes públicos ou mesmo pelos particulares que objetivam sujeitar o

ser humano a uma posição de desigualdade perante seus semelhantes, a desconsiderá-lo como

pessoa, levando-o à coisificação ou ainda a privá-los dos meios necessários à sua subsistência.

Ilustra bem o assunto o juiz Ingo WolfgandSarlet (2004, p.118), a saber:

O que se percebe em última análise, é que onde não houver respeito pela vida e pela

integridade física do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência

digna não forem asseguradas, onde a intimidade e identidade do indivíduo forem

objeto de ingerências indevidas, onde sua igualdade relativamente aos demais não

for garantida, bem como onde não houver limitação do poder, não haverá espaço

para a dignidade da pessoa humana, e esta não passará de mero objeto de arbítrio e

injustiças. A concepção do homem-objeto, como visto, constitui justamente a

antítese da noção de dignidade da pessoa humana.

Este princípio fundamental consagrado pela Constituição Federal e que orienta

todo o legado constitucional e infraconstitucional, capaz de agrupar os direitos e garantias

fundamentais insertos na Constituição Federal de 1988, tem sido ameaçado e violado com

bastante frequência, especialmente no bojo das relações de trabalho, resultando no chamado

assédio moral.

Importante definição de assédio moral é trazida por Sônia Mascaro Nascimento

(2004, p.922):

uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade

psíquica, de forma repetitiva e prolongada, e que expõe o trabalhador a situações

humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à

dignidade ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do

empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada de

trabalhoe no exercício de suas funções.

Do conceito exposto acima, é possíveis extrair quatro requisitos básicos, quais

sejam: conduta abusiva; natureza psicológica do atentado à dignidade psíquica do indivíduo;

reiteração da conduta e; finalidade de exclusão.

O assédio moral surge nas relações de trabalho como reflexo de diversos fatores,

dentre eles, a competitividade no mercado de trabalho, valorizando tão-somente a produção e

o lucro em detrimento do ser humano, deteriorando a condição humana da maioria dos

trabalhadores e, eventualmente, as grandes crises enfrentadas mundialmente, o que favorece a

ocorrência de conflitos interpessoais, violando flagrantemente a dignidade dos trabalhadores e

desvalorizando o trabalho humano.

Nesse sentido, ALKIMIN (2010, p. 62) preleciona:

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O assédio moral praticado pelo empregador é o mais corriqueiro,

justamente devido à moderna organização do trabalho, pois, sob a

influência do neoliberalismo, cresceu a corrida pela competitividade e

lucratividade a baixo custo, exigindo-se da força de trabalho humano

uma parcela de responsabilidade pelos prejuízos e manutenção do

emprego, devendo o moderno trabalhador se ajustar às políticas de

reestruturação e flexibilização, além de ter uma performancepolivante

para se ajustar ao mercado globalizado e a escassez de emprego.

Referida autora registracom clareza o contexto atual das relações de trabalho, qual

seja, a precarização e a exagerada preocupação com os lucros e competitividade, em

detrimento do bem estar do trabalhador, o que acaba por resultar em um ambiente propício ao

assédio moral.

2.1 O assédio moral no direito comparado

O assédio moral tem recebido várias denominações, e a depender do país,

diferentes manifestações. No Continente Europeu, a França foi o primeiro país a estabelecer,

no seu ordenamento jurídico, uma Lei com o objetivo de combater o assédio moral. A Lei nº

2002-73, de 17 de janeiro de 2002, estabelece proteção ao trabalhador vítima de assédio moral

e sanções a quem o pratica. A definição do assédio moral por tal legislação é a seguinte:

Nenhum trabalhador deve sofrer atos repetidos de assédio moral que tenham por

objetoou por efeito a degradação das condições de trabalho suscetível de lesar os

direitos e adignidade do trabalhador, de alterar a sua saúde física ou mental, ou de

comprometer oseu futuro profissional. Nenhum trabalhador pode ser sancionado,

despedido ou tornar-seobjeto de medidas discriminatórias, diretas ou indiretas, em

particular no modo deremuneração, de formação, de reclassificação, qualificação ou

de classificação, depromoção profissional, de transferência ou renovação do contrato

por ter sofrido ourejeitado sofrer os comportamentos definidos no parágrafo

precedente ou por havertestemunhado sobre tais comportamentos ou havê-los

relatado(GUEDES, 2003, p. 27 apud MOLON, 2005, online).

Na França, o assédio moral recebe o nome de harcèlement moral, advindo do

verbo harceler: importunar, perseguir, empregado no sentido de assédio moral, como também

é conhecido em Portugal e no Brasil. (ALKIMIN, 2006, p.39)

A autora francesa, Marie-France Hirigoyen (2002, p. 17), considera o assédio

moral:

[...] qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos,

palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade

ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou

degradar o ambiente de trabalho.

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Na Inglaterra o assédio encontra-se reconhecido como bullyingentendido como

tratar com grosseria, desumanidade, tirania (GUEDES, 2003, p. 157),nos países nórdicos, na

Suíça, na Alemanha e na Itália, é chamado Mobbingcomo sinônimo de assediar ou perseguir

em massa, violência silenciosa acontecida na esfera psíquica do outro.(ALKIMIN, 2006,

p.39)

O estudioso alemão Heinz Leymann (2003, online) diz que:

[...] assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho através do

estabelecimento de comunicações não éticas(abusivas) que se caracterizam pela

repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior

ou colega(s) desenvolve(m) contra um indivíduo que apresenta, como reação um

quadro de miséria física, psicológica e social duradoura.

Na linha de pensamento de Leymann, a alta frequência e a longa duração das

condutas hostis e degradantes acabam resultando em considerável sofrimento mental,

psicossomático e social dos trabalhadores que são vítimas do assédio moral.

Nos Estados Unidos da América, o assédio moral é conhecido

comoHarassment,ataques constantes que visam, de forma declarada, atormentar, provocar a

vítima ou mobbing, (FERREIRA, 2004, p.56); na França, comoHarcèlement moral, no

sentido de perversãomoral(ALKIMIN, 2006, p.39);Acosomoral, na Espanha(GUEDES, 2003,

p.151);Ijime, entendido como prática da violência moral, no Japão(ALKIMIN, 2006, p.39).

Apesar das diferentes terminologias, o assédio moral é um verdadeiro fenômeno

de sociedade. É um termo consagrado mesmo com diferentes designações. Diferentes autores

conceberam diferentes definições. Estudiosos, através de trabalhos de pesquisa investigativos,

procuram conscientizar empresários, governos, sindicatos e trabalhadores a respeito de sua

existência e consequência.

Este ato perverso consistente na prática de situações humilhantes, de forma

repetida e prolongada, tem em seu bojo uma característica marcante: a intencionalidade em

praticá-lo. Explica Marie-France Hirigoyen(2003) que a perversidade não provém de uma

perturbação psiquiátrica, e sim, de uma fria racionalidade, combinada a uma incapacidade de

considerar os outros como seres humanos.

Trata-se, portanto, de tema relativamente novo em diversos países, embora

presente nas relações de trabalho haja muito tempo eque suscita discussões diversas por parte

da sociedade em geral. Poucos países possuem legislação específica sobre este assunto. Pode-

se citar a Suécia, a França, a Noruega, a Finlândia, a Austrália e a Argentina como países que

possuem legislação específica para coibir o assédio moral (NASCIMENTO, 2004, online).

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Não obstante, todas as condutas abusivas, que se repetem ao longo do tempo e que

atentam contra o ser humano, a sua dignidade ou a sua integridade física ou psíquica, durante

a execução do trabalho merecem ser sancionadas, por colocarem em risco o meio ambiente do

trabalho e a saúde física do empregado.

2.2 A história do assédio moral no Brasil

No Brasil, embora a denominação mais aceita seja assédio moral, ainda não existe

denominação específica, podendo-se encontrar denominações do tipo terrorismo psicológico,

tirania no trabalho, violência psicológica, molestamento moral, etc. (ALKIMIN, 2010, p. 40).

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1988, p. 66) aduz que a expressão assédio

significa “insistência importuna, junto de alguém, com perguntas, propostas, pretensões etc.”.

No dizer de A. Houaiss, M. de S. Villar e F. M. de M. Franco (2001, p. 66) corresponde a

“insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém”.

O fenômeno do assédio moral recebe diversas denominações na língua

portuguesa, tais como: humilhação no trabalho, violência moral ou psicológica, assédio

psicológico no trabalho, terror ou terrorismo psicológico no trabalho, psicoterror, tirania nas

relações de trabalho, coação moral no ambiente de trabalho, molestamento moral e

manipulação perversa (ALKIMIN, 2005, p. 38).

O ato de assediar consiste em constranger, amedrontar, admoestar, menosprezar,

desprezar, inferiorizar e humilhar o assediado, sem trégua, repetidamente. Compreende

comportamentos e atitudes como tratar com rigor excessivo, atribuir tarefas inúteis,

degradantes ou superiores a capacidade intelectual ou física do assediado, rebaixamento

funcional, invasão de privacidade e intimidade ou sujeitando a vítima a injúrias, calúnias,

críticas, ironias e discriminações reiteradas em público, agressão verbal e física, falta de

comunicação com o objetivo de isolar o assediado e afastá-lo do trabalho, produzindo no

assediado o sentimento de ter sido maltratado, desprezado, humilhado, rejeitado.

Frise-se que não se trata de mero estresse, desentendimentos ou conflitos

individuais pontuais, não raros no convívio humano, ao contrário, trata-se, evidentemente, de

conduta deliberada, intencional, com o objetivo de atacar a vítima na sua autoestima,

desgastando-a, humilhando-a (FELKER, 2007, p. 180).

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Agressões pontuais, ou seja, aquelas que não se prolongam no tempo, sem

repetição, não podem ser confundidas com assédio moral, pois é da própria natureza humana

a alteração dos ânimos, principalmente diante de situações que ocasionam intensa pressão.

Margarida Maria Silveira Barreto (2000, p. 33) preceitua que:

[...] assédio moral consiste na exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a

situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada

de trabalho e no exercício de suas funções, sendo comuns em relações hierárquicas

autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações

desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais

subordinado desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a

organização, forçando-o a desistir do emprego.

Maria Aparecida Alkimim (2009, p.38), referindo-se ao assédio moral no

ambiente de trabalho, diz:

O assédio moral, também conhecido como terrorismo psicológico ou psicoterror, é

uma forma de violência psíquica praticada no local de trabalho, e que consiste na

prática de atos, gestos, palavras, e comportamentos vexatórios, humilhantes,

degradantes e constrangedores, de forma sistemática e prolongada, cuja prática

assediante pode ter como sujeito ativo o empregador ou superior hierárquico

(assédio vertical) um colega de serviço (assédio horizontal), ou um subordinado

(assédio ascendente), com clara intenção discriminatória e perseguidora, visando

eliminar a vítima da organização do trabalho.

A violação da dignidade do assediado, através das condutas abusivas, faz-se

necessária para a configuração do assédio moral nas relações de trabalho. Isto porque o

assédio moral, além de ser conduta contrária à moral, contraria o ordenamento jurídico, uma

vez que viola o respeito à dignidade e personalidade de outrem.

Nesse sentido, ensina Carlos Alberto Bittar (1989, p. 29):

Assim sendo, configurado o assédio moral, evidencia-se a violação dos direitos de

personalidade do empregado vítima do fenômeno, os quais dizem respeito aos

atributos que definem e individualizam a pessoa, protegendo-a em seus mais íntimos

valores e em suas projeções na sociedade, merecendo, portanto, maior atenção do

judiciário, em face da falta de legislação específica regulamentando a matéria.

Resume-se, portanto, a um comportamento ou conjunto de comportamentos em

relação a alguém, extrapolando o campo da intenção, do desejo, para tornar algo concreto, com

uma finalidade comportamental determinada, sendo definido como um fenômeno antissocial e

antijurídico, posto que viola o dever jurídico imposto pela norma jurídica, visando delimitar o

agir humano, objetivando a pacificação das relações sociais e o bem comum.

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2.2.1 O assédio moral e a Consolidação das Leis Trabalhistas

A legislação trabalhista, no Brasil, é antiga e a demora no processo legislativo

brasileiro causa obstáculos à criação de uma legislação mais atual e que regulamente os casos

de assédio moral. Não obstante, a falta de lei específica não impede os Tribunais Regionais do

Trabalho de reconhecer a prática do assédio moral, freando seus avanços, usando os

dispositivos albergados na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

O art. 8º, da CLT, permite que o juiz, na ausência de expressa disposição legal ou

convencional, possa-se utilizar da analogia ou da equidade. Assim, inexistindo lei

determinando a solução para o caso concreto, pode o juiz utilizar, por analogia, outra lei que

trate sobre questão semelhante.

As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições

legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por

equidade e outros princípios e normas gerais do Direito do Trabalho, e ainda, de acordo com

os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de

classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. O intérprete fica autorizado a suprir

as lacunas existentes na norma jurídica por meio da utilização de tais técnicas jurídicas.

Ressalte-se ainda o dever de o empregador permitir e dar todas as condições para

que o trabalhador possa realizar o seu trabalho. O art. 483, da CLT, elenca as condutas

tipificadas como faltas graves do empregador e as hipóteses em que o empregado pode pedir a

extinção do contrato de trabalho por descumprimento das obrigações por parte do

empregador.

O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida

indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defeso por lei,

contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por

seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal

considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o

empregador, ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa

fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de

legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por

peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários.

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Assim, de acordo com a CLT, a prática de assédio moral, envolvendo quaisquer

das hipóteses mencionadas, enseja, por parte do empregado, o pedido de rescisão indireta do

contrato de trabalho por falta do empregador.

Valente Simi (apud MARANHÃO et al. 2003, p. 591), afirma que os atos faltosos

do empregador surgem da violação de três direitos fundamentais do empregado: o direito ao

respeito à sua pessoa física e moral, compreendendo, nesta última, o decoro e o prestígio; à

tutela das condições essenciais do contrato; e, finalmente, à observância pelo empregador das

obrigações que constituem a contraprestação da prestação de trabalho.

O processo de assédio moral no qual o superior hierárquico exige serviços que

extrapolam a força do empregado, ou ainda lhe cause ofensas e humilhações, enseja ao

empregado moralmente assediado a prerrogativa de pleitear a rescisão indireta do contrato de

trabalho.

Quanto aos casos em que a conduta do superior hierárquico tende à omissão,

levando a vítima ao isolamento, entendem os operadores do Direito no sentido de enquadrá-lo

nas hipóteses do art. 483, da CLT.

Nesse sentido, a jurisprudência a seguir transcrita:

JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR. ASSÉDIO MORAL HORIZONTAL.

OMISSÃO. Tomando conhecimento de que a empregada sofria agressões verbais

capazes de lesar sua honra, cabe ao empregador tomar as providências para que se

cesse a agressão, punindo o agressor de forma exemplar. A omissão do empregador,

que tomou conhecimento dos fatos, configura falta grave, nos termos do art. 483, „d‟

e „e‟ da CLT, ensejando, além da rescisão indireta, também o dever de reparar o

agredido. Recurso ordinário conhecido e provido. Julgamento: 29/10/2012 -

Publicação: 27/11/2012 - Fonte DEJT Processo 0000310-70.2011.5.07.0011:

Recurso Ordinário(CEARÁ TRT-7, 2013, online).

Nos casos em que a vítima é o superior hierárquico ou aqueles advindos dos

próprios colegas de trabalho, sem relação hierárquica, manifestou-se o Tribunal Regional do

Trabalho da 4.ª Região:

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. A prova produzida no feito aponta no

sentido de que a autora sofreu assédio moral no ambiente de trabalho, a ensejar a

reparação dos danos mediante a fixação de indenização. INDENIZAÇÃO POR

DANO MORAL.Tal como assinalado, restou configurada no feito a situação de

constrangimento e sofrimento moral a que foi submetida a reclamante; de fato, a

demandante foi continuamente agredida verbalmente pela colega Idelsa, além de ser

alvo de comentários maldosos e caluniosos, envolvendo inclusive suspeitas quanto à

sua conduta privada, expondo-a perante o próprio esposo devido a ilações maliciosas

quanto às motivações para a sua promoção, sem que os responsáveis pelo comando

da empresa envidassem quaisquer providências no sentido de sanear o ambiente

laboral e fazer cessar o bulling. Diversamente do que reputou o Juízo de origem,

tem-se que para a configuração do assédio moral a circunstância de a pessoa

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agredida ser subordinada hierarquicamente à agressora não se constitui em condição

sine qua non. Com efeito, embora no mais das vezes o assédio moral, em termos de

número de casos concretos, geralmente se apresente com a característica de

verticalidade hierárquica - assim entendida a hipótese em que o agressor se vale de

sua condição mais privilegiada dentro do organograma da empresa, para pressionar,

humilhar, constranger ou aproveitar-se de alguma forma do subordinado -, isto não

implica em que não possa se afigurar em situações tais como a presente, em que a

agressão parte de uma subordinada, mas a empresa não toma atitude no sentido de

preservar a funcionária agredida, ocupante de cargo de chefia, determinando que a

funcionária agressora cesse com seu comportamento insidioso. Realmente, a prova

carreada aos autos permite concluir que a autora se constituiu em vítima

desamparada da agressão e das falácias da colega, a qual não ficou satisfeita com a

promoção obtida por ela, passando a agredi-la e caluniá-la. De outro lado, a

reclamada não logrou produzir qualquer prova de suas alegações destiladas na

defesa, especialmente a de que o desentendimento entre as colegas decorreria de

desacerto em torno do pagamento de prestações de uma televisão adquirida por

Idelsa em favor da demandante. Acórdão do processo 0000571-38.2010.5.04.0404

(RO) Relator: MARIA INÊS CUNHA Data: 21/09/2011 Origem: 4ª Vara do

Trabalho de Caxias do Sul(RIO GRANDE DO SUL TRT-4, 2013, online).

Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Federal nº 5.970/01 (alterando

dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho), com o fim de alterar o art. 483, da CLT,

fazendo a inserção da alínea “h”, com a figura da coação moral.

O projeto prevê a seguinte redação para a alínea:

Art. 483

h) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele, coação moral, através de atos

ou expressões que tenham por objetivo ou efeito atingir sua dignidade e/ou criar

condições de trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade que lhe

conferem suas funções.

Assegura também a inclusão do art. 484-A com a seguinte redação: “Art. 484-A:

Se a rescisão do contrato de trabalho foi motivada pela prática de coação moral do

empregador ou de seus prepostos contra o trabalhador, o juiz aumentará, pelo dobro, a

indenização devida em caso de culpa exclusiva do empregador”.

O projeto contempla as mesmas hipóteses da rescisão indireta do contrato de

trabalho, não albergando previsão do assédio ocasionado ao superior hierárquico e entre os

próprios colegas. Também não contempla a nulidade, nem anulabilidade dos atos e efeitos do

assédio moral, e nem as consequências específicas, como administrativas (suspensão,

advertência, demissão) ao agente agressor.

Os Tribunais brasileiros, embora desprovidos de legislação específica sobre o

assédio moral, têm reiteradamente reconhecido e punido essa prática, desde que caracterizado

e comprovado, levando as empresas ao pagamento de indenizações.Nesse sentido, a seguinte

decisão:

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ASSÉDIO MORAL. REQUISITOS. PRÁTICA DE ATOS ASSEDIANTES. MEIO

AMBIENTE DE TRABALHO. SUPERIOR HIERÁRQUICO. PROVIMENTO DO

PLEITO INDENIZATÓRIO. O assédio moral decorre de práticas abusivas do

empregador ou de colegas de trabalho, de forma reiterada e prolongada, deteriorando

o ambiente laboral e desestabilizando psicologicamente o trabalhador, por meio de

constrangimentos e humilhações capazes de ofender os seus direitos

personalíssimos. Alegado pela autora a ocorrência de assédio moral por seu superior

hierárquico no curso do pacto laboral, que ficou comprovado e caracterizado pela

forma inadequada que a obreira era tratada no trabalho, de forma hostil, vexatória,

humilhante e discriminatória, que, por conseguinte, causam imensos prejuízos de

ordem psicológica, inclusive com repercussões físicas e consequente exclusão da

reclamante do meio ambiente de trabalho, é devido o pleito de indenização por dano

moral. DANOS MORAIS. FIXAÇÃO DO VALOR INDENIZATÓRIO.

CRITÉRIOS. RAZOABILIDADE E EQUIDADE. No ordenamento jurídico pátrio

não existe fórmula objetiva para estabelecer o valor da indenização por lesão

extrapatrimonial cabendo ao juiz fixar o valor da reparação da dor moral com

razoabilidade e equidade, de acordo com as circunstâncias do caso concreto e

levando em consideração a extensão do dano, o grau de culpa do ofensor, a

capacidade econômica das partes e o caráter compensatório da indenização para a

vítima e pedagógico para o agressor, devendo o respectivo valor ser suficiente para

desencorajar este à reincidência e não acarretar enriquecimento sem causa. Acórdão

do TRT da 14ª Região. Recurso Ordinário (01146.2012.403.14.00-0). Primeira

Turma. Origem: 3ª Vara do Trabalho de Rio Branco-AC Relator Juiz Convocado

Shikou Sadahiro. Sessão de julgamento realizada no dia 13 de março de 2013

(ACRE TRT14, 2013, online).

Observa-se, portanto, que a falta de leis não implica na ausência de Justiça, pois a

jurisprudência dá provas de que tem coibido com severidade os casos de assédio moral,

impondo elevadas indenizações aos responsáveis pela prática de assédio moral na seara

trabalhista.

Os Tribunais têm coibido a prática de condutas abusivas que atentem contra a

dignidade psíquica dos trabalhadores, de forma repetitiva e prolongada, expondo-os a

situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à sua personalidade,

dignidade ou integridade psíquica.

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CONCLUSÃO

O presente artigo analisou o princípio da dignidade da pessoa humana,fundamento

da República Federativa do Brasil. Nesse contexto, verificou-se que a base do Estado

Democrático de Direito se alicerça na ideia de respeito à dignidade da pessoa humana, sendo

esta reconhecida como núcleo dos direitos fundamentais e cláusula geral de tutela dos direitos

da pessoa, devendo ser respeitada perante a sociedade e protegida pelo ordenamento jurídico,

como forma de proteção da condição humana.

A consagração constitucional do princípio da dignidade resulta na obrigação de o

Estado e todo o seu aparato garantirem à pessoa humana o resguardo do direito à vida, à

integridade física, intelectual e moral,o direito ao livre exercício do trabalho, ou seja, garantia

dos mínimos direitos do cidadão.

Evidencia-se que o alcance da garantia da dignidade pressupõe o reconhecimento

dos direitos de personalidade. Afasta-se a noção de Estado enquanto fim em si mesmo,

substituindo-se por uma ideia humanista. O Estado existe em função de todas as pessoas e não

estas em função do Estado, incumbindo-lhe impor aos cidadãos dever de respeito e proteção

mútuo, refletido na obrigação de abster-se de atuar na esfera individual, em casos de afronta à

dignidade da pessoa. Assim, as ações do ente estatal devem ser avaliadas e sopesadas sob pena

de violar a dignidade da pessoa humana e ser consideradas eivadas de inconstitucionalidade.

A dignidade, atributo imanente ao ser humano, representa, no sistema brasileiro,

um comando jurídico dotado de superioridade hierárquica. Infere-se, portanto, que a pessoa

humana é colocada como o centro do ordenamento jurídico, merecedora de tutela,

especialmente nas situações de vulnerabilidade, em que necessita de proteção especial.

Apesar de todo o aparato normativo para a proteção dos direitos da pessoa, a

história demonstrou que, nem sempre, o ser humano esteve acima de todos os outros

interesses. Isto ficou claro quando se observou a evolução histórica da valorização do trabalho

humano.

No Brasil, a Carta Magna de 1988 deixou claro que o fundamento da República

Federativa tem como alicerce os princípios fundamentais constitucionais da dignidade da

pessoa humana e da valorização social do trabalho.

Em que pese a consagração constitucional da dignidade, referencial que ilumina a

interpretação e aplicação das normas do ordenamento jurídico, verifica-se ainda, nos dias de

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hoje, sua violação, principalmente no bojo das relações de trabalho, ocasionando o chamado

assédio moral.

Não obstante, o trabalho, como direito social perpetrado dentre os direitos

fundamentais, deve ser realizado num ambiente adequado e sadio para o trabalhador. A

exposição do trabalhador a pressões psicológicas desumanas e a condições de trabalho

precárias afronta sua dignidade.

Investigou-se, ainda que rapidamente, o assédio moral no direito comparado,

momento em que se observaram várias denominações para o mesmo fenômeno, e a depender

do país, diferentes manifestações. Trata-se de tema relativamente novo, em diversos países,

embora presente nas relações de trabalho haja muito tempo, sendo tão antigo quanto o próprio

trabalho. Poucos países possuem legislação específica sobre este assunto. Identificou-se a

França como o primeiro país a estabelecer, no seu ordenamento jurídico, uma Lei com o

objetivo de rechaçar o assédio moral. Destacaram-se a Suécia, a Noruega, a Finlândia, a

Austrália e a Argentina como países que possuem legislação específica para coibir o assédio

moral.

Identificou-se o assédio moral como uma conduta abusiva, de natureza

psicológica, que atenta contra a dignidade da pessoa, de forma repetida e prolongada.

Configura-se a partir de atitudes reiteradas de desrespeito, desprezo e humilhações

direcionadas ao assediado. Embora seja um constrangimento difícil de ser provado, mostra-se

diuturnamente presente nas relações interpessoais, notadamente no ambiente de trabalho,

ocasionando danos à saúde física e à saúde psicológica da vítima.

Nessa esteira, têm-se como elementos caracterizadores do assédio moral a

incapacidade do agente agressor em considerar os outros como seres humanos e a violação da

dignidade da pessoa humana, mediante condutas abusivas desenvolvidas dentro do ambiente

de trabalho.

No Brasil, a abordagem do assédio moral representa algo novo, não obstante o

fenômeno seja tão antigo quanto o próprio trabalho. Diversos autores procuram definir o

assunto, dando ênfase a determinados aspectos, contribuindo para a solidificação do

conceito. Observou-se que, embora a terminologia mais aceita seja assédio moral, ainda não

existe denominação específica, podendo encontrar, como ensina Maria Aparecida Alkmin

(2005, p. 38), os seguintes termos: humilhação no trabalho, violência moral ou psicológica,

assédio psicológico no trabalho, terror ou terrorismo psicológico no trabalho, psicoterror,

tirania nas relações de trabalho, coação moral no ambiente de trabalho, molestamento moral

e manipulação perversa.

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Destacou-se à tutela jurídica do assédio moral em face do ordenamento jurídico

brasileiro, enfatizando sua abordagem na Consolidação das Leis Trabalhistas.

Analisaram-se os fatores que influenciaram os conflitos interpessoais nas relações

laborais, a exemplo das novasformas de organização do trabalho no Brasil, caracterizadas pela

competição agressiva e pela opressão dos trabalhadores, visando, tão-somente, à produção e

ao lucro, criando ambientes de trabalho propícios para a ocorrência de situações de violência

psicológica. Em seguida, destacaram-se as condutas típicas do agente assediador, as

consequências do assédio moral sob o prisma da Consolidação das Leis Trabalhistas.

Verificou-se que a legislação trabalhista, no Brasil, é antiga e, a demora no

processo legislativo brasileiro causa empecilhos à criação de uma legislação mais atual para

os casos de assédio moral. Destacou-se o Projeto de Lei Federal nº 5.970/01 com o fim de

incluir a alínea “h” no art. 483, da CLT, acrescentando-a no §3º, e inclusão do art. 484-A,

alterando dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho.

Os Tribunais Regionais do Trabalho, embora desprovidos de legislação específica

sobre o assédio moral, têm reconhecido sua prática, freando seus avanços, usando os

dispositivos insertos na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), impondo elevadas

indenizações aos responsáveis pela prática de assédio moral na seara trabalhista.

Este artigo não buscou, nem de longe, exaurir o assunto, mas sim, trazer a lume as

discussões e legislações existentes no ordenamento jurídico pátrio, destinadas a coibir com

rigor o assédio moral, restando claro que ainda há muito a ser explorado e explanado acerca

do assédio moral nas relações de trabalho.

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