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BARNABÉ CRISTA EM PÉHá muitos anos atrás, viviam uns animais e os seus donos numa quinta muito bem tratada. Os donos da quinta tinham trazido da feira um galo, ainda pequenino, mas que, depois de algum tempo, se transformou num belo galo com uma crista bem encarnada e umas penas bem luzidias. Todos os animais da quinta se afeiçoaram ao galo, que se dava bem com todos, tendo este ficado a chamar-se de Barnabé Crista em Pé. Infelizmente, Barnabé Crista em Pé sofria de um mal: não conseguia cantar. Por mais que este esticasse o pescoço para cantar e poder acordar toda a gente bem cedo de manhã, não o conseguia fazer. Nem um «piu» saia daquele bico. O infeliz era mudo. Durante dias e dias a fio, Barnabé Crista em Pé tinha subido ao telhado da granja e tinha tentado, mas nada. Todos tinham imensa pena do animal que se esforçava tanto, principalmente a galinha Pena d’Ourada que tinha uma paixoneta por ele. Certo dia, o dono da quinta, já farto de não conseguir acordar cedo para ir trabalhar para os campos, decidiu que o galo Barnabé Crista em Pé seria substituído por um outro galo que iria fazer o seu serviço, uma vez que aquele não o fazia. A galinha Pena d’Ourada até já tinha ouvido a dona da quinta dizer que o galo iria para a panela, caso passada uma semana, este não cantasse para os acordar. Ó Meu Deus, ir para a panela…. Ninguém ao certo sabia onde ficava esse sítio, mas devia ser bem longe, pois os animais que iam para lá nunca voltavam, nem nunca tinham enviado cartas nem feito telefonemas para darem notícias! A quinta ficou num alvoroço quando Pena d’Ourada lhes deu a conhecer o que tinha ouvido da dona da quinta. Então, Crinas Despenteado, o único cavalo da quinta que já tinha alguns anos e muita sabedoria, marcou uma reunião. Era uma reunião de urgência. Tinham de resolver o problema de Barnabé Crista em Pé, antes que fosse enviado para a panela. Já na granja, em plena reunião, todos os animais falavam ao mesmo tempo, alguns até gritavam de tão nervosos que estavam. Outros choravam só

Barnabé Crista Em Pé

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Page 1: Barnabé Crista Em Pé

“BARNABÉ CRISTA EM PÉ”

Há muitos anos atrás, viviam uns animais e os seus donos numa quinta

muito bem tratada. Os donos da quinta tinham trazido da feira um galo, ainda

pequenino, mas que, depois de algum tempo, se transformou num belo galo com

uma crista bem encarnada e umas penas bem luzidias. Todos os animais da

quinta se afeiçoaram ao galo, que se dava bem com todos, tendo este ficado a

chamar-se de Barnabé Crista em Pé.

Infelizmente, Barnabé Crista em Pé sofria de um mal: não conseguia

cantar. Por mais que este esticasse o pescoço para cantar e poder acordar toda

a gente bem cedo de manhã, não o conseguia fazer. Nem um «piu» saia daquele

bico. O infeliz era mudo. Durante dias e dias a fio, Barnabé Crista em Pé tinha

subido ao telhado da granja e tinha tentado, mas nada.

Todos tinham imensa pena do animal que se esforçava tanto,

principalmente a galinha Pena d’Ourada que tinha uma paixoneta por ele.

Certo dia, o dono da quinta, já farto de não conseguir acordar cedo para

ir trabalhar para os campos, decidiu que o galo Barnabé Crista em Pé seria

substituído por um outro galo que iria fazer o seu serviço, uma vez que aquele

não o fazia. A galinha Pena d’Ourada até já tinha ouvido a dona da quinta dizer

que o galo iria para a panela, caso passada uma semana, este não cantasse

para os acordar. Ó Meu Deus, ir para a panela…. Ninguém ao certo sabia onde

ficava esse sítio, mas devia ser bem longe, pois os animais que iam para lá nunca

voltavam, nem nunca tinham enviado cartas nem feito telefonemas para darem

notícias!

A quinta ficou num alvoroço quando Pena d’Ourada lhes deu a conhecer

o que tinha ouvido da dona da quinta. Então, Crinas Despenteado, o único cavalo

da quinta que já tinha alguns anos e muita sabedoria, marcou uma reunião. Era

uma reunião de urgência. Tinham de resolver o problema de Barnabé Crista em

Pé, antes que fosse enviado para a panela.

Já na granja, em plena reunião, todos os animais falavam ao mesmo

tempo, alguns até gritavam de tão nervosos que estavam. Outros choravam só

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de pensar que poderiam deixar de ver o seu amigo. Barnabé Crista em Pé, esse

nem sequer conseguia manter a sua crista em pé de tão infeliz que estava.

O velho, mas sábio cavalo, relinchou bem alto para acalmar os ânimos e

disse:

- Temos de arranjar uma solução, meus amigos e vamos decidir ainda

hoje.

Dona Larga, a ovelha mais gorda da quinta, teve uma ideia que expôs

rapidamente aos animais:

- E que tal se nos revezássemos e acordássemos os donos bem cedo

pela manhã? O problema estaria resolvido. Só teríamos de cantar bem alto! –

baliu a ovelha toda contente com a sua ideia.

Todos concordaram que de facto essa seria a resolução do problema e

decidiram que seria o Bobi, o cão da quinta, a acordar os donos na primeira

semana. E assim foi. Bem cedo, o Bobi lá ia encostar-se ao quarto dos donos e

começava a ladrar, tentando imitar da melhor maneira que conseguia o canto de

um galo. Barnabé Crista em Pé só tinha de se colocar em cima do telhado da

granja e fingir que cantava. Durante umas quantas semanas, tudo correu bem.

O Bobi tinha sido substituído na segunda semana pela vaca Mimosa, que por

sua vez tinha sido substituída pelo burro Teimoso, e por aí fora.

Os donos da casa estranharam quando ouviram, pela primeira vez, o

suposto canto do galo, que lhes pareceu tão desafinado, mas a verdade é que

acordavam todos os dias bem cedo e quando olhavam para fora para o telhado

da granja, viam, de facto, o galo a cantar em todo o seu esplendor.

Infelizmente, durante a semana do porco Porcalhão, as coisas não

correram lá muito bem. O desgraçado bem tentava acordar cedo, mas a verdade

é que a palhinha de manhã lhe sabia sempre tão bem…e quando acordava já

era tão tarde…

E tudo se repetiu novamente. Os donos andavam zangados e só falavam

na panela. Alguns dos animais choravam, outros gritavam e o Barnabé Crista em

Pé com a crista outra vez em baixo.

Decidiram reunir novamente para arranjar uma outra alternativa.