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Bibliografia barthesiana Le degré zéro de l'écriture, 1953 Michelet, 1954 Mythologies, 1957 (Mitologías) Sur Racine, 1963 (Sobre Racine) Essais critiques, 1964 La Tour Eiffel, 1964 Elements de sémiologie, 1965 Critique et vérité, 1966 Le système de la mode, 1967 S/Z, 1970 L'Empire des signes, 1970 Sade, Fourier, Loyola, 1971 Nouveaux essais critiques, 1972 Le plaisir du texte, 1973 (O Prazer do Texto) Roland Barthes, par lui même, 1975 (Roland Barthes por Roland Barthes) Fragments d'un discours amoureux, 1977 (Fragmentos de um discurso amoroso) Leçon, 1978 Sollers écrivain, 1979 La chambre claire, 1980 Le grain de la voix, 1981 L'obvie et l'obtus, 1982 Le bruissement de la langue, 1984 L'aventure sémiologique, 1985 Incidents, 1987 Œuvres complètes, 1993 e ss. Comment vivre ensemble, Seuil, 2002, curso Le neutre, Seuil, 2002 curso 1977–1978 La préparation du roman, I et II, Seuil, 2003, curso Nu na banheira Partir de qualquer texto/livro: “uma galáxia de significantes” Avançar mascarado e mostrar a máscara com o dedo Não pra onde vai a literatura”, mas sim “de onde vem a

Barthes - Apanhado

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Nu na banheiraPartir de qualquer texto/livro: uma galxia de significantesAvanar mascarado e mostrar a mscara com o dedoNo pra onde vai a literatura, mas sim de onde vem a literatura?

Bibliografia barthesiana

Le degr zro de l'criture, 1953Michelet, 1954Mythologies, 1957 (Mitologas)Sur Racine, 1963 (Sobre Racine)Essais critiques, 1964La Tour Eiffel, 1964Elements de smiologie, 1965Critique et vrit, 1966Le systme de la mode, 1967S/Z, 1970L'Empire des signes, 1970Sade, Fourier, Loyola, 1971Nouveaux essais critiques, 1972Le plaisir du texte, 1973 (O Prazer do Texto)Roland Barthes, par lui mme, 1975 (Roland Barthes por Roland Barthes)Fragments d'un discours amoureux, 1977 (Fragmentos de um discurso amoroso)Leon, 1978Sollers crivain, 1979La chambre claire, 1980Le grain de la voix, 1981L'obvie et l'obtus, 1982Le bruissement de la langue, 1984L'aventure smiologique, 1985Incidents, 1987uvres compltes, 1993 e ss.Comment vivre ensemble, Seuil, 2002, cursoLe neutre, Seuil, 2002 curso 19771978La prparation du roman, I et II, Seuil, 2003, cursoLe discours amoureux. Sminaire, Seuil, 2007, curso

Citaes aulas

Para mim, ler ao menos desde que leio Barthes traz embutida a possibilidade da escrita, de modo tal que inmeras vezes me vejo interrompendo a mais urgente das leituras para anotar, compor um esboo de texto ou mesmo desenvolver todo um ensaio a partir de alguns poucos pargrafos sofregamente decifrados. E ao final, nunca sei exatamente o que engendrou o que, se me ponho a ler para escrever algo, ou se escrevo porque li uma novela, vi um filme, analisei um ensaio, preparei uma aula.Evando Nascimento, A paixo isenta (o pequeno Barthes). In: De volta a Roland Barthes, pp. 81-98

Barthes emprega largamento o apud. Por qu? Talvez porque a censura ao apud esteja ligada a um pensamento da fidelidade, do rigor terico entendido como exatido expositiva, ao passo que o uso das citaes de segunda mo encaixa-se bem em um pensamento da apropriao, dos deslocamentos, do rigor terico entendido como produo de diferena. (...)Francisco Bosco, A amizade de Barthes. In: Viver com Barthes, pp. 175-83

Somos geralmente inclinados, pelo menos hoje, a acreditar que o escritor pode reivindicar o sentido de sua obra e definir ele prprio esse sentido como legal; de onde uma interrogao desarrazoada dirigida pelo crtico ao escritor morto, sua vida, aos rastros de suas intenes, para que ele nos assegure ele prprio acerca do que significa sua obra: quer-se a todo preo falar do morto e de seus substitutos, seu tempo, o gnero, o lxico, em suma, tudo o que contemporneo ao autor, proprietrio por metonmia do direito do escritor transferido para sua criao. Ainda mais: pedem-nos que esperemos que o escritor morra para poder trat-lo com objetividade: curiosa reviravolta: no momento em que a obra se torna mtica que ela deve ser tratada como fato exato.Crtica e verdade

A morte tem outra importncia: ela irrealiza a assinatura do escritor e faz da obra um mito: a verdade das anedotas se esgota em vo, tentando alcanar a verdade dos smbolos (...) E estamos certos, pois recusamos assim que o morto se apodere do vivo, libertamos a obra dos constrangimentos da inteno, reencontramos o tremor mitolgico dos sentidos. Apagando a assinatura do escritor, a morte funda a verdade da obra, que enigma Crtica e verdade

Assim se revela o ser total da escrita: um texto feito de escritas mmltiplas, sadas de vrias culturas e que entram umas com as outras em dilogo, em pardia, em contestao; mas h um lugar em que essa multiplicidade se rene, e esse lugar no o autor, como se tem dito at aqui, o leitor: o leitor o espao exato em que se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citaes de que uma escrita feita; a unidade de um texto no est na sua origem, mas no seu destino, mas este destino j no pode ser pessoal: o leitor um homem sem histria, sem biografia, sem psicologia; apenas esse algum que tem reunidos num mesmo campo todos os traos que constituem o escrito. por isso que irrisrio ouvir condenar a nova escrita em nome de um humanismo que se faz hipocritamente passar por campeio dos direitos do leitor. O leitor, a crtica clssica nunca dele se ocupou; para ela, no h na literatura qualquer outro homem para alm daquele que escreve. Comeamos hoje a deixar de nos iludir com essa espcie de antfrases pelas quais a boa sociedade recrimina soberbamente em favor daquilo que precisamente pe de parte, ignora, sufoca ou destri; preciso inverter o seu mito: o nascimento do leitor tem de pagar-se com a morte do Autor.A morte do autor. In: Barthes, Roland. O Rumor da lngua. Trad. Mrio Laranjeira. So Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 6

O texto um objeto de prazer. O gozo do texto muitas vezes apenas estilstico: h felicidades de expresso, e elas no faltam nem em Sade nem em Fourier. Por vezes, entretanto, o prazer do Texto se realiza de maneira mais profunda (e ento que se pode realmente dizer que h Texto): quando o texto literrio (o Livro) transmigra para dentro de nossa vida, quando outra escritura (a escritura do Outro) chega a escrever fragmentos de nossa cotidianidade, enfim, quando se produz uma co-existncia. O indcio do Prazer do Texto ento podermos viver com Fourier, com Sade. Viver com um autor no significa necessariamente cumprir em nossa vida o programa traado nos livros desse autor (...); no se trata de tornar-se sdico ou orgaco com Sade, falasteriano com Fourier, orante com Loyola; trata-se de fazer passar para a nossa cotidianidade fragmentos do inteligvel (frmulas) provindas do texto admirado (admirado justamente porque se difunde bem)...Barthes, Roland. Sade, Fourier, Loyola. Traduo Mrio Laranjeira. So Paulo: Martins Fontes, 2005, p. XV.

O prazer do texto comporta tambm uma volta amigvel do autor. O autor que volta no por certo aquele que foi identificado por nossas instituies (histria e ensino da literatura, da filosofia, discurso da Igreja); nem mesmo o heri de uma biografia ele . O autor que vem do seu texto e vai para dentro de nossa vida no tem unidade; um simples plural de encantos, o lugar de alguns pormenores tnues, fonte, entretanto, de vivos lampejos romanescos, um canto descontnuo de amabilidades, em que lemos apesar de tudo a morte com muito mais certeza do que uma epopia de um destino; no uma pessoa (civil, moral), um corpo.Barthes, Roland. Sade, Fourier, Loyola. Traduo Mrio Laranjeira. So Paulo: Martins Fontes, 2005, p. XVI.

Porque, se necessrio que, por uma dialtica arrevesada, haja no Texto, destruidor de todo o sujeito, um sujeito para amar, tal sujeito disperso, um pouco como as cinzas que se atiram ao vento aps a morte.Barthes, Roland. Sade, Fourier, Loyola. Traduo Mrio Laranjeira. So Paulo: Martins Fontes, 2005, p. XVI-XVII

LITERATURA MODERNA

preciso lembrar o fundo tradicional sobre o qual se ala a tentativa de Robbe-Grillet: um romance secularmente fundado como experincia de uma profundidade: profundidade social com Balzac e Zola, psicolgica com Flaubert, memorial com Proust, sempre ao nvel de uma inferioridade do homem ou da sociedade que o romance determinou seu campo; ao que correspondia, no romancista, uma misso, de escavamento e extrao. Essa funo endoscpica, sustentada pelo mito concomitante da essncia humana, sempre foi to natural ao romance, que seramos XXX a definir seu exerccio (Criao ou consumao) como uma fruio do abismo.Crtica e verdade, p. 92

DEVIR DA ESCRITA

Dos textos escritveis, talvez no haja nada a dizer. Primeiro, onde os encontramos? Certamente no do lado da leitura (ou pelo menos muito pouco: por acaso, fugitivamente e obliquamente em algumas obras-limiter): o texto escritvel no uma coisa, no o encontramos nas livrarias. Ainda por cima, como seu modelo produtivo (e no representativo), ele abole toda a crtica, que, produzida, se confundiria com ele: re-escrev-lo s poderia consistir em dissemin-lo, dispers-lo no campo da diferena infinita. O texto escritvel est em um presente perptuo, sobre o qual no podemos propor nenhuma fala consequente (que o transformaria, fatalmente em passado), ns escrevendo-o, antes que o jogo infinito do mundo (o mundo como jogo) seja atravessado, cortado, parado, plastificado por algum sistema singular (Ideologia, Gnero, Crtica) que se assente na pluralidade das entradas, a abertura das redes, o infinito das linguagens. O escritvel o romanesco sem romance, o ensaio sem a dissertao, a escritura sem o estilo, a produo sem o produto, a estruturao sem a estrutura. S/Z

Saber que no se escreve para o outro, saber que essas coisas que eu vou escrever no me faro ser amado por quem eu amo, saber que a escritura no compensa nada, que ela est precisamente a onde voc no est o comeo da escritura. Fragmentos de um discurso amoroso

O ROMANCE COMO MSCARA SEM DEDO / NO CONSIGO MENTIR

Por que essa reviravolta? Por que Stendhal, passando do Dirio ao Romance, do lbum ao Livro (para retomar uma distino de Mallarm) abandonou a sensao, parcela viva, mas inconstrutvel, para abordar essa grande mediadora que a Narrativa, ou ainda melhor, o Mito?Malogramos sempre ao falar do que amamos

ESCRITA COMO MODO DE VIDA / NU NA BANHEIRA

Esse 15 de abril: em suma, uma espcie de Satori, de deslumbramento, anlogo (pouco importa se a analogia ingnua) iluminao que o Narrador proustiano experimenta no final do Tempo redescoberto (mas seu livro j est escrito!) A preparao do romance, p. 31-32

Como Liberdade, a escrita no mais que um momento. Mas esse momento um dos mais explcitos da Histria, visto que a Histria sempre e antes de tudo uma escolha e os limites dessa escolha. Porque a escrita deriva de um gesto significativo do escritor que ela aflora a Histria de maneira muito mais sensvel do que tal outro recorte da Literatura (Grau zero, p. 16)

Quem quiser escrever com exatido deve pois se transportar s fronteiras da linguagem, e nisso que ele escreve verdadeiramente para os outros (pois, se ele falasse somente a si prprio, uma espcie de nomenclatura espontnea de seus sentimentos lhe bastaria, jque o sentimento imediatamente seu prprio nome). Toda propriedade da linguagem sendo impossvel, o escritor e o homem privado (quando ele escreve) so condenados a variar desde o incio suas mensagens originais, e j que ela fatal, escolher a melhor conotao, aquela cujo aspecto indireto, por vezes fortemente retorcido, deforma o menos possvel, no o que eles querem dizer mas o que eles querem dar a entender; o escritor (o amigo) pois um homem para quem falar imediatamente escutar sua prpria fala; assim se constitui uma fala recebida (embora ela seja uma fala criada), que a prpria fala da literatura. A escritura com efeito, em todos os nveis, a fala de um outro, e podemos ver nessa reviravolta paradoxal o verdadeiro dom do escritor; preciso mesmo que a o vejamos, j que essa antecipao da fala o nico momento (muito frgil) em que o escritor (como o amigo compadecido) pode fazer compreender que est olhando para o outro; pois nenhuma mensagem direta pode em seguida comunicar que a gente se compadece, a menos que se recaia nos signos de compaixo:somente a forma permite escapar irriso dos sentimentos, porque ela a prpria tcnica que tem por fim compreender e dominar o teatro da linguagem. A originalidade pois o preo que se deve pagar pela esperana de ser acolhido.(Crtica e Verdade, p. 20)

Voltamos uma vez mais dura lei da comunicao humana: o original no ele prprio mais do que a mais banal das linguas e por excesso de pobreza, no de riqueza, que falamos de inefvel. Ora, com essa primeira linguagem, esse nomeado, esse nomeado demais, que a literatura deve debater-se: a matria-prima da literatura no o inominvel, mas pelo contrrio o nomeado; aquele que quiser escrever deve saber que comea uma longa concubinagem com uma linguagem que sempre anterior. O escritor no tem absolutamente de arrancar um verbo ao silncio, como se diz nas piedosas hagiografias literrias, mas ao inverso, e quo mais dificilmente, mais cruelmente e menos gloriosamente, tem de destacar uma fala segunda do visgo das falas primeiras que lhe fornecem o mundo, a histria, sua existncia, em suma um inteligvel que preexiste a ele, pois ele vem num mundo cheio de linguagem e no existe nenhum real que j no esteja classificado pelos homens [...] Ouve-se frequentemente dizer que a arte tem por encargo exprimir o inexprimvel: o contrrio que se deve dizer (e sem nenhuma inteno de paradoxo): toda a tarefa da arte inexprimir o exprimvel, retirar da lingua do mundo, que a pobre e poderosa lingua das paixes, uma outra fala, uma fala exata. (Crtica e Verdade, p. 22)

Escrituras incipientes:

Literatura e Metalinguagem:

B: Todas essas tentativas (a literatura ao mesmo tempo como linguagem-objeto e metaliteratura) permitiro talvez um dia definir nosso sculo (entendo por isso os ltimos cem anos) como o dos: Que Literatura? (Sartre respondeu do exterior, o que lhe d uma posio literria ambgua). E, precisamente, como essa interrogao levada adiante, no do exterior, mas na prpria literatura, ou mais exatamente na sua margem extrema, naquela zona assinttica onde a literatura finge destruir-se como linguagem objeto sem se destruir como metalinguagem [...] (p. 28, Literatura e Metalinguagem)

S: se a literatura essa prpria dinmica irrespondvel, como voc conseguiria defin-la em sua pesquisa? Em termos histricos? Em termos de relaes de poder? Em termos sociolgicos? Barthes, a partir dessa definio, prope um levantamento de diferentes posturas morais da escritura no tempo. A escritura artesanal, a silenciosa, a branca, e por a vai...

B: da decorre que nossa literatura h cinte anos um jogo perigoso com sua prpria morte, isto , um modo de viv-la: ela como aquela herona ranciana que morre de se conhecer mas vive de se procurar. Ora, isso define um estatuto propriamente trgico: nossa sociedade, fechada por enquanto numa espcie de impasse histrico, s permite sua literatura a pergunta edipiana: quem sou eu? Ela lhe probe, pelo mesmo movimento, a pergunta dialtica: que fazer? A verdade da nossa literatura no da ordem do fazer, j no mais da ordem da natureza: ela uma mscara que se aponta com o dedo. (p. 28-9, Literatura e Metalinguagem)

S: Est tudo aqui. A tragicidade est em apontar-se a mscara com o dedo, gesto que uma metfora para a condio tica do escritor ps-falncia-burguesa: o questionamento constante dO que a Literatura.; gesto tico e ligado histria/sociedade na medida em que faz parte dessa nova conjuntura da conscincia ocidental: o esfacelamento do ideal burgus, a queda do universal de homem e de linguagem e a consequente possibilidade de escolha entre vrias linguagens.

Escritores e escreventes:

B: Escritor:A palavra no nem um instrumento, nem um veculo: uma estrutura, e cada vez mais nos damos conta disso; mas o escritor o nico, por definio, a perder sua prpria estrutura e a do mundo na estrutura da palavra. Ora, essa palavra uma matria (infinitamente) trabalhada; ela , de certa forma, uma sobre-palavra, o real lhe serve apenas de pretexto (para o escritor, escrever um verbo intransitivo); disso decorre que ela nunca possa explicar o mundo, ou pelo menos, quando ela finge explic-lo somente para aumentar a sua ambiguidade: a explicao fixada numa obra (trabalhada), torna-se imediatamente um produto ambguo do real, ao qual ela est ligada com distncia; em suma, a literatura sempre irrealista, mas esse mesmo irrealismo que lhe permite frequentemente fazer boas perguntas ao mundo sem que essas perguntas possam ser jamais diretas [...] o poder de abalar o mundo, dando-lhe o espetculo de uma praxis sem sano. (p. 33-34, Escritores e escreventes)

Escrevente: Os escreventes, por sua vez, so homens transitivos; eles colocam um fim (testemunhar, explicar, ensinar) para o qual cada palavra apenas um meio; para eles, a palavra suporta um fazer, ela no o constitui. Eis pois a linguagem reduzida natureza de um instrumento de comunicao, de um veculo do pensamento. Mesmo se o escrevente concede alguma ateno escritura, esse cuidado nunca ontolgico: no preocupao. O escrevente no exerce nenhuma ao tcnica essencial sobre a palavra; dispe de uma escritura comum a todos os escreventes, uma espcie de koin, na qual se pode, verdade, distinguir dialetos (...) mas muito raramente estilos. Pois o que define o escrevente que seu projeto de escrita ingnuo: ele no admite que sua mensagem se volte e se feche sobre si mesma, e que se possa ler nela, de um modo diacrtico, outra coisa alm do que ela quer dizer (p. 36)

Escritor-escrevente:

Hoje, cada participante da intelligentsia tem em si os dois papis, encaixando-se mais ou menos bem num ou noutro: os escritores tm bruscamente comportamentos, impacincias de escreventes; os escreventes se alam por vezes at o teatro da linguagem. Queremos escrever alguma coisa, e ao mesmo tempo, escrevemos s. Em suma, nossa poca daria luz um tipo bastardo: o escritor-escrevente. Sua funo ela mesma s pode ser paradoxal: ele provoca e conjura ao mesmo tempo; formalmente, sua palavra livre, subtrada instituio da linguagem literria, e entretanto, fechada nessa mesma liberdade, ela secreta suas prprias regras, sob forma de uma escritura comum; sado do clube dos homens de letras, o escritor-escrevente encontra um outro clube, o da intelligentsia. Na escala da sociedade inteira, esse novo agrupamento tem uma funo complementar: a escritura do intelectual funciona como o signo paradoxal de uma no-linguagem, permite sociedade viver o sonho de uma comunicao sem sistema (sem instituio): escrever sem escrever, comunicar pensamento puro sem que esta comunicao desenvolva nenhuma mensagem parasita, eis o modelo que o escritor-escreventerealiza para a sociedade. um modelo ao mesmo tempo distante e necessrio, com o qual a sociedade brinca um pouco de gato e rato: ela reconhece o escritor-escrevente comprando (um pouco) suas obras, admitindo seu carter pblico; e ao mesmo tempo ela o mantm distncia, obrigando-o a tomar apoio sobre instituies anexas que ela controla (a Universidade, por exemplo), acusando-o constantemente de intelectualismo, isto , miticamente, de esterilidade (censura nunca recebida pelo escritor). (p. 37-38, Escritores e escreventes)

S: - Ora, Barthes, se a escrita literria intransitiva, haveria algum alcance ideolgico na escrita literria ou no?- Foucault, que seria um escrevente, falando que escreve para deixar de pens-lo, e dando nessa afirmao um teor no de comunicao ou representatividade de um pensamento, mas antes de uma experincia do pensamento (o que o aproximaria mais de um escritor)- Entre Barthes e Foucault, parece que o segundo vai mais alm na problematizao do literrio (algo prximo afirmao do Julio de que a escrita tambm placa de trnsito), desfazendo as barreiras entre a Literatura e outras linguagens... Ora, seria esse estranhamento do literrio dado na forma da indiferenciao entre o literrio e o no-literrio a pergunta a se carregar no turbilho de discursos, Silas?- Ou seja, Foucault problematiza Barthes apesar de partes ser um irmo na empreitada de tentar entender o que faz com que algum discurso entre no campo dito por literrio. Quer dizer, Barthes, apesar de desmitologizar a literatura, no leva essa desmitologizao sua prpria essncia, uma vez que essa continua sendo ainda um discurso separado dos demais, ainda a circunscreve como uma linguagem; enquanto Foucault por vias menos ortodoxas, busca no s desmitologizar (a seu modo: imiscuindo as barreiras dela) como tambm apontar-lhe os ps-de-barro (ideologias, etc...). - Brincar com essas comparaes:

Barthes, o mito do bem-escrever:

Naturalmente, a literatura no uma graa, o corpo dos projetos e das decises que levam um homem a se realizar (isto , de certo modo, a se essencializar) somente na palavra: escritor aquele que quer ser. Naturalmente tambm, a sociedade, que consome o escritor, transforma o projeto em vocao, o trabalho da linguagem em dom de escrever, e a tcnica em arte: assim que nasceu o mito do bem-escrever: o escritor um sacerdote assalariado, o guardio, meio respeitvel, meio irrisrio, dos anturio da grande Palavra Francesa, uma espcie de Bem nacional, mercadoria sagrada, produzida, ensinada, consumida e exportada no quadro de uma economia sublime de valores. Essa sacralizaco do trabalho do escritor sobre sua forma tem grandes conseqncias, que no so formais: ela permite (boa) sociedade distanciar o contedo da prpria obra, quando esse contedo corre o risco de a perturbar, convert-lo em puro espetculo, ao qual ela tem o direito de aplicar um julgamento liberal (isto , indiferente), neutralizar a revolta das paixes, a subverso das crticas (o que obriga o escritor engajado a uma provocao incessante e impotente), em sntese, recuperar o escritor: no h nenhum escritor que no seja um dia digerido pelas instituies literrias, salvo se ele se puser a pique, isto , salvo se ele cessar de confundir seu ser com o da palavra: eis por que to poucos escritores renunciam a escrever, pois isso significa literalmente matar-se, morrer para o ser que escolheram; e se esses escritores existem, seu silncio ressoa como uma conversoinexplicvel (Rimbaud)

Sociedade de discurso, By Michel Foucault:

certo que no mais existem tais "sociedades de discurso", com esse jogo ambguo de segredo e de divulgao. Mas que ningum se deixe enganar; mesmo na ordem do discurso verdadeiro, mesmo na ordem do discurso publicado e livre de qualquer ritual, se exercem ainda formas de apropriao de segredo e de no-permutabilidade. bem possvel que o ato de escrever tal como est hoje institucionalizado no livro, no sistema de edio e no personagem do escritor, tenha lugar em uma "sociedade de discurso" difusa, talvez, mas certamente coercitiva. A diferena do escritor, sem cessar oposta por ele mesmo atividade de qualquer outro sujeito que fala ou escreve, o carter intransitivo que empresta a seu discurso, a singularidade fundamental que atribui h muito tempo escritura, a dissimetria afirmada entre a criao e qualquer outra prtica do sistema lingstico, tudo isto manifesta na formulao (e tende, alis, a reconduzir no jogo das prticas) a existncia de certa "sociedade do discurso". (p. 16)

Literatura e Significao

B: Que a literatura?: essa pergunta clebre permanece paradoxalmente uma pergunta de filsofo ou de crtico, ainda no uma pergunta de historiador

Essncia da literatura como trans-histrica:

Sim, sem dvida, pois definir a literatura por sua tcnica do sentido dar-lhe por nico limite uma linguagem contrria, que s pode ser a linguagem transitiva. (p. 173, Literatura e significao)

Literatura y poder, Giordano;

La reflexin sobre el poder, sobre el poder de la literatura y sobre los vnculos de la literatura con el poder, es en la obra de Barthes no slo frequente sino tambin esencial. Para Barthes la literatura se define a la vez por lo que puede y por los modos en que resiste a las efectuaciones del poder. Cualquier determinacin propuesta en sus ensayos para sealar el ser de la literatura, cualquiera sea la naturaleza de esa determinacin (escrituraria, semitica o textual), aparece ya en el interior de una reflexin sobre el poder que la determina, a la que ella, en forma explcita o implcita, responde. (p. 9)