Biofisica4 Fis[1]

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    2

    011

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    de

    Aze

    ve

    do

    Jr.

    Biofsica

    Modelos de membranas e potencial de membrana

    Prof. Dr. Walter F. de Azevedo Jr.

  • A principal funo da membrana celular manter, de forma seletiva,

    molculas to diversas como protenas e pequenos solutos no interior da

    clula. A membrana funciona de forma eficiente para regular seletivamente

    sua permeabilidade, ou seja, a facilidade com a qual molculas e ons

    atravessam a membrana. A composio da membrana celular tem sido

    estudada de forma intensa nas ltimas dcadas. Tais estudos fazem uso

    de diversas tcnicas e mtodos fsicos, discutiremos a seguir os principais

    modelos da membrana celular. No livro clssico de Oparin, A Origem daVida, ele props que para qualquer forma de vida necessrio a presenade uma barreira fsica, que separe a parte viva do meio que a cerca. Estetrabalho destaca a necessidade de uma membrana para isolar, at mesmo

    as formas de vida mais simples, do meio exterior.

    Modelos de membrana celular

  • Modelos de membrana celular

    O modelo de bicamada lipdica para membrana celular foi proposto

    originalmente por Gorter & Grendel em 1925, o estudo de eritrcitos indicou

    que o contedo lipdico das membranas ocupava uma rea duas vezes

    maior que a superfcie da clula. Neste estudo os autores detalhavam a

    retirada dos lipdios das membranas dos eritrcitos, usando-se acetona

    como solvente. A soluo contendo lipdio era colocada numa cuba com

    gua. A rea total ocupada pelo lipdio foi determinada usando-se uma

    barreira mvel inserida na cuba, tal barreira juntava toda superfcie onde

    estava o lipdio, como mostrado no diagrama esquemtico a seguir. A rea

    total do filme de lipdio, sobre a superfcie da gua, era aproximadamente

    igual ao dobro da rea do eritrcito. Tal observao levou hiptese da

    bicamada lipdica, com uma parte polar voltada para os meios intra e extra

    celular e a parte hidrofbica voltada para o interior da membrana,

    escondida do solvente.

  • gua

    Monocamada lipdica

    Balana

    Superfcie

    sem filme

    Flutuadores

    Cuba

    Cuba para experimentos com filmes de monocamada lipdica

    Modelos de membrana celular

  • Modelo de Robertson (1957). Posteriormente Schmitt e colaboradores, a

    partir de estudos de polarizao da luz, propuseram que eritrcitos

    apresentavam lipdios perpendiculares ao plano da membrana, como

    espera-se de uma bicamada (Schmitt et al., 1937, 1938). Outros cientistas

    propuseram a presena de protenas nas membranas (Danielli & Davson,

    1935), com a participao protica estendendo-se at 60 % da membrana.

    Baseado nessas informaes Robertson (1957, 1981) props que as

    protenas estivessem distribudas sobre a superfcie da membrana.

    Modelos de membrana celular

  • O modelo de Robertson era coerente com a informao sobre a presena de

    protenas nas membranas, bem como com a presena da bicamada lipdica,

    contudo falhava ao colocar protenas globulares na superfcie da membrana

    de forma contnua. A presena de uma camada de protena na membrana

    formava uma blindagem na superfcie da membrana, o que impossibilita a

    comunicao entre os meios intra e extra-celular.

    Referncias:

    Protena

    globular

    Bicamada

    lipdica

    Modelo de Robertson para membrana celular

    Modelos de membrana celular

  • Protena intrnseca, ou

    transmembrana

    Protena extrnseca

    Experimentos mais detalhados

    mostraram deficincias nos diversos

    modelos de membrana. Em 1972

    Singer e Nicolson propuseram um

    modelo de mosaico fluido,

    constitudo de uma bicamada

    lipdica, onde encontram-se inseridas

    protenas. Neste modelo temos dois

    tipos de protenas, uma que

    atravessa toda a membrana,

    chamada protena intrnseca, ou

    transmembrana. O segundo tipo de

    protena localiza-se sobre a

    membrana, sendo encontrada tanto

    no exterior como voltada para o

    citoplasma. O segundo tipo de

    protena chamado extrnseca.

    Modelos de membrana celular

    O modelo de mosaico fluido indica duas protenas inseridas

    na bicamada lipdica (elipsides cinzas). A protena da

    esquerda uma protena extrnseca e a da direita uma

    protena intrnseca. Os fosfolipdios so indicados com a

    cabea polar em preto e a cauda hidroffica pelas linhas que

    saem da esfera preta.

    Referncia : Singer SJ, Nicolson GL. Science. 1972 ;175(23):720-

    31.

  • Este modelo prev a passagem

    seletiva de ons pelas protenas

    intrnsecas, que so chamadas de

    canais ou bombas como veremos no

    estudo do potencial de

    membrana. Outra caracterstica do

    modelo liberdade de

    movimentao das protenas na

    bicamada. De acordo com

    caractersticas bsicas do modelo,

    mosaicismo e difuso, previu-se a

    liberdade lateral e rotatria, assim

    como a distribuio aleatria de

    componentes moleculares na

    membrana.

    Modelos de membrana celular

    Protena intrnseca, ou

    transmembrana

    Protena extrnseca

    Referncia Singer SJ, Nicolson GL. Science. 1972 ;175(23):720-31.

  • Composio lipdica da membrana

    CH2 CH CH2 O P O X

    O

    O-O

    C

    R1

    O

    O

    C

    R2

    O

    Biomembranas so baseadas

    principalmente em lipdios, com

    predominncia de fosfolipdeos. A

    estrutura qumica geral de uma

    molcula de fosfolipdio mostrada na

    ao lado (figura a). Tal molcula

    basicamente um glicerol (figura b),

    sobre a qual foram ligadas as cadeias

    de cidos graxos (R1 e R2), via ligaes

    do tipo ster. O grupo fosfato permite a

    ligao de qualquer molcula,

    designada na figura por pelo grupo X.

    a)

    b)

    HO CH2 C CH2 OH

    OH

    H

    Fosfolipdio

    Glicerol

  • Composio lipdica da membrana

    Um dos cidos graxos tpicos, encontrados nos fosfolipdios, chamado cido

    palmtico. A molcula de cido palmtico apresenta 16 carbonos e 31 hidrognios

    (molcula da direita, sem indicao dos hidrognios). Este cido graxo dito saturado,

    pois apresenta o maior nmero de possvel de hidrognios ligados. A presena de

    ligaes duplas na cadeia de cido graxo indica que o mesmo no-saturado. As

    duas cadeias R1 e R2 no precisam ser homogneas, ou seja, podem apresentar

    cadeias de tamanhos distintos. Nos fosfolipdios uma parte da molcula polar, a

    cabea hidroflica, e a parte no-polar composta pelas duas cadeias de cidos

    graxos. O diagrama esquemtico abaixo ilustra uma molcula de fosfolipdio.

    Molculas que apresentam parte polar e parte hidrofbica so chamadas anfipticas.

    Na figura da direita temos a representao CPK do fosfolipdio.

    Cabea polar

    Caudas hidrofbicasCaudas hidrofbicas

    Cabea polar

  • Simulao da membrana

    Referncia: Heller, H., Schaefer, M. & Schulten, K. (1993). J. Phys. Chem. 97:8343-8360.

    Um grande nmero de modelos

    computacionais de membranas celulares

    foram construdos e submetidos

    simulao de dinmica molecular. Tais

    modelos usam diferentes componentes

    para a formao da bicamada, no exemplo

    ao lado foram usadas de molculas de 1-

    palmitoil-2-oleoil-sn-glicerol-3-

    fosfatidilcolina, formando uma caixa

    retangular, onde temos molculas de gua

    interagindo com a parte polar da bicamada.

    No modelo computacional vemos

    claramente que as caudas hidrofbicas no

    interagem com as molculas dgua.H

    idro

    fli

    ca

    Hid

    rof

    bic

    a

    Hid

    rof

    lic

    a

  • Simulao da membrana

    Referncia: Heller, H., Schaefer, M. & Schulten, K. (1993). J. Phys. Chem. 97:8343-8360.

    Modelo computacional da membrana Diagrama esquemtico da membrana

    Hid

    rof

    lic

    a

    Hid

    rof

    bic

    a

    Hid

    rof

    lic

    a

  • Interao com a membrana

    As estruturas de protenas

    transmembranares indicaram que

    tomos da cadeia principal tinham que

    participar ligaes de hidrognio,

    protegendo-se do contato com as

    cadeias polares da membrana. Uma

    estrutura secundria, com

    caractersticas de proteger os tomos

    da cadeia principal de participarem de

    ligaes de hidrognio, a hlice alfa,

    mostrada ao lado.

    Peptdeo de 14 resduos de aminocidos, destacando

    as cadeias laterais na figura da esquerda, que esto

    expostas ao solvente, na direita um diagrama

    esquemtico da hlice alfa do mesmo peptdeo.

  • Como exemplo de protena

    transmembranar temos o complexo

    protico, centro de reao fotossinttico da

    bactria prpura R. viridis, que o local da

    etapa inicial da captura de energia

    luminosa na fotossntese. Este complexo

    protico composto de quatro cadeias

    polipeptdicas (tetrmero), indicadas na

    figura ao lado, nas cores azul, vermelha,

    cinza e dourado. H tambm quatorze

    cofatores de baixo peso molecular,

    indicados em amarelo. Entres os cofatores

    temos cromforos, que absorvem a

    energia de excitao, que convertida em

    potencial eletroqumico, atravs da

    membrana.Referncia: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170.

    Interao com a membrana

  • Na presente viso, a molcula est

    deslocada aproximadamente 90o em

    relao anterior, considerando-se o eixo

    vertical paralelo tela. Ambas vistas

    mostram a estrutura com todos os tomos

    da protena como esferas. So excludas

    desta representao os tomos de

    hidrognio. Este complexo protico foi a

    primeira protena de membrana a ter sua

    estrutura 3D elucidada, usando-se

    tcnicas de cristalografia em 1989

    (Deisenhofer e Michel, 1989), fato este que

    foi laureado com o prmio Nobel. O

    complexo protico apresenta dimenses

    aproximadas de 72 x 72 x 132 ,

    sendo 1 = 10-10 m.Referncia: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170.

    132

    72

    Interao com a membrana

  • Nesta representao os resduos de

    aminocidos hidrofbicos esto em cinza,

    os polares em verde, os cidos em

    vermelho e os bsicos em azul. tomos

    pertencentes aos co-fatores esto em

    ciano. Vemos claramente uma

    heterogeneidade na distribuio de cargas

    na superfcie das protenas. No centro

    temos uma regio preponderantemente

    hidrofbica, e nas partes superior e inferior

    uma concentrao de resduos de

    aminocido carregados e polares, o que

    caracteriza uma regio hidroflica

    Referncia: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170.

    132

    72

    Interao com a membrana

    Hid

    rof

    lica

    H

    idro

    fb

    ica

    Hid

    rof

    lica

  • A representao esquerda indica os

    elementos de estrutura secundria,

    notadamente: hlices alfa, fitas beta e

    regies de coil. As cadeias L e M

    (estruturas do meio) apresentam

    preponderantemente hlices, enquanto o

    citocromo (estrutura de cima) e a cadeia H

    (estrutura da parte debaixo) apresentam

    outros elementos de estrutura secundria.

    Observao: As coordenadas atmicas

    usadas para representar a estrutura do

    centro de reao fotossinttico esto

    depositadas no banco de dados de

    estruturas PDB (Protein Data Bank) com

    cdigo de acesso: 1PRC. O endereo do

    PDB www.rcsb.org/pdb .

    Interao com a membrana

    Cadeia H

    Cadeia MCadeia L

    Citocromo

  • Hlice alfa a estrutura secundria

    comumente encontrada em segmentos

    transmembranares de protenas de

    membranas, constituindo-se na grande

    maioria de protenas encontradas na

    membrana plasmtica e nas

    membranas internas das organelas

    celulares. Normalmente temos a

    combinao de vrios segmentos de

    hlice, formando feixes de hlices

    transmembranares, como nas estruturas

    das cadeias L e M da estrutura do

    centro de reao fotossinttico

    mostrada ao lado.

    Cadeias L e M do centro de reao fotossinttico.

    Cdigo PDN: 1PRC

    Interao com a membrana

    Cadeia M

    Cadeia L

  • Citoplasma

    Interao das cadeias L e M do centro de reao fotossinttico com a bicamada lipdica.

    Interao com a membrana

    A partir da anlise da estrutura do centro de reao fotossinttico podemos

    propor um modelo para interao da protena com a membrana. Neste

    modelo temos que a parte hidrofbica, formada por hlices alfa, interage

    com a membrana.

    Meio extracelular

  • Interao com a membrana

    Muitas das protenas, que interagem

    com a membrana celular, apresentam

    regies em hlice alfa. Para

    entendermos esta interao protena-

    membrana, vamos olhar alguns

    detalhes da estrutura da hlice alfa.

    Uma hlice alfa, como mostrada na

    figura a, tem as cadeias laterais

    apontando para fora da hlice

    (indicadas com setas). Esta hlice alfa

    pode ser representada como um cilindro

    (figura b). Nas figuras c e d temos a

    viso de cima de cada uma das

    representaes de hlice alfa. As

    vises, indicadas nas figuras c e d,

    facilitam a identificao das regies

    hidrofbicas e hidroflicas das hlices

    alfa.

    a) b)

    c) d)

    Cadeias laterais

    Cadeias laterais

  • Nas estruturas de feixes de hlices alfa

    transmembranares, verifica-se que o

    lado da hlice, que toca os lipdios,

    relativamente mais hidrofbico que o

    lado que participa do contato hlice-

    hlice. No diagrama esquemtico ao

    lado temos um feixe de 4 hlices alfa

    (figura b), onde vemos que a regio

    entre as hlices mais hidroflica que a

    regio em contato com a bicamada

    lipdica. A regio das hlices alfa, em

    contato com as caudas hidrofbicas da

    bicamada fosfolipdica, esto indicadas

    por setas.

    a) Hlice transmembranar

    b) 4 hlices transmembranaresSuperfcie mais hidrofbica

    Superfcie mais hidroflica

    Interao com a membrana

  • Outra estrutura possvel, para protenas

    transmembranares, a folha beta. Um

    arranjo onde a folha beta fecha-se

    sobre si forma um arranjo similar a um

    barril, sendo denominado barril beta. A

    estrutura em barril proporciona as

    caractersticas fsico-qumicas

    desejveis para uma protena

    transmembranar, tal como blindagem

    dos tomos da cadeia principal que

    participam de ligaes de hidrognio. A

    figura ao lado mostra a estrutura de

    uma porina.Barril beta da porina de Rhodopseudomonas blastica.

    Cdigo de acesso PDB: 8PRN

    Interao com a membrana

  • Citoplasma

    Interao do barril beta da porina de Rhodopseudomonas blastica com a bicamada lipdica.

    Porina

    Interao com a membrana

    Meio extracelular

  • Toxinas da vespa solitria

    Anterhynchium flavormarginatum

    micado. Esta vespa injeta seu veneno

    em lagartas e deposita seus ovos

    prximos vtima. Devido ao txica

    de seu veneno a lagarta fica paralisada,

    mas viva. Ao eclodirem, as jovens

    vespas tero um banquete fresco e vivo.

    Tal comportamento, indicou que o

    veneno da A. flavormarginatum micado,

    poderia ser uma rica fonte de molculas

    com atividades antimicrobianas.

    Podemos imaginar o veneno das vespas

    como um coquetel de molculas. A

    questo : qual ou quais molculas

    apresentam as atividades biolgicas de

    interesse?

    Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

    Interao com a membrana

  • Mastoparanos so peptdeos isolados

    em vespas e abelhas, muitos deles

    apresentam atividade biolgicas, tais

    como, degranulao de mastcitos,

    atividades antimicrobiana e hemoltica.

    Estas molculas atuam principalmente

    na membrana, provavelmente

    rompendo a integridade da bicamada

    lipdica. O mastoparano, identificado

    no veneno da A. flavormarginatum

    micado (EMP-AF), apresenta atividade

    hemoltica e de degranulao de

    mastcitos (Sfora et al., 2004).

    Referncia: Sfora, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi,

    C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S.,

    Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004).

    Biochemistry 43:5608-5617.

    Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

    Interao com a membrana

  • Abaixo temos as estruturas primrias (sequncia de resduos de aminocido) de um

    mastoparano tpico e do EMP-AF, os resduos Asn, Lys e Ser so polares. Ambos

    peptdeos apresentam 14 resduos de aminocido. Uma das caractersticas destes

    peptdeos que eles apresentam o C-terminal amidado, como pode ser visto no final

    da estrutura primria. A numerao acima da sequncia indica o nmero do resduo de

    aminocido. As sequncias so indicadas com o cdigo de trs letras, com o cdigo de

    uma letra entre parnteses abaixo do cdigo de trs letras.

    Referncia: Sfora, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S.,

    Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617.

    Mastoparano tpico

    EMP-AF

    Interao com a membrana

  • Abaixo temos as estruturas secundrias de um mastoparano tpico e do EMP-AF, os

    resduos de asparagina Asn (N) e serina Ser (S) so indicados em rosa. Os resduos

    de lisina Lys (K) indicados em vermelho. Os peptdeos apresentam estrutura em hlice

    alfa, com o resduos polares de um lado da hlice e resduos apolares do lado oposto,

    o que d um carter anfiptico ao peptdeo.

    Referncia: Sfora, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S.,

    Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617.

    Mastoparano tpico EMP-AF

    Interao com a membrana

  • Toxinas da vespa solitria

    Anoplius samariensis. Esta vesta

    injeta seu veneno em aranhas e

    deposita seus ovos prximos

    vtima, da mesma forma que a A.

    flavormarginatum micado. A ao

    txica de seu veneno paralisa a

    aranha, que ser comida viva pelas

    vespas ao eclodirem.

    Referncia: Konno, K., Hisada, M., Fontana, R., Lorenzi, C. C., Naoki, H., Itagaki, Y., Miwa, A., Kawai, N., Nakata, Y.,

    Yasuhara, T., Ruggiero Neto, J., de Azevedo, W. F. Jr., Palma, M. S., Nakajima, T. (2001). Bioch. Biophys. Acta. 1550:70-80.

    Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

    Interao com a membrana

  • Anoplin. O veneno da A. samariensis

    uma possvel fonte de molculas

    com atividades biolgicas. O peptdeo

    Anoplin, um decapeptdeo (10

    resduos de aminocido) com o C-

    terminal amidado e sequncia,

    GLLKRIKTLL, foi identificado no

    veneno da A. samariensis. Testes de

    atividade biolgica mostraram ao

    antimicrobiana deste peptdeo, sendo

    o menor peptdeo que se tem notcia

    a apresentar tal ao. A verso sem o

    C-terminal no-amidado apresenta

    atividade antimicrombiana reduzida,

    quando comparada com o Anoplin-

    NH2.

    Foto: Cortesia do Dr. K. Konno.

    Interao com a membrana

  • A membrana clula apresenta uma bicamada lipdica de aproximadamente

    60 de extenso, o que possibilita que protenas, como os canais inicos,

    atravessem a membrana, contudo peptdeos pequenos, como os

    mastoparanos e o anoplin, possuem comprimento de 21 e 15 ,

    respectivamente, no permitindo que estes peptdeos atravessem a

    membrana celular. Resta a questo sobre a forma de ao destes

    peptdeos, visto que evidncias experimentais indicam que os mesmos

    atuem na membrana, desestabilizando-a. Uma possvel forma de ao

    destes peptdeos, por meio do desmonte da camada externa da

    membrana, o que levaria sua desestruturao e consequente quebra da

    membrana celular.

    Interao com a membrana

    ~6

    0

  • O anoplin apresenta um comprimento de 15 e o mastoparano de 21 ,

    ambos so mostrados abaixo e apresentam dimenses menores que a

    espessura da membrana celular, contudo so capazes de romp-la.

    Mastoparano EMP-AF Anoplin

    15

    21

    Interao com a membrana

  • Interao com a membrana

    A interao do peptdeo com a membrana um fenmeno complexo, que

    no possvel acessarmos diretamente por tcnicas experimentais.

    Contudo, baseado nas estruturas tridimensionais dos peptdeos e da

    membrana, foi possvel propor diversos modelos para interao do

    peptdeo mastoparano com a membrana. Um dos modelos prope que esta

    interao um processo de diversas etapas (indicada abaixo e no

    esquema do slide seguinte).

    1) Ancoragem do peptdeo na membrana celular;

    2) Incio da desestabilizao da membrana celular;

    3) Incio da desmontagem da primeira camada lipdica;

    4) Incio da desmontagem da segunda camada lipdica;

    5) Desmontagem da bicamada lipdica;

    6) Fluxo de substncias para o interior e exterior da clula leva morte da

    clula.

  • ~6

    0

    ~6

    0

    ~6

    0

    ~6

    0

    ~6

    0

    ~6

    0

    1) 2)

    3) 4)

    5) 6)

  • Bomba de Na+/K+

    A bomba de sdio e potssio uma protena intrnseca com atividade enzimtica.

    Ela catalisa a clivagem de ATP (adenosina trifosfato), atividade de ATPase. ATP

    (mostrado nas figuras abaixo) um nucleotdeo contendo 3 grupos fosfato. ATP

    uma reserva de energia qumica para o metabolismo celular. O mecanismo de

    funcionamento da bomba de Na+/K+ pode ser descrito nas seguintes etapas.

    a) ATP (Estrutura 2D) b) ATP (estrutura 3D)

  • Bomba de Na+/K+

    A bomba de Na+/K+ segue as seguintes etapas:

    1) A bomba de Na+/K+ , com ATP ligado, liga-se a 3 ons de Na+ intracelulares.

    2) ATP hidrolisado, causando a fosforilao de um resduo de Asp, da bomba de

    Na+/K+ com a liberao de ADP.

    3) A mudana conformacional, da bomba de Na+/K+ , expe os ons de Na+, que

    por apresentarem baixa afinidade pela bomba de Na+/K+, so liberados para o meio

    extracelular.

    4) A bomba de Na+/K+ liga-se a 2 ons de K+ extracelulares, isto causa a

    desfosforilao da bomba, trazendo-a de volta sua conformao anterior,

    transportando K+ para dentro da clula.

    5) A forma desfosforilada da bomba de Na+/K+ apresenta afinidade mais alta por

    ons de Na+, os ons de K+ so liberados, a molcula de ATP liga-se bomba.

    6) O sistema est pronto para um novo ciclo.

  • Bomba de Na+/K+

    ATP PIADP

    PI

    PI

    PI

    ATP

    ATP

    Na+

    Na+

    K+

    1 2

    3

    45

    6

    Canais de K+ so os canais usualmente abertos na membrana plasmtica de

    neurnios em repouso. Assim h sada de ons K+, o que deixa um excesso de

    carga negativa no interior da clula e, como resultado, um potencial negativo.

    Meio intracelular

    Meio extracelular Meio extracelular Meio extracelular

    Meio extracelular Meio extracelularMeio extracelular

    Meio intracelular Meio intracelular

    Meio intracelularMeio intracelularMeio intracelular

  • Bomba de Na+/K+ e canal de K+

    PI

    Na+

    Meio extracelular

    Meio intracelular

    K+

    A ao conjunta da bomba de Na+/K+ e do canal de K+ leva a um acmulo

    de carga positiva no meio extracelular. Tal situao, tem como

    consequncia uma diferena de potencial negativa do meio intracelular com

    relao ao meio extracelular. Se colocarmos um eletrodo no interior de um

    neurnio em repouso teremos um potencial eltrico de algumas dezenas de

    milivolts negativo, tal potencial chamado potencial de repouso.

    Bomba de Na+/K+ canal de K+

  • Bomba de Na+/K+

    Aproximadamente um tero de todo ATP

    da clula usado para o funcionamento

    da bomba de Na+/K+, o que indica a

    importncia para o metabolismo celular

    da bomba de Na+/K+. Em 2007 foi

    elucidada a estrutura tridimensional da

    Na+/K+, mostrada na figura ao lado

    (Morth et al., 2007). A anlise da

    estrutura indicou uma diviso clara de

    regies hidrofbicas e hidroflicas, que

    sugerem a insero na Na+/K+ na

    membrana conforme o modelo mostrado

    no prximo slide.

    Referncia: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS,

    Srensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P.

    Nature. 2007;450(7172):1043-9.

  • Bomba de Na+/K+

    Meio extracelular

    Citoplasma

    Referncia: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS,

    Srensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P.

    Nature. 2007;450(7172):1043-9.

  • A membrana pode ser modelada em situao de repouso (sem estmulos externos) a

    um circuito RC (resistivo-capacitivo). Vamos rever alguns conceitos simples de

    eletricidade para modelarmos a membrana. Colocando-se eletrodos, dentro e fora de

    um neurnio, temos uma diferena de potencial (ddp) de 70 mV, ou seja, h umpotencial negativo de 70 mV no interior do neurnio em relao ao meio extracelular.

    O instrumento usado para medir a diferena de potencial o voltmetro, sua colocao

    est representada do diagrama esquemtico abaixo.

    V

    Voltmetro

    +-

    I

    V

    Eletrodos

    Neurnio

    Potencial de membrana

  • Corrente eltrica (I): o movimento de cargas eltricas em meios condutores,

    medida em Ampres (A), o que equivale a 1 Coulomb/segundo, uma unidade

    relativamente grande para os propsitos da biofsica, assim normalmente trabalha-se

    com submltiplos desta unidade fsica, tais como, miliampre (mA, 10-3 A),

    microampre (A, 10-6), nanoampre (nA, 10-9) e picoampre (pA, 10-12 A). As cargas

    para os fenmenos eltricos na membrana celular so ons, tais como, Na+,K+, Ca++ e

    Cl-.

    A

    Ampermetro

    +-

    I

    Potencial de membrana

  • +++++++++++++++++++++++++

    --------------------------------------------

    --------------------------------------------

    +++++++++++++++++++++++++

    Neurnio

    Axnio

    Amplificador

    OscilscopioEletrodos

    -70mV

    Dois eletrodos,

    inseridos no axnio de

    um neurnio em

    repouso, detectam a

    pequena diferena de

    potencial, entre os

    meios extra e

    intracelular, este sinal

    amplificado e

    mostrado num

    osciloscpio.

    Meio extracelular

    Meio intracelular

    Potencial de membrana

  • R- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

    ++++++++++++++++++++++++

    Circuito RC Modelo de membrana celular

    +++++

    - - - - -

    Como j foi destacado, do ponto de vista eltrico, podemos fazer a analogia da

    membrana celular com um circuito RC (resistivo-capacitivo). O C indica a

    capacitncia, e o R a resistncia eltrica. Capacitncia a quantidade de carga

    eltrica (Q) acumulada, dividida pela tenso aplicada. Quanto maior a carga eltrica

    acumulada (Q), para uma dada tenso (V), maior a capacitncia (C). A capacitncia

    medida em Farads (1 F = 1 C/V). Devido diferena de potencial nas placas h uma

    corrente eltrica (I) presente no circuito. Na figura do lado direito vemos o modelo da

    membrana com a distribuio de cargas eltricas, similar distribuio de cargas num

    capacitor.

    V

    I

    Q

    Potencial de membrana

  • A equao abaixo expressa a capacitncia (C) em funo da tenso aplicada s

    placas do capacitor (V) e a carga eltrica acumulada em um dado instante (t). A

    modelagem da membrana celular como um capacitor suficiente para explicar o

    surgimento da tenso, bem como a resposta celular a estmulos eltricos (prximos

    situao de repouso). Estmulos eltricos na membrana, abaixo de um valor limiar,

    levam a membrana a responder de forma anloga a um capacitor. Inicialmente numa

    situao de carga e posteriormente num sistema em descarga. A carga eltrica (Q),

    nesta situao, fica dependente do tempo, bem como a tenso.

    C

    QV

    V

    QC

    R+++++

    - - - - -

    V

    I

    Q

    Circuito RC

    Potencial de membrana

  • Potencial de membrana

    O resultado lquido da ao conjunta da bomba de Na+/K+ e do canal de K+ uma

    diferena de potencial entre o meio extra e intra-celular, com uma tenso

    caracterstica. Tal tenso da ordem de algumas dezenas de milivolts negativos.

    A ao contnua da bomba de Na+/K+, leva a um acmulo de ons de Na+, no meio

    extra-celular, e um acmulo de ons de K+ no meio intra-celular. Tal situao

    ocorre com o gasto de energia, obtida da molcula de ATP. Concomitante ao

    da bomba de Na+/K+ h um canal de K+, que fica aberto, permitindo a sada do

    excesso de ons de K+. O resultado uma tenso negativa do meio intra-celular

    com relao ao meio extra-celular. Tal tenso chamada de potencial de

    repouso, pois no necessrio a aplicao de estmulo na clula para que

    ocorra.

    Amplificador

    -70mV

    Potencial de repouso

  • Considere uma cuba com gua onde

    foram dissolvidos um on, indicado pelo

    crculo vermelho. No instante inicial

    temos uma alta concentrao inica do

    lado esquerdo [on]esquerdo , e do lado

    direito uma baixa concentrao

    [on]direito . As duas metades da cuba

    so separadas por uma membrana

    semipermevel. Temos duas foras

    principais atuando no sistema, a fora

    difusional (FD) e uma fora eltrica (FE).

    Potencial de membrana

    direito

    esquerdo

    Don

    onRTF ln

    zeAVF rE

    Onde R constante dos gases, T a temperatura absoluta, Vr a diferena de

    potencial, z a valncia do on, e a carga do eltron e A o nmero de Avogadro.

  • Depois de um certo tempo atingimos

    um equilbrio entre as duas foras, e

    podemos obter um expresso para a

    diferena de potencial entre os dois

    lados da cuba, assim temos:

    Potencial de membrana

    direito

    esquerdo

    r

    r

    direito

    esquerdo

    ED

    on

    on

    zeA

    RTV

    zeAVon

    onRT

    FF

    ln

    ln

    Onde R constante dos gases, T a temperatura absoluta, Vr a diferena de

    potencial, z a valncia do on, e a carga do eltron e A o nmero de Avogadro.

    Vr

  • Esta equao chamada de equao

    de Nernst e determina a diferena de

    potencial (Vr), devido diferena de

    concentrao inica presente num

    sistema separado por uma membrana

    semipermevel. Tal sistema uma

    aproximao da membrana celular,

    onde teremos as concentraes

    extracelular ([on]extracelular ) e intracelular

    ([on]intracelular ) na equao, como

    segue:

    Potencial de membrana

    racelular

    arextracelulr

    on

    on

    zeA

    RTV

    int

    ln

    Onde R constante dos gases, T a temperatura absoluta, Vr a diferena de

    potencial, z a valncia do on, e a carga do eltron e A o nmero de Avogadro.

    Vr

    Meio extracelular

    Meio intracelular

  • [on]fora

    [on]dentro

    Diferena de potencial atravs da membrana

    Concentrao

    do on monovalente

    dentro da clula

    Concentrao

    do on monovalente

    fora da clulaConstante universal dos gases

    Temperatura absoluta

    Valncia do on

    Vr =RT ln ( )

    zeA

    Carga eltrica do eltron

    Nmero de Avogadro

    Potencial de membrana

  • [on]fora

    [on]dentroVr =

    RT ln ( )

    zeA

    Vr =8,315 J/mol.K 293 K

    1. 1,602.10-19C.6,022.1023 1/mol

    [on]fora

    [on]dentroln ( )

    Vr = 25 mV[on]fora

    [on]dentroln ( )

    Potencial de membrana

  • Vr = (58 mV) log ( )[on]fora

    [on]dentro

    Diferena de potencial atravs da membrana

    Concentrao

    do on monovalente

    dentro da clula

    Concentrao

    do on monovalente

    fora da clula

    Potencial de membrana

  • Vr = (58 mV) log ( )[K+]fora

    [K+]dentro

    Diferena de potencial atravs da membrana

    Concentrao

    do on potssio dentro

    da clula

    Concentrao

    do on potssio fora

    da clula

    Potencial de membrana

  • A equao de Nernst uma idealizao, que considera que a membrana celular

    permevel a apenas um tipo de on. Tal idealizao leva expresso simples da

    equao de Nernst, contudo, a sua aplicao, no consegue prever o valor final do

    potencial presente na membrana celular, levando-se em considerao a ao dos

    diversos ons presentes nas regies intra e extra celular. Outra considerao sobre a

    forma simplificada da equao de Nernst, da forma apresentada ela vlida para ons

    monovalentes, para ons de outra valncia necessrio dividir pela valncia do on (z),

    como mostrado na equao abaixo.

    Vr = (58 mV) log ( )[on]fora

    [on]dentroz

    Potencial de membrana

  • Introduzindo dois microeletrodos no

    neurnio, conforme o esquema da

    figura ao lado, temos o primeiro

    eletrodo injetando corrente eltrica

    e o segundo medindo a tenso.

    Inicialmente temos um potencial

    negativo, no interior da membrana

    (potencial de repouso), sem injeo

    de corrente pelo eletrodo 1. O

    eletrodo 1 estimula o axnio com

    um pulso de corrente de 1 nA (1

    nanoAmpre) e durao de 1 ms (1

    milisegundo). A subida da tenso

    da ordem de mVs (milivolts), sem

    contudo ficar positiva, o neurnio

    retornar ao potencial de repouso.

    Corr

    en

    te n

    o e

    letr

    od

    o 1

    Te

    ns

    o n

    o e

    letr

    od

    o 2

    eletrodo 1

    eletrodo 2

    Potencial de membrana

    Tempo(ms)

    Tempo(ms)

    Potencial de repouso

    0

  • Corr

    en

    te n

    o e

    letr

    od

    o 1

    Te

    ns

    o n

    o e

    letr

    od

    o 2

    eletrodo 1

    eletrodo 2

    Tempo(ms)

    Tempo(ms)

    Potencial de repouso

    Carga do capacitor

    Como foi destacado anteriormente,

    a membrana do neurnio tem um

    comportamento eltrico similar a um

    circuito resistivo-capacitivo (RC).

    Vejamos a figura ao lado, ao

    estimularmos a membrana, a

    mesma responde com uma subida

    suave da voltagem (grfico inferior,

    seta vermelha), este

    comportamento similar a um

    capacitor em situao de carga.

    Aps algum tempo, a tenso cai

    suavemente (seta azul), num

    comportamento similar a um

    capacitor em descarga eltrica.

    Potencial de membrana

    Descarga do capacitor

  • Danielli, J. F. & Davson, H. (1935). J. Cell. Comp. Physiol., 5:495-508.

    Garcia, E. A. C. Biofsica. Editora Savier, 2000.

    Gorter, E. & Grendel, F. (1925). J. Exp. Med. 41:439-443.

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    ed. Artmed editora. 2002.

    Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1937) . J. Cell. Comp. Physiol 9: 89-92.

    Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1938) . J. Cell. Comp . Physiol. 11 :309-313.

    http://www1.umn.edu/ships/9-2/membrane.htm

    Referncias