27
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA PHD 2552 – TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS INDUSTRIAIS TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE Caio Moreno Eduardo Kawabata Felipe Arantes Marcel Costa

Celulose e Papel

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Celulose e Papel

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA POLITÉCNICA - FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA

PHD 2552 – TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS INDUSTRIAIS

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE

Caio MorenoEduardo KawabataFelipe ArantesMarcel Costa

Page 2: Celulose e Papel

1- Introdução

Este relatório tem como objetivo descrever o processo de branqueamento Kraft,

na indústria de papel e celulose, focando os importantes métodos de controle da

poluição do ar utilizados no processo. O trabalho foi realizado com apoio da Companhia

Suzano de Papel e Celulose.

2- Histórico

Desde tempos remotos, o homem manifesta seu desejo de representar através

de figuras ou desenhos a sua evolução. Para isto, utilizou-se inicialmente de paredes

de cavernas, superfície lisa de rochas, folhas de plantas, enfim, o que a natureza

tivesse a lhe oferecer. Com o tempo, desenvolvendo o raciocínio, o homem passou a

preparar o seu próprio suporte para representações gráficas, inicialmente com o barro

cozido, logo passando para tecidos, depois papiros, pergaminhos e em 105 d.C. é

atribuído ao chinês Ts'ai Lum o advento do papel. Ts'ai Lum cozia fortemente as fibras

vegetais, logo depois as batia e esmagava, depurava a pasta obtida e formava as

folhas sobre uma peneira de juncos delgados unidos entre si por crina ou seda em uma

armação de madeira. Ts'ai Lum secava as folhas comprimindo-as sobre uma placa de

material poroso, e depois as deixava secando ao ar. Depois foi verificada a eficiência do

uso do trapo como fonte de celulose para fabricação de papel. O trapo de algodão, por

ser de difícil processamento, deixou de ser utilizado como matéria prima, porém foi

durante muitos anos um importante material, já que o algodão é composto basicamente

de celulose. O que o homem precisava era uma fonte de celulose o mais branca

possível, e o algodão parecia ser essa fonte. Hoje em dia, o processo de fabricação do

papel ainda é basicamente o mesmo da época de Ts'ai Lum, porém o conhecimento do

homem chegou a um certo estágio em que é possível fabricar papel em alta escala, e

com qualidade infinitamente superior à daquele tempo, através do processamento da

celulose, de seu branqueamento, da formação da folha em superfície porosa e da

secagem através de rolos aquecidos com vapor. O processo que será descrito aqui

pode ser muito bem comparado ao de Ts'ai Lum, porém em escala industrial e com

recursos da tecnologia desenvolvida ao longo dos anos.

Page 3: Celulose e Papel

3- Matéria Prima

A matéria prima para a produção do papel é a celulose. O problema inicial é a

escolha da fonte dessa matéria prima, que é a base da estrutura do caule dos vegetais.

Pode-se fazer papel de praticamente qualquer vegetal, porém deve-se levar em

consideração a condição de crescimento de cada espécie, o grau de dificuldade para o

processamento, as condições necessárias ao branqueamento, e diversos outros fatores

relevantes.

No fim do século XVI, foi inventada na Holanda uma máquina que desfazia

trapos para obter fibras. Os trapos foram largamente utilizados como matéria prima até

a Revolução Industrial, quando se intensificou a oferta de matéria prima, mas ao

mesmo tempo aumentou a demanda por papel. Outro fator que fez crescer a demanda

foi o incremento dos meios de comunicação através de jornais impressos, e divulgação

de conhecimento através de livros didáticos e obras literárias. Em1719, O francês

Réaumur sugeriu a utilização da madeira como fonte de fibras para a produção de

papel. Porém, como ainda não se conhecia uma técnica adequada para

branqueamento das fibras da madeira, os trapos continuaram sendo utilizados até fins

do século XVIII, o que reduzia drasticamente a capacidade produtora. A partir daí,

depois da descoberta do cloro e da produção de pó alvejante, tornou-se possível a

utilização de materiais mais escuros para a fabricação do papel. Um crescente aumento

da demanda por papel propiciou um crescimento importante na pesquisa e

desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a produção em grande escala,

visando a redução da mão de obra, que era limitada. Os irmãos Fourdrinier criaram a

mesa formadora, utilizada até hoje em máquinas modernas. Desenvolveram se também

métodos avançados de secagem e conformação para dar brilho a uma das faces da

folha.

Apesar de ter-se desenvolvido um processo de branqueamento satisfatório das

fibras de madeira, este era ainda inviável economicamente, portanto até que se

desenvolvesse um processo com misturas balanceadas, a madeira não teve uma

aceitação plena como matéria prima. Quando começou a ser utilizada como matéria

prima principal, a madeira tinha no pinheiro (conífera) seu representante de maior

importância. Isto se deve ao seguinte fato: acreditava-se que a resistência da folha de

papel se devia ao entrelaçamento de suas fibras, já que o pinheiro possui fibras longas

Page 4: Celulose e Papel

(3 a 5 mm). Por muito tempo, até a metade do século passado aproximadamente, não

se acreditava que pudesse haver uma fonte de celulose melhor que o pinheiro. Porém,

quando o Sr.Max Feffer viajou aos EUA para estudar a possibilidade de substituir o

pinheiro pelo eucalipto, começava a se desenhar um novo panorama para toda a

produção de papel no Brasil e no mundo. O eucalipto, uma árvore folhosa, parecia

interessante por diversos aspectos mostrados na tabela 1, mas a principal dificuldade

em ser utilizado era o fato de possuir fibras curtas (aproximadamente 1mm), o que,

acreditava-se, tornaria a folha frágil. A pesquisa do Sr.Max Feffer chegou à conclusão

de que a rigidez à tração de uma folha de papel se dava às custas de ligações químicas

de ponte de hidrogênio, e não do entrelaçamento das fibras, como se acreditava até

então. As fibras curtas da celulose do eucalipto se ligam entre si por meio de pontes de

hidrogênio, pois a celulose é um polímero linear de cadeia longa, não precisando de 5

entrelaçamento para dar rigidez à folha formada. Em 1962 a Companhia Suzano de

Papel e Celulose produziu a primeira folha de papel branco com 100% de celulose de

fibra curta. Foi um marco na indústria de papel no Brasil e no mundo, pois revolucionou

todo o tradicional método até então utilizado, e abriu espaço para um novo e

inexplorado mercado. Desde então, utiliza-se exclusivamente o eucalipto como fonte de

celulose para fabricação de papel na Companhia.

Page 5: Celulose e Papel

4- A Cultura do Eucalipto

A Suzano Bahia Sul utiliza somente eucaliptos cultivados com técnicas

avançadas, em 27 municípios do estado de São Paulo, num raio médio de 210 Km de

Suzano. Essa média se dá entre as plantações do Leste e do Oeste, sendo as de Leste

em regiões acidentadas, de difícil acesso (plantio, colheita e transporte), porém muito

próximas à fábrica, e as de Oeste mais planas, com acesso à mecanização do plantio e

colheita, porém distantes da fábrica.

Dentre essas duas regiões de plantio, a de Oeste é a mais rentável, apesar da

distância considerável da fábrica B em Suzano, visto que quase todo o processo é

auxiliado por máquinas agrícolas de última geração, aumentando significativamente a

produção de madeira e compensando o alto custo do transporte. As fazendas da

Suzano cobrem aproximadamente 83% da demanda industrial de madeira, o restante

provém de florestas de terceiros, o que é chamado de Fomento Florestal. O Fomento

Florestal começou em 1973 e consiste em incentivar os produtores rurais da região de

Suzano (máximo 100 Km da fábrica ou próximo às unidades florestais) a produzir

madeira de eucalipto, fornecendo as mudas gratuitamente e oferecendo suporte técnico

gratuito durante a formação da floresta. Todas as mudas de eucalipto necessárias para

plantio próprio ou fomento são produzidas no viveiro de Alambari, interior de São Paulo.

São produzidos aproximadamente 11 milhões de mudas por ano, sendo 8 milhões por

clonagem e 3 milhões por sementes. Portanto, saem do viveiro de Alambari em média

900.000 brotos de eucalipto por mês.

Biotecnologia

A Biotecnologia pode ser usada para cruzar diferentes espécies de eucalipto

(existem mais de 600 espécies) com diferentes finalidades, já que cada uma se adapta

a um tipo de ambiente e essas características podem ser aproveitadas separadamente.

Pode-se melhorar as características do eucalipto para suportar mudanças climáticas, e

assim adaptar cada muda a um ambiente específico. Portanto, para cada região de

plantio é enviado um tipo de eucalipto especialmente melhorado geneticamente,

sempre visando uma melhor produtividade através do desenvolvimento da árvore.

Desafios da pesquisa em Biotecnologia:

Plantio uniforme por sementes

Sustentabilidade do solo (física, química, hidro e biológica)

Page 6: Celulose e Papel

Conhecimento, identificação e seleção de genes

-responsáveis pela qualidade da madeira

-responsáveis pelo sistema de proteção contra pragas e doenças -responsáveis pela

absorção de nutrientes (macro e micro) -responsáveis na atuação em condições de

stress hídrico

Evolução do Melhoramento Genético:

Primeiramente, é feita a seleção das melhores espécies de eucalipto, depois,

dentro dessas espécies são selecionadas as melhores populações e logo as famílias e

indivíduos mais adaptados. Depois dessa seleção, é feita uma seleção integrada com a

necessidade industrial, através dos marcadores moleculares (uma espécie de

"impressão digital" das plantas). Depois, através do Projeto Genoma são conseguidas

as árvores com características específicas para cada região, tipo de solo, de clima, etc.

Plantio

No início, quando se começou a usar o eucalipto como fonte de celulose na

Companhia Suzano, a preparação da terra se fazia através de queimadas. Esse tipo de

procedimento causava uma destruição significativa no solo, causando ao longo do

tempo o problema da erosão. Uma solução que foi adotada foi o uso de grade aradora

com a galhada espalhada pelo solo para servir de adubo natural, porém o problema

ainda não foi totalmente resolvido. Hoje em dia, o procedimento utilizado chama-se

Page 7: Celulose e Papel

Intervenção Mínima, e consiste em preparar a terra somente passando um trator de

100cv com um sulcador. Com isso fica preparado um simples sulco onde são plantadas

as mudas, e fica aproveitado o adubo natural da galhada para o enriquecimento do

solo. Apenas os arbustos são eliminados, e gramíneas ou outras vegetações de

pequeno porte são atacadas com herbicida. No caso de dificuldade para o uso de

tratores, o que ocorre na região Leste do estado, a preparação do solo é feita com

enxadões, cavando a terra para o plantio. Entre as áreas de plantio, sempre devem ser

preservadas algumas áreas de floresta nativa, sendo esta atitude benéfica para a

floresta produtiva, pois estimula o desenvolvimento de espécies animais que ajudam no

controle às pragas, principalmente pássaros que se alimentam de formigas (principal

praga do eucalipto). O espaçamento entre as mudas deve obedecer a uma regra para

evitar que a floresta fique muito adensada, prejudicando seu desenvolvimento. Esse

espaçamento é especificado como 3,0m X 1,7m, dessa forma é facilitado o

desenvolvimento das árvores. Também se deve prestar atenção ao tamanho das covas,

pois é nesse espaço que vão se desenvolver as raízes iniciais da muda de eucalipto.

Em solos compactados e covas pequenas, as raízes têm mais dificuldade em penetrar

na terra, inibindo o desenvolvimento inicial da planta. O tamanho recomendado para as

covas é de 30 cm X 30 cm de boca por 30 cm de profundidade. Também é aplicado

adubo numa dosagem certa para facilitar o desenvolvimento das mudas. Essa

aplicação pode ser manual ou mecanizada, dependendo da região de plantio. Se for

mecanizada, será feita no momento do sulcamento, com adubadeira mecânica

acoplada ao sulcador, e se for manual o adubo será adicionado e misturado à terra da

cova. Isto pode ser feito durante ou após o coveamento. O replantio consiste em repor

as mudas que não se desenvolveram corretamente, e deve ser feito até um mês após o

plantio, para evitar que a muda replantada não consiga acompanhar o ritmo de

crescimento das demais, tornando-se uma planta dominada.

Colheita

A madeira produzida na área é colhida quando a floresta atinge o estágio de

maturação, entre 5 e 7 anos, dependendo do espaçamento do plantio. A colheita é feita

cuidadosamente para não prejudicar a brotação que ocorre depois nas cepas. Antes de

cortar a madeira, são planejadas as etapas de transporte das toras, e também é

eliminado o sub-bosque, para facilitar o corte e o transporte da madeira. A derrubada

das árvores é uma atividade que representa um certo risco de acidentes, por isso

Page 8: Celulose e Papel

devem ser observadas as normas de segurança, tais como o uso de Equipamentos de

Proteção Individual.

Existem basicamente dois métodos de colheita: o manual, com o uso de moto-

serra e o mecanizado, que faz uso de máquinas agrícolas de última geração. O primeiro

é mais utilizado nas fazendas do Leste paulista, pois nesta região o terreno é muito

acidentado e o acesso de tratores fica impossibilitado. Neste caso faz-se também o

tombamento da madeira, que consiste em rolar morro abaixo as toras, um trabalho

pouco rentável, caro e perigoso. Também o tempo de colheita se estende em demasia,

o que causa prejuízos à produção. A colheita mecanizada é extremamente rápida e

prática, pois a mesma máquina se encarrega de colher, descascar, cortar na medida

especificada e empilhar as toras de eucalipto. Portanto, substitui o trabalho de vários

homens, e o faz em tempos muito reduzidos, aumentando sensivelmente a produção.

Descascamento

A madeira pode ser descascada de três formas distintas: a primeira, como foi

citado, é pela própria máquina agrícola responsável pela colheita, e é a mais

recomendada, pois retira de forma uniforme toda a casca, e deixa a deixa no campo,

facilitando assim o transporte, a produção na fábrica e ainda ajudando na adubação do

solo. A segunda forma de descascar a madeira é utilizar um facão. O operário da

fazenda fica responsável por essa atividade, o que acarreta uma demora maior e um

risco significativo para o operador. O intervalo entre a derrubada e o descascamento

deve ser o menor possível, levando em consideração o teor de umidade da casca. Para

descascar a madeira com facão o tempo limite é de dois dias. Para descascamento

mecânico esse tempo é de quinze dias. A terceira forma é na fábrica, ou seja, a

madeira é transportada com casca e só vai ser descascada em Suzano. O processo

consiste em colocar as toras dentro de um grande tambor chamado de descascador,

onde elas são roladas e a casca se desprende sob efeito do atrito. Este método não é

muito eficiente, sendo preferido o descascamento mecânico no campo. A casca retirada

na fábrica é reaproveitada na caldeira de biomassa.

Transporte

A madeira pode ser transportada do campo para depósitos ou diretamente para

a fábrica. Neste caso, deve ficar estocada no campo pelo tempo mínimo de sessenta

dias, para secar. Se a madeira vai para um depósito, não existe um tempo mínimo para

Page 9: Celulose e Papel

a estocagem. O transporte até a fábrica ou depósito em geral é feito por caminhão

truck, caminhão toco ou carreta de três eixos. Ainda existem caminhões que

transportam a madeira no sentido transversal à estrada, o que não é muito seguro, por

isso existe uma padronização gradual dos caminhões para o transporte longitudinal,

muito mais seguro.

5- O Processamento da Madeira

Quando a madeira chega à fábrica, ela é descarregada do caminhão em local

apropriado para estocagem, ou diretamente na máquina que irá processá-Ia. Se for

madeira já descascada, entra diretamente no picador, porém se estiver ainda com a

casca, passará primeiro pelo descascador. Depois de picado, o cavaco produzido é

direcionado através de correias transportadoras para a chamada OCS (Outside Chips

Storage). A OCS consiste em um depósito de cavaco, onde o cavaco é jogado por cima

e retirado por baixo para garantir sua rotatividade. Atualmente existe um projeto para

cobrir a área da OCS. Quando é retirado por baixo, o cavaco passa por 14 uma peneira

para separar os cavacos maiores, que passam por um repicador e voltam à OCS,

porém separados. Logo depois, o cavaco padronizado vai para o digestor Kamyr

(contínuo), e o cavaco repicado vai para os digestores Batch (batelada), que serão

explicados a seguir. O diagrama a seguir mostra resumidamente o caminho percorrido

pela madeira antes dos digestores.

Page 10: Celulose e Papel
Page 11: Celulose e Papel

Polpação

A Polpação consiste no cozimento da madeira utilizando-se alta pressão e

alta temperatura, com a finalidade de amolecer a lignina e separá-Ia da celulose. Neste

processo, a madeira ao ser cozida facilita a separação da celulose.

O cozimento da madeira se faz utilizando como meio fluido a Lixívia Branca,

também chamada de Licor Branco ou Licor de Cozimento, que consiste em:

-NaOH (Soda cáustica), que ataca a lignina

-Na2S (Sulfeto de sódio), que protege a celulose

- H2O (água)

Em contato com os reagentes, a lignina se torna escura, formando a Lixívia Preta

ou Licor Negro, que posteriormente é aproveitada na caldeira de recuperação.

A Companhia Suzano de Papel e Celulose possui quatro digestores com sistema

Batch, e um digestor Kamyr (contínuo). O sistema Batch consiste em fazer a polpação

por batelada. Os digestores são cheios, fazem o cozimento da madeira e depois são

esvaziados. Cada um tem capacidade para 12,5 toneladas de polpa por carga,

demorando cerca de 165 minutos para cada carga. Cada um deles produz nove cargas

por dia, aproximadamente. Já o digestor Kamyr merece uma explicação um pouco mais

profunda. O digestor Kamyr da Companhia Suzano possui uma capacidade de 785m3,

e pode produzir aproximadamente 900 toneladas de polpa celulósica por dia. Primeiro,

o cavaco quando sai do silo sofre um pré-aquecimento numa câmara que contém uma

espiral, chegando a aproximadamente 120°C, e um aumento de pressão no chamado

AAP, Alimentador de Alta Pressão. Para fazer o bombeamento de cavaco sólido para

uma altura de quase 70 metros (abertura do digestor) o alimentador de alta pressão é

dotado de uma câmara giratória, que na posição vertical é abastecida de cavaco quente

que cai por ação da gravidade, e na posição horizontal recebe a lixívia branca

bombeada. Com o efeito da pressão o conjunto cavaco-lixívia é "empurrado" por uma

tubulação em direção à abertura do separador inclinado localizado no topo do digestor.

Neste separador inclinado, ocorre uma espécie de filtragem da lixívia, separando o

cavaco através de um espiral e de uma tela. A Lixívia retirada volta para a bomba de

baixo, para entrar novamente no sistema, e o nível de lixívia dentro do separador

inclinado é mantido constante. No topo do separador existe uma entrada de vapor a alta

Page 12: Celulose e Papel

pressão. O digestor divide-se basicamente em três partes: a primeira e mais alta é

chamada de Impregnação, e é onde a madeira fica completamente impregnada com a

lixívia quente. Na parte intermediária, logo abaixo, ocorre o Cozimento propriamente

dito, e na parte final do cozimento ocorre a retirada de lixívia preta, sendo conduzida

para a recuperação. Logo abaixo, na parte inferior do digestor, é feita a Lavagem, com

a injeção de lixívia branca também chamada de licor de lavagem no contra-fluxo, ou

seja, de baixo para cima. Por um orifício na extremidade inferior é retirada a massa

separada e parcialmente limpa, porém ainda apresentando pequenos flocos, sendo

enviada para o chamado Blow Tank. Neste tanque, com o efeito da descompressão

associado ao choque contra uma placa de sacrifício, termina-se de empastar o cavaco,

deixando-o mais uniforme. O mesmo processo ocorre no sistema Batch. Do Blow Tank,

a polpa celulósica vai para o Tanque de Massa, de onde é encaminhada para

Depuração e Lavagem. Depois da passagem pelo Tanque de Massa, são eliminados os

nós e os palitos nos depuradores e, por último, numa peneira vibratória. Depois da

depuração de palitos a massa sofre uma lavagem com água.

6- Branqueamento da Polpa Celulósica

A alvura é uma medida satisfatória da coloração potencial da polpa, mas não é

por si só uma medida da brancura da polpa. A reflexão de luz é devida à habilidade de

um corpo de espalhar (dispersar) e refletir parte da radiação nele incidente. Outra parte

da radiação incidente é absorvida e convertida em calor. O restante da radiação

incidente é transmitida através do corpo, dependendo da sua transparência ou

opacidade.

A Alvura é um valor numérico de refletância de um espécime na porção azul do

espectro (457 nm) quando comparado à refletância, no mesmo comprimento de onda,

de um padrão cuja refletância é de aproximadamente 100%. Podem ser citados como

exemplos de padrão: MgO, BaS04, difusor de absoluta reflexão (ISO), etc. A cor da

polpa não branqueada é amarela ou marrom. Isso significa que a absorção de luz pela

polpa é maior na parte do espectro visível onde o amarelo e o marrom têm suas cores

complementares, que é a parte azul do espectro. Portanto, a refletância da luz pelas

polpas marrons será mais baixa que a da luz de outras partes do espectro visível. O

propósito do branqueamento é remover cor e é, por isso, lógico medir o efeito do

branqueamento na parte do espectro onde as variações de refletância são mais

Page 13: Celulose e Papel

pronunciadas (azul).

Os elementos que dão origem aos grupos cromóforos (cor escura da polpa) são:

Lignina modificada e produtos da degradação da lignina

Extrativos da madeira (ácidos resinosos, ácidos graxos, polifenóis, etc) íons

metálicos (Fe, Cu, Mn, etc)

Os objetivos do branqueamento são:

Branquear e limpar a polpa através da remoção de substâncias que absorvem

luz (polpas para papel)

-com a mínima danificação química e mecânica da fibra -com mínima formação de

grupos carbonila

-com mínima perda de rendimento

-com mínimo custo

-com mínimo impacto ao meio ambiente

Baixar a viscosidade da polpa (polpa para dissolução) . Remover hemiceluloses

(polpa para dissolução)

Existem diversos tipos de branqueamento, que se dividem em dois grandes grupos.

Basicamente branqueamento com ou sem remoção de Lignina. Quando se remove a

lignina (polpas químicas), pode-se fazer o branqueamento pelo método convencional

(standard), ECF (elemental chlorine free com pouco dióxido) ou TCF (totally chlorine

free). Para branqueamento sem remoção de lignina (polpas mecânicas), pode-se fazer

em um único estágio ou em duplo estágio.

O branqueamento é uma continuação do cozimento, e ocorre por

oxidação/extração com reagentes adequados, que oxidem a lignina rapidamente sem

atacar os carboidratos. Os oxidantes mais comumente utilizados para branqueamento

são Cl2, Cl02, ClO, H20, 02, 03, e os agentes de extração são NaOH, Ca(OHh,

Na2C03. É desejável que a celulose e a hemicelulose sejam preservadas, enquanto a

lignina, que confere cor, deve ser removida ou descolorada. Os extrativos devem ser

dissolvidos e removidos, e as partículas devem ser eliminadas e/ou descoloradas.

A seqüência de branqueamento pode ser dividida em duas fases:

. Deslignificação, pré-branqueamento

. Alvejamento

O pré-branqueamento é efetuado pela oxidação da polpa com Oxigênio, seguido pela

extração com NaOH ou NaOH + 02. O Cb e o CI02 atacam a lignina por reações de

Page 14: Celulose e Papel

substituição e de oxidação causando severa oxidação e fragmentação da sua estrutura.

Entre 40 e 60% da lignina oxidada é removida por lavagem, e quase toda a lignina

remanescente é removida na extração subseqüente. A tendência da cloração

convencional e com dióxido é de desaparecer, em função da crescente demanda por

polpa ECF, e pelo apelo ambiental decorrente da utilização do Cloro. O processo de

branqueamento ECF pode incluir:

. Pré-branqueamento com oxigênio (idealmente)

. Deslignificação com dióxido

. Estágio ácido a quente (está se tornando comum)

.Extração alcalina com oxidante Branqueamento com dióxido de cloro Branqueamento

com ozônio

. Branqueamento com peróxido

O processo de branqueamento de polpas químicas é efetuado passo a passo em

seqüências de 2 a 9 estágios. Um estágio consiste da mistura da polpa com reagentes

químicos e vapor, seguida da reação da mistura em recipientes adequados, e lavagem

da polpa após a reação. A lavagem entre estágios remove o material já oxidado e

expõe novas superfícies à ação do oxidante, reduzindo assim o consumo de reagentes.

T ecnologia de branqueamento:

Page 15: Celulose e Papel
Page 16: Celulose e Papel

7- Recuperação

A Companhia Suzano de Papel e Celulose possui em sua unidade fabril principal

um total de cinco caldeiras, sendo duas delas de força (CSC I e 11), uma de biomassa

(caldeira Zanini) e duas de recuperação (uma Gotaverken e uma CSC, chamada de

CSC 111). A recuperação de produtos químicos ocorre em quatro estágios, são eles:

. Evaporação de licor preto - concentração de sólidos para possibilitar a queima nas

caldeiras.

.Caldeira de Recuperação - nesta fase, são queimados os produtos químicos,

utilizando-se lixívia preta como combustível. Ocorre também a formação da lixívia

verde, através da dissolução de sais de sódio e sulfato da lixívia preta em lixívia branca

fraca. Gera-se vapor para utilização como fonte de energia.

Caustificação - transformação de lixívia verde em lixívia branca para reaproveitamento

no processo produtivo. A reação que ocorre é a seguinte:

Na2S + Na2CO3 + Ca(OH)2 2NaOH + CaCO3

.Forno de Cal - No forno de calo CaC03 é aquecido a uma temperatura de 1100°C, em

presença de oxigênio, para formar cal e dióxido de carbono:

CaCO3 + O2 CaO (cal) + CO2

8 - TECNOLOGIA DE CONTROLE DOS EFLUENTES LÍQUIDOS

8.1 Principais fontes de polição das águas

- lavagem, descascamento da madeira

- polpação

- branqueamento

- recuperação da lixívia

- fabricação do papel

Page 17: Celulose e Papel

8.2 Tecnologia de Controle

8.2.1 Medidas Internas

Como é necessário a utilização de grande quantidade de água, o volume de

efluentes gerados também é muito elevado.

O uso, por exemplo, de condensadores de contatos superficiais em conjunto com

torres de resfriamento e práticas de recirculação de águas podem reduzir

consideravelmente o volume de despejo. Em certas condições, a redução do volume é

acompanhada também da redução da quantidade de poluentes, tornando-se desta

forma mais viável a remoção destes, além de reduzir os custos de instalação e

operação das unidades de tratamento.

De forma simplificada, podemos dividir as medidas internas de controle em:

modificação do processo, reciclagem, reuso, controle de descarga e derrame, sendo

que na maioria das vezes ,as três primeiras formas são encontradas inter-relacionadas

nos projetos que visam a redução do potencial poluidor da indústria.

- Modificação do Processo

Esta prática compreende remodelações ou alterações dos processos produtivos

visando otimizar o conceito da mínima geração de resíduos, através da redução do

consumo de água.

Podem ser citados alguns exemplos de aplicação destas técnicas como a

instalação de modernas linhas de depuração e lavagem, permitindo maior eficiência na

lavagem da polpa com redução do consumo de água e maior recuperação do licor

negro.

Outro exemplo, é a utilização de de uma pré-etapa de pré-branqueamento com

oxigênio. Como resultado desse processo, a polpa vai para o branqueamento químico

mais limpa, gerando efluentes com valores que apresentam redução em torno de 50%

na DBO, 70% na cor e significativa redução nos compostos organoclorados, além da

diminuição do consumo dos produtos químicos, como , por exemplo redução de 50% no

consumo de cloro no branqueamento.

O branqueamento com estágio de oxigênio envolve um investimento mais alto do

que o branqueamento convencional, entretanto, com oxigênio, é possível reduzir o

número de estágios de branqueamentos necessários para se atingir uma certa

qualidade de pasta e assim reduzir a diferença de investimento.

Page 18: Celulose e Papel

Outras modificações de processo são implantadas na recuperação dos produtos

químicos, melhorando a eficiência da evaporação, caldeira de recuperação, trazendo

maior eficiência na transformação de licor negro em branco, o qual por sua vez , fecha

o ciclo, retornando ao processo via cozimento da madeira.

- Reciclagem de Águas (Dentro do Processo)

Está prática compreende a reutilização dos efluentes gerados no processo, como

a reciclagem das águas utilizadas na lavagem e descascamento da madeira.

- Reuso de Águas

- Controle de Descargas Acidentais e Derrames

Uma parcela importante da capacidade poluidora potencial da indústria de

celulose Kraft deve-se a derrames e vazamentos que podem ocorrer devido a falha de

equipamentos, paralizações forçadas. A minimização de problemas é consegida

através das seguintes medidas:

- Devem ser previstas grandes capacidades de reservação para o licor negro.

-Monitoramento contínuo dos equipamentos, tubulações de esgotamento para detecção

imediata de derrames que estejam ocorrendo.

De um modo geral, pode-se dizer que o emprego das técnicas internas de

controle apresentadas, levam a obtenção de reduções de 45 a 60% no volume de

efluentes totais da indústria e de 50 a 70% na carga de DBO

9 - Tratamento Externo dos Efluentes Líquidos

Normalmente, as práticas de tratamento externo de efluentes podem ser

divididas em 4 fases distintas: pré-tratamento, tratamento primário, secundário e

terciário.

a. Pré-Tratamento

De um modo geral, o efluente principal da fábrica necessita de pré-tratamento,

no qual consiste na remoção de sólidos grosseiros, ajuste de pH e temperatura.

Page 19: Celulose e Papel

A remoção de materiais grosseiros é necessário para se evitar danos aos

equipamentos do sistema de tratamento e é realizada em unidades de peneiramento ou

gradeamento.

Normalmente, temperatura acima de 40 graus interferem no tratamento

secundário pelas alterações das condições do processo de oxidação biológico. Desta

forma, o resfriamento é outro pré-tratamento requerido, podendo ser efetuado em torres

de resfriamento, tanques com aspersores e taques de homogeneização.

O ajuste do pH de efluente é também importante para o controle apropriado do

tratamento secundário e constitui-se em uma parte integrante do pré-tratamento.

b.Tratamento Primário

A principal função do tratamento primário é a remoção dos sólidos em

suspensão que pode ser obtido através da decantação e flotação

- Decantação: nas modernas instalações é realizada em decantadores mecanizados, e

pode atingir valores de 80 – 90% de remoção de sólidos suspensos e remoção total dos

sólidos sedimentáveis. As lagoas de sedimentação estão sendo abandonadas de um

modo geral, por exigirem grandes áreas.

Os decantadadores com remoção mecanizada, com bom desempenho atingirá

90% de remoção de sólidos suspensos, podendo no entanto, esta remoção chegar a

valores inferiores devido a inúmeros fatores tais como: natureza do material em

suspensão, diferenças de temperatura no decantador e causando correntes de

conveccção

Os lodos produzidos devem ser submetidos a processos de tratamentos de

antes da disposição final.

- Flotação: é uma alternativa eficiente para a remoção de sólidos em suspensão,

aplicável quando se tem graves problemas de espaço físico. Entretanto, o processo

exige equipamento caro, produtos químicos com grande dispêndio de energia, além de

ser de difícil operação. Apresenta, ainda como grande desvantagem a má resposta as

cargas de choque e grandes concentrações.

Por causa da natureza biológica de partes dos sólidos em suspensão removidos,

a sedimentação também remove uma parcela ds DBO do efluente final.

Page 20: Celulose e Papel

Frequentemente são implantadas tanques de homogeneização entre unidades de

tratamento primário e secundário, o qual funciona também como tanque de equalizador

de vazão de despejos. Esses tanques, normalmente, são de tamanho suficiente para

servirem de tanque de acumulação no caso de alterações na fabricação ou quando

dificuldades operacionais na estação de tratamento limitarem o volume de despejo a

ser tratado.

c.Tratamento Secundário

O objetivo primordial do secundário é o de reduzir a DBO utilizando processo de

oxidação biológica. Como já visto, a remoção de sólidos em suspensão no tratamento

primário tem pouca influência na redução de DBO. Razão pela qual utiliza-se sistemas

biológicos como: lagoas de estabilização, lagoas aeradas e lodos ativados.

- Lagoas de Estabilização: são empregadas tanto para regularizar as descargas como

também reduzir a DBO. Na estabilização dos despejos se faz baixas taxas com

eficiência de remoção de DBO que varia entre 50 a 90% dependendo da taxa de

aplicação e tempo de detenção. Apresenta as vantagens de: corresponder

favoravelmente ao tratamento do efluente, possuir relativa eficiência, boa flexibilidade

operacional, pequeno investimento e baixo custo operacional. Entretanto possuem a

desvantagem de necessitarem de elevados tempos de detenção e grandes áreas.

- Lagoas Aeradas: evoluíram devido a sobrecarga sobre as lagoas de estabilização.

Esse tipo dê sistema tem vantagens que o situam entre lagoas de estabilização e os

sistemas de lodos ativados:necessitam de menos áreas e tem menor custo de operção

comparado ao sistema de lodos ativados.

Os tempos de detenção nestas unidades variam de 5 a 10 dias e na grande

maioria dos sistemas é necessária a adição de nutrientes (N e P) com relação DBO:N

tais como 50:1 (aeração 4 dias) e 100:1 (10 a 15 dias)

A aeração é quase sempre feita por aeradores mecânicos superficiais , mas

existem exemplos de aeração por ar difuso. A eficiência de oxigenação varia entre 0.61

a 1.52 kg O2/Kwh, dependendo do tipo de equipamento, do nível de potência e forma

da lagoa

Page 21: Celulose e Papel

Um dos problemas principais decorrente da aplicação de lagoas aeradas é a

formação de sólidos biológicos que saem junto com o efluente. Estes sólidos não são

removidos eficientemente em decantadores, tornando necessária a adoção de lagoas

de polimento, principalmente quando existem restrições na legislação para lançamentos

de sólidos suspensos.

- Lodos Ativados: A sua aplicação aos despejos de fábricas de celulose e papel

KRAFT é recente no Brasil, e é empregado principalmente, onde não existe área

suficiente para implantação de lagoas de estabilização.

É um processo com taxas superiores a 80% na remoção de DBO. Os tempos de

detenção variam entre 4 e 8 horas e as concentrações de sólidos suspensos entre 2000

e 4000 mg/l.

As maiores desvantagens deste processo em relação aos anteriores, são o custo

maior, a formação de grandes quantidades de lodo (em torno de 0,75 kg lodo/kg DBO

removida) e pouca resistência a cargas de choque.

As necessidades de oxigênio variam de 1,2 a 2 kg O2/kg DBO e a adição de

nutrientes é prática necessária com quantidades, via de regra na proporção DBO:N:P

de 100:5:1.

As grandes quantidades de lodos geradas neste processo requerem também

acondicionamento adequado (conforme práticas já citadas anteriormente) antes da

disposição final.

d. Tratamento Terciário

O tratamento terciário pode ser empregado com a finalidade de se conseguir

remoções adicionais de poluentes das águas residuarias, antes da sua descarga no

corpo receptor; esta operação é também chamada de “polimento”. Pouco empregado

no Brasil tem-se conhecimento apenas de uma unidade no Sul do país que utiliza o

tratamento terciário para remoção de cor. Os processos de tratamento terciário em

estudo compreendem: filtração para remoção de DBO e DQO, cloração ou ozonização

para remoção de bactérias, absorção por carvão ativado, processo da pasta de cal e

outros processos de absorção química para redução de cor, redução de espuma e

remoção de sólidos inorgânicos através da eletrodiálise, da osmose reversa e da troca

iônica.