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CERTIFICAÇÃO AGROINDUSTRIAL: O
CASO DOS LATICÍNIOS
CERTIFICADOS COM O “SELO DE
PUREZA 100% BÚFALA”
Fabricio Pini Rosales (UFSCar)
Mario Otavio Batalha (UFSCar)
A bubalinocultura tem ganhado cada vez mais espaço dentro da
pecuária nacional e a produção e industrialização do leite de búfala
têm sido um dos principais responsáveis por esse crescimento. O
presente artigo tem por objetivo identificar oos principais desafios
enfrentados pelos laticínios certificados com o “Selo de Pureza 100%
Búfala”. Para tanto foi realizada uma revisão da literatura sobre
certificação de produtos agroindustriais e sobre produção de leite de
búfala e o “Selo de Pureza 100% Búfalo”. A partir disso conduziu-se
uma pesquisa exploratória aplicada aos oito laticínios que possuem tal
certificação. Os dados analisados evidenciaram que os laticínios que
participam desse programa são, em sua maioria, empresas com
pequena capacidade de produção. A principal vantagem da utilização
dessa certificação é garantir ao consumidor a pureza do produto,
agregando, assim, maior valor ao produto final. Por outro lado, o
custo da certificação e a concorrência desleal foram identificados
como pontos negativos.
Palavras-chaves: Certificação, Bubalinocultura, Leite de búfala,
Agroindústria
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
Vem crescendo cada vez mais a procura por parte do consumidor por alimentos livres de
contaminantes e com boas características organolépticas. Essa demanda pode ser explicada
por alguns eventos como aumento populacional, procura por melhor qualidade de vida,
globalização e barreiras não tarifárias (FIGUEIREDO, 2006).
Esses atributos exigidos pelo mercado demandam capacidade de diferenciação e coordenação
dos agentes econômicos para atingir e manter o padrão de qualidade desejado pelo
consumidor (REZENDE et al, 2005). Nesse contexto, a certificação é um dos mecanismos de
garantia de qualidade utilizado para transmitir informações sobre as características intrínsecas
dos produtos para o consumidor final (LAZZAROTO, 2001).
A criação de búfalos vem ganhando espaço graças à capacidade de produzir leite e carne de
qualidade. Apesar de ser considerado um animal de dupla aptidão, é na produção de leite e de
seus derivados que a espécie tem ganhado maior destaque. O leite de búfala permite a
industrialização de produtos diferenciados e de alto valor agregado que atende as
necessidades dos consumidores mais exigentes (BERNARDES, 2007; CASTRO et. al., 2008;
GONÇALVEZ, 2008).
Assim, a grande demanda por esses produtos aliada à pequena escala de produção do leite
bubalino tem proporcionado condições para o aparecimento de fraudes, onde algumas
empresas adicionam leite bovino ao produto e os comercializa como sendo fabricado apenas
como leite de búfala. Para combater essa prática foi criado um selo de certificação que garante
ao consumidor a pureza do produto e protege a cadeia da concorrência desleal (BRUNA,
2011; ABCB, 2012).
O presente artigo apresenta uma revisão sobre a questão da certificação de produtos
agroindustriais e um estudo realizado a partir da aplicação dos conceitos estudados,
objetivando compreender os desafios enfrentados pelos laticínios certificados com o “Selo de
Pureza 100% Búfala”.
2. Certificação
Com maior facilidade de acesso à informação e cada vez mais preocupado com a qualidade de
vida, o consumidor tem mudado sua percepção em relação à segurança e qualidade do
alimento (TALAMINE et al, 2005; ARAMYAN e KUIPER, 2009). Atributos como métodos
de produção, origem, características nutricionais, padrão de qualidade e fatores ambientais e
sociais tornam-se cada vez mais avaliados pelos consumidores na hora da compra dos
alimentos.
Entretanto, alguns atributos dos produtos agroalimentares, chamados de intrínsecos, não são
passíveis de avaliação pelo consumidor na hora da compra, exigindo, assim, o fornecimento
de informações adicionais por meio de marcas, selos e certificações (SANTOS, 2008). Essa
situação gera uma assimetria de informação onde o fornecedor detém mais informações
podendo omiti-las do consumidor e desfavorece os produtos de boa qualidade tornando o
mercado menos eficiente (LAZZAROTO, 2001).
Nesse cenário, a certificação pode ser utilizada como ferramenta para compensar essa
assimetria de informação servindo como diferenciação dos produtos. A Associação Brasileira
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de Normas Técnicas (ABNT, 2010) define certificação como um modelo pelo qual uma
terceira parte, independente, dá garantia formal de que um sistema de gestão, produto,
processo ou serviço, está em conformidade com os requisitos especificados.
A certificação pode ser aplicada a produtos, processos e sistemas de gestão e classificada
segundo a natureza (oficial ou privada) e quanto ao agente econômico que a concede
(primeira, segunda ou terceira parte) (SALA, 2003; SORNBERGER et al, 2010; IMETRO,
2011).
Uma certificação de produtos determina se o produto está em conformidade com as normas
técnicas que define suas características. Já uma certificação de processo foca a capacidade do
processo para produzir um determinado produto. Por sua vez a certificação de sistemas de
gestão garante a capacidade da empresa em produzir um determinado produto e satisfazer
seus clientes de forma consciente ao longo do tempo (SALA, 2003). O Quadro 1 resume as
principais características das certificações de produtos e serviços, processos e sistemas de
gestão.
Fonte: Adaptado de SALA, 2003
Quadro 1 – Característica das certificações de produtos e serviços, processos e sistemas de gestão
A classificação da certificação em oficial (pública) ou privada, diz respeito ao órgão
regulamentador da mesma. Uma certificação oficial é regulamentada por órgãos
governamentais e emitida por um agente certificador estatal (por exemplo, o SIF) ou privado
(por exemplo, o SIBOV). A certificação privada é regulamentada por empresas e associações
e tem seus objetivos mais restritos, podendo abranger produtos, cadeias ou temas específicos e
pode ser empregada também na certificação de fornecedores (SORNBERGER et al, 2010).
A certificação oficial pode, ainda, ser dividida em compulsória ou voluntária. A primeira é
obrigatória por lei e envolve temas relacionados às questões de segurança, saúde e meio
ambiente. Já a certificação voluntária é uma opção da empresa e pode ser vista como uma
decisão estratégica na busca de vantagens competitivas no mercado por meio da diferenciação
dos produtos (SALA, 2003; SORNBERGER et al, 2010).
No caso da certificação compulsória, a coordenação é exercida pelo próprio governo. Na
certificação voluntária esse papel é feito pelo mercado em função das estratégias competitivas
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das empresas atuante, em particular das empresas dominantes que impõe suas regras na cadeia
de fornecimento (SALA, 2003).
Quanto ao agente econômico que a concede, a certificação pode ser de primeira, segunda ou
terceira parte. Quando a certificação é concedida por um o organismo certificador credenciado
independente da empresa certificada e de seus clientes, a mesma é dita de terceira parte. Na
certificação de segunda parte, uma empresa certifica seus fornecedores de matéria-prima. Já a
certificação de primeira parte é quando uma empresa se autocertifica, ou seja, o próprio
produtor concede a garantia da certificação (INMETRO, 2010).
2.1. Certificação e coordenação de cadeias agroindustriais
Para Conceição e Barros (2005) certificação pode ser discutida a partir de duas perspectivas.
A primeira refere-se ao mercado interno, onde é utilizada como ferramenta para diferenciação
e valorização dos produtos por parte do consumidor. No cenário internacional, a certificação
torna-se ferramenta importante para evitar as chamadas “barreiras não tarifárias”.
Furlaneto (2002) destaca que em cadeia agroalimentares a identificação dos produtos por uma
marca ou certificação permite agregar valor ao produto e pode ser um fator decisivo na
escolha de um produto pelo consumidor final. Nesse contexto, certificação pode ser entendida
como resultado das exigências do consumidor que está cada vez mais exigente em relação à
qualidade e segurança do alimento (SORNBERGER et al, 2010).
A qualidade e as características dos produtos agroalimentares é resultado da ação de cada elo
da cadeia desde o produtor rural até o varejo (VAN DER VORST et al., 2007). Assim, a
certificação de fornecedores pode ser empregada para melhorar a qualidade da matéria prima
e diminuir os casos de não conformidade diminuindo, assim, os custos de transação e,
consequentemente, tornando a relação clientes e fornecedores mais harmoniosa (TAM, 2001).
Nesse contexto, segundo Rezende et al (2005), a preocupação em atender as novas exigências
de consumidores, governos e outros elos da cadeia, resulta em nova concepção de
coordenação em que se substitui o simples controle de cada etapa por uma coordenação
através de estruturas proativas e suprafirmas. Esses mesmos autores acrescentam que a
certificação, na medida em que representa a qualidade que o produto oferece, passa pela busca
de mecanismos de transferências da confiabilidade. Assim, os integrantes dos sistemas
agroindustriais vêm transferindo o foco para o controle de qualidade da produção.
Uma firma que decide certificar seus produtos ou serviços assume que a informação que
fornece por meio da certificação ajudará o consumidor a direcionar seus gastos a produtos que
realmente atenda suas expectativas (CONCEIÇÃO e BARROS, 2005). Para isso, a empresa
deve considerar os benefícios que tal certificação trará que podem ser desde um sobrepreço do
produto, a abertura de novos mercados, ou até mesmo a possibilidade de permanecer no
mercado, no caso de certificações compulsórias ou exigências contratuais (SALA, 2003).
3. Produção de leite de búfala e a certificação “Selo de Pureza 100% Búfalo”
O leite de búfala, devido às suas qualidades, é matéria-prima para a fabricação de queijos e
outros derivados (ANDRIGHETTO, 2011). Como principais características podem ser citados
os elevados teores de proteína, gordura, minerais e sólidos totais e o baixo número de células
somáticas (MACEDO, 2001). Teixeira et al. (2005) acrescenta que graças a essa composição
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o leite bubalino tem um rendimento entre 40% e 50% superior ao similar bovino na
industrialização.
Macedo (2001) destaca que os queijos produzidos exclusivamente com leite de búfala são
muito bem aceitos pelo consumidor, que está disposto a pagar um valor diferenciado pelo
produto. O maior rendimento do leite na industrialização somado, ao maior valor agregado em
seus produtos finais, tem estimulado os laticínios a remunerarem a matéria prima a preços
cerca de duas vezes maiores que o valor pago ao produtor de leite bovino (GONÇALVEZ,
2005; BERNARDES, 2007).
Esse diferencial vem estimulando o crescimento da produção do leite de búfala no Brasil.
Assim, a partir dos anos 80 tem-se obsevado uma intensa formação de bacias leiteiras,
principalmente próximo aos grandes centros consumidores onde se observou a criação de
laticínios especializados na industrialização do leite bubalino (BERNARDES, 2007; BRUNA,
2011).
Segundo o último senso pecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2006), no ano de 2006 foram produzidos cerca de 92,3 milhões de litros de leite de búfala no
Brasil, dos quais 45 milhões foram transformados em 18,5 mil toneladas de derivados. Essa
movimentação gerou um faturamento bruto às indústrias da ordem de U$55 milhões e aos
produtores de leite U$17 milhões.
A mozzarela tem se destacado como principal responsável pelo crescimento da produção do
leite de búfala no Brasil. Teixeira et al. (2005) relatam que a mozzarela, originária da região
italiana de Campana no século XVI, é um tipo de queijo fresco de paladar delicado produzido
tradicionalmente a partir do leite bubalino integral. Gonçalves (2008) destaca que na Itália a
bubalinocultura é uma atividade econômica de grande importância desenvolvida com alta
tecnologia e que tem o posicionamento do seu principal produto, o queijo mozzarela, bem
definido em seu mercado alvo.
Outros queijos podem ser fabricados a partir do leite de búfala são como o provolone (que
utiliza o mesmo processo da mozzarella, acrescido de maturação e defumação), o queijo
frescal, o requeijão e a ricota (GONÇALVEZ, 2005; TEIXEIRA et al., 2005). Além dos
queijos, são produzidos também o doce de leite, o requeijão, o iogurte entre outros produtos
de expressão regional.
A búfala apresenta uma característica fisiológica que pode comprometer a eficiência de toda
cadeia produtiva. Pereira (2007) descreve a búfala como um animal poliéstrico estacional de
dias curtos, ou seja, apresenta cios apenas em alguns meses do ano. Assim, segundo Vieira et
al. (2009), a búfala concentra a 82,57% da produção de leite durante os meses de fevereiro a
abril, causando uma queda brusca ou até mesmo a falta do leite nos demais meses do ano.
Para solucionar o problema da concentração da produção de leite de búfala algumas técnicas
para alterar o calendário natural dos partos podem ser empregadas para manter a produção
mais constante. Mas, segundo Tonhati (2001), esse procedimento aumenta o custo de
produção e diminui a eficiência reprodutiva do rebanho.
Segundo Andrighetto (2011), a cadeia produtiva do leite de búfala apresenta características
positivas, mas alguns pontos precisam ser melhorados. A autora destaca o alto valor agregado
dos queijos e derivados do leite de búfala e a grande demanda por esses produtos como pontos
fortes da cadeia. Um dos pontos fracos é a sazonalidade na produção do leite de búfala.
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Assim, a mozzarella e os demais subprodutos do leite de búfala têm se destacado como um
produto de alto valor agregado e com um mercado disposto a pagar um valor diferenciado por
eles. Entretanto, a escassez de matéria-prima tem estimulado o aparecimento de produtos
ditos “piratas” ou falsificados, ou seja, mozzarella dita de búfala produzida parcial ou
totalmente com o leite bovino.
Com o objetivo de combater esse tipo de fraude, a Associação Brasileira de Criadores de
Búfalos (ABCB, 2012), criou em 2000 um programa de certificação de queijos produzidos
com o leite de búfala chamado “Selo de Pureza 100% Búfalo”. Esse selo garante, mediante
exames realizados periodicamente nos produtos, que o produto certificado foi fabricado
apenas com leite de búfala (ABCB, 2012).
Segundo Bruna (2011), essa certificação tem sua utilização regida por um regulamento, sendo
ela exclusiva aos associados da ABCB, mediante assinatura e registro do “Termo de
Autorização e Compromisso”. Nele o laticínio participante se compromete a produzir
seguindo os temos de utilização do selo.
Compete aos membros da ABCB selecionar o técnico que inspecionará o laticínio certificado
e contratar o laboratório e o apoio necessário para a análise dos produtos e controle da
utilização do selo. Ao participante do programa cabe, após pagar uma taxa de ingresso,
informar mensalmente a quantidade de leite recebida em sua plataforma e pagar à ABCB a
quantia proporcional ao leite processado (BRUNA, 2011; ABCB, 2012).
Atualmente, o programa de certificação conta com a participação de 8 laticínios, 5 deles
localizados no estado de São Paulo e os estados de Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do
Norte contam com um representante cada. Como mostrado na Tabela 1, de 2001 à 2010 a
captação de leite por esses laticínios teve um incremento de 460%, com um crescimento anual
médio de 21% (BRUNA, 2011; ABCB, 2012).
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Fonte: Adaptado de Bruma (2011)
Tabela 1 – Número de laticínios certificados e captação de leite de búfala
4. Metodologia
O presente estudo se caracteriza como uma pesquisa exploratória (VOSS, 2009) aplicada à
agroindústria processadora do leite de búfala. A população do estudo foi composta pelos 8
laticínios certificados com o “Selo de Pureza 100% Búfala” da ABCB. Desses, 6 responderam
os questionários, resultando em uma amostra de 75% da população. A pesquisa foi realizada
entre dezembro de 2010 e março de 2011.
A principal ferramenta para coleta de dados foi um questionário estruturado, enviado via e-
mail para as empresas participantes da pesquisa. Antes de ser enviado, o questionário foi
discutido entre os autores e avaliado por outras duas pessoas, sendo uma atuante na área e
outra não. Outras fontes de informações também foram utilizadas como o site da ABCB, os
sites das próprias empresas e contatos realizados por e-mail e telefone.
O questionário era formado de 14 questões, sendo que as duas últimas eram abertas para os
respondentes darem suas opiniões sobre as vantagens e desvantagens de possuir a certificação
do “Selo de Pureza 100% Búfala”. Antes do envio do questionário foi feito um contato por
telefone com os proprietários das empresas convidando-os a participarem da pesquisa. Junto
com o questionário foi enviado uma carta com os objetivos da pesquisa e com o compromisso
de não divulgar os nomes das empresas.
5. Apresentação e análise dos dados
Baseado nos dados levantados na pesquisa foram analisadas algumas características dos
laticínios. Os nomes das empresas não serão divulgados e as mesmas serão identificadas
como LT1, LT2, LT3, LT4, LT5 e LT6.
Como mostrado na Tabela 2, pode-se considerar a amostra avaliada como predominantemente
experiente na industrialização do leite de búfala uma vez que apenas a empresa LT6 tem
menos de 10 anos de experiência na área. Em relação ao tempo de certificação, constata-se
que 4 empresas têm mais de 8 anos de certificadas e as demais têm 6 e 8 anos. Essas duas
primeiras informações indicam que a atividade tem apresentado boa sustentabilidade
econômica (uma vez que essas empresas têm conseguido se manter financeiramente) e que o
programa de certificação tem mostrado resultados satisfatórios, já que as empresa têm
mostrado interesse em se manterem certificadas por tanto tempo.
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Tabela 2 – Caracterização das empresas
A inspeção sanitária pode ser considerada uma certificação pública compulsória que diz
respeito às práticas de segurança do alimento. Apesar de ser compulsória, a empresa pode
optar por uma inspeção federal (SIF), estadual ou municipal. A escolha pelo tipo de inspeção
sanitária deve ser uma opção estratégica da empresa, uma vez que pode limitar sua área de
atuação comercial. Assim, uma empresa com inspeção federal poderá comercializar seus
produtos em todos os estados da nação, enquanto a inspeção estadual permite a
comercialização apenas dentro do estado onde o produto é processado e a inspeção municipal
apenas no município. Nesse sentido, podemos constatar pela Tabela 2 que apenas das
empresas em questão possuem inspeção sanitária estadual e atuam comercialmente apenas
dentro do estado.
Pela Tabela 3 observa-se que apenas duas empresas tem capacidade máxima diária de
industrialização superior a 8.000 l/dia, o que caracteriza o grupo como predominante de
pequenos laticínios. A Tabela 3 também indica que, exceto as empresas LT2 e LT5, todas as
empresas possuem capacidade ociosa de produção. Essa ociosidade é prejudicial à empresa,
podendo comprometer seu desempenho econômico.
A integração vertical pode trazer vantagens e desvantagens às empresas. Dentre as vantagens
podem-se destacar maior controle da cadeia produtiva (incluindo quantidade e qualidade da
matéria-prima), redução de custos e apropriação dos lucros situados a montante e/ou a jusante
da atividade original da empresa. Por outro lado, a necessidade do aumento de investimentos,
a maior dificuldade da gestão e o aumento dos ricos podem ser vistos como pontos negativos
(AZEVEDO, 2007; SILVA e BATALHA 2011). Nesse sentido, a Tabela 3 indica que as 5
empresas produzem pelo menos 39% do leite que processam. Essa verticalização pode ser
uma estratégia da empresa ou uma imposição pelas condições de mercado.
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Tabela 3 – Capacidade produtiva, quantidade média de leite processada, produção própria de leite e forma de
aquisição de leite
A Tabela 4 destaca as principais dificuldades das empresas: distância em relação ao produtor
de leite, a falta de leite e a falta de mão obra especializada. Esses fatores afetam diretamente a
competitividade das empresas através do aumento nos custos de produção (transporte do leite)
e comprometendo a produtividade das empresas (pela falta de leite) e a qualidade do produto
final (falta de mão de obra especializada).
As empresas também mostraram que estão passando por um bom momento. Em relação aos
últimos 12 meses apenas uma empresa afirmou que não aumentou sua produção. Já em
relação à intenção para os próximos 12 meses as empresas afirmaram que pretendem
aumentar sua produção. Essas repostas dão indícios de que a atividade está sendo rentável e
interessante.
Nas duas últimas perguntas os respondentes puderam discorrer sobre as principais vantagens e
desvantagens de trabalhar com um produto certificado como 100% de búfala. Em relação às
vantagem todas as respostas incluíram a agregação de valor ao produto por meio da garantia
da pureza do mesmo. As desvantagens variam entre custos, concorrência desleal com
produtos impuros e peque escala de produção.
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Tabela 4 – Dificuldade na aquisição do leite, gargalo da atividade, avaliação dos últimos 12 meses e intenção
para os próximos 12 meses
6. Conclusão
Com base nos dados levantados nessa pesquisa pode-se concluir que os laticínios certificados
com o “Selo de Pureza 100% Búfala” possuem características muito próximas. No geral são
empresas com baixas capacidades de produção que apresentam ociosidade de produção
relativamente alta por não terem oferta suficiente de matéria prima (leite de búfala).
Entretanto, o alto valor agregado e a diferenciação do produto final, aliados à grande
demanda, têm dado a essas empresas condições de competirem no mercado e aumentarem de
maneira constante sua produção.
A principal demanda para essa certificação tem sido o consumidor que vê nesse selo a
garantia de um produto de qualidade superior e está disposto a pagar um valor diferente por
esse produto. Como ponto negativo, pode-se citar o custo para a certificação e a concorrência
com produtos de baixa qualidade.
O estudo indicou que a pequena produção de leite de búfala parece estar limitando o
crescimento desses laticínios. Entretanto, devido ao pequeno número de casos estudados,
esses dados não devem ser generalizados sendo, por tanto, necessário mais estudos nessa
cadeia.
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