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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
IHAC: INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS
PROFESSOR MILTON SANTOS
LUMA SANTANA DE SOUZA DÓREA
LEONARDO DE OLIVEIRA CRUZ
LUIZ EDUARDO DA NOVA BAHIA BRITTO
RODRIGO DE JESUS PASTOR
DEMOCRACIA, PARTIDOS, SISTEMAS ELEITORAIS E
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: AS CONTRIBUIÇÕES DE EDMUND
BURKE, STUART MILL, MAX WEBER E ROBERT DAHL.
Salvador
2011
LUMA SANTANA DE SOUZA DÓREA
LEONARDO DE OLIVEIRA CRUZ
LUIZ EDUARDO DA NOVA BAHIA BRITTO
RODRIGO DE JESUS PASTOR
DEMOCRACIA, PARTIDOS, SISTEMAS ELEITORAIS E
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: AS CONTRIBUIÇÕES DE EDMUND
BURKE, STUART MILL, MAX WEBER E ROBERT DAHL.
Relatório de análise do tema Democracia, Partidos,
Sistemas Eleitorais e Representação Política: As
Contribuições de Edmund Burke, Stuart Mill,
Marx Weber e Robert Dahl proposto pela
disciplina Ciência Política do curso de
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades com
área de concentração em estudos jurídicos da
Universidade Federal da Bahia, sob a orientação
do Professor Mestre Bernardo Brasil Campinho.
Salvador
2011
RESUMO
Com o objeto de analisar o papel instrumental da democracia, partidos,
sistemas eleitorais e representações políticas demonstram que a sociedade é
fruto de fatores sociais, políticos, econômicos, históricos e culturais.
Utilizando-se das constatações e contribuições dos grandes pensadores
Edmund Burke, Stuart Mill, Marx Weber e Robert Dahl, o presente
relatório, apresenta um traçado histórico da sociedade da sistematização e
definição dos regimes políticos na sua busca incessante de meios para
conciliar os mais diversos interesses em uma vontade geral. Fazendo-se
necessário o aprofundamento nos estudos do sistema eleitoral partidário para
um melhor entendimento da democracia partidária e dos regimes políticos
vigentes nos tempos modernos.
Palavras Chave: Democracia, Representação Política, Partidos, Sistemas
eleitorais.
INTRODUÇÃO
A sociedade sob a qual vivemos é resultado de uma evolução cultural e
tecnológica emergindo dentro do capitalismo, criado por uma sociedade
burguesa, onde se prevaleceu a visão do liberalismo individualista, sendo
esta sociedade incentivada por grandes descobertas e invenções.
Caracterizou-se por ser produto de processos cumulativos de racionalização,
autonomia e universalização de diferentes campos de ação observando-se ao
longo do tempo o surgimento de novos valores constituídos principalmente
nos movimentos culturais como: o Iluminismo, o Renascimento, a Reforma
Protestante e as Revoluções Políticas Burguesas.
No atual estágio de desenvolvimento o mundo tornou-se globalizado,
pequeno para as relações humanas, gerando novas formas de relações entre
as nações.
Busca-se incessantemente o uso e conhecimento das técnicas com a
finalidade de buscar um desenvolvimento apropriado para o mundo
globalizado se realizando através do processo político a alocação das
riquezas e dos valores socialmente produzidos na tentativa de se construir
meios para conciliar os mais diversos interesses em uma vontade geral.
O presente trabalho foi realizado tendo como suporte metodológico a
pesquisa bibliográfica, traçando um paralelo entre democracia, partidos,
sistemas eleitorais e representações políticas e, suas implicações perante
uma análise crítica sob a sociedade atual.
Utilizando-se das contribuições dos pensadores clássicos: Edmund Burke,
Stuart Mill, Marx Weber e Robert Dahl; procuramos analisar como
determinados partidos e sistemas eleitorais podem influenciar sobre a
representação democrática concretizada por um dado Estado, sendo os
instrumentos de representações políticas desencadeantes da participação
ativa e eleitoral dos cidadãos.
O desenvolvimento do presente estudo encontra-se distribuído em cinco
capítulos. O primeiro capítulo vai discursar sobre a Democracia e seus
conceitos, tradições históricas e seu diálogo com o liberalismo, socialismo e
elitismo trazendo as grandes concepções e atribuições das ideias do norte
americano Robert Dahl, um dos mais destacados cientistas políticos em
atividade, discursando sobre a democracia.
Segue, no segundo capítulo analisando os Sistemas Eleitoras e suas
consequências, sob a ótica do pensador Jairo Nicolau. O cientista político
brasileiro vai abordar em sua obra os componentes dos sistemas, fórmulas
eleitorais e como elas se instrumentalizam a nível mundial e nacional.
O terceiro capítulo compreende as definições de Sistemas de Partido em sua
dinâmica junto à sociedade. Trás as funções dos partidos políticos as
organizações de massa e organizações partidárias junto ao contexto mundial.
Utiliza-se dos trabalhos do intelectual alemão, jurista e economista Max
Weber, em suas constatações sobre Parlamento e Estado e Parlamentarismo
e Democracia.
Na sequência, o quarto capítulo, é dedicado as ideias do filósofo e
economista inglês Stuart Mill, um dos pensadores mais influentes do séc.
XIX. Traz suas contribuições nos campos da Economia e Política onde
procurou combinar o utilitarismo com o socialismo como forma de
superação ao egoísmo. Ainda em seu discurso apontam-se os sistemas
políticos, legislação, justiça e política econômica.
O quinto e ultimo capítulo faz menção aos pensamentos de Edmund Burke,
filósofo e político anglo-irlandês, que embora não tenha escrito nenhum
tratado sobre teoria política é considerado pelos conservadores como o pai
do conservadorismo anglo-americano contribuindo para filosofia política
que tem uma visão positiva da função do estado e dos objetivos últimos da
sociedade humana.
Nas considerações finais, procurou-se sintetizar as colocações trabalhadas
neste estudo, acrescentando-se algumas reflexões que se somam ao enfoque
selecionado acerca da questão da democracia, partidos, sistemas eleitorais e
representações política destacando-se a importância do aprofundamento nos
do sistema eleitoral partidário para um melhor entendimento da democracia
partidária e dos regimes políticos vigentes nos tempos modernos.
ROBERT DAHL: EXPANSÃO DEMOCRÁTICA
Os primeiros governos populares que possuíam, de fato, certa lógica de
igualdade na participação política, com a qual permitia que o povo tivesse
acesso e a inserção no sistema de produção política das suas cidades, se deu
com a Democracia na Grécia clássica, mais precisamente 507 a.C e com a
República, mais ou menos na mesma época, dessa vez em Roma.
Na Grécia clássica, Atenas representava o que existiu de mais importante
entre as democracias gregas. O governo do povo em Atenas pode ser
grosseiramente definido como um governo em que os funcionários
essenciais desse governo eram eleitos através de assembléias, onde todos os
cidadãos homens poderiam participar. Nessas assembléias, o método
comumente utilizado, para a seleção dos futuros funcionários políticos, era
de um tipo de loteria que permitia com que os cidadãos tivessem a mesma
chance de escolha.
Já em Roma, a República era um sistema político que inicialmente estava
restrito a aristocracia romana, os patrícios no caso. Posteriormente, a plebe,
nome utilizado para representar o “povo” romano desse período conseguiu
adquirir o direito de participar dos negócios do povo, tradução do latim de
república. Também diferente da Grécia, que Atenas não era a única
democracia grega, a república em Roma, se restringiu a cidade, não
conseguiu se expandir, devido ao distanciamento geográfico das demais
cidades.
Entretanto, tanto em Roma, quanto na Grécia, os governos populares foram
perdendo suas forças até chegar ao seu término. As causas desse
enfraquecimento se deram pela inquietude civil, pela militarização dos
Estados, pelas guerras, pela corrupção que gerou uma diminuição do espírito
cívico existente nos cidadãos, assim as formas de hierarquia e de dominação
foram se tornando cada vez mais naturais extinguindo os governos populares
por milhares de anos.
Depois de um período de esquecimento, os governos populares voltam a
surgir como sistema de governo na Europa. Esse ressurgimento se deu entre
600 d.C. e 100.d.C., principalmente na porção norte da Europa, dessa vez
não só em cidades isoladas, mas em países como na Noruega, na Dinamarca,
na Suécia.
O sistema político desse contexto se aproxima grosseiramente do que hoje se
tem como democracia, passa a se ter uma assembléia nacional composta por
representantes eleitos e governos locais eleitos por homens livres, para
resolver disputas, aprovar ou rejeitar leis, discutir os rumos do Estado em
relação à economia, religião, poder. Cada país com sua particularidade,
deve-se ressaltar, mas ambos traçavam caminhos que os aproximavam, de
certa forma, da democracia dos dias atuais.
Após essa volta dos governos populares na Europa, algumas cidades da
Itália seguem o caminho que mais cedo tinha sido tomado por Roma e
aderem à república. Inicialmente, a participação no corpo governante das
cidades-estado estava restrita à classe superior, mas os membros da classe
média, além de possuir maior número do que os membros da classe superior
se mostraram capazes de organização e passaram a participar do corpo
governante dessas cidades.
Porém, mais tarde, as repúblicas das cidades-estado sofreram problemas
econômicos graves devido à corrupção das oligarquias, das constantes
guerras de tomada de poder que geraram governos autoritários,
demonstrando uma fragilidade política das cidades-estado, que só poderia
ser sanada através de uma força superior.
Assim, os governos populares das cidades-estado são extintos e dão lugar ao
governo popular dentro de um estado nacional, como se deu em alguns
países do norte europeu e como se conhece nos dias de hoje, cidades
subordinadas e incorporadas a uma entidade maior, o país.
Dentro dessa evolução, aos poucos, surge uma espécie de parlamento
representativo, sendo sem dúvidas a base para a prática de governo
representativo que se conhece nos dias atuais. Assim, mais ou menos no
século XVIII, a relação entre o rei e o Parlamento se configura como uma
espécie de balança, onde ambos são limitados pela autoridade do outro e
dessa relação, nasce um sistema constitucional, onde as leis são
promulgadas por ambos e interpretados pelo poder judiciário, poder
independente dos demais.
Esse sistema acabou ficando conhecido como o sistema de pesos e
contrapesos e acabou sendo levado para inúmeros outros países, por sua
relação intrínseca com a divisão de poderes que traria no consenso entre os
poderes, uma decisão mais próxima da justiça.
Entretanto, essa decisão mais próxima da justiça, muitas vezes não estava
adequada com as necessidades e ideologias dos cidadãos livres do país,
gerando um desconforto e uma instabilidade nacional. Sendo assim, seria
necessária a instauração de uma espécie de legislativo representativo, onde
os cidadãos livres teriam no parlamento, representantes das suas
necessidades, suas ideologias e os seus anseios.
O grande problema, é que nesse período do século XVIII, o conceito de
homens livres, fazia com que essa parcela fosse muito restrita, as mulheres
eram consideradas propriedade dos seus maridos, os escravos propriedades
dos seus donos. Sendo assim, com metade da população adulta de um país,
excluída das decisões políticas, é perceptível que não há representação
alguma do povo.
Além dessa representação que não atendia a todo o povo do país, outros
fatores trouxeram dificuldades para a consolidação da democracia de fato.
Em primeiro lugar, os parlamentos quase nunca chegavam de fato a ser
páreo para um monarca, o parlamento era basicamente reservado para a
aristocracia e o alto clero, que dificilmente discordavam das opiniões do rei,
ou por subordinação social ou por inclinação ideológica.
Em segundo lugar, para completar os empecilhos para se chegar a uma
democracia, as idéias e as convicções do que seria de fato uma democracia
ou não eram bem compartilhadas, ou não eram bem entendidas, ou até quem
sabe, as duas coisas ao mesmo tempo, mas o que se sabe é que a restrição a
liberdade de expressão fortalecia essa dificuldade. Nesse contexto, não havia
legitimidade ou legalidade na oposição política, os partidos políticos eram
considerados indesejáveis.
Com todos esses empecilhos para o avanço das idéias e dos costumes
democráticos, pode-se concluir que para se chegar à democracia de fato, é
necessária a existência de determinadas condições favoráveis a esse sistema.
Por isso, a democracia de fato, não seguiu uma trilha ascendente, desde os
governos representativos da Grécia clássica e de Roma, até os dias atuais,
ela oscilou de acordo com as condições que se apresentavam em
determinadas épocas e lugares.
Mas o que vem a ser democracia de fato? Definir democracia é uma tarefa
um tanto trabalhosa, construindo uma síntese, democracia pode ser definida
como um sistema em que todos os cidadãos são considerados politicamente
iguais, ao ponto de eleger representantes legislativos que possam deliberar,
discutir e tomar decisões políticas. Para isso, em uma democracia existe a
necessidade de se ter uma constituição que assegure a todos os indivíduos o
direito de participar das tomadas de decisão.
Para satisfazer a essa exigência, de que todos os membros estejam capazes
de participar das decisões políticas, é necessário que se passe por um
processo democrático que perpasse por cinco critérios. São eles, o critério da
participação efetiva, da igualdade de voto, da aquisição de entendimento
esclarecido, de exercer o controle definitivo do pensamento e o de inclusão
dos adultos. Quando qualquer desses critérios é violado, os membros não
serão politicamente iguais.
Em suma, esses critérios, cada um com sua especificidade, proporcionam
oportunidades iguais e efetivas a todos os membros. Na igualdade de voto,
todos devem ter o direito de votar e os votos devem ter o mesmo peso. No
entendimento esclarecido, todos devem ter o direito de aprender sobre
política, para que possam também entrar em mais dois dos critérios, o da
participação efetiva, tendo o direito que sua opinião seja conhecida por
outros membros e o do controle do programa de planejamento, tendo o
direito de opinar sobre as questões que devem ser colocadas no
planejamento político e quando o planejamento político é necessário de
reforma. Por último e não menos importante, o critério da inclusão dos
adultos, que reforça todos os outros critérios por defender a inclusão de
todos, ou quase todos os adultos residentes permanentes.
Esses critérios se confundem entre si, principalmente pelo fato de todos
pretendem assegurar a igualdade política dos membros. De forma mais
clara, eles são utilizados para servir como orientação para as relações de
construção com as instituições, as constituições e as práticas políticas. Para a
democracia, esses critérios podem servir também para encontrarmos uma
forma de interpretar e de aplicar os padrões democráticos desejados.
Entretanto, quando se trata de uma associação como o Estado, é necessário
que haja a instauração de certas instituições políticas para fazer com que
esses critérios sejam de fato aplicados. O Estado é uma entidade territorial
que se distingue das demais associações pelos seus meio de coerção que são
utilizados para garantir a aplicação das regras. Quando esse Estado passa por
um processo democrático, ele apresenta arranjos democráticos iniciais que
se transformam em práticas e ao final se transformam em instituições, ao
chegar nesse nível de maturidade democrática, essas instituições devem
assegurar que os critérios sejam devidamente aplicados.
São essas instituições, a de funcionários eleitos, em que as decisões do
governo são tomadas por funcionários eleitos pelos cidadãos, e essas
eleições devem estar na validade da instituição de eleições livres, justas e
freqüentes. Está também entre as instituições, fontes de informação
diversificadas, em que o cidadão deve ter o acesso a informações de
quaisquer ideologias políticas, para então utilizá-las em mais outras duas
instituições, a da liberdade de expressão, já que através das informações
adquiridas, o cidadão tem o direito de se expressar sobre a sua ideologia,
sem o risco de retaliações políticas e enfim chegar à instituição da
autonomia para as associações, em que o cidadão através da sua ideologia
política tem o direito de formar associações relativamente independentes,
como partidos políticos. Por último e não menos importante, a instituição da
cidadania inclusiva que assegura a todos os cidadãos residentes permanentes
no país a aplicação de todas as outras instituições.
Essas instituições foram aplicadas de forma dispersa, até chegar ao momento
de serem aplicadas todas juntas. Assim, essas instituições trouxeram práticas
que configuraram a moderna democracia representativa ou democracia
poliárquica. Através delas, se implantou o sufrágio universal, as eleições
para os legislativos, a expansão dos direitos do cidadão, com a liberdade de
expressão que possibilitou a troca de informação, e assim a formação de
facções de ideologias análogas que acabou se transformando nos partidos
políticos, com as disputas entre partidos, pode se ter a definição da posição e
da oposição partidária.
Nessa evolução até chegar à democracia poliárquica, existem duas
instituições que são extremamente necessárias para entender o formato da
paisagem política de um país, essas instituições são, os sistemas eleitorais e
os seus partidos políticos.
Dentre os sistemas eleitorais, os principais são o de representação
proporcional e o sistema de pluralidade. No sistema de representação
proporcional tem a intenção de reproduzir a proporção do total de votos a
um partido e a proporção de cadeiras do mesmo partido no legislativo. No
sistema de pluralidade, o objetivo é assegurar ao partido que obtivesse uma
maior pluralidade de votos, ou seja, maior quantidade de votos em cada
distrito levaria vantagem na formação das cadeiras do legislativo.
Dentro dessas diferenças entre sistemas eleitorais, se instaura outra
dicotomia política, que se dá entre a representação dos partidos. No sistema
de pluralidade, cria-se um obstáculo para a existência de terceiros partidos,
devido a sua formulação, com isso se utiliza o sistema bipartidário nesse
sistema. Já no sistema de representação proporcional, a tendência é utilizar o
sistema multipartidário, tendo em vista que, o maior objetivo do sistema é
assegurar que a diversidade de ideologias tenha representação no legislativo.
A combinação dos sistemas eleitorais junto com a forma de governo formula
modelos eleitorais utilizados no mundo na formação do poder executivo.
Como por exemplo, a Inglaterra utiliza o governo parlamentar com eleições
do sistema de pluralidade, nos EUA, também se utiliza o sistema de
pluralidade, mas com o governo presidencialista, na América Latina, o
governo também é presidencialista, mas com o sistema de representação
proporcional, na maior parte do sistema europeu, o governo é
parlamentarista com eleições do sistema de representação proporcional.
Existem países, como a Alemanha, a França, a Suíça, a Itália e a Nova
Zelândia que utilizam outros tipos de combinações de modelos eleitorais. A
grande questão, é que os países reúnem condições que são favoráveis a um,
ou outro modelo e por isso, não existe modelo superior, ou inferior, há quem
defenda um ou outro, mas todos possuem vantagens e desvantagens e
nenhum satisfaz a todos os critérios razoáveis. O que é certeza é que para
chegar a uma democracia de fato, existem outros valores que devem ser
levados em consideração, não só os critérios, mas também a representação
justa, a transparência política, a sensibilidade e a eficácia do governo, esses
valores ou padrões não menos importantes do que os critérios, pelo
contrário, são tão necessários quanto.
WEBER: OS PARTIDOS POLÍTICOS E SISTEMAS DE PARTIDOS
"Sistema de partido é qualquer sistema que legitime a escolha de um poder executivo através de votações e que compreenda eleitores, um ou mais partidos e uma assembléia" (RIGGS, 1968, p.82).
Na primeira metade do séc. XIX, o sistema político alcançou certo grau de
autonomia estrutural e foi dado ao povo o direito de participar teórica ou
praticamente na gestão do poder político. Nesse contexto, surgem as
associações que podemos considerar propriamente como partidos políticos.
Aparecem, pela primeira vez, nos países pioneiros em adotar as formas de
governo representativo, a participação popular como instrumentos de
organização e atuação
Weber os define os partidos políticos como "uma associação... que visa a um
fim deliberado, seja ele 'objetivo' como a realização de um plano com
intuitos materiais ou ideais, seja 'pessoal', isto é, destinado a obter
benefícios, poder e, conseqüentemente, glória para os chefes e sequazes,
ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente".
O “partido dos notáveis” ou de “representação individual, prevaleceu
durante todo o séc. XIX, na maior parte dos países europeus. Foi
caracterizado por serem um grupo de “notáveis” os que financiavam a
atividade e a organização política, cuidando do financiamento, com a ajuda
de mecenas, interessados econômicos, interessados na patronagem de
determinados cargos ou mediante contribuições dos associados: na maioria
das vezes, na base de várias destas fontes. Se desenvolveu então uma
organização partidária com base no comitê no momento em que o sufrágio
era limitado e a atividade política era exclusivamente a atividade
parlamentar da burguesia.
Com o aparecimento dos partidos socialistas, os partidos políticos assumem
conotações completamente novas pelos objetivos políticos que se
propunham e condições sociais e econômicas das massas a que se dirigiam.
Surgem os partidos de organização de massa exigindo uma conscientização
das massas para torná-las politicamente ativas e cientes do seu próprio
papel.
Em sua indenidade política, os partidos socialistas, se caracterizam pelos
seus valores de integração social tendo como instrumentos de atuação uma
densa rede de organizações econômicas, sociais e culturais, sindicatos,
cooperativas, organizações de assistência para os trabalhadores e suas
famílias, jornais e tipografias.
A rápida expansão dos partidos eleitorais de massa e sua integração no
sistema político surtiram efeitos até nos partidos da burguesia, os notáveis,
por exemplo, de início se mostraram hostis e desfavoráveis a situação que se
formava. Temendo ver ameaçada a própria posição de preeminência de uma
democratização dos seus partidos ou de ver colocada em discussão a própria
concepção da política ou os próprios critérios de gestão do poder, os partidos
da burguesia, dispondo das principais levas do poder político, a ação do
exército e da burocracia, impediram, durante certo período, a integração
política dos partidos dos trabalhadores e neutralizaram a concorrência no
mercado político, de modo que o partido eleitoral de massa foi o ultimo a
comparecer na cena política européia.
Foi a partir do segundo pós-guerra, que se realizou a integração, pelo menos
formal, das massas populares no sistema político e os partidos de origem
operária foram reconhecidos quase em toda a parte como concorrentes
legítimos no "mercado" político. Tal fato resultou em uma profunda
modificação na esfera social, intervenção cada vez maior do Estado nos
setores mais diversos da sociedade, e a conseqüente necessidade de
princípios de planejamento econômico e social, o qual pedia uma mediação
entre os diversos interesses.
“O significado da democratização ativa das massas consiste em que o líder político já não é proclamado candidato, em virtude do reconhecimento de sua competência no círculo de uma camada de notáveis, tornando-se então líder, por distinguir-se no Parlamento, mas sim passou a conquistar a confiança e a crença das massas em sua pessoa, e portanto seu poder, com os meios da demagogia de massas. Pela essência da coisa, significa isto uma tendência cesarista na seleção do líder. E esta existe de fato em toda democracia.” ( WEBER, Max, 2004, p. 572)
Na sociedade vigente os partidos políticos representam os portadores mais
importantes de todo querer político dos dominados pela burocracia, dos
"cidadãos". Conduzem á uma progressiva democratização da vida política e
integração de setores mais amplos da sociedade civíl, sendo eles criados e
baseados em livre recrutamento sempre renovado, abrangendo diferentes
formações sociais que vão desde os grupos unidos por vínculos pessoais
e particularistas às organizações complexas de estilo burocrático e
impessoal.
Um sistema que contemple um único partido se justificará por ser o produto
das tentativas de uma elite política para organizar e legitimar o domínio de
uma força social sobre outra, numa sociedade bifurcada. Tais sistemas de
partidos únicos podem dividir-se em dois tipos: exclusivistas e
revolucionários, com objetivos de manter a divisão na sociedade, conservar
o monopólio do poder e restringir permanentemente a participação política,
ou então se visam recompor a sociedade em bases diferentes, após ter
destruído ou assimilado os grupos sociais vencidos.
Existem além do sistema de partido único, sistemas em que,
independentemente do número dos partidos, apenas dois têm uma
possibilidade efetiva de governarem sozinhos, sem necessidade de recorrer a
outros partidos, são esses chamados de sistemas bipartidários.
Por fim fala-se ainda em sistemas multipartidários, em que se distinguem
por serem sistemas de multipartidarismo limitado e moderado, ou em
multipartidarismo extremo e polarizado.
Assim os partidos políticos em Estados modernos visam sempre à conquista
do poder político dentro de uma comunidade mediante a obtenção de votos
nas eleições para cargos políticos ou em corporações com voto tendo fins
políticos objetivos, mas aspirando também a patronagem de cargos.
Todo o partido aspira poder e participação na administração e na influência
sobre a ocupação de cargos. Observa-se o poder dos partidos pela qualidade
das técnicas das campanhas eleitorais e sua organização burocrática dos
aparatos de funcionários. Dependem de sua subordinação às pessoas com
qualidades de liderança e de que dispõe, pois a essência de toda política será
a luta, conquista de aliados e de um séquito voluntário.
Segundo Weber, no sistema parlamentarista, os discursos de um deputado já
não são manifestações pessoais, e menos ainda tentativas de convencer os
adversários. São declarações oficiais do partido, dirigidas ao país "através da
janela" tendo os partidos seus especialistas para cada assunto.
Weber ainda ressalta que “somente parlamentares profissionais qualificados,
que passaram pela escola de trabalho intenso nas comissões de um
parlamento ativo, podem transformar-se em líderes responsáveis que não
sejam meros demagogos e diletantes.” Um político profissional faz das
atividades políticas dentro do seu partido o conteúdo de sua existência.
Entre os políticos profissionais, conforme já vimos, há dois tipos: primeiro, os que vivem materialmente "do" partido e das atividades políticas, isto é, nas condições norte-americanas, os "empresários" políticos, grandes e pequenos, os bosses e, nas condições alemãs, os "trabalhadores" políticos, os funcionários de partido remunerados. Segundo, há aqueles que têm condições e se sentem impelidos por sua convicção a viver "para" a política, isto é, a fazer dela
idealmente sua vida, como o fez, por exemplo, o social-democrata Paul Singer, que ao mesmo tempo era um grande mecenas do partido. (WEBER, Max, 2004, p. 570)
O desenvolvimento dos partidos políticos, tomou em consideração certas
necessidades da sociedade, representando instrumento importante, através
do qual grupos sociais distintos se inseriram no sistema político e
puderam exprimir suas próprias reivindicações e anseios participando de
modo mais ou menos eficaz, da formação das decisões políticas. O
modo como os partidos exercem sua representação política, suas prioridades
e interesses dos grupos que representa é os que diferenciam empiricamente.
Na concepção Marxista, o partido, em suma, instrumento e representante de
uma classe, deveria desaparecer na sociedade sem classes.
"A temática concernente aos Sistemas de partido é oferecida pelos modelos
de interação entre organizações eleitorais significativas e genuínas, próprias
dos Governos representativos — Governos nos quais, tais sistemas cumprem
predominantemente (bem ou mal) a função de fornecer as bases de
uma autoridade eficaz e de definir as escolhas que podem ser decididas
pelos procedimentos eleitorais" (Eckstein, 1968, 438).
Weber conclui que nas condições atuais da seleção dos líderes, um
Parlamento forte e partidos parlamentares responsáveis (e isto significa: cuja
função é a seleção e a confirmação como dirigentes do Estado dos líderes
das massas) constituem os pressupostos fundamentais de uma política
estável.
STUART MIIL: UTILITARISMO, GOVERNO REPRESENTATIVO, DEMOCRACIA E LIBERDADE
O filósofo e economista inglês John Stuart Mill, um dos pensadores liberais
mais influentes do séc. XIX, nasceu em 8 de maio de 1806 e faleceu, aos 67
anos, em 16 de maio de 1873.
Filho de James Mill, um dos criadores do utilitarismo, teve na sua obra a
influência das idéias do pai trazendo como resultado o compromisso entre o
pensamento liberal e os ideais democráticos do séc. XIX.
A Inglaterra em que viveu, da década de 1830, representou um período
politicamente conturbado e apesar de não ter vivido os primeiros momentos
da Revolução Industrial, foi contemporâneo em seu apogeu testemunhando
as grandes mudanças tanto na sociedade como na política e na economia.
Assistiu à ascensão da classe média ao poder político, com a reforma do
Parlamento, e a reivindicação do sufrágio universal pelo movimento cartista
onde defendeu a incorporação dos segmentos populares como única
possibilidade de salvar a liberdade inglesa presa aos interesses egoístas da
prospera classe média.
Escreveu “Sobre a liberdade” em uma Inglaterra da década de 1850, imerso
em uma sociedade profundamente conservadora a qual, na época,
interpretou seus escritos como profundamente radicais.
Considerando que a sociedade é o agregado de consciências autocentradas e
independentes, cada qual buscando realizar seus desejos e impulsos, Stuart
Mill, vai defender o princípio básico do utilitarismo, que vê no bem-estar
assegurado o critério último para avaliação de qualquer governo ou
sociedade. De acordo com o utilitarismo, a principal finalidade dos homens
é a felicidade e esta somente poderá ser alcançada com a mais ampla
aceitação da diversidade, e de garantias que elas sejam aceitas na medida em
que os homens tenham o direito de se pronunciar e defender suas ideias.
Assim, defende-se o pluralismo e a diversidade social contra as
interferências do Estado, e a importância da opinião pública e a perspectiva
de sistemas abertos, multipolares, onde a administração do dissenso
predomine sobre a imposição de consensos amplos de tal forma que a
diversidade e o conflito funcionem como forças matrizes por excelência da
reforma e do desenvolvimento social. A construção de uma sociedade livre
só pode ser realizada na medida em que se propicie o choque das opiniões e
o confronto das ideias e propostas, criando condições ímpares para que “a
justiça e a verdade” subsistam.
Para este pensador liberal o a liberdade é substrato necessário para o
desenvolvimento de toda humanidade e a tarefa da filosofia política seria
buscar um fundamento justo para legitimar a limitação do poder do povo
sobre si mesmo. Este fundamento será o princípio “autoproteção”: único
objetivo pelo qual se pode garantir aos homens, individual ou coletivamente,
interferir na liberdade de ação de qualquer deles. Com este princípio,
compatibilizam-se duas ordens de direito, o coletivo ou social e o individual.
Por meio da ação coercitiva da própria sociedade, nenhum indivíduo poderia
causar dano a outro indivíduo, assegurando a independência a todos os atos
que não houver prejuízos a terceiros.
O utilitarismo do filósofo e economista inglês considerava a utilidade como
o último recurso em todas as questões éticas e defendia o controle externo
apenas em relação àquelas ações de cada um que dizem respeito ao interesse
dos demais.
“A única parte da conduta de alguém, pela qual este é
responsável perante a sociedade, é aquela que diz respeito
aos demais. Sobre si mesmo, sobre seu próprio corpo e
mente, o indivíduo é soberano.” ( MILL, John Stuart, 2005,
206)
Na Antiguidade por liberdade se entendia proteção contra tirania dos
governos políticos. Na medida em que a sociedade se transformava, os
homens pararam de supor, como uma necessidade da natureza, o fato de que
os governantes devessem ser um poder independente e oposto aos interesses.
O que agora se desejava era que os governantes estivessem identificados
com o povo e com seu interesse e vontade do maior número ou da “parte”
mais ativa do povo, da maioria, ou daqueles que conseguem ser aceitos
como a maioria. A sociedade via-se robustecida, escalando-se a si própria
como fonte de autoridade política.
John Stuart Mill observou surgir nesse contexto uma tirania apresentada sob
uma nova face, “a tirania da maioria”, uma tirania social mais pavorosa do
que muitos tipos de opressão política, pois deixava menos recursos de se
escapar. Dessa forma, mais perigoso, não seria o controle moral da
sociedade, mas o fato de não haver garantias legais contra sua interferência
na liberdade dos indivíduos.
“A prática e o discurso dominantes, como se sabe, estão encarregados de criar em todos os membros da sociedade o sentimento de que fazem parte dela da mesma maneira, e que a contradição não existe, ou melhor, a contradição deve aparecer como simples diversidade ou como diferentes maneiras, igualmente legítimas, de participar da mesma sociedade.” (CHAUÍ, Marilena, 1989)
Onde quer que haja uma classe ascendente uma grande parcela da
moralidade do país emana de seus interesses de classe e de seus sentimentos
de superioridade de classes. O processo político sempre traz latente uma
dose de competição que pode no máximo ser abafada, mas nunca eliminada,
entretanto, através dos procedimentos de institucionalizações modernos
tentam-se criar mecanismos para absorver esta competição.
Existe nos homens uma predisposição natural para impor suas normas de
conduta a outros. Impor como regra suas próprias opiniões e inclinações, é
tão energicamente apoiada por alguns dos melhores e por alguns dos piores
sentimentos inerentes á natureza humana e tal disposição, quase nunca é
mantida sobre controle por qualquer coisa que não desejo de poder, daí a
necessidade de buscar adesão moral ao princípio da autoproteção junto à
própria sociedade.
Para uma construção de uma sociedade verdadeiramente livre, é necessário
que existam o choque das opiniões e o confronto das ideias e propostas,
criando condições ímpares para que “a justiça e a verdade” subsistam.
“A oposição do outro que conserva cada um dentro dos limites da razão e da sanidade. A menos que opiniões favoráveis à democracia e à aristocracia, à propriedade e à igualdade, à cooperação e à competição, à luxúria e à abstinência, à sociabilidade e à individualidade, à liberdade e à disciplina, e todos os outros permanentes antagonismos da vida prática, sejam exprimidos com igual liberdade, e demonstrados e defendidos com
igual talento e energia, não haverá probabilidade do ambos os elementos obterem o que lhe é devido : um prato da balança subirá na certa, e o outro descerá.” ( MILL, John Stuart, 2005, 233)
Uma vez que nenhuma sociedade em que as liberdades individuais não
estejam inteiramente respeitadas é inteiramente livre, qualquer que possa ser
sua forma de governo. E ninguém é completamente livre naquela em que
elas não existam absolutas e irrestritas. Deverá existir um limite para a
interferência legítima da opinião coletiva sobre a independência individual.
As opiniões dos homens sobre o que é louvável ou condenável são afetadas
por todas as causas multivariadas que influenciam os seus desejos em
relação à conduta dos outros e que são tão numerosas quanto aquelas que
determinam seus desejos sobre qualquer outro assunto. “(...) o mundo, para
cada indivíduo, significa a parte do mundo com a qual entra em contato: o
partido, a seita, a Igreja, a classe da sociedade a que pertence (...)” (MILL,
Jhon Stuart, 1963, p. 22)
Para que a dominação e a supressão da liberdade de fato não ocorram
encontrar este limite para a interferência legítima da opinião coletiva sobre a
independência individual e protegê-lo contra a invasão será tão
indispensável a uma boa condução das atividades humanas quanto a
proteção conta o despotismo político: “ Na proporção do desenvolvimento
da própria individualidade, cada pessoa se torna de maior valia para si
mesma, sendo, portanto, capaz de torna-se mais valiosa para outrem”
( MILL, Jhon Stuart, 1963, p. 72). A desentoação para com a liberdade
poderia acarretar prejuízos tanto para o “autodesenvolvimento” quanto para
a humanidade.
O tipo ideal de governo, então, só pode ser representativo onde se faz
fundamental o respeito com as minorias e o direito de estas se expressarem
livremente. Dessa maneira, é importante que todo o povo participe do
sistema de governo, pois o alimento do sentimento é a ação, mesmo a
afeição doméstica se nutre de bons ofícios voluntários. Deixe uma pessoa
sem nada a fazer por seu país e ela não se interessará por ele. A passividade
produz pessoas invejosas e incapazes de se empenharem em qualquer
atividade que represente melhoramentos coletivos. O ativo é empreendedor,
que ao fazer o melhor para si, faz por todos direta ou indiretamente, por esse
motivo toda a participação mesmo na menor das funções públicas, é útil.
Mill defende o governo democrático como a melhor forma de governo
representativo, pois nele encontram-se condições que favorecem o
desenvolvimento das capacidades de cada cidadão e recombina opiniões
contraditórias. Concilia os princípios da democracia com os do Estado
liberal, tratando da convergência entre eles. Descarta a possibilidade de que
a democracia seja praticada de forma direta, defendendo como “idealmente
melhor” a democracia representativa. Recusa a democracia direta
constatando, ser ela, a tirania da maioria podendo causar um mal ao livre
desenvolvimento individual e da humanidade.
Ao difundir esses mecanismos de inclusão política propiciando um ambiente
dinâmico, o governo democrático representativo, não apenas promove o
autodesenvolvimento, como também evita a prostração da burocracia
passando a dispor eficiente remédio contra seus males característicos: a
tendência a rotina, que a faz perder em vitalidade torna-se pedantocracia.
Seriam indispensáveis ao governo representativo três condições: “1) que o
povo esteja disposto a recebe-lo; 2) que seja capaz de fazer o que for
necessário para preservá-lo; 3) que esteja disposto e seja capaz de cumprir
com os deveres e desempenhas as funções que lhe impõe”. (MILL, Jhon
Stuart, 1964, p. 50)
A participação deverá ser, em toda parte, tão ampla quanto o permitir o grau
de desenvolvimento da comunidade; e que não se pode, em última instância,
aspirar por nada menor do que a admissão de todos a uma parte do poder
soberano do Estado.
Embora defenda uma ampla participação política de todos os indivíduos que
constituem a sociedade, Mill, chama atenção de se “limitar o caráter da
representação mediante sufrágio mais ou menos restrito” (MILL, Jhon
Stuart, 1964, p.88). Concorda que quanto aos que dependem de auxílio:
“Quem não pode pelo próprio trabalho bastar-se a si mesmo não tem direito
a reivindicar o privilégio de servir-se do dinheiro de terceiros” (MILL, Jhon
Stuart, 1964, p.114), temendo uma ingerência dos cidadãos pouco ou não
produtivos sobre os mais ricos ainda podendo exercer uma influência
negativa no caráter dos representantes possivelmente tornando-se
irresponsáveis no que diz respeito aos gastos públicos, vistos serem estes os
que votam os impostos.
Entretanto, o filósofo economista, acredita que com o tempo a classe dos
dependentes iria diminuir, de maneira que os que ficassem fora do sufrágio
seriam em número diminuto, configurando-se sufrágio universal.
Por outro lado sua preocupação maior não era com o voto dos mais pobres,
sim com o voto dos mais ignorantes: “Considero totalmente inadmissível
que qualquer pessoa participe de eleições sem ser capaz de ler, escrever e
ainda juntarei executar as operações comuns de aritmética” (MILL, Jhon
Stuart, 1964, p.112). O problema do analfabetismo deixaria de ser um
entrave à participação como o tempo tendo-se o ensino universal como uma
obrigação da sociedade, seja dada obrigatoriedade pelo Estado diretamente,
bem como obrigando os pais a provê-lo aos filhos:
“A justiça pede, mesmo quando o sufrágio não depende disso ( da alfabetização, que os meios de adquirir essas noções elementares estejam ao alcance de todos, ou gratuitamente ou com uma despesa que o mais pobre que ganhe o próprio pão possa satisfazer.” ( MILL, Jhon Stuart, 1964, p. 112-3)
Para Mill, o melhoramento do povo se realizava por meio de instituições
políticas que promovam a liberdade. Nesse sentido, o governo democrático
constitui verdadeira “escola de espírito público” e por estas razões Mill
defende o governo democrático, representativo, não apenas para a escolha
dos governantes, mas, principalmente como um instrumento moral, ético e,
sobretudo, do discernimento político.
EDMUND BURKE: PARLAMENTARISMO, REPRESENTAÇÃO POLÍTICA E PARTIDOS POLÍTICOS.
Edmund Burke foi um dos mais conhecidos estadista e filosofo inglês e
considerado o primeiro clássico e fundador do conservadorismo moderno.
Nasceu e se criou na cidade de Dublin, em Irlanda, no século XVIII. Filho
de pais em condições confortáveis, ele gozou de boa educação e desde cedo
mostrou seu talento literário.
Mudou-se para Londres para estudar direito, porém sua paixão pela
literatura falou mais alto, e ele então abanou o curso. Em 1756 escreve A
vindication of the natural society, seu primeiro trabalho. O livro era uma
sátira a Bolingbroke (importante pensador político), mas ele imitou tão bem
que a princípio muitos acharam se tratar de uma obra do próprio.
Contudo ele nunca chegou a ordenar logicamente suas ideias fundamentais,
e a maioria eram construídas através de críticas, muitas vezes em discursos.
Ele também acreditava que havia uma realidade superior que rege todo o
universo, leis eternas. Os homens, como sendo parte desse todo, devem
respeitar essas leis eternas.
Para muitos, Burke era considerado um reacionário, por suas ideias
conservadoras. No entanto ele era defensor da liberdade e favorável às
questões liberais. Essa liberdade, pra ele, vinha de uma ordem moral eterna,
sustentada pela religião. Essa liberdade deveria ser uma liberdade ordenada.
Atuou na carreira parlamentar no partido Whig, no Parlamento em 1766,
permanecendo lá durante duas décadas seguintes. O parlamentarismo faz
referência a fenômenos políticos cujo desenvolvimento histórico se insere na
curva temporal que vão da Revolução Francesa até nossos dias.
Todavia entre os Parlamentos medievais e os modernos há enormes
diferenças, quer se considere sua composição, seus poderes ou duração. Os
Parlamentos medievais enxergavam a função da elaboração das normas
como ação "conservativa", de consolidação do direito consuetudinário e de
defesa dos privilegia em vigor. Em contrapartida, nos Parlamentos modernos
esta função assume um caráter "inovador", visando à produção de novas leis.
O estadista, crítico e filósofo inglês defendia reformulações políticas, era
contra os revolucionários da Revolução Francesa de 1789 e criticava todos
aqueles que os apoiavam.
Considerando que o contexto político, que dá origem às instituições é o do
Estado medieval, caracterizado por uma estrutura muito descentralizada e
articulada, verdadeiro mosaico de situações e "privilégios" particulares,
Burke, inicia o tema da representação política dizendo que os eleitos
deveriam representar e atender seu povo “na correspondência mais íntima e
numa comunicação sem reservas com seus eleitores. Seus desejos devem ter
para ele, grande peso, sua opinião o máximo respeito, seus assuntos uma
atenção incessante". Os políticos deveriam agir com essa proximidade, mas
sem esquecer-se de fazer juízos de valor, manter-se imparcial e respeitar o
Estado Democrático.
“O Parlamento não é um congresso de embaixadores de interesses diferentes e hostis; de interesses que cada qual tivesse que manter como agente e advogado, contra outros agentes e advogados; mas é o parlamento uma assembleia deliberativa de uma nação, com um interesse, o do todo; que se não deve guiar por interesses locais, preconceitos locais, mas pelo bem comum, oriundo da razão geral do conjunto. Escolhe-se um representante efetivamente, mas quando se faz a escolha, deixa ele de ser o representante de Bristol para ser um membro do Parlamento” (BONAVIDES, Paulo, 2000)
O parlamento pode definir-se como: uma assembleia ou um sistema de
assembleias baseadas num "princípio representativo", diversamente
especificado, determinando os critérios da sua composição. Obtentoras de
atribuições funcionais variadas, porém se caracterizando por um
denominador comum: a participação direta ou indireta, muito ou pouco
relevante, na elaboração e execução das opções políticas, a fim de que elas
correspondam à "vontade popular".
Do ponto de vista funcional, os parlamentos possuem variedades de funções,
sendo o direito e o dever de intervir, em todos os estádios do processo
político a forma de se fazer valer o princípio da soberania popular. Tão
variadas atividades podem ser globalmente compreendidas no quadro das
quatro funções parlamentares fundamentais: representação, legislação,
controle do Executivo e legitimação.
A aspiração natural das assembleias parlamentares é a de institucionalizar e
tornar regulamentada a própria presença política. O nascimento e
desenvolvimento das instituições parlamentares dependem, portanto, de um
delicado equilíbrio de forças entre o poder central e os poderes periféricos.
Para que haja a consolidação dos Parlamentos exige-se um estímulo que leve
as várias forças do país a se unirem de forma duradoura. É a dialética das
forças políticas e sua vivacidade que caracterizam a ação política do
Parlamento.
Segundo Burke o partido político era “um corpo de pessoas unidas para
promover, mediante esforço conjunto, o interesse nacional, com base em
algum princípio especial, ao redor do qual todos se acham de acordo”.
Dentre as funções parlamentares, é a representativa a qual possui uma
posição preliminar. Contudo a representação política é capaz de cair no
oposto, a “manipulação” transformando a política em um fluxo descendente
de modelos e opções políticas impostas desde o alto. Nos Parlamentos que
atuam como verdadeiros instrumentos representativos, o elemento distintivo
está na "imagem" característica da sociedade política que eles são capazes
de personificar. Em tal situação, a variável partidária tem naturalmente um
peso decisivo.
Na época alguns poucos filósofos defenderam a existência de partidos
políticos. Não existia lugar na democracia para partidos com interesses, pelo
ideal russeauniano. Burke era um dos que discutiam ferrenhamente contra as
ideias antipartidistas que permeavam a Europa, ele foi um dos motores para
essa mudança. Ele entendeu que os partidos seriam mantenedores do Estado
dito democrático.
O futuro das instituições parlamentares depende, portanto, em grande parte,
da sua capacidade de adaptação, no que respeita a estruturas e modos de
operar, o qual compreende um fundo de coesão entre as forças políticas,
capaz de transcender as suas divergências e servir para contrabalançar as
pressões centrífugas que nascem inevitavelmente da dialética política tendo
o papel de elemento de equilíbrio num sistema político aberto e pluralista.
Nas mudanças que se realizaram nas instituições parlamentares, ao longo do
tempo, sobretudo às características do pessoal parlamentar: desaparece a
figura do político independente, sendo substituída pelo homem de partido,
pelo político de profissão. A dimensão da unidade de referência da vida
parlamentar, o parlamentar isolado e o grupo pouco estruturado são
suplantados pelo partido ou grupo solidamente organizado e disciplinado.
No setor econômico ele defendia a propriedade privada como uma defesa do
cidadão perante o aparato estatal, em toda sua dimensão repressora, e
considerava o direito a propriedade como uma ordem social justa e como
essencial para a prosperidade do Estado. Ele apoiava a liberdade econômica.
Tendo vivido na época da separação da colônia americana, Burke defendia
uma política conciliatória, e defendia os americanos, pois considerava que
por estes serem descendente dos ingleses deveria gozar de plenos direitos de
liberdade.
Burke temia que as ideias da revolução francesa se espalhassem pela
Europa. Ele diz que a revolução não era só a destruição da velha ordem
estabelecida, mas também a destruição de valores e recursos tradicionais que
a sociedade demorara anos para conquistar. Para exemplificar ele utilizava
como exemplo a própria Constituição inglesa, exemplo máximo dessas
conquistas.
JAIRO NICOLAU: SISTEMAS ELEITORAIS.
Nos sistemas eleitorais nem sempre quem é o mais votado é o que recebe o
maior numero de votos. Muitos dos sistemas se mostram injustos, pelo efeito
e impacto negativos que proporcionam. No mecanismo eleitoral alguns
sistemas são tendenciosos dão um bônus a partidos de maioria mais votados,
e afetaria a representação dos pequenos partidos. Assim, partidos menores
são prejudicados. No mundo moderno, onde a monarquia se mostra cada vez
mais fraca, com poucas representações, e sendo assim, na maioria dos países
ao redor do globo nos escolhemos nossos governantes.
Jairo Nicolau traz os principais sistemas eleitorais, mostrando que não há
um sistema que vem ser mais eficaz que outro, ele vem tentar mostrar que
tais sistemas ajudam a regular as eleições no mundo.
Nos sistemas majoritários deve ser assegurada a representação dos mais
votados em eleição, o candidato mais votado recebe 100% dos votos
enquanto os outros partidos ficam sem representação nenhuma. No sistema
majoritário pode haver ou não contingente mínimo de votos.
No sistema de maioria simples, o candidato eleito é o que recebe maioria
dos votos. É usado para eleger os deputados de vários países como Reino
Unido e ex-colônias britânicas. Tais países, que elegem por maioria simples
a Câmara dos Deputados, têm seu território dividido em distritos, e cada
distrito elege um representante, com os eleitores podendo escolher um
candidato, e os partidos não podem apresentar mais de um candidato por
distrito.
Aqui no Brasil esse sistema foi derrubado durante a Constituinte de 1988,
sem sequer ir a plenário. Ou seja, no Brasil a maioria simples não existiu.
Historicamente o Reino Unidos usa tal sistema desde que surgiu do
parlamento medieval em 1264. Vale ressaltar que nesse sistema é o
candidato que é votado em principal, tanto é que candidatos sem partidos
podem ser votados.
“Uma característica do sistema de maioria simples é que a representação parlamentar de pequenos partidos e de grupos sociais minoritários depende de como os votos são distribuídos pelo território. Imagine, por exemplo, dois partidos pequenos (A e B) com votações semelhantes, digamos de 10%. O partido A tem votação concentrada em um número reduzido de distritos. O partido B tem votação dispersa e homogênea por todo o território nacional. Provavelmente, o partido A será mais bem-sucedido na eleição de um candidato. A razão é simples: no sistema de maioria simples em distrito uninominal, não importa chegar em segundo ou em terceiro lugar, mesmo que seja com votação significativa. O único resultado eficiente é ser o mais votado do distrito.” (NICOLAU, Jairo)
Esse sistema recebe criticas, pois produz distorções quando se compara com
votações que têm representação de partidos. Em defesa é usado a
representação mais territorial, pois se são representantes de áreas especificas
eles teriam incentivos para defender os interesses das mesmas. Também em
um governo com o sistema de maioria simples é a capacidade de criar
governos com um partido. E em países parlamentaristas com um partido
como maioria, algo típico no gabinete seria a coalizão. E no fim das contas o
eleitor seria prejudicado, pois seria mais complicado responsabilizar o
partido pelo sucesso ou o fracasso de políticas públicas.
Um sistema que se aproxima bastante do sistema de maioria simples é o
sistema de dois turnos. A diferença entre eles é que o candidato tem
necessariamente que obter maioria absoluta de votos, caso isso não seja
obtido é disputada novas eleições com os candidatos mais votados. França e
o Mali usam esse sistema nas eleições parlamentares.
“A França é dividida em 555 distritos eleitorais uninominais (cada um com cerca de 70 mil eleitores). Um partido apresenta um candidato por distrito e o candidato que recebe a maioria absoluta dos votos está eleito. Quando isso não acontece, uma nova eleição (segundo turno) é realizada uma semana depois. No segundo turno, podem concorrer todos os candidatos que receberam mais de 12,5% do total de votos dos eleitores inscritos.” (NICOLAU, Jairo)
Os defensores do sistema da maioria simples enfatizam a especificidade da
representação em comunidades do Parlamento, existem outras vantagens do
sistema de maioria simples, como a vantagem de garantir que o candidato
seja eleito por maioria, evitando que um candidato com um menor número
de votos seja eleito.
Também no sistema de voto alternativo existe a garantia que os eleitos
sejam os que obtiveram a maioria dos votos, mas não usa uma nova eleição,
transferindo votos de candidatos menos votados para os candidatos mais
votados. Esse sistema é utilizado nas eleições da Câmara dos Deputados na
Austrália. Da mesma forma que nos outros sistemas os partidos apresentam
seus candidatos por distrito. Mas o eleitor pode, em vez de, dar um voto, ele
ordena os votos para os candidatos.
Esse sistema evita que candidatos de grande rejeição sejam eleitos.
Entretanto ele se mostra falho, pois não evita distorções entre votação e
representação. Exemplo:
“Nas eleições de 1996, os dois maiores partidos receberam votações similares, mas ficaram com um número de cadeiras muito diferente: o Partido Trabalhista recebeu 39% dos votos em primeira preferência e ficou com 33% das cadeiras, enquanto o Partido Liberal, com 39% dos votos, obteve 51% das cadeiras.” (MACKERRAS, Malcom; MCALLISTER, Ian apud NICOLAU, Jairo)
Vários países usam o sistema majoritário na eleição de seu chefe de Estado.
Israel é o único que elege o primeiro-ministro por votação popular. Nos
EUA o presidente é eleito por colégio eleitoral. O presidente boliviano é
eleito pela Câmara dos Deputados, depois de uma eleição popular chega à
câmara dois nomes, e a partir daí o presidente. Mas nos outros a eleição é
por voto popular. E com o sistema de dois turnos.
Nos EUA é por colégio eleitoral, funciona da seguinte forma: o presidente é
escolhido por colégio eleitoral, que é composto por delegados (538
delegados por colégio eleitoral) e em cada estado o partido seleciona uma
lista de nomes que serão votados por esses delegados. E somente o
congresso que é eleito pelo povo, mas é outra história.
O sistema de maioria simples não somente é utilizado pela Câmara de
Deputados do Reino Unido, mas também na eleição do presidente do
México, Filipinas, Venezuela, Coréia do Sul entre outros. E têm os mesmos
problemas que nas eleições do Reino Unido, um candidato ser eleito com
percentual baixo de votos.
O sistema de dois turnos é usado em países como: Áustria, Benin, Brasil,
Bulgária, Chile, etc. E da mesma forma que é votado o parlamento francês.
O partido apresenta candidatos e é aberta a votação popular, quando o
candidato recebe a maioria dos votos têm-se o presidente, caso contrario, e a
maioria não é alcançada é aberta a votação em segundo turno, com apenas
dois candidatos (os que obtiveram a maioria dos votos no primeiro turno).
Só que na Bolívia o segundo turno não é de forma direta, no segundo turno a
Câmara de Deputados que escolhe entre os mais votados do primeiro turno.
A defesa do sistema majoritário é a que com ele é possível a criação de um
governo de um único partido, e teria duas virtudes. Primeira,
tradicionalmente associada aos governos. Produz a estabilidade em cada
governo. Segunda diz que os eleitores teriam um maior controle por sobre o
governo. Pois não havendo muitos partidos deixa de ser necessária a
coalizão.
Em oposição ao sistema de maioridade, está o sistema de representação
proporcional, esse sistema busca duas coisas básicas, que são: que seja
refletida no Legislativo, e a outra é garantir que exista uma paridade entre
votos e representação. Ele foi inspirado no político francês Mirabeau.
“Durante a constituinte de Provença, em 1789, defendeu que a função do Parlamento era refletir o mais fielmente possível as feições do eleitorado, tal como um mapa reproduz em miniatura os diferentes traços geográficos de um território.” (CARSTAIRS, Andrews apud NICOLAU, Jairo)
É sempre proporcional o número de votos e o número de cadeiras, mas isso
pode não corresponder à realidade, pois depende de alguns fatores para que
isso seja posto em prática. As variantes são: o voto único transferível e o
sistema de lista.
O voto único transferível é utilizado nas eleições da Câmara Baixa da
Irlanda, desde 1921. É visto como uma forma de fazer com que seja
assegurada opinião do povo é uma das formas mais justas de sistema. E se
constitui da seguinte forma: cada partido só pode apresentar candidatos a
partir do número de representantes na Câmara dos Deputados. Exemplo: Se
o partido A tiver cinco representantes ele pode apresentar até cinco
candidatos.
A representação proporcional de lista é utilizada na Bélgica para eleger a
Câmara dos Deputados, em 1899, e nas primeiras décadas do século XX,
vários países também o fizeram, e foram: Finlândia (1906), Suécia (1907),
Holanda (1917), Suíça (1919), Itália (1919), Alemanha (1919), Noruega
(1919), Dinamarca (1920) e Áustria (1920). A distribuição é até um pouco
simples, cada partido apresenta seus candidatos em forma de lista, e as listas
com maior quantidade de votos, e as cadeiras são ocupadas entre alguns
nomes da lista.
É necessário no sistema proporcional de lista é preciso de algum cálculo
para distribuir as cadeiras. Sendo divididas em: maiores médias, que
utilizam um divisor, e maiores sobras, que usam quotas. Nas maiores médias
dividem os votos, os que possuem valores altos ocupam sucessivamente as
vagas.
Em alguns casos, os partidos podem fazer alianças (coligações). Os partidos
mantêm-se autônomos, apresentam suas listas e têm votos anexos para os
cálculos de divisão de cadeiras. Essas coligações são mais benéficas para
partidos menores.
O processo de distribuição de cadeiras ocorre em duas fases: Primeira fase,
distribuição do distrito entre partidos e coligações. Segunda fase para os
partidos da coligação e o número é proporcional a ajuda que foi dada para a
campanha. Visto que sabemos quantas vagas vão para quais partidos,
restando quem de cada partido receberá as cadeiras. Um dos critérios é a
comparação do grau de influencia do partido. E a partir daí temos as Listas
Fechadas e Abertas.
A lista fechada é formulada anterior a eleição, em uma ordem
predeterminada. O voto é direcionado ao partido e não ao candidato. E as
cadeiras são ocupadas pelos primeiros nomes da lista. Um partido recebe
duas cadeiras, essas duas cadeiras serão ocupadas pelos primeiros
candidatos da lista.
Já na lista aberta cabe aos eleitores a definição das cadeiras ocupadas pelos
candidatos, os partidos oferecem a lista de forma não ordenada, e a partir daí
o eleitor escolhe um nome votando nele. É um contra ponto (obviamente) à
lista fechada. E também abre a possibilidade de votar na legenda, vota-se na
legenda e os votos são designados para os candidatos mais votados.
Existe também a lista livre, em que o eleitor pode também votar no partido,
podem também votar em um ou mais candidatos, no mesmo candidato mais
de uma vez e nesse sistema que é utilizado na Suíça. A apuração os votos
dos candidatos são somados ao todo, e a partir daí que é distribuído, quando
é do partido, cada candidato da recebe um voto.
Por último e não menos importante a lista flexível, em que os eleitores
interferem nos candidatos que irão ser votados. Caso o eleitor concorde com
a lista ele vota no partido. Caso contrário, o eleitor pode opinar na lista, e
assim escolher de duas formas: assinala o nome do candidato na lista
(Bélgica, Holanda, Dinamarca e Grécia) fazendo uma reordenação na lista
(Áustria, Noruega e Suécia).
As criticas giram em torno basicamente em duas coisas. Primeira é que não
pune os partidos menores e fragmenta o parlamento. Assim produzindo
governos não tão estáveis. A segunda é que exige distritos plurinominais
para operar.
Os sistemas mistos usam simultaneamente dois aspectos dos modelos de
representação (proporcional e majoritário). Argumentos em defesa desse
sistema é que ele garante que a representação de um número de
parlamentares eleitos em distritos uninominais. E ainda acreditam que tal
sistema permite mais proximidade com eleitor.
No sistema misto de superposição, todos os eleitores elegem seus
representantes por duas formas, mas não é afetado pela forma majoritária. O
eleitor dá dois votos, um dos votos é no candidato do distrito e o outro vai
para a lista partidária. E a alocação das cadeiras é separada. Então cada
partido é não somente o que é obtido no distrito, mas também a parte
proporcional.
No sistema misto de correção também são utilizadas duas formas eleitorais.
Mas há uma associação entre elas, para que sejam corrigidas as distorções
que são produzidas pela majoritária. O padrão de correção na maioria dos
países se dá da seguinte forma: as cadeiras são distribuídas nacionalmente
em proporção aos votos da lista, a partir do total de cadeiras são tiradas as
que foram conquistadas nos distritos uninominais, por sim diferença é
ocupada pelos primeiros nomes da lista.
Maurice Duverger faz uma critica aos efeitos mecânicos e psicológicos que
os sistemas eleitorais causam. No mecânico é a tendência dos sistemas
darem um bônus a partidos de maioria mais votados, e afetaria a
representação dos pequenos partidos. Também pode ser psicológico, uma
vez que os dirigentes de partidos pequenos se desencorajam em anunciar
candidatos, e eleitores se utilizam do voto útil. A escolha de um ou outro
sistema vai variar de acordo com as condições favoráveis a determinado
sistema em um país e a negociação entre perdas e ganhos de cada sistema.
CONCLUSÃO
A sociedade atual enfrenta uma realidade mundial onde há um conflito real
entre de um lado, a liberdade política e os direitos democráticos, e de outro,
a satisfação de necessidades econômicas básicas.
Sendo o território nacional uma das fundações do Estado passível de
conflitos, existe a necessidade de haver mecanismos para sua regulação, que
por fim remetem ao seu controle.
Há quem defenda que as necessidades econômicas dependem crucialmente
de discussões e debates públicos abertos, cuja garantia requer que se faça
questão da liberdade política e direitos civis básicos.
Foi, portanto elaborado um método de representação política que hoje é
conhecido como sistema eleitoral. A escolha desses representantes nas
democracias contemporâneas é dada através das eleições, cujos métodos
variam de acordo com os sistemas eleitorais vigentes no país.
Por outro lado também se defende que se aos pobres for dado escolher entre
ter liberdades políticas e satisfazer necessidades econômicas, eles
invariavelmente escolherão a segunda alternativa.
Assim atualmente existe uma contradição entre a prática da democracia e
sua justificação: a opinião da maioria tenderia a rejeitar a democracia
justificada pelo fato das pessoas terem razão para querer eliminar, antes de
qualquer coisa, a privação econômica e a miséria não fazendo questão das
liberdades políticas.
Durante o processo de expansão democrática, a democracia pôde ser
conceituada como a participação efetiva de um povo no governo baseado no
principio de liberdade e igualdade. Foi à busca da tão sonhada igualdade,
que move homens durante as eras, uma pretensão, uma busca de
representação de todos os homens.
Em outra mão argumenta-se, por exemplo, como na conferência de Viena de
1993, onde o ministro das Relações Exteriores de Cingapura alertou que “o
reconhecimento universal do ideal dos direitos humanos pode ser prejudicial
se o universalismo for usado para negar ou mascarar a realidade da
diversidade.” Ainda o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da
China chegou a registrar formalmente: “Os indivíduos têm de por os direitos
do Estado antes dos seus próprios direitos”.
Contudo, na verdade há poucas evidências gerais de que governo autoritário
e supressão de direitos políticos e civis sejam realmente benéficos para
incentivar o desenvolvimento econômico, mesmo nos dias de hoje, e os
processos democráticos vêm através dos anos mobilizando teorias, teóricos e
pessoas em busca de melhorar esse sistema, para que ele alcance todo o
potencial. Atenta-se para a urgência do impacto da democracia e das
liberdades políticas sobre a vida e as capacidades dos cidadãos. O buscar, o
ir além é o que permite que tais processos sejam criados, para que sejam
mantidos.
Os processos democráticos seriam a forma mais racional de divisão do
poder, mas muitas vezes essas divisões continuam a ser uma forma não justa
de divisão. Os sistemas eleitorais deixam que nem sempre processos
democráticos são justos com todos, mas atendem interesses pessoais que
muitas vezes se refletem em uma sociedade não participativa ou apática a
tais questões.
A organização partidária, o ativismo dos partidos de oposição é uma força
importante, tanto nas sociedades democráticas quanto nas democráticas. Um
sistema multipartidário, que promove a integração das mais diversas
camadas e grupos sociais, favorece a garantia de discussão, debate, crítica e
dissensão, abertos e são centrais para os processos de geração de escolhas
bem fundamentadas e refletidas.
Dentro de um sistema aberto a participação popular os dirigentes têm
incentivo para ouvir o que o povo deseja se tiverem de enfrentar a crítica
desse povo e buscar seu apoio nas eleições. O papel de grupos oposicionistas
organizados é particularmente importante nesse contexto que envolve
discussões e debates abertos, política participativa e oposição (sem
perseguição).
As realizações da democracia dependem não só das regras e procedimentos
que são adotados e salvaguardados, como também do modo com as
oportunidades são usadas pelos cidadãos estando relacionada tanto sua
“importância instrumental” como seu “papel construtivo”.
A resposta do governo ao sofrimento intenso do povo freqüentemente
depende da pressão exercida sobre esse governo, e é nisso que o exercício da
cidadania, dos direitos políticos (votar, criticar, protestar etc.) pode
realmente fazer a diferença.
A formação das compreensões de necessidade deve ter nas discussões
públicas papéis cruciais. Os direitos políticos, incluindo a liberdade de
expressão e discussão, sendo não apenas centrais na indução de respostas
sociais a necessidades econômicas, mas também centrais para a
conceituação das próprias necessidades econômicas.
Então se conclui que embora devamos reconhecer a importância das
instituições democráticas, elas não podem ser vistas como dispositivos
mecânicos para o desenvolvimento. Seu uso é condicionado pelo uso que
fazemos das oportunidades de articulação e participação disponíveis.
QUESTIONÁRIO:
1) Reconstrua historicamente o percurso dos governos populares, até chegar à
democracia dos dias atuais, assinalando ao menos três mudanças que
ocorrem nesse percurso de evolução.
Os primeiros governos populares que possuíam, de fato, certa lógica de
igualdade na participação política, se deram com a Democracia na Grécia
clássica, mais precisamente 507 a.C e com a República, mais ou menos na
mesma época, dessa vez em Roma. Acontece que devido a problemas
internos, como a corrupção que gerou uma diminuição do espírito cívico dos
cidadãos, assim as formas de hierarquia e dominação foram se sobrepondo
as forças democráticas, assim os governos populares em Roma e na Grécia
foram perdendo suas forças até chegar ao término.
Depois de um período ausente, os governos populares voltam a surgir como
sistema de governo na Europa. Esse ressurgimento se deu entre 600 d.C. e
1000.d.C., principalmente na porção norte da Europa, em algumas cidades-
estado da Itália e também não só em cidades, mas em países como Noruega,
Dinamarca, Suécia.
Mais tarde, as repúblicas das cidades-estado sofreram problemas
econômicos graves devido à corrupção das oligarquias, das constantes
guerras de tomada de poder que geraram governos autoritários,
demonstrando uma fragilidade política das cidades-estado. Com isso,
conclui-se que as cidades devem sofrer subordinação a uma entidade maior e
são incorporadas ao país, extinguindo os governos populares nas cidades-
estado, dando lugar ao governo popular dentro de um estado nacional.
O grande problema da representação dos populares, é que nesse período que
vai até o século XVIII, só os homens livres poderiam votar e as mulheres
eram consideradas propriedade dos seus maridos, os escravos propriedades
dos seus donos. Sendo assim, com metade da população adulta, de um país,
excluída das decisões políticas, é perceptível que não há representação
alguma do povo, além desse fator, era perceptível também que no legislativo
havia uma subordinação ao monarca, fazendo com que essa posição no
parlamento se tornasse mero cargo burocrático reservado para a aristocracia
e o alto clero.
Para sanar esses males que impediam se chegar numa democracia de fato,
como se tem hoje, foram criadas instituições para configurar e assegurar a
moderna democracia representativa ou democracia poliárquica. Através
delas, se implantou o sufrágio universal, as eleições para os legislativos, a
expansão dos direitos do cidadão, a criação de partidos, entre outras
melhorias.
2) Para se chegar à democracia de fato, é necessária a existência de
determinadas condições favoráveis a esse sistema. A problemática da
democracia ainda vem sido discutida pelos estudiosos mesmo nos dias de
hoje. O que Robert Dahl e Stuart Mill julgam como indispensáveis para que
haja a realização de um governo efetivamente democrático?
Democracia pode ser definida como um sistema em que todos os cidadãos são
considerados politicamente iguais, ao ponto de eleger representantes legislativos que
possam deliberar, discutir e tomar decisões políticas. Para isso, em uma democracia
existe a necessidade de se ter uma constituição que assegure a todos os indivíduos o
direito de participar das tomadas de decisão.
Robert Dahl vai definir cinco critérios necessários em um processo democrático, são
eles: o critério da participação efetiva, da igualdade de voto, da aquisição de
entendimento esclarecido, de exercer o controle definitivo do pensamento e o de
inclusão dos adultos. Quando qualquer desses critérios é violado, os membros não serão
politicamente iguais.
Stuart Mill defende que para uma construção de uma sociedade verdadeiramente livre, é
necessário que existam o choque das opiniões e o confronto das idéias e propostas,
criando condições ímpares para que “a justiça e a verdade” subsistam justificando que
uma vez que nenhuma sociedade em que as liberdades individuais não estejam
inteiramente respeitadas é inteiramente livre. Dessa maneira, é importante que todo o
povo participe do sistema de governo para que se favoreça o desenvolvimento das
capacidades de cada cidadão e sejam recombinadas opiniões contraditórias. A
participação deverá ser, em toda parte, tão ampla quanto o permitir o grau de
desenvolvimento da comunidade; e que não se pode, em última instância, aspirar por
nada menor do que a admissão de todos a uma parte do poder soberano do Estado.
O que é certeza é que para chegar a uma democracia de fato, existem outros
valores que devem ser levados em consideração, não só os critérios, mas
também a representação justa, a transparência política, a sensibilidade e a
eficácia do governo, esses valores ou padrões não menos importantes do que os
critérios, pelo contrário, são tão necessários quanto.
3) Na primeira metade do séc. XIX, surgem as associações que podemos
considerar propriamente como partidos políticos. Aparecem eles, pela
primeira vez, nos países pioneiros em adotar as formas de governo
representativo que tinham a participação popular como instrumentos de
organização e atuação. Qual a importância dos partidos políticos dentro dos
governos representativos para Edmund Burke e Max Weber?
Weber define os partidos políticos como "uma associação [...] que visa a um fim
deliberado, seja ele 'objetivo' como a realização de um plano com intuitos materiais ou
ideais, seja 'pessoal', isto é, destinado a obter benefícios, poder e, conseqüentemente,
glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos
conjuntamente".
Ele ainda observa que na sociedade vigente os partidos políticos representam os
portadores mais importantes de todo querer político dos dominados pela burocracia, dos
"cidadãos". Conduzem á uma progressiva democratização da vida política e integração
de setores mais amplos da sociedade civil, sendo eles criados e baseados em livre
recrutamento sempre renovado, abrangendo diferentes formações sociais que vão desde
os grupos unidos por vínculos pessoais e particularistas às organizações complexas de
estilo burocrático e impessoal.
Segundo Burke o partido político era “um corpo de pessoas unidas para promover,
mediante esforço conjunto, o interesse nacional, com base em algum princípio especial,
ao redor do qual todos se acham de acordo”.
Edmund Burke entendeu que os partidos políticos seriam mantenedores do Estado dito
democrático. Eliminar a luta entre os seria o mesmo que eliminar qualquer
representação ativa do povo. É a dialética das forças políticas e sua vivacidade que
caracterizam a ação política do parlamento representativo.
Os parlamentos compreendem um fundo de coesão entre as forças políticas, capaz de
transcender as suas divergências e servir para contrabalançar as pressões centrífugas que
nascem inevitavelmente da dialética política tendo o papel de elemento de equilíbrio
num sistema político aberto e pluralista.
Weber conclui que nas condições atuais da seleção dos líderes, um
Parlamento forte e partidos parlamentares responsáveis (e isto significa: cuja
função é a de seleção e a de confirmação como dirigentes do Estado dos
líderes das massas) constituem os pressupostos fundamentais de uma
política estável.
4) No capítulo quatro do livro do livro Sobre a Democracia, Roberth Dahl
enumera cinco critérios de um processo democrático, no capítulo oito do
mesmo livro, Dahl enumera seis instituições políticas necessárias em uma
democracia. Qual a relação entre esses critérios e essas instituições entre si e
em relação ao fator tamanho das associações.
Dahl defende que em uma democracia de fato, é necessário que seja
assegurado aos membros o direito de participar das decisões políticas, ou
seja, ele defende que todos os membros devem ser considerados
politicamente iguais. Assim, no processo democrático, Dahl enumera
critérios que asseguraria aos membros a igualdade política.
São esses critérios: a igualdade de voto, em que todos devem ter o direito de
votar e os votos devem ter o mesmo peso, o entendimento esclarecido, em
que todos devem ter o direito de aprender sobre política, o da participação
efetiva, tendo o direito que sua opinião seja conhecida por outros membros,
o do controle do programa de planejamento, tendo o direito de opinar sobre
as questões relacionadas ao planejamento político e o da inclusão dos
adultos, que reforça todos os outros critérios por defender a inclusão de
todos, ou quase todos os adultos residentes permanentes.
Para assegurar os critérios é necessário a construção de instituições políticas
que assegurem aos membros todos esses direitos. Dahl enumera um
conjunto de instituições políticas que levaria o país a atingir os critérios
democráticos.
São essas instituições, a de funcionários eleitos, em que as decisões do
governo são tomadas por funcionários eleitos pelos cidadãos, e essas
eleições devem estar na validade da instituição de eleições livres, justas e
freqüentes, a de fontes de informação diversificadas, em que o cidadão deve
ter o acesso a informações de quaisquer ideologias políticas, a da liberdade
de expressão, em que o cidadão tem o direito de se expressar sobre a sua
ideologia, sem o risco de retaliações políticas, a da autonomia para as
associações, em que o cidadão tem o direito de formar associações
relativamente independentes, como partidos políticos, e a instituição da
cidadania inclusiva que assegura a aplicação das instituições a todos
cidadãos residentes permanentes no país.
Mas essas instituições e esses critérios não são necessários e cabíveis a
qualquer tipo de associação, eles são necessários a associações de entidade
territorial, como o Estado. O Estado é um tipo de associação que se
distingue pelos meios superiores de coerção que dispõem para exigir o
cumprimento dos critérios e das instituições. Sendo assim, pode-se instaurar
uma democracia representativa, a democracia poliárquica, democracia essa
que representa um governo democrático na escala de um estado-nação.
5) Sendo o território nacional uma das fundações do Estado passível de
conflitos, existe a necessidade de haver mecanismos para sua regulação, que
por fim remetem ao seu controle. Foi portanto elaborado um método de
representação política que hoje é conhecido como sistema eleitoral. Discorra
sobre as caractéristicas de tais sistemas nos governos democráticos do
contexto atual.
Hoje, indivíduos inseridos em qualquer camada socioeconômica,
independente da sua práxis e que preencham os requisitos mínimos (idade
mínima, com plena saúde mental, estar regular com as obrigações políticas,
etc.) tem direito a elegibilidade. Em suma, a representação política é delegar
poder a um determinado indivíduo para que ele tome decisões que ditem, de
forma legítima, o rumo da sociedade, pois foram autorizados por aqueles
que os elegeram.
A escolha desses representantes nas democracias contemporâneas é dada
através das eleições, cujos métodos variam de acordo com os sistemas
eleitorais vigentes no país.
É evidente que nenhum sistema atenderá aos anseios de todos os segmentos
sociais, como descreve Robert Dahl (1998) ao afirmar que é preciso haver
negociações. Se escolhemos um sistema, obteremos alguns valores – mas à
custa de outros.
Posto um sistema eleitoral, o processo de eleição consiste em duas
dimensões: uma dimensão espacial, leia-se distritos eleitorais ou
circunscrição, que define um recorte territorial onde o pleito terá validade.
Ex: país, região, estado, cidade, província, etc.; outra é a dimensão social,
que define quem tem direito ao sufrágio e a elegibilidade, ou seja, os sujeitos
com plenos direitos de exercer a cidadania.
Nas democracias representativas em todo o mundo predominam dois
grandes sistemas eleitorais “puros”: o majoritário e o proporcional, algumas
sociedades adotam métodos dos dois sistemas, constituindo o sistema misto.
No sistema majoritário, o candidato que for mais votado numa
circunscrição, geralmente distritos uninominais, garante uma vaga no quadro
de representação política. Os votos recebidos pelos demais candidatos são
anulados e os mesmos não irão compor o governo. O sistema majoritário é
composto por três variantes: o sistema de maioria simples, o de dois turnos e
o voto alternativo.
O sistema eleitoral de representação proporcional é a maneira mais
equilibrada de refletir os anseios dos diversos grupos que compõem a
sociedade das massas. Conforme Nicolau (2004) são duas as preocupações
fundamentais desse sistema: assegurar que a diversidade de opiniões de uma
sociedade esteja refletida no legislativo e garantir uma correspondência entre
os votos recebidos pelos partidos e sua representação. No sistema de
representação proporcional são adotadas duas variantes, que mesmo
pertencendo ao mesmo complexo teórico quando invertidas em seus
contextos podem mudar radicalmente as nuances políticas: o voto único
transferível e o sistema de lista.
Os sistemas mistos são a união do modelo de representação proporcional
com o sistema majoritário em prol de eleições de um mesmo cargo.
6) Em seu livro “Tratado sobre eleição de representantes, parlamentar e
municipal”, o jurista Thomas Hare apresentou uma proposta sistemática
para o funcionamento da representação política, a proposta que se
transformou posteriormente no voto único transferível. Conceitue essa
proposta trazendo os principais objetivos que Thomas Hare queria atingir.
Descreva sobre o impacto dessa proposta na visão de Stuart Mill.
Segundo Thomas Hare, o objetivo principal de um sistema eleitoral, deve
ser, assegurar o direito da representação política, em que seja transmitida as
opiniões individuais dos membros e não apenas de partidos políticos. Em
um Estado de dimensão territorial extensa, ou até em um país com pequenas
dimensões, porém com várias castas dispersas ao longo do espaço físico, é
impossível que opiniões tão diferentes sejam representadas no Parlamento
através da representação apenas da comunidade.
Sendo assim, Thomas Hare desenvolveu em seu livro “Tratado sobre
eleição de representantes, parlamentar e municipal”, uma das primeiras
propostas sistemáticas para o funcionamento no sistema da representação
proporcional, o embrião do voto único transferível. Nessa proposta, Hare
defendia que os eleitores tivessem um leque maior de possibilidade de
escolha, não apenas votar no partido em si, mas votar diretamente no
representante, como uma espécie de representante individual.
O voto transferível se constitui da seguinte forma: cada partido só pode
apresentar candidatos a partir do número de representantes no legislativo,
por exemplo, se o parlamento possui o número de cinco vagas, cada partido
só poderá lançar cinco candidatos para a vaga. Outra importante
característica é que o número excedente de votos recebidos por determinado
candidato não é perdido, ou seja, se um candidato precisa de “X” votos para
se eleger e conseguiu “X + Y” votos, a parcela “Y” é utilizada para eleger
outros representantes do partido
Stuart Mill vai defender essa proposta de Thomas Hare afirmando que a
proposta vai ter impacto direto na representação do legislativo. Mill
acreditava que a pluralidade de representantes individuais no parlamento
poderia elevar a qualidade desse parlamento. Mill também discorria sobre
essa proposta, que se pessoas não tivessem aproximação ideológica com o
primeiro representante de um partido, essas pessoas teriam a possibilidade
de eleger o candidato da sua preferência, cujas ideologias políticas tivessem
alguma simpatia.
7) Compare o pensamento liberal de Stuart Mill ao pensamento conservador
de Edmund Burke a respeito da representação política. Como os autores
defendem a participação do legislador na câmera em relação ao interesse
coletivo e os interesses individuais?
A formação do poder legislativo que represente as ideologias, necessidades e
atos de vontade de povo, é base de alicerce para a os governos populares
representativos, como a democracia poliárquica. Sendo assim, institui-se na
democracia a presença de uma câmara onde os legisladores devem de certa
forma representar o interesse do povo, no caso, o povo que o elegeu.
Pensadores como Stuart Mill e Edmund Burke trouxeram contribuições
divergentes em relação à melhor forma de representação política.
Para Stuart Mill, os indivíduos têm o direito de discordar publicamente se
achar que as representações políticas estão agindo contra os seus interesses,
já que são os indivíduos que os elegem para essa representação. Para ele, no
governo popular, os membros têm o direito de lutar para modificar o
ordenamento, esta liberdade tem ser intrínsecas a todos os membros. No
Parlamento, os deputados são representantes políticos do grupo que o
elegeu, ele representa os ideais de uma parcela de membros. Entretanto,
deve haver um espírito público nos cidadãos para que exista a ordem dentro
da associação. Ele acredita que os interesses dos representantes tenham que
ser identificados como interesses da comunidade que ele representa, utiliza o
princípio da deslocabilidade, diz que os representantes farão o que a
comunidade deseja, por ser a representação do local que o elegeu.
Já Burke vai defender que o parlamento não é um congresso de políticos que
defendem interesses individuais e sim uma assembléia deliberativa da nação.
Sendo assim, o interesse que deve ter representação é o interesse da
totalidade, o bem geral que resulta da razão do todo. O legislador eleito por
um grupo deve ser um membro do Parlamento e não um representante de um
grupo, abstendo-se das decisões individuais em prol da decisão coletiva. O
poder não é dado para o bem daquele que o recebe, mas para o bem de
todos.
A polêmica entre mandato representativo e a independência do representante
é um daqueles questionamentos infindáveis onde o representante deve fazer
o que os eleitores que o elegeram desejam ou deve estar de acordo com a
decisão da totalidade para que haja estabilidade no Estado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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NICOLAU, Jairo, Sistemas Eleitorais, FGV Editora, 2004.
DAHL, Robert. Sobre a democracia. Brasília, Editora da UnB, 2001.
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WEBER, Max, Economia e Sociedade (Fundamentos da sociologia compreensiva), vol. 2, Brasília, Editora da UnB, 2004.
WELFFORT, Francisco (Organizador). Os Clássicos da Política. São Paulo, Editora Ática, 2010.
WELTMAN, Fernando, Curso de Ciência Política, Elsevier Editora, 2011.