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8.as
Jornadas de Hidráulica, Recursos Hídricos e Ambiente [2013], FEUP, ISBN 978-989-95557-9-2
CONTROLO DA EROSÃO DAS MARGENS NO ÂMBITO DE UMA ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO FLUVIAL AO NÍVEL DA BACIA HIDROGRÁFICA
Bank Erosion Control as Part of a Rehabilitation Strategy at the River Basin Level
ANTÓNIO PINTO (1), RODRIGO MAIA (2), PEDRO TEIGA (3), DIANA FERNANDES (4) e ROSÁRIO BOTELHO (5) (1) Aluno de Doutoramento, FEUP,
Rua Dr. Roberto Frias S/N, 4200-465 Porto, [email protected]
(2) Professor Associado, FEUP, Rua Dr. Roberto Frias S/N, 4200-465 Porto, [email protected]
(3) Doutor em Engenharia do Ambiente, FEUP, Rua Dr. Roberto Frias S/N, 4200-465 Porto, [email protected]
(4) Mestre em Arquitetura Paisagista, FCUP, Rua do Campo Alegre S/N, 4169-007 Porto, [email protected]
(5) Engª. Florestal, [email protected]
Resumo
A alteração das condições hidrogeomorfológicas de uma bacia hidrográfica, em especial em relação à ocupação do solo, ao
regime de escoamento e à carga de sedimentos, tem como consequência um desequilíbrio na dinâmica fluvial, traduzida,
nomeadamente, na erosão de margens de rios. A integração desta temática no contexto da definição de uma estratégia de
reabilitação fluvial surge como um processo que pode contribuir para a melhoria integrada dos recursos hídricos, em particular
para o cumprimento da Diretiva-Quadro da Água (DQA, 2000/60/CE).
Pretende-se com esta comunicação realçar a visão holística do controlo de erosão das margens, no contexto de uma estratégia de
reabilitação fluvial ao nível da bacia hidrográfica. A metodologia geral apresentada neste trabalho conduz a um conjunto de
propostas de intervenção, nomeadamente com técnicas de estabilização de margens acompanhadas por esquemas-tipo,
especificações técnicas e operacionais e os recursos materiais e financeiros necessários à sua implementação. Adicionalmente, é
especificado um conjunto de recomendações e orientações sobre o nível de monitorização e manutenção a adotar.
Palavras-chave: Controlo da erosão, estratégia, reabilitação fluvial, bacia hidrográfica, esquemas-tipo.
Abstract
Changing hydrogeomorphologic conditions of a river basin, specifically, land use, flow regime and sediment load, creates an
imbalance in fluvial dynamics, translated, namely, in streambank erosion. The integration of this theme in the context of the
definition of a river rehabilitation strategy arises as a process that may contribute to the improvement of integrated water
resources management, in particular, to the compliance with the Water Framework Directive (WFD, 2000/60/EC).
The aim of this paper is to highlight the holistic view of bank erosion control, in the context of a rehabilitation strategy at the
river basin level. The general methodology presented in this paper leads to a set of interventions proposals, namely, with
streambank stabilization techniques complemented by schemes-type, technical and operational specifications and material and
financial resources required for its implementation. Additionally, a set of recommendations and guidelines is specified on the
level of monitoring and maintenance to follow.
Keywords: Erosion control, strategy, fluvial rehabilitation, river basin, schemes-type.
1. Introdução
Devido à necessidade de cumprir os requisitos da DQA, a
reabilitação de rios e ribeiras surge, atualmente, como um
processo que pode contribuir para a melhoria integrada dos
recursos hídricos nas suas múltiplas funções, criando
oportunidades para um desenvolvimento sustentado.
Na realidade, muitos dos problemas que os cursos de água
apresentam decorrem da multiplicidade de funções que
proporcionam ao nível de usos comuns e das oportunidades
de exploração dos recursos naturais, ao longo da bacia
hidrográfica.
A erosão em margens fluviais contribui, de forma
significativa, para a instabilidade dos sistemas fluviais,
sendo reconhecida em muitos casos, como a maior fonte de
sedimentos (Fox e Wilson, 2010).
O entendimento dos processos de erosão, das suas causas e
extensão espacial são cruciais para a identificação das
medidas de intervenção e para a gestão de problemas de
erosão fluvial.
Pretende-se, com este trabalho, realçar a visão holística do
controlo de erosão das margens e o conjunto de ações
possíveis que promovem a melhoria integrada dos recursos
hídricos ao nível da bacia hidrográfica.
129
A. Pinto, R. Maia, P. Teiga, D. Fernandes e R. Botelho
A abordagem utilizada neste trabalho insere-se numa
estratégia de reabilitação ao nível da bacia hidrográfica,
desenvolvida e enquadrada na região hidrográfica (RH4),
integrando três bacias hidrográficas (Vouga, Mondego e Lis)
(Figura 1).
Figura 1. Localização das bacias hidrográficas que constituem a região hidrográfica n.º 4 (Vouga, Mondego e Lis).
2. Enquadramento Geral
O trabalho a realizar foi dividido em duas partes. A
primeira parte (ponto 2.1.) refere-se à definição de uma
estratégia de reabilitação fluvial para a região hidrográfica
da ARH do Centro; e a segunda parte (ponto 2.2.) diz
respeito à escolha do troço do rio Cértima para análise.
2.1. Região hidrográfica da ARH do Centro (RH4)
O trabalho apresentado nesta comunicação insere-se num
estudo realizado pela Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto (FEUP), intitulado “Estudo
estratégico para intervenções de reabilitação na rede
hidrográfica da ARH do Centro – RH4”.
Os principais objetivos desse estudo são:
Desenvolver estratégias de intervenção para a
conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas
ribeirinhas da região hidrográfica do Centro;
Definir as linhas de orientação e os tipos de medidas e
ações a tomar para o estabelecimento das metas de
reabilitação e conservação das linhas de água na região
hidrográfica do Centro, a médio e a longo prazo;
Desenvolver um Plano de Intervenção que funcione
como um instrumento de apoio à decisão na
priorização das intervenções a efetuar nesta rede
hidrográfica.
No âmbito deste estudo foram visitados 43 (quarenta e três)
troços da rede fluvial espalhados pelas três bacias
hidrográficas - Mondego (22), Vouga (14) e Lis (7).
Decorrente do estudo efetuado pela FEUP, foi selecionado
um troço do rio Cértima (B.H. Vouga) para exemplificação
das ações possíveis para o controlo da erosão das margens,
ao nível da bacia hidrográfica, apresentada nesta
comunicação (Figura 2).
Figura 2. Identificação do Rio Cértima na Bacia Hidrográfica do Vouga.
A escolha deste troço de rio resultou da identificação de
problemas ao nível das erosões das margens por parte do
PGBH-RH4 e pelas visitas efetuadas pela equipa FEUP. Tais
factos levaram à seleção deste troço para exemplificação das
propostas de intervenção, nomeadamente, com técnicas de
estabilização de margens que podem promover a melhoria
integrada dos recursos hídricos (Capítulo 3).
2.2. Rio Cértima
O rio Cértima nasce na vertente oeste da serra do Buçaco, a
sudeste da Mealhada (Ponte Viadores – Casal Comba) a
uma altitude de 380 m e desagua no rio Águeda,
imediatamente a jusante da Pateira de Fermentelos, já muito
próximo da confluência deste curso de água com o rio
Vouga, na sua margem esquerda. O rio Cértima desenvolve-
se, assim, em toda a sua extensão de cerca de 43 km na
Região Centro de Portugal Continental, tendo a sua bacia
hidrográfica uma área de 538 km2.
Segundo a informação do PGBH-RH4 (2012), relativamente
às suas principais características fisiográficas, a bacia do rio
Cértima apresenta uma forma arredondada, sendo limitada
a norte pela bacia do rio Águeda e a sul pela bacia do rio
Mondego. No que se refere ao relevo, nas serras do
Caramulo e do Buçaco estão concentrados os declives mais
acentuados, com valores superiores a 30% para cotas de
terreno superiores a 300 m. A restante área da bacia
hidrográfica, compreendendo o vale do Cértima, tem cotas
inferiores a 70 m com declives que raramente ultrapassam
os 5%, podendo às vezes situar-se entre os 5 e os 10%. A
geologia desta área compreende xistos Ordovicianos na
zona superior leste da bacia e areias e argilas aluviais
modernas na zona oeste, central e inferior. Relativamente ao
uso do solo, a área é maioritariamente ocupada por florestas
indiferenciadas (de folhosas, resinosas e mato), com maior
expressão na zona oriental da bacia hidrográfica, de relevo
mais acentuado.
3. Metodologia Geral
A metodologia geral adotada neste trabalho está dividida
em duas fases:
Fase A – Caracterização Geral;
Fase B – Propostas Gerais de Intervenção.
130
Controlo da Erosão das Margens no Âmbito de uma Estratégia de Reabilitação Fluvial ao Nível da Bacia Hidrográfica
3.1. Fase A – caracterização geral
A caracterização geral é realizada com recurso a duas fontes
de informação: 1) PGBH-RH4; e, 2) Visitas de campo. Na
fase inicial do trabalho a caracterização geral da rede fluvial
consiste na análise das componentes físicas (fisiográficas e
edafoclimáticas), biológicas (fitogeográficas e
fitossociológicas) e antrópicas (dados socioeconómicos, usos
do solo e utilizações associadas às massas de água). Dos
documentos que compõem o PGBH-RH4, é possível
identificar e fazer o levantamento de informação do
relatório base, das fichas de caracterização e evolução do
estado da massa de água, das fichas dos programas de
medidas e do relatório técnico (PGBH-RH4, 2012). Assim,
desde logo, é feito um diagnóstico, com base no
levantamento das principais vulnerabilidades, pressões e
impactos detetados na rede hidrográfica. Relativamente à
caracterização em campo envolve a aplicação de duas
abordagens, designadamente, ao nível do levantamento dos
dados hidrogeomorfológicos e ao nível dos dados relativos
à caracterização da vegetação (identificando as unidades de
habitat) existentes e potenciais. A recolha e caracterização
das variáveis hidrogeomorfológicas seguem o procedimento
adotado na ferramenta de campo – Índice de Reabilitação de
Rios (IRR) (Teiga, 2011). A metodologia deve ser aplicada
para um troço compreendido entre 500m e 3km e ter
definidos no mínimo 3 secções de caracterização. A
observação correspondente a cada secção deve
compreender, no geral, a troços de 10 m (5 m para jusante e
5 m para montante) (Figura 3).
Figura 3. Exemplo do âmbito de aplicação da metodologia de caracterização hidromorfológica no troço do rio Cértima.
Relativamente à identificação da vegetação (Figura 4)
existente no corredor fluvial, o procedimento em campo é
análogo ao realizado para o levantamento das variáveis
hidrogeomorfológicas, sendo realizado um inventário
florístico e identificado o respetivo enquadramento
fitogeográfico, com auxílio de literatura da especialidade,
das quais se destacam: PGRH-RH4 (2012), Nova Flora de
Portugal de Amaral Franco (1971, 1984, 1994, 1998), Flora
Ibérica de Castroviejo (1986-1988), Biogeografia de Portugal
Continental (Costa et al., 1998).
Figura 4. Exemplo do âmbito de aplicação da metodologia de caracterização ecológica.
A avaliação realizada em campo recorre a uma ficha de
caracterização e levantamento de dados qualitativos e
quantitativos, agrupados em sete tipologias: Dados Gerais;
Qualidade da água; Hidrogeomorfologia; Corredor
Ecológico; Alterações Antrópicas; Participação Pública; e
Organização e Planeamento, com a atribuição de índices a
cada grupo temático.
3.2. Fase B – propostas gerais de intervenção
A apresentação das propostas gerais de intervenção tem
como principal objetivo ilustrar, através de esquemas,
diferentes tipos de medidas que promovam a melhoria
integrada dos recursos hídricos ao nível da bacia
hidrográfica.
Após a caracterização geral da rede fluvial (Fase A), são
indicadas as principais medidas e ações de intervenção,
previstas para cada linha de água e apontadas como
necessárias, de acordo com as fontes de informação
utilizadas (PGBH-RH4 e visitas de campo) para atingir as
respetivas metas de conservação e reabilitação fluvial. Com
base numa prévia compatibilização das diversas medidas e
ações são identificadas as propostas de intervenção
necessárias para cada caso prático.
Em cada proposta de intervenção, a especificação das
características da intervenção (como, por exemplo, as
técnicas de proteção das margens e os módulos de plantação
das espécies vegetais a utilizar) variam sempre em função
dos elementos pré-existentes, da tipologia de linha de água
em causa, do tipo de vale em que esta se desenvolve e da
tipologia de uso em cada margem.
Para cada caso prático, devem ser apresentados desenhos
esquemáticos – em corte transversal e planta –
representando o estado atual (sem intervenção) e o estado
após a intervenção, incorporando as diversas ações
materiais de reabilitação fluvial previstas: (i) logo após a sua
realização e (ii) num horizonte de 10 anos, para
representação da respetiva evolução.
Adicionalmente, sempre que necessário, devem ser
indicadas recomendações e orientações sobre o nível de
monitorização e manutenção a seguir, de acordo com o tipo
de intervenção.
4. Aplicação da Metodologia Proposta – Rio Cértima
4.1. Caracterização geral
A extensão em estudo corresponde a um troço com cerca de
2.7 km, com início na Ponte dos Arcos e término na Ponte da
Canha, no concelho de Anadia (Figura 5).
Este troço pode ser considerado como um rio de planície,
uma vez que 90% da sua área de drenagem está situada
abaixo dos 100 m.
De um modo geral, toda a zona estudada encontra-se com
problemas de erosão nas margens, forte presença de
espécies vegetais exóticas e infestantes, deposição de lixos e
entulhos e extensa degradação do habitat natural ripícola
(flora e fauna autóctone).
131
A. Pinto, R. Maia, P. Teiga, D. Fernandes e R. Botelho
Figura 5. Identificação do troço em estudo no rio Cértima (linha a azul); Secção escolhida para demonstração das técnicas de controlo de erosão de margens – Jusante da Ponte de Mogofores (C1).
De acordo com a análise dos documentos que compõem o
PGBH-RH4, nomeadamente, das fichas de caracterização e
evolução do estado da massa de água e das fichas dos
programas de medidas, para o troço em análise, são
indicadas como necessárias ações de monitorização do
estado hidromorfológico e ecológico (medida S11.10) e
estudos de avaliação e mapeamento de cheias para o
cumprimento da Diretiva sobre o risco de inundações
(medida C01.01).
Relativamente à caracterização em campo, para o troço de
rio em estudo foram realizadas duas visitas de campo
(Novembro 2012 e Abril 2013) e analisadas 3 secções de
caracterização: 1) Ponte dos Arcos; 2) Ponte de Mogofores; e,
3) Ponte da Canha. Com estas visitas foi possível avaliar o
estado do curso de água antes e depois da época de inverno
(de maior precipitação).
Após cada visita de campo, foi aplicada a metodologia de
caracterização através do estabelecimento do Índice de
Reabilitação de Rios (IRR), sendo que as classificações
piores couberam às componentes de avaliação da
hidrogeomorfologia e da vegetação.
Este troço de rio apresenta uma homogeneidade notável no
que diz respeito ao tipo de material que compõe as
margens, da vegetação que as reveste, da altura dos taludes
das margens e do tipo de material do leito.
Os terrenos envolventes são maioritariamente agrícolas
(particulares), exceto junto à Ponte de Arcos (1) onde existe
um agregado residencial, na margem direita. A largura do
curso de água varia entre os 12 m e os 19 m e apresenta um
declive muito suave.
Quanto à geometria e material das margens são
praticamente constantes ao longo de toda a zona percorrida:
as margens apresentam uma altura entre 2.5 e 3 m e ângulos
próximos dos 90°.
O material das margens encontra-se disposto em camadas,
apresentando estratos de material granular muito fino e
camadas de material granular misturado com seixos de
dimensão média, entre os 4 e 8 cm.
O material da camada superficial é maioritariamente fino,
argilas e siltes contendo uma grande percentagem de
matéria orgânica. Devido à presença desta camada
superficial existem, ao longo do todo o troço de rio,
pequenas clareiras revestidas essencialmente por plantas
herbáceas, enquanto que nas zonas mais elevadas do talude
se formam aglomerados de canas e/ou silvados.
Neste troço nota-se uma forte perturbação da galeria
ribeirinha, com núcleos contínuos de cana (Arundo donax) e
de silvados (Rubus sp.).
A galeria arbórea é dominada por salgueirais (Salix alba
subsp. alba, Salix alba subsp. vimialis e Salix atrocinerea),
verificando-se a presença descontínua de freixo (Fraxinus
angustifolia subsp. angustifolia), na zona mais afastada da
linha de água.
Os mecanismos de rotura das margens dominantes são a
rotura plana e rotacional, sendo o principal mecanismo
causador de instabilidade a remoção do material da base da
margem.
As suas causas devem-se, essencialmente, à fraca ou
ausência de estrutura radicular na margem, à presença de
detritos de árvores no leito que provocam o desvio do
escoamento em direção às margens e, em alguns casos, ao
aumento da carga sobre a margem, em resultado do tipo de
utilização.
4.2. Propostas gerais de intervenção
A elaboração de propostas de gerais de intervenção para os
principais problemas identificados e referenciados no
subcapítulo anterior (4.1) pretendem ilustrar a aplicação de
um conjunto de medidas, materiais e imateriais definidas
para o cumprimento dos principais objetivos para o troço de
rio analisado e promoção da melhoria integrada dos
recursos hídricos (Quadro 1).
As soluções tipo para cada medida foram ilustradas através
de fichas de síntese que contemplam informação variada.
Cada ficha de síntese proposta possuiu um ou mais
esquemas de intervenção, informação relativa às
especificações técnicas de desenvolvimento da medida,
especificações biofísicas, modos de operacionalização,
cuidados a ter, materiais necessários e uma estimativa
global da aplicação da medida.
Para cada tipo de intervenção foi associado um conjunto de
informação, com a indicação das principais funções
desempenhadas no sistema ribeirinho, assim como, a
problemática fluvial que está habilitada a corrigir e o campo
de atuação, tendo em conta as características especificas do
troço de rio analisado.
A proposta de intervenção teve sempre como objetivo
assegurar uma boa integração paisagística e a promoção da
diversidade do habitat.
132
Controlo da Erosão das Margens no Âmbito de uma Estratégia de Reabilitação Fluvial ao Nível da Bacia Hidrográfica
Quadro 1. Quadro resumo das intervenções propostas: troço do Rio Cértima.
Intervenções Propostas
MEDIDAS MATERIAIS
M1. Modelação, consolidação, recuperação de margens e remoção de barreiras no leito e margens
M1.1 Modelação de margens (inclinação do talude);
M1.2 Consolidação e recuperação de margens:
M1.2.2 Enrocamento vivo
M1.2.3 Muro vivo (cribwall)
M2. Conservação, corte e limpeza de vegetação
M2.1 Vegetação arbórea (Perfil e Planta)
M2.2 Vegetação arbustiva (Perfil e Planta)
M2.2.1 Vegetação arbustiva exótica: Canas
M2.2.2 Vegetação arbustiva exótica: Silvados
M3. Limpeza (remoção) de resíduos
M3.2 Meios mecânicos
M4. Plantação e sementeira de espécies autóctones
M4.1 Estacas
M4.5 Plantas em torrão
M4.6 Plantas em raiz nua
M6. Melhoria da heterogeneidade de habitats
M6.4 Espaços de alimentação (peixes, anfíbios, aves e mamíferos);
MEDIDAS IMATERIAIS
Mi1. Melhorar a fiscalização e acompanhamento de intervenções:
Mi1.1 Fichas-tipo de fiscalização (Títulos de utilização por autorização/comunicação);
Mi2. Monitorização, manutenção e ações de valorização/conservação
Mi2.1 Fichas-tipo de monitorização:
Mi2.1.1 Flora
Mi2.1.3 Hidromorfologia
Mi2.1.4 Técnicas de estabilização de margens
Mi2.2 Fichas-tipo de manutenção:
Mi2.2.1 Flora
Mi2.2.2 Técnicas de estabilização de margens
Mi4. Promoção da participação pública
Mi4.1 Plano de participação pública
Mi5. Realização de estudos e planos
Mi5.1 Ficha-tipo de caracterização de potenciais estudos
5. Resultados
Neste capítulo apresenta-se, como exemplo, para a secção
transversal (Ponte de Mogofores - C1) do troço de rio
analisado, uma proposta de intervenção com a apresentação
das fichas de síntese (M1.2.3 – Muro vivo (cribwall); Mi2.1.4
– Monitorização de técnicas de estabilização de margens; e,
Mi2.2.2 – Manutenção de técnicas de estabilização de
margens) e desenhos esquemáticos – em corte transversal e
planta. Esta secção transversal apresentava problemas de
erosão na margem esquerda, potenciadas pelo tipo de
utilização da margem - existência de uma estrutura de
restauração e um parque de lazer. Para o controlo da erosão
na margem esquerda foi proposta a intervenção com a
instalação da técnica de estabilização – Muro vivo
(cribwall).
Na Figura 6 ilustra-se um exemplo da ficha de síntese
(M1.2.3), que inclui: especificações técnicas e operacionais e
os recursos materiais e financeiros necessários para a
implementação em campo.
Os trabalhos de monitorização e manutenção de
estabilização de margens fluviais são essenciais para
garantir o bom desempenho das estruturas de proteção, ao
longo da vida útil das mesmas.
A utilização de técnicas em que a vegetação tem uma forte
componente e por se enquadrarem nos processos e sistemas
naturais, implicam uma cuidada manutenção, quer para
garantir a plena instalação da vegetação projetada, quer a
sua eficácia técnica dentro dos objetivos definidos. Nesse
sentido, apresenta-se, também como exemplo, duas fichas
síntese com as principais recomendações a seguir ao nível
da monitorização e manutenção de técnicas de estabilização
de margens (Figuras 7 e 8). O conjunto e integração das
intervenções propostas são ilustrados em esquemas
(Figuras 9 a 12).
As figuras 9 e 10 correspondem à intervenção inicial,
exemplificando em corte transversal, os esquemas
correspondentes às medidas e ações materiais propostas e o
respetivo módulo de plantação da vegetação proposto,
respetivamente.
As figuras 11 e 12 dizem respeito a uma prospetiva de longo
prazo (10 anos) para representação da respetiva evolução
das medidas de intervenção propostas, em corte transversal
e em planta da secção transversal de Ponte de Mogofores
(C1). Esses esquemas permitem ilustrar, antecipadamente, a
prevalência da vegetação autóctone e o controlo dos
problemas de erosão no troço, contribuindo assim para o
cumprimento dos objetivos da DQA.
133
A. Pinto, R. Maia, P. Teiga, D. Fernandes e R. Botelho
Figura 6. Exemplo de uma ficha de síntese: M1.2.3 - muro vivo (cribwal).
FOTOGRAFIA
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Descrição:
Construção em madeira constituída por uma
estrutura em forma de caixa, formada por
troncos de madeira dispostos
perpendicularmente. O seu revestimento
interior deverá ser feito na base com pedra
até atingir o nível médio das águas, e a
restante área de enchimento poderá ser
bastante diversificada, consoante as
necessidades do local a requalificar, mas
essencialmente poderá ser constituído por
terreno local, espécies arbustivas autóctones
em torrão ou raiz nua, estacas vivas ou
faxinas.
Materiais:
Troncos de madeira; Terreno local;
Geotêxtil;
Pregos ou varão de ferro roscado; e Arame;
Estacas vivas de espécies arbustivas
autóctones salgueiros (Salix atrocinerea e
Salix salviifolia subsp. salviifolia) e de
sabugueiro (Sambucus nigra). Espécies de
torrão ou raiz nua sanguinho-de-água
(Frangula alnus) e pilriteiro (Crataegus
monogyna). Deve ser sempre feita a
adequação à região fitogeográfica.
Equipamentos:
Caterpillar. Camião. Motosserra; Martelo
Período de execução:
Todo o ano (estrutura de madeira); Período
de repouso vegetativo de Outubro – Março
(estacaria viva e plantações) e sempre em
períodos de fraca ou reduzida precipitação.
Ribeira da Granja - Porto
ESQUEMAS
ESTIMATIVA CUSTO DE INTERVENÇÃO (€/m2): 90€ - 125€
OBSERVAÇÕES
- Utilizar estacas vivas, devidamente preservadas, provenientes de troço a montante, jusante ou do próprio local de intervenção; - A distribuição de estacas vivas na estrutura deve ser assimétrica, evitando disposições lineares e regulares, de forma imitar modelos naturais.
134
Controlo da Erosão das Margens no Âmbito de uma Estratégia de Reabilitação Fluvial ao Nível da Bacia Hidrográfica
Figura 7. Exemplo de uma ficha de síntese: Mi1.2.3 monitorização de técnicas de estabilização de margens.
Figura 8. Exemplo de uma ficha de síntese: Mi2.2.2 manutenção de técnicas de estabilização de margens.
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS Descrição: A monitorização consiste na recolha periódica e organizada de informação, seguida de uma análise sistemática desta informação recolhida. Os seus objetivos são:
Fornecer informação sobre os progressos que estão a ser realizados face aos objetivos
programados;
Contribuir com informação regular para melhorar o processo de planeamento e a eficácia das
intervenções;
Aumentar os níveis de responsabilização prestando contas sobre a utilização dos recursos;
Capacitar para a identificação dos pontos fortes e dos sucessos e alertar para os pontos fracos,
atuais e potenciais, bem como para os problemas existentes, de forma a poder fazer os
ajustamentos pontuais e as correções necessárias.
O programa de monitorização de técnicas de estabilização de margens deve: - Analisar o comportamento dos diferentes materiais que constituem uma técnica, por forma a compreender as modificações ocorridas ao longo do tempo; Por intermedio, da monitorização deverá ser possível compreender a adaptação das técnicas de engenharia natural aos requisitos do local de intervenção; A monitorização de técnicas de estabilização de margens está diretamente relacionada com os programas de monitorização referidos nas fichas Mi2.1.1 e Mi2.1.3, pelo que se deverá fazer uma análise holística por forma a obter uma leitura e análise contextualizada de potenciais modificações.
ESTIMATIVA CUSTO DE INTERVENÇÃO (€/dia): 150€ - 200€
OBSERVAÇÕES
- A monitorização deve ser realizada com recurso à metodologia de caracterização em campo do Índice de Reabilitação de Rios (IRR), da Diretiva-Quadro da Água (DQA) e Projeto Rios. - O preço resultante da realização desta medida contempla: Monitorização e despesas de deslocação.
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS Descrição: A manutenção consiste na definição de um conjunto de medidas que visam garantir o bom funcionamento de uma determinada aplicação. Baseia-se na informação resultante da monitorização e do acompanhamento contínuo do trabalho realizado. Os trabalhos manutenção de estabilização de margens fluviais são essenciais para garantir o bom desempenho das estruturas de proteção, ao longo da vida útil das mesmas. As técnicas de engenharia natural, por constituírem obras de enquadramento dos processos e sistemas naturais implicam uma cuidada manutenção, quer para garantir a plena instalação da vegetação projetada, como para garantir a sua eficácia técnica dentro dos objetivos definidos. A manutenção deverá consistir:
Manutenção de plantas e sistemas vivos, reparação e substituição de sistemas inertes complementares;
Manutenção de estabelecimento e garantia das espécies vegetais definidas;
Manutenção de desenvolvimento das formações e comunidades-alvo da vegetação;
Manutenção de acompanhamento com a gestão da vegetação, por forma a garantir as suas funções de estabilização e proteção.
A manutenção deverá ser sempre orientada de acordo com o objetivo construtivo e condicionada pelo preenchimento das funções definidas (geotécnicas; hidráulicas; ecológicas, etc.).
ESTIMATIVA CUSTO DE INTERVENÇÃO (€/ano/500m): 5000€ - 7500€
OBSERVAÇÕES
- O preço resultante da realização desta medida contempla: Manutenção e despesas de deslocação.
135
A. Pinto, R. Maia, P. Teiga, D. Fernandes e R. Botelho
Figura 9. Corte transversal da secção escolhida (Ponte Mogofores) do troço do rio Cértima – intervenção.
Figura 10. Módulo de plantação para a margem esquerda secção escolhida (Ponte Mogofores) do troço do rio Cértima.
Figura 11. Corte transversal da secção escolhida (Pte. Mogofores) do troço do rio Cértima – solução prospetiva num horizonte a 10 anos.
136
Controlo da Erosão das Margens no Âmbito de uma Estratégia de Reabilitação Fluvial ao Nível da Bacia Hidrográfica
Figura 12.Visão geral em planta da secção escolhida (Ponte Mogofores) do troço do rio Cértima – solução prospetiva num horizonte a 10 anos.
6. Conclusões
O principal objetivo deste estudo consistia em realçar a
visão holística do controlo de erosão das margens, na
definição estratégica ao nível da bacia hidrográfica, com a
aplicação de medidas de intervenção a uma secção de um
troço do rio Cértima. Conclui-se que a utilização de
esquemas de intervenção, com um conjunto de
especificações técnicas, permitem, desde logo, identificar as
principais condicionantes da sua implementação em
resposta às características identificadas na fase da
caracterização.
Esta metodologia constitui um contributo muito útil na
resposta ao problema da erosão das margens e na aplicação
de práticas de gestão inovadoras e sustentáveis.
Nesse sentido, pode dizer-se que é possível e desejável a
integração deste tipo de análise numa estratégia ao nível da
bacia hidrográfica, como forma de promover a melhoria
integrada dos recursos hídricos.
Referências
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