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Rádio e Internet: novas perspectivas para um velho meio * Paula Cordeiro Universidade do Algarve “En un mundo como el nuestro, donde casi nada ya por inventar, las principales sorpresas no las deparan los nuevos usos que reciben viejos inventos” 1 . A rádio é um meio de comunicação extra- ordinariamente rico, com uma narrativa sin- gular e para muitos, fascinante. Tradicional- mente conhecida como um meio imediato e irrepetível, a rádio, com o advento da Inter- net, pode redefinir-se. A introdução de sistemas multimédia vem alterar a natureza da rádio, podendo transformá-la de tal forma que nos obrigue a reequacionar o conceito, questionando a validade da definição do que é a rádio e a sua comunicação. Sendo a rádio o meio que ao longo da história da comunicação mais facilmente se adaptou aos novos cenários tecnológicos, absorvendo-os para renovar a tecnologia de comunicação radiofónica, como será que o desafio do digital está a ser enfrentado por este meio? O estilo hipermediático agora utilizado recorre a quase todos os recursos da co- * Resumo do trabalho desenvolvido para apresen- tação no II Congresso Ibérico de Comunicação na Co- vilhã, em Abril de 2004 1 BASSETS, Lluís, De las Ondas Rojas a Las Ra- dios Libres, Barcelona, Gustavo Pili, 1981, p. 257 municação em rede, fazendo distinguir os meios de comunicação modernos entre ou- tros aspectos, pela interactividade, hiperli- gações, personalização e actualização con- stante. A Internet tem vindo a integrar o sistema de comunicação da rádio, apresentando-se, no momento, como um suporte complemen- tar para as emissões em FM. Para a rádio, a Internet pode ser encarada tanto como con- corrência quanto como desafio, no sentido da variedade que o mundo online oferece (tendo como elemento central a world wide web), e pelo desafio da adaptação ao novo meio, na pesquisa, produção e difusão de conteúdos. Ao pensarmos a relação da rá- dio com a Internet, devemos considerar os aspectos que a caracterizam e que influ- enciam a forma como a rádio potencia a estrutura da sua comunicação. Uma vez que a Internet está a transfor- mar a rádio, devemos então, desenvolver ele- mentos de análise deste impacto, conside- rando as tecnologias e estruturas que alteram a comunicação deste meio. Considerando as possibilidades multimédia e multimediáticas deste sistema, quais serão então, os desen- volvimentos possíveis para a Internet em si

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Rádio e Internet: novas perspectivas para um velhomeio∗

Paula CordeiroUniversidade do Algarve

“En un mundo como el nuestro, donde casinada ya por inventar, las principales

sorpresas no las deparan los nuevos usosque reciben viejos inventos”1.

A rádio é um meio de comunicação extra-ordinariamente rico, com uma narrativa sin-gular e para muitos, fascinante. Tradicional-mente conhecida como um meio imediato eirrepetível, a rádio, com o advento da Inter-net, pode redefinir-se.

A introdução de sistemas multimédiavem alterar a natureza da rádio, podendotransformá-la de tal forma que nos obriguea reequacionar o conceito, questionando avalidade da definição do que é a rádio e asua comunicação. Sendo a rádio o meio queao longo da história da comunicação maisfacilmente se adaptou aos novos cenáriostecnológicos, absorvendo-os para renovara tecnologia de comunicação radiofónica,como será que o desafio do digital está a serenfrentado por este meio?

O estilo hipermediático agora utilizadorecorre a quase todos os recursos da co-

∗Resumo do trabalho desenvolvido para apresen-tação no II Congresso Ibérico de Comunicação na Co-vilhã, em Abril de 2004

1 BASSETS, Lluís,De las Ondas Rojas a Las Ra-dios Libres, Barcelona, Gustavo Pili, 1981, p. 257

municação em rede, fazendo distinguir osmeios de comunicação modernos entre ou-tros aspectos, pela interactividade, hiperli-gações, personalização e actualização con-stante.

A Internet tem vindo a integrar o sistemade comunicação da rádio, apresentando-se,no momento, como um suporte complemen-tar para as emissões em FM. Para a rádio, aInternet pode ser encarada tanto como con-corrência quanto como desafio, no sentidoda variedade que o mundoonline oferece(tendo como elemento central aworld wideweb), e pelo desafio da adaptação ao novomeio, na pesquisa, produção e difusão deconteúdos. Ao pensarmos a relação da rá-dio com a Internet, devemos considerar osaspectos que a caracterizam e que influ-enciam a forma como a rádio potencia aestrutura da sua comunicação.

Uma vez que a Internet está a transfor-mar a rádio, devemos então, desenvolver ele-mentos de análise deste impacto, conside-rando as tecnologias e estruturas que alterama comunicação deste meio. Considerando aspossibilidades multimédia e multimediáticasdeste sistema, quais serão então, os desen-volvimentos possíveis para a Internet em si

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e a rádio em particular, quando presente nomundo virtual?

Ao longo desta sumária análise, procura-mos compreender a nova estrutura de comu-nicação radiofónica, através dos elementosque tradicionalmente compõem a sua lingua-gem e as alterações proporcionadas pela in-tegração de vários modelos expressivos naextensão deste meio para a Internet.

Em termos gerais, encontramos um qua-dro analítico no qual prevalece um modelode emissão em Frequência Modelada e ou-tro, ainda em evolução, eminentemente con-vergente. Este modelo, multimediático, re-sulta da tendência integradora de meios e doobjectivo das empresas de estarem presentesem todos os mercados da comunicação. Arádio passa a oferecer serviços que unem aosom, elementos escritos e visuais e junta-se aoutrosmediapara estar presente e responderàs solicitações do consumidor multimédia.

A programação apresenta-se de caráctergeneralista, mas deixa lugar para a emergên-cia de um novo um modelo de cariz temáticoque especializa cada emissora em conteúdosmonotemáticos e que se reflecte para já, naespecialização musical de algumas estaçõesde rádio.

O conceito de rádio na Internet está aindapor definir, mas uma rádio com texto e ví-deo, foge ao modelo tradicional, actuali-zando um formato com cerca de oitenta anosde existência e fornecendo ao utilizador, queé também o ouvinte, um amplo conjuntode potencialidades, que até aqui seriam im-pensáveis.

Avançar propostas para classificar as for-mas que a rádio apresenta na Internet, podefazer-se recorrendo aos termos que estão as-sociados a esta nova realidade tecnológica,

usando-os para estabelecer eixos de orien-tação nesta análise.

As emissoras que têm uma presença mí-nima na rede poderão enquadrar-se num mo-delo testemunhal, relativo awebsitesque nosindiquem apenas as informações essenciaissobre a estação, sem transmissão em directodas emissões;

Outro, multimediático, corresponde aosoperadores que exploram a Internet parale-lamente à emissão regular, assumindo a suapresença na rede como mais um canal de di-fusão que transforma a rádio num modelo decomunicação multimédia;

Há também, um esquema telemático, quese apresenta exclusivamenteon-line, comserviços próprios, vulgarmente designadowebradio.

Na rádio, a Internet começou por ser uti-lizada essencialmente como ferramenta detrabalho. A partir da sua produção para asondas hertzianas, muitas estações começa-ram a disponibilizar os seus conteúdos naInternet emwebsitespróprios sem aumenta-rem nada ao formato inicial. Posteriormente,as estações começaram a produzir conteúdosespecíficos para a Internet, e surgiram pro-jectos a operar exclusivamente neste novomeio de comunicação, sendo este o estágioque se desenvolve na actualidade.

Decorrendo em paralelo, mas num nú-mero menor dewebsites, o mais recenteesquema operacional disponibiliza os seusconteúdos exclusivamente na Internet, sememissão por ondas hertzianas e pode utili-zar todas as potencialidades que a Internetoferece, na construção um produto comple-tamente diferente, para o qual subscrevemosa designação utilizada dewebradio.

O modelomultimediático caracteriza-seessencialmente por uma utilização da Inter-

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net enquanto suporte adicional para a rádio,uma extensão que serve de “montra” paraa estação, no qual são apresentados os seusprincipais aspectos.

Na actualidade, o formato FM faz a ponteentre a comunicação áudio e owebsitedaestação rádio, apelando à visita, pela suge-stão de conteúdos e pela solicitação de men-sagens via correio electrónico.

Para esta abordagem, a consulta e análisedoswebsitesde estações e cadeias de rádionacionais levou-nos a concluir que owebsitede uma estação de rádio deverá traduzir-se narepresentação de uma estrutura paralela quenão deve ser confundida com o seu formatotradicional.

Na Internet, a rádio afasta-se do seu con-ceito original e, nowebsite,pode apresen-tar serviços distintos da emissão radiofónica,estabelecendo uma nova estrutura, mais ricae variada que concorre directamente com oformato tradicional da rádio.

A classificação dos tipos de rádio podefazer-se de acordo com perfil editorial daestação: rádios generalistas nacionais (RádioRenascença, Rádio Clube Português, RFM,Antena 1) e locais; temáticas - sendo quea designação mais correcta será, especia-lizadas -: nacionais (a antiga Comercial2,Mega FM, Best Rock FM), locais (Mix,) ecadeias (TSF); rádios com existência exclu-siva na rede (webradios).

Todas elas devem reflectir nowebsiteaquilo que se passa em antena, construindo-

2 Na actualidade, a Rádio Comercial não étemática e a rádio que aparentemente a vem “sub-stituir” no campo temático (Best Rock FM) emiteapenas em Lisboa e no Porto. Contudo, tanto a MegaFM, como a Best Rock FM, por emitirem fora de Lis-boa, são consideradas para as medidas de audiênciaao nível nacional.

o de acordo com o seu perfil editorial. Cadaestação que coloca a sua páginaon-line de-veria pensar nas vantagens multimédia eapropriar-se das combinações possíveis entresom e imagem, oferecendo a possibilidadede escutar material áudio em arquivo. Umarádio generalista nacional deverá ter a infor-mação que faz a actualidade, sem esqueceras referências à sua programação3 .

O websitede uma rádio deverá sempreestimular a visita e o regresso do utilizador,apresentando conteúdos com interesse e re-levância para o seu público.

Partindo do princípio que as pessoasvisitam o website para ficar a conheceralguns aspectos relativos à própria estaçãoemissora, a generalidade das rádios emanálise aposta na apresentação da suaprogramação, informação sobre locutorese jornalistas, bem como dados relativos àplaylist, passatempos e algumas notícias. Amaior parte das estações centra as suas preo-cupações nestas questões, tornando estaspáginas numa espécie de montra da estação,onde se podem ficar a conhecer os principaisaspectos da rádio, sem aprofundar nenhumdeles, ou dar informações complementares,relativas à rádio, à música e à informação.

3 À semelhança da TSF, que tem uma “espécie” deportal de informação, a Rádio Renascença tem umapágina que se apresenta quase como um portal infor-mativo, sem esquecer a programação. Cada estaçãodo grupo tem um domínio próprio onde estão conteú-dos diferenciados. Contudo, para owebsiteda Rá-dio Renascença se possa assumir como um portal,deverá fazer referência aos diferentes projectos, de-senvolvendo conteúdos que poderiam ser actualizadospelas equipas das respectivas estações.

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O modelo telemático -webradio4

Na Internet, a rádio reúne música, infor-mação e publicidade, em paralelo com ou-tros componentes como animações, imagensestáticas ou em movimento. Os novos supor-tes permitem a introdução de componentes(gráficos, tabelas, fotografias, textos escri-tos, imagens de vídeo) que vêm complemen-tar a informação disponibilizada pelo meio.Este aspecto vai obrigar a uma adaptação aesta nova forma de comunicar, com recur-sos que vão permitir produzir uma mensa-gem tão completa quanto possível.

O caminho a traçar para awebradioé maiscomplicado, porque são projectos que vivemexclusivamente na Internet e podem redefiniro próprio conceito de rádio, pelas possibili-dades que o visitante não conseguirá encon-trar no formato tradicional e pela difusão dasemissões à escala mundial.

À partida, umawebradio transforma-senum meio essencialmente visual.

Depende da qualidade gráfica do seusite,para atrair os visitantes. Os novos sistemasde difusão para a rádio, desenvolvem no-vas formas e expectativas. São rádios queresultam da integração do multimédia numsuporte também novo, o único que permitea convergência de meios. O esquema defuncionamento da rádio é alterado, apresen-tando os seus conteúdos de forma diferentepreparados de acordo com o percurso que o

4 A UBI tinha um projecto exclusivamenteon-line – RUBIWEB – em http://www.rubi.ubi.pt/, quenasceu de uma parceria da Universidade da Beira In-terior e a Universidade Pontifícia de Salamanca; o In-stituto Superior Técnico tem uma rádio com emissãoon-line – RIIST – e transmissão para a cantina docampus e o Instituto Piaget tem uma webradio, a 351.

site tem para oferecer, através de hipertextoe hiperligações.

As características da maior parte destasrádios obrigam-nos a pensar em novas de-signações para o conceito, pois em muitoscasos é difícil precisar até que ponto nãopassarão estes projectos de uma mera ofertade conteúdos para a rede, ainda sem defi-nição concreta.

O novo modelo começa a desenhar-se,mas está ainda em desenvolvimento, nãosendo possível, por enquanto, saber a medidaexacta dessa nova “rádio”.

Quando esta revolução digital estiver con-cluída, será possível para a rádio voltar aconcentrar a sua atenção nos conteúdos e ser-viços que a vão acabar por definir, diferen-ciando as estações e procurando atender àsnecessidades individuais e sociais.

Aquilo que durante tanto tempo marcoua especificidade da rádio face aos restantesmeios de comunicação social, deverá conti-nuar a ser a principal aposta dawebradio.As webradiospodem fundar uma nova mo-dalidade, colocando os ouvintes/utilizadorescomo produtores da comunicação. Tirandopartido da interactividade que a Internet ofe-rece, estes são estimulados a produzirem eemitirem os seus programas, transformandoa concepção tradicional da rádio.

O modelo multimediático na rede

A integração de práticas precedentes temsido comum na evolução dos meios de co-municação. A rádio socorreu-se do cinema eda imprensa para compor uma nova estruturacomunicativa, da mesma maneira que numaprimeira fase, a Internet integrou os meiosexistentes. A rádio instalou-se na rede, de-senhou a sua identidade emsitesna web e

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passou a participar da comunicação no cibe-respaço, contribuindo para a evolução da In-ternet enquanto meio.

Face à convergência dos meios de comuni-cação social num só suporte, a rádio pode re-presentar um dos diversos canais deste novomeio de comunicação, que se evidencia peloestímulo à participação dos seus utilizadorese deita por terra a passividade da audiência.Mesmo no seu suporte em FM, as estaçõesde rádio têm implementado sistemas de co-municação que favorecem a interactividadeentre produtores e receptores, numa estraté-gia de acompanhamento das novas modali-dades comunicativas que a Internet veio esta-belecer.

O estilo multimediático agora utilizado re-corre a quase todos os recursos da rede,como a interactividade, as hiperligações,som e imagem, personalização e actuali-zação constante, aspectos que não encontra-mos no formato tradicional da rádio.

Na impossibiolidade de uma descriçãoexaustiva dos melhores exemplos parailustrar o modelo multimediático, a es-colha recaiu sobre umwebsite que, nãosendo uma estação de rádio, congregaos principais aspectos desta fértil relação:www.cotonete.iol.pt

O “Cotonete” é um portal de música queparte de uma estrutura idêntica à de uma rá-dio para promover e divulgar artistas e pro-dutos da indústria fonográfica.

É um projecto do grupo de comunicaçãoMedia Capital, que, um pouco à semelhançado projecto usina do som5, 25.09.02)., incen-

5 De acordo com os dados na apresentação dosite,o Usina do Som é um dos maiores fenómenos da In-ternet no Brasil, apresentando, em média, 215 mil-hões depage views/mês, 120 milunique visitorspordia, mais de 1,3 milhão de utilizadores registados e

tiva o utilizador à construção da sua própriarádio, definindo-a em todos os seus aspectos.

No “Cotonete”, é o utilizador que decide oque pretende ouvir, a partir de uma selecçãoque se organiza em secções diferentes. Nestewebsiteestão reunidas variadas informaçõesdo universo musical, como notícias, repor-tagens e entrevistas. O utilizador pode ace-der a uma base biográfica dos principais ar-tistas, discografias e letras das canções. Owebsitedisponibiliza também a escuta de ex-certos das músicas.

Encontramos também estações pré-programadas que abrangem todos osgéneros musicais. Para além das estaçõescriadas e com emissão exclusiva para aNet (Baladas, Cotonete, Dança, Pop Rock,Teen, Alternativa, Clássica, Cotton Club,Fado e Portuguesa) as rádios do grupoMe-diaCapital estão também disponíveis paraescuta (Comercial, Nostalgia, Cidade, Mixe Nacional). Entre esta variedade de oferta,encontramos ainda os canais, um sistemadiferente das rádios. Não há, contudo, apossibilidade de escutarmos outras rádiospara além destas.

O projecto convida à personalização emtodos os aspectos dowebsite, de forma a ga-rantir o melhor serviço ao utilizador, dando-lhe a hipótese de criar as suas rádios, ter assuas notícias, ver o seu perfil e guardar assuas músicas. A partir de “O meu Cotonete”o utilizador pode definir as notícias e as mú-sicas que deseja consultar, criando um per-fil e uma rádio, se assim o desejar. Esta éuma das principais propostas deste projecto,dando aos ouvintes a possibilidade de escol-

mais de 2 milhões de rádios pessoais criadas. Compouco mais de um ano de existência, ositefirmou-secomo o primeiro e maior na categoria de música noBrasil. (http://www.usinadosom.com.br

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herem as músicas que mais gostam, a par-tir de uma gigantesca base de dados musical,que está em constante actualização.

Entre os serviços proporcionados pelo“Cotonete”, destacamos a secção “com-prar”. Tirando partido das plataformas derede e da convergência multimédia, o “Coto-nete” comercializa bilhetes para espectácu-los e discos de música.

Conclusão

As sinergias que as novas tecnologias permi-tem, acabam por transformar não só a formacomo se processa a comunicação, mas aprópria essência dos meios de comunicação.Promove-se uma nova discursividade, pelacombinação de elementos de linguagens di-ferentes, menos singular, mas contudo, maisrica, por via da utilização multimédia na con-strução da sua mensagem.

A extensão da rádio para a Internet, acar-reta algumas transformações nas principaiscaracterísticas deste meio que assim se apro-xima da especificidade da comunicação naInternet, mantendo em relação à rádio tradi-cional, a difusão sonora.

O modelo multimediático, aqui analisado,comprova a fase de transição que a rádio, en-quanto meio, atravessa.

Os modelos coexistem e não há ainda umaafirmação do multimédia sobre o FM, paraalém de que as estações criadas para emissãoexclusiva na Internet estão ainda a procurara sua identidade, não sendo, para já, umaameaça ao sistema que prevalece.

Neste novo modelo, o sistema expressivoda rádio decompõe-se e multiplica-se, adi-cionando mais elementos ao som, num ca-minho que poderá vir a desvirtuar a suaimportância e transformará owebsite de

uma rádio num espaço multimédia onde aemissão radiofónica é apenas mais uma daspropostas que a rádio tem para oferecer.

No modelo multimediático, a imediatez darádio mantém-se, mas a mensagem pode terdados adicionais que o suporte áudio nãocomporta e que estão disponíveis nas dife-rentes unidades que compõem owebsitedaestação.

Os conteúdos das rádios na Internetenquadram-se numa estrutura tecnológicaque lhe permite diversas ligações, numa ex-tensão de um mundo de informação ilimi-tada, documentada e de fácil acesso a ba-ses de dados especializadas. A ligação aoarquivo é uma nova esfera da comunicação,possibilitada peloon-linee que vem desvir-tuar a instantaneidade da comunicação ra-diofónica.

Os recursos hipermédia representam apossibilidade de interagir com o público ea estação, num processo de intercâmbio querecorre aos fóruns de discussão, salas de con-versação, correio electrónico, votações e co-mentário de notícias, para tornar o ouvintenum elemento que passa a poder fazer parteda construção das emissões, aproximando-sedo conceito de produtor da comunicação.

A expansão dos sistemas de difusão, com-porta a fragmentação das audiências que sedividem em função do aumento do númerode estações emissoras e da diversificaçãodos seus conteúdos. A escuta de programasem diferido e a selecção entre os vários ca-nais que a rádio na Internet pode disponibi-lizar resulta num consumo diferenciado, deacordo com os interesses e necessidades decada indivíduo.

A tecnologia veio permitir a ampliação dadifusão e uma maior capacidade de armazen-amento, favorecendo a utilização em função

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daquilo que os ouvintes/utilizadores deter-minem. Esta estrutura favorece a criação denovas formas de organização dos conteúdose a personalização, pela definição da infor-mação que cada utilizador recebe por correioelectrónico, ou da estrutura da página de ent-rada dowebsite.

No geral, as estações de rádio apresen-tam websitescriados em função das expec-tativas dos utilizadores, mas não têm aindauma componente de informação e serviçosque autonomize owebsiteem relação ao FM.A escuta em directo, agenda de espectáculose acontecimentos, notícias, informação bio-gráfica sobre os artistas, informação sobre otema que está a tocar no momento e os te-mas daplaylist, descrição com fotografia daequipa que faz a rádio em FM, são os aspec-tos mais comuns nas rádios nacionais enun-ciadas para esta análise.

A possibilidade de interacção entre a au-diência e os profissionais da rádio é poten-ciada na Internet, pelo recurso que algu-mas estações fazem aos fóruns de discussãoe salas de conversação. Para além destesaspectos, a rádio na Internet pode afastar-se do seu conceito original e apresentar for-mas de transferência de músicas ou fichei-ros, ou estabelecer esquemas de comerciali-zação de produtos e serviços ou de algunsconteúdos dosite, estabelecendo uma novaestrutura que concorre directamente com oformato tradicional da rádio.

A rádio na Internet desenvolve modalida-des interactivas e constrói um sistema dialó-gico que altera tanto o modelo comunicativoda rádio como o comportamento das audiên-cias. Cabe ao ouvinte a decisão de navegaçãopelo websiteda estação, assim como a se-lecção da emissão ou da consulta dos menusdisponíveis, programando aquilo que deseja

escutar, transformando o conceito de ouvintenum mais alargado que se poderá entenderpor utilizador.

A rádio afasta-se do seu conceito originale assume uma configuração multimédia quesó a Internet pode oferecer. A convergên-cia das tecnologias instaura novos formatospara velhos conteúdos, e obriga ao progres-sivo desenvolvimento do sistema de comuni-cações. Num futuro próximo, a rádio na In-ternet poderá ser banalizada a partir do mo-mento em que o sistema digital se genera-lizar. A inovação mais recente, o sistemadigital de radiodifusão (DAB – Digital Au-dio Broadcasting), abre perspectivas até aquinunca pensadas para a rádio, pela flexibili-dade de um sistema inovador, cujos limitesainda não são conhecidos.

Referências Bibliográficas

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