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CRIMINOLOGIA CULTURAL E MíDIA: UM ESTUDO DA INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA QUESTAO CRIMINAL EM TEMPOS DE CRISE CULTURAL CRlMINOLOGY AND THE MEDIA: A STUDY DN THE INFLUENCE OF THE DIFFERENT TYPES DF MEDIA IN CRIMINAL MATTERS IN TIMES DF CRISIS CARLO VELHO MASI Mestre em Ciências Criminais pela PUC-RS. Especialista em Direito Penal e Política Criminal: Sistema Constitucional e Direitos Humanos pela UFRGS.Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC-RS. Membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM}, Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal (lBRAPP) e Instituto Brasileiro de Direito Penal Econômico (IBDPE).Advogado criminal em Porto Alegre/RS. RENAN DA SILVA MOREIRA Mestrando em Ciências Criminais pela PUC-RS. Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pelotas. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Criminologia (GEPCRIM) da PUC-RS. Advogado criminal em Porto Alegre/RS. ; ÁREA DO DIREITO: Penal; Comunicação; Consumidor RESUMO: O presente estudo pretende provocar uma _ reflexão quanto à influência dos meios de comuni- , caçãona questão criminal, fazendo uma abordagem maisespecífica da mídia através da nova ótica da Cri- minologia Cultural. A mídia, como grande formadora de opiniões, contribui inegavelmente para a consti- tuição do próprio caráter do indivíduo, delimitando suavisão do mundo e transmitindo-lhe a noção de certo e errado, lícito e ilícito. Logo, as inferências que isso acarreta para o fenômeno criminal, estudado pelaCriminologia, são evidentes. A Criminologia Cul- tural celebra as noções pós-modernas de diferença, descontinuidade e diversidade, rompendo com os es- tereótipos restritivos e negativos. Assim, o que antes eramconsiderados grupos de interesse não conven- cionaise simples perturbações públicas têm sido ob- jetos de estudo revisados em meio a um revigorado entusiasmo pela pesquisa etnográfica e pelo fascínio do poder da imagem sob um novo enfoque. Busca- -se,então, entender até que ponto a mídia poderia auxiliar e contribuir para mitigar a criminal idade, até ABSTRACT: The intention of this paper is to reflect on the influence of the media in criminal matters, with .a more focused approach on the media through the new perspective of cultural criminology. The media, as a major opinion-maker, offers an undeniable contribution for the creation of a person's character, setting the boundaries of that person's vision of the world and conveying a sense of right and wrong, legal and illegal. Therefore, the inferences that ali this has on the criminal phenomenon, which is studied by criminology, are evident. Cultural criminology celebrates the postmodern notions of difference, diversity and discontinuity, breaking with the restrictive and negative stereotypes. Therefore, what was once· considered unconventional interest groups and ordinary public disturbance has become the object of revision studies with a fresh enthusiasm for ethnographic research and a fascination for the power of the image under a new approach. The objective here is to understand how far the media can go in terms of helping to

Criminologia cultural e mídia: um estudo da influência dos meios de comunicação na questão criminal em tempos de crise

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O presente estudo pretende provocar uma reflexão quanto à influência dos meios de comunicação na questão criminal, fazendo uma abordagem mais específica da mídia através da nova ótica da Criminologia Cultural. A mídia, como grande formadora de opiniões, contribui inegavelmente para a constituição do próprio caráter do indivíduo, delimitando sua visão do mundo e transmitindo-lhe a noção de certo e errado, lícito e ilícito. Logo, as inferências que isso acarreta para o fenômeno criminal, estudado pela Criminologia, são evidentes. A Criminologia Cultural celebra as noções pós-modernas de diferença, descontinuidade e diversidade, rompendo com os estereótipos restritivos e negativos. Assim, o que antes eram considerados grupos de interesse não convencionais e simples perturbações públicas têm sido objetos de estudo revisados em meio a um revigorado entusiasmo pela pesquisa etnográfica e pelo fascínio do poder da imagem sob um novo enfoque. Busca-se, então, entender até que ponto a mídia poderia auxiliar e contribuir para mitigar a criminalidade, até porque, mesmo que não tenha o condão de incitar o cometimento de delitos, indiretamente, de acordo com a cultura em que o sujeito está inserido, suas mensagens subliminares podem contribuir para a concretização de determinados crimes.

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  • CRIMINOLOGIA CULTURAL E MDIA:

    UM ESTUDO DA INFLUNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAONA QUESTAO CRIMINAL EM TEMPOS DE CRISE

    CULTURAL CRlMINOLOGY AND THE MEDIA: A STUDY DN THE INFLUENCE

    OF THE DIFFERENT TYPESDF MEDIA IN CRIMINAL MATTERS IN TIMES DF CRISIS

    CARLO VELHO MASIMestre em Cincias Criminais pela PUC-RS. Especialista em Direito Penal e Poltica Criminal: Sistema

    Constitucional e Direitos Humanos pela UFRGS.Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais pela PUC-RS. Membrodo Instituto Brasileiro de Cincias Criminais (IBCCRIM}, Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal (lBRAPP)

    e Instituto Brasileiro de Direito Penal Econmico (IBDPE).Advogado criminal em Porto Alegre/RS.

    RENAN DA SILVA MOREIRAMestrando em Cincias Criminais pela PUC-RS. Bacharel em Direito pela Universidade Catlica de Pelotas.Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Criminologia (GEPCRIM) da PUC-RS. Advogado criminal em

    Porto Alegre/RS.

    ; REA DO DIREITO: Penal; Comunicao; Consumidor

    RESUMO: O presente estudo pretende provocar uma_ reflexo quanto influncia dos meios de comuni-, caona questo criminal, fazendo uma abordagem

    maisespecfica da mdia atravs da nova tica da Cri-minologia Cultural. A mdia, como grande formadorade opinies, contribui inegavelmente para a consti-tuio do prprio carter do indivduo, delimitandosuaviso do mundo e transmitindo-lhe a noo decerto e errado, lcito e ilcito. Logo, as inferncias queisso acarreta para o fenmeno criminal, estudadopelaCriminologia, so evidentes. A Criminologia Cul-tural celebra as noes ps-modernas de diferena,descontinuidade e diversidade, rompendo com os es-teretipos restritivos e negativos. Assim, o que anteseramconsiderados grupos de interesse no conven-cionaise simples perturbaes pblicas tm sido ob-jetos de estudo revisados em meio a um revigoradoentusiasmo pela pesquisa etnogrfica e pelo fascniodo poder da imagem sob um novo enfoque. Busca--se,ento, entender at que ponto a mdia poderiaauxiliar e contribuir para mitigar a criminal idade, at

    ABSTRACT: The intention of this paper is to reflect onthe influence of the media in criminal matters, with.a more focused approach on the media through thenew perspective of cultural criminology. The media,as a major opinion-maker, offers an undeniablecontribution for the creation of a person's character,setting the boundaries of that person's vision of theworld and conveying a sense of right and wrong,legal and illegal. Therefore, the inferences thatali this has on the criminal phenomenon, whichis studied by criminology, are evident. Culturalcriminology celebrates the postmodern notions ofdifference, diversity and discontinuity, breaking withthe restrictive and negative stereotypes. Therefore,what was once considered unconventionalinterest groups and ordinary public disturbancehas become the object of revision studies with afresh enthusiasm for ethnographic research anda fascination for the power of the image under anew approach. The objective here is to understandhow far the media can go in terms of helping to

  • reduce criminality, because, even though it doesnot have the power to encourage crimes, indirectlydepending on the culture in which the person is par;ot. the rnedia's underlying messages can contributeto the commitment of certain crimes.

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    porque, mesmo que no tenha o condo de incitaro cometimento de delitos, indiretamente, de acordocom a cultura em que o sujeito est inserido, suasmensagens subliminares podem contribuir para aconcretizao de determinados crimes.

    PALAVRAS-CHAVE: "Mdia" - "Criminologia Crtica"- "Ps-modernidade" - "Criminologia Cultural" -"Controle Social" - "Sociedade de Massa".

    KEYWORDS: The media - Critic criminology - Post-modernity - Cultural criminology - Social contrai- mass society.

    SUMRIO: 1. Introduo; 2. As relaes entre a mdia e o crime como objetos de estudo da cri-minologia; 3. O comportamento desviante na sociedade de massa; 4. Os mltiplos significadosda mdia e seus efeitos sobre o comportamento humano; 5. A mdia como potencializador dainfluncia do contexto social sobre o crime; 6. A criminologia crtica e a mdia; 7. A viso plura-lista da mdia; 8. A mdia, o realismo e a ps-modernidade; 9. A criminologia cultural e a mdia;10. Consideraes finais.

    1. INTRODUOA liberdade de informar e de ser informado constitui um dos pilares das socieda-

    des democrticas. Por essa razo, a instituio da mdia legitimou-se historicamen-te como a principal difusora de informaes sobre o mundo e o local onde habitamseus leitores e ouvintes. Por isso, Luhmann afirma que "aquilo que sabemos sobrenossa sociedade, ou mesmo sobre o mundo no qual viverrios, o sabemos pelosmeios de comunicao".'

    Na contemporaneidade, a mdia goza de enorme credibilidade e confiana aosolhos da populao a qual deve servir, de modo que possvel afirmar que a socie-dade se tornou dependente dela para se atualizar e ter cincia dos acontecimentosdo mundo.

    "A complexidade das sociedades contemporneas imps a massificao dos me-canismos comunicacionais. Uma massificao de meios (jornais, rdio, televiso,internet etc.), mas tambm de mensagens, de emissores e de destinatrios dessasmensagens"."

    Um dos principais fatores que colaboraram com esse movimento foi o fen-meno sociopoltico da globalizao, como interseo da presena e da ausncia,caracterizado pelo entrelaamento de eventos e relaes sociais que esto distn-cia de contextos locais, como resultante dos avanos tecnolgicos, principalmentedos meios de comunicao, em especial da tecnologia eletrnica e, sobretudo, da

    1. LUHMANN, Niklas. A realidade dos meios de comunicao. So Paulo: Paulus, 2005. p. 15.2. GOMES, Marcus Alan de Melo. Mdia, poder e delinquncia. Boletim IBCCRIM. So Paulo:

    IBCCrim, ano 20, n. 238, p. 4-5, set. 2012.

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    rndia.3 Ao passo que a sociedade global trouxe avanos, trouxe, tambm, riscos e- inseguranas, reforando, assim, a ideia do contraste entre determinao e indeter-

    rninao, estabilidade e mstabilidade."

    O problema surge precisamente quando se constata que a expanso da mdiacauSOUum grande embate entre a velocidade do mundo em que vivemos," impul-sionada pelo fetiche do imediatismo, e o conhecimento cientfico, erudito, tcnicoe refletido, que demanda um tempo de maturao menos acelerado. Este conflitotorna cada vez mais atrativos os meios de comunicao em massa como principalfonte de "conhecimento"."

    A mdia aproveita-se do paradoxo e da complexidade dos tempos atuais, temposde liminaridade e de crise,' para oferecer uma resposta "correta", simplificada, in-

    " discutvel e, acima de tudo, pronta.

    3. GIDDENS,Anthony. A constituio da sociedade. Traduo lvaro Cabral. 2 ed. So Paulo:Martins Fontes, 2003.

    4. ROBALDO,Jos Carlos de Oliveira; VIElRA,Vanderson Roberto. A sociedade de risco e a dog-mtica penal. Disponvel em: [www.ibccrim.org.br]. So Paulo: IBCCrim, 2002.

    5. Segundo VIRILIO,Paul. A inrcia polar. Lisboa: Publicaes Dom Quixote, 1993. p. 128.Apud GAUER,Ruth Maria Chitt. O reino da estupidez e o reino da razo. Rio de Janeiro:LumenJuris, 2006. p. 220., "a velocidade constitui a alavanca do mundo". E, neste rumo,o mundo est chegando a um ponto de instantaneidade nos nossos deslocamentos. Pas-samos do tempo extensivo da histria ao tempo intensivo de uma instantaneidade semhistria, sendo a velocidade uma alucinao de perspectiva que destri toda a extensoda cronologia. Dentro dessa perspectiva, a verdade dos fenmenos sempre limitada pelasua velocidade. O "ser" torna-se incerto quanto sua posio no espao e indeterminadoquanto ao seu verdadeiro regime de tempo. Uma temporalidade, portanto, "que no anda esim se expande" e que, portanto, perturba fortemente a possibilidade de afirmao de umaverdade fixa sobre as premissas que construram as narrativas unificadoras.

    6. AZEVEDOESOUZA,Bernardo de; SOTO,Rafael Eduardo de Andrade. Criminologia cultural,marketing e mdia. Boletim IBCCRIM. So Paulo: IBCCRIM, ano 20, n. 234, p. 14-15,maio 2012.

    7. O tempo em que vivemos denota um conjunto incomum de transformaes, estudadaspela Sociologia sob a forma de diferentes conceitos, como "sociedade do risco", "socie-dade do consumo", "sociedade da informao" ou, simplesmente, "ps-moderndade" ou"modernidade tardia", todos eles muito distantes de bem representar as inmeras nuancesda sociedade contempornea. As profundas mudanas estruturais e a emergncia de novasrelaes sociais alteraram, de forma importante, toda configurao das relaes humanas.Essas mudanas tm provocado movimentos em todas as reas de conhecimento, sobretu-do no Direito. Para D'AvILA,Fabio Roberto. Liberdade e segurana em direito penal: o pro-blema da expanso da interveno penal. Revista Sntese de Direito Penal e ProcessLwl Penal,n. 71, p. 44-53, Porto Alegre, dez.-jan. 2012, esp. p. 45, estamos a viver um forte perodode "liminaridade", no sentido que lhe dado pela Antropologia, ou seja, um perodo depassagem, no qual sabe-se que h um esgotamento do paradigma passado, mas ainda nose pode perceber com clareza o modelo que se anuncia.

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    Mas a "verdade" que, na complexidade do universo tal como hoje compreen_dido, nos encontramos na seara das possibilidades, e no mais das certezas Crefe-renciais). O universo uma realizao num espao das coisas possveis, no qual seempreendem tentativas. Temos frente, ento, um universo evolutivo, assimtricono tempo."

    Desde o advento das teorias de Einstein, sabe-se do dficit de previsibilida_de dos caminhos da cincia. Elas rompem com a cosmoviso moderna, quandopem em dvida o carter absoluto do tempo e do espao. O tempo no mundo ,ao tornar-se incerto, torna-se, por consequncia, diferente do tempo das cinciasmodernas. Logo, a produo de conhecimento, privado da verdade universal, so-mente pode ser apoiada mediante uma postura de conhecimento provisrio. Reinaa incerteza, onde se trabalha com interpretaes e narrativas, mas no com verda-des absolutas." E, obviamente, essa viso vai de encontro aos ideais consumistaspropagados pela mdia.

    Uma concepo que leve em conta este "movimento catico:"? e a noo deque a cincia um domnio de muitas certezas de fato, e no do domnio dacerteza absoluta no plano terico, no interessa aos meios de comunicao, namedida em que representa a quebra de determinados paradigmas que sustentamo comrcio miditico.

    A implicao desta seletividade que a mdia, como formadora de opinio, aca-ba em parte constituindo o prprio carter do indivduo, delimitando sua viso domundo e transmitindo-lhe a noo de certo e errado, lcito e ilcito. As infernciasque isso acarreta para o fenmeno criminal, estudado pela Criminologia, so, por-tanto, evidentes.

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    2. As RELAES ENTRE A MDIA E O CRIME COMO OBJETOS DE ESTUDO DACRIMINOLOGIAll

    As conexes entre a mdia e o crime no so um objeto de estudo novo. H maisde um sculo, criminlogos e tericos da mdia tentam estabelecer as ligaes entre

    8. PRIGOGINE,Ilya. O reencantamento do mundo. ln: MORIN,Edgar; o (org.). A socieda-de em busca de valores. Lisboa: Piaget, 1996. p. 229-237.

    9. GAUER,Ruth Maria Chitt. O reino da estupidez e o reino da razo. Rio de Janeiro: LumenJur~, 2006. p. 171-177.

    10. MORIN,Edgar. Complexidade e Liberdade. ln: ; PRIGOGINE,Ilya. (org.). A sociedadeem busca de valores. Lisboa: Piaget, 1996. p. 239-254.

    11. A incurso histrica no que se refere aos estudos da rmdia que aqui fazemos baseia-seno captulo inaugural "Teorizando a Mdia e o Crime", da obra Media & Crime (p, 7-38),da professora do departamento de criminologia da Universidade de Leicester, Inglaterra,

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    ambos e, em embora quase nunca trabalhando juntos, chegam a algumas conclu-ses semelhantes.

    Mas o que torna uma pessoa um criminoso? Porque somos to fascinados pelocrime e pelo desvio? Se a mdia tem tanto sucesso em chamar a ateno do pblico,ela tambm teria a capacidade de aumentar o medo que as pessoas tm do crime?O interesse da mdia no crime pode ser prejudicial? Estes so alguns dos questio-namentos que se buscam aprofundar nos estudos que a Criminologia opera sobreamdia.

    Antes de mais nada, crucial observar que a interseco entre a criminologia eos estudos da mdia reside no desenvolvimento dessas disciplinas como reas deinteresse que se valem de diferentes teorias, sobretudo oriundas da sociologia e dapsicologia, mas tambm das artes e das cincias sociais. Alm disso, no se podedesconsiderar que toda pesquisa acadmica marcada por foras externas e even-tos sociais, polticos, econmicos e culturais.

    A origem interdisciplinar e as razes comuns nas cincias sociais foram determi-nantes para a atrao do interesse de muitos pesquisadores a partir da dcada de 60do sculo XX, como Steve Chibnall, Stanley Cohen, Richard Ericson, Stuart Hall,Jock Young, dentre outros tantos.

    Um dos debates mais persistentes no meio acadmico determinar que tipode mdia pode conduzir a um comportamento antissocial, desviante ou crimino-so, ou seja, at que ponto as imagens da mdia causam um efetivo negativo nosexpectadores.

    Normalmente, acredita-se que a sociedade tornou-se mais violenta com o ad-vento da moderna indstria miditica. O surgimento da televiso, das produescinematogrficas e da computao teria intensificado a ansiedade do pblico. Noentanto, muito poucos crimes so genuinamente fenmenos novos, apesar do es-foro da mdia de apresent-Ios dessa forma."

    Para muitos observadores, tornou-se senso comum afirmar que, desde o ad-vento da mdia de massa (mass media), a sociedade cada vez mais caracteriza-sepelo crime, especialmente pelo crime violento. Contudo, certas pesquisas, como ade Pearsons (1983), demonstram que a histria dos medos sociais remonta vriossculos atrs.

    YVONNEjEWKES.Na introduo de seu estudo.jrwxss faz um apanhado dos ltimos 50 anosdos estudos acadmicos envolvendo o tema. Portanto, para um maior aprofundamento damatria, remetemos o leitor ao trabalho original em lngua inglesa: jEwKES,Yvonne. Media& Crime. Londres: SAGE, 201l.

    12. Basta pensarmos que crimes de trnsito, trfico de drogas, assaltos a bancos, sequestras,etc., so crimes que desde a modernidade sempre existiram em maior ou menor frequn-cias nas mais diversas sociedades.

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    3. O COMPORTAMENTO DESVIANTE NA SOCIEDADE DE MASSAAs duas principais teorias que tentam explicar o surgimento da noo de que

    as imagens da mdia so responsveis pela eroso dos padres morais, pela sub-verso dos cdigos consensuais de comportamento e pela corrupo da mentedos jovens so a teoria da sociedade de massa (mass society theory), derivada dasociologia, e o behavorsmo, proveniente da psicologia. So duas vises pessimis-tas da sociedade, que acreditam que a natureza humana instvel e suscetvel ainfluncias externas.

    A teoria da sociedade de massa emerge no final do sculo XIX e incio do XX, emum ambiente de turbulncia e incerteza, mas s se consolida como teoria sociol-gica aps a Segunda Guerra Mundial. O termo "sociedade de massa" carrega em siuma conotao pejorativa, eis que se refere s "massas" como pessoas comuns, des-pidas de individualidade, com alienao dos valores ticos e morais, apatia polticae gosto pela cultura popular (low culture).13

    A industrializao e a urbanizao fizeram com que as pessoas se sentissemcada vez mais vulnerveis. Acreditava-se que a fragmentao dos laos sociais edas comunidades fizera com que os indivduos se isolassem e se desvinculassemde sua coeso moral. Isso teria favorecido o aparecimento do crime e do compor-tamento antissocial.

    As descobertas da cincia e da tecnologia ao longo do sculo XX levaram muitoscientistas a acreditar que, no futuro, o homem teria cada vez mais controle sobreos acontecimentos naturais e sobre os meios de produo, o que, no entanto, nose consumou. No s o homem no conseguiu controlar as catstrofes da natureza,como criou uma srie de novos riscos, atravs das novas tecnologias e das formasde organizao da produo (sociedade ps-industrial) que, tanto quanto os' fen-menos naturais, acabaram fugindo do controle."

    O aumento dos riscos gerou o aparecimento de medos sociais, cuja genera-lizao provoca, na viso de Bauman, uma sensao de insegurana e perda dereferencial.!"

    13. Segundo CARMO, Paulo Srgio do. Sociologia e sociedade ps-industrial: uma introduo.So Paulo: Paulus, 2007, p. 119, vivemos tempos de comunicao de massa, em que amassa constituda por "uma multido de pessoas sem identidade reconhecvel, incapazes de seexpressar como indivduos". Comunicao de massa representa, ento, o processo peloqual a mdia produz e difunde informao homognea para: um universo amplo de desti-natrios, num fluxo nico em que a mensagem tem um valor simblico atribudo pelo seuemissor.

    14. GlDDENS, Anthony. As consequncias da moderndade. Trad. Raul Fiker. So Paulo: Unesp,1991. p. 33.

    15. BAUMAN, Zigmunt. Medo lquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p. 8.

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    A sociedade moderna torna-se uma "sociedade de risco", medida que cria umasituao de aprendizagem para viver o perigo como normalidade, frente a uma se-gurana em constante progresso."

    A burocratizao e a complexidade da sociedade fizeram com que as pessoasabandonassem as autoridades, vistas como indiferentes e incompetentes,procuran-

    " do proteo particular."

    . Para essa corrente terica, a mdia vista como uma ajuda ao bem-estar daspessoas que passam por dificuldades, mas tambm como uma poderosa fora decontrole dos pensamentos, que as desvia da ao poltica.

    Na dcada de 1910, o psiclogo norte-americano]. B.Watson, influenciado pelopensamento positivista ento preponderante, cria uma abordagem emprica basea-da na psicologia: o behavorsmo.

    Argumentava-se que a identidade do indivduo seria formada pelas respostasao ambiente em que estava inserido e que essas respostas poderiam ser observadaspublicamente. Inspirado nos experimentos conduzidos pelo mdico russo Ivan Pa-vlov sobre o papel do condicionamento na psicologia do comportamento ,18Watsonconcluiu que as complexas estruturas e sistemas que compem o comportamentohumano poderiam ser observados e medidos, prevendo comportamentos futuros.

    No campo da criminologia, essas ideias conduziram crena de que a criminali-dade no seria uma questo de livre arbtrio, mas uma consequncia de disposiesbiolgicas, psicolgicas e sociais, das quais o infrator teria pouco ou nenhum con-trole. Assim, atravs do conhecimento de como o comportamento determinado

    16. BEcK,Ulrich. Polticas ecolgicas en Ia Edad deI Riesgo. Barcelona: EI Roure Ed., 1998.17. Note-se que, neste contexto de insegurana, muito pases, como o Brasil, liberaram o aces-

    so de seus cidados a armas de fogo para autoproteo.18. "Na dcada de 1920, ao estudar a produo de saliva em ces expostos a diversos tipos

    de estmulos palatares, Pavlov percebeu que com o tempo a salivao passava a ocorrerdiante de situaes e estmulos que anteriormente no causavam tal comportamento(como, por exemplo, o som dos passos de seu assistente ou a apresentao da tigela dealimento). Curioso, realizou experimentos em situaes controladas de laboratrio e,com base nessas observaes, teorizou e enunciou o mecanismo do condicionamentoclssico. A idia bsica do condicionamento clssico consiste em que algumas respostascomportamentais so reflexos incondicionados, ou seja, so inatas em vez de aprendi-das, enquanto que outras so reflexos condicionados, aprendidos atravs do emparelha-mento com situaes agradveis ou aversivas simultneas ou imediatamente posteriores.Atravs da repetio consistente desses emparelhamentos possvel criar ou removerrespostas fisiolgicas e psicolgicas em seres humanos e animais. Essa descoberta abriucaminho para o desenvolvimento da psicologia comportamental e mostrou ter amplaaplicao prtica, inclusive no tratamento de fobias e nos anncios publicitrios." (PA-VLOV, Ivan. Wihipedia. Disponvel em: [http://pt.wikipedia.org/wikillvan_Pavlovl. Aces-so em: 11.12.2012.)

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    e sob quais condies, acreditava-se que os problemas de crime e desvio poderiamser examinados e tratados at mesmo pela medicina."

    A partir destas fontes, desenvolveu-se uma tcnica denominada de "pesquisados efeitos" (effects research), que buscava averiguar at que ponto a mdia influen_ciaria o comportamento desviante.

    Um experimento conduzido pelo psiclogo canadense Albert Bandura, vincu-lado Universidade de StanfordJCalifrnialEUA, na dcada de 1950, exps umgrupo de crianas a desenhos com cenas de violncia e depois observou seu com-portamento enquanto brincavam com bonecos, comparando com outro grupo queno assistira s cenas de violncia. O resultado foi a constatao de que a exposioa cenas de violncia estimulava a agressividade juvenil.

    Na mesma linha, outros estudos demonstraram que a mdia seria responsvelpor injetar valores, ideias e informaes no destinatrio, produzindo efeitos diretose desempenhando uma influncia negativa em pensamentos e aes.

    Tais pesquisas demonstraram, de urna maneira geral, que a as ansiedades cau-sadas pela ao da mdia possuem trs formas: (a) a mdia instiga comportamentoslascivos, indecentes e corrompe as normas de moral e decncia; (b) a mdia preju-dica a influncia civilizatria da cultura erudita (high culture) e deprecia os gostos;e (c) a mdia representa a elite dominante e manipula a conscincia das massas deacordo com seus interesses."

    4. Os MLTIPLOS SIGNIFICADOS DA MDIA E SEUS EFEITOS SOBRE OCOMPORTAMENTO HUMANO

    Embora- o substancial avano provocado pelo desenvolvimento da pesquisa so-bre os efeitos no tema, alguns pesquisadores, especialmente do Reino Unido, temresistido em afirmar que existe, de fato, uma ligao direta entre as imagens damdia e o comportamento desviante. Isso porque h muitos fatores que podem in-fluenciar no comportamento de urna pessoa, de modo que atribui-lo isoladamente influncia da mdia passou a ser considerado um discurso demasiadamente redu-cionista, at porque os significados da mdia variam conforme o observador.

    A linguagem da mdia uma linguagem naturalmente polissrnica, que d azoa mltiplas interpretaes. A prpria origem latina do vocbulo deriva de media,

    19. As ideias de Csare Lombroso no campo da antropologia criminal sobre as caractersticasbiolgicas do criminoso (Luomo Delinquente, 1876) so evidentes at os dias de hoje, par-ticularmente em discursos miditicos populares sobre mulheres e crianas que cometemcrimes violentos.

    20. Esta ltima constatao inegvel quando se observa a propaganda poltica, especialmen-te em tempos de guerra, quando mais se precisa do apoio popular.

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    " que significa meio, ou seja, um dentre tantos meios de transmitir uma determinadarealidade ou mensagem."

    Alm disso, atribuir-se um comportamento exclusivamente influncia midi-tca desconsidera que o influxo pode se dar justamente no sentido inverso, isto ,os interesses e preocupaes da audincia que podem determinar o que os pro-dutores da mdia iro gerar.

    Apesar das crticas, a viso behaviorista persiste, especialmente na mdia po-pular, que frequentemente invoca seus argumentos para pressionar governos eautoridades. Ainda hoje, predomina o pensamento de que o contedo da mdiapode levar imitao de atos de violncia.P Alguns tericos da sociedade de massapassaram a afirmar que as instituies como a famlia e a religio esto perdendo opoder de formar a conscincia dos jovens e que a socializao tem ocorrido por viasexternas, especialmente pela mdia.

    Alerta-se que algumas polticas implementadas nesse sentido, como, por exem-plo, a classificao etria de programas e filmes e os softwares para controle dospais sobre o contedo que os filhos acessam na internet, esto sendo sustentadasem presunes autoritrias, positivistas e limitadas do comportamento humano.O mais grave que os debates envolvendo censura e controle da mdia tendem arenovar-se apenas quando ocorre algum crime de repercusso.

    O apelo ao senso comum a base da teoria do crime por imitao Ccopycat theoryof crime). Ocorre que as verdades inquestionveis por trs do senso comum so,em realidade, culturalmente derivadas de mitologias especficas de culturas indivi-duais circunscritas a determinadas pocas, como demonstram estudos conduzidospor Banhes, Foucault e Geertz.

    Aps profundas pesquisas, como os da psicloga britnica Elizabeth Newson,no se chegou a nenhum resultado conclusivo que evidenciasse que a mdia real-mente tivesse efeitos nocivos sobre o comportamento humano. Nada obstante, acrena popular permanece inabalvel.

    5. A MDIA COMO POTENCIALlZADOR DA INFLUNCIA DO CONTEXTO SOCIAL SOBREO CRIME

    Nas dcadas de 1920 e 1930, as abordagens positivistas para explicar o crimetomaram um rumo mais sociolgico. Surge a chamada Escola de Chicago, com oobjetivo de entender o papel do contexto social e das relaes sociais no compor-

    21. ANDRADE, Fbio Martins de. Mdia e Poder Judicirio: a influncia dos rgos da mdia noprocesso penal brasileiro. Rio de]aneiro: Lumen]uris, 2007.

    22. Citem-se, exemplificativamente, crimes praticados em escolas e universidades por jovensinfluenciados por filmes e jogos violentos.

  • lamento criminoso e desviante. Seus integrantes acreditavam que o ambiente ernque a pessoa crescia estaria diretamente associado a sua possibilidade de futuro'envolvimento em crimes e de ter um comportamento antissocial.

    Pela Teoria da Tenso, idealizada pelo socilogo norte-americano da Universi> .dade de Columbia Robert K. Merton (1938), o declnio da ordem social d lugar alienao e desordem. Embora em um ambiente de anomia, a sociedade como unttodo permanece intacta. A coeso social mantida para a persecuo de objetivoscomuns. Atravs da socializao, as pessoas passam a aceitar as metas e os meios de,"atingi-Ias ("American Dream"). O objetivo maior se focar em uma meta particu-'lar, e no no meio mais adequado de atingi-Ia. Isso faz com que alguns indivduos(denominados de innovators) perseguiam um meio no usual ou ilegal de atingir osucesso e a riqueza. Um dos fatores que interfere na internalizao das metas cultu-rais a rndia, que incute nas pessoas desejos que no podem ser satisfeitos, seno,por meios criminosos.

    Contudo, a partir dos anos 1960 do sculo XX, os acadmicos comearam a re-,chaar o positivismo e o behaviorismo, acreditando que essas correntes atribuammuito poder mdia e subestimavam a importncia do contexto social de consumomiditico, das estruturas que intermedeiam os relacionamentos entre o indivduo eo Estado e a sofisticao e complexidade da audincia.

    Na dcada de 1970, houve um renascimento da teoria da anomia, devido ao in-teresse na nova Criminologia Cultural e no crescimento das comunicaes eletr-nicas, uma vez que no mundo da realidade virtual, a anomia tanto uma condio,quanto um prazer.

    446 REVISTA BRASILEIRA DE CiNCIAS CRIMiNAIS 2014 o RBCCRIM 108

    6. A CRIMINOLOGiA CRTICA E A MOIA

    f

    A partir da metade do sculo XX, o foco da discusso deixou de ser indivduo epassou a ser a sociedade. Essa mudana levou ao predomnio de modelos marxistaspara interpretao do poder da Mdia.

    As teorias sociais de MARX e GRAMSCI conduziram ao desenvolvimento doenfoque da ideologia dominante (dominant ideology approach) , cujo interesse dos cri-minlogos e estudiosos da mdia perdurou da dcada de 60 at a dcada de 80.

    O marxismo entende que a mdia, como qualquer outra instituio capitalista,pertence a uma elite burguesa e opera nos interesses desta classe, negando o acessoa vises opostas ou alternativas.

    Gramsci incorporou s teorias de Marx o conceito de hegemonia (processo peloqual as classes dominantes ganham aprovao consensual pelos seus atos, sem terque recorrer coero). A hegemonia atingida por instituies sociais e culturais,como a lei, a famlia, o sistema educacional e a mdia. Essas instituies reprodu-zem diariamente representaes de uma maneira que parea natural ou inevitvel

  • ~~~~r~ -----------------------------------------------------------------~

    CRIME E SOCIEDADE 447

    a prevalncia dos interesses dominantes. Cria-se, assim, uma falsa conscincia napopulao, que passa a adotar passivamente as ideias da elite dominante.

    Essas teorias foram redescobertas nas dcadas de 1970 e 1980 e utilizadas poruma nova tendncia criminolgica radical, que visava expor o significado das desi-gualdades estruturais sobre o crime e sobre a criminalizao: a criminologia crtica.

    Para essa posio extremista, o poder de rotular as pessoas como desviantes oucriminosas, process-Ias e puni-Ias uma funo eminentemente estatal. Determi-nados fatos so definidos como crime, porque do interesse da classe dominante

    s- assim defin-Ios, ao mesmo tempo em que de seu interesse que outras condutaspermaneam impunes.

    A criminologia crtica analisou a mdia enquanto instrumento de disseminaopblica do pnico sobre o crime e desvio da ateno aos problemas sociais queemanavam do capitalismo.

    Os pesquisadores da mda notaram que as notcias televisivas representavamuma variedade de opinies em determinadas circunstncias, reproduzindo a ideo-logia dominante de acordo com a audincia que almejavam ter e ocultando as vozescontraditrias.

    Outra perspectiva que influenciou os estudos da mdia nos anos 1980 foi a da eco-nomia poltica. A larga concentrao da propriedade da mdia pela iniciativa privadafaz com que sua posio poltica mude de acordo com a perspectiva de lucro.

    H alguns autores que chegam a afirmar que a vulgarizao da cultura partede uma estratgia de manipulao da indstria militar para prevenir que as pes-soas se engajem em atividades ou pensamentos polticos srios. Isso demonstraque, no que concerne s estruturas globais de poder, a mdia altamente seletivano que reporta.

    O grande mrito dos estudos inspirados no marxismo foi investigar o papel damdia em moldar o entendimento do pblico, no s do crime e do desvio, comodo processo de criminalizao. A base desses estudos que a informao parte dotopo, com a mdia representando o ponto de vista das lideranas e reduzindo o ex-pectador a destinatrio passivo, premido de suas opinies, preocupaes e crenas.

    Os grupos culturalmente dominantes impem padres de crenas e comporta-mentos que conflitam como os comportamentos ticos, culturais e religiosos dasminorias." Nesse sentido, a mdia tornou-se um dos mais importantes instrumen- .tos de manuteno do poder hegemnico.

    Portanto, a criminologia crtica denunciou que aqueles que esto no podermanipulam a pauta da mdia para obter apoio a polticas que criminalizam aque-

    23. As feministas, por exemplo, argumentam que a desigualdade de gnero na sociedade reproduzida ideologicamente por uma indstria miditica patriarcal.

  • 448 REVISTA BRASILEIRA DE CiNCIAS CRIMINAIS 2014 RBCCRIM 108

    les com menos poder na sociedade. Alm disso, chamou a ateno para os crimesdos poderosos (crimes cometidos por corporaes, empresrios, governos e atmesmo Estados).

    Os criminlogos dessa vertente, inspirados pelo marxismo, notaram que a mdiararamente noticia os crimes de colarinho branco ou crimes empresariais, a no serque haja elementos de interesse jornalstico (big bang elemento). O desinteresse emnoticiar esses crimes contrasta com o interesse nos crimes da rua ("street crimes") ereflete um vis de rotulao dos criminosos.

    Em anos mais recentes, uma nova gerao de criminlogos vem estudando asirregularidades de governos e corporaes e rotulando-as como crimes (Steve Tom-bs, Dave Whyte, Reece Walters). Nesse contexto figura a chamada criminologiaverde (green crmnology) que trata dos crimes ambientais.

    Normalmente, a mdia demonstra o crime como uma patologia individual emitiga a investigao e divulgao de irregularidades em grandes corporaes. Oscrimes corporativos tendem a ser divulgados de uma maneira que refora sua natu-reza excepcional em relao aos crimes comuns. Enquanto palavras como acidentee desastre aparecem no contexto de crimes comuns, as terminologias escndalo eabuso de poder esto vinculadas aos crimes corporativos.

    7. A VISO PLURALlSTA DA MDIANos anos 1980 e 1990 surge um paradigma competitivo e pluralista que tende a

    ser uma viso mais positiva da mdia de massa como a personificao da liberdadeintelectual e diversidade oferecida a uma audincia bem informada e ctica.

    Os pluralistas passaram a argumentar que os processos de desregulao e priva-tizao da mda que ocorreram nas ltimas duas dcadas obtiveram sucesso em di-minuir a censura do Estado e encorajar uma competio aberta entre as instituies.

    Aumentou exponencialmente o nmero de canais de televiso e rdio, ttulos d~revistas e servios virtuais. Isso possibilitou que aquelas pessoas cujas ideias cop:flitavam com os meios tradicionais (counter definers) passassem a ter voz atravs darndia. Graas a uma maior educao, mobilidade social, internet e cultura dascelebridades (celebrity culture), a classe dominante contempornea seria mais d~~versificada culturalmente, de modo que a mdia moderna representaria a vanguardada eroso dos valores elitistas tradicionais.

    Enquanto teoricamente essa teoria verdadeira, na prtica irrealista, porquedesconsidera os interesses ocultos na propriedade e controle da mdia e o fato deque, em sua grande maioria, as indstrias da mdia continuam pertencendo s mes-mas corporaes de sempre.

    A participao do pblico no discurso miditico pode parecer mais inclusiva. Aspessoas tratam de temas mais srios nos programas e so estimuladas a participar

    j

  • r-~.

    tf~ CRIME E SOCIEDADE~ -----------------------------------------------------------------k

    449..t.,.~

    ~.deles, fazendo ligaes e mandando mensagens que so transmitidas quase que instantaneamente. Porm, os 20 ou 30 segundos de contribuio do pblico nof., resultam em uma mensagem de pluralismo ou diversidade de contedo, porquer, OS crticos argumentam que a mdia continua provendo verses homogneas da" realidade para evitar controvrsia e preservar o status quo. Como consequncia, a,.ignorncia da audincia perpetuada, preservando o etiquetamento, a estereotipa-gero e a criminalizao de certos grupos.

    A tendncia de oferecer sempre os mesmos programas, envolvendo o chocante,c o sensacional e o real faz parte de uma estratgia de frmulas testadas que nivelama audincia com base na facilidade de identificao e no potencial lucrativo. At

    . mesmo os servios de notcias 24h se restringem a noticiar os valores aos quais elesdevem se conformar e sofrem a presso de conviver em um ambiente comercial. Atendncia privilegiar os ndices de audincia, o que deixa pouco espao para ex-plorar mltiplas perspectivas e fomentar o debate a discusses mais aprofundadasde qualquer tema.

    A internet parece ser a fonte que melhor d suporte crena pluralista, j quefacilita o dilogo e a livre troca de ideais. No entanto, ela s est disponvel quelesque tm acesso aos computadores, aos programas necessrios e que podem pagaras taxas correspondentes. Alm disso, a internet tambm pode aumentar a dissemi-nao do sensacionalismo e da estigmatizao.?"

    Ento, o pluralismo mais uma expresso de como as coisas deveriam ser, doque de como realmente so.

    8. A MDIA, O REALISMO E A PS-MODERNIDADEA dcada de 1980 foi marcada por uma perspectiva criminolgica denominada

    de Realismo de Esquerda (Left Realsm). Os realistas acusavam os pensadores de en-to de adotar argumentos reducionistas sobre o crime, e romantizar os criminososdas classes trabalhadoras, clamando que o cenrio poltico fora deixado aberto paracampanhas conservadoras de lei e ordem, que deliberadamente ocultavam o fato deque a maior parte dos crimes praticada dentro de uma mesma classe social (ntra--class), e no entre classes sociais distintas (inter-class).

    Esses criminlogos apregoavam que o foco dos estudos deveria ser a seriedadedos efeitos do crime, especialmente para as mulheres e para as minorias tnicas.

    Nesse meio tempo, nos estudos da mdia predominava uma tcnica de pesquisade audincia chamada de anlise de recepo (reception analysis), conduzia pelosocilogo britnico David Morley Os pesquisadores repensaram a influncia damdia sobre o indivduo como um recurso que seria conscientemente usado pelas

    24. No so raros os casos de ofensas raciais por meio das redes sociais.

  • 450 REVIST./\ BRASILEIRA DE CiI\ICIAS CRIMINAIS 2014 15 RBCCRIM 108

    pessoas. A pergunta deixou de ser "o que a mdia faz com as pessoas?" e passou aser "o que as pessoas fazem com a mdia?".

    O advento do ps-modernismo impactou sobre todas as cincias sociais, tornan_do-se inevitvel aps a dcada de 1990. Frequentemente, ele apresentado COulouma enftica e decisiva ruptura que tudo o que se tinha antes, descartando-se aque~Ias teorias que pregavam o conhecimento e a certeza. ,\

    Alguns estudiosos preferem o termo "modernidade tardia", que estaria a indicaique, embora tenha havido mudanas radicais nos padres globais de cultura, pol-tica e economia, eles no teriam sobreposto inteiramente as caractersticas estrutu-rais associadas sociedade moderna, como as estruturas de classe, o capitalismo, oindustrialismo, o militarismo, o Estado-nao etc.

    "

    Assim como os realistas, os ps-modernistas veem a audincia de maneira ativa ecriativa, Como a mdia.sofreu um processo de desregulao, levando a uma explosode programas, ttulos e formatos, tudo est hoje centrado no gosto do consumidor:que tem o poder final de decidir o que ir assistir, ouvir e ler e o que ir descartar.

    O ps-modernismo est preocupado com os excessos de informao e entreteni-mento disponveis. a "sociedade do espetculo", uma "hiper-realidade", na qual adistino entre a imagem e a realidade no mais existe. .,

    A mdia de massa produziu uma realidade centrada no imediatismo do consumoe no impacto sensacionalista como pouca profundidade de anlise. A mdia de hojecaracteriza-se pela fragmentariedade, efemeridade e ambiguidade.

    E o abandono da distino entre informao e entretenimento causou dois pro-blemas fundamentais. Em primeiro lugar, a ameaa ao debate significativo que ops-modernismo implica, pois o pblico perde a noo do que verdade e do queno . Finalmente, a dificuldade de definio do que entretenimento, porquantoa violncia passou a entreter o pblico, que tornou-se mais emocionalmente desa-pegado e insensvel vasta gama de imagens que o bombardeia diariamente.

    O exemplo mais convincente da performance da mdia ps-moderna ocorreunos atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, porque congregou uma srie'de fatores que propiciaram uma cobertura miditica sem precedentes. As imagenstelevisivas daquele dia tornaram-se as mais memorveis j vistas, lembrando pro-dues cinematogrficas famosas, como o filme Independence Day (1996). Foi ver-dadeiramente um espetculo ps-moderno que exaltou a sensao de insegurana:trazendo a ideia de ataques terroristas contra civis inocentes, na concepo ps--moderna de que todos somos vtimas em potencial.

    Os atuais discursos da mdia transformam os observadores em sujeitos do per~go fragmentado e aleatrio da criminalidade, proporcionando condies para infin-dveis narrativas da criminalidade que perpetuam a sensao de perigo constante,Essa a explicao que os ps-modernistas do fascinao da mdia pelo crime:todos os expectadores so potenciais vtimas.

  • CRIME E SOCIEDADE 451

    Outro aspecto da histeria que envolve os casos criminais noticiados que arndia no faz a distino entre o ordinrio e o extraordinrio. A audincia bom-bardeada com a representao de crimes que so muito raros, como, por exemplo,assassinatos em srie (serial killings) e sequestros de crianas por estrangeiros. Isso

    ~.provoca um aumento da ansiedade do pblico e desvia a ateno a crimes mais,~cmuns, cuja reiterao mais preocupante.

    ,~9.. A CRIMINOLOGIA CULTURAL E A MDIAl'

    ~ Surgida nos EUA no final da dcada de 1990 com jeff Ferrell e desenvolvida~ pelo departamento de criminologia da Universidade de Kent, no Reino Unido, af~vertente criminolgica que se convencionou denominar de criminologia cultural~.'busca entender a fascinao do pblico pela violncia e pelo crime e sua adoo~_como prazer e espetculo.

    ! Para esses criminlogos, todo crime fundamentado na cultura e as prticas~'.'culturais so incorporadas nos processos dominantes de poder. A influncia mar-f: xsta permanece, no sentido de que os atos criminosos so atos de resistncia con-r.t tra a autoridade. Segundo lvaro Oxley da Rocha,[ "(. ..) a Criminologia Cultural procura aclarar a dinmica entre dois elementos--chave nessa relao: a ascenso e o declnio desses produtos culturais. O que sebusca focar a contnua gerao de significados que surgem: regras so criadasou quebradas, em uma constante interao entre iniciativas moralizantes, inova-o moral e transgresso. Em razo da complexidade desse foco, a CriminologiaCultural essencialmente interdisciplinar, e se utiliza de uma grande variedadede ferramentas de anlise, que se inicia com uma interface direta, no apenas com

    f; a Criminologia, a Sociologia e o Direito penal, mas com perspectivas e metodolo-r gas advindas dos estudos culturais, miditicos e urbanos, filosofia, teoria crticai. ps-moderna, geografia humana e cultural, antropologia, estudo dos movimentosr~sociais, e abordagens de pesquisa ativa.""',

    = Para Jack Katz, o crime no se trata de aquisio, materialismo e necessida-i/de econmica, mas de presena, status e emoes, como excitao, paixo, dio,r raiva, exploso de adrenalina, entre outros. Muitas atividades criminais envolvemt~assuno de riscos e perigo, mas podem, de fato, representar uma tentativa deLsup.erao de circunstncias degradantes, para exercer controle e assumir respon-r'sabilidade sobre o prprio destino."

    25, OXLEY DA ROCHA, lvaro Filipe. Crime, violncia e segurana pblica como produtos cultu-rais: inovando o debate. RT,v. 101, n. 917, p. 271-292, So Paulo: Ed. RT, mar. 2012, esp.p.272.

    , 26. KATZ, Jack. Seductions of Crime: Moral and Sensual Attractions in Dong Evil. New York:~~.

    Basic Books, 1990.

  • 452 REVISTA BRASILEIRA DE CiNCIAS CRIMINAIS 2014 e RBCCRIM 108

    Num mundo em que os indivduos encontram-se controlados e, ainda assimsem controle, o crime adquire uma natureza sedutora, de quebrar barreiras e rom,per fronteiras. As pessoas querem viver suas "experincias limites", das quais ahne-jam ter o controle." O paralelo que se faz que o indivduo que pratica o crime sesente vivo pela sua prtica.

    Ao passo que entendem que o crime uma espcie de performance teatral docriminoso, isto , uma forma de expresso, os criminologistas culturais evitam acomplacncia com a viso de que o criminoso seria uma vtima de circunstnciasdesvantajosas.

    Assim, a criminologia cultural celebra as noes ps-modernas de diferen-a, descontinuidade e diversidade, rompendo com os esteretipos restritivose negativos.O que antes eram considerados grupos de interesse no conven-cionais ou simplesmente perturbaes pblicas tm sido adotadas em meioa um renovado entusiasmo por pesquisa etnogrfica e fascnio pelo poder daimagem.

    O grafite, por exemplo, que j foi visto como forma de delinquncia juvenil evandalismo, uma das prticas que FerreI trata como forma de expresso culturalque foi apropriada pelas corporaes e reembalada para consumo de massa. Hoje,grandes empresas utilizam o grafite para anunciar seus produtos.i"

    O surgimento da criminologia cultural pode ser caracterizado como um desafio influncia persistente do positivismo que teria levado a um vcuo no conheci-mento cientfico em torno da busca do prazer. A preocupao envolvendo a razo ea racionalidade cientficas expem que a criminologia tem sido incapaz de respon-der por "sentimentos" como excitao, prazer e desejo.

    No que pertine s relaes entre a mdia e o crime, a preocupao da criminolo-gia cultural reside nas peculiaridades das interaes dos indivduos com o consu-mismo (relao entre o crime, o contexto cultural, o marketing e a mdia), que, porsua vez, se utiliza da mdia para propagar suas "diretrizes".

    Busca-se entender at que ponto a mdia poderia auxiliar e contribuir para miti-gar a criminalidade. Isso porque, mesmo que a mdia no tenha o condo de incitaro cometimento de delitos - pois, na maioria das propagandas, no h qualquermeno direta a tal prtica -, no se pode negar que indiretamente, de acordo coma cultura em que o sujeito est inserido, as mensagens da mdia podem contribuirpara a concretizao de determinados crimes.

    f

    27. Da criminologia crtica criminologia cultural. Conferncia proferida pelo Prof. Dr. KeithHayward, no 3. Congresso de Cincias Criminais, no dia 27.09. 2012, na PUC-RS, emPorto Alegre/RS. O professor cita esportes radicais, como o paraquedsmo e o base jump,como formas de o indivduo vivenciar tais experincias altamente arriscadas.

    28. FERREL, Jeff. Crimes oJ Style. Boston: Northeastern University Press, 1996.

  • CRIME E SOCIEDADE 453

    A mdia propaga a ideia de que, para obter sucesso em sua vida, a pessoa preci-j: saria viver de acordo com certos padres e possuircertos bens de consumo supr-- [luos. A prpria lgica do capitalismo contribui para tanto, organizando-se para_ incentivar as condutas desviantes.

    Recursos financeiros incalculveis so investidos em campanhas de marketingque associam uma imagem de xito, prazer e alegria instantneos a drogas atual-

    _mente lcitas e objetos que causam uma fascinao cada vez mais efmera. Basta< - observarmos que tipo de aes as pessoas esto dispostas a realizar para, no sr obter, mas ser o "primeiro" a possuir o mais novo lanamento de telefone celular,i de tablet, de modelo de tnis, computador ou videogame. E, to logo haja um novo~_lanamento, o que tem ocorrido com uma frequncia crescente, o foco totalmente~. redirecionado para o novo item de deslumbramento.

    ~.. A influncia desta mensagem sobre o jovem inserido em um crculo de baixak renda acaba propagando a prtica delitiva como meio para equipar-se aos 'modelos~ propostos pela mdia, visando alterao do seu status social.Ir

    ~ O crime visto por estes jovens como a nica forma de poder usufruir dos" benefcios que o dinheiro proporciona. Contudo, a busca por experincias limites~com assaltos e furtos, por exemplo, torna-se gratificante para obter os recursos ne-cessrios a fim de adquirir licitamente o objeto desejado, de modo a representar a

    , insero do indivduo no campo social que almeja.~ Essa noo de campo explicada pelo socilogo francs Pierre Bourdieu, como~ o locus onde h uma disputa de interesses determinados, irredurveis aos objetos: e interesses em conflitos de outros campos. Para Bourdieu, o funcionamento do. campo depende da existncia de um objeto de disputa e de pessoas aptas a dispu-tar o "jogo". Essas pessoas so dotadas do que o autor chama de "habitus", quesubentende-se como o conhecimento e reconhecimento das normas do jogo, isto ,

    , dos objetos de disputa."O habtus consiste em um comportamento reiterado, naturalmente incorporado

    s pessoas de forma durvel, mas que, ao longo do tempo, tende a repetir o que jt~foi adquirido, produzindo uma transformao. Ou seja, encontra novos meios de~ reforar as ideias referidas ao grupo, adaptando-se ao contexto, mas no alterando

    as suas ideias principais. Entretanto, aqueles que no conseguem assumir o exerci-~ do do habitus na sua realidade objetiva recorrem a meios externos ao seu campo,r como prpria mdia, para que seus atos tenham efeito."

    Ocorre que o sentimento de pertencer ao novo campo falacioso, na medida emque o indivduo nunca participar efetivamente desta outra realidade e, tampouco,

    29. BOURDIEU, Pierre. A opinio pblica no existe. ln: o Questes de sociologia. Rio deJaneiro: Marco Zero, 1983. p. 90.

    30. BOURDIEU, Pierre. Op. cit., p. 89.

  • 454 REVISTA BRASILEIRA DE CINCIAS CRIMINAIS 2014 $ RBCCRIM 108

    ser reconhecido por seus reais integrantes, j que no possui o habitus. Por issoacaba se valendo de prticas criminosas para manter essa falsa sensao. E isso cau-~sa uma enorme angstia, que culmina por reproduzir indefinidamente o recurso sprticas ilcitas (reiterao criminosa). .)':

    Algumas vezes, essa aflio passa ainda mais dos limites, ao ponto de que.furtar e roubar no so mais suficientes para satisfazer a vontade de romper .'barreira de classes. Ento, o jovem infrator precisar no s subtrair a coisa alhei:i'mas matar sua vtima, com o intuito de demonstrar sua indignao, seu protest61contra as condies a que submetido pelo meio em que est determinantementeinserido.h

    nesse momento que a populao comea a clamar por justia, mas no comoforma de reduzir a desigualdade, fomentar programas que visem melhoria da qua-lidade de vida ou oportunizar maiores oportunidades populao mais carente, esim de punir ao mximo aquele que tirou a vida de um "cidado de bem", nascidoem tal famlia, com um determinado status social.

    Dessa forma, a mdia cria bodes expiatrios para delimitar uma parcela da so-ciedade, deslocando o enfoque de discusso do real problema que ocasionou tais:fatos. Ou seja, em vez de discutir os fatores sociais que levaram o agente a cometrtais crimes, a mdia o estigmatiza, o rotula e o "demoniza".

    Nesse mesmo embalo, os polticos utilizam dessa comoo geral, causada pelafalsa sensao de insegurana, para defender a adoo de penas mais rigorosas, areduo da maioridade penal, a criao de novos delitos ou a mitigao de certasgarantias processuais, todas questes facilmente sustentveis perante a opinio'pblica."

    Assim, a classe dominante, sedenta por justia, inserida em seu campo sociale portadora do habtus, manipula os fatos para alcanar seus objetivos. Detentorade um poder simblico, um poder de estabelecer o monoplio sobre o discurso,assentar a sua verso como a verdade real dos fatos," ela distorce a realidade,valendo-se da mdia. E, obviamente, os reais interesses por trs dessas men-,sagens, alm daqueles puramente mercadolgicos, jamais sero publicamenteexplcitados." -

    31. MARQUES,Bralio. A Mdia como filtro do fato social.In: FAYETjNIOR, Ney (org.).Ensaospenais em homenagem ao professor Alberto Rufino Rodrigues de Sousa. Porto Alegre: RicardoLenz, 2003. p. 181.

    32. OXLEYDAROCHA,lvaro Filipe. Criminologia e teoria social: sistema penal e mdia em lutapor poder simblico. ln: GAUER,Ruth (org.) Crminologia e sistemas jurdico-penais contem-porneos II. Porto Alegre: EDlPUCRS, 2010. p. 50.

    33. OXLEYDAROCHA,lvaro Filipe. Sociologia do direito: a magistratura no espelho. So Leopol-do: Unisinos, 2002. p. 68.

  • CRIME E SOCIEDADE 455

    ~'"

    Os que delinquem contra a classe hegemnica so, portanto, amplamente mas-sacrados pela mdia, e suas defesas cerceadas de todas as formas.

    Como se observa diariamente, julgamentos de casos de grande repercusso"tornam-se grandes escndalos miditicos, uma vez que seus acontecimentos soamplamente divulgados nos telejornais e comentados como "assunto do dia", ge-

    ~ rando diversas opinies e verses.

    Diferenciam-se, no entanto, escndalos localizados dos miditicos, uma vez que~.aqueles so transmitidos em conversas informais, atravs boatos; enquanto estes_ tomam grandes propores, alcanando uma publicidade que vista no s por: integrantes de determinados grupos, mas por uma pluralidade at mesmo distante, das ocorrncias de tais fatos." Nestes escndalos, h um imenso clamor popular'por condenaes s mais altas e simblicas penas.

    Deste modo, possvel afirmar que o campo jornalstico luta pelo monopliodiscursivo sobre a verdade como forma de legitimao sobre a audincia e, por con-sequncia, de consolidao de seu poder simblico.

    certo que a disputa deslegitima ou enfraquece o poder simblico estatal ou, pblico, criando condies para uma instabilidade institucional e para o agrava-mento da instabilidade social. Porm, a contenda s se justifica por parte da mdiaenquanto orientada para a obteno de lucro, uma vez que a instituio jamaispoder tomar o lugar do Estado, este sim com a finalidade precpua de promovero bem comum.

    Estas so, ento, as principais discusses envolvendo o crime e a mdiapara asquais a Criminologia Cultural tenta criar novas perspectivas de enfrentamento.

    10. CONSIDERAES FINAISConsiderando as diferentes teorias que marcaram o desenvolvimento da crimi-

    " nologia e dos estudos da rndia, no h como afirmar que exista um corpo definido.,de assertivas que possam constituir uma verdadeira Teoria da Mdia., A violncia nem sempre produto do consumo. No basta o estudo da influn-cia da mdia para explicar por inteiro a criminalidade, fenmeno de complexidade

    . inesgotvel. Contudo, esta uma das novas formas de enxergar problema que aCriminologia Cultural traz como um importante contributo interpretao dossintomas sociais que constituem nossa cultura.

    34. Vejam-se os exemplos ele casos como o elo "Goleiro Bruno", o ele "Elo Pimentel" ou ele"Isabela Nareloni", e os outros tantos mais antigos, como o elos "Irmos Naves", o ele "DocaStreet", o famoso "Caso Daudt", o to elivulgado assassinato ela atriz "Daniela Perez" e o"Caso Escola Base".

    35. THOMPSON, John B. O escndalo poltico. Petrpolis: Vozes, 2002. p. 92.

  • 456 REVISTA BRASILEIRA DE CiNCIAS CRIMINAIS 2014 RBCCRlM 108

    As respostas s imagens de violncia, sejam de medo, desconforto ou indiferen_a, demonstram como se do as relaes interpessoais e sociais atualmente, produ.:.zindo, assim, novos sentimentos, que surgem dessa hiperexposio.:"

    induvidosoque os meios de comunicao transitam hoje por todas as esferasdo poder poltico,interferindo nas aes tomadas pelos poderes Executivo e Legis~lativo. E a dimenso do poder de influncia dos polticos que atuam neste campose reflete na busca pela futura reeleio, para a qual se faz necessrio o sUporte damdia. De outro lado est o Judicirio, composto por membros teoricamente inde-pendentes e que julgam conforme o seu "livre" convencimento. .

    Todavia, no se pode negar que at os magistrados podem ser influenciados pormotivos externos como, por exemplo, a exposio dada pela mdia a determinadoscasos, dificultando,assim,o trabalho de coleta de provas perante a autoridade poli-cial, ou em casos do Tribunal do Jri, onde os jurados, juzes de fato, esto muitoexpostos atuao da mdia.

    Portanto, a capacidade de formaropinies atravs das notcias propagadas pelosmeios de comunicao em massa e comover a populao com sensacionalismotransformou o fiscal em guia. Quem deveria limitar, segundo balizas legais e orien-taes ticas, passou, em muitos casos, a verdadeiramente conduzir o exerccio dopoder.

    Leis passam a ser promulgadas em virtude da presso provocada pela coberturamiditica - no raras vezes estereotipada e preconceituosa - que os meios de comu-nicao reservam a determinados fatos, sobretudo no mbito da delinquncia. Atosde gesto pblica so executados para afastar a ateno da mdia ou para seduzi-Ia(o que significa seduzir tambm o pblico). Decises judiciais so proferidas parano contrariar as expectativas criadas e alimentadas pelo discurso dos meios decomunicao.

    Basta vermos as ferrenhas disputas travadas em pblico entre os prprios jul-gadores e amplamente divulgadas pela mdia no to propalado caso do Mensalo,ainda em pauta." Aquele que deveria estar fora do poder, para vigia-lo, passa aexerc-lo, de modo sutil e dissimulado.

    f

    36. CARVALHO,Sala de. Criminologia cultural, complexidade e as fronteiras de pesquisa nascincias criminais. RBCCrim, n. 81, p. 294-338, So Paulo: Ed. RT, dez. 2009, esp. p.321-322.

    37. Este, alis, um dos casos mais emblemticos do poder de manipulao miditico dos l-timos tempos. Basta analisarmos que, por se tratarem de crimes do colarinho branco, osmeios de comunicao comumente valeram-se das expresses escndalo, esquema, crisepoltica, e adotaram a palavra mensalo como forma de facilitar a identificao por partedo pblico. O Mensalo foi responsvel por um aumento exponencial da audincia dostelejornais e da venda de revistas que, semanalmente, apresentavam algum componentenovo ainda mais extraordinrio e chocante. A presso popular por condenaes dos su-

  • '; o ideal iluminista da imprensa guardi da democracia, que servia aos interessest"- enecessidades da cidadania, foi paulatinamente substitudo pela essncia da inds--. rria cultural, na qual o indivduo no precisa de informao, e sim de mercadoria,como consumidor que .

    . _ A informao ofertada nas prateleiras miditicas (jornais, televiso, rdio, in-ternet etc.) em embalagens muito parecidas, o que limita as opes. E todo aqueleque no pode eleger, est sendo, seguramente, dominado, conduzido. Ento, ma-

    :~nipular significa ,no contexto da mdia, dominar pela informao mercantilizada.O noticirio sobre a delinquncia se vale de clichs e de esteretipos para criar

    .~_heris e viles, personagens com os quais o consumidor certamente ir se identifi-

    .. caroNesse rumo, a violncia das imagens passa para o plano do imaginrio e produz\1it reflexos nos padres de comportamento da vida real.

    Talvez isso no signifique que as pessoas simplesmente imitem a violncia vei-culada pelos meios de comunicao, at porque o processo pode ser inverso. Ao in-vs de agirem com violncia, as pessoas simplesmente passam a toler-Ia. Torna-se

    .~corriqueiro assistir aos massacres dirios veiculados pelos telejornais. Tais notcias~ j no causam mais o impacto de antigamente. Aceitamos que se trata de fatos docotidiano e que com eles temos de conviver.

    Perdemos a capacidade de indignao. Nossa postura passiva, de aceitao.~ Vamos nos acostumando violncia, como se fosse a nica linguagem eficiente;. para lidar com a diferena. "Vamos achando normal que, na fico, todos os confli-iL... tos terminem com a eliminao ou a violao do corpo do outro"."

    Este , sem dvida, um dos fatores que contribui para o perodo de crise pelo~ qual passamos. Uma crise econmica, em que o jornalismo perde leitores para a~ internet e outras formas de entretenimento. Uma crise de identidade, na qual a ten-."...dncia dos grandes grupos de comunicao em transformar tudo em espetculo~ descaracteriza o contedo jornalstico. E, no menos, uma crise profissional, em~,' que se assiste diluio das fronteiras entre a publicidade e o jornalismo, assim

    corno manipulao (consciente ou inconsciente) da informao."

    A velocidade do mundo acaba servindo at mesmo de desculpa para a vul-garizao da qualidade das notcias que so apresentadas ao pblico. Nesse n-terim, coloca-se a sedutora ideia da criminalidade urbana violentatrazida pela

    CRIME E SOCIEDADE 457

    postos envolvidos ficou explcita na cobertura do maior e mais publicizado julgamento dahistria do Brasil.

    38. KEHL,Maria Rita. Televiso e violncia do imaginrio. ln: BucCI, Eugnio; KEHL,Maria Rita.Videologias: ensaios sobre televiso. So Paulo: Boitempo, 2004. p. 88-89.

    39. SANDANO,Carlo. A informao-mercadoria do jornalismo e as novas formas de trocas cul-turais na sociedade globalizada. ln: COELHO,Cludio Novaes Pinto; CASTRO,Valdir Jos de(org.). Comunicao e sociedade do espetculo. So Paulo: Paulus, 2006. p. 66.

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    mdia de massa, incutindo a j mencionada falaciosa sensao de inseguranapermanente.

    Hoje, o medo constri muros. Para suportar a ansiedade causada pelo terror ,aceitamos depender da ideia de viver em uma fortaleza gradeados. O risco de ul-:ctrapassar seus domnios nos muitas vezes alto demais. Preferimos no sair mais noite, no estacionar o carro na rua, no frequentar determinados locais. Umpreo que julgamos aceitvel. S no conseguimos viver isolados por muito temposem informao.

    Eis a a maior vitria da mdia contempornea, que tem a garantia de audinciaem todas as faixas da populao e, consequentemente, lucros financeiros e simb}--licos incomensurveis.

    Vejamos o recente massacre ocorrido na escola Sandy Hooli, em Newtown, nosEUA, em que foram mortas dezenas de crianas junto a seus professores por um -atirador que, antes de invadir o estabelecimento, teria matados os prprios pais. Ofato mereceu uma cobertura miditica global assustadoramente veloz.

    Em poucos minutos, a imprensa de todo o mundo j possua detalhes dos fatos'e havia enviado correspondentes ao local, para que houvesse comunicao instan.tnea. Em questo de horas, a pacata cidade do estado de Connecticut fora inva-dida por reprteres que buscavam familiares prximos s vtimas para trazer umaimagem de comoo. Imagens de pais em desespero com a notcia da morte de seusfilhos circulavam pela internet, quer em sites de notcias, quer em redes sociais.

    No demorou muito para que governantes de todo o planeta se manifestassem,O presidente dos EUA precisou chorar em rede internacional, para transmitir umamensagelTI de pesar. Rapidamente, um grupo muito seleto de opositores posse dearmas de fogo por civis iniciou uma campanha ferrenha pela sua proibio. Mais'uma vez, os polticos foram pressionados.

    To rapidamente quanto entraram no ar, as imagens foram substitudas por o~~tras notcias mais atuais, comprovando a carncia do imediatismo. Interessa entrarem contato com a informao do agora. O que passou deixamos arquivado nasmemrias infinitas dos computadores.

    Mas o que importante ressaltar ao debate trazido pela Criminologia Cultural ,_,-que este foi um episdio em que, mais uma vez, o telespectador, ouvinte ou leitorfoi reduzido condio de consumidor por um mercado composto por cartis, que,com isso, obteve ganhos exorbitantes custa da tragdia e do sofrimento alheios.

    f necessrio trazer esta denncia ao centro do debate envolvendo as relaesentre a mdia e o crime. E, em parte, este um dos pontos dos quais tem se ocupadoa Criminologia Cultural nos ltimos anos, valendo-se de uma ampla gama de dis-ciplinas acessrias. Por conseguinte, visualza-se um futuro promissor nesta reade pesquisa, na qual se aguarda o advento de concluses cada vez mais definidasnos anos que virao.

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    Criminologia cultural, complexidade e as fronteiras de pesquisa nas cincias criminais, de Salade Carvalho - RBCCrim 81/294, Doutrinas Essenciais de Direito Penal 6/953 (DTR\2009\636).

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  • ISSN 1415-5400

    REVISTA BRASILEIRA DE'"CIENCIAS CRIMINAIS

    Ano 22 vol. 108 rnaio-jun.f Zl-l

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    Publicao oficial do

    Instituto Brasileiro de Cincias Criminais/;>,\

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