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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM DANO MORAL DECORRENTE DAS RESERVAS DE CRÉDITO DOS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS REALIZADOS PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Por: Aline de Queiroz Sandes Orientador:Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2011

DANO MORAL DECORRENTE DAS RESERVAS DE CRÉDITO … · que provado através de pesquisas que o índice de inadimplência entre eles é baixíssimo, justifica-se uma taxa de juros diferenciada

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

DANO MORAL DECORRENTE DAS RESERVAS DE

CRÉDITO DOS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS

REALIZADOS PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Por: Aline de Queiroz Sandes

Orientador:Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

DANO MORAL DECORRENTE DAS RESERVAS DE

CRÉDITO DOS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS

REALIZADOS PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Monografia apresentada à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito do Consumidor e

Responsabilidade Civil.

Por: Aline de Queiroz Sandes.

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AGRADECIMENTOS

Como de praxe, inicialmente agradece-se a Deus, por ter concedido a

oportunidade da VIDA, e aos meus pais Irany Gonçalves de Queiroz Sandes e

Francisco Batista Sandes pela oportunidade de vida, de poder completar o

ensino superior e motivar-me a todo instante para alcançar sempre mais.

Aos meus irmãos, Luiz Calixto Sandes, Valesca de Queiroz Sandes e

Lívia de Queiroz Sandes pela amizade, cumplicidade, pela honra de

compartilharmos o dia-a-dia e de sermos simplesmente irmãos, talvez eu

nunca disse a quantidade suficiente de EU TE AMO a vocês.

A minhas avós Maria do Carmo Sandes (in memoriam) e Albertina

Gonçalves de Queiroz, pelos ensinamentos da vida, pelos estímulos a seguir

diante de um desafio, aos colos e carinhos concedidos incondicionalmente nos

momentos de carência e fraqueza.

Ao meu amor Gabriel Fabrício Fernandes Guarnier, a pessoa que

aprendi amar e respeitar e que estará para sempre ao meu lado, me apoiando

e guiando como meu eterno porto seguro, além de toda sua família.

Por fim a minha colega/amiga de trabalho Kátia Regina Moreira por

sempre me acudir quando eu mais preciso (juridicamente falando), a minha

cunhada Christiane Roberta Fernandes Guarnier pelo imenso auxilio, e todos

os meus amigos que me ajudaram até aqui.

O meu eterno muito obrigada.

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DEDICATÓRIA

Esse trabalho dedico aos meus pais,

Irany e Francisco, aos meus irmãos,

Luiz, Valesca e Lívia, e ao meu noivo

Gabriel, por todo amor e apoio

dedicados durante todos esses anos.

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RESUMO

Como é sabido por todos, os aposentados e pensionistas são pessoas

fragilizadas, de poucas luzes, os típicos hipossuficientes no qual são

abordados por promessas de empréstimos sem qualquer burocracia, que por

conta da carência dos serviços públicos, não tem condições de um cidadão

possuir uma medicina preventiva, motivo pelo qual, ao chegar a fase da

aposentadoria, gasta-se fortunas com medicamentos, tornando-os a figura do

superendividado. Oportunamente, as instituições financeiras têm aproveitado-

se da fragilidade dessas pessoas para reservar sua margem de empréstimo,

devido aos baixíssimos nível de inadimplência, justificando uma taxa de juros

diferenciada, porém ao invés disso, obrigam-nos a contratação com uma

instituição especifica, ou seja, ao procurar uma determinada instituição, ao

realizar as exigências o crédito não é liberado, pois uma outra instituição já o

reservou, ferindo assim o direito da livre contratação, tendo esse trabalho o

objetivo primordial de abordar esse novo problema apresentado pelas

instituições bancárias, bem como realizar uma breve analise sobre a

aplicabilidade do dano moral nessas situações.

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SUMÁRIO

CAPITULO I – Considerações iniciais 07

1.1 Relevância do Tema 07

1.2 Objetivo 08

1.3 Metodologia 08

CAPÍTULO II - Margem Consignável 10

2.1 Conceito 10

2.2 Dos diversos tipos de margem consignável 10

2.3 Possibilidade de redução da margem consignável 11

CAPÍTULO III - Aposentados e Pensionistas como alvo principal 13

3.1 Perfil do Consumidor 13

3.2 das armadilhas do empréstimo consignado 13 CAPÍTULO IV – Impossibilidade de Reserva de Margem Consignável 16

4.1 Introdução 16

4.2 das conseqüências negativas da reserva de margem 16

CAPITULO V – Violação aos Direitos básicos do Consumidor 21

5.1 Da violação da liberdade contratual 21

5.2 Do direito a informação clara e precisa 22

5.3 Da violação ao principio da boa fé objetiva 23

CAPITULO VI – Do dano moral 25

6.1 Conceito 25

6.2 Configuração do dano moral nos contratos de empréstimo consignado 25

6.3 Critério do quantum indenizatório 27

6.4 Critério punitivo do dano moral para as instituições financeiras 29

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA CITADA 32

ÍNDICE 33

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CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 Relevância do tema

O Empréstimo consignado é a modalidade de empréstimo onde os débitos

das parcelas serão descontados diretamente no salário do tomador do

empréstimo, ou seja, da fonte pagadora do consumidor. Atualmente, é uma das

formas mais seguras de empréstimos, tanto para o consumidor quanto para o

fornecedor, uma vez que o consumidor não tem a preocupação de se dirigir a

uma agência bancária para efetuar o pagamento, tampouco “esquecer” a data

do pagamento do mesmo, quanto ao fornecedor do serviço, tem a garantia de

adimplência do consumidor, posto que o desconto é realizado diretamente em

folha de pagamento.

O que parecia um contrato cômodo e seguro para ambas as partes, tornou-

se hoje objeto de fraude, com benefício direto para o fornecedor, parte forte da

relação contratual, uma vez que para que seja realizado o empréstimo há de se

calcular a margem consignável do consumidor, para somente então efetivar o

empréstimo.

Os aposentados e pensionistas são pessoas fragilizadas, de poucas luzes,

os típicos hipossuficientes, abordados por promessas de empréstimos sem

qualquer burocracia. Tal perfil ocorre pela carência dos serviços públicos, sem

que um cidadão tenha, hoje, condições de possuir uma medicina preventiva,

motivo pelo qual, ao chegar ao período de sua aposentadoria, gaste fortunas

com tratamentos, tornando-o a figura do superendividado.

Oportunamente, as instituições financeiras têm se aproveitado da

fragilidade dessas pessoas para reservar sua margem de empréstimo, uma vez

que provado através de pesquisas que o índice de inadimplência entre eles é

baixíssimo, justifica-se uma taxa de juros diferenciada. Ocorre que ao invés

disso, obrigam-nos a contratação com uma instituição específica, ou seja, ao

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procurar uma determinada instituição, ao realizar as exigências o crédito não é

liberado, pois outra instituição já o reservou, ferindo assim o direito da livre

contratação.

1.2 Objetivo

O objetivo do trabalho é abordar o direito à livre contratação, cerceado pela reserva de crédito dos empréstimos consignados apresentado pelas

instituições bancárias, bem como realizar uma breve análise sobre a

aplicabilidade do dano moral nessas situações.

1.3 Metodologia

O exercício da advocacia leva-nos a se deparar com situações

inusitadas no cotidiano, nos concedendo oportunidade de ampliar o

conhecimento, buscando sempre o exercício de um direito.

Ainda que o direito brasileiro tenha como base o civil low, atualmente,

cumulativamente a esse ensinamento temos aplicado o comom low, ou seja,

juntamente com nossa doutrina, aplicamos a inusitada JURISPRUDÊNCIA que

vem ganhando espaço cada dia mais, pois vão se formando a partir de

decisões reiteradas sobre o mesmo assunto dos Juízes, Desembargadores e

Ministros dos nossos Tribunais.

É justamente aí a importância do exercício da advocacia, pois tal

jurisprudência é provocada unicamente, pelos advogados, aplicadores de

direito, que mediante aos acontecimentos do dia a dia apresentados por seus

clientes provocam o Judiciário a manifestar-se sempre de forma diferente ao

que até então era pacífico, aumento ainda mais a tese de que o direito se move

com o tempo e a jurisprudência.

A metodologia empregada para a realização da pesquisa foi a busca por

jurisprudências, referências bibliográficas, eletrônicas e demais formas de

documentação. O Leading case dessa metodologia, parte justamente do

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cotidiano do exercício da advocacia, essa brilhante profissão que faz pensar e

mover o direito de hoje e amanhã.

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CAPÍTULO II

MARGEM CONSIGNÁVEL

2.1Conceito

A margem consignável é o percentual máximo da remuneração mensal que

uma pessoa pode se comprometer para pagamento das prestações de

empréstimos, que para cada pessoa pode ser diferenciada, conforme se expõe.

2.2 Dos diversos tipos de margem

Geralmente o limite para se ter o desconto de margem consignável é de

30% dos rendimentos, conforme dispõe a lei 10. 820 de 17 de dezembro de

2003 em seu artigo 1º, inciso I, aplicável aos empregados regidos pela

Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, pois assim não seria afetado de

forma bruta o orçamento do devedor.

Quanto aos servidores públicos federais, regidos pela Lei 8.112 de 1990,

embora em seu art. 45 não disponha expressamente o percentual, no ano de

2008 foi editado o Decreto de nº. 6.386 na qual em seu artigo 8º limitou o

percentual de 30 % para margem consignável.

Em âmbito Estadual, têm-se dois exemplos, inicialmente os servidores

públicos do Estado do Rio de Janeiro, previu o Decreto 25.547/1999 a

possibilidade de 40% de margem, porém, se o servidor tiver descontos de

prestações de financiamentos imobiliários destinados exclusivamente a sua

residência, e/ou descontos determinados por decisão judicial e cobrança

compulsória de dívida à Fazenda Pública, tal margem poderá ser elevada para

70% do rendimento bruto.

Já os servidores Estaduais de São Paulo, através do Decreto

51.314/2006 ficaram assegurados a margem de 50%, porém diferente dos

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servidores do Rio de Janeiro, não previu a possibilidade de aumento em

nenhuma hipótese, como bem assegura o caput do artigo 6º.

Apesar da assustadora margem de até 70% dos servidores públicos

estaduais do Rio de Janeiro, através da Medida Provisória de nº. 2.515/2001 foi

autorizado a mesma porcentagem para os servidores militares, porém, de

acordo com critérios objetivos tal percentual de margem consignável poderá

ser reduzido sempre com o fito de resguardar o salário do servidor que tem

natureza eminentemente alimentar.

2.3. Possibilidade de redução da margem consignável

Como mencionado anteriormente há diversos tipos de limites de margem

consignável, porém isso não quer dizer que não se possa reduzi-lo, pois a

redução de margem pode ser feita judicialmente, por exemplo, se há um

servidor público estadual do Rio de Janeiro que se enquadre na margem de

70%, ou nem isso, apenas levando em consideração a margem de 40% pode

esta ser reduzida para 30%. Para isso terá de ser movida ação judicial de

obrigação de fazer objetivando tal redução, requerendo a aplicação da margem

de 30% sempre na tentativa de proteger o consumidor que é a parte

hipossuficiente técnico e jurídico da relação de consumo, e muitas vezes

contraem tais empréstimos sem mensurar o grau de comprometimento de sua

renda.

Uma vez que o Código de Defesa do Consumidor, tem natureza de

norma de ordem publica, inclusive com amparo Constitucional previsto no

artigo 5º inciso XXXII, deve ser aplicado o principio da lei mais benéfica ao

consumidor, nas palavras de MARQUES (2010)1, as normas do consumidor

“de observar e assegurar como principio geral da atividade econômica, como

imperativo da ordem econômica Constitucional, a necessária defesa do sujeito

de direitos “consumidor” (art. 170 da CF/88)”.

1BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 3ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2010. p 31.

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Por outro lado, cabe também a aplicação do princípio da hierarquia das

Leis, uma vez que o que regulamenta o desconto de servidor publico estadual

é um Decreto, e a que ordena a margem de 30% é uma Lei Federal, devendo

esta prevalecer sobre as normas de hierarquia inferior.

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CAPÍTULO III

APOSENTADOS E PENSIONISTAS COMO ALVO

PRINCIPAL

3.1 Perfil do consumidor

O Instituto em epígrafe destina-se aos consumidores na maioria das vezes

da faixa etária conhecida como terceira idade que já prestaram sua força de

trabalho a este país e estão atualmente aposentados ou recebem algum tipo de

pensão, quer seja por morte de um cônjuge, por doença ou qualquer outro

motivo afim, consumidores estes que foram descobertos pelas instituições

financeiras, sendo o grande filão do mercado de empréstimos consignados.

Muita das vezes, esses consumidores são responsáveis pelo sustendo de

suas famílias, tendo como única fonte de renda seus proventos de

aposentadoria ou pensão e ao se depararem com um mondo consumista que

atualmente vivemos o apelo das compras, juntamente com as necessidades do

cotidiano, fazem com que procurem obter recursos através do empréstimo

consignado.

3.2 Das armadilhas do empréstimo consignado

Há no mercado enorme gama de Instituições que prestam tal serviço, muita

das vezes oferecendo vantagens manifestamente enganosas, com taxas de

juros acima das permitidas, aquisição de produtos no regime de venda casada,

como por exemplo, além do empréstimo o consumidor é obrigado a adquirir um

cartão de crédito ou um seguro, o que vem sendo combatido inclusive por

nossos tribunais conforme se expõe:

“TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SEGUNDA TURMA RECURSAL Recurso n. 2009.700.050979-6

Recorrente: SABEMI SEGURADORA S/A Recorrido: NELSON

ANTONIO KALE NEVES RELATÓRIO Alega o autor ser aposentado e

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ter celebrado com a ré contrato de empréstimo com descontos

consignados em seus proventos de aposentadoria. Aduz que junto ao

contrato de empréstimo foi obrigado a celebrar contrato de

aposentadoria privada, o qual não requereu, nem necessita, como

pré-condição a concessão do referido empréstimo, configurando tal

prática como venda casada. Informa ainda que a ré vem realizando

lançamentos em duplicidade em seus proventos. Requer a antecipação

da tutela a fim de que a ré se abstenha de efetuar lançamentos em dobro

em seus proventos e impedir que a mesma continue cobrando parcelas

referentes ao contrato de previdência privada, a declaração de nulidade

do contrato de previdência privada, a restituição em dobro os valores

descontados a título de previdência privada, bem como dos lançamentos

em duplicidade, além da condenação da ré a indenizar o autor por danos

morais no valor de R$10.000,00. A sentença julgou PROCEDENTE EM

PARTE o pedido para confirmar a decisão de fls.76, condenar a ré a

restituir em dobro ao autor os valores descontados a título de previdência

privada, bem como os lançados em duplicidade e condenar o réu ao

pagamento da quantia de R$2.000,00 a título de dano moral. Recorreu a

ré, repisando os argumentos da contestação, alegando a inexistência de

venda casada, a ausência de qualquer ato ilícito a ensejar a condenação

em danos morais. Requer a reforma do julgado com a improcedência

dos pleitos autorais ou a diminuição do valor arbitrado a título de danos

morais. VOTO Analisando os autos estou convencida de que a sentença

deu solução adequada à lide. Assim é porque, na hipótese vertida,

restou configurada a chamada "venda casada", entendendo-se

como tal a imposição de contratação de um produto ou serviço para

que outro (serviço ou produto realmente pretendido pelo

consumidor) seja fornecido, estando tal procedimento

perfeitamente caracterizado pela simples leitura dos parágrafos 1° a

3° da cláusula n.3 do documento de fls.69 verso, na medida em que

o mesmo deixa claro que a obtenção do crédito pleiteado pelo

consumidor está subordinado à sua manutenção como

"segurado/participante" do plano de previdência privada mantido

pela ré. Destarte, a ré igualmente não logra êxito em comprovar a

existência de qualquer justo motivo para os lançamentos de parcelas em

duplicidade nos proventos do autor. Assim, configurada a falha na

prestação do serviço, fazendo nascer para a ré a obrigação de indenizar,

bem como a obrigação de restituir, em dobro, todas as quantias

indevidamente descontadas, na forma do art.42, parágrafo único do

CDC, não merecendo a sentença vergastada qualquer reparo neste

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tocante. Também quanto ao valor arbitrado a título de danos morais,

acredito que na sentença guerreada foram observados os critérios da

razoabilidade, bem como da gravidade da conduta, suas conseqüências

e as condições socioeconômicas das partes, sendo certo que o montante

arbitrado a título de dano moral configura-se suficiente, devido e

adequado. ISTO POSTO, VOTO no sentido de que de seja conhecido o

recurso e no mérito lhe seja NEGADO PROVIMENTO, mantendo a

sentença por seus próprios e jurídicos fundamentos. Custas e honorários

pela recorrente, estes fixados em 20% sobre o valor da condenação. Rio

de Janeiro, 13 de agosto de 2009. DANIELA FERRO AFFONSO

RODRIGUES ALVES Juiz Relator 2009.700.050979-6 - CONSELHO

RECURSAL CÍVEL Juiz(a) DANIELA FERRO AFFONSO RODRIGUES

ALVES - Julgamento: 13/08/2009”

(http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw)

Além das práticas acima descritas, passemos a examinar a que mais causa

dano ao consumidor e o que viola a liberdade de contratar que é a reserva da

margem consignável.

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CAPÍTULO IV

IMPOSSIBILIDADE DE RESERVA DE MARGEM

CONSIGNÁVEL

4.1 Introdução

No Capitulo II, expomos o conceito de margem consignável e seus tipos,

aqui mostraremos a possibilidade de restringir a margem consignável do

consumidor em razão de sua vulnerabilidade, pois se este estiver com a sua

margem consignável comprometida, e esta for em patamar elevado como nos

exemplos já expostos, tal situação poderá acarretar o caos em sua vida

financeira.

4.2 Das conseqüências negativas da reserva de margem

Não bastasse a aquisição de cartão de crédito, este serviço traz em seu

conteúdo o chamado RMC – Reserva de Margem Consignável, que consiste

em impedir que o consumidor contrate empréstimo com outra instituição

financeira a não ser aquela que fornecera o cartão de crédito, sendo isto, um

flagrante abuso com o consumidor conforme Apelação Cível nº. 0120065-

90.2009.8.19.0038 e 2010.700.039861-1 através do posicionamento das

Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

“DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Cível

nº 0120065-90.2009.8.19.0038 Apelante: BANCO CRUZEIRO DO SUL S/A

Apelado: BRENO BRASIELAS DIAS RELATORA: DESEMBARGADORA

TERESA DE ANDRADE CASTRO NEVESAPELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE

INDENIZAÇÃO. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO.

INDEVIDARESERVA DE MARGEM EM CONSIGNAÇÃO NA

APOSENTADORIA JUNTO AO INSS. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO.

PRÁTICA ABUSIVA. IMPOSSIBILIDADE DE ADQUIRIR EMPRÉSTIMO EM

OUTRA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. PRECEDENTES DESTA CORTE E DA

CORTE SUPERIOR. DANO MORAL CONFIGURADO.

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1- Apresenta-se ilegal o procedimento do banco que envia cartão ao consumidor

sem a sua prévia solicitação, providenciando bloqueio da margem consignável

em aposentadoria. 2- Prática abusiva. 3- Violação do art. 39, inciso III do

CoDeCon. 4- Consumidor indiretamente prejudicado, impedido de obter

empréstimo, quiçá, em condições melhores de financiamento, por conta da

reserva de margem não autorizada em seu contracheque. 5- Frustração do

consumidor e inegável prejuízo moral vivenciado ante o desrespeito com o

demandante. 6- Danos morais caracterizados, que se afigura, in re ipsa. 7-

Falha na prestação de serviço, nos termos do art. 14, § 1º do CoDeCon. 7-

Quantum indenizatório fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) proporcional e

adequado às circunstâncias do caso concreto, bem como aos parâmetros

adotados por esta Corte. 8- Manutenção da sentença. 9- Pequeno reparo na

sentença, de oficio, para fixar o termo a quo dos juros de mora,conforme

Enunciado nº 18 e Súmula nº 54 do E. STJ e correção monetária a contar da

publicação do presente acórdão, conforme o verbete nº 97 da súmula do TJERJ.

10- NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO RECURSO, com correção de ofício da

data de incidência dos juros de mora. Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2011”

“PROCESSO: 0098529-37.2009.8.19.0001 RECORRENTE: Severino Francisco

da Silva RECORRIDO: Banco Cruzeiro do Sul S/A EMENTA: DESCONTO EM

FOLHA DE PAGAMENTO DE APOSENTADORIA. CONTRATO NÃO

RECONHECIDO PELO AUTOR. CARTÃO DE CRÉDITO ADQUIRIDO PELO

AUTOR. RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. IMPROCEDENTE.

RECURSO DO AUTOR. Autor alegou que tomou ciência de que o réu estava se

apropriando, indevidamente, de parte de seus proventos de aposentadoria,

fazendo consignar a seu favor quantias relativas a empréstimo nunca solicitado e

nunca recebido. Afirmou que nunca celebrara nenhum Contrato de

Empréstimo/Financiamento com Consignação em Folha com a parte ré, assim

como, que desconhecia o contrato de nº 0229002525084, através do qual o réu

se dava ao direito de fazer consignar dez parcelas no valor de R$ 177,78 em sua

folha de pagamento. Autor pleiteou, em tutela antecipada, que o réu cessasse

todo e qualquer desconto em sua folha de pagamento de aposentadorias, sob

pena de multa. E, em definitivo: a) inversão do ônus da prova; b) declaração de

inexistência de qualquer dívida da parte autora com a parte ré, tendo como

objeto o contrato nº 0229002525084; c) reembolso, de forma atualizada, da

quantia de R$ 177,78 que descontou em dezembro/2008 da folha de pagamento

de aposentaria do autor; d) término da consignação de qualquer quantia nas

folhas de pagamento de aposentadoria da parte autora, sob pena de reembolso

e multa; e) indenização por danos morais; f) aplicação de juros de mora e

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atualização monetária sobre o valor da condenação. Anexou cópia do Histórico

de Consignações emitido pela DATAPREV; do Registro de Ocorrência nº 010-

02328/2009. Tutela antecipada deferida para determinar que o réu se abstivesse

de descontar na aposentadoria da parte autora qualquer valor a título de

empréstimo pessoal, a partir da intimação, sob pena de multa no valor

indevidamente descontado, em dobro. Réu argüiu, preliminarmente: a) conexão.

E aduziu, no mérito, que o desconto averbado em seu benefício referia-se a um

contrato de cartão de crédito existente em seu nome e não a qualquer contrato

de empréstimo. Esclareceu que, ao solicitar o referido cartão, o contratante era

informado que, quando do recebimento da fatura, o mínimo a ser cobrado era

descontado automaticamente do seu contracheque. De tal forma, o contrato

averbado sob o nº 02290000034803, o mesmo referiu-se ao valor da reserva

da margem consignada, referente ao valor mínimo do cartão de crédito, que

constaria como ativo durante a vigência do contrato do cartão, não tendo o

autor sofrido qualquer desconto em seu benefício em decorrência da referida

reserva, sendo certo que caberia ao mesmo fazer prova de tal fato, encontrando-

se preclusa tal oportunidade. Salientou não haver qualquer indício de que o autor

sofreu desconto em seu benefício, tendo ocorrido apenas uma reserva de

margem. Por via de conseqüência, inexistindo qualquer prova do aludido

desconto, o pedido deveria ser julgado improcedente. Anexou cópia do Contrato

de Utilização dos Cartões de Crédito do Banco Cruzeiro do Sul S/A Para

Aposentados E Pensionistas Do INSS; CD. Em sede de AC, o Banco Cruzeiro do

Sul esclareceu que a denominação contrato em empréstimo sobre RMC

constantes no histórico de consignações do INSS juntado pelo autor, na verdade,

referia-se à reserva de margem destinada ao pagamento mínimo mensal do

referido cartão, representando a numeração, o registro do cartão de crédito, qual

era: 4218.5112.3231.4019, acrescido em seus quatro últimos dígitos do mês e o

ano em que a reserva de margem foi consignada. Em sede de AIJ, a parte

autora afirmou que celebrou contrato de cartão de crédito com o réu, apenas

desconhecendo o contrato de empréstimo na inicial. O juízo entendeu ser

desnecessário oitiva do CD trazido pela ré, pois o conteúdo do mesmo, segundo

informado pelo patrono da ré, é a contratação do cartão de crédito pela autora,

fato que se tornou incontroverso. O patrono do autor discordou das alegações do

réu, tendo em vista que eram contrárias às informações contidas no documento

de fls. 11, o qual constava período inicial de 10/12/2008 e período final

10/01/2009 sobre nomenclatura Reserva de Margem Consignável e empréstimo

no valor de R$ 3.548,00. Frisou-se, ainda, a ausência de informações ao autor

no momento da entrega do cartão de crédito, violando as normas do CDC.

Sentença de fls. 69/71 rejeitou a preliminar suscitada. Julgou IMPROCEDENTE

A PRETENSÃO. Tendo em vista que a celebração do contrato de cartão de

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crédito era incontroversa, pois a parte autora confirmou tal fato em AIJ, lícita a

conduta do réu, que em obediência ao contrato celebrado efetuou o desconto no

contracheque da parte autora do valor mínimo do total da fatura de consumo.

Portanto, não tendo havido prática de ato ilícito pelo réu, deveria a pretensão

autoral ser julgada improcedente, pois o contrato impugnado pela parte autora

não se tratava de empréstimo, mas de contrato de cartão de crédito reconhecido

pela parte autora. Recurso autor requerendo a reforma total da sentença de

mérito, reeditando os argumentos. Gratuidade de justiça. Contrarrazões

requerendo a manutenção da sentença de mérito, também reeditando os

argumentos. É o relatório: VOTO: Inicialmente, quanto à argüição de conexão

em relação ao processo 2009.001.096927-1 (fls. 46), não há nos autos prova

que sejam os mesmos contratos. Em defesa a ré sustenta que o contratante era

informado que, quando do recebimento da fatura, o mínimo a ser cobrado era

descontado automaticamente do seu contracheque. Após ouvir a gravação do

CD juntado pela ré aos autos, verifico que o autor não possui muita instrução,

mal sabendo informar seu endereço. Apesar da preposta da ré informar sobre o

desconto direto em folha de benefício de 5% do valor mínimo da fatura em caso

de efetiva utilização do cartão, esta informação não é prestada de forma clara,

tendo inclusive, esta relatora que rever a gravação para entender a

informação. A preposta informa que antes do envio do cartão seria enviado

contrato ao autor bem como panfleto informativo, com todos os termos,

para que depois de lido, fosse devolvido à ré. Em momento algum informa

sobre a reserva permanente de margem consignável na folha de benefício.

O autor, inclusive, na gravação, diz que iria pensar e pergunta se em não

querendo contratar poderia cancelar a avença, sendo-lhe franqueada

resposta afirmativa. Não consta nos autos o contrato assinado pelo autor, que

provaria que este ratificou a pré-contratação por telefone. A ré não comprova que

o autor utilizou efetivamente o cartão que lhe foi enviado. Declaração de

inexistência de débito que merece prosperar. Quanto ao pedido de devolução

dos valores descontados em folha, o autor não comprovou que estes

efetivamente ocorreram. O documento de fls. 11 consta apenas que houve

reserva de margem consignável. Quanto ao dano moral, houve falha na

prestação do serviço por parte da ré, uma vez que não forneceu esclarecimentos

adequados ao consumidor, nos moldes do artigo 6o, III, do CDC. Com efeito, a

ré não se desincumbiu do ônus de comprovar que informou previamente à parte

autora a respeito da possibilidade da reserva de margem consignável, quando da

celebração do pré-contrato. Nesse ponto, o descumprimento do dever de

informação, sob nenhum aspecto, se coaduna com o princípio da boa-fé objetiva.

Também não comprovou a ratificação do contrato pelo autor, já que este só

ocorreria quando, depois de recebido o contrato, o autor o lê-se, assinasse e o

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devolvesse a ré. Falha na prestação do serviço. Dano moral configurado.

Razoabilidade da quantia de R$2.000,00. Sentença que merece reforma. Pelo

exposto, VOTO no sentido de dar provimento ao recurso, julgando procedente

em parte os pedidos, para: a) DECLARAR a inexistência de qualquer dívida da

parte autora com a parte ré referente ao contrato nº 0229002525084; b)

CONDENAR a ré a se abster de reservar qualquer quantia (consignação de

margem) na folha de benefício da parte autora, sob pena de multa a ser fixada

em eventual fase de execução; e, c) CONDENAR a ré a pagar a parte autora a

quantia de R$2.000,00 de danos morais, com correção monetária a contar desta,

e juros legais desde a citação válida. JULGO IMPROCEDENTE o pedido de

restituição. Sem ônus sucumbenciais. Christiane Jannuzzi Magdalena Juíza

Relatora 2010.700.039861-1 - CONSELHO RECURSAL CÍVEL Juiz(a)

CHRISTIANE JANNUZZI MAGDALENA - Julgamento: 03/08/2010”

Em resumo, por se tratar de prática abusiva rechaçada por nossos

tribunais por consistir em ofensa as regras protetivas do CDC, o consumidor

sempre deverá ficar atento a esta armadilha das instituições financeiras, para

não se ver superendividado, tendo de recorrer muitas vezes ao judiciário e

aguardar por uma sentença que pode levar anos sem lhe dar a solução

adequada.

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CAPÍTULO V

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

5.1 Da violação da liberdade contratual

Com a reserva de margem, o consumidor, tem violado um dos seus

direitos básicos previstos no artigo 6º inciso II do CDC, que é a liberdade de

escolha, que na opinião de Fábio Ulhoa Coelho2:

“A legislação civil sobre contratos pressupõe a existência de

partes livres e iguais que transigem sobre os seus respectivos

interesses, com pleno domínio da vontade. As pessoas, neste contexto,

contratam se quiserem, com quem quiserem e como quiserem. A idéia

de ser o contrato lei entre as partes corresponde a este cenário

pressuposto das normas civis e empresariais.

A realidade das relações de consumo, no entanto, é bem

diferente. O consumidor não contrata se quiser, com quem quiser e

como quiser, mas se vê muitas das vezes obrigado a contratar bens e

serviços essenciais, de um ou poucos fornecedores e sem a menor

possibilidade de discutir os termos da negociação” COELHO ( 2010)

Claudia Lima Marques3 compreende a importância do marketing como

forma de divulgação de informação conforme se expõe:

“ O inciso II do art. 6º traz o direito de livre escolha e de igualdade das

contratações. Estes direitos estão consolidados em todas as normnas de

proteção contratual do CDC ( art. 46 e SS), mas com especial atenção

naquelas que cuidam da parte pré-contratual e publicidade (art. 30 e SS)

e de práticas comerciais abusivas,( art. 39 e SS), inclusive combatendo a

discriminação de consumidores (art. 39, II, IV e IX), as praticas

anticoncorrenciais e vendas casadas (art. 4 VI e 39 I). O Código de

2 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, direito do empresa. 22ª Ed. 2010. Pag. 100 3 BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 3ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2010. p 68.

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Defesa do Consumidor reconhece a importância das novas técnicas de

vendas muitas delas agressivas, do marketing e do contrato como forma

de informação do consumidor, protegendo seu direito de escolha e sua

autonomia racional, através do reconhecimento de um direito mais forte

de informação(art. 30, 31, 34, 46, 48 e 54) e um direito de reflexão (art.

49).” (MARQUES, 2010)

Já Maria Celina Bodin de Moraes (2009), conceitua:

“o principio da liberdade individual se consubstancia, cada vez mais, numa

perspectiva de privacidade, de intimidade, de exercício da vida privada.

Liberdade significa, hoje, poder realizar, sem interferências de qualquer

gênero, as próprias escolhas individuais, exercendo-as como melhor

convier” MORAES , (2009)4

O consumidor deve se sentir livre para escolher o produto ou o serviço

que melhor lhe convier, não podendo ficar “amarrado” a um único fornecedor

como ocorre com a reserva de margem no empréstimo consignado, o que deve

ser combatido em todas as esferas do Poder Público.

5.2 Do direito a informação clara e precisa

No V Congresso Brasileiro do Direito do Consumidor foi aprovado por

unanimidade que o princípio da informação adequada nos contratos de

consumo envolve o dever de informar, não apenas no momento da celebração

contratual, mas devendo avançar durante todo o período de execução

contratual.

A informação é fundamental ao consumidor, tanto que está capitulado

como direito básico previsto no artigo 6º, inciso III do Código de Defesa e

Proteção do Consumidor, para que este se sinta seguro acerca do serviço que

está contratando, pois na maioria das vezes é pessoa leiga e deve obter os

esclarecimentos satisfatórios sobre preço do serviço, taxa de juros, a quem

reclamar conseqüência da inadimplência e se assim o desejar a possibilidade

4 MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos a Pessoa Humana. São Paulo: Editora Renovar, 2009. p 107)

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de rescisão antecipada do contrato, conforme REsp. 586.3165 do STJ pelo

Ministro Herman Benjamin.

Assim, leciona COELHO (2010): “A idéia do consumidor racional, é bem

verdade, nem sempre corresponde à realidade. São notáveis, na cultura

consumeirista de nossos tempos, as escolhas fundadas apenas em motivações

emocionais.”6

Sem tais informações prestadas de forma precisa, o consumidor se torna

vulnerável em total ofensa a mais um princípio que é o do equilíbrio contratual

entre as partes, pois dificilmente está totalmente ciente das cláusulas

contratuais, ou por ignorância ou pela simples ausência de leitura.

5.3 Da violação ao princípio da boa fé objetiva.

Com o advento do Código do Consumidor em 1990, é que a boa fé

objetiva foi realmente consagrada em nosso ordenamento jurídico através do

art. 4º inciso III do CDC, derivada dos dizeres constitucionais, essa modalidade

de boa-fé começou então a ser utilizada para interpretações contratuais,

integração de obrigações pactuadas, mostrando-se absolutamente

fundamental, para que as partes de um negócio jurídico pudessem agir com

lealdade perante o outrem, até o cumprimento de suas obrigações.

Nesse sentido, a ilustre doutrinadora define boa-fé, e, ainda, boa-fé

objetiva da seguinte forma:

“(...) uma atuação “refletida”, uma atuação refletindo, pensando no outro,

no parceiro contratual, respeitando seus interesses legítimos, seus

direitos, respeitando os fins do contrato, agindo com lealdade, sem

5 Informação adequada, nos termos do art. 6º, III do CDC, é aquela que se apresenta simultaneamente completa, gratuita e útil, vedada, neste último caso, a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer serventia para o consumidor”(STJ-2ªT., Resp. 586.316, Ministro Herman Benjamin, j. 17.4.07, DJ 19.3.09) 6 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, direito da empresa. 22ª Ed. 2010. p. 213)

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abuso da posição contratual, sem causar lesão ou desvantagem

excessiva, com cuidado com a pessoa e o patrimônio do parceiro

contratual, cooperando para atingir o bom fim das obrigações, isto é, o

cumprimento do objetivo contratual e a realização dos interesses

legítimos de ambos os parceiros. Trata-se de uma boa-fé objetiva, um

paradigma de conduta leal, e não apenas da boa-fé subjetiva,

conhecida regra de conduta subjetiva do artigo 1444 do CCB. Boa-fé

objetiva é um standard de comportamento leal, com base na confiança,

despertando na outra parte co-contratante, respeitando suas

expectativas legítimas e contribuindo para a segurança das relações

negociais.”7 MARQUES (2010)

Nesse sentido ensina PASQUALOTTO (1997) apud SIMÂO (2010) que,

“do ponto de vista objetivo, a boa fé assume a feição de uma regra ética

de conduta. É a chamada boa-fé lealdade. É a Treu und Glauben do

direito alemão. Segundo Larenz, cada um deve guardar fidelidade à

palavra dada e não defraudar a confiança ou abusar da confiança

alheia”.8

Em suma, a boa-fé constitui uma regra de conduta que condiciona e

legitima toda experiência jurídica, desde a interpretação dos mandamentos

legais e das cláusulas contratuais, até as suas últimas conseqüências.

7 BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 3ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2010. p 70. 8 PASQUALOTTO (1997) apud SIMÂO, José Fernando. Direito Civil. 4ª Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010.

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CAPITULO VI

DA CONFIGURAÇÃO DO MORAL

6.1 Conceito

Muitas foram as divergências de conceituação de dano moral,

principalmente no que tange ao patrimonial e ao extra patrimonial, se havia ou

não lesão ao patrimônio financeiro da pessoa, hoje como bem expõe Maria

Celina Bodin de Moraes:

“Atualmente, doutrina e jurisprudência dominantes têm como adquirido

que o dano moral é aquele que, independentemente de prejuízo

material, fere direitos personalíssimos, isto é, todo e qualquer

atributo que individualiza cada pessoa, tal como a liberdade, a

honra, a atividade profissional, a reputação, as manifestações

culturais e intelectuais, entre outros. O dano é ainda considerado

moral, quando os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de

seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou

humilhação à vitima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas.

Neste último caso, diz-se necessário, outrossim, que o constrangimento,

a tristeza, a humilhação, sejam intensos a ponto de poderem facilmente

distinguir os aborrecimentos e dissabores do dia-a-dia, situações comuns

a que todos se sujeitam, como aspectos normais da vida cotidiana.”

(MORAES, 2009) 9.

Assim sendo, há de se distinguir dano moral e aborrecimento

comezinhos do dia-a-dia, pois este, não é passível de indenização.

6.2 Configuração do dano moral nos contratos de empréstimo consignado

Uma vez violado todos os princípios basilares do Código de proteção e

Defesa do Consumidor, sofre o cliente, dano moral, uma vez que além das

instituições financeiras violarem os princípios norteadores, sempre causam ao

9 MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos a Pessoa Humana. 4ª Ed. São Paulo: Editora Renovar, 2009. pag. 157 e 158.

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consumidor outros danos como neagtivação indevida, onerosidade excessiva,

repetição do indébito e etc., conforme pacifico entendimento jurisprudencial:

0004726-31.2008.8.19.0002 (2009.001.04205) - APELACAO - 1ª Ementa DES.

LEILA ALBUQUERQUE - Julgamento: 04/03/2009 - DECIMA OITAVA CAMARA

CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. INDEVIDA RESERVA

DE MARGEM CONSIGNÁVEL. IMPOSSIBILIDADE DE CONTRAIR

EMPRÉSTIMO. MÁ PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. DANO MORAL. SENTENÇA

QUE SE REFORMA.Alega o Autor que o Réu, em outubro de 2007, de forma

indevida, emitiu um cartão denominado Card Melhor Idade sem qualquer

solicitação do Autor, bloqueando, assim, a margem consignável de seus

proventos de aposentadoria, o que inviabilizou a contratação de empréstimo para

pagar as inúmeras contas em atraso em razão da crise financeira pela qual

passava à época.Pedido julgado procedente, sendo o Réu condenado ao

pagamento de verba indenizatória no valor de R$ 1.500,00.Clara a

responsabilidade do banco Réu quanto à impossibilidade do Autor em

contrair empréstimos e pelos percalços por ele atravessados, restando claro o

dever de indenizar pelos danos morais por este suportados. Valor fixado em

quantum insuficiente e inadequado ao caso em tela, devendo o pedido do

Apelante para que haja sua majoração ser acolhido, sob pena de não se

observar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade que norteiam o dano

moral. Majoração para R$ 3.000,00. Precedentes de nosso Tribunal de

Justiça.PROVIMENTO DO RECURSO.

0006376-27.2008.8.19.0063 - APELACAO - 1ª Ementa DES. SERGIO

JERONIMO A. SILVEIRA - Julgamento: 04/02/2010 - NONA CAMARA CIVEL

Direito do Consumidor. Ação de Responsabilidade Civil - Empréstimo

Consignado. Desconto do beneficio previdenciário da reserva de margem

consignável. A Instituição Financeira responde pelos danos morais e

materiais causados pela má prestação do serviço. Dano moral caracterizado.

Restituição dos valores cobrados indevidamente em dobro. Quantum fixado

na sentença a titulo de indenização por dano moral mostra-se em desacordo

com os critérios adotados por esta Câmara e Tribunal. Majorado para o patamar

de R$ 8.000,00, estando condizentes com princípios da razoabilidade e

proporcionalidade. Dá-se parcialmente provimento ao 1º recurso e nega-se

seguimento ao 2º recurso, na forma do art. 557,§ 1º-A, e 557, caput do CPC.

Não havendo critério legal para a quantificação dos danos morais, o valor da

indenização não deve ser exagerado, para não fomentar o enriquecimento

indevido, nem inexpressivo a fim de não estimular a reprise da conduta ilícita.

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Isto tudo considerado, arbitro o valor da indenização por danos morais em R$

5.000,00 (cinco mil reais)

Com isso, deve, portanto o consumidor ser recompensado pelos danos

morais sofridos como bem ensina Maria Celina Bodin de Moraes:

“Aquele que sofre um dano moral deve ter direito a uma satisfação de cunho

compensatório. Diz-se compensação, pois o dano não é propriamente

indenizável; “indenizar” é a palavra que provém do latim, “in dene”, que significa

devolver (o patrimônio) ao estado anterior, ou seja, eliminar o prejuízo e suas

conseqüências – o que, evidentemente, não é possível no caso de uma lesão de

ordem extrapatrimonial. Prefere-se, assim, dizer que o dano é compensável,

embora, o próprio texto constitucional, em seu art. 5º, X, se refira a indenização

do dano moral”

A própria lei de consumo, prevê uma indenização de cunho

extrapatrimonial para compensar os danos morais sofridos pelos consumidores

conforme elencados no art. 6, VI CDC, onde veremos o quantum indenizatório

a seguir.

6.3 Critério do quantum indenizatório

A reparação do dano moral deve ter em vista possibilitar ao lesado uma

satisfação compensatória e, de outro lado, exercer função de desestímulo a

novas práticas lesivas, de modo a inibir comportamentos anti-sociais do

lesante, ou de qualquer outro membro da sociedade, traduzindo-se em

montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que não se

aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo.

Conforme atual doutrina sobre o tema, Carlos Alberto Bittar (1993) apud

SIMÃO (2010) acentua:

“A indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertência ao lesante e à sociedade de que não se aceita o comportamento

assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em

importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de

modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a

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resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois,

ser quantia economicamente significativa, em razão das potencialidades do

patrimônio do lesante.” (BITTAR, 1993 apud SIMÃO 2010)10

Não divergindo, SILVA (2008) apud SIMÃO (2010) afirma:

“Os dois critérios que devem ser utilizados para a fixação do dano moral são a

compensação ao lesado e o desestímulo ao lesante. Inserem-se nesse contexto

fatores subjetivos e objetivos, relacionados às pessoas envolvidas, como análise

do grau da culpa do lesante, de eventual participação do lesado no evento

danoso, da situação econômica das partes e da proporcionalidade ao proveito

obtido como ilícito.” (SILVA, 2008 apud SIMÃO, 2010)11

Sobre o tema, colhe-se da jurisprudência:

[...] O valor da indenização do dano moral deve ser arbitrado pelo juiz de maneira

a servir, por um lado, de lenitivo para o abalo creditício sofrido pela pessoa

lesada, sem importar a ela enriquecimento sem causa ou estímulo ao prejuízo

suportado; e, por outro, deve desempenhar uma função pedagógica e uma séria

reprimenda ao ofensor, a fim de evitar a recidiva [...] (TJSC, AC n. 2001.010072-

0, de Criciúma, rel. Des. Luiz Carlos Freyeslebem, Segunda Câmara de Direito

Civil, j. em 14-10-04).

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO

POR DANOS MORAIS - NEGATIVAÇÃO NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO

CRÉDITO - ATO ILÍCITO CARACTERIZADO - DANO MORAL PRESUMIDO -

DEVER DE INDENIZAR - MAJORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO -

ADEQUAÇÃO AOS LIMITES DA RAZOABILIDADE E DA

PROPORCIONALIDADE - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - MODIFICAÇÃO

DESNECESSÁRIA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO

A indenização por danos morais deve ser fixada com ponderação, levando-se

em conta o abalo experimentado, o ato que o gerou e a situação econômica do

lesado; não podendo ser exorbitante, a ponto de gerar enriquecimento, nem

irrisória, dando azo à reincidência.

Conforme precedentes da Terceira Câmara de Direito Civil deste

Tribunal, a indenização por dano moral em R$ 9.100,00 (nove mil e cem reais)

10 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1993. p. 220. 11SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Direito Civil: Contratos.4ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2010.

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apresenta-se satisfatória para compensar o abalo sofrido pela negativação do

nome nos órgãos de proteção ao crédito.[...](TJSC, Apelação Cível n.

2006.043326-9, de Joinville, Relator: Des. Fernando Carioni, 27/02/2007.)

Sendo assim, apesar do empréstimo consignado visar trazer aos

consumidores taxas de juros acessíveis, facilidade na contratação atingindo

assim sua função social, por outro lado, pode trazer inúmeros transtornos

causando um superendividamento que transcende a ofensa a vida financeira

do consumidor pois uma dívida impagável tira-lhe o sossego e a paz, devendo-

se sempre estar em perfeito equilíbrio os ditames do contrato para se evitar tal

situação, e quando ocorrida ser reparada com equidade.

6.4 Critério Punitivo do dano moral para as instituições financeiras

No ato do arbitramento do dano moral, há de ser considerado o caráter

punitivo da obrigação proporcional ao dano causado, ou seja, no caso em tela,

se reservam a margem do consumidor, equivalente a um empréstimo de mil

reais, deverá ser este o valor compensatório pelos danos morais sofridos, uma

vez que a intenção aqui seja de inibir a reincidência do ato de reserva de

margem e não lucrar o consumidor tampouco falir as instituições bancárias.

Não há critérios objetivos para calculo da expiração pecuniária do dano

moral, que, por definição mesma, nada tem com eventuais repercussões

econômicas do ilícito. A indenização é, pois, arbitrável e tem a finalidade de

compensar a sensação de dor da vitima com uma sensação agradável em

contrário.

Segundo o conceito apresentado por MORAES (2009):

“Aquele que sofre um dano moral deve ter direito a uma satisfação de cunho

compensatório. Diz-se compensação, pois o dano não é propriamente

indenizável; “indenizar” é a palavra que provém do latim, “in dene”, que significa

devolver (o patrimônio) ao estado anterior, ou seja, eliminar o prejuízo e suas

conseqüências – o que, evidentemente, não é possível no caso de uma lesão de

ordem extrapatrimonial. Prefere-se, assim, dizer que o dano moral é

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compensável, embora o próprio texto constitucional, em seu art. 5º, X, se refira á

indenização do dano moral.” (MORAES ,2009)12

Em suma, a reparação do dano moral deve ter em vista possibilitar ao

lesado uma satisfação compensatória e, de outro lado, exercer função de

desestímulo a novas práticas lesivas, de modo a inibir comportamentos anti-

sociais do lesante, ou de qualquer outro membro da sociedade, traduzindo-se

em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que não

se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo.

12 MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos a Pessoa Humana. 4ª Ed. São Paulo: Editora Renovar, 2009. P ?

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CONCLUSÃO

Apesar do empréstimo consignado visar trazer aos consumidores taxas

de juros acessíveis, facilidade na contratação atingindo assim sua função

social, por outro lado, pode trazer inúmeros transtornos causando um

superendividamento que transcende a ofensa a vida financeira do consumidor

pois, uma dívida impagável tira-lhe o sossego e a paz, devendo-se sempre

estar em perfeito equilíbrio os ditames do contrato para se evitar tal situação, e

quando ocorrida ser reparada com equidade.

Ao analisar a pesquisa desenvolvida, pode-se verificar a quantidade de

irregularidades e arbitrariedades que as instituições financeiras praticam com

os consumidores que são parte hipossuficiente da relação jurídica impondo um

contrato de adesão no qual o consumidor não tem condições de analisar, e se

tem não há a possibilidade de alteração.

Sendo constatada a reserva da margem consignável devem os

consumidores postular ação de obrigação de fazer, requerendo o

cancelamento, bem como os magistrados ao analisar o dano moral, este

deverá seguir o critério punitivo, pois de que adianta condenações baixas se

para o banco não há qualquer grau de significância.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 3ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2010. BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1993. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, direito do empresa. 22ª São Paulo: Editora Saraiva, 2010. MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos a Pessoa Humana. 4ª Ed. São Paulo: Editora Renovar, 2009. PASQUALOTTO (1997) apud SIMÂO, José Fernando. Direito Civil. 4ª Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010)

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 01

AGRADECIMENTO 02

DEDICATÓRIA 03

RESUMO 04

METODOLOGIA 05

SUMÁRIO 06

CAPITULO I – Considerações iniciais 07

1.4 Relevância do Tema 07

1.5 Objetivo 08

1.6 Metodologia 08

CAPÍTULO II - Margem Consignável 10

2.1 Conceito 10

2.2 Dos diversos tipos de margem consignável 10

2.3 Possibilidade de redução da margem consignável 11

CAPÍTULO III - Aposentados e Pensionistas como alvo principal 13

3.1 Perfil do Consumidor 13

3.2 das armadilhas do empréstimo consignado 13 CAPÍTULO IV – Impossibilidade de Reserva de Margem Consignável 16

4.1 Introdução 16

4.2 das conseqüências negativas da reserva de margem 16

CAPITULO V – Violação aos Direitos básicos do Consumidor 21

5.1 Da violação da liberdade contratual 21

5.2 Do direito a informação clara e precisa 22

5.3 Da violação ao principio da boa fé objetiva 23

CAPITULO VI – Do dano moral 25

6.1 Conceito 25

6.2 Configuração do dano moral nos contratos de empréstimo consignado 25

6.3 Critério do quantum indenizatório 27

6.4 Critério punitivo do dano moral para as instituições financeiras 29

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA CITADA 32

ÍNDICE 33

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Práticas abusivas e publicidade na oferta de crédito consignado

Publicado em 17 de julho de 2011 por Dr. Ariovaldo dos Santos

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) reconhece que o consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo, pois o fornecedor tem total conhecimento sobre o produto ou sobre o serviço que está oferecendo, devendo informar sobre as condições desse produto ou serviço de forma clara, permitindo ao consumidor que decida sobre sua escolha.

Existe consumidor que é mais do que vulnerável, é hipossuficiente por ter condições abaixo da média, por ter pouco conhecimento, por ser criança ou idoso, por ter uma saúde frágil ou ainda, por não ter condições de avaliar o produto que está consumindo ou o serviço que está contratando.

A vulnerabilidade é comum a todos os consumidores enquanto que a hipossuficiência é limitada a alguns consumidores. O Código de Defesa do Consumidor cuida destas pessoas de forma diferenciada.

Quando o fornecedor utiliza-se de uma técnica de mercado aproveitando-se da fragilidade do consumidor hipossuficiente, sua prática é considerada abusiva.

O inciso IV do artigo 39 do CDC proíbe os fornecedores de “prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços”.

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Algumas práticas utilizadas no mercado de consumo ou na publicidade podem levar os consumidores a adquirir produtos ou serviços sem necessidade, ou de forma inconveniente, pois se fossem mais bem informados eles não consumiriam, ou consumiriam de forma diferente.

Nesse universo de consumidores mais frágeis está a população idosa, que tem crescido muito no Brasil, diante da melhoria das condições de vida e na maior expectativa de vida.

Com esses atributos, os idosos passaram a ser um grupo atraente para o mercado e sendo assim eles se tornaram alvo da publicidade direcionada.

Há publicidade prometendo saúde, beleza e vigor eterno além de outros prodígios que a técnica atual ainda verdadeiramente não dispõe.

Um produto que é muito oferecido para os idosos é o crédito consignado, criado em setembro de 2004, por meio da Lei nº 10.953;

Sua oferta indica a possibilidade de consumo de todos os bens desejados, pois se trata de um empréstimo bancário, com o pagamento em parcelas que serão descontadas diretamente dos proventos do aposentado ou pensionista.

Embora os juros do crédito consignado sejam menores em relação a outras operações, (´Trabalho para discussão nº 108`. Brasília: BCB-Depep, jun. 2006, p. 1-30, Valor, São Paulo 07 ago. 2006, p. C8), este produto já está causando alguns problemas de superendividamento nesse grupo que passa a atender não somente o objeto dos seus próprios desejos, como também o de parentes ou outros.

Os contratos realizados nem sempre são claros na informação quanto aos direitos e deveres do consumidor.

Não é raro que quando se iniciam os descontos nos rendimentos da aposentadoria, surgem surpresas desagradáveis, normalmente decorrentes da falta de observância do concessor do crédito ao CDC. Se isso ocorrer, o aposentado tem o direito de ver cessado o desconto em seu beneficio previdenciário.

O devedor tem de pagar o que deve; e o credor de receber exatamente aquilo que lhe é direito. O que não se permite é a execução dos débitos diretamente nos benefícios do devedor sem plena obediência ao CDC.

Assim, antes de contratar, deve o interessado ter uma postura crítica em relação às publicidades.

Elas podem ser informativas, mas também podem conter armadilhas, portanto:

• Pense antes de adquirir o empréstimo. • Reflita sobre sua real necessidade. • Não contrate por impulso ou apenas levado pela publicidade. • Havendo qualquer dúvida quando o contrato for apresentado, se oriente com

advogado ou em órgão de defesa do consumidor.

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Fonte: (http://advariovaldo.com.br/blog/artigos/praticas-abusivas-credito-consignado) segunda-feira, 30 de março de 2009 A ilegal reserva de margem consignatória em cartão de

crédito não solicitado

Postado por Gilberto de Souza às 21:43

por Gilberto de Souza

A consignação em folha de pagamento garante diversas vantagens a quem recorre aos empréstimos bancários. A principal delas é a redução da taxa de juros.

Antes da Lei n° 10820/03 somente os funcionários públicos tinham acesso a essa linha de crédito. Com esta lei, foi estendido a possibilidade para que os trabalhadores regidos pela CLT e os aposentados e pensionistas do INSS pudessem realizar esta operação.

Para haver a consignação é exigido expressa autorização do contratante do empréstimo bancário para este fim.

Além disto, há um limite consignatório estabelecido por lei que é variável e é denominado de margem consignável. Via de regra, os celetistas, aposentados e servidores públicos tem um limite de 30% da remuneração descontadas as parcelas de consignação obrigatória, que são estabelecidas por lei ou decisão judicial como o IR retido na fonte e a pensão alimentícia. Os funcionários públicos tem um limite fixado em legislação própria.

Ocorre que alguns Bancos, de posse dos dados do cliente que solicita o empréstimo consignado, estão enviando para os mesmos, sem qualquer solicitação, um cartão de crédito. Medida por si só abusiva e vetada pelo art. 39, inc. III do Código de Defesa do Consumidor, com uma agravante: uma reserva de margem consignatória, causando uma diminuição do limite de crédito do consumidor.

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Este procedimento vai de encontro à norma consumerista citada, bem como as regras que regem o Empréstimo Consignado que exige a autorização expressa do consumidor para o desconto ser processado. Se não houve solicitação do cartão de crédito é evidente que esta autorização inexiste e a reserva não poderia ter sido feita.

Pode-se até alegar que na autorização do desconto em folha para o empréstimo havia previsão para uma reserva de margem para o Cartão de Crédito e neste caso tenho que lembrar que venda casada é vedada pelo CDC gerando nulidade do contrato.

Cabe esclarecer que a reserva de margem é efetuada antes mesmo de o consumidor ter recebido o Cartão de Crédito.

Quando o consumidor receber este cartão verifique, antes de libera-ló, o que consta no contrato. Se constar a possibilidade de Reserva de Margem Consignatória ligue para o 0800 manifeste o descontentamento com esta Cláusula, determine que a reserva seja imediatamente excluída que posteriormente seja cancelado o Cartão de Crédito. Assinale um prazo para que a medida seja cumprida. Não esqueça de anotar o número do protocolo, o horário de atendimento (início e término da ligação) e o nome do funcionário que lhe atendeu. E, finalmente, guarde todos estes dados juntamente como cartão e o contrato que foi enviado na correspondência.

Após o prazo estipulado verifique se consta alguma reserva de margem (o INSS, por exemplo, emite um extrato de todas as operações financeiras realizadas pelos aposentados onde é fácil de verificar esta reserva) e caso exista em nome do Banco que lhe enviou o cartão de crédito procure um advogado munido dos documentos citados para que ele tome as medidas cabíveis ao caso concreto e as necessidades de quem precisa do cancelamento da Reserva de Margem.

Fonte: (http://gilbertosouzaadvogado.blogspot.com/2009/03/ilegal-reserva-de-margem-consignatoria.html)