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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA
ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)
Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo
4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de
agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da
concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores
privado, público, cooperativo e social;
Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo
artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22
de agosto;
Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da
Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-
Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º
126/2014, de 22 de agosto;
Visto o processo registado sob o n.º ERS/066/2015;
I. DO PROCESSO
I.1. Origem do processo
1. Em 28 de abril de 2015, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou
conhecimento de uma reclamação apresentada em 10 de abril de 2015 por N.,
relativa à morte de um bebé de quarenta semanas e cinco dias de gestação, no
decurso de um parto realizado no Hospital José Joaquim Fernandes,
estabelecimento registado no SRER da ERS sob o n.º 103939, integrado na
Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE (ULSBA), entidade prestadora de
cuidados de saúde registada no SRER da ERS, sob o n.º 12632.
2. Esta reclamação foi inicialmente tratada no âmbito do processo n.º
REC/9610/2015, tendo posteriormente sido determinada a abertura do processo
de avaliação registado sob o n.º AV/155/2015 para uma averiguação mais
aprofundada dos factos expostos.
3. No entanto, face à necessidade de uma investigação mais pormenorizada do caso,
ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o respetivo Conselho de
Administração deliberou, por despacho de 18 de novembro de 2015, proceder à
abertura do presente processo de inquérito, registado sob o n.º ERS/066/2015.
I.2. Diligências
4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as
diligências consubstanciadas em:
(i) Pesquisa no SRER da ERS relativa à entidade e ao estabelecimento
prestador de cuidados de saúde visados na reclamação, em 6 de maio de
20161;
(ii) Pedidos de elementos ao prestador, em 8 de setembro de 2015, 22 de
outubro de 2015, 30 de novembro de 2015 e 8 de janeiro de 2016, e
análise das respetivas respostas2;
(iii) Parecer do perito médico da ERS, em 17 de fevereiro de 20163.
II. DOS FACTOS
II.1 Factos relativos à reclamação apresentada na ERS
5. Na reclamação rececionada na ERS, em 28 de abril de 2015, o exponente refere o
seguinte:
“[…]
Eu pai N.[…] portador do BI […] dei entrada neste hospital, acompanhado
pela esposa J.[…] portadora do BI […] pelas 18h00 (dia 09-04-2015) grávida
1 Conforme print junto aos autos.
2 Conforme documentos juntos aos autos.
3 Conforme relatório junto aos autos.
de 40 semanas e 5 dias já com as águas rebentadas pelas 17h30 tendo a
mesma sido acompanhada pelos médicos do piso 5, […] e […].
Os mesmos sabendo do que o parto não estava a correr normalmente;
havendo registos por volta das 24h00, que o bebé não estava bem decidiram
dar a epidural normalizando assim J.[…] de algumas dores e deminizando as
suas contrações. Tal se se arrastou até ao final de uma drástica notícia: pelas
06h00 decidiram fazer cesariana dando assim fim há vida do pequeno D.[…].
Nota: Por este meio informo esta [negligência] médica”.
II.2. Factos relativos às respostas do prestador aos pedidos de informação da
ERS
6. Na resposta à reclamação apresentada, o prestador informou o reclamante, em 14
de abril de 2015, que, na sequência daquela exposição, datada de 10 de abril de
2015, o Conselho de Administração da ULSBA deliberou, nesse mesmo dia, pela
abertura de um processo de inquérito para averiguações e esclarecimento dos
factos e que, após o seu terminus, levaria ao seu conhecimento as respetivas
conclusões.
7. Face ao conteúdo da descrita reclamação, e considerando a necessidade de
carrear outros elementos para os autos, por ofício de 8 de setembro de 2015, foi
enviado ao prestador visado um pedido de elementos da ERS, solicitando:
“[…]
a) Esclarecimentos fundamentados sobre a situação descrita na referida
reclamação;
b) Informação sobre o aludido processo de inquérito interno a decorrer, ou, no
caso de este ter já terminado, informação sobre as conclusões da comissão
de inquérito, bem como cópia de todos os elementos recolhidos no âmbito
desse processo;
c) Descrição de todas as etapas percorridas pela utente J.[…], desde a sua
admissão até à realização do parto e procedimentos subsequentes, com
indicação de data, hora e profissional responsável pela sua
operacionalização, por nome, categoria profissional, funções e serviço em
que o mesmo se integra, acompanhada do respetivo suporte documental;
d) Indicação, com envio da documentação respetiva, dos protocolos clínicos
de prática anestésica em vigor, bem como se no caso concreto os mesmos
foram seguidos e em que moldes;
e) Indicação, com envio da documentação respetiva, dos procedimentos de
monitorização fetal implementados, bem como se no caso concreto os
mesmos foram seguidos e em que moldes;
f) Indicação, com envio do suporte documental comprovativo, sobre se a
situação foi incorporada e obteve tratamento no âmbito do Sistema de
Informação dos Certificados de Óbito (SICO);
g) Quaisquer informações complementares que V. Exas. julguem
necessárias e relevantes à análise do caso concreto.
[…]”.
8. Decorrido o prazo de resposta ao citado ofício sem que tivesse sido rececionada
na ERS a resposta do prestador, foi remetido novo ofício à ULSBA, em 22 de
outubro de 2015, reiterando a obrigação de envio da informação solicitada.
9. Em 27 de outubro de 2015, a ULSBA veio prestar os esclarecimentos solicitados,
concretamente informando que:
“[…]
1. Em 10.04.2015, por deliberação lavrada na ata n.º 15, ponto 1., o Conselho
de Administração instaurou processo de inquérito aos factos constantes da
exposição n.º 107/15, apresentada pelo utente N.[…], pai do bebé falecido,
tendo nomeado instrutor, o assistente graduado sénior de Obstetrícia do
Hospital Espírito Santo - Évora, E.P.E., Dr. […];
2. No âmbito desse processo de inquérito, foram ouvidos os dois médicos que
se encontravam de serviço ao SU/Obstetrícia, Dra. […] e Dr. […] e a
enfermeira […], que prestou cuidados de enfermagem à utente J.[…].
3. Foi junto ao processo, o relatório completo do episódio de urgência
referente ao atendimento, registo da monitorização cardiotocográfica,
certificado de óbito fetal e neonatal n.º […].
4. O instrutor nomeado elaborou relatório no qual concluiu, em 24.06.2015,
pela existência de indícios da prática de infração disciplinar pelo médico, Dr.
[…] e pela enfermeira […].
5. Nessa sequência foi deliberado pelo Conselho de Administração, no dia
30.07.2015 (ata […], ponto 13.2) instaurar procedimentos disciplinares aos
dois profissionais referidos no número anterior, tendo nomeado instrutora a
Dra. […], advogada da ULSBA.
6. Notificada da nomeação em 23.09.2015, a instrutora analisou todo o
processo de inquérito e entendeu que os factos relacionados com o
atendimento da utente, não se encontravam suficientemente esclarecidos, de
forma a fundamentar adequadamente a nota de culpa a deduzir contra os
dois profissionais, ambos titulares de contratos individuais de trabalho, ao
abrigo do Código do Trabalho, sendo certo que, nos termos deste Código, os
processos disciplinares iniciam com a de nota de culpa da qual conste a
descrição circunstanciada dos factos imputados a cada um dos profissionais
visados, a título de eventual infração disciplinar (artigo 353º do CT).
7. Efetivamente, entende a instrutora que deve ser junto ao processo, o
processo clínico integral relativo ao internamento e processo de consultas da
utente, o relatório da autópsia ao feto e bem assim, os resultados do estudo
histológico aos fragmentos de placenta e tecidos do RN, e do eventual estudo
molecular/metabólico realizado ao tecido muscular e hepático e azoto líquido
guardado, que ainda se desconhecem.
8. Entende ainda a instrutora que é indispensável colher os depoimentos da
enfermeira que participou na cesariana de emergência que veio a ser
realizada, médico anestesiologista que interveio, do médico pediatra que
procedeu à tentativa de reanimação do recém-nascido, do participante e da
utente J.[…], para esclarecimento dos factos que permitam circunstanciada e
pormenorizadamente deduzir a(s) nota(s) de culpa.
9. Por estas razões, respondendo concretamente ao solicitado na alínea b) do
V. ofício, o processo de inquérito encontra-se ainda em curso. Logo que seja
deduzida nota de culpa, serão V. Exas. informados.
10. Respondendo à solicitação contida na alínea a), anexa-se cópia de todo o
processo clínico.
11. Respondendo à solicitação contida na alínea c) do V. ofício, a descrição
de todas as etapas percorridas pela utente está ainda a ser apurada no
âmbito do processo de inquérito pois que, como se alcança do processo
clínico, designadamente do relatório completo do episódio de urgência, a
deficiência/omissão dos registos clínicos não permite a reconstituição do
percurso da utente.
12. Respondendo à solicitação contida na alínea d), em situações de
emergência, a técnica anestésica preconizada é anestesia geral, tendo sido
esta a técnica utilizada, nesta situação, pelo anestesista de urgência, Dr. […].
13. Em resposta à solicitação contida na alínea e), foi efetuada a
cardiotocografia fetal externa cujo registo se anexa.
14. Em resposta à alínea f), remete-se o certificado de óbito fetal e neonatal
n.º […], contido no processo de inquérito cuja cópia também se junta.
[…]”.
10. Em anexo à resposta apresentada, foram remetidos pela ULSBA à ERS,
nomeadamente, os seguintes documentos:
(i) Relatório do episódio de urgência;
(ii) Processo clínico;
(iii) Registo da Monitorização Cardiotocográfica;
(iv) Certificado de óbito fetal e neonatal;
(v) Registo de indicações de cesariana;
(vi) Processo de inquérito instaurado na ULSBA, no dia 10 de abril de 2015,
“sobre a ocorrência de um óbito fetal após decisão de cesariana por
sofrimento fetal, no dia 10 do mesmo mês e ano, cerca das 07:05h”.
11. Do Relatório do referido processo de inquérito, resultou a seguinte análise dos
factos:
“ […]
Recolhida toda a matéria pertinente para o caso vertente, quer a documental,
quer a produzida em sede de autos de declarações, importa desde logo fazer
a respetiva análise:
O registo cardiotocográfico não apresentou alterações significativas até cerca
da 01h do dia 10 de Abril de 2015, apresentando desacelerações mais
profundas e repetidas a partir desta hora. Entre as cerca das 2h e 02:20h este
registo mostrava taquicardia fetal com diminuição da variabilidade da
frequência cardíaca fetal que se agravou após as 04h com o aparecimento de
desacelerações profundas e repetidas.
Perante estas alterações que fariam pressupor um estado fetal não
tranquilizador a Sr.ª Enfermeira […] além da suspensão da perfusão oxitócica
em curso, apenas resolveu chamar o médico de serviço na altura, Dr. […],
cerca das 04:30h.
O Dr. […], chamado pela Sr.ª Enf.ª cerca das 04:30h, como é referido no
parágrafo anterior, desvalorizou as alterações do cardiotocograma não dando
aparentemente qualquer indicação precisa à Sr.ª Enf.ª […], quanto a atitudes
a tomar nessas circunstâncias.
A Sr.ª Enf.ª […], apenas julgou necessário chamar de novo o Dr. […], cerca
das 06:30h do dia 10 de Abril de 2015, quando surgiu um novo agravamento
do traçado cardiotocográfico.
A decisão de cesariana de emergência foi tomada pelo Dr. […], às 06:30h,
tendo a grávida demorado 30 minutos a chegar ao bloco operatório, o que foi
justificado pela distância existente entre o bloco de partos e bloco operatório
central, onde as cesarianas são realizadas.
O registo de foco fetal audível no bloco de partos e a sua inexistência quando
à chegada ao bloco operatório levam a pressupor que a ocorrência da morte
fetal tenha ocorrido neste lapso de tempo.
De notar ainda que no relatório do internamento no que diz respeito ao diário
clínico apenas está registado a nota de entrada feita às 18:55h do dia 09 de
Abril de 2015, sem outras anotações de factos ocorridos após essa hora, não
tendo sido por isso possível colher dados sobre instruções dadas às Sr.ªs
Enf.ªs quanto à vigilância do trabalho de parto ou outras atitudes médicas,
nomeadamente à administração de perfusão oxitócica.
O diário de enfermagem possui diversos registos de observações e atitudes
tomadas pelas enfermeiras de turno. No entanto o último, elaborado às
07:19h pela Sr.ª Enf.ª […], reporta apenas à posterior o sucedido entre as 03h
e as 06:40h.
5. Conclusões
Desta forma, feita a necessária investigação, conclui-se:
Que quer o Dr. […], quer a Enfermeira […], não agiram segundo a "legis
artis", com o cuidado que lhes era devido e exigido, comportamento esse
passível de consubstanciar infração disciplinar e consequente aplicação de
medida disciplinar.
Por um lado, a Sra. Enfermeira […], perante o quadro clinico apresentado
pela utente grávida, deveria ter chamado mais cedo o obstetra de serviço, Dr.
[…], bem como proceder aos registos de forma correta e atempada e não à
posteriori.
Por outro lado, aquando da primeira chamada pela Enfermeira […], o Dr. […],
não deveria ter desvalorizado as alterações do cardiotocograma, ou seja,
deveria ter intervido de imediato, o que não aconteceu, não dando o
necessário relevo, a necessária importância a uma situação que do ponto de
vista clinico o justificava.
Com os comportamentos referidos ambos os profissionais não agiram
conforme seria de esperar, recomendava e esperava.
Finalmente, também a distância entre a ala de obstetrícia e o bloco operatório
terão contribuído para a demora na intervenção e consequentemente para o
desfecho final.
[…]”.
12. Do referido processo de inquérito fazem ainda parte os autos de declarações dos
profissionais de saúde visados na reclamação apresentada, sendo que, no que
releva para os presentes autos, a médica […] respondeu:
“ […]
Que confirma que se encontrava de serviço de urgência na altura em que
ocorreram os factos, juntamente com o Dr. […]. Observou a grávida, D. J.[…],
por volta das 20, 21:40 horas do dia 9 de Abril e 00:30 horas do dia 10 de
Abril, não detectando alterações significativas do registo cardiotocográfico. É
hábito no Serviço de obstetrícia, havendo dois médicos especialistas
escalados, cada qual fazer o seu turno nocturno, terminando o da declarante
cerca das 4 horas, não tendo até essa hora sido alertada pela enfermeira de
serviço à sala de parto para qualquer anormalidade que entretanto tivesse
surgido. Mais afirma que é também hábito no serviço que a vigilância do
trabalho de parto das gravidezes de baixo risco cabe em primeira linha à Sra.
Enfermeira Especialista da sala de parto. Mais disse que cerca das 6:35
horas foi avisada pelo Dr. […] para realização de uma cesariana à referida
utente, na qual colaborou como cirurgiã e que ocorreu no bloco central que se
localiza no piso 1 do Hospital e que se iniciou cerca das 7:04 horas, tendo a
grávida chegado à sala às 7 horas. Na altura não foi possível confirmar a
existência de batimentos cardíacos fetais com sonicaid. A cesariana, segundo
a declarante, decorreu sem complicações maternas e às 7:05 horas nasceu
um feto em morte aparente, sem malformações aparentes, sem circulares de
cordão ou alterações funiculares macroscópicas e sem mecónio, com 2,725
Kg. O feto apresentava no entanto um cheiro muito fétido. O pediatra de
serviço, Dr. […], tentou reanimar o recém-nascido durante cerca de 20
minutos mas sem sucesso”.
13. Por sua vez, a enfermeira […], inquirida também em sede de inquérito interno,
declarou:
“ […]
Que esteve de serviço desde as 16 horas do dia 9 até às 8 horas do dia 10,
estando alocada à sala de partos apenas a partir das 00:00 horas do dia 10,
altura em que iniciou a vigilância do trabalho de parto da utente J.[…]. Na
altura a grávida estava com uma perfusão ocitocica em curso sob analgia
epidoral e apresentava um colo grosso com 3 cm de dilatação. O CTG
revelava algumas desacelerações da frequência cardíaca fetal, escassas e de
rápida recuperação; mais informa que a grávida foi observada pela Dra. […]
no início do turno. Por volta das 3:15 horas, coincidindo com um
esvaziamento vesical e observação tocológica da grávida o CTG revelou uma
desaceleração mais prolongada resolvendo suspender a perfusão ocitocica.
Às 4:30 horas em virtude do agravamento do traçado do CTG resolveu
chamar o Dr. […], médico de serviço na altura, que disse que "estava tudo na
mesma" não tomando nenhuma iniciativa nem dando quaisquer indicações
específicas à declarante. Perante a atitude do Dr. […] e não considerando
agravamento significativo do CTG decidiu chamá-lo apenas cerca das 6:30
horas quando houve registo de uma desaceleração prolongada. Observou a
grávida que apresentava um colo com 8 cm de dilatação. Nessa altura o Dr.
[…] decidiu pela necessidade de realizar uma cesariana iniciando os
procedimentos necessários à sua efectivação. Salienta ainda que à saída da
sala de partos o foco fetal era audível mantendo a bradicardia acentuada.
Questionada sobre o porquê de terem sido feitos registos á posteriori admite
ter sido um erro, que não foi nem é o mais correcto.
Informa ainda que nunca se apercebeu da existência de líquido amniótico
com mecónio ou com odor alterado”.
14. Por fim, o outro médico visado na reclamação que também assistiu a utente dos
autos declarou:
“ […]
Que se encontrava de serviço aquando da ocorrência dos factos e que cerca
das 4:30 horas é que foi chamado pela enfermeira de serviço à sala de partos
para avaliação da utente J.[…] , que se encontrava em trabalho de parto.
Avaliado o CTG considerou que o mesmo se mantinha com as características
anteriores, não se verificando alterações significativas nem outros sinais
clínicos de sofrimento fetal. Considera que a agitação da grávida tornou difícil
a interpretação do CTG.
Cerca das 6:30 horas foi novamente chamado pela enfermeira […], que se
apercebeu de um agravamento do traçado do CTG, altura em que decidiu
fazer uma cesariana emergente.
Observou a grávida, constatando que estava com 8 cm de dilatação, com
ausência de mecónio no liquido amiótico ou qualquer alteração de odor do
mesmo, sendo o foco fetal audível, com braquicardia acentuada. Decidiu
então pela realização de uma cesariana emergente que teve lugar o bloco
central do hospital, situado 4 pisos abaixo do serviço de obstetrícia.
Colaborou como ajudante na cesariana realizada pela Dra. […], tendo nascido
à 7:05 horas um feto do sexo masculino em morte aparente, com 2,725 Kg,
apresentando um odor fétido, cujas tentativas de reanimação pelo
neonatalogista resultaram infrutíferas.
Conclui o declarante que perante uma situação de uma grávida com ruptura
de bolsa, sem factores de risco conhecidos e que fez um trajecto dentro
daquilo que foi considerado normal, teve um desfecho que de todo não
esperava. Reitera que entrou em trabalho de parto activo por volta das 4:30
horas, sem sinais físicos ou clínicos de sofrimento fetal, monitorizada desde o
inicio, um traçado que foi interpretado como resultante da agitação” – cfr.
Relatório de processo de inquérito junto aos autos.
15. Do registo de indicações de cesariana remetido aos autos pelo prestador resultam,
para o que aqui releva, os seguintes elementos:
“[…]
Decisão da cesariana
Nome do médico […]
Data 10/4/2015
Hora 6:35
Cesariana
Data 10/4/2015
Início 7:04
Fim 7:26
[…]“.
16. Já no âmbito dos presentes autos de inquérito, em 30 de novembro de 2015, foi
novamente remetido um pedido de informações à ULSBA, solicitando ao prestador
o envio de todos os elementos documentais e factuais, nomeadamente:
“[…]
1. Informação sobre o referido processo de inquérito interno a decorrer, ou,
no caso de este ter já terminado, informação sobre as conclusões da
comissão de inquérito, bem como cópia de todos os elementos recolhidos
no âmbito desse processo, ainda não remetidos a esta Entidade
Reguladora;
2. Informação sobre os dois processos disciplinares abertos ao médico […] e
à enfermeira […], com cópia das notas de culpa deduzidas;
3. Descrição detalhada e concretizada de todos os procedimentos de
monitorização fetal implementados (cardiotocografia), bem como se no
caso em apreço os mesmos foram seguidos e em que moldes;
4. Indicação dos procedimentos de registo das informações clínicas dos
utentes implementados no Serviço de Urgência/Obstetrícia, bem como se
no caso concreto os mesmos foram seguidos e em que moldes;
5. Indicação, com envio da documentação respetiva, dos procedimentos
existentes para a realização de cesariana emergente e do seu
cumprimento no caso em apreço;
6. Envio do mapa do pessoal afeto ao Serviço de Urgência/Obstetrícia no dia
da ocorrência, discriminado por nome e função;
7. Envio de cópia do Regulamento Interno do Serviço de Urgência/Obstetrícia
do Hospital José Joaquim Fernandes;
8. Esclarecimentos complementares julgados por V. Exas. necessários e
relevantes à análise do caso concreto.
[…]”.
17. Decorrido o prazo de resposta ao citado ofício sem que tivesse sido rececionada
na ERS a resposta do prestador, em 8 de janeiro de 2016, foi feita uma insistência
junto da ULSBA, reiterando o envio da informação solicitada.
18. Em 13 de janeiro de 2016, foi rececionada na ERS a resposta do prestador, tendo
este prestado a seguinte informação:
(i) “Por deliberação de 10.04.2015, o Conselho de Administração decidiu
instaurar processo de inquérito aos factos (que são objeto do ofício da
ERS), nomeando para a sua instrução, o Sr. Dr. […], Assistente
graduado Sénior de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital de Espírito
Santo de Évora;
Concluído este processo de inquérito em 24.06.2015, por deliberação
de 30.07.2015, foi instaurado processo disciplinar ao Sr. Dr. […] e à
Enf.ª […], determinando-se igualmente que os elementos carreados
para o inquérito constituiriam a instrução dos processos disciplinares.”;
(ii) “Como se alcança do processo de inquérito, os elementos para ele
carreados não eram minimamente suficientes para sustentar uma nota
de culpa (note-se que no caso do médico […], o processo disciplinar é
desenvolvido ao abrigo do Código do Trabalho) e, no caso da Enf.ª […],
não se alcança dos autos de inquérito, indícios mínimos que permitam
deduzir acusação em processo disciplinar.
O Gabinete Jurídico e de Contencioso da ULSBA, EPE, diligenciou pela
prática de atos de instrução indispensáveis à fundamentação da nota de
culpa, diligências que se encontram praticamente concluídas.
Mais se informa, que será enviado remessa do processo clínico
respetivo, para perícia/parecer do colégio da especialidade de
ginecologia/obstetrícia da Ordem dos Médicos, por se entender que o
Gabinete Jurídico e de Contencioso da ULSBA, EPE, não detém os
conhecimentos mínimos para apreciar o assunto do ponto de vista
técnico-científico, como se impõe que seja feito em nome da descoberta
da verdade material.”
(iii) “Todo o processo de monitorização fetal é efetuado por registo
cardiotocográfico externo, encontrando-se o respetivo original no
processo da utente – Doc. 1 em anexo.”
(iv) “Os médicos e os enfermeiros do Serviço efetuam registo de
observação quer no RCT (registo cardiotocográfico) quer no sistema
informático Alert, podendo ser consultados estes dados no processo da
utente. Os médicos anestesistas registam os seus dados no SCIinic e
em livro próprio de registo de analgesia de obstetrícia.”
(v) “O Serviço de Obstetrícia cumpre as indicações referentes à realização
de cesariana emergente, contempladas nas normas n° 001/2015 de 19
de janeiro da Direção Geral de Saúde - Registo de Indicações de
Cesariana – Doc. 2 em anexo.”
(vi) “No Serviço de Urgência/Obstetrícia, no dia 10 de abril às 7h05
estavam escalados os seguintes profissionais:
- Dr. […], médico Obstetra - Contrato de Trabalho em Funções
Públicas;
- Dra. […], médica Obstetra - Contrato de Trabalho em Funções
Públicas;
- Dr. […], médico Pediatra - regime de Contrato de Prestação de
Serviços;
- Enfermeira […];
- Enfermeira […];
- […], Assistente Operacional
Doc. 3 em anexo (documentos retirados do sistema de controlo de
assiduidade - SISQUAL Ponto):
- 6 folhas de ponto referentes aos profissionais mencionados
anteriormente;
- Escala Médica do Serviço de Obstetrícia do mês de Abril/2015;
- Escala Médica do Serviço de Pediatria do mês de Abril/2015;
- Escala de Enfermagem do Serviço de Obstetrícia de 23-03-
2015 a 19-04-2015;
- Escala de Assistentes Operacionais do Serviço de Obstetrícia
de 23-03-2015 a 19-04-2015;”
(vii) “O Regulamento Interno do Serviço de Urgência/Obstetrícia está em
fase de preparação. […]”.
19. Em anexo à resposta remetida à ERS, juntou o prestador visado:
(i) Registo Cardiotocográfico – como Doc. 1;
(ii) Norma da DGS n.º 001/2015, de 19/01/2015 – como Doc. 2;
(iii) Documentos retirados do sistema de controlo de assiduidade -
SISQUAL – como Doc. 3.
II.3. Do parecer técnico do perito médico da ERS
20. Face ao conteúdo dos elementos carreados para os autos, foi solicitado ao perito
médico da ERS, que se pronunciasse sobre a matéria em causa, nomeadamente
sobre os documentos disponibilizados pelo prestador, tendo o mesmo elaborado o
parecer, que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos, e no
qual é referido que:
(i) “No que se refere ao cumprimento dos procedimentos de monitorização
à mãe e ao bebé implementados no prestador, considerando, entre
outros, os registos cardiotocográficos juntos aos autos e o relatório de
internamento da utente, conclui-se que a monitorização foi,
aparentemente, feita continuamente, durante o processo de parto”;
(ii) “No que se refere ao cumprimento dos procedimentos de registo das
informações clínicas da utente, considerando, por um lado, a ausência
de registos clínicos por parte dos médicos obstetras e, por outro lado, o
registo a posteriori por parte da enfermeira visada, conclui-se que houve
falhas no cumprimento desses procedimentos de registo”;
(iii) “Quanto ao cumprimento das indicações aos médicos para a
realização de cesariana emergente, atenta ainda a alegada inexistência
de foco fetal audível quando à chegada ao bloco operatório e a referida
distância entre a ala da obstetrícia e o bloco operatório, julgo que 30
minutos, tal como está descrito, é demasiado tempo para iniciar uma
cesariana que, sem dúvida, parecia ser emergente”;
(iv) “Quanto ao cumprimento dos rácios mínimos exigíveis a nível dos
médicos e enfermeiros no Serviço de Obstetrícia do estabelecimento
dos autos, assegurando a qualidade dos cuidados prestados, verifica-se
que estavam dois médicos Obstetras de Serviço e aparentemente duas
enfermeiras, pelo menos são as únicas referências existentes ao longo
do processo de inquérito”;
(v) “No que se refere ao cumprimento de quaisquer outros procedimentos
ou regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos científicos
e técnicos aplicáveis, ainda que não tenha a especialidade de
Obstetrícia, parece-me que a observação realizada pelas 4h30m
poderia, eventualmente, ter desencadeado outros procedimentos com
vista ao parto”;
(vi) Nessa sequência o perito da ERS emitiu as seguintes
conclusões/recomendações:
“Recomendo que o Processo seja enviado para as Ordens dos Médicos
e dos Enfermeiros, por entender que poderão estar em causa princípios
de “legis artis” que terão sido violados” – cfr. Relatório de apreciação
clínica de 17 de fevereiro de 2016, junto aos autos.
III. DO DIREITO
III.1. Das atribuições e competências da ERS
21. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da
ERS aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por
missão a regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência,
respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores privados,
público, cooperativo e social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde.
22. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º
dos mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde, do sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua
natureza jurídica.
23. Consequentemente, o Hospital José Joaquim Fernandes é um estabelecimento
prestador de cuidados de saúde registado no SRER da ERS sob o n.º 103939,
integrado na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE, entidade registada
no SRER da ERS sob o n.º 12632.
24. As atribuições da ERS, de acordo com o disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 5.º
dos Estatutos da ERS, compreendem a supervisão da atividade e funcionamento
dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que respeita à
garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de
cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes.
25. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas b), c),
e d) do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos critérios
de acesso aos cuidados de saúde, garantir os direitos e interesses legítimos dos
utentes, bem assim zelar pela prestação de cuidados de saúde de qualidade.
26. Competindo-lhe, na execução dos referidos objetivos, e conforme resulta dos
artigos 12.º, 13.º e 14.º dos Estatutos, assegurar o direito de acesso universal e
equitativo à prestação de cuidados de saúde nos serviços e estabelecimentos do
Serviço Nacional de Saúde (SNS), apreciar as queixas e reclamações dos utentes
e monitorizar o seguimento dado pelos estabelecimentos prestadores de cuidados
de saúde às mesmas, bem como garantir o direito dos utentes à prestação de
cuidados de saúde de qualidade.
27. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos
seus poderes de supervisão, no caso, zelando pela aplicação das leis e
regulamentos e demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação,
no âmbito das suas atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como
recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre
quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora,
incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências
necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr.
alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.
28. Desse âmbito de atuação, de acordo com as respetivas previsões estatutárias,
exclui a ERS a regulação dos profissionais de saúde no que toca à sua atividade
sujeita à regulação e disciplina das respetivas ordens profissionais – cfr. alínea a)
do n.º 3 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS.
29. Com efeito, não cura a ERS de avaliar a correção técnica dos concretos cuidados
de saúde prestados, nem de avaliar a sua oportunidade e pertinência clínica face
às legis artis instituídas, centrando-se a sua atuação na análise dos procedimentos
e protocolos de atuação instituídos e/ou empregues no caso concreto, aferindo se
os mesmos são consentâneos com a salvaguarda do direito de acesso aos
cuidados de saúde, com a garantia dos direitos e interesses legítimos dos utentes,
bem assim com a prestação de cuidados de saúde de qualidade.
30. Diferentemente, não compete à ERS pronunciar-se ou averiguar da conformidade
ou desconformidade da atuação dos profissionais de saúde (médicos e
enfermeiros) com as legis artis, porquanto essa é uma competência exclusiva das
respetivas ordens profissionais.
31. No caso concreto, competirá à Ordem dos Médicos e à Ordem dos Enfermeiros,
determinar se houve ou não violação de alguma ou algumas regras por parte dos
profissionais médicos e enfermeiros envolvidos, nomeadamente, no que se refere
à monitorização efetuada à mãe e ao bebé dos autos e se face aos dados
cardiotocográficos registados deveriam ter sido desencadeados outros
procedimentos com vista ao parto, bem como no que se refere às indicações para
a realização de cesariana emergente e à oportunidade da decisão de efetuar a
cesariana.
32. É esta, aliás, a conclusão que consta do Parecer do perito médico da ERS, no
sentido de que “Recomendo que o Processo seja enviado para as Ordens dos
Médicos e dos Enfermeiros, por entender que poderão estar em causa princípios
de “legis artis” que terão sido violados”.
33. Assim, considerando as atribuições conferidas a esta Entidade Reguladora e a
competência exclusiva desta matéria atribuída à Ordem dos Médicos e à Ordem
dos Enfermeiros no que respeita à atividade dos respetivos profissionais, deverão
os presentes autos ser remetidos às referidas Associações Profissionais, ao abrigo
dos fins e atribuições a estas legalmente conferidos.
III.2. Dos direitos e interesses legítimos dos utentes dos serviços de saúde
III.2.1. Do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade
34. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível
da prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento
disponível e das instalações, está presente no setor da prestação de cuidados de
saúde de uma forma mais acentuada do que em qualquer outra área.
35. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que
os serviços sejam prestados em condições que não lesem os interesses nem os
direitos dos utentes.
36. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que se
verifica entre prestadores e utentes, reduz a capacidade destes últimos de
perceberem e avaliarem o seu estado de saúde, bem como a qualidade e
adequação dos serviços que lhe são prestados.
37. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime uma
gravidade excecional à prestação de cuidados em situação de falta de condições
adequadas.
38. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de
saúde devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do
risco não clínico.
39. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde
sejam prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros
mínimos de qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer
no que diz respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados.
40. Os utentes gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o
cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde
pública, bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas
pelos códigos científicos e técnicos aplicáveis e pelas regras de boa prática
médica, ou seja, pelas leges artis.
41. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde
encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda
mais premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos
meios adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito.
42. A este respeito encontra-se reconhecido na Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, que
aprovou a Lei de Bases da Saúde (LBS), e, hoje, no artigo 4.º da Lei n.º 15/2014,
de 21 de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,
humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito” – cfr.
alínea c) da Base XIV da LBS.
43. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos
meios adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização,
pelos prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias
tecnicamente mais corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de
cada utente.
44. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes
devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre
diretamente do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de
atenderem e tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como
direito e princípio estruturante da República Portuguesa.
45. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde devem ter “redobrado
cuidado de respeitar as pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela
deficiência”.
46. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de
execução da prestação, mas abrange também a comunicação e informação ao
utente dos resultados dessa mesma prestação.
47. Exige também o registo por parte dos profissionais envolvidos dos dados clínicos
do utente.
48. Com efeito esse registo promove a qualidade dos serviços, sobretudo, quando
integrados em equipas.
49. Est a m at ér ia encon t ra-se est abelecida na Norm a da DGS n .º 001/2015,
de 19/01/2015, relat iva ao “Regist o de ind icações de cesar iana”.
50. Nessa no rm a da DGS, m ais concret am ent e no seu pon t o I., encon t ra-se
est abelecido que
“[…]
1. Todos os hospitais com cuidados obstétricos intraparto deverão possuir
registos clínicos das grávidas, nos quais conste:
a) O nome do médico que decidiu a realização de uma cesariana, a data e a
hora em que esta decisão foi tomada, a data e hora em que a cirurgia se
iniciou e terminou.
b) A indicação para a realização da cesariana, de acordo com os quatro
critérios constantes nesta norma: a urgência da cirurgia, a ausência ou fase
do trabalho de parto, o motivo principal e as principais características da
gravidez.
2. Fica definida a obrigatoriedade do envio anual à Direção-Geral da Saúde
do número de cesarianas realizadas em cada hospital com cuidados
obstétricos intraparto, de acordo com as quatro classificações definidas nesta
Norma. Os hospitais devem ainda disponibilizar os seus dados para auditorias
internas e externas sempre que solicitados.”.
51. Por out ro lado , no pon t o II., relat ivo aos “Cr it ér ios”, encon t ra-se
est abelecido , quan t o à urgência da cirurg ia, que a cesar iana poderá ser
classif icada com o p rogram ada, urgen t e ou em ergen t e, sendo est a
ú lt im a def in ida com o a “situação onde existe perigo iminente de saúde para o
feto e/ou para a parturiente, o qual pode ser reduzido se a cirurgia for realizada o
mais brevemente possível”;
52. Sendo que relat ivam ent e à cesar iana em ergen t e, é ali igualm en t e
ref er ido que o t em po que decor re en t re o est abelecim en t o da
ind icação cirúrg ica e o in ício da cesar iana (incisão na pele) não deverá
u lt rapassar os 15 m inut os, sendo que, qu ando est e in t ervalo necessit ar
de ser p ro longado , t al f act o deve ser exp licado e just if icado no
p rocesso clín ico (cf r . n .º 1 e 2 da subalínea iii) da alínea b ) do pon t o II
da Norm a 001/2015).
53. Ainda com relevância para a matéria em análise, e no quadro da proteção dos
direitos e interesses legítimos dos utentes, de acordo com a alínea a) do artigo 14.º
dos seus Estatutos, incumbe à ERS promover um sistema de âmbito nacional de
classificação dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde quanto à
sua qualidade global, de acordo com critérios objetivos e verificáveis, incluindo os
índices de satisfação dos utentes.
54. É neste enquadramento que a ERS continua a desenvolver o projeto SINAS4,
através da avaliação e monitorização da evolução da atividade dos serviços de
saúde prestados, e numa perspetiva de contribuir para a melhoria dos padrões de
qualidade das prestações de cuidados de saúde, promove a divulgação de
indicações às organizações em diversas dimensões, entre elas a segurança do
doente.
III.2.2. Das normas aplicáveis em matéria de segurança dos utentes
55. Para além destas exigências vindas de expor, os prestadores de cuidados de
saúde devem ainda assegurar e fazer cumprir um conjunto de procedimentos que
tenham, por objetivo, prevenir e controlar a ocorrência de incidentes e eventos
adversos, que possam afetar os direitos e interesses legítimos dos utentes.
4 Disponível em https://www.ers.pt/pages/265.
56. Em especial, devem ser observadas as regras constantes da Orientação da
Direção-Geral da Saúde n.º 011/2012, de 30/07/2012, referente à Análise de
Incidentes e de Eventos Adversos, bem como, à Norma da Direção-Geral da
Saúde n.º 015/2014, de 25/09/2014 que apresenta o Sistema Nacional de
Incidentes - NOTIFICA5.
57. Tais procedimentos constituem, assim, instrumentos eficazes para deteção de
eventos adversos e para estimular a reflexão e o estudo sobre os mesmos, por
forma a determinar a alteração de comportamentos e a correção e retificação de
erros, em prol da qualidade, eficácia, eficiência e segurança dos cuidados de
saúde a prestar aos utentes
58. Assim, a Orientação da Direção-Geral da Saúde n.º 011/2012, de 30/07/2012,
referente à Análise de Incidentes e de Eventos Adversos estabelece
concretamente que
“Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente potencialmente grave
ou de um evento adverso, os serviços prestadores de cuidados de saúde
devem:
1) promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua
recorrência;
2) identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas,
indo além da mera resolução das manifestações dos problemas;
3) seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz,
elaborada a partir das experiências internacionais nesta área, anexa à
presente Orientação e que dela faz parte integrante.”.
59. Já relativamente à Norma da Direção-Geral da Saúde n.º 015/2014, de
25/09/2014, que apresenta o Sistema Nacional de Incidentes – NOTIFICA, a
mesma estabelece que:
“1. Todas as Unidades do Sistema de Saúde devem possuir uma estrutura
responsável pela gestão e análise interna de incidentes de segurança do
doente.
2. A indicação do gestor local e do seu substituto, junto desta Direção-Geral,
deve obrigatoriamente1:
5 Recorde-se que em 25/09/2014, a Direção Geral de Saúde emitiu a Norma n.º 015/2014,
junto aos autos, que procurou reconfigurar e melhorar a estrutura e organização de conteúdos do antigo Sistema Nacional de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos (SNNIEA).
a. conter os seus nomes completos, endereços eletrónicos e contactos
telefónicos profissionais;
b. serem dirigidos ao endereço [email protected].
3. O gestor local ou o seu substituto ficam, obrigados a garantir:
a. que o acesso à sua página pessoal no NOTIFICA é intransmissível;
b. reporte periódico à administração da instituição;
c. o respeito e o cumprimento dos procedimentos previsto no “Manual do
Gestor local”, disponível na página www.dgs.pt.
4. Os incidentes reportados no NOTIFICA devem ser alvo de análise interna,
pelo gestor local, de forma a garantir:
a. a validação das notificações;
b. a identificação de medidas de correção, de implementação imediata, se
aplicável;
c. a identificação dos fatores contribuintes;
d. a determinação de um plano de ação com medidas preventivas ou
corretivas se e conforme aplicável.
5. O gestor local deve dar retorno de informação ao notificador, acedendo à
plataforma NOTIFICA e transcrevendo para a notificação em análise, as
medidas preventivas e/ou corretivas definidas.
6. Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente cujo grau de dano
para o doente é “grave” ou “morte”, o gestor local deverá:
a. promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua
recorrência;
b. identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas,
indo além da mera resolução das manifestações dos problemas;
c. seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz,
elaborada a partir das experiências internacionais nesta área, no
cumprimento da Orientação n.º 011/2012 de 30 de julho de 2012.
[…]
10. A notificação de um incidente, ocorrido numa instituição prestadora de
cuidados de saúde exige a implementação de medidas corretoras sistémicas
por parte da administração da instituição, de forma a evitar que situações
geradoras de dano, real ou potencial, se venham a repetir. […]”.
60. Acresce ainda que, de acordo com do Relatório Técnico disponível na página
eletrónica da DGS, no documento intitulado Estrutura Concetual da Classificação
Internacional sobre Segurança do Doente (2011)6, um tipo de incidente a
comunicar refere-se ao “Processo/procedimento clínico”, sendo que
especificamente para este tipo de incidente o Relatório7 indica o processo:
Rastreio/prevenção/check-u, Diagnóstico/avaliação,
Procedimento/tratamento/intervenção, Cuidado geral/gestão do caso, Meios
complementares de diagnóstico, Amostras/resultados, Confinamento/contenção
física.
61. O mesmo Relatório refere ainda o problema: Não efetuado quando indicado,
Incompleto/inadequado, Indisponível, Doente errado,
Processo/tratamento/procedimento errado, Membro/lado/região anatómica errada.
62. Do Manuel do Profissional Notificador8 resulta ainda que a “Tipologia de Incidente”
pode relacionar-se com o “Processo/Procedimento Clínico”, podendo o prestador
selecionar de seguida “a parte do processo/procedimento clínico envolvida”, por
exemplo, “Cuidado Geral/Gestão do Caso”, “Diagnóstico e Avaliação”,
“Procedimento/Tratamento/Intervenção/Assistência”.
63. Por fim o profissional deverá ainda selecionar qual o problema identificado,
referindo-se, a título de exemplo, “Processo/Tratamento/Procedimento Errado” ou
“Não efetuado quando indicado”.
64. Outro tipo de incidente a comunicar refere-se a “Infraestrutura/edifício/instalações”,
sendo que especificamente para este tipo de incidente o Relatório9 indica a
Estrutura/edifício/Instalação envolvida: Lista de estruturas, Lista de edifícios e Lista
de Instalações.
65. O mesmo Relatório refere ainda o problema: Inexistente/inadequado e
Danificado/defeituoso/deteriorado.
6 Disponível em http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/notificacao-de-
incidentes-e-eventos-adversos.aspx 7 Vide fls. 32 e 34 do Relatório Técnico junto aos autos.
8 Disponível também em http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/notificacao-de-
incidentes-e-eventos-adversos.aspx 9 Vide fls. 32 e 45 do Relatório Técnico junto aos autos.
66. Do Manual do Profissional Notificador10 resulta ainda que a “Tipologia de Incidente”
pode relacionar-se com “Infraestrutura/Edifício/Instalações”, podendo o prestador
selecionar de seguida o tipo de instalações envolvidas e o problema que o
incidente originou, designadamente, a opção “Não existe/inadequado”.
III.2.3. Da informação de saúde e do processo clínico do utente
67. Quanto à obrigação de registo dos dados de saúde no processo clínico dos
utentes, refira-se que a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, veio definir o conceito de
informação de saúde e de informação genética, a circulação de informação e a
intervenção sobre o genoma humano no sistema de saúde, bem como as regras
para a colheita e conservação de produtos biológicos para efeitos de testes
genéticos ou de investigação.
68. Para efeitos da referida Lei, “a informação de saúde abrange todo o tipo de
informação directa ou indirectamente ligada à saúde, presente ou futura, de uma
pessoa, quer se encontre com vida ou tenha falecido, e a sua história clínica e
familiar” (artigo 2.º do citado diploma).
69. A informação de saúde inclui “[…] os dados clínicos registados, resultados de
análises, e outros exames subsidiários, intervenções e diagnósticos” - cfr. n.º 1 do
artigo 3.º da Lei n.º 12/2005.
70. Embora o processo clínico seja propriedade do doente, são os estabelecimentos
de saúde os depositários da informação, e portanto aqueles que têm os processos
clínicos dos utentes à sua guarda – cfr. n.º 1 do artigo 3.º da Lei n.º 12/2005.
71. Assim, de acordo com a definição da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, o processo
clínico é propriedade exclusiva do próprio utente, uma vez que contém informação
sobre o próprio que, ademais, se integra no conceito de intimidade da vida privada;
72. Cabendo, no entanto, ao profissional médico que tenha assistido o utente, ou a
outro profissional de saúde sob a supervisão daquele, o dever de proceder à
referida documentação ou registo da informação médica (e que pode incluir dados
sobre consultas, tratamentos, exames ou diagnósticos a que os utentes foram
sujeitos).
10
Disponível também em http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/notificacao-de-
incidentes-e-eventos-adversos.aspx
73. Incumbe, assim, aos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde o dever
de criar, manter, atualizar, e conservar em arquivo ficheiros adequados, relativos
aos processos clínicos dos seus doentes.
74. Sendo que o utente enquanto titular da informação “[…] tem o direito de, querendo,
tomar conhecimento de todo o processo clínico que lhe diga respeito, salvo
circunstâncias excepcionais devidamente justificadas e em que seja
inequivocamente demonstrado que isso lhe possa ser prejudicial, ou de o fazer
comunicar a quem seja por sindicado” (n.º 2 do artigo 3.º da Lei n.º 12/2005, de 26
de janeiro).
75. Importa ainda determinar o que se deve entender por dados de saúde, informação
médica e processo clínico.
76. O conceito de dados de saúde deve-se integrar naquele conceito mais amplo
relativo aos dados pessoais que são definidos pela Lei n.º 67/98, de 26 de outubro
(LPDP) como “[…] qualquer informação, de qualquer natureza e
independentemente do respectivo suporte, incluindo som e imagem, relativa a uma
pessoa singular identificada ou identificável («titular dos dados»)”, sendo pessoa
identificável aquela “[…] que possa ser identificada directa ou indirectamente,
designadamente por referência a um número de identificação ou a um ou mais
elementos específicos da sua identidade física, fisiológica, psíquica, económica,
cultural ou social” (artigo 3.º, alínea a) da LPDP).
77. De acordo com esta definição, podem ser considerados dados pessoais, entre
muitos outros, o nome, a morada, o número da segurança social, o número de
contribuinte, o número do bilhete de identidade, a sua história clínica, entre outros.
78. Por seu lado, a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, no seu artigo 5.º, para além de
referir que a informação médica “[…] é a informação de saúde destinada a ser
utilizada em prestações de cuidados ou tratamentos de saúde”, estabelece também
o conceito de processo clínico como “qualquer registo, informatizado ou não, que
contenha informação de saúde sobre doentes ou seus familiares”.
79. Ainda de acordo com este preceito legal, cada processo clínico deve conter toda a
informação médica disponível que diga respeito à pessoa, sendo essa informação
médica inscrita no processo clínico pelo médico que tenha assistido a pessoa ou,
sob a supervisão daquele, informatizada por outro profissional igualmente sujeito ao
dever de sigilo, no âmbito das competências específicas de cada profissão e dentro
do respeito pelas respetivas normas deontológicas - cfr. n.º 3 e n.º 4 do artigo 5.º da
Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro.
80. Assim, o processo clínico relativo a um determinado utente/doente deve conter
informação suficiente sobre a sua identificação, bem como sobre todos os factos
relacionados com a sua saúde, incluindo a sua situação atual, evolução futura e
história clínica e familiar, e ainda com os factos relacionados com os cuidados de
saúde que lhe tenham sido prestados e que lhe venham a ser prestados no
estabelecimento de saúde em que o processo clínico se encontra depositado;
81. E que permita a transmissão de toda a informação relativa ao utente, em qualquer
momento, a outro profissional que preste cuidados de saúde ao utente, como é o
caso das equipas médicas ou no caso de transferência do utente para outro serviço
do SNS ou dentro da mesma unidade hospitalar.
82. Entre os elementos que integram o processo clínico encontram-se a memória de
anamnese (entrevista prévia ao paciente), o registo da admissão (e o estado de
saúde do doente nesse momento), o diagnóstico e os tratamentos utilizados
(incluindo os resultados dos exames e das análises), os fármacos, produtos e
outros materiais utilizados (e respetiva dosagem, lote, marca e outros elementos
relevantes), a evolução do seu estado de saúde, informação prestada ao doente
sobre o seu estado de saúde, eventuais correspondências entre profissionais (ou
mesmo a mudança de profissionais que se encontrem a cuidar dos doentes), a
transferência dos utentes de serviços, o prognóstico, o registo de alta dos doentes,
e ainda os custos e a faturação subjacente a todos os atos incluídos na prestação
de cuidados de saúde.
83. Do exposto decorre que o prestador de cuidados de saúde deve garantir o registo
completo, organizado e atualizado no processo clínico do utente de toda a
informação relativa à sua situação clínica, assim se assegurando a prestação dos
cuidados de saúde adequados à sua situação e em tempo útil e potenciando a
qualidade dos serviços prestados.
84. Em particular, recorde-se que, no caso da realização de cesariana, como é o caso
dos autos, devem também ser respeitadas as regras constantes da Norma da
Direção-Geral da Saúde n.º 001/2015, de 19/01/2015, relativa ao registo de
indicações de cesariana.
85. Est a Norm a da DGS est abelece no seu n .º 1 que “[t]odos os hospitais com
cuidados obstétricos intraparto deverão possuir registos clínicos das grávidas, nos
quais conste:
a) O nome do médico que decidiu a realização de uma cesariana, a data e a
hora em que esta decisão foi tomada, a data e hora em que a cirurgia se iniciou
e terminou.
b) A indicação para a realização da cesariana, de acordo com os quatro
critérios constantes nesta norma: a urgência da cirurgia, a ausência ou fase do
trabalho de parto, o motivo principal e as principais características da gravidez”.
III.3. Análise da situação concreta
86. Como se referiu preliminarmente não compete à ERS avaliar a bondade dos
concretos cuidados de saúde prestados in casu, nem tão pouco avaliar da sua
oportunidade e pertinência clínica face às legis artis determinadas;
87. Antes cabendo a referida análise e eventual responsabilização por quaisquer
infrações verificadas, no caso, à Ordem dos Médicos e à Ordem dos Enfermeiros,
para cujas entidades serão reencaminhados os presentes autos.
88. O objeto de análise dos presentes autos estará então delimitado à averiguação dos
procedimentos adotados pela ULSBA, no que concerne à garantia de acesso dos
utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade e que se apresentem
como necessários e adequados à satisfação das necessidades dos utentes, e em
tempo útil;
89. Em especial, no que se refere quer ao cumprimento das normas e orientações de
qualidade e segurança dos utentes, em vigor, sejam as relativas à realização e
registo de cesarianas (em especial a norma da DGS n.º 001/2015, de 19/01/2015),
sejam aquelas relativas à avaliação e prevenção de incidentes ou eventos
adversos (designadamente as constantes da Orientação da DGS n.º 011/2012, de
30/07/2012, e da Norma da DGS n.º 015/2014, de 25/09/2014), como também ao
cumprimento do dever de documentação e registo dos dados clínicos relativos à
utente, conforme resulta das normas constantes da Lei n.º 12/2005, de 26 de
janeiro e da norma da DGS n.º 001/2015, de 19/01/2015.
90. Quanto ao cumprimento das normas e orientações de qualidade e segurança dos
utentes, em vigor, relativas à realização e registo de cesarianas (em especial a
norma da DGS n.º 001/2015, de 19/01/2015), recorde-se que na referida norma se
encontra estabelecido que quando esteja em causa a realização de uma
“cesariana emergente”, como é o caso em análise nos presentes autos, def in ida
com o a “situação onde existe perigo iminente de saúde para o feto e/ou para a
parturiente, o qual pode ser reduzido se a cirurgia for realizada o mais brevemente
possível”;
91. Encon t ra-se ali est abelecido que “[…] o tempo que decorre entre o
estabelecimento da indicação cirúrgica e o início da cesariana (incisão na pele)
não deverá ultrapassar os 15 minutos. Quando este intervalo necessitar de ser
prolongado, tal facto deve ser explicado e justificado no processo clínico.” (cf r . n .º
1 e 2 da subalínea iii) da alínea b ) do pon t o II da Norm a 001/2015).
92. Ora, reco rde-se que na sit uação em análise nos p resen t e aut os, resulta
do elementos constantes do relatório do processo de inquérito interno aberto pela
ULSBA, que:
“[…]
A decisão de cesariana de emergência foi tomada pelo Dr. […], às 06:30h,
tendo a grávida demorado 30 minutos a chegar ao bloco operatório, o que foi
justificado pela distância existente entre o bloco de partos e bloco operatório
central, onde as cesarianas são realizadas.
O registo de foco fetal audível no bloco de partos e a sua inexistência quando
à chegada ao bloco operatório levam a pressupor que a ocorrência da morte
fetal tenha ocorrido neste lapso de tempo.
[…]
5. Conclusões
[…]
Finalmente, também a distância entre a ala de obstetrícia e o bloco operatório
terão contribuído para a demora na intervenção e consequentemente para o
desfecho final.
[…]”.
93. Acresce que do registo de indicações de cesariana junto aos autos resulta que a
decisão da cesariana foi tomada pelo médico às 6:35 do dia 10 de abril de 2015 e
teve início às 7:04 desse mesmo dia.
94. Ora, compulsados todos estes elementos e os demais carreados para os autos,
conclui-se, pois que, a utente J. terá demorado 30 minutos a chegar ao bloco
operatório (quando não deveria ultrapassar 15 minutos, de acordo com a referida
norma da DGS), o que foi justificado pela distância existente entre o bloco de
partos e bloco operatório central, onde as cesarianas são realizadas naquele
estabelecimento hospitalar, sendo que, de acordo com as declarações prestadas
nos autos pelo médico que decidiu pela realização de uma cesariana emergente,
esta teve lugar no bloco central do hospital, “situado 4 pisos abaixo do serviço de
obstetrícia”.
95. Ainda de acordo com o mesmo relatório de Inquérito o “registo de foco fetal audível
no bloco de partos e a sua inexistência quando à chegada ao bloco operatório
levam a pressupor que a ocorrência da morte fetal tenha ocorrido neste lapso de
tempo”, concluindo-se que “também a distância entre a ala de obstetrícia e o bloco
operatório terão contribuído para a demora na intervenção e consequentemente
para o desfecho final”.
96. Daqui resulta que a conduta do prestador dos autos não se revelou apta nem
suficiente para a proteção dos direitos e interesses legítimos dos utentes em
causa.
97. Com efeito, e recorde-se, o direito à qualidade dos cuidados de saúde, que implica
o cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de
boas práticas, de normas de qualidade e de segurança, é, indubitavelmente, uma
garantia de um acesso aos cuidados qualitativamente necessários, adequados e
em tempo útil.
98. O cumprimento de procedimentos e a adoção de medidas é uma garantia de
qualidade da prestação de cuidados de saúde, promove uma melhor coordenação
e articulação entre os serviços, bem como acautela qualquer impacto negativo na
condição de saúde dos utentes.
99. Pelo que, e por todo o exposto, torna-se premente que a ULSBA conforme a sua
conduta, para a salvaguarda dos direitos e interesses legítimos dos utentes, com a
adoção de comportamentos que salvaguardem os direitos e interesses legítimos
dos utentes, bem assim que garantam aos utentes a prestação de cuidados de
saúde de qualidade, em tempo útil e adequados a situação concreta de cada
utente.
100. In casu, é premente a adoção pela ULSBA de todas as medidas necessárias e
a implementação de todos os procedimentos que se revelem necessários a
assegurar a prestação de todos os cuidados de saúde que se revelem adequados
à satisfação das necessidades dos utentes e com a prontidão necessária,
designadamente, obviando a que a distância existente entre o bloco de partos e o
bloco operatório (ou outros) possa colocar em perigo a vida ou a saúde dos
utentes, como sucedeu no caso dos autos, assim garantindo a prestação de
cuidados de saúde de qualidade, em tempo útil e adequados à situação dos
utentes.
101. Relativamente ao cumprimento das normas e orientações de qualidade e
segurança dos utentes, em vigor, relativas à avaliação e prevenção de incidentes
ou eventos adversos (designadamente as constantes da Orientação da DGS n.º
011/2012, de 30/07/2012, e da Norma da DGS n.º 015/2014, de 25/09/2014), na
situação em apreço, não resultou da documentação remetida pela ULSBA que
estejam implementados e/ou a ser cumpridas as regras e orientações aplicáveis
em matéria de incidentes e de eventos adversos, como seja no caso em análise
nos presentes autos.
102. Com efeito, atenta a morte ocorrida do bebé, filho do reclamante e utente J., no
dia 10 de abril de 2015, impunha-se assim ao prestador dos autos o cumprimento
das normas e orientações emanadas pela DGS, designadamente, a Orientação da
Direção-Geral da Saúde n.º 011/2012, de 30/07/2012, referente à Análise de
Incidentes e de Eventos Adversos, bem como, a Norma da Direção-Geral da
Saúde n.º 015/2014, de 25/09/2014 que apresenta o Sistema Nacional de
Incidentes – NOTIFICA.
103. Assim, importa igualmente assegurar, que em situações como aquela em
análise nos autos, o prestador possua os mecanismos que permitam identificar a
causa raiz do evento, que culminou in casu com a morte daquele bebé, promover a
aprendizagem e assim evitar que situações como a dos autos se repitam, neste ou
em qualquer outro estabelecimento prestador de cuidados de saúde;
104. Esteja o incidente relacionado com o procedimento/processo clínico, com as
infraestruturas/edifícios/instalações ou qualquer outro incidente, não resulta dos
elementos disponíveis que os factos ocorridos tenham sido reportados de acordo
com as normas emanadas pela DGS, designadamente, a Orientação da Direção-
Geral da Saúde n.º 011/2012, de 30/07/2012, referente à Análise de Incidentes e
de Eventos Adversos, bem como, a Norma da Direção-Geral da Saúde n.º
015/2014, de 25/09/2014 que apresenta o Sistema Nacional de Incidentes –
NOTIFICA.
105. Conclui-se, por isso, que a conduta da ULSBA, também quanto a este aspeto
não se revelou apta nem suficiente para a proteção dos direitos e interesses
legítimos dos utentes em causa.
106. Por último, quanto ao cumprimento do dever de documentação e registo dos
dados clínicos relativos à utente, conforme resulta das normas constantes da Lei
n.º 12/2005, de 26 de janeiro e da norma da DGS n.º 001/2015, de 19/01/2015;
107. Pese embora toda a documentação remetida à ERS pelo prestador,
designadamente os registos cardiotocográficos de monitorização fetal, bem assim
o registo de indicações de cesariana junto aos autos, notificada a ULSBA para
proceder à “Descrição de todas as etapas percorridas pela utente J. […], desde a
sua admissão até à realização do parto e procedimentos subsequentes, com
indicação de data, hora e profissional responsável pela sua operacionalização, por
nome, categoria profissional, funções e serviço em que o mesmo se integra,
acompanhada do respetivo suporte documental” (cfr. ofício da ERS de 8 de
setembro de 2015);
108. A ULSBA veio aos autos informar que “a descrição de todas as etapas
percorridas pela utente está ainda a ser apurada no âmbito do processo de
inquérito pois que, como se alcança do processo clínico, designadamente do
relatório completo do episódio de urgência, a deficiência/omissão dos registos
clínicos não permite a reconstituição do percurso da utente”.
109. E não obstante esta “deficiência/omissão dos registos clínicos” como refere o
prestador na resposta, dos autos de inquirições dos profissionais visados descritos
em 12, 13 e 14 supra, cujo teor se dá por integralmente reproduzido, resultam
informações relativas aos cuidados prestados à utente e à sua situação clínica que
não constam dos respetivos registos clínicos, ora sendo estes totalmente omissos
no que se refere ao diário médico ora sendo o seu registo posterior no que se
refere ao diário de enfermagem.
110. Acresce que, do Relatório de Inquérito resulta que:
[…]”.
De notar ainda que no relatório do internamento no que diz respeito ao diário
clínico apenas está registado a nota de entrada feita às 18:55h do dia 09 de
Abril de 2015, sem outras anotações de factos ocorridos após essa hora, não
tendo sido por isso possível colher dados sobre instruções dadas às Sr.ªs
Enf.ªs quanto à vigilância do trabalho de parto ou outras atitudes médicas,
nomeadamente à administração de perfusão oxitócica.
O diário de enfermagem possui diversos registos de observações e atitudes
tomadas pelas enfermeiras de turno. No entanto o último, elaborado às
07:19h pela Sr.ª Enf.ª […], reporta apenas à posterior o sucedido entre as 03h
e as 06:40h.
5. Conclusões
Desta forma, feita a necessária investigação, conclui-se:
Que quer o Dr. […], quer a Enfermeira […] não agiram segundo a "legis artis",
com o cuidado que lhes era devido e exigido, comportamento esse passível
de consubstanciar infração disciplinar e consequente aplicação de medida
disciplinar.
Por um lado, a Sra. Enfermeira […], perante o quadro clinico apresentado
pela utente grávida, deveria ter chamado mais cedo o obstetra de serviço, Dr.
[…], bem como proceder aos registos de forma correta e atempada e não à
posteriori.
[…]”.
111. Mais se refira que relativamente a esta questão, resulta do relatório de
apreciação clínica do perito médico da ERS, que “No que se refere ao
cumprimento dos procedimentos de registo das informações clínicas da utente,
considerando, por um lado, a ausência de registos clínicos por parte dos médicos
obstetras e, por outro lado, o registo a posteriori por parte da enfermeira visada,
conclui-se que houve falhas no cumprimento desses procedimentos de registo” –
cfr. Relatório de apreciação clínica de 17 de fevereiro de 2016, junto aos autos.
112. Daqui resulta que o prestador não garantiu o registo e a documentação
pormenorizada, cuidadosa e completa da atividade médica, cirúrgica e dos
cuidados de enfermagem, o que resultou na lesão dos direitos e interesses
legítimos da utente dos autos.
113. Como se disse atrás, o processo clínico relativo a um determinado
utente/doente deve conter informação suficiente sobre a sua identificação, bem
como sobre todos os factos relacionados com a sua saúde, incluindo a sua
situação atual, evolução futura e história clínica e familiar, e ainda com os factos
relacionados com os cuidados de saúde que lhe tenham sido prestados e que lhe
venham a ser prestados no estabelecimento de saúde em que o processo clínico
se encontra depositado;
114. E que permita a transmissão de toda a informação relativa ao utente, em
qualquer momento, a outro profissional que preste cuidados de saúde ao utente,
como é o caso das equipas médicas ou no caso de transferência do utente para
outro serviço do SNS ou dentro da mesma unidade hospitalar.
115. Entre os elementos que integram o processo clínico encontram-se a memória
de anamnese (entrevista prévia ao paciente), o registo da admissão (e o estado de
saúde do doente nesse momento), o diagnóstico e os tratamentos utilizados
(incluindo os resultados dos exames e das análises), os fármacos, produtos e
outros materiais utilizados (e respetiva dosagem, lote, marca e outros elementos
relevantes), a evolução do seu estado de saúde, informação prestada ao doente
sobre o seu estado de saúde, eventuais correspondências entre profissionais (ou
mesmo a mudança de profissionais que se encontrem a cuidar dos doentes), a
transferência dos utentes de serviços, o prognóstico, o registo de alta dos doentes,
e ainda os custos e a faturação subjacente a todos os atos incluídos na prestação
de cuidados de saúde.
116. No caso dos autos é manifesta a falha na documentação e no registo dos
dados no processo clínico da utente, sendo, aliás, o próprio prestador a admitir na
resposta remetida à ERS “como se alcança do processo clínico, designadamente
do relatório completo do episódio de urgência, a deficiência/omissão dos registos
clínicos não permite a reconstituição do percurso da utente”.
117. Revela-se assim oportuna e necessária uma intervenção regulatória da ERS,
no sentido de assegurar a adequação do comportamento futuro da ULSBA com a
necessidade de garantir em permanência o registo de todos os dados relativos à
situação clínica dos utentes no seu processo clínico;
118. E que implicará que o prestador implemente os procedimentos que se revelem
necessários a garantir, de forma permanente e em qualquer situação, o registo
imediato de todos os elementos que se integrem no conceito de informação em
saúde, e que devam constar do processo clínico dos utentes, conforme legalmente
estabelecido, bem como a atualização de toda informação contida no processo
clínico, de forma a garantir a sua veracidade e completude;
119. Por todo o exposto, atentas as competências e atribuições legalmente
conferidas, justifica-se a intervenção regulatória da ERS, no sentido de assegurar
a adequação das situações detetadas, designadamente, no que toca à
necessidade de garantia do respeito pelos direitos e legítimos interesses dos
utentes e à garantia de acesso a cuidados de saúde de qualidade, em tempo útil e
adequados à situação concreta de cada utente, nos termos melhor infra descritos.
IV. AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS
120. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados,
nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do
Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,
tendo para o efeito sido chamados a pronunciar-se relativamente ao projeto de
deliberação da ERS a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE, e o
reclamante N., ambos notificados do projeto de deliberação em 18 de julho de
2016.
121. No prazo fixado para o efeito e até à presente data, não rececionou a ERS
qualquer pronúncia dos interessados.
122. Termos em que se conclui pela manutenção na íntegra da decisão projetada.
V. DECISÃO
123. Tudo visto e ponderado, e tendo sido violado o acesso a cuidados de saúde de
qualidade, em tempo útil e adequados na presente situação, o Conselho de
Administração da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do preceituado nas
alíneas a) e b) do artigo 19.º e na alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,
aprovados pelo ao Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, emitir uma instrução
à Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., nos seguintes termos:
(i) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve garantir, a
todo o momento, que os procedimentos por si definidos, em especial no
Serviço de Urgência/Obstetrícia, são aptos a assegurar, de forma
permanente e efetiva, o acesso dos utentes à prestação de cuidados de
saúde de qualidade, em tempo útil e adequados à situação concreta de
cada utente;
(ii) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve implementar
todas as medidas/procedimentos que se revelem necessários a
assegurar a prestação de todos os cuidados de saúde de qualidade e
segurança para os utentes, mormente no que se refere ao cumprimento
das normas e orientações de qualidade e segurança dos utentes, em
vigor, relativas à realização e registo de cesarianas (em especial a
norma da DGS n.º 001/2015, de 19/01/2015);
(iii) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve implementar
todas as medidas/procedimentos que se revelem necessários a
assegurar a prestação de todos os cuidados de saúde aos utentes com
a prontidão necessária, designadamente, obviando a existência de
situações como aquela do caso concreto em análise, em que “a
distância entre a ala de obstetrícia e o bloco operatório terão contribuído
para a demora na intervenção e consequentemente para o desfecho
final”;
(iv) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve garantir que
os procedimentos por si definidos, atinentes à segurança dos utentes,
são aptos a assegurar de forma permanente e efetiva os seus direitos e
interesses legítimos, mormente no que respeita a incidentes e eventos
adversos, em cumprimento da legislação, normas e demais orientações
em vigor, a cada momento aplicáveis, designadamente as constantes
da Orientação da Direção-Geral da Saúde n.º 011/2012, de 30/07/2012,
referente à Análise de Incidentes e de Eventos Adversos, bem como, da
Norma da Direção-Geral da Saúde n.º 015/2014, de 25/09/2014,
referente ao Sistema Nacional de Notificação de Incidentes;
(v) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve implementar
todas as medidas/procedimentos que se revelem necessários a garantir,
de forma permanente e em qualquer situação, o registo imediato,
completo organizado e atualizado no processo clínico dos utentes, bem
como a constante atualização, de toda a informação relativa à sua
situação clínica, garantindo a sua veracidade e completude, conforme
legalmente estabelecido (nomeadamente na Lei n.º 12/2005, de 26 de
janeiro, quer quanto à realização de cesarianas na norma da DGS n.º
001/2015, de 19/01/2015), assim se assegurando a prestação dos
cuidados de saúde adequados à sua situação e em tempo útil e
potenciando a qualidade dos serviços prestados;
(vi) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve garantir em
permanência, através da emissão e divulgação de ordens e orientações
claras e precisas, que tais regras e procedimentos sejam corretamente
seguidos e respeitados por todos profissionais de saúde envolvidos;
(vii) A Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, E.P.E., deve dar
cumprimento imediato à presente instrução, bem como dar
conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 dias úteis após a
notificação da presente deliberação, dos procedimentos adotados para
o efeito.
124. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do
n.º 1 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º
126/2014, de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com
coima de € 1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da
ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou
sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos
14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.
125. O Conselho de Administração da ERS delibera igualmente remeter cópia dos
presentes autos à Ordem dos Médicos e à Ordem dos Enfermeiros.
126. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio
oficial da Entidade Reguladora da Saúde na Internet.
O Conselho de Administração,
Porto, 7 de setembro de 2016.