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Desafios Sistema Justica
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O Sistema de Justiada Infncia e da Juventudenos 18 anos do Estatutoda Criana e do Adolescente
Desafios na Especializao para a Garantia deDireitos de Crianas e Adolescentes
COMPOSIO DA ABMP
Estrutura da ABMP
Diretoria Executiva:
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Presidente:
1 Vice-Presidente:
2 Vice-Presidente:
1 Secretria:
2 Secretria:
Tesoureira:
Eduardo Rezende Melo
Manoel Onofre de Souza Neto
Brigitte Remor de Souza May
Helen Crystine Corra Sanches
Vera Lcia Deboni
Silvana Correa Vianna
Juiz de Direito/SP
Promotor de Justia/RN
Juza de Direito/SC
Promotora de Justia/SC
Juza de Direito/SC
Promotora de Justia/MT
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Levantamento realizado pela ABMP
Associao Brasileira de Magistrados, Promotores
de Justia e Defensores Pblicos da Infncia e
da Juventude em comemorao dos 18 anos do
Estatuto da Criana e do Adolescente.
Braslia, julho de 2008.
SUMRIO
Introduo ............................................................................................................................................ 08
1. ApresentaoABMP- Associao Brasileira deMagistrados, Promotores de Justia e Defensores
Pblicos da Infncia e da Juventude ...................................................................................................... 08
2. A celebrao dos 18 anos do Estatuto da Criana e do Adolescente e o Sistema de Justia .................. 09
3. A necessidade de um levantamento nacional sobre como se estrutura o Sistema de Justia da
Infncia e da Juventude brasileiros. Viso geral sobre a proposta da ABMP ............................................. 12
Parte I .................................................................................................................................................. 13
4. A necessidade de especializao do Sistema de Justia da Infncia e da Juventude:
varas especializadas, equipes interprofissionais e formao..................................................................... 13
5. Especializao das varas da infncia e da juventude. Uma regra esquecida:
a obrigatoriedade de estabelecimento de proporcionalidade entre varas especializadas e populao.
O art. 145 do Estatuto da Criana e do Adolescente e a realidade brasileira ............................................ 14
5.1. Primeira inobservncia: a falta de critrios formais no pas .............................................................. 14
6. Marco situacional ............................................................................................................................. 15
6.1. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 200.000 habitantes ........................... 20
6.2. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 300.000 habitantes ........................... 21
6.3. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 400.000 habitantes ........................... 21
6.4. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 500.000 habitantes ........................... 21
6.5. Estados com varas especializadas em comarcas de mais de 500.000 habitantes .............................. 22
7. Segunda inobservncia: a falta de coerncia na gesto administrativa nos
Estados e regies brasileiras. Um quadro da realidade brasileira ................................................................ 22
8. O papel social da Justia da Infncia e da Juventude e a necessidade de correlao das varas
com indicadores de vulnerabilidade da populao infanto-juvenil e de suas famlias.
A referncia Poltica Nacional de Assistncia Social, Poltica doMinistrio da Sade Sade
Mental e indicadores doUNICEF comoparmetros de definio dos critrios do art. 145 .............................. 36
9. AAgenda Social Criana e osObjetivos doMilnio: a proposta daABMPpor um compromisso
progressivo de prioridade criana e ao adolescente brasileiros pelo Sistema de Justia .............. 40
Parte II ..............................
10. Equipes interprofissionais: um suporte indispensvel ao Sistema de Justia da Infncia e da
Juventude Brasileiro. O Judicirio dois anos depois da Resoluo n 02 do Conselho Nacional de Justia ........ 41
11. O levantamento realizado pela ABMP: a precariedade da assessoria aosmagistrados pela
inexistncia ou insuficincia de equipes interprofissionais nas Varas da Infncia e da Juventude................ 44
11.1. Estados sem equipe tcnica
11.2 Estados em que h equipe tcnica apenas nas capitais ou irrisria distribuio pelas suas comarcas 44
11.3 Estados em que h uma diversidade maior de comarcas contempladas com equipes tcnicas .......... 46
................................................................................................................... 41
.......................................................................................................... 44
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
12. A proporo de tcnicos por populao em cada Estado pesquisado
13. A (limitada) diversidade de qualificao dos tcnicos no levantamento ............................................. 72
14. Equipes interprofissionais: da ausncia e insuficincia efetiva garantia de direitos de
crianas e adolescentes por uma qualificao dos corpos tcnicos do Sistema de Justia da
Infncia e da Juventude
15. O impacto da ausncia de equipes no Sistema de Justia da Infncia e da Juventude
para a garantia de direitos
16. O estabelecimento de parmetros para a existncia de equipes: a proposta da ABMP ...................... 74
17. A importncia de maior diversidade de profissionais compondo as equipes tcnicas ......................... 78
18. A necessidade de uma equipe interdisciplinar e integrante do Poder Judicirio na
condio de servidores pblicos
19. O papel do CNJ na garantia de direitos de crianas e adolescentes: a exigncia de equipes
tcnicas na Justia da Infncia e da Juventude
Parte III
20. A formao demagistrados, promotores de justia e defensores pblicos.
Condio fundamental para a garantia de direitos de crianas e adolescentes ......................................... 82
21. Direito da infncia como ramo do direito autnomo na considerao de toda perspectiva formativa ... 86
22. O levantamento nacional sobre formao demagistrados, promotores de justia
e defensores pblicos da infncia e da juventude
23. O retrato da formao dosmagistrados, promotores de justia e defensores
pblicos em cada Estado pesquisado
24. A necessidade de aprimoramento da formao inicial terico-prtica dos
ingressantes no Sistema de Justia: um imperativo
25. A formao continuada demagistrados, promotores de justia e defensores
pblicos da infncia e da juventude
26. O papel da Escola Nacional de Formao deMagistrados e doMinistrio Pblico
na exigncia de freqncia a cursos para incio das atividades e promoo ........................................... 102
27. A proposta daABMPde curso de extenso e especializao distncia e a parceria
comos Tribunais de Justia, Procuradorias e Defensorias Pblicas,mas a correlata obrigao
de implementao de cursos de formao continuada
Observaes finais
28. A infncia e a juventude como prioridade na gesto do Judicirio. ABMP, CNJ e ENFAM .................. 107
29. Crditos e agradecimentos
30. Anexos
................................................. 70
........................................................................................................................ 73
.................................................................................................................... 73
............................................................................................................ 80
....................................................................................... 81
................................................................................................................................................ 82
.................................................................................. 87
..................................................................................................... 93
............................................................................... 100
..................................................................................................... 102
.......................................................................... 104
.............................................................................................................................. 107
............................................................................................................ 108
......................................................................................................................................... 113
INTRODUO
1. ABMP- Associao Brasileira de Magistrados, Promotores de Justia eDefensores Pblicos da Infncia e da Juventude. Breve apresentao
A criao histrica da ABMP remonta a 1968, quando constituda como a primeiraAssociao de Juzes de Menores do Brasil. Nos anos 80 seus estatutos foram alterados paraacolher tambm os Curadores de Menores, at que uma ciso interna originada a partir dosdebates da Assemblia Nacional Constituinte e da elaborao do Estatuto da Criana e doAdolescente levou diviso de seus membros.
Por motivos que descabe reproduzir, os dissidentes, inconformados com a atitude deadeso nova legislao por parte da maioria vencedora nas assemblias internas, restaramde posse dos estatutos originais, enquanto os quadros majoritrios vieram a criar uma novapessoa jurdica em 1993, dando incio a uma nova e exitosa feio associativa da entidade,cujo nome foi tambm alterado para Associao Brasileira de Magistrados e Promotores deJustia da Infncia e da Juventude.
Em 2008, a ABMP altera seu estatuto para incluso, como associados, dos defensorespblicos da infncia e da juventude sinalizando um novo momento histrico para Associao.
Consolida-se com este passo o processo histrico de afirmao da ABMP como umaentidade estruturada em um Sistema de Justia comprometido com o respeito e garantia dedireitos de crianas e adolescentes. Reconhecendo-os como sujeitos de direitos, inclusivecomo titulares das garantias processuais fundamentais como o devido processo legal e ocontraditrio, a ABMP transcende quaisquer diferenas institucionais ou corporativas paraafirmar-se publicamente como baluarte de repdio doutrina da situao irregular, quecaracterizava o menorismo vigente no apenas no Brasil mas em toda Amrica Latina.
Sob esta nova configurao, a ABMP atualmente se prope a abranger os cerca de6000 magistrados, promotores de justia e defensores pblicos da infncia e da juventude queatuam nas aproximadamente 2.700 Comarcas da Justia Comum de todos os 26 EstadosFederados e do Distrito Federal.
A atuao em mbito nacional da ABMP d-se atravs de um quadro de diretoria que,para atuao estadual, articula-se em coordenaes regionais e estaduais, estas compostas deum representante de cada instituio do Sistema de Justia da infncia e da juventude: aMagistratura, o Ministrio Pblico e a Defensoria.
Para uma ao mais conseqente, a ABMP se apia nas prprias instituies oficiais daJustia (Tribunais de Justia, Procuradorias-Gerais da Justia e Defensorias Pblicas Gerais) ouentidades de classe da Magistratura, do Ministrio Pblico e da Defensoria Pblica(Associaes Estaduais de Juzes, de Promotores de Justia, o de Defensores Pblicos, asEscolas Superiores de cada instituio), alm dos Centros de Apoio Operacional da Infncia e
8
da Juventude do Ministrio Pblico, das Coordenadorias da Infncia e da Juventude dosTribunais de Justia e dos Ncleos das Criana e do Adolescente das Defensorias Pblicas.
Sua misso institucional de promover e difundir os princpios da Conveno da ONUsobre os Direitos da Criana e do Estatuto da Criana e do Adolescente nos Sistemas de Justiae de Garantia de Direitos como um todo infncia e juventude e, para tanto, prope-se a:
Ampliar e qualificar canais de comunicao interna e externa ABMP-Associao Brasileira de Magistrados, Promotores de Justia e DefensoresPblicos da Infncia e da Juventude
Processar avaliao da gesto para transparncia e visibilidade das aes Promover e participar das aes de mobilizao social em defesa e garantia dos
direitos de crianas e adolescentes Participar dos espaos de gesto e democracia participativas em nveis nacional
e estadual, com titularidade de assento nos conselhos dos direitos, nos grupos,comisses, fruns de trabalho
Participar de Comisses Tcnicas junto ao Poder Legislativo em assuntos deinteresse da criana e da adolescente, dando ampla divulgao aos associadosdos projetos/debates
Promover cursos para capacitao continuada, por rea temtica nacional, paraatores/instituies do Sistema de Justia e do Sistema de Garantia de Direitos,em sua extenso ampliada
Elaborar metodologias de ensino em parceria e articulao com as Escolas daMagistratura, do Ministrio Pblico, da Defensoria
Formar equipes de multiplicadores do Sistema de Justia para fortalecimento doSistema de Garantia de Direitos da Criana e do Adolescente, difuso dadoutrina e das prticas de proteo integral e para a formao e capacitao narea
Desenvolver estratgias de aprimoramento, monitoramento e avaliao da aodos integrantes do Sistema de Justia, a partir de protocolos de intenes entreinstituies parceiras (SEDH, ILANUD, UNICEF, CONANDA, CNJ, dentre outros)
Realizar congressos nacionais (em anos pares) como espao para debate detemas, teses e experincias por eixos temticos; para articulao com o Sistemade Garantia de Direitos, numa relao estreita com os Conselhos de Direitos,Tutelares e Polticas Setoriais; e, encontros e seminrios regionais (em anosmpares) para debate das questes e desafios regionais.
Neste ano em que se celebram os 18 anos, mais que esperado que a sociedadebrasileira faa um balano do efetivo cumprimento dos compromissos polticos assumidosno apenas em mbito interno, por ocasio da promulgao da Constituio Federal, doisanos antes, mas tambm em mbito internacional, com a ratificao da Conveno sobredireitos da criana, das Naes Unidas.
No preciso muito para se constatar que, a despeito de inegveis progressos,
2. A celebrao dos 18 anos do Estatuto da Criana e do Adolescente e oSistema de Justia da Infncia e da Juventude
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O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
inmeras crianas e adolescentes continuam vivendo em situao de vulnerabilidade,sujeitando-as s mais diversas violaes de direitos.Em grande parte, isto se deve a que muitos dos desafios de 18 anos atrs se mostrampraticamente os mesmos.
Embora terica e doutrinariamente esteja assentada a passagem da situao irregularde crianas e adolescentes sua proteo integral, percebe-se na prtica o quanto muito aindah de se caminhar para que esta mudana de paradigmas se torne realidade.
Crianas e adolescentes ainda so tomadas inmeras vezes objeto de interveno deadultos, desconsiderando seu direito participao, portanto adequada informao sobreseus direitos, garantia de fala e de que sua opinio seja devidamente considerada, mas,sobretudo, a seu direito de demanda poltica por efetividade de direitos que promovam seupleno desenvolvimento.
A esperada mudana no fundamento poltico da garantia desses direitos, com apassagem de um modelo filantrpico ao de polticas pblicas, muitas vezes ficou apenas napromessa. Embora as polticas estejam desenhadas, sabido o quanto no so efetivadas,fazendo com que crianas e adolescentes e suas famlias continuem sendo objeto deconsiderao de prticas assistencialistas, mantendo-as alijadas do processo dedesenvolvimento pessoal e nacional, porque no se lhes propicia o efetivo reconhecimento desua condio de sujeitos de direitos de polticas pblicas.
Neste contexto, imperativo se colocar em questo o modo como o Poder Judicirioresponde a estes imperativos.
O ECA reservou ao Judicirio, ao Ministrio Pblico e Defensoria Pblica, papisfundamentais no Sistema de Garantia de Direitos SGD. O Sistema de Justia SISTEMA DEJUSTIA tem potencial para se apresentar como capaz para defender, proteger e promover osdireitos previstos nas normativas pertinentes, devendo assumir-se, de acordo com acomunidade internacional, como parte integrante do processo de desenvolvimento nacionalde cada pas e ser administrada no marco geral da justia social de modo no apenas acontribuir para a sua proteo, mas tambm para a manuteno da paz e ordem na sociedade(Regras Mnimas das Naes Unidas para a Administrao da Justia da Infncia e daJuventude, art. 1.4)
Entretanto, o potencial transformador do SISTEMA DE JUSTIA no encontraexpresso na realidade brasileira. Mais do que falar em limitaes financeiras a restringir aatuao da Justia, percebe-se uma falta de prioridade pelas instituies do Sistema de Justiana infncia e juventude.
A impresso geral funda-se, de um lado, na elevada demanda feita s Varas da Infnciae da Juventude pela efetivao de direitos de crianas e adolescentes, mas, de outro lado, nasua reduzida capacidade de ao, em razo da deficiente estruturao material e humana dasVaras, Promotorias e Defensorias.
Mas no s. As prticas do Sistema de Justia nem sempre incorporam a mudana de
10
11paradigmas operada pelo ECA e pelas intervenes de outras reas setoriais.Seria injusto atribuir esta falta apenas aos operadores do direito, especificamente amagistrados, promotores de justia e a defensores pblicos.
Percebe-se, pelo contrrio, uma falta de reconhecimento de prioridade do direito decrianas e adolescentes pelas instituies do Sistema de Justia, em manifesta afronta aopreceito constitucional do art. 227. Esta prioridade s pode ser afirmada se algunspressupostos forem observados.
Primeiro, o reconhecimento da complexidade e especificidade prprias atuao doSistema de Justia, chamado a lidar com diversas temticas, exigindo-lhes conhecimentosinterdisciplinares e uma ao sistmica e articulada mais em consonncia com a rede deatendimento. Portanto, a necessidade de varas especializadas em conformidade com o graude complexidade de problemas que a populao infanto-juvenil e suas famlias esto expostas.
Segundo e em decorrncia disto, a necessidade de uma formao especficaabrangente, inclusive das polticas pblicas voltadas a crianas, adolescentes e suas famlias,com reflexo sobre o papel do Sistema de Justia na promoo de direitos no apenasindividuais, mas tambm sociais e coletivos de seu pblico alvo.
Terceiro, o imperativo suporte de equipes interdisciplinares, capacitadas a uma atuaoespecfica e prpria ao Sistema de Justia na garantia de direitos individuais e coletivos decrianas e adolescentes.
Quarto, de que a efetivao dos direitos s pode se dar quando o preceito estatutrioda promoo de direitos se viabiliza de modo articulado, envolvendo o poder constitudo, acomunidade e a sociedade civil. Portanto, fundamental o reconhecimento de que osoperadores do direito no Sistema de Justia so chamados a uma atuao diversificada, emrede, por determinao legal (art. 86 do Estatuto da Criana e do Adolescente), no sepodendo pautar a aferio de sua demanda de servio a de operadores de reas diversas dodireito, cuja atuao tradicionalmente restrita ao processo e ao espao do frum, comlimitado ou inexistente contato com outros atores sociais. o que anlises da atuao doJudicirio tm demonstrado .
Por esta razo, a ABMP entende ser impossvel pensar o avano na promoo dedireitos de crianas e adolescentes no pas sem enfrentar o modo como vem sendo pensada,estruturada e gerida a Justia da Infncia e da Juventude brasileira.
Este um desafio nunca realizado at o momento e que a ABMP assume comoprioridade de sua gesto 2008-2010.
Neste sentido, um foco primeiro h de ser, no a atuao individual dos operadores dodireito, mas a Administrao Superior do Sistema de Justia e o modo como concebe, organizae administra a Justia da Infncia e da Juventude no Brasil.
1
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
1Strauss, Daniel. Anlise da atuao institucional do Poder Judicirio e de agentes afins. In: Cadernos de Gesto Pblicae Cidadania. Vol. 27, julho de 2003
123. A necessidade de um levantamento nacional sobre como se estrutura oSistema de Justia da Infncia e da Juventude brasileiros. Viso geral sobre aproposta da ABMP- Associao Brasileira de Magistrados, Promotores deJustia e Defensores Pblicos da Infncia e da Juventude
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude brasileiro no apenas ocupa um lugarsecundrio e marginal na Administrao da Justia Brasileira como um desconhecido nopas.
Inexiste levantamento sobre o modo como se estrutura, muito menos uma reflexoconseqente e profunda sobre os modos como deveria ser organizado para que a efetivaoda garantia de direitos seja uma realidade no Brasil.
Por conseguinte, a ABMP estabeleceu um conjunto inicial de doze tpicos que seroobjeto de um mapeamento nacional com a colaborao de seus coordenadores regionais eestaduais.
Trs deles so objeto do presente levantamento, porque representam o patamar inicialde organizao da Justia da Infncia e da Juventude:
1. proporo de Varas da Infncia e da Juventude instaladas com populao eexistncia de critrios para cumprimento do art. 145 do Estatuto da Criana e doAdolescente?
2. existncia de equipes interdisciplinares e quantidade de tcnicos por comarca eentrncia
3. formao e capacitao operadores do direito (ingresso na carreira, formaoinicial e continuada)
A ABMP pretende prosseguir seu levantamento discutindo os seguintes tpicos:
4. modo de distribuio de competncia quando h mais de uma varaespecializada por comarca: territorial, por matria?
5. modo de cumulao de competncias quando no h vara especializada: com oque cumula? Crime, cvel, jri, famlia, execues criminais, idoso, outro?
6. mdia do nmero de processos da infncia por magistrado comparado com asdemais reas.
7. critrios de aferio de desempenho especficos infncia e juventude por partedos operadores do direito para efeito de clculo de nmero de processos porjuiz, promotor de justia, defensor pblico e equipe interprofissional
8. existncia de varas especializadas em crimes contra a criana e o adolescente?9. existncia de cmaras especializadas nos Tribunais e, se cumulam, com o que?10. existncia de Centros de Apoio, Coordenadorias e Ncleos em cada uma das
instituies e modo de estruturao; se elaboraram planejamento estratgico,quais os indicadores de avaliao utilizados e como se d o processo deaferio?
11. mecanismos de articulao em rede12. sistema de dados da justia e sua inter-relao com polticas setoriaisEstes levantamentos sero gradativos e objeto de discusses progressivas visando o
aprimoramento do Sistema de Justia.
O primeiro, agora realizado, serve de contexto celebrao dos 18 anos do Estatuto daCriana e do Adolescente, numa discusso histrica capitaneada pelo Conselho Nacional deJustia - CNJ e pela Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados - ENFAM.
Mais ainda, ele ser utilizado por ocasio da elaborao do relatrio da sociedade civilao Comit de direitos da criana, do Alto Comissariado de Direitos Humanos, das NaesUnidas, em cumprimento ao disposto no art. 44 da Conveno sobre os direitos da Criana.
Os demais sero trabalhados nos seminrios regionais da ABMP, a serem realizados em2009, bem como em seu Congresso Nacional, em 2010, em Braslia.
Com este levantamento, a ser objeto de publicao integral at 2010, a ABMP pretendecolocar-se como parceira da Alta Administrao do Sistema de Justia da Infncia e daJuventude brasileira, em todos os Estados e no DF, mas sobretudo do Conselho Nacional deJustia e do Conselho Nacional do Ministrio Pblico, para que, com o aprimoramento dagesto do Sistema, os direitos de crianas e adolescentes possam ser efetivamente garantidose, com isso, o desenvolvimento pleno de crianas e adolescentes brasileiros assegurado.
com este intuito que passamos a apresentar os dados levantados e a proceder a suaanlise, com recomendaes e sugestes para esse efetivo aprimoramento.
A especializao formativa dos operadores do direito e estrutural das Varas da Infnciae da Juventude, seja pela unicidade da temtica a ser objeto de anlise, seja pela existncia deequipes tcnicas auxiliares aos magistrados condio primeira para efetivao da garantia dedireitos de crianas e adolescentes.
Os trs temas esto implicados entre si e por isso motivaram sua escolha como foco daprimeira parte deste levantamento.
Dividiremos a apresentao do levantamento propriamente dito nos trs eixos deanlise: proporcionalidade de varas especializadas e populao, equipes tcnicas e formao.
Parte I
4. A necessidade de especializao do Sistema de Justia da Infncia e daJuventude: varas especializadas, equipes interprofissionais e formao
13
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Cada eixo ser analisado em quatro grandes marcos, com alguma especificidade na suaexposio, conforme a temtica o exija:
marco legal marco situacional diretrizes analticas de conformao do tema recomendaes
De modo sintomtico, o Estatuto da Criana e do Adolescente ao tratar em seu ttulo VIdo acesso justia como um direito de toda criana ou adolescente, prev logo na abertura docaptulo II, referente Justia da Infncia e da Juventude, em seu art. 145, que os Estados e oDistrito Federal podero criar varas especializadas e exclusivas da infncia e da juventude,
e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantes.
Trata-se de uma disposio que visa, toda evidncia, definir parmetros de gesto doPoder Judicirio, focado na misso institucional que a prpria lei atribui Justia da Infncia eda Juventude, no art. 148 do Estatuto, competindo-lhe no apenas a apreciao de daviolao de direitos individuais, mas tambm coletivos e difusos de crianas e adolescentes,procedendo, ainda, o controle de entidades de atendimento por seu dever de fiscalizao (art.95) e seu poder aplicar-lhes as medidas cabveis quando infrinjam preceitos garantidores dedireitos.
Todavia, no levantamento realizado, verifica-se umaa definir tal proporcionalidade.
Em nenhum Estado pesquisado como tampouco no Distrito Federal encontrou-sequalquer ato normativo estabelecendo referida proporcionalidade.
A nica referncia normativa existente, mas feita por rgo a quem o Estatuto daCriana e do Adolescente no atribui competncia para tanto, a Resoluo de n 113 doCONANDA Conselho Nacional de Direitos da Criana e do Adolescente que, em seu art. 9,estabelece que o Poder Judicirio, o Ministrio Pblico, as Defensorias Pblicas e a SeguranaPblica devero ser instados no sentido da exclusividade, especializao e regionalizao dosseus rgos e de suas aes, garantindo a criao, implementao e fortalecimento de:
5. ESPECIALIZAO DAS VARAS DA INFNCIA E DA JUVENTUDE. Uma regraesquecida: a obrigatoriedade de estabelecimento de proporcionalidade entrevaras especializadas e populao. O art. 145 do Estatuto da Criana e doAdolescente e a realidade brasileira
5.1. Primeira inobservncia: a falta de critrios formais no pas.
cabendo ao Poder Judicirio estabelecer sua proporcionalidade por nmero de habitantes,dot-las de infra-estrutura
absoluta falta de critrios formais nopas
14
I Varas da Infncia e da Juventude, especficas, em todas as comarcas quecorrespondam a municpios de grande e mdio porte ou outra proporcionalidade por nmerode habitantes, dotando-as de infra-estruturas e prevendo para elas regime de planto;
II Equipes Interprofissionais, vinculadas a essas Varas e mantidas com recursos do PoderJudicirio, nos termos do Estatuto citado
De acordo com o IBGE, municpios de mdio porte so aqueles entre 50.001 a 100.000habitantes e, de grande porte, aqueles com populao entre 100.001 a 900.000 habitantes .
Este critrio, como se observar no marco situacional, em nada representa a realidadebrasileira.
Como se v pela tabela abaixo, h 92 comarcas com varas especializadas no pas, das quais 18contam com mais de uma vara.
2
6. MARCO SITUACIONAL
15
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
2IBGE, 2000. Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002.
Municpios quecontam com varas
especializadas no BrasilHabitantes
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
AbaetetubaAltamiraAnanindeua *Anpolis *Aparecida de Goinia *AracajuArapiracaAraraquara *BarcarenaBelm *Belo Horizonte *Blumenau *Boa VistaBraslia *BrevesCabo de Santo AgostinhoCachoeiro de Itapemirim *CametCampina GrandeCampinas *Campo GrandeCanoas *CapanemaCariacica *Caruaru *Cascavel *
132.22292.105
484.278325.544475.303520.303202.398195.815
84.5601.408.8472.412.937
292.972249.853
2.455.90394.458
163.139195.288110.323371.060
1.039.297724.524326.458
61.350356.536289.086285.784
xxxxxxxxxxxxxxxXxxxxxxxxXx
xxxxx
xxx
xxxxxxxxx
xxxx
x
xx
x
111112111241111
11112111
1
2
22
2
Municpios quecontam com varas
especializadas no BrasilHabitantes
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Caxias do Sul *ColatinaConceio do AraguaiaContagem *CuiabCuritiba *DouradosFeira de Santana *Florianpolis *Fortaleza *Foz do Iguau *GaranhunsGoinia *Guarulhos *ImperatrizJaboato dos Guararapes *Joo PessoaJoinville *Juiz de Fora *LinharesLondrina *MaceiManausMarlia *Maring *MossorNatalNovo Hamburgo *Olinda *Osasco *OsrioPalmasParauapebasPasso Fundo *Paulista *Pelotas *Petrolina *Ponta Grossa *Porto Alegre *Porto VelhoRecife *RedenoRio BrancoRio de Janeiro *Salvador *Santa Cruz do SulSanta InsSanta Isabel do ParSanta Maria *
399.038106.637
45.267608.650526.831
1.797.408181.869571.997396.723
2.431.415311.336124.996
1.244.6451.236.192
229.671665.387674.762487.003513.348124.564497.833896.965
1.646.602218.113325.968234.390774.230253.067391.433701.012
39.290178.386133.298183.300307.284339.934268.339306.351
1.420.667369.345
1.533.58064.583
290.6396.093.4722.892.625
115.85782.02651.763
263.403
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxx
xxx
xxxxx
xxx
x
x
xxxxxxxxxx
x
xxx
xxxx
xx
x
x
xx
x
x
x
x
11112311151
111
211112211131
11111
1
141
11421111
23
5
2
22
13
4
2
16
17
Na anlise comparativa por regies, segundo a populao de cada uma e o nmero de varasespecializadas com competncia exclusiva em infncia e juventude, percebe-se a pouca nfasedada rea sobretudo na regio Sudeste do pas:
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Municpios quecontam com varas
especializadas no BrasilHabitantes
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Santo Andr *Santo ngeloSo Bernardo do Campo *So Jos do Rio Preto *So Jos dos Campos *So LusSo Paulo *Serra *Sorocaba *TeresinaTimonTucuruUberaba *Uberlndia *UruguaianaVila Velha *Vitria *TOTAIS
667.89173.800
781.390402.770594.948957.515
10.886.518385.370559.157779.939144.333
89.264287.760608.369123.743398.068314.042
92
xxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxx
x
xxxxxxx
70
xxx
x
18
111112
152121111111
12611 92
215
2
17
BrasilRegies Habitantes
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Regio SulRegio SudesteRegio Centro OesteRegio NordesteRegio NorteTOTAL BRASIL (Por Regies)
7.550.24029.688.144
5.934.61913.887.207
5.587.14362.647.353
000000
2024
7231892
1421
5141670
232
102
19
22292
17
2545
92920
128
18 Com efeito, em anlise comparativa, percebe-se o grau de distoro em termos dequantidade de populao sob responsabilidade de magistrados nas diversas regies do pas.Constata-se que nas regies Sudeste e Centro-Oeste os magistrados respondem por umnmero consideravelmente maior de populao que nas demais, embora possam ter de lidarcom realidades to ou mais complexas que a de seus pares:
A grande maioria das comarcas com varas especializadas no pas est situada emmunicpios com at 500.000 habitantes, conforme tabela abaixo:
Por regio, o quadro revela uma piora significativa nas regies Sudeste e Centro-Oeste,com um melhor quadro nas regies Norte e Sul do pas. A regio Nordeste situa-se na mdia.
Confira as tabelas abaixo:
Brasil - Municpios com varas especializadas e competnciaexclusiva em infncia e juventude (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
29
491714
2,20%9,89%
53,85%18,68%15,38%
Centro-Oeste - Municpios com varas especializadas ecompetncia exclusiva em infncia e juventude (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
00322
0,00%0,00%
42,86%28,57%28,57%
Percebe-se que a mdia populacional atendida por magistrado especializado comcompetncia exclusiva em infncia e juventude no pas elevada, conforme tabela abaixo:
19
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Nordeste - Municpios com varas especializadas ecompetncia exclusiva em infncia e juventude (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
01
1183
0,00%4,35%
47,83%34,78%13,04%
Norte - Municpios com varas especializadas ecompetncia exclusiva em infncia e juventude (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
17802
5,56%38,89%44,44%
0,00%11,11%
Sudeste - Municpios com varas especializadas ecompetncia exclusiva em infncia e juventude (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
00
1185
0,00%0,00%
45,83%33,33%20,83%
Sul - Municpios com varas especializadas ecompetncia exclusiva em infncia e juventude (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
11
1602
5,00%5,00%
80,00%0,00%
10,00%
Brasil mdia de habitantes por juzesespecializados em infncia e juventude 438.896,72
20 Por regio, verifica-se uma melhora significativa na regio Norte e Sul, sendo a regioSudeste, paradoxalmente a mais rica, a que apresenta os piores indicadores.
Confira as tabelas abaixo:
Pode-se, portanto, elaborar as seguintes tabelas comparativas, confirmando a grandevariedade de critrios entre os Estados.
6.1. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 200.000habitantes
Centro-Oeste mdia de habitantes por juzesespecializados em infncia e juventude 494.551,58
Nordeste mdia de habitantes por juzesespecializados em infncia e juventude 433.975,22
Norte mdia de habitantes por juzesespecializados em infncia e juventude 279.357,15
Sudeste mdia de habitantes por juzesespecializados em infncia e juventude 503.188,88
Sul mdia de habitantes por juzesespecializados em infncia e juventude 302.009,60
Estado Mdia populao/varaNmerode varas
especializadas
TocantinsEsprito Santo
178.386,00188.050,50
17
216.2. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 300.000habitantes
6.3. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 400.000habitantes
6.4. Estados com varas especializadas em comarcas de menos de 500.000habitantes
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Estado Mdia populao/varaNmero de
comarcas com varasespecializadas
ParAmapRoraimaRio Grande do NorteRio Grande do SulSergipeMato GrossoMaranhoAcre
203.737,00218.125,50249.853,00252.155,00252.754,07260.151,50263.415,50282.709,00290.639,00
13112
111141
Estado Mdia populao/varaNmero de
comarcas com varasespecializadas
Mato Grosso do SulParabaAlagoasRondniaPiauSanta Catarina
302.131,00348.607,33366.454,33369.345,00389.969,50392.232,67
222113
Estado Mdia populao/varaNmero de
comarcas com varasespecializadas
ParanMinas GeraisCear
440.585,00443.106,40486.283,00
651
226.5. Estados com varas especializadas em comarcas de mais de 500.000habitantes
7. Segunda inobservncia: a falta de coerncia na gesto administrativa nosEstados e regies brasileiras. Um quadro da realidade brasileira
Percebe-se que em 11 Estados o critrio estabelecido foi de menos de 300.000habitantes, em 06, de menos de 400.000 habitantes e em 10, de mais de 400.000 habitantes.A grande maioria, portanto, estabelece um patamar de 400.000 habitantes como critrio.
No entanto, se atentarmos para a populao dos municpios brasileiros, verifica-seclaramente que sequer este critrio seguido a rigor pelos Estados na mdia do pas:
Seria de se esperar, portanto, que houvesse 253 comarcas com varas especializadas se ocritrio fosse de at 500.000 habitantes. Como visto, h apenas 92 no pas, evidenciando quesequer se atinge o patamar de um tero delas.
Outra concluso digna de relevo que justamente os Estados mais populosos, em queh maior complexidade de problemas, apresentam os piores critrios populacionais para acriao de varas especializadas em infncia e juventude.
, algumas concluses podem ser extradas.
A primeira, de uma absoluta falta de critrio interno baseado na populao para acriao de varas especializadas com competncia exclusiva em infncia e juventude.
Em relao aos Estados
Estado Mdia populao/varaNmero de
comarcas com varasespecializadas
BahiaSo PauloDistrito FederalRio de JaneiroGoisPernambucoAmazonas
576.103,43576.103,43613.975,75677.052,44681.830,67748.648,80823.301,00
211
11381
Brasil Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
4.998313217
2214
89,83%5,63%3,90%0,40%0,25%
Percebe-se, em todos os Estados, que o nmero mdio de habitantes por juzes tem umgrau de variao bastante acentuado quando se compara o nmero de populao das cidadescontempladas com varas.
De outro lado, tampouco se v a utilizao do critrio populacional para a criaoprogressiva de varas dentro de uma mesma comarca na medida em que h um incremento donmero de habitantes.
Uma terceira observao pauta-se pelo distanciamento dos Tribunais Estaduais doparmetro utilizado pelo CNJ para considerao de juzes por habitantes na rea da infncia eda juventude. Com efeito, nfima a proporo de varas especializadas com competnciaexclusiva em infncia e juventude se comparado com o nmero de municpios com mais decem mil habitantes.
Confira as tabelas abaixo.
23
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
AcreComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No No NoSim Sim SimCargos no
providosNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Todos os cargos dejuzes esto providos
nestas varas?
Quantidade
Rio BrancoTOTAIS
290.6391 0
X1
x1
x1 00 0
11
Acre Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaAcre Habitantes por juzes
201100
14,55%
290.639,00
90,91%4,55%4,55%0,00%0,00%
24
Alagoas Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
937110
21,96%
366.454,33
91,18%6,86%0,98%0,98%0,00%
Amap Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
141100
16,25%
218.125,50
87,50%6,25%6,25%0,00%0,00%
AlagoasComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
ArapiracaMaceiTOTAIS
202.398896.965
2 0
xx2
x
1x1
21
123
AmapComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
MacapSantanaTOTAIS
344.15392.098
2 0
xx2
xx2 0 0
112
25
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
AmazonasComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
ManausTOTAIS
1.646.6021 0
x1 0
x1
21
22
Amazonas Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
564101
11,61%
823.301,00
90,32%6,45%1,61%0,00%1,61%
Bahia Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
3782413
11
20,48%
576.103,43
90,65%5,76%3,12%0,24%0,24%
BahiaComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Feira de Santana *Salvador *TOTAIS
571.9972.892.625
2 0
xx2
x
1x1
21
123
26
CearComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Fortaleza *TOTAIS
2.431.4151 0
x1 0
x1
55
55
Distrito FederalHabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Braslia *TOTAIS
2.455.9031 0
x1
x1 0 0
11
Cear Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
15422
701
10,54%
486.283,00
83,70%11,96%
3,80%0,00%0,54%
Distrito Federal Total de MunicpiosTotal HabitantesComarcas com vara Especializada% comarcas com vara especializadaHabitantes por juzes
12.455.903
1100,00%
613.975,75
Esprito SantoComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Cachoeiro de Itapemirim *Cariacica *ColatinaLinharesSerra *Vila Velha *Vitria *TOTAIS
195.288356.536106.637124.564385.370398.068314.042
7 0
xxxxxxx7
xxxx
xx6
x
1 0
11112118
GoisComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Anpolis *Aparecida de Goinia *Goinia *TOTAIS
325.544475.303
1.244.6453 0
xxx3
xxx3 0 0
1113
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
27
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Esprito Santo Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
674700
78,97%
188.050,50
85,90%5,13%8,97%0,00%0,00%
Gois Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
22811
601
71,22%
681.830,67
92,68%4,47%2,44%0,00%0,41%
28
MaranhoComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
ImperatrizSanta InsSo LusTimonTOTAIS
229.67182.026
957.515144.333
4 0
xxxx4
xx
x3
x
1
2
1
11215
Maranho Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
01210
4100,00%
282.709,00
0,00%25,00%50,00%25,00%
0,00%
Mato Grosso Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
1334310
10,71%
263.415,50
94,33%2,84%2,13%0,71%0,00%
Mato GrossoComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
CuiabTOTAIS
526.8311 0
x1 0
x1
21
22
Mato Grosso do SulComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Campo GrandeDouradosTOTAIS
724.524181.869
2 0
xx2
x1
x
1
2
1
213
29
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Mato Grosso do Sul Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
733110
22,56%
302.131,00
93,59%3,85%1,28%1,28%0,00%
Minas Gerais Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
7893822
31
50,59%
443.106,40
92,50%4,45%2,58%0,35%0,12%
Minas GeraisComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Belo Horizonte *Contagem *Juiz de Fora *Uberaba *Uberlndia *TOTAIS
2.412.937608.650513.348287.760608.369
5 0
xxxxx4
xxxx4
x
1
2
1
411118
ParComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
AbaetetubaAltamiraAnanindeua *BarcarenaBelm *BrevesCametCapanemaConceio do AraguaiaParauapebasRedenoSanta Isabel do ParTucuruTOTAIS
132.22292.105
484.27884.560
1.408.84794.458
110.32361.35045.267
133.29864.58351.76389.264
13 0
xxxxxxxxxxxxx
13
xxxx
xxxxxxxx
12
x
1
2
1
1111211111111
14
30
Par Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
11320
901
139,09%
203.737,00
79,02%13,99%
6,29%0,00%0,70%
Paraba Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
2155210
20,90%
348.607,33
96,41%2,24%0,90%0,45%0,00%
ParabaComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Campina GrandeJoo PessoaTOTAIS
371.060674.762
2 0
xx2
x
1x1
21
123
ParanComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Cascavel *Curitiba *Foz do Iguau *Londrina *Maring *Ponta Grossa *TOTAIS
285.7841.797.408
311.336497.833325.968306.351
6 0
xxxxxx6 0
x
1
3
1
1311118
PernambucoComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Cabo de Santo AgostinhoCaruaru *GaranhunsJaboato dos Guararapes *Olinda *Paulista *Petrolina *Recife *TOTAIS
163.139289.086124.996665.387391.433307.284268.339
1.533.5808 0
XXXXXXXX8
xxxxxxx
7x1 00
31
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Paran Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
3671714
01
61,50%
440.585,00
91,98%4,26%3,51%0,00%0,25%
Pernambuco Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
15322
811
84,32%
748.648,80
82,70%11,89%
4,32%0,54%0,54%
PiauComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
TeresinaTOTAIS
779.9391 0
x1 0
x1
21
22
32
Piau Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
2183110
10,45%
389.969,50
97,76%1,35%0,45%0,45%0,00%
Rio Grande do Norte Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
1595210
21,20%
252.155,00
95,21%2,99%1,20%0,60%0,00%
Rio Grande do NorteComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
MossorNatalTOTAIS
234.390774.230
2 0
xx2
x
1x1
231
123
Rio Grande do SulComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Canoas *Caxias do Sul *Novo Hamburgo *OsrioPasso Fundo *Pelotas *Porto Alegre *Santa Cruz do SulSanta Maria *Santo ngeloUruguaianaTOTAIS
326.458399.038253.067
39.290183.300339.934
1.420.667115.857263.403
73.800123.743
11 153
xxxxxxxxxxx
11
xxxxxx
xxxx
163
x
1
4
1
11111141111
14
33
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Rio Grande do Sul Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
4552317
01
112,22%
252.754,07
91,73%4,64%3,43%0,00%0,20%
Rio de Janeiro Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
561319
31
11,09%
677.052,44
60,87%14,13%20,65%
3,26%1,09%
Rio de JaneiroComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Rio de Janeiro *TOTAIS
6.093.4721 0
x1
x1 0 0
44
34
RondniaComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Porto VelhoTOTAIS
369.3451 0
x1
x1 0 0
11
RoraimaComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Boa VistaTOTAIS
249.8531 0
x1
x1 0 0
11
Rondnia Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
464200
11,92%
369.345,00
88,46%7,69%3,85%0,00%0,00%
Roraima Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
140100
16,67%
249.853,00
93,33%0,00%6,67%0,00%0,00%
So PauloComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Araraquara *Campinas *Guarulhos *Marlia *Osasco *Santo Andr *So Bernardo do Campo *So Jos do Rio Preto *So Jos dos Campos *So Paulo *Sorocaba *TOTAIS
195.8151.039.2971.236.192
218.113701.012667.891781.390402.770594.948
10.886.518559.157
11 0
xxxxxxxxxxx
11
xxxxxxxxx
x10
x
1
15
1
111111111
151
25
Santa CatarinaComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
Blumenau *Florianpolis *Joinville *TOTAIS
292.972396.723487.003
3 0
xxx3
xxx3 0 0
1113
35
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Santa Catarina Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
2671610
00
31,02%
392.232,67
91,13%5,46%3,41%0,00%0,00%
So Paulo Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
5274861
63
111,71%
576.103,43
81,71%7,44%9,46%0,93%0,47%
8. O papel social da Justia da Infncia e da Juventude e a necessidade decorrelao das varas com indicadores de vulnerabilidade da populaoinfanto-juvenil e de suas famlias. A referncia Poltica Nacional deAssistncia Social, Poltica do Ministrio da Sade Sade Mental eindicadores do UNICEF como parmetros de definio dos critrios do art. 145
A ABMP entende que dois devem ser os critrios fundantes na definio da proporode existncia de varas especializadas e populao.
SergipeComarcas Habitantes
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
AracajuTOTAIS
520.3031 0
x1
x10
21
22
36
Sergipe Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
694110
11,33%
260.151,50
92,00%5,33%1,33%1,33%0,00%
Tocantins Municpios (habitantes): %
At 50.000 habAt 100.000 habAt 500.000 habAt 1.000.000 habAcima de 1.000.000 hab
Municpios com vara Especializada% municpios com vara especializadaHabitantes por juzes
1361200
32,16%
178.386,00
97,84%0,72%1,44%0,00%0,00%
TocantinsComarcas
HabitantesMunicpio
sede
Comarca conta comvara especializada comcompetncia exclusiva
em infncia e Juventude?
No NoSim SimNmerode Juzes
Comarca conta mais de umavara especializada comcompetncia exclusiva e
infncia e juventude?
Quantidade
PalmasTOTAIS
178.3861 0 0 0
x1
x1
11
Primeiro, uma anlise prpria ao Judicirio dos critrios estabelecidos para anlise degesto do Sistema de Justia.
Segundo, com maior especificidade na rea da infncia e juventude, a correlao doscritrios de criao de varas especializadas com competncia exclusiva na infncia e juventudedaquilo que vem sendo estudado em relao s polticas setoriais focadas em crianas eadolescentes e suas famlias, especialmente aquelas em vulnerabilidade.
De acordo com as duas anlises, como veremos, a populao de 100.000 habitantesdeveria ser o critrio regente para a definio do critrio de criao de varas especializadas comcompetncia exclusiva em infncia e juventude.
Com efeito, o Conselho Nacional de Justia, em sua anlise dos nmeros do Sistema deJustia, inclusive da Justia Estadual, pauta-se sempre pela referncia de cada cem milhabitantes, conforme seu levantamento de 2006, A Justia em nmeros. O levantamento realizado segundo os critrios de nmero de magistrados, de pessoal auxiliar e de pessoalefetivo por 100.000 habitantes.
Sabe-se o quanto os temas correlacionados infncia e juventude esto intimamenteligados ao da famlia e da comunidade, sobretudo em causas relativas a direitos difusos ecoletivos, no se podendo, portanto, pretender a dissociao da populao infanto-juvenil doconjunto maior da populao de um municpio.
Ainda que assim no fosse, em se pautando pela populao infanto-juvenilespecificamente que, sabe-se, de mais de um tero da populao total -, ter-se-ia, na piordas hipteses, um critrio intermedirio de existncia de magistrado especializado a cada300.000 habitantes.
No entanto, quando se considera o segundo critrio utilizado, o de vulnerabilidade deacordo com as polticas setoriais, percebe-se que o nmero de cem mil habitantes pormagistrado especializado continua sendo o mais adequado.
Com efeito, o critrio de vulnerabilidade dita a competncia das Varas da Infncia, conformedispe o art. 98 do Estatuto da Criana e do Adolescente: As medidas de proteo criana eao adolescente so aplicveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaadosou violados:
I- por ao ou omisso da sociedade ou do Estado;II- por falta, omisso ou abuso dos pais ou responsvel;III- em razo de sua conduta.
Cuida-se, portanto, de uma competncia focada na dimenso difusa e coletiva, intimamentecorrelacionada existncia, adequao e eficcia/efetividade de polticas pblicas; nadimenso familiar e individual.
37
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
Esta viso ampliada o que dita a compreenso da ABMP de que no se pode aceitar adissociao do estabelecimento dos critrios de criao de varas especializadas comcompetncia exclusiva na infncia e juventude daquilo que vem sendo estudado em relao spolticas setoriais.
J se apontou o reconhecimento internacional normativo do papel das Varas daInfncia e da Juventude no processo de desenvolvimento de um pas, notadamente para apromoo de justia social (Regras Mnimas das Naes Unidas para a Administrao daJustia da Infncia e da Juventude).
Este desenvolvimento deve pautar-se, portanto, pela articulao do Sistema de Justiacom os referenciais de trs polticas setoriais fundamentais para o desenvolvimento decrianas e adolescentes: Assistncia Social, Sade e Educao.
Como se ver abaixo, todas estas trs assumem uma referncia de 100.000 a 200.000habitantes como cidades de alta complexidade, demandando servios especializados.
A Poltica Nacional de Assistncia Social, mais intimamente ligada rea da infncia eda juventude, assume a centralidade scio-familiar no mbito de suas aes, reconhecendo adinmica demogrfica e scio-econmica associadas aos processos de excluso/inclusosocial, vulnerabilidade aos riscos pessoais e sociais em curso no Brasil, em seus diferentesterritrios. Por isso, fundamenta-se em trs vertentes de proteo social: as pessoas, as suascircunstncias e dentre elas seu ncleo de apoio primeiro, isto , a famlia. Concebe-se que aproteo social exige a capacidade de maior aproximao possvel do cotidiano da vida daspessoas, pois nele que riscos, vulnerabilidades se constituem. Sob esse princpio necessriorelacionar as pessoas e seus territrios, no caso os municpios que, do ponto de vista federal,so a menor escala administrativa governamental. O municpio, por sua vez, poder terterritorializao intra-urbanas, j na condio de outra totalidade que no a nao. Aunidade scio familiar por sua vez, permite o exame da realidade a partir das necessidades,mas tambm dos recursos de cada ncleo/domiclio .
Para isso, a poltica de Proteo Social entende-se necessariamente articulada a outraspolticas do campo social voltadas garantia de direitos e de condies dignas de vida (pgina31). Ou seja, ao invs de metas setoriais a partir de demandas ou necessidades genricas,trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e as solues, a partir derecortes territoriais que identifiquem conjuntos populacionais em situaes similares, e interviratravs das polticas pblicas, com o objetivo de alcanar resultados integrados e promoverimpacto positivo nas condies de vida. O que Aldaza Sposati tem chamado de atender anecessidade e no o necessitado.
Isto levou a Poltica Nacional de Assistncia Social a caracterizar os municpiosbrasileiros de acordo com seu porte demogrfico associado aos indicadores socioterritoriaisdisponveis a partir dos dados censitrios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE10, com maior grau de desagregao territorial quanto maior a taxa de densidade
3
38
3Poltica Nacional de Assistncia Social, p. 15.
populacional, isto , quanto maior concentrao populacional, maior ser a necessidade deconsiderar as diferenas e desigualdades existentes entre os vrios territrios de um municpioou regio. A construo de indicadores a partir dessas parcelas territoriais terminaconfigurando uma medida de desigualdade intraurbana.
Como forma de caracterizao dos grupos territoriais da Poltica Nacional deAssistncia Social ser utilizada como referncia a definio de municpios como de pequeno,mdio e grande porte utilizada pelo IBGE agregando-se outras referncias de anliserealizadas pelo Centro de Estudos das Desigualdades Socioterritoriais, bem como pelo Centrode Estudos da Metrpole sobre desigualdades intraurbanas e o contexto especfico dasmetrpoles
Neste contexto, a ABMP entende que o critrio de cidades de grande porte utilizadopela Poltica Nacional de Assistncia Social o que deveria reger igualmente a definio decriao de varas especializadas com competncia exclusiva em infncia e juventude.
Com efeito, segundo referida Poltica, entende-se por municpios de grande porteaqueles cuja populao de 101.000 habitantes at 900.000 habitantes (cerca de 25.000 a250.000 famlias). So os mais complexos na sua estruturao econmica, plos de regies esedes de servios mais especializados. Concentram mais oportunidades de emprego eoferecem maior nmero de servios pblicos, contendo tambm mais infra-estrutura. Noentanto, so os municpios que por congregarem o grande nmero de habitantes e, pelas suascaractersticas em atrarem grande parte da populao que migra das regies onde asoportunidades so consideradas mais escassas, apresentam grande demanda por servios dasvrias reas de polticas pblicas. Em razo dessas caractersticas, a rede socioassistencial deveser mais complexa e diversificada, envolvendo servios de proteo social bsica, bem comouma ampla rede de proteo especial (nos nveis de mdia e alta complexidade) .
Quando se analisa a poltica para sade mental do Ministrio da Sade, percebe-seigualmente a necessidade de criao de Centros de Ateno Psicossocial focados em crianas eadolescentes em todos os municpios com mais de 200.000 habitantes (art. 4.4 da portaria336, de 2002).
Em relao educao, embora no se consigne a diversidade de tamanho de cidadespara projetos especficos da educao, todos universais, o Plano de Desenvolvimento daEducao tambm prev a organizao territorial da educao em sua pgina 6, indicando anecessidade de articulao intersetorial.
Sabe-se, todavia, o quanto os indicadores de violncia em escolas predominam nascidades de grande porte, nos termos indicados pela Poltica Nacional de Assistncia Social,com grande impacto no aprendizado e aproveitamento escolar de crianas e adolescentes .
Pode-se, portanto, concluir esta anlise entendendo-se plenamente justificvel oestabelecimento do critrio populacional e, mais ainda, territorial, para a definio das
4
5
39
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
4
5Poltica Nacional de Assistncia Social, p. 46.Abramovay, Miriam. Escola e violncia. 2 Ed., UNESCO.
diretrizes polticas de proteo das pessoas crianas, adolescentes e suas famlias emsituao de vulnerabilidade.
Este critrio, luz dos parmetros institucionais do Judicirio e das polticas setoriais, hde ser de 100.000 habitantes para a criao de varas especializadas com competnciaexclusiva em infncia e juventude em todas as cidades ou de novas varas sempre que apopulao exceder tal parmetro populacional.
A ABMP entende que o ideal e necessrio o estabelecimento de um critrio de100.000 habitantes para tal iniciativa. Considerando, todavia, a grande disparidade entreaquilo que necessrio e a realidade do pas, fundamental que se contextualize os esforosde comprometimento com a garantia de direitos de crianas e adolescentes.
A ABMP entende que estes esforos no so apenas do Judicirio, mas da sociedadecomo um todo e dos Poderes Executivo e Legislativo concorrentemente.
Por isso, fundamental ter-se presente o quanto esta iniciativa h de estar articuladacom dois grandes movimentos em torno dos direitos das crianas e adolescentes, no apenasno Brasil, mas no mundo.
O primeiro deles, de curto prazo, a Agenda Social Criana Adolescente, promovidapelo Governo Federal, em amplo esforo para a garantia de direitos de crianas e adolescentesneste ano em que se celebra a maioridade do Estatuto da Criana e do Adolescente. Com ointuito de liderar o processo de construo do necessrio pacto federativo, em que Estados emunicpios somam esforos e mobilizam a sociedade para a nica resposta possvel, diante dasameaas da violncia, a Agenda articula diversos Ministrios e Estados na implementao deuma srie de objetivos.
Com perspectiva de implementao at 2010, a Agenda Social apresenta-se comocontexto fundamental de mobilizao em torno da garantia de direitos de crianas eadolescentes que deveria envolver, inicialmente, em sua pauta de aes, a criao eimplantao, em todas as cidades de mais de 200.000 habitantes e a cada 200.000habitantes nas cidades maiores -, varas especializadas com competncia exclusiva em direitoda criana e do adolescente.
No entanto, a perspectiva dos Objetivos do Milnio reclamam uma viso mais ampliadae profunda.
9. A Agenda Social Criana e os Objetivos do Milnio: a proposta da ABMP porum compromisso progressivo de prioridade criana e ao adolescentebrasileiros pelo Sistema de Justia
40
Como se sabe, eles esto estruturados em torno de:
1. Acabar com a fome e a misria;2. Educao de qualidade para todos;3. Igualdade entre sexos e valorizao da mulher;4. Reduzir a mortalidade infantil;5. Melhorar a sade das gestantes;6. Combater a Aids, a malria e outras doenas;7. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente;8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento;
Todos estes objetivos esto intimamente correlacionados com as polticas setoriaisrelacionadas, que enfatizam a proporo de 100.000 habitantes para a plena garantia dedireitos. Percebe-se a toda evidncia, alis, o quanto estes objetivos esto intimamenterelacionados com a infncia e juventude.
Assim, a ABMP entende que o prazo de cumprimento at 2015 deveria servir deparmetro tambm para a criao de varas especializadas com competncia exclusiva eminfncia e juventude, agora nas cidades a partir de 100.000 habitantes, como preconizadopelo Conselho Nacional de Direitos da Criana e do Adolescente, enfatizando-se ocompromisso do Judicirio com as crianas e adolescentes brasileiras.
O Poder Judicirio, depois de 18 anos de vigncia do Estatuto, j se apercebeu que a realidadecomplexa do mundo de hoje exige uma postura metodolgica sistmica, interdisciplinar, coma atuao de vrios saberes.
Maior expresso disto a edio da Resoluo de n 2 do Conselho Nacional de Justia,tratando da obrigatoriedade de estruturao das equipes tcnicas nas Varas da Infncia e daJuventude.
Nada mais justificado. Pesquisas realizadas por Maria Tereza Sadek ser justamente um dosdesafios do Poder Judicirio o de estruturar-se para lidar com a complexidade do mundocontemporneo, no qual as mudanas histricas da famlia, das relaes de classe, gnero,gerao e etnia exigem novas organizaes do aparelho judicirio como uma ferramenta doestado Democrtico de Direito.
Parte II
10. Equipes interprofissionais: um suporte indispensvel ao Sistema de Justiada Infncia e da Juventude Brasileiro. O Judicirio dois anos depois daResoluo n 02 do Conselho Nacional de Justia
41
O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
A incorporao de uma dimenso interdisciplinar de atuao no mbito do PoderJudicirio encontrou sua maior expresso na rea da infncia e da juventude, com aobrigatoriedade de estruturao de equipes interprofissionais nas Varas que tenham porcompetncia a garantia de direitos de crianas e adolescentes.
De fato, se o direito da infncia e da juventude se estrutura na doutrina da proteointegral, concebendo crianas e adolescentes como sujeitos de direitos, que devem serconsiderados na multidimensionalidade de aspectos que afetem seu desenvolvimento,propiciar meios de promover o encontro e o enfrentamento de saberes diferenciados,superando um conhecimento fragmentado para tratar da complexidade existencial, condio mesma para a efetividade da garantia de direitos. Esta atuao interdisciplinarrequerer no apenas procedimentos cognitivos sistmicos, dialticos, seletivos e abertos,mas a estruturao efetiva dos aparelhos institucionais para que este conhecimento seproduza.
No difcil se compreender, portanto, o quo essencial o papel desempenhado poresta equipe interprofissional na atuao jurisdicional. Suas funes de assessoria para asdecises judiciais, fornecendo, por meio de relatrios e participao em audincias, subsdiospara a convico do magistrado quanto medida judicial que melhor garanta os interessessuperiores das crianas e adolescentes, so fundamentais para contextualizar a demanda docaso realidade social mais ampla na qual a problemtica social trazida ao Poder Judicirio seinsere.
A insero de profissionais de disciplinas tais como do Servio Social, Psicologia,Pedagogia e outros como assessores do Juzo, pressupe portanto uma mudanaparadigmtica do funcionamento da Justia Especializada da Infncia e Juventude, em queproblemas de violao de direitos de crianas e de adolescentes, manifestam-se imbricadoscom problemas de ordem social, exigindo do Poder Judicirio uma postura de ao articuladaaos demais poderes e polticas sociais especiais, nos mbitos federal, estadual e municipal.
A atuao destes profissionais, como assessores diretos do Juzo, permitem que osmesmos subsidiem as aes judiciais viabilizando a garantia dos direitos violados e aconstruo de aes articuladas em rede, que possam prevenir a sistemtica ameaa aosdireitos fundamentais de cidadania por ausncia ou ineficcia das polticas pblicas deateno criana e ao adolescente, bem como s suas famlias.
Assim, o trabalho das equipes interprofissionais extrapola o atendimento direto doscasos individuais, dotando o Poder Judicirio de conhecimento e de acesso s polticassetoriais, consolidando o Sistema de Garantia de Direitos.
Neste sentido, PEREIRA considera que tratando-se do Direito da Criana e doAdolescente fundado em direitos fundamentais constitucionais, tais como Educao, Sade,Liberdade, Dignidade, Cultura, Lazer, Esporte, etc., no se pode prescindir de recorrer a outras
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6PEREIRA, Tnia da Silva. Direito da Criana e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar.Rio de Janeiro:Renovar, 1996. pg. 38.
cincias para prevenir violaes e proteger direitos. prioritria a integrao entre asdisciplinas, sobretudo entre aquelas que diretamente iro contribuir para a proposta maior deproteo dos 'novos sujeitos de direitos.'..... Encontram-se na Psicologia, Pedagogia,Sociologia e nas demais cincias, recursos tcnicos e princpios dogmticos para que os finssociais previstos na Lei n. 8.069/90 sejam atingidos.
Neste contexto, e no por outra razo, o Estatuto da Criana e do Adolescente previuem seu art. 145 no apenas a criao de varas especializadas e exclusivas da infncia e dajuventude, mas tambm a manuteno de equipe interprofissional. Para tanto, em seu art.150, disciplina a obrigatoriedade, por parte do Poder Judicirio, de prever recursos paramanuteno de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justia da Infncia e daJuventude na elaborao de sua proposta oramentria,.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente, no art. 7, inc. I de suaresoluo de n 113, referente ao Sistema de Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes,refora esta exigncia ao condicionar a efetividade da defesa de direitos humanos de crianas eadolescentes existncia, no apenas das varas da infncia e da juventude, mas tambm desuas equipes multiprofissionais.
Nada mais razovel, portanto, era de se esperar o empenho do Poder Judicirio nagarantia destas condies de garantia de direitos daqueles a quem, por mandamentoconstitucional (art. 227) e legal (art. 4 do Estatuto da Criana e do Adolescente) se deveriagarantir prioridade absoluta na efetivao dos direitos, assim entendido como a primazia dereceber proteo e socorro em quaisquer circunstncias; precedncia de atendimento nosservios pblicos ou de relevncia pblica; preferncia na formulao e na execuo daspolticas sociais pblicas; destinao privilegiada de recursos pblicos nas reas relacionadascom a proteo infncia e juventude.
No por outra razo se haveria de esperar ainda que, para promover acesso justiacomo o bom julgar, a outorga ao Poder Judicirio, nos termos do art. 99 da ConstituioFederal, de autonomia financeira e administrativa, mas tambm de competncia privativapara organizar suas secretarias e servios auxiliares propiciasse o cumprimento deste ditamede priorizar e dar condies efetiva garantia de direitos de crianas e adolescentes.
Paradoxalmente a realidade se mostrou outra. O prprio fato de ter sido necessrio queo Conselho Nacional de Justia, a despeito do mandamento legal, cobrasse a criao eestruturao destas equipes revelador da falta de prioridade, no mbito do Judicirio, aosdireitos de crianas e adolescentes.
O levantamento realizado pela ABMP visa, neste momento de celebrao dos 18 anosdo ECA, no apenas contribuir para a avaliao de at que ponto esse mandamento legalvem sendo cumprido, mas igualmente quais os critrios utilizados pelo Sistema de Justia parasua observncia.
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O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
11. O levantamento realizado pela ABMP: a precariedade da assessoria aosmagistrados pela inexistncia ou insuficincia de equipes interprofissionaisnas Varas da Infncia e da Juventude
11.1. Estados sem equipe tcnica
11.2. Estados em que h equipe tcnica apenas nas capitais
O levantamento e a anlise realizada pela ABMP norteou-se por alguns critriosregentes.
Primeiramente, a avaliao da existncia efetiva de equipes tcnicas na estrutura doJudicirio dos Estados e do Distrito Federal.
Como segundo enfoque, a diversidade de profissionais que compem as equipestcnicas.
Em terceiro lugar, a distribuio geogrfica destes profissionais no Estado, avaliando-seos critrios de estruturao das equipes.
E, finalmente, o grau de demanda populacional sob responsabilidade desses tcnicos,considerados por categoria e em sua totalidade.
Uma considerao que no foi objeto de avaliao especfica, mas que apareceu nodecorrer da avaliao, foi o tipo de vnculo institucional que estes profissionais mantinhamcom o Poder Judicirio, revelando-se a existncia de algumas iniciativas de terceirizao. Esteponto ser objeto de anlise ao final desta seo, embora sem meno especfica aos Estadosem que tal prtica procurava se dar.
Em seus resultados, a avaliao demonstra ainda a existncia de Estados sem qualquerprofissional tcnico a assessorar magistrados(as) no desempenho de suas funes.
o caso dos , que conta apenas com tcnicoscedidos, ainda assim em pequeno nmero e apenas em trs comarcas.
Diversos outros contam com equipe apenas e exclusivamente nas capitais, ou, nomximo, em algumas poucas grandes cidades.
o caso dos .
Apresentamos abaixo a quantidade de tcnicos existente em cada um destes Estados e,logo abaixo, a demanda populacional que sobre eles recai, em tese, a anlise noassessoramento Justia.
Estados do Cear e do Rio Grande do Norte
Estados do Acre, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Piau, Tocantins, Par
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ParMunicpios Habitantes
Qualificao profissional dos tcnicos
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
AbaetetubaAltamiraBelm *TOTAIS
132.22292.105
1.408.8473
112
112 0 0
1113
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O Sistema de Justia da Infncia e da Juventude nos 18 anos do Estatuto da Criana e do AdolescenteDesafios na Especializao para a Garantia de Direitos de Crianas e Adolescentes
AcreMunicpios Habitantes
Qualificao profissional dos tcnicos previstos, de acordo com a entrncia:
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
Rio BrancoTOTAIS
290.6391
31 1
x1
21
AlagoasMunicpios Habitantes
Qualificao profissional dos tcnicos previstos, de acordo com a entrncia:
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
MaceiTOTAIS
896.9651
77 0 00
11
BahiaMunicpios Habitantes
Qualificao profissional dos tcnicos previstos, de acordo com a entrncia:
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
Salvador *TOTAIS
2.892.6251
33 0
11
22
1212
Distrito Federal HabitantesQualificao profissional dos tcnicos previstos, de acordo com a entrncia:
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
Braslia *TOTAIS
2.455.9031
1515 0
11
55
1313
PiauMunicpios Habitantes
Qualificao profissional dos tcnicos
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
TeresinaTOTAIS
779.9391
22 0 00
33
TocantinsMunicpios Habitantes
Qualificao profissional dos tcnicos
Psiclogo Assist. SocialPedagogo Antroplogo
obs: indicar a quantidade de tcnicos atuantes
Outros:
PalmasTOTAIS
178.3861
11 0 00
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11.3. Estados em que h uma diversidade maior de comarcas contempladascom equipes tcnicas
Dentre os Estados que procuraram diversificar a presena de equipes tcnicas em suascomarcas, devem-se registrar os seguintes:
. O Estado do Rio de Janeiro conta com 88psiclogos lotados e uma carncia de 49 profissionais; quanto s assistentes sociais, h 153lotadas no Estado.
No Estado de So Paulo, todavia, deve-se registrar de antemo faltar via de regrasinterdisciplinaridade nas comarcas, porque os(as) psiclogos(as) esto lotadas na Capital enas Comarcas Sede de Circunscries Judicirias, prestando atendimento populao detodas as cidades e distritos circunvizinhos, que compem a Comarca sede da CircunscrioJudiciria. Por conseqncia, no apenas a populao atendida maior do que a indicada pormunicpio, tornando mais complexa a proporcionalidade nmero de habitantes porprofissional, como falta uma ambincia interdisciplinar de trabalho no quotidiano das varas decidades de pequeno e mdio, por vezes at grande porte, pela falta de profissional da rea dapsicologia.
Uma caracterstica marcante deste levantamento quando se faz uma anlisecomparativa do nmero de habitantes por municpio e da quantidade de tcnicos porcomarca, como regra geral, uma manifesta ausncia de critrios objetivos para alocao derecursos humanos, bem como uma ausncia de proporo adequada.
Pode-se ter uma viso panormica e ilustrativa disto quando se compara o nmero de tcnicospela populao geral d