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DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOB A ÓTICA DA CUMULATIVIDADE DE IMPACTOS AMBIENTAIS Lívia Corrêa Silva Projeto de graduação apresentado ao Curso de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Emílio Lèbre La Rovere Rio de Janeiro Setembro de 2012

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DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE EXPLORAÇÃO E

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOB A ÓTICA DA

CUMULATIVIDADE DE IMPACTOS AMBIENTAIS

Lívia Corrêa Silva

Projeto de graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Ambiental da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Emílio Lèbre La Rovere

Rio de Janeiro

Setembro de 2012

DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO

DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL SOB A ÓTICA DA CUMULATIVIDADE DE

IMPACTOS AMBIENTAIS

Lívia Corrêa Silva

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA AMBIENTAL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO AMBIENTAL.

Examinado por:

Prof. Emílio Lèbre La Rovere, D.Sc.

Profª Iene Christie Figueiredo, D.Sc.

Fabrício Carlos Abreu Penido, Esp.

Geógrafo

RIO DE JANEIRO - RJ, BRASIL

SETEMBRO DE 2012

Silva, Lívia Corrêa

Desenvolvimento das Atividades de Exploração e

Produção de Petróleo e Gás Natural sob a Ótica da

Cumulatividade de Impactos Ambientais / Lívia Corrêa

Silva - Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2012.

VII, 85 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Emílio Lèbre La Rovere

Projeto de Graduação - UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia Ambiental, 2012.

Referências Bibliográficas: p. 79-87.

1. Cumulatividade 2. Impactos Ambientais 3. Petróelo

4. Risco 5. Bacia de Santos I. La Rovere, Emílio Lèbre. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso de Engenharia Ambiental. III.

Desenvolvimento das Atividades de Exploração e

Produção de Petróleo e Gás Natural sob a Ótica da

Cumulatividade de Impactos Ambientais.

“Se jamais perder a paz, você

descobrirá que será sempre vitorioso,

não importa o resultado de seus

problemas. Este é o modo de

conquistar a vida”.

Paramahansa Yogananda

Agradecimentos

Agradeço a todos que de certa forma contribuíram para elaboração desse trabalho e,

principalmente, para minha formação acadêmica.

Agradeço à minha família. Aos meus pais, Sérgio e Marília, pela base e pelo amor

incondicional. Aos meus irmãos, Sérgio Augusto e Fernanda, pelo companheirismo e

ao pequeno João Henrique, pela alegria de viver. À Julia, grande conselheira. Ao

Dragos, grande guerreiro.

Agradeço ao Prof. Emílio, por sua sempre atenciosa ajuda e valiosa orientação. À

Profª. Iene, por seu incrível trabalho frente à coordenação da Engenharia Ambiental e

sua importante colaboração durante minha graduação. E, aos demais professores dos

quais me orgulho de ter sido aluna.

Agradeço à ICF, por me proporcionar conhecimento e um ótimo ambiente de trabalho.

Principalmente, ao Fabrício, por sua dedicação em ensinar e por aceitar participar da

minha banca e à Andreia, por sua compreensão e apoio ao longo desse trabalho. E,

claro, aos meus grandes companheiros de faculdade e trabalho, Marcel e Roberta.

Agradeço também aos grandes amigos que essa faculdade me trouxe e que foram

fundamentais para o sucesso dessa jornada, sobretudo as que sempre estiveram

próximo, Beatriz e Lilia.

Agradeço ao Rafa, por sua maravilhosa companhia e por paciência em revisar esse

trabalho e à sua amorosa família, por sempre me acolher tão bem.

Agradecimento à ANP/FINEP/MCT

Esse trabalho foi realizado com apoio financeiro da Agência Nacional do Petróleo, Gás

Natural e Biocombustíveis (ANP), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio do Programa de Recursos

Humanos para o Setor de Petróleo e Gás.

Agradeço a oportunidade de participar do PRH-41, ênfase em Segurança, Meio

Ambiente e Saúde. Acredito que o programa me proporcionou uma formação

acadêmica e profissional mais completa através da maior compreensão da Indústria

do Petróleo e Gás Natural.

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental.

Desenvolvimento das Atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural

sob a Ótica da Cumulatividade de Impactos Ambientais

Lívia Corrêa Silva

Setembro/2012

Orientador: Emílio Lèbre La Rovere

Curso: Engenharia Ambiental

A avaliação de impactos cumulativos considera como um meio receptor ou

componente ambiental pode ser afetado por um conjunto de ações ou atividade

desenvolvidas ou planejadas para uma região ao longo do tempo. As limitações e

dificuldades da tradicional Avaliação de Impactos Ambiental em considerar o impacto

incremental do projeto proposto sobre as demais atividades, indicam a Avaliação

Ambiental Estratégica como um instrumento mais abrangente e eficaz para a precoce

identificação e seleção das alternativas que tenham menor potencial de gerar impactos

cumulativos.

No Brasil, as perspectivas de expansão das atividades de exploração e

produção de petróleo e gás natural no pré-sal preveem a implantação de vários

empreendimentos na Bacia de Santos nos próximos anos. O presente trabalho

analisou o desenvolvimento dessas atividades sob a ótica da cumulatividade de

impactos. A metodologia adotada foi revisão bibliográfica, coleta de informações e

dados em estudos ambientais, banco de dados, órgãos oficiais, etc. Dentre as

principais conclusões, verificou-se que os impactos causados diretamente pelos

aspectos ambientais das atividades de exploração e produção, como lançamento de

efluentes e emissões atmosféricas (local), apresentam baixa probabilidade de

sobreposição. A maior relevância está relacionada com os impactos cumulativos das

atividades associadas, como o trânsito de embarcações de apoio e de navios

aliviadores. Destaca-se também a cumulatividade de riscos devido à intensificação das

atividades, principalmente de eventos acidentais envolvendo derramamento de óleo, e

a ausência de estruturas de resposta significativas para reduzir os impactos de

grandes acidentes como os Planos de Área e o Plano Nacional de Contingência.

Palavras-chave: cumulatividade, impactos ambientais, petróleo, risco, Bacia de

Santos.

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

Development of Oil and Gas Exploration and Production Activities from Cumulative

Environmental Impacts Perspective

Lívia Corrêa Silva

September/2012

Advisor: Emílio Lèbre La Rovere

Course: Environmental Engineering

Cumulative Impact Assessment evaluates how a receptor environment or

environmental component is affected by a set of actions or activities developed or

planned for a region over time. The limitations and difficulties of traditional

Environmental Impact Assessment to deal with incremental effect of the proposed

project over other activities shows that Strategic Environmental Assessment is a more

comprehensive and effective tool to provide an early identification and selection of

alternatives which will potentially cause less cumulative impacts

In Brazil, the expansion prospects of oil and gas exploration and production

activities in the pre-salt areas foresee the implementation of several projects in Santos

Basin over the next years. The main propose of the current study was to analyze the

development of these activities from a cumulative impacts perspective. The

methodology adopted was bibliographic review, data and information collection in

environmental studies, database, official agencies, etc. The findings suggest that, in

general, the impacts caused directly by environmental aspects of exploration and

production, such as release of effluents and air emissions (local), have a low probability

of overlap. The most relevant cumulative impacts are those related to associated

activities, such as the traffic of supporting vessels and oil tankers. It is also important to

highlight the cumulative risk due to activities intensification, especially events involving

accidental oil spill, and the lack of significant response structures to reduce the impacts

of major accidents, such as the Area Plans and the National Contingency Plan.

Keywords: cumulative impacts, environmental impacts, oil and gas, risk, Bacia de

Santos.

Lista de Figuras

Figura 2.1: Diferença de abordagem da AIC e AIA/AAE ............................................... 6

Figura 2.2: Diferença de abordagem da AIA e AIC ....................................................... 8

Figura 2.3 : Etapas da AIC .......................................................................................... 10

Figura 2.4: Combinação de métodos na AIC .............................................................. 14

Figura 2.5: Etapas da Avaliação Ambiental Integrada ................................................. 17

Figura 3.1: Prospecção Sísmica ................................................................................ 22

Figura 3.2: Operação de Offloading ............................................................................ 24

Figura 4.1: Sub-regiões do North Slope ...................................................................... 30

Figura 4.2: Localização dos campos de produção de petróleo no North Slope ........... 32

Figura 4.3: Evolução da perfuração de poços no North Slope (1940-2001) ................ 32

Figura 4.4: Blocos de exploração ofertados nos leilões de concessão (1960-2002) ... 33

Figura 4.5: Expansão da malha rodoviária no Alasca (1968 e 2001). ......................... 33

Figura 4.6: Fotografia aérea do Aerporto de Deadhorse, na Prudhoe Bay. ................. 34

Figura 5.1: Reservatório do pré-sal ............................................................................. 40

Figura 5.2 : Bacias Sedimentares Brasileiras .............................................................. 42

Figura 5.3: Variação da Produção de Petróleo, por bacia sedimentar ......................... 43

Figura 5.4: Variação da Produção de Gás Natural, por bacia sedimentar ................... 44

Figura 6.1: Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha - Biodiversidade do Platô de

Santos ........................................................................................................................ 49

Figura 6.2: Mapa da localização dos poços perfurados na Bacia de Santos entre 1970-

2011 ........................................................................................................................... 53

Figura 6.3: Campos em produção e Blocos Exploratórios, por rodada de licitação, e

gasodutos e terminais aquaviários na Bacia de Santos .............................................. 57

Figura 6.4: Curva de produção de óleo e LGN no Brasil ............................................. 58

Figura 6.5: Conflito no uso do espaço marítimo na Baía de Guanabara ..................... 60

Figura 6.6: Movimentação Marítima na Baía de Guanabara ....................................... 60

Figura 6.7: Insuficiência de conhecimento sobre os recursos biológicos em águas

profundas, principalmente no pré-sal .......................................................................... 62

Figura 6.8: Rede Nacional de Proteção da Petrobras ................................................. 69

Figura 6.9: Área total com probabilidade de óleo na água e toque na linha de costa

para a Área do Pré-sal, decorrente do pior cenário (24 horas de vazamento contínuo e

30 dias sem intervenções), durante os meses do inverno ........................................... 72

Lista de Tabelas

Tabela 2.1: Natureza dos Impactos Cumulativos .......................................................... 9

Tabela 2.2: Processo de Acumulação ......................................................................... 10

Tabela 2.3: Comparação entre as licenças e estudos requeridos na E&P de petróleo e

gás natural pelas Resoluções CONAMA nº 350/04 e nº 23/94 e pela Portaria nº

422/2011 ..................................................................................................................... 19

Tabela 3.1 : Tipo e natureza dos impactos das atividades de E&P de petróleo e gás

natural offshore ........................................................................................................... 26

Tabela 5.1: Características dos Modelos de Concessão e de Partilha ........................ 41

Tabela 5.2 : Produção de Petróleo e Gás Natural, por bacia sedimentar .................... 43

Tabela 6.1 : Histórico das Atividades de E&P na Bacia de Santos (1960-2010) ......... 51

Tabela 6.2: Campo em fase de produção na Bacia de Santos .................................... 54

Tabela 6.3: Resumo das metas e diretrizes do Projeto de Controle da Poluição ........ 65

Tabela 6.4: Acidentes envolvendo petróleo e derivados no Brasil entre 1960-2012 .... 66

Tabela 6.5: Tipos de Planos de Emergência e Contingência no Brasil ....................... 70

Lista de Siglas

AAAS – Avaliação Ambiental de Áreas Sedimentares

AAE – Avaliação Ambiental Estratégica

AAI - Avaliação Ambiental Integrada

AIA – Avaliação de Impacto Ambiental

AIC - Avaliação de Impactos Cumulativos

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

CDA – Centro de Defesa Ambiental

CEA – Cumulative Environmental Assessment

CEAA – Canadian Environmental Assessment Agency

CEQ – Council on Environmental Quality

CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CNPE – Conselho Nacional de Política Energética

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

E&P – Exploração e Produção

EIA – Estudo de Impacto Ambiental

EPE – Empresa de Pesquisa Energética

FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

FPSO – Floating Production Storage Offloading

IAIA – International Association for Impact Assessment

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IC – Impacto Cumulativo

LGN – Líquido de Gás Natural

INEA – Instituto Estadual do Ambiente

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MME – Ministério de Minas e Energia

NEPA – National Environmental Policy Act

OSRL – Oil Spill Response Limited

PA – Plano de Área

PCP – Projeto de Controle da Poluição

PEGASO – Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional

PEI – Plano de Emergência Individual

PMA – Projeto de Monitoramento Ambiental

PNC – Plano Nacional de Contingência

PPSA – Pré-Sal Petróleo S.A.

RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

TLD – Teste de Longa Duração

TOG – Teor de Óleos e Graxas

UC – Unidade de Conservação

UEP – Unidade Estacionária de Produção

UHE – Usina Hidrelétrica

Sumário

1 Introdução ................................................................................................. 1

1.1 Objetivo ................................................................................................ 1

1.2 Justificativa .......................................................................................... 1

1.3 Metodologia ......................................................................................... 2

1.4 Estrutura .............................................................................................. 2

2 Cumulatividade de Impactos Ambientais ................................................ 4

2.1 Conceito e Histórico ............................................................................. 4

2.2 Avaliação de Impactos Cumulativos ..................................................... 6

2.3 AIC no Brasil ...................................................................................... 15

2.3.1 Setor Hidrelétrico .......................................................................... 15

2.3.2 Setor Petróleo e Gás Natural ........................................................ 18

3 Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural ............................... 21

3.1 Exploração e pesquisa ....................................................................... 21

3.2 Desenvolvimento................................................................................ 23

3.3 Produção ........................................................................................... 23

3.4 Abandono .......................................................................................... 25

3.5 Impactos Ambientais .......................................................................... 25

4 Estudo de Caso 1: North Slope do Alasca ............................................ 29

4.1 Descrição do North Slope .................................................................. 29

4.2 Histórico da E&P: Passado, Presente e Futuro .................................. 31

4.3 Impactos Cumulativos ........................................................................ 35

5 Cenário Brasileiro de E&P de Petróleo e Gás Natural .......................... 39

5.1 Histórico ............................................................................................. 39

5.2 Regime Regulatório ........................................................................... 40

5.3 Cenário Atual ..................................................................................... 41

6 Estudo de Caso 2: Bacia de Santos ....................................................... 46

6.1 Descrição da Bacia de Santos ........................................................... 46

6.2 Histórico da E&P: Passado, Presente e Futuro .................................. 51

6.3 Impactos Cumulativos ........................................................................ 59

7 Conclusões .............................................................................................. 75

Bibliografia .................................................................................................. 79

1

1 Introdução

Na década de 1970, percebeu-se que não era possível avaliar o impacto

ambiental de um projeto sem considerar as demais ações já desenvolvidas ou

propostas para uma região. Dessa forma, as considerações sobre os impactos

cumulativos passaram a incorporar a tradicional avaliação de impacto ambiental.

Entretanto, esse instrumento foi considerado inadequado e muitas vezes

ineficiente para avaliar e gerir os impactos cumulativos, indicando oportunidades e

benefícios da avaliação de impactos cumulativos vinculada à avaliação ambiental

estratégica. No Brasil, apesar da Resolução CONAMA nº01/86 exigir a consideração

das propriedades cumulativas e sinérgicas, poucos estudos de impacto ambiental

realizam essa análise de forma efetiva. A mais expressiva iniciativa de incorporação

dos efeitos cumulativos ocorre no setor hidrelétrico, através da Avaliação Ambiental

Integrada.

Apesar das pressões ambientais, a indústria do petróleo tem ganhado cada vez

mais importância no cenário brasileiro. Com a descoberta dos gigantescos

reservatórios do pré-sal, as atividades de exploração e produção offshore se

intensificaram. A Bacia de Santos é foco dessas atividades. Em dois anos, apenas

com o início da produção de um projeto no Campo de Lula, o volume de óleo

produzido nessa região triplicou. Dezenas de projetos estão previstos para o polo pré-

sal da Bacia de Santos nos próximos anos.

A Bacia de Santos possui o maior adensamento populacional do litoral

brasileiro. Com o crescimento das atividades de exploração e produção, são

esperadas alterações na composição socioambiental da região, além do maior risco de

eventos acidentais com derramamento de óleo.

1.1 Objetivo

O objetivo principal desse trabalho é analisar a potencial ocorrência de efeitos

cumulativos no desenvolvimento das atividades de exploração e produção de petróleo

e gás natural, em especial na Bacia de Santos, Brasil.

1.2 Justificativa

A relevância desse trabalho relaciona-se com a carência de estudos de

cumulatividade de impactos ambientais no Brasil. As alterações socioambientais

provocadas pela intensificação das atividades de exploração e produção de petróleo

na Bacia de Santos deverão se sobrepor, justificando a necessidade da avaliação e

gestão dos impactos cumulativos.

2

1.3 Metodologia

A metodologia adotada para a elaboração do primeiro segmento desse trabalho

foi a realização de revisão bibliográfica através de consulta a guias internacionais,

teses e dissertações, referências legais, entre outros, com objetivo de se construir um

embasamento teórico sobre impactos cumulativos e verificar como o tema evolui no

cenário internacional e no Brasil. Posteriormente, foi realizada a descrição das

atividades de exploração e produção offshore, ambiente de maior relevância no

cenário brasileiro, com objetivo de se levantar os principais impactos e suas

propriedades cumulativas e sinérgicas.

Buscou-se, através do primeiro estudo de caso, baseado em um estudo

científico, observar a experiência internacional sobre impactos cumulativos na indústria

petrolífera de forma a contribuir para o desenvolvimento do estudo de caso brasileiro.

Optou pela Bacia de Santos devido às prespectivas de intensificação das atividades

de exploração e produção, evidenciadas por dados de produção de petróleo e

investimentos no pré-sal. Para a elaboração do estudo de caso, foram coletados

informações e dados de estudos ambientais da região, publicações de órgão oficiais,

banco de dados, reportagens de jornais, entre outras fontes. Além disso, também foi

utilizado o software ArcGis que permitiu a correlação de dados espaciais e temporais

nas análise realizadas.

1.4 Estrutura

Após esse capítulo introdutório, o Capítulo 2 apresenta uma contextualização

histórico-conceitual sobre impactos cumulativos, na qual são apresentados os

princípios e as tipologias dos impactos cumulativos, bem como as etapas e

ferramentas utilizadas na avaliação. A situação da avaliação de impactos cumulativos

no Brasil também é exposta nesse capítulo, com destaque para o setor hidrelétrico e

de petróleo e gás natural.

No Capítulo 3 é apresentado um breve descritivo das etapas das atividades de

exploração e produção de petróleo e gás natural offshore, os potenciais e mais

comuns impactos ambientais dessas atividades e suas características cumulativas.

O Capítulo 4 traz a experiência internacional na avaliação dos impactos

cumulativos das atividades petrolíferas através do estudo de caso do North Slope no

Alasca, Estados Unidos.

O Capítulo 5 apresenta um panorama geral das atividades de exploração e

produção no Brasil e as mudanças no regime regulatório devido às descobertas do

pré-sal e destaca a relevância da Bacia de Santos.

3

No Capítulo 6 é desenvolvido o estudo de caso da Bacia de Santos,

apresentando os potenciais impactos cumulativos e medidas de controle e

mitigadoras.

O Capítulo 7 destaca, diante do exposto nos capítulos anteriores, as

considerações finais do presente trabalho.

4

2 Cumulatividade de Impactos Ambientais

2.1 Conceito e Histórico

Segundo a International Association for Impact Assessment (IAIA), a

preocupação com a avaliação e o gerenciamento dos impactos cumulativos começou

no início da década 1970. Nesta época, notou-se que os projetos propostos deveriam

ser analisados em relação à sua localização espacial e ao uso do solo que já vinha

sendo praticado na região. Adicionalmente, órgãos e/ou agências públicas

responsáveis pela permissão ou licenciamento perceberam a necessidade da

incorporação da proximidade espacial e temporal para a aprovação de licenças de

projetos similares, por contribuírem para a geração de impactos cumulativos.

Em 1973, o Council on Environmental Quality (CEQ), órgão responsável pela

regulamentação National Environmental Policy Act (NEPA) de 1969, utilizou pela

primeira vez o termo cumulatividade em suas diretrizes. Posteriormente, em 1978,

definiu, através da seção 1508.7 da norma CEQ 40, impacto cumulativo (IC) como

sendo:

“o impacto sobre o meio ambiente resultante do impacto de uma ação

presente, quando adicionada a outras ações passadas, presentes e futuras,

razoavelmente previsíveis, independente da agência ou pessoa responsável pela

outras ações. Impactos cumulativos podem resultar de ações individualmente

menores, mas coletivamente significativas no decorrer do tempo” (CEQ, 1997;

NUNES, 2010).

Ainda na década de 1970, a comunidade científica canadense reconheceu a

importância dos impactos cumulativos e de sua análise. Em 1983, a consideração dos

impactos cumulativos passou a incorporar os procedimentos tradicionais da Avaliação

de Impacto Ambiental1 (AIA) (OLIVEIRA, 2008). A Canadian Environmental

Assessment Act (CEAA) estabeleceu, através da subseção 16(1), que toda AIA deve

considerar os efeitos ambientais de um projeto, incluindo qualquer impacto ambiental

cumulativo que é provável de ocorrer como resultado da combinação do projeto

proposto com outros projetos ou atividades que ocorreram ou ocorrerão. (CEAA, 2007)

Em 1985, a legislação da União Europeia, através da Diretiva 85/337/CE,

determinou a inclusão do IC nas AIAs, mais especificamente nos Estudos de Impacto

Ambiental (EIA) (NUNES, 2010). No ano seguinte, a Resolução CONAMA nº01/86,

responsável pela regulamentação da AIA na legislação brasileira, reconheceu a

1 A Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) é definida como o processo de

identificação, previsão, avaliação e mitigação de efeitos biofísicos, sociais, entre outros efeitos relevantes do desenvolvimento de uma proposta (projeto) a ser realizado antes de se tomar decisões importantes e se assumir compromissos(IAIA, 1999).

5

necessidade de consideração das propriedades cumulativas e sinérgicas dos impactos

causados pelas atividades potencialmente modificadoras do meio ambiente.

Com a publicação do Relatório Brundtland em 1987 e a Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), o conceito de

desenvolvimento sustentável passou a refletir a preocupação da humanidade com os

impactos causados por suas atividades. A partir do exposto, a Avaliação de Impactos

Cumulativos (AIC) passa a ser uma ferramenta que permite a compreensão dos

impactos nas gerações futuras, sendo considerada de extrema utilidade para caminhar

no sentido da sustentabilidade(NUNES, 2010).

Nas últimas décadas, a ineficiência e a limitação temporal e espacial da AIA

para considerar o efeito incremental do projeto frente a outras ações passadas e

futuras, tem motivado a incorporação dos ICs aos estudos em nível regional, como a

Avaliação Ambiental Estratégica2 (AAE) (TEIXEIRA, 2008; NUNES, 2010; FIDLER e

NOBLE, 2012). A AAE também permite a percepção precoce dos potenciais impactos

do desenvolvimento das ações propostas no âmbito de políticas, planos e programas e

a relação entre eles que possam resultar impactos cumulativos. Esse processo de

prévia identificação facilita a seleção de alternativas que tenham menor potencial de

contribuírem para a geração de impactos cumulativos(COOPER, 2004).

A exemplo disso, a Diretiva Europeia 2001/42/CE, referente à AAE, passou a

requerer, em seu Anexo I, a consideração de eventuais impactos significativos,

incluído os de caráter cumulativos e sinérgicos ao nível de planos e programas

(NUNES, 2010). No Canadá, em 2003, emendas à CEAA reconheceram o uso de

estudos regionais como uma ferramenta importante para a consideração dos ICs

(CEAA, 2007). No Brasil, apesar de não haver uma regulamentação específica, as

iniciativas de AAE tem se multiplicado nas últimas décadas em setores como minero-

siderúrgico, hidrelétrico e petrolífero(SÁNCHEZ, 2008a).

2 A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é definida como um procedimento sistemático e contínuo de avaliação da qualidade e das consequências ambientais de visões e alternativas de desenvolvimento, incorporadas em iniciativas de políticas, planos e de programas, assegurando a integração efetiva de considerações biofísicas, econômicas, sociais e políticas, o mais cedo possível em processos públicos de tomada de decisões (GARCIA e LA ROVERE, 2011)

6

2.2 Avaliação de Impactos Cumulativos

A Avaliação de Impactos Cumulativos (AIC), também conhecida como

Cumulative Effects Assessment (CEA), pode ser definida como o processo sistemático

de análise e avaliação das alterações ambientais(SPALING, 1994). Segundo Therivel

e Ross (2007), a AIC ajuda conectar as diferentes escalas dos estudos ambientais. Ao

invés de focar em efeitos de uma determinada ação, como um projeto, um plano ou

uma ação individual, a AIC considera como o meio receptor pode ser afetado pelo

conjunto de ações desenvolvidas. A Figura 2.1 apresenta a diferença de foco entre

AIC e AIA/AAE.

Figura 2.1: Diferença de abordagem da AIC e AIA/AAE. (THERIVEL e ROSS, 2007)

A AIC pode ser considerada como uma complementação, uma melhoria nos

tradicionais componentes da avaliação de impactos ambientais. Entretanto, as

dificuldades encontradas na definição das fronteiras espaciais e temporais, tornam a

AIC mais desafiadora do que os estudos tradicionais (CEQ, 1997). Se as fronteiras da

avaliação forem muito extensas, o processo torna-se complicado e inviável dentro de

um prazo de execução. Por outro lado, se as dimensões espaciais e temporais forem

pequenas, o processo de tomada de decisão pode ser comprometido pela ausência de

elementos significantes.

É crescente a preocupação dos tomadores de decisão quanto à importância de

seus projetos no contexto de outros projetos desenvolvidos na região. Os impactos

diretos continuam a ser o fator mais importante na tomada de decisão, em parte

porque são os mais prováveis. No entanto, a relevância da chuva ácida, das

mudanças climáticas, e outras alterações devido a efeitos cumulativos vêm

impulsionado melhorias nas AIC. Sua incorporação em processos de tomada de

decisão, como AIA e AAE, é essencial para efetividade das medidas de mitigação e

monitoramento propostas(CEQ, 1997).

7

De acordo com o guia Considering Cumulative Effects under the NEPA(CEQ,

1997), os oito princípios que norteiam a AIC são:

ICs são resultantes de ações passadas, presentes e futuras

razoavelmente previsíveis – os efeitos da ação proposta sobre um

determinado recurso, ecossistema ou comunidade humana incluem os

efeitos presentes e futuros adicionados aos efeitos de outras ações que

afetaram essas componentes no passado.

ICs são os impactos totais, incluindo impactos diretos ou indiretos de

todas as ações sobre um determinado recurso, ecossistema ou

comunidade, independente do agente causador (federal, não-federal ou

privado) – impactos individuais de atividades dispersas podem se somar ou

interagir, causando impactos adicionais que não são considerados quando

se analisa o impacto individual uma única vez. Os impactos adicionais

contribuem para que ações que não tenham relação com a ação proposta

sejam incluídas na AIC.

ICs devem ser analisados especificamente para cada recurso,

ecossistema e comunidade humana afetada – impactos ambientais são

geralmente avaliados na perspectiva do projeto proposto. AIC requer foco no

recurso, ecossistema e comunidade que podem ser afetados de modo a

entender como esses recursos são susceptíveis aos impactos (Figura 2.2).

Não é prático analisar os ICs de uma ação em um universo. A listagem

dos impactos ambientais deve focar no que realmente importa – Para

que a AIC seja um instrumento de auxílio à tomada de decisões e informe às

partes interessadas, é preciso que o escopo se limite aos impactos

relevantes. As fronteiras da AIC devem se expandir até o ponto que os

impactos sobre os recursos não sejam mais significantes.

ICs sobre um determinado recurso, ecossistema ou comunidade

humana raramente se alinham com as fronteiras políticas ou

administrativas – recursos são geralmente demarcados de acordo com as

responsabilidades das agências, com delimitações territoriais ou outras

fronteiras administrativas. Como os recursos naturais e socioculturais

geralmente não se limitam a essas fronteiras, cada entidade política acaba

sendo responsável somente por uma parte desses recursos ou

ecossistemas. AIC deve considerar fronteiras naturais e culturais para

assegurar a avaliação de todos os impactos.

8

ICs podem resultar de acumulação de impactos similares ou interação

sinérgica entre diferentes impactos – ações repetitivas podem causar

impactos de acumulação simples (mais e mais do mesmo tipo de impacto)

ou ações similares ou distintas podem resultar em impactos que se

interagem, gerando um impacto cumulativo maior que a soma dos impactos

iniciais.

ICs podem persistir por mais tempo que as ações causadoras –

algumas ações causam danos que duram mais que o próprio tempo de vida

da ação (por exemplo: drenagem ácida de minas, contaminação por lixo

radioativo, extinção de espécies). AIC deve utilizar as melhores técnicas

científicas de previsão para avaliar as potenciais consequências

catastróficas no futuro.

Cada recurso, ecossistema ou comunidade humana afetado deve ser

analisado em termo de sua capacidade de assimilação dos impactos

adicionais, baseado em seus próprios parâmetros de tempo e espaço –

especialistas tendem a analisar como os recursos, ecossistemas e

comunidades são afetados pela ação proposta. Entretanto, a maneira mais

efetiva de se avaliar os impactos cumulativos é focar em como assegurar a

produtividade ou sustentabilidade desses recursos.

Figura 2.2: Diferença de abordagem da AIA e AIC (Elaboração própria baseado em Nunes, 2010)

Os impactos cumulativos resultam de acúmulos temporais e espaciais das

perturbações ao meio ambiente. Os efeitos das atividades humanas podem se

acumular quando uma segunda perturbação ocorre no mesmo local antes que o

ecossistema possa totalmente se recuperar da primeira perturbação(CEQ, 1997). A

Tabela 2.1 apresenta as tipologias de ICs, suas principais características e cita

exemplo para facilitar o entendimento e diferenciação entre os tipos.

9

Tabela 2.1: Natureza dos Impactos Cumulativos (CEQ, 1997; OLIVEIRA, 2008)

Tipo Principais características Exemplos

Acúmulo temporal

(time crowding)

Impactos frequentes, repetitivos

sobre um único sistema ambiental

-Lançamento frequente de efluentes

em corpos hídricos

-Extração de recursos florestais que

superam a reposição natural

Efeito tardio

(time lags)

Longo espaço de tempo entre a

causa e o efeito

-Alterações no lençol freático que

afetam o ecossistema de áreas

úmidas

- Exposição a cancerígenos

Acúmulo espacial

(spacial crowding)

Alta densidade espacial de impactos

sobre um sistema ambiental

-Tráfego congestionado resultante

do aumento de atividades em uma

região

- Poluição difusa em córregos

Efeitos sem limite espacial

(cross-boundary)

Impactos gerados por fontes que

estão distantes do local de

ocorrência

-Dispersão de poluentes

atmosféricos

- Chuva ácida

Fragmentação

(fragmentation)

Mudanças nos padrões da

paisagem, fragmentação de

ecossistemas

-Fragmentação de florestas

-Fragmentação de locais históricos

Composto ou Sinérgico

(compounding effects,

synergisms)

Sinergia ou composição dos

impactos de várias fontes ou

processos ‘pathways’

- Formação de smog devido à

combinação de SOx e NOx

- Sinergismo entre pesticidas

Efeito Indireto

(indirect effects)

Impacto secundário resultante de

um impacto inicial

- Desenvolvimento comercial e

residencial induzidos pela

construção de uma rodovia

- Assoreamento de corpos d’água

causado pela lixiviação do solo em

áreas desmatadas

Superação da capacidade

de assimilação

(triggers na thresholds)

Impactos que são insignificantes ou

não geram consequências até um

determinado limiar crítico. Ao atingir

esse limiar, geram mudanças

estruturais ou funcionais nos

sistemas ambientais e alteram o

comportamento dos ecossistemas

- Mudanças climáticas globais

- Mudança de hábitos provocada por

constante fragmentação de habitat

Em relação ao processo de acumulação, os impactos cumulativos podem surgir

de uma ação individual ou um conjunto de ações que podem resultar em impactos

aditivos ou interativos, conforme apresentado na Tabela 2.2. Os impactos interativos

podem ser subdividos em duas categorais: de compensação - quando o efeito adverso

líquido acumulado é menor que a soma dos efeitos individuais – ou de sinergia -

quando o efeito cumulativo é maior do que a soma dos efeitos individuais. (CEQ, 1997;

COOPER, 2004)

10

Tabela 2.2: Processo de Acumulação (CEQ, 1997; COOPER, 2004)

Aditivo (a+a+a+a...+a) Interativo (a+b+c+...+g)

Ação individual

Tipo 1 – impactos aditivos de ações

repetitivas

Exemplo: construção de uma nova

rodovia cortando um parque nacional,

resultando na constante drenagem de

sal (road salt3) na vegetação marginal

Tipo 2 – estressores de uma fonte única

que interagem com a biota resultando

em um efeito interativo não-linear na

cadeia.

Exemplo: compostos orgânicos, incluído

PCBs, que sofre biomagnificação ao

longo da cadeia alimentar,

proporcionando um nível de toxicidade

elevada para grandes mamíferos

Múltiplas ações

Tipo 3 – impactos decorrentes de

diversas fontes que têm efeito aditivo

nos sistemas ambientais

Exemplo: uso consuntivo da água na

agricultura, residências e indústrias

contribuem para o rebaixamento dos

aquíferos.

Tipo 4 – efeitos decorrentes de múltiplas

ações que afetam os sistemas

ambientais de maneira interativa,

podendo ser compensatória ou sinérgica

Exemplo: descarga de nutrientes e água

quente no rio que interagem causando

‘boom’ de algas que reduzem o nível de

oxigênio dissolvido é maior que o

impacto aditivo de cada poluente.

Embora existam diferenças, principalmente de foco e objetivo, na AIC feita no

âmbito da AIA e AAE, as etapas que constituem o processo de avaliação dos impactos

cumulativos são semelhantes. A Figura 2.3 apresenta o fluxograma das etapas do

processo geral da AIC baseada na síntese de diversos estudos feita por Oliveira

(2008).

Figura 2.3 : Etapas da AIC. (Elaboração própria baseada em OLIVEIRA, 2008)

3 O sal (road salt) é para derreter o gelo utilizado nas estradas, pois ele reduz o ponto

de congelamento e fusão da água (http://www.mcapwa.org/report_road_salt.pdf)

Definição do escopo

Caracterização do ambiente e dos impactos

Determinação da significância

Definição de medidas mitigadoras

Monitoramento

11

1- Definição de Escopo:

Identificar questões regionais de interesse;

Identificar e definir quais são os componentes do ecossistema e/ou

comunidades humanas a serem analisados;

Identificar outras ações passadas, presentes ou futuras que possam afetar

os mesmos componentes e/ou comunidades;

Estabelecer o limite geográfico e temporal adequado para a análise dos

impactos;

Identificar os impactos ambientais a serem considerados;

Identificar os prováveis impactos cumulativos associados à ação proposta e

definir os objetivos da avaliação;

2- Caracterização do ambiente e dos impactos:

Definir uma condição base para os componentes e comunidades;

Caracterizar os componentes e comunidades identificados na definição do

escopo, segundo sua resposta e capacidade de suporte ao impacto;

Caracterizar os impactos que afetam os componentes e comunidades e sua

relação como os limites regulatórios;

Identificar as relações de causa/efeito entre as atividades humanas e os

componentes e ou comunidades

Identificar os impactos cumulativos da ação proposta e suas relações com

outras ações e propostas futuras

3- Determinação da significância:

Determinar a magnitude e a significância dos impactos cumulativos;

Avaliar a importância dos impactos residuais;

Considerar as normas ambientais vigentes, analisando a capacidade de

suporte e uso e ocupação do solo.

4- Definição de medidas mitigadoras:

Identificar alternativas para evitar, minimizar ou mitigar os impactos

cumulativos significativos.

5- Monitoramento:

Monitorar os impactos cumulativos da alternativa escolhida e adaptar sua

gestão

Avaliar a eficiência das medidas mitigadoras adotadas.

12

Apesar do conceito da AIC ser de fácil entendimento, sua prática é considerada

complicada. De modo a facilitar o desenvolvimento da AIC, existem diversos métodos,

técnicas e ferramentas que podem ser aplicados no processo, muitas delas já

utilizadas na AIA tradicional. Segundo o levantamento feito pelo CEQ (1997), existem

três categorias de métodos de análise: os que descrevem ou modelam a relação

causa-efeito (p.e.: matrizes, fluxogramas); os que analisam as tendências de

mudanças ao longo do tempo; e aqueles que sobrepõem feições de mapas para

identificar áreas de sensibilidade, por exemplo. A seguir são descritos os principais

métodos para AIC e suas vantagens e desvantagens (NUNES, 2010; CEQ, 1997):

Questionários, entrevistas e painéis de discussão - são úteis para a

compilação da vasta gama de informações coletadas sobre os recursos e as

ações propostas. As informações coletadas em grupo ou individualmente

através de entrevistas ajudam na formação de um consenso sobre as

questões relevantes dos impactos cumulativos de uma região.

Vantagens: flexibilidade e permitir lidar com informações subjetivas.

Desvantagens: não são quantitativos e a comparação entre as alternativas é

subjetiva.

Checklists – ajudam na identificação dos potenciais impactos cumulativos

através de lista estruturadas com os impactos comuns ou prováveis para as

ações propostas e os recursos afetados.

Vantagens: sistemáticos e concisos.

Desvantagens: podem ser inflexíveis e não reconhecem interações e

relações de causa-efeito.

Matrizes – utilizam a forma tabular para organizar e quantificar as

interações entre as atividades.

Vantagens: fácil compreensão, permitem a comparação das alternativas e

abordam mais de uma ação/projeto.

Desvantagens: normalmente não fazem uma abordagem no espaço e no

tempo, sua apresentação pode ficar complicada dependendo da quantidade

de dados e não apresentam relações de causa-efeito.

Rede de conexões e diagramas – relacionam os componentes de um

sistema ambiental ou social numa rede ou corrente de causalidade,

permitindo assim identificar as relações causa-efeito que podem resultar em

impactos cumulativos.

Vantagens: facilitam a elaboração do modelo conceitual, reconhecem as

relações causa-efeito, identificam impactos indiretos.

13

Desvantagens: geralmente não são compatíveis com impactos secundários,

apresentam problemas na comparação de unidades e não fazem uma

abordagem no espaço e no tempo.

Modelagem matemática – boa técnica para quantificar as relações causa-

efeito que podem resultar em impactos cumulativos. Permite a descrição de

processos cumulativos, através de fórmulas matemáticas.

Vantagens: clareza dos resultados, reconhece as relações causa-efeito,

permite a quantificação do IC e pode ser integrada ao tempo e ao espaço.

Desvantagens: necessita de uma grande quantidade de dados, pode ser

muito cara e inviável dependo do número de variáveis.

Análise de tendências - avalia o estado da componente ao longo do tempo

e desenvolve projeções gráficas de condições passadas ou futuras, levando

em consideração alterações de ocorrência ou de intensidade dos agentes de

pressão Ajuda a identificar impactos cumulativos e a estabelecer cenários

de referência adequados.

Vantagens: reconhece a acumulação ao longo do tempo, permite a

identificação do problema e das condições iniciais dos sistemas.

Desvantagens: necessita de uma grande quantidade de dados e as

extrapolações feitas ainda são muito subjetivas.

Sobreposição de mapas e Sistema de Informações Geográficas (SIG) -

Incorporam informações geográficas na AIC, ajudando a estabelecer os

limites espaciais do estudo, analisar parâmetros paisagísticos e identificar as

áreas onde os impactos terão maiores intensidades.

Vantagens: fornecem um padrão espacial de distribuição e proximidade dos

impactos, fácil visualização, otimizam o desenvolvimento de alternativas.

Desvantagens: limitados aos efeitos na dimensão espacial estudada, não

explicitam impactos indiretos e a magnitude dos impactos.

Análise da capacidade suporte - Identifica limiares (condicionantes ao

desenvolvimento) e fornece mecanismos necessários para o monitoramento

do uso da capacidade das componentes ambientais de forma a averiguar se

o limiar está próximo. Possibilita a determinação da significância dos ICs,

quanto mais próximo do limiar mais significativos são os ICs.

Vantagens: confronta os impactos cumulativos e os limites aceitáveis,

considera os efeitos em um contexto sistêmico e considera fatores

temporais.

Desvantagens: dificilmente consegue medir a capacidade diretamente,

podem existir diversos limiares, requer dados regionais que geralmente não

existem ou não estão disponíveis.

14

Apesar de todos esses métodos considerarem aspectos importantes, como

múltiplas ações e múltiplos efeitos, nenhum deles é considerado completo para AIC,

todos possuem pontos fortes e pontos fracos(CEQ, 1997). Por isso, durante o

desenvolvimento do modelo conceitual causal e para avaliação para impactos

cumulativos, é comum a utilização de mais um método como é explicado na Figura

2.4.

Figura 2.4: Combinação de métodos na AIC (CEQ, 1997 e OLIVEIRA, 2008)

Avaliação dos

Impactos

Matrizes e tabelas

Modelagem

Sobreposição de mapas

Caracterização do ambiente e dos

recursos

Questionários, entrevistas e painéis Checklists

Dimensão Espacial

Sobreposição de mapas

Dimensão Temporal

Análise de tendência

Interação entre os recursos e impactos Redes de interações e diagramas

15

2.3 AIC no Brasil

A Resolução CONAMA nº01/86 estabelece a necessidade de elaboração de

Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental para o

licenciamento de atividade potencialmente modificadora do meio ambiente. Entre as

diretrizes para a elaboração da EIA, a análise de impactos ambientais do projeto deve

considerar:

“Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de

identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis

impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e

adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e

permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e

sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais”.

Segundo Sanchéz (2008b), tradicionalmente, a AIA não se ocupa de impactos

insignificantes ou de baixa significância, pois tais situações são tratadas por outros

instrumentos de planejamento e gestão ambiental, como o zoneamento do uso do

solo, o licenciamento convencional e a obrigatoriedade de atendimento a normas e

padrões. Entretanto, em projetos sujeitos à elaboração de EIA/RIMA, a consideração

de impactos cumulativos pode ser crucial no processo de tomada de decisão.

Apesar de alguns outros documentos legais, nas esferas federais e estaduais,

mencionarem a necessidade de consideração dos ICs, não são apontadas diretrizes

para a abordagem ou procedimentos para a realização da AIC (OLIVEIRA, 2008). Fora

do âmbito legal, o setor hidrelétrico tem considerado os ICs através da Avaliação

Ambiental Integrada (AAI). No setor de petróleo e gás natural, especificamente na

Exploração e Produção (E&P), as Portarias MMA nº 442/11 e MME/MMA nº 198/12,

publicadas recentemente, trazem a visão estratégica e regional para a licitação de

blocos exploratórios e para o licenciamento ambiental.

2.3.1 Setor Hidrelétrico

De acordo com o Balanço Energético Nacional 2011 (ano base 2010), apesar

do crescimento de novas fontes energéticas renováveis, como a eólica, e não

renováveis, como o gás natural, a geração hidráulica ainda figura como principal fonte

na geração de energia elétrica no país. A energia produzida por hidrelétricas foi

responsável por 74% da oferta interna de energia elétrica. A construção de grandes

usinas hidrelétricas (UHE) como as UHE de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte

evidenciam que essa será ainda principal matriz energética do país nas próximas

décadas.

16

O barramento e a instalação de usina hidrelétrica em um rio causam uma série

de impactos ambientais como desapropriação de pessoas de áreas a serem

inundadas, eutrofização e piora na qualidade da água, aumento da proliferação de

vetores de doença devido à redução de velocidade de escoamento, aumento da

erosão a jusante da barragem devido à retenção de carreamento de sedimentos, entre

outros(TUCCI e MENDES, 2006).

Além do aproveitamento elétrico, os recursos hídricos possuem outros usos

tais como o abastecimento residencial, agrícola, industrial, navegação, turismo, etc,

que também provocam impactos ambientais. Em uma bacia hidrográfica, esses

impactos não ocorrem isoladamente, mas são resultados da integração de efeitos dos

diferentes usos da água e solo pelo desenvolvimento econômico da região (TUCCI e

MENDES, 2006).

Em 2004, diante das deficiências de AIA em avaliar os ICs da UHE de Barra

Grande na bacia do Rio Uruguai durante seu processo de licenciamento ambiental

surgiu através de um termo de compromisso firmado entre o Ministério Público

Federal, o Ministério de Minas e Energia (MME), o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), entre outros órgãos, a

Avaliação Ambiental Integrada (AAI) de aproveitamentos hidrelétricos(OLIVEIRA,

2008). A partir daí, a AAI passou a ser o instrumento adotado pelo MME para avaliar

os ICs de um conjunto de hidrelétrica em uma mesma bacia hidrográfica. Atualmente,

a Empresa de Planejamento Energético (EPE) disponibiliza em seu site a AAI de 12

bacias hidrográficas, como por exempla a AAI da bacia do rio Paraíba do Sul,

responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A AAI tem como objetivo avaliar a situação ambiental da bacia com os

empreendimentos hidrelétricos implantados e os potenciais barramentos,

considerando seus efeitos cumulativos e sinérgicos sobre os recursos naturais e as

populações humanas e os usos atuais e potenciais dos recursos hídricos no horizonte

atual e futuro de planejamento. Esse instrumento busca a compatibilização da geração

de hidrelétrica com a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento

socioeconômico da bacia hidrográfica (MMA apud TUCCI e MENDES, 2006). A Figura

2.5 apresenta as etapas da AAI de aproveitamentos hidrelétricos.

17

Figura 2.5: Etapas da Avaliação Ambiental Integrada(TUCCI e MENDES, 2006)

A questão dos impactos cumulativos de empreendimentos hidrelétricos foi

destaque do jornal O Globo publicado em 21 de agosto de 2012. A reportagem relata o

pedido de suspensão, feito pelos Ministérios Público Federal e Estadual do Mato

Grosso do Sul, da construção de hidrelétricas nos rios do entorno do Pantanal até que

seja feito um estudo único sobre impacto cumulativo das obras.

Além dos 126 empreendimentos já instalados ou em curso na região, mais 23

projetos estão em análise, totalizando 149 empreendimentos. Segundo o texto da

ação citado no jornal, sem o devido estudo de impacto acumulado das atividades e de

medidas eficazes para evitar o colapso do sistema, danos irreversíveis podem ser

causados ao meio ambiente e às mais de quatro mil famílias que dependem

exclusivamente da Bacia Alto Paraguai para sobreviver (JORNAL O GLOBO, 2012).

18

2.3.2 Setor Petróleo e Gás Natural

No Brasil, apesar de iniciativas em alguns setores, a Avaliação Ambiental

Estratégica (AAE) para políticas, planos e programas ainda não é regulamentada por

lei, diferentemente do que já ocorre na União Europeia (Diretiva 2001/42/CE), por

exemplo. Segundo Partidário (2000, apud GARCIA e LA ROVERE, 2011), um dos

principais benefícios desse tipo de avaliação é o fortalecimento da AIA ao nível de

projeto antecipando a identificação dos impactos e dos seus efeitos cumulativos,

considerando as questões estratégicas relacionadas à justificativa e à localização da

proposta, e reduzindo o tempo e esforço necessários à avaliação de esquemas

individuais.

No setor petrolífero, mais especificamente nas atividades de exploração e

produção (E&P), agências governamentais de países como o Canadá, Austrália e

Reino Unido, já realizam a AAE antes do processo de licitação dos blocos

exploratório(GARCIA e LA ROVERE, 2011). Em avaliação às AAE das atividades de

E&P offshore, Fidler e Noble (2012) concluíram que AAE pode ajudar a melhorar a

eficiência dos estudos em nível de projeto (AIA).

Nessa linha de raciocínio, o Ministério de Minas e Energia (MME) e o Ministério

do Meio Ambiente (MMA) publicaram, em abril de 2012, a Portaria Interministerial

MME/MMA nº 198/12 que instituiu a Avaliação Ambiental de Áreas Sedimentares

(AAAS). A AAAS é definida como:

“processo de avaliação baseado em estudo multidisciplinar, com abrangência

regional, utilizado pelos Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente como

subsídio ao planejamento estratégico de políticas públicas, que, a partir da análise do

diagnóstico socioambiental de determinada área sedimentar e da identificação dos

potenciais impactos socioambientais associados às atividades ou empreendimentos

de exploração e produção de petróleo e gás natural, subsidiará a classificação da

aptidão da área avaliada para o desenvolvimento das referidas atividades ou

empreendimentos, bem como a definição de recomendações a serem integradas aos

processos decisórios relativos à outorga de blocos exploratórios e ao respectivo

licenciamento ambiental”(BRASIL, 2012).

Embora a variável ambiental seja considerada durante a seleção dos blocos

ofertados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

desde a Quarta Rodada de Licitação, em 2004 (MARIANO e LA ROVERE, 2005), a

portaria deverá fortalecer o processo de integração da avaliação ambiental aos

processos decisórios, permitindo a exclusão de áreas de alta sensibilidade ambiental.

19

Além disso, espera-se que a AAAS promova maior eficiência e racionalidade

no processo de licenciamento ambiental das atividades de E&P, fornecendo dados e

informações que facilitem os estudos de impacto ambiental, principalmente em relação

às sinergias dos empreendimentos. Contudo, cabe destacar que as avaliações

estratégicas propostas pela portaria só incidirão sobre novas áreas a serem outorgada

e, inicialmente, estão restritas às áreas tradicionalmente ocupadas pelo setor, tais

como as Bacias Potiguar, Sergipe-Alagoas, Recôncavo, Espírito Santo e Campos.

No âmbito de projeto, o licenciamento das atividades marítimas de petróleo é

de responsabilidade do IBAMA. Adicionalmente ao disposto nas Resoluções CONAMA

nº 01/86 e nº 237/97, o setor possui resoluções específicas. A Resolução CONAMA nº

350/04 trata do licenciamento da pesquisa sísmica e a Resolução CONAMA nº23/94

das atividades de perfuração e da produção de hidrocarbonetos.

Segundo o próprio IBAMA (2012), o atual arcabouço regulatório, composto

pelas resoluções supracitadas, é difuso e por vezes contraditório, causando

insegurança jurídica ao processo de licenciamento. Além disso, a maioria dessas

resoluções é considerada ultrapassada frente os avanços recentes no gerenciamento

da informação ambiental, não refletindo adequadamente o estado atual do

conhecimento científico sobre os impactos e riscos das atividades de pesquisa e

produção de petróleo e gás na plataforma continental brasileira.

Neste sentido, a Portaria MMA nº 422/11, de 26 de outubro de 2011, promoveu

a unificação das regulamentações sobre o licenciamento das atividades de E&P no

ambiente marítimo, dando um suporte jurídico mais adequado aos procedimentos

atualmente executados(IBAMA, 2012a). A Tabela 2.3 faz um comparativo entre os

tipos de licença e estudos requeridos nas antigas resoluções e na nova portaria para

cada etapa das atividades de E&P de petróleo e gás natural.

Tabela 2.3: Comparação entre as licenças e estudos requeridos na E&P de petróleo e gás natural pelas Resoluções CONAMA nº 350/04 e nº 23/94 e pela Portaria nº 422/2011 (Elaboração Própria)

Resoluções CONAMA nº 350/04 e

nº23/94 Portaria MMA nº 422/2011

Pesquisa Sísmica

Licença de Pesquisa Sísmica (LPS)

Classe 1 – profundidade < 50 m ou em

área de sensibilidade ambiental:

sujeito a Estudo Ambiental de Sísmica

e seu relatório (EAS/RIAS)*

Classe 2 – profundidade entre 50 e

200 m: sujeito a EAS/RIAS

Classe 3 – profundidade > 200 m:

sujeito a Projeto de Controle Ambiental

de Sísmica (PCAS)

Licença de Pesquisa Sísmica (LPS)

Classe 1 – profundidade < 50 m ou em

área de sensibilidade ambiental: exigido

EIA/RIMA

Classe 2 – profundidade entre 50 e 200

m: exigido EAS/RIAS

Classe 3 – profundidade > 200 m:

exigido EAS ou informações

complementares ao PCAS

20

Perfuração

Licença Prévia para Perfuração

(LPper)

Relatório de Controle Ambiental (RCA)

Licença de Operação (LO)

Classe 1 – profundidade < 50 m ou a

menos de 50 km da costa ou em área

de sensibilidade ambiental: exigido

EIA/RIMA

Classe 2 – profundidade entre 50 e

1000 m e a mais de 50 km da costa:

exigido Estudo Ambiental de Perfuração

e seu relatório (EAP/RIAP)

Classe 3 – profundidade > 1000 m e a

mais de 50 km da costa: exigido EAS

ou informações complementares ai

PCAS

Desenvolvimento

e Produção

Licença Prévia de Produção para

Pesquisa (LPpro)**

Estudo de Viabilidade Ambiental (EVA)

Licença de Instalação (LI)

Estudo de Impacto Ambiental

(EIA/RIMA) ou Relatório de Avaliação

Ambiental (RAA)

Licença de Operação (LO)

Projeto de Controle Ambiental

Licença Prévia (LP)

Estudo de Impacto Ambiental e seu

relatório (EIA/RIMA)

Licença de Instalação (LI) e Licença

de Operação (LO)***

Sem estudo específico. Apresentação

de Informações e documentos

adicionais, além do cumprimento das

condicionantes da licença anterior.

*Obs.1: EIA/RIMA são exigidos quando caso a atividade é considerada, pelo IBAMA, potencialmente causadora de

significativa degradação ambiental.

**Obs.2: Produção para Pesquisa = Teste de Longa Duração.

***Obs.3: No caso de Teste de Longa Duração (TLD) que envolva apenas um poço, com duração de até 180 dias e

seja realizado a mais de 50 km da costa e 50 m de profundidade, é exigido o Estudo Ambiental de TLD e seu relatório

(EATLD/RIATLD). Não há exigência de LP e a LI é facultativa.

Apesar de ser uma prática já adotada pelo IBAMA em projetos anteriores, a

portaria regulamentou o licenciamento integrado de polígonos de perfuração e dos

empreendimentos compostos por diferentes projetos ou diferentes atividades (p.e.:

perfuração, TLD, produção e escoamento). Do ponto de vista da cumulatividade,

licenciamento integrado faz como que a AIA apresente uma maior abrangência

espacial e uma visão mais integrada das atividades que ocorrerão na região estudada,

o que facilita a identificação dos potenciais impactos cumulativos e adoção de medidas

de preventivas e mitigadoras.

21

3 Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural

Este capítulo tem como objetivo descrever operacionalmente as principais

atividades de Exploração e Produção (E&P) e seus principais impactos ambientais.

Essa descrição abrangerá apenas o ambiente offshore por sua maior relevância para o

estudo de caso brasileiro apresentado no Capítulo 6.

Segundo as definições da Lei nº 9.478, citadas por Mariano (2007), o segmento

E&P, também conhecido como upstream, da indústria do petróleo pode ser dividido

em quatro grandes etapas, são elas:

- Exploração - conjunto de operações ou atividades destinadas a avaliar áreas,

objetivando a descoberta e a identificação de jazidas de petróleo ou gás natural.

- Desenvolvimento - conjunto de operações e investimentos destinados a

viabilizar as atividades de produção e um campo de petróleo ou gás natural.

- Produção - conjunto de operações coordenadas de extração de petróleo ou

gás natural de uma jazida e de preparo para a sua movimentação.

- Abandono ou descomissionamento – série de operações destinadas a

restaurar o isolamento entre os diferentes intervalos permeáveis. O abandono pode

ocorre em poços recém-perfurados que não tenham viabilidade econômica de

produção ou em poços antigos onde os reservatórios já atingiram uma saturação de

produção e não são mais economicamente viáveis.

3.1 Exploração e pesquisa

As rochas sedimentares que apresentam relativa porosidade e são cobertas

por uma camada de rocha impermeável são onde mais comumente se encontram as

jazidas de petróleo. Deste modo, as explorações geofísicas consistem no processo de

busca dessas estruturas, potencialmente armazenadoras de hidrocarbonetos, através

de métodos de sensoriamento remoto.

Prospecção Sísmica

As ondas sísmicas, ao atingirem as rochas, têm parte da sua energia absorvida

e outra parte é refletida. Desta forma, os estudos geofísicos utilizam das reflexões das

ondas geofísicas ao longo das diversas camadas do material rochoso para fazer a

caracterização dos tipos de rochas ali presente e averiguar a potencial presença de

hidrocarbonetos (petróleo e gás natural). As prospecções sísmicas constituem o

método mais efetivo para a compreensão da geologia profunda de um

local(MARIANO, 2007).

22

Em ambientes marítimos, são utilizadas embarcações equipadas com canhões

de ar comprimido (“airguns”) e hidrofones. Esses canhões são fontes de energia para

a geração das ondas acústicas, a reflexão dessas ondas é captada pelos hidrofones

que consistem em detectores de pressões muito sensíveis dispostos em intervalos

regulares ao longo de cabos sismográficos. As variações de pressão são transmitidas

na forma de sinais elétricos pelos hidrofones para sistemas de registro e

processamento presentes no navio sísmico. A Figura 3.1 apresenta o princípio da

prospecção sísmica.

Figura 3.1: Prospecção Sísmica (IBAMA, 2003)

Perfuração Exploratória

Após a identificação de rochas com características favoráveis para o

armazenamento de hidrocarbonetos, inicia-se a perfuração dos poços de caráter

exploratório para verificar a existência de jazidas e se as quantidades viabilizam o

desenvolvimento do reservatório. A perfuração de um poço pode ser feita através de

plataformas auto-elevatórias, semissubmersíveis ou navio-sonda, dependendo de

critérios técnicos, como a lâmina d’água presente, e econômicos(MARIANO, 2007).

Na operação, são utilizadas sondas com brocas, que reduzem de diâmetro à

medida que a perfuração avança. Os fluidos utilizados para facilitar a perfuração são

escolhidos de acordo com as características das rochas, podendo ser a base de água,

sintético e óleo de baixa toxicidade. Estes fluidos também são essenciais para a

remoção do cascalho, através dos risers, gerados durante o trituramento da rocha.

Um conjunto de válvulas hidráulicas chamado blowout preventer (BOP) é

instalado na “cabeça” do poço para garantir a interrupção da passagem de óleo em

caso de emergência. O blowout é um fluxo incontrolável dos fluidos do reservatório

23

dentro da coluna de perfuração, podendo ser catastrófico caso atinja a

superfície(SCHLUMBERGER, 2012).

À medida que cada seção do poço é perfurada, a broca de perfuração é

retirada do poço e uma coluna de aço (denominada revestimento de perfuração), de

diâmetro inferior ao diâmetro do poço, é introduzida através do mesmo e cimentada de

forma a impedir o desmoronamento das paredes.

3.2 Desenvolvimento

Dentre os fatores que influenciam o desenvolvimento de um campo de petróleo

para produção, pode-se destacar a economicidade do campo, a disponibilidade de

rotas de transferência dos fluidos produzidos, a viabilidade técnica e fatores

relacionados com o meio ambiente (MARIANO, 2007).

Para o desenvolvimento de um campo, a empresa concessionária deve

apresentar para ANP um plano de desenvolvimento, documento que expõe o

programa de trabalho previsto, bem como o investimento necessário ao

desenvolvimento de uma descoberta de petróleo ou gás natural na área.

Durante o desenvolvimento são realizadas as seguintes atividades:

Perfuração de poço de desenvolvimento – operação similar a

perfuração de exploração cujas variações vão depender da

funcionalidade do poço que pode ser o poço de produção, propriamente

dito, o auxiliar de injeção de fluido (água ou gás) ou o de

armazenamento de água de produção;

Construção e implantação de instalações de transporte;

Comissionamento dos sistemas e das unidades.

As atividades de desenvolvimento podem se prolongar por grande parte da

fase de produção, mesmo após o campo ter começado a produzir. Para efeito de

simples classificação dos campos, eles são ditos “em desenvolvimento” quando ainda

não iniciaram a produção (antes do ‘primeiro óleo’) (ANP, 2012a)

3.3 Produção

As principais atividades da produção de petróleo consistem na chegada do

fluido até a superfície, na separação de seus componentes líquidos e gasosos e na

remoção de impurezas. Frequentemente, óleo e gás são produzidos pelo mesmo

reservatório. Na medida em que os poços causam a depleção dos reservatórios nos

quais eles são perfurados, a razão gás/óleo aumenta (assim como a razão

água/hidrocarbonetos)(MARIANO, 2007).

24

As principais funções dos sistemas de processamento primário das unidades

de produção são a separação dos fluidos produzidos nas fases líquida e gasosa,

condicionamento do óleo e gás natural para o transporte, fazendo também a remoção

de sólidos, água e outros contaminantes.

A primeira fase da separação é destinada a segregar a fração gasosa do fluido

líquido. Após a separação, o gás natural passa por uma nova etapa de separação que

visa a remoção de contaminantes, tais como sulfeto de hidrogênio (H2S), vapor d’água,

nitrogênio, gás carbônico (CO2), mercúrio, entre outros. Parte do gás natural pode ser

utilizada para o abastecimento energético da própria plataforma. Cabe ressaltar que o

transporte mais empregado do gás natural é através de gasodutos, locais que não

possuem essas instalações geralmente realizam a queima do gás natural através de

flares ou reinjetam o gás no reservatório(MARIANO, 2007).

Apesar de imiscíveis, a água e o óleo formam uma mistura emulsionada devido

à turbulência de extração. Após certo tempo, é viável a separação da água e de

sedimentos, como areia, por processos gravitacionais. O restante da água que

permaneceu junto ao óleo é removido por um aquecedor que realiza a quebra da

emulsão ou através do uso de substâncias química. O óleo com pureza de cerca de

98% é armazenado para o posterior transporte para as refinarias, geralmente através

do offloading para navios aliviadores (Figura 3.2).

Figura 3.2: Operação de Offloading(PETROBRAS, 2011b)

25

3.4 Abandono

O abandono ou descomissionamento de poços pode se dar pela não

consolidação da produtividade do poço, verificada na fase de perfuração exploratória,

bem como quando este poço atinge o fim de sua vida útil.

No abandono, o poço é tamponado com concreto e os condutores são cortados

abaixo do nível do leito marinho, as demais instalações flutuantes são rebocadas e os

risers e âncoras são removidos. Já o descomissionamento de plataformas pode

envolver a remoção completa da estrutura e sua disposição em terra, remoção da

estrutura e sua colocação em local apropriado no oceano ou até mesmo o reuso da

estrutura em outro campo(MARIANO, 2007).

3.5 Impactos Ambientais

Apesar dos potenciais impactos das atividades de E&P de petróleo e gás

natural offshore, algumas etapas possuem tempo limitado de operação, como a

pesquisa sísmica e a perfuração. Dessa forma, os aspectos ambientais que interferem

no meio ambiente também são de caráter temporário(MARIANO, 2007). Entretanto, é

importante considerar as propriedades cumulativas do desenvolvimento dessas

atividades em uma região. A seguir são descritos os principais impactos da atividade

de E&P offshore e posteriormente é apresentada uma discussão sobre os efeitos

cumulativos.

Na fase de atividade sísmica, os impactos podem ocorrer em função dos

disparos de''airguns'' e da área ocupada pelo arranjo sísmico (cabos sismográficos),

resultando na redução temporária da pesca e perturbações à fauna marinha(MMA,

2012a).

Durante a perfuração marítima, ocorre a perturbação do leito marinho e a

suspensão de sedimentos. Nesta fase, os impactos estão relacionados à toxidade dos

fluidos de perfuração, deposição de cascalho no fundo do mar, principalmente em

áreas de corais, além de vazamentos de óleo acidentais por blowout(MMA, 2012a).

Na fase de produção marítima, os impactos ambientais gerados pela

plataforma estão associados ao descarte da água de produção, efluentes sanitários e

as emissões atmosféricas da possível queima do gás natural. Na esfera

socioeconômica, os impactos ocorrem devido à significativa mudança na estrutura e

organização da sociedade regional pelo aquecimento da economia provocado pela

indústria do petróleo(MMA, 2012a), principalmente nos locais onde são instaladas as

bases de apoio marítimo e aéreo. Entretanto, os maiores impactos da produção de

26

petróleo estão associados aos eventos acidentais que resultem no vazamento de

grandes volumes de óleo em regiões oceânicas e, principalmente, em regiões

costeiras(MARIANO, 2007).

Na etapa de descomissionamento, a remoção das instalações submarinas

causa impactos sobre a biota marinha. No meio socioeconômico, o encerramento das

atividades pode resultar em desemprego, diminuição da renda e arrecadação dos

municípios, sobretudo quando essa etapa vem acompanhada da ausência de previsão

e planejamento (MMA, 2012a). A Tabela 3.1 sintetiza os tipos e a natureza dos

impactos causados por cada etapa e suas atividades de E&P de petróleo e gás natural

offshore.

Tabela 3.1 : Tipo e natureza dos impactos das atividades de E&P de petróleo e gás natural offshore (MARIANO, 2007)

Etapa Atividade Tipo e natureza do impacto

Pesquisa Geológica e

Geofísica

Pesquisa Sísmica

Interferência com pescadores e outros

usuários, impacto sobre os organismos

aquáticos e sobre populações de pelágicos

Perfuração Teste (perfuração

estratigráfica profunda e

perfuração rasa de núcleo)

Perturbações no leito marinho, re-

suspensão de sedimentos, aumento de

turbidez da água, descarte de fluidos e

cascalho de perfuração

Exploração

Posicionamento da plataforma e

perfuração exploratória

Emissões e descarga de poluentes,

interferência com pescadores e outros

usuários, blowouts acidentais e entre

outros

Fechamento e abandono do poço Interferência com pescadores e outros

usuários

Desenvolvimento e

Produção

Posicionamento da plataforma,

lançamento dos dutos e

construção de instalações de

apoio

Perturbações físicas, descargas da

construção e do comissionamento das

instalações e interferência com pescadores

e outros usuários

Perfuração de poços de produção

e de injeção

Perturbações no leito marinho, re-

suspensão de sedimentos, aumento de

turbidez da água, descarte de fluidos e

cascalho de perfuração

Operações de produção e

manutenção

Descargas das operações, vazamentos

acidentais, interferência com pescadores e

outros usuários, perturbações físicas

Tráfego de embarcações de

apoio

Emissões e descargas das operações,

separação de aves e mamíferos marinhos

e outros organismos, vazamento de óleo

Descomissionamento Remoção da plataforma (ou outra

estrutura), fechamento e

abandono dos poços, uso de

explosivos

Descargas e emissões operacionais,

interferência com pescadores e outros

usuários, impacto sobre organismos

aquáticos quando são usados explosivos

27

Apesar da definição apresentada no Capítulo 2 desse trabalho classificar o

efeito sinérgico como um tipo de impacto cumulativo, no qual o efeito é maior do que a

soma dos efeitos individuais, para identificação dos potenciais efeitos cumulativos das

atividades de E&P, Mariano (2007) adota o conceito de forma separada. Dessa forma,

a autora entende como sendo impacto(s):

Cumulativo - É o impacto ambiental derivado da soma de outros

impactos ou de cadeias de impacto que se somam, gerado por empreendimentos

isolados, por contíguos num mesmo sistema ambiental.

Sinérgicos - São impactos que, somados, interagem, gerando efeitos

inesperados ou que não podem ser atingidos pela presença de nenhum dos agentes

impactantes isoladamente. O efeito sinérgico não potencializa quantitativamente os

impactos, mas altera qualitativamente os efeitos esperados.

Neste sentido, os impactos cumulativos e sinérgicos das atividades de E&P de

petróleo e gás em áreas offshore, considerados mais significativos por Mariano (2007),

foram:

Presença Física das Instalações – Interferência com outros usuários,

principalmente com a indústria pesqueira, em decorrência da determinação de Zonas

de Exclusão e do possível aprisionamento dos equipamentos de pesca nas estruturas

de produção ou em carcaças. Há um potencial limitado de superposição desses

efeitos.

Ruídos – A probabilidade de que ocorram impactos cumulativos em

decorrência dos efeitos sonoros da pesquisa sísmica depende do período e da

localização das atividades, mas é considerada baixa nos casos de pesquisas

simultâneas, assim como no caso de eventos sequenciais que afetem os mesmos

receptores (por exemplo, mamíferos marinhos). Como as pesquisas sísmicas podem

interferir umas com as outras, são, portanto, gerenciadas de forma cooperativa, com o

objetivo de evitar a interferência acústica entre as buscas. Tal fato minimiza

substancialmente a probabilidade de que um simples receptor seja perturbado

simultaneamente por mais de uma fonte. Os efeitos sinérgicos da sísmica em conjunto

com efeitos decorrentes de outras atividades (operação de sonares militares, por

exemplo), são possíveis, porém pouco prováveis, de acordo com a experiência

internacional.

Danos Físicos – As fontes potenciais de perturbação física no leito

marinho identificadas são o ancoramento das plataformas, cabeças de poço,

templates e fixação das jaquetas, e o entrincheiramento dos dutos; dos quais o

ancoramento das plataformas e o entrincheiramento dos dutos são os mais extensos.

28

Há pouco potencial de superposição desses efeitos. Os efeitos sinérgicos de danos

físicos às comunidades bênticas são, de longe, dominados pelas situações onde há

arrastes de fundo.

Descarga de Efluentes no Oceano – Águas de Produção – Plumas

de água de produção têm grande potencial de dispersão de acordo com os padrões de

circulação residual dos oceanos. Entretanto, estudos indicam que com referência à

toxidade e outros efeitos biológicos, os níveis máximos são alcançados próximo aos

pontos de descarga, sendo improvável que se formem “zonas de impacto” onde as

concentrações se sobreponham. As principais fontes de efeitos sinérgicos

correspondem à emissão de substâncias contaminantes tais como metais e

hidrocarbonetos.

Descarga de Efluentes no Oceano – Descargas da Perfuração – É

provável que os rastros dos efluentes de perfuração se sobreponham, mas

provavelmente seus efeitos ecológicos não serão detectáveis. Os impactos sinérgicos

decorrentes do descarte de contaminantes particulados incluem os materiais dragados

e os descartes costeiros, apesar de serem insignificantes no contexto das partículas

naturalmente em suspensão nos oceanos.

Emissões Atmosféricas – As emissões de gases de efeito estufa e de

gases acidificantes da atmosfera contribuem de forma efetiva para as mudanças

regionais e globais, sendo, portanto, consideradas cumulativas. Os efeitos sinérgicos

com emissões atmosféricas onshore são desprezíveis.

Disposição de Resíduos em Terra – Os impactos das emissões e do

tratamento onshore dos cascalhos e seus efeitos sobre os aterros terrestres são

cumulativos com aqueles decorrentes de outros desenvolvimentos da indústria de

petróleo numa mesma área. A contribuição em termos de sinergia para os impactos

em escala global ou regional é desprezível.

Eventos Acidentais – Derramamentos de Óleo – Derramamentos de

petróleo terão efeito cumulativo com o descarte de água de produção e com os efeitos

de outras fontes menores de liberação (vazamentos) da substância.

Cabe ressaltar que é os efeitos cumulativos citados são os mais comuns para

os ambientes offshore, mas não apresentam uma contextualização em uma região

específica. Portanto, para efetiva avaliação dos efeitos cumulativos é preciso um

conhecimento profundo das componentes ambientais e suas peculiaridades, como a

capacidades de suporte dos ecossistemas potencialmente afetados contexto da

região. O estudo de caso 1, apresentado no Capítulo 4 a seguir, possui diferentes

variáveis que resultaram em impactos cumulativos.

29

4 Estudo de Caso 1: North Slope do Alasca

O estudo “Cumulative Environmental Effects of Oil and Gas Activities on

Alaska’s North Slope”, publicado pela National Research Council (NRC) nos Estados

Unidos em 2003, foi o resultado do trabalho de dois anos de um comitê formado por

diversos especialistas para a avaliação dos impactos cumulativos das atividades de

petróleo nessa região do Alasca. O escopo e os objetivos da avaliação foram:

Especificar a classe de ações cujos efeitos seriam analisados - foram

consideradas todas as ações relacionadas com o desenvolvimento das atividades

de petróleo na região;

Determinar as escalas temporal e espacial da análise - a escala temporal

escolhida foi de 1965 até 2025 e em alguns casos até 2050. A delimitação espacial

englobou o North Slope e regiões marinhas adjacentes;

Identificação e caracterização dos receptores - os receptores considerados

foram sistemas físicos, biológicos e humanos;

Determinação da magnitude dos efeitos sobre os diferentes receptores e suas

possíveis cumulatividades ou interação com outros efeitos.

4.1 Descrição do North Slope

O North Slope of Alaska possui uma área de 230.000 km² formada por feições

típicas de uma região “permafrost” e bioma tundra. As temperaturas na costa variam

entre 5 e 15°C no verão e entre -18 e -40º durante o inverno. A região é divida em três

grandes sub-regiões, conforme é apresentado na Figura 4.1, a Planície Costeira do

Ártico (Artic Coastal Plain), o Sopé do Ártico (Artic Foothills) e a Cadeia Montanhosa

de Brooks Range. As atividades de E&P de petróleo se desenvolveram na planície

costeira, entretanto, há uma crescente expansão das atividades de exploração no

sopé. A região montanhosa é afetada somente pela passagem do duto Trans-Alaska.

30

Figura 4.1: Sub-regiões do North Slope(NRC, 2003)

Entre os animais vertebrados, somente os de sangue quente conseguem

sobreviver nas baixas temperaturas do Ártico. Assim, a biota terrestre da região é

composta principalmente por aves aquáticas e marinhas como patos e cisnes, por

mamíferos como caribus, alces, ursos pardos, bois almiscarados, raposas e lobos. A

maioria das espécies de peixe de água doce vive em lagos e rios, apenas algumas

espécies migram para ambientes costeiros. No ambiente marinho, a região próxima à

costa possui uma alta produtividade com a presença de diversas espécies de

fitoplânctons, zooplânctos, bentos. Entre os mamíferos marinhos estão a foca-anelada,

a foca- barbuda, o urso polar, espécies típicas da zona ártica, e a foca-pintada, a

morsa, a baleia-beluga e a baleia-da-Groelândia, típicas do subártico que migram

sazonalmente para a região.

Inicialmente, a população nativa do North Slope sobrevivia do desenvolvimento

de atividades de subsistência. O primeiro contato com a cultura ocidental ocorreu em

meados do século XIX quando missionários e baleeiros mercantis visitaram a região.

Os primeiros empregos surgiram em 1940, com o início da exploração de petróleo pela

Marinha Americana. Entretanto, nas décadas de 1950 e 1960 os empregos

assalariados ainda eram escassos e a maioria das famílias ainda vivia de subsistência.

Com o anúncio da descoberta de petróleo na Baía de Prudhoe (o maior campo

produtor de petróleo da América do Norte), em 1968, a estrutura socioeconômica da

região sofreu grandes alterações.

A composição física do North Slope dificulta o desenvolvimento de

comunidades humanas. A agricultura e a silvicultura são inviáveis. A madeira para

construção vem de troncos que chegam através dos rios à zona costeira. O

deslocamento entre as comunidades é feito principalmente pelo ar, pela água no verão

31

ou através de veículo de neve no inverno quando a tundra está congelada. O custo do

transporte e das mercadorias é mais elevado do que no resto do Alasca e nos Estados

Unidos (continental) e como a renda percapita é mais baixa, o padrão de vida acaba

por ser menor.

4.2 Histórico da E&P: Passado, Presente e Futuro

O primeiro programa sísmico do North Slope ocorreu em 1962. Nos cinco anos

seguintes, a perfuração exploratória mal sucedida de 11 poços fez com que o

interesse na região diminuísse. Entretanto, após o primeiro leilão de concessão de

1964, em 1968, foi anunciada a descoberta do campo de Prudhoe Bay, o maior da

América do Norte, com reservas estimadas na época de 9,6 bilhões de bbl.

No ano seguinte, foram descobertos os campos de Kuparuk, West Sak e Milne

Point. Porém, os leilões de concessão foram suspensos durante 10 anos devido às

reinvindicações da população nativa. Os nativos questionavam a construção do

oleoduto Trans-Alaska que cruzaria suas terras para escoar a produção de petróleo

pelo Porto de Valdez. O impasse terminou com a aprovação da Alaska Native Claims

Settlement Act em 1971 e a criação da Artic Slope Regional Corporation. Depois de

seis anos, em 1977, o oleoduto entrou em operação.

Entre 1974 e 1976, a exploração ao longo do Barrow Arch foi financiada pelo

governo federal. Em 1976, a Marinha transferiu para o Departamento do Interior a

Naval Petroleum Reserve-4, criada em 1923 com uma área de 95.000 km², cujo novo

nome passou a ser National Petroleum Reserve – Alaska (NPR-A). A primeira

concessão na NPR-A ocorreu em 1982 e o primeiro poço exploratório foi perfurando

em 1985.

Em 1979, começaram as concessões na plataforma continental do Mar de

Beaufort. O primeiro poço exploratório foi perfurado após dois anos. Durante 1984 e

1985, pesquisas sísmicas foram desenvolvidas na área 1002 do Artic National Wildlife

Refuge (ANWR). Seu primeiro poço foi perfurado no ano seguinte.

Em 1994, foi descoberto o campo de Alpine na parte nordeste do NPR-A. Em

2001, o campo de Northstar iniciou sua produção. A Figura 4.2 mostra a localização

dos campos de produção de petróleo e o oleduto Trans-Alaska (TAPS), bem como o

Barrow Arch, a NPR-A e a ANWR.

32

Figura 4.2: Localização dos campos de produção de petróleo no North Slope(HOUSEKNECHT e BIRD, 2005)

Diversas áreas pertencentes à Artic Slope Regional Corporation foram

concedidas ao longo das últimas décadas. A Figura 4.3 apresenta os poços já

perfurados e a Figura 4.4 as áreas concedidas nos leilões ao longo das cinco décadas.

Figura 4.3: Evolução da perfuração de poços no North Slope (1940-2001)(NRC, 2003)

33

Figura 4.4: Blocos de exploração ofertados nos leilões de concessão (1960-2002)(NRC, 2003)

Desde o início da produção no North Slope do Alaska no cerca 14 bilhões de

barris de petróleo já foram produzidos e estima-se que a região ainda seja capaz de

produzir entorno de 20 bilhões Se no início da exploração de petróleo em 1968, a

infraestrutura instalada era composta por apenas uma pista de pouso, um

acampamento e uma estrada de acesso ao poço. Em 2001, a região já possuía 19

campos de produção de petróleo com 115 instalações de E&P onshore e 20 offshore e

20 plantas de processamento, atendidos por uma complexa rede composta por cerca

de 960 km de estradas, 725 km de oleodutos e 353 km de linhas de transmissão e 20

instalações aeroportuárias. A Figura 4.5 apresenta a expansão da malha rodoviária

entre 1968 e 2001.

Figura 4.5: Expansão da malha rodoviária no Alasca (1968 e 2001)(NRC, 2003).

34

Devido à “permafrost”, as fundações das instalações devem resistir aos

derretimentos de gelo. Para isso, grandes quantidades de cascalho são empregadas

na fundação das instalações e das rodovias. A Figura 4.6 mostra o uso do cascalho no

aeroporto de Deadhorse Airport, na Prudhoe Bay.

Figura 4.6: Fotografia aérea do Aerporto de Deadhorse, na Prudhoe Bay(PANORAMIO, 2012).

Para determinar os cenários futuros, especialista levaram em consideração

premissas como: a manutenção dos altos preços do petróleo para viabilizar sua E&P;

as mudanças climáticas não serem tão drástica nos próximos 50 anos de modo a

comprometerem os métodos atuais de exploração; as novas atividades de E&P

utilizarão tecnologias confiáveis; a exploração offshore irá continuar, porém em ritmo

do mais lento ao longo da costa; a exploração onshore continuará sua expansão tanto

para o sopé da Cadeia de Montanhas Brooks Range quanto para a NPR-A; a E&P do

gás natural se tornará importante e será construído um gasoduto e o número de

empresas de exploração, especialmente aqueles interessadas na exploração do gás

natural, irá crescer, resultando no aumento da competitividade.

O declínio da produção em campos mais antigos como os de Prudhoe Bay e de

Kuparuk, o desenvolvimento tecnológico e o mercado do gás motivaram os

investidores a procurarem novas áreas. As áreas de Colville-Canning e do Mar de

Beaufort permanecerão como foco central de exploração por algum tempo, onde o

maior potencial está na plataforma continental. Entretanto, a probabilidade de se

encontrar reservas como a da Prudhoe Bay nessas áreas é pequena.

Apesar de menores que o de Prudhoe Bay, os campos de Barrow, Simpson e

Walakpa na parte noroeste da NPR-A, onde se encontraram reservas de gás e o

35

campo de Alpine no nordeste da NPR-A, com reservas de petróleo, evidenciam o

potencial de E&P na NPR-A. Além disso, há um avanço das atividades em direção ao

sul nas proximidades dos sopés.

Embora seja uma área sensível ambientalmente e politicamente, o ANWR é

considerado a região com maior potencial para a descoberta de grandes novas

reservas de petróleo. Estima-se que as reservas recuperáveis sejam de 7,7 bilhões de

bbl, podendo chegar aos 11,8 bilhões de bbl.

Com a possibilidade de construção do gasoduto para viabilizar o consumo

doméstico no North Slope e escoamento para o mercado mundial, o interesse na E&P

do gás é crescente. As maiores reservas de gás já descobertas são a Gubik (1951)

com volume estimado em 2,83 bilhões de m³, de Kavik (1969), com 8,49 bilhões de m³

e de Kemik (1972) com 11,32 bilhões de m³. Apesar das grandes reservas estarem

associadas aos campos de petróleo ao longo do Barrow Arch, diversos campos

menores já foram descobertos no sopé da Cadeia Montanhosa de Brooks Range.

4.3 Impactos Cumulativos

Cabe ressaltar que esse estudo foi elaborado entre 2001 e 2003, logo os

cenários de desenvolvimento das atividades de E&P aqui apresentados podem

apresentar uma discrepância se comparado com o cenário atual devido a fatores

econômicos, tecnológico, políticos e até mesmo pela descoberta de novas reservas

em áreas que ainda não tinham sido exploradas. Contudo, a AIC apresentada a seguir

tem como base de cenário atual o ano de 2003, ano de publicação do estudo.

A AIC das atividades de E&P de petróleo e gás natural no North Slope concluiu

que alguns dos impactos que ainda não se manifestaram, deverão ocorrer como

consequência das atividades passadas e atuais, mesmo se as atividades se

encerrassem agora. Outros impactos decorreram do acúmulo das atividades futuras. A

maioria dos impactos será incremental, porém é possível que novos impactos surjam.

A seguir são descritos os principais impactos cumulativos destacados no estudo.

Alterações sociais

O desenvolvimento das atividades de E&P de petróleo e gás trouxe

significativas e, provavelmente, irreversíveis modificações no estilo de vida no North

Slope. O primeiro veículo responsável por essas alterações, considerado positivo pela

população, foram às receitas geradas no município pelos impostos pagos pela

indústria do petróleo para instalar suas infraestruturas.

36

Entretanto, as atividades colocam em risco culturas tradicionais como os

Inupiaq e Gwich’in. Há séculos, a população do North Slope tem uma relação cultural

e nutricional com as baleia-da-groelândia e com os caribus. O ruído causado pelas

pesquisas sísmicas e perfurações marítimas faz com que as baleia mudem suas rotas,

obrigando aos caçadores a navegarem para regiões mais distantes da costa e

consequentemente mais perigosas. O risco de vazamento de óleo também é vista

como uma ameaça aos costumes tradicionais.

As atividades de subsistência em terra também foram afetadas. Houve redução

das áreas de colheita e caça, principalmente nos campos de Prudhoe Bay, onde a

caça foi proibida, e de Kuparuk, onde a interferência causada por grande quantidade

rodovias, dutos, blocos de perfuração que dificultam também o trânsito de veículos de

neve. A redução de áreas disponíveis para as atividades de subsistência deve

continuar com a expansão da indústria petrolífera. Esses impactos são considerados

cumulativos, pois há pressões e ameaças contínuas sobre as culturas tradicionais.

A alteração paisagem também vista pela população como um impacto

cumulativo causado pelo desenvolvimento dessa indústria na região. Muitas das áreas

afetadas provavelmente não conseguirão voltar às condições iniciais mesmo após o

encerramento das atividades industriais.

Tundra

Os caminhos abertos, principalmente pelas pesquisas sísmicas e rodovias,

causaram alterações visíveis na tundra, como danos a vegetação e erosão nas

margens de córregos. Algumas localidades são afetadas por novas pesquisas antes

mesmo que a tundra se recupere dos danos causados por pesquisas anteriores,

resultando na sobreposição desses impactos. O avanço das pesquisas em direção

áreas mais íngremes, onde a “permafrost” é mais variável, por exemplo, o sopé da

Cadeia Montanhosa de Brooks Rang, aumenta a probabilidade de que os veículos

usados causem danos a vegetação, aumentando a erosão e exposição do solo

promovendo o desenvolvimento do “thermokarst”.

As rodovias cobertas por cascalho causam ainda impactos indiretos na

vegetação da tundra devido à poeira e ao acúmulo de neve em suas margens. Esses

impactos se acumulam e interagem com os impactos causados por dutos paralelos as

vias e outras vias não “pavimentadas”.

37

Biota

A abertura de estradas também altera o habitat e o comportamento da biota,

facilitando o acesso de caçadores e turistas.

Como já mencionado, o ruído causado pelas atividades sísmicas e de

perfuração alteraram as rotas as baleias-da-Groelândia. Os ursos polares e de caribus

também sofreram distúrbios. No caso dos caribus, houve uma redução na taxa de

reprodução em regiões onde há o desenvolvimento da atividade industrial.

A disponibilidade de alimentos nos campos de E&P fez como que a densidade

de predadores como o urso pardo e a raposa do ártico fosse maior que a normal.

Como esses animais predam ninhos de diversas espécies de aves, há um

desequilíbrio na população de pássaros próximos aos campos. Apesar de esforços

para se reduzir a disponibilidade de alimentos nos campos, como campanhas

educativas, uso de lixeira que impeçam o acesso dos animais aos alimentos, as taxas

de reprodução de pássaros, nos últimos anos, foram insuficientes para balancear com

as taxas de mortalidade.

Vazamento de Óleo

Os três maiores vazamento na região ocorream em segmentos do oleoduto

Trans-Alaska. Os demais vazamentos que ocorreram nos campos de E&P não foram

frequentes ou grandes suficientes para causar danos cumulativos, apenas

contaminaram o cascalho que não pode ser reaproveitado pela dificuldade de limpeza.

Entretanto, apesar nunca ter ocorrido um grande vazamento de óleo no North

Slope e nas regiões oceânicas próximas, a ameaça, especialmente de desastres

offshore como o ocorrido no sul do Alasca com o navio avaliadores ExxonValdez em

1989, causa uma preocupação constante aos habitantes, sendo considerada um

impacto cumulativo. Os impactos ambientais potenciais de um grande vazamento

devem ser significativos e cumulativos pelas características do ambiente e pela

ineficiência dos métodos de remoção para esse tipo de ambiente.

Áreas degradadas pelas estruturas abandonadas

Apesar dos progressos feitos pela indústria petrolífera e agências reguladoras

para reduzir os efeitos cumulativos do uso de cascalhos e dos esforços para recuperar

áreas degradadas, apenas 1% dos habitats afetados pelo cascalho foi recuperado. A

ausência de padrões, critérios de desempenho e métodos de monitoramento têm

dificultado a recuperação dessas áreas. A contaminação do cascalho por petróleo

também dificulta o reuso.

38

Os dutos enterrados são alvos de preocupação, uma vez que a remoção

desses ao fim das atividades pode causar sérios problemas. Como a legislação que

obrigam a recuperação de áreas degradadas não é clara e o processo envolve

elevados custos, especialistas acreditam que a maior parte dessas áreas no North

Slope não será recuperada. Devido ao clima extremo do Ártico, a recuperação natural

ocorre de forma muito lenta, assim, os impactos das estruturas abandonadas devem

persistir ao longo das décadas e se acumular com as instalações futuras.

Geração de renda

As comunidades do North Slope são extremamente dependentes do fluxo

monetário gerado pelas atividades de E&P de petróleo e gás. O atual estilo de vida só

poderá ser mantido sem as receitas das atividades, se houver ajuda externa. Assim, a

sociedade local deve buscar se adaptar para não sofrer com possíveis mudanças.

39

5 Cenário Brasileiro de E&P de Petróleo e Gás Natural

5.1 Histórico

O poço DNPM-163, perfurado em Lobato, na Bahia, foi responsável pela

descoberta da primeira jazida de petróleo no Brasil em 1939. Em 1941, no município

de Candeiras, também na Bahia, foi descoberta a primeira acumulação comercial de

petróleo.

Em 1953, a Lei nº 2004/53 foi um marco importante no desenvolvimento da

indústria petrolífera no país. A lei que dispôs sobre a Política Nacional do Petróleo, foi

responsável pela criação da Petrobras e pela determinação do monopólio estatal para

exploração desse recurso.

A primeira descoberta de petróleo na plataforma continental ocorreu em 1968

no Campo de Guaricema, em Sergipe. A década de 1970 foi marcada por descobertas

na Bacia de Santos e, principalmente, na Bacia de Campos. Em 1984 e 1985, foram

descobertos os campos de Albacora e Marlim, respectivamente, na Bacia de Campos,

considerado os primeiros campos gigantes do país(PLANALTO, 2009).

Em 1997, a Lei nº 9478, também conhecida como Lei do Petróleo, pôs fim ao

monopólio estatal do petróleo e criou a ANP e o Conselho Nacional de Política

Energética (CNPE). Dentre as responsabilidades da ANP, está a concessão dos

blocos de exploração de petróleo de acordo com regime de concessão.

Em 2005, foi descoberto Campo de Mexilhão na Bacia de Santos, considerado

a maior jazida de gás natural na plataforma continental brasileira. Entretanto, a década

de 2000 foi marcada pela exploração em águas profundas e a descoberta da província

do pré-sal.

Após os primeiros indícios de petróleo na camada pré-sal em 2005 e as

primeiras perfurações em 2006, a Petrobrás concluiu, através da análise do poço no

bloco BM-S-11 (Tupi), a presença de um grande reservatório com volumes

recuperáveis estimados entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural. Diante

desse novo cenário, o CNPE excluiu da Nona Rodada de Licitações 41 blocos

localizados nas possíveis acumulações do pré-sal, localizados nas Bacias de Santos,

Campos e Espírito Santo(PLANALTO, 2009).

40

A chamada província do pré-sal, localizada nas Bacias de Santos e Campos,

se estende do litoral de Espírito Santo até o litoral do Santa Catarina, possui cerca 800

km de extensão e 200 km de largura, em lâminas d’água variáveis entre 2 a 3 mil

metros (PETROBRAS, 2011b). A Figura 5.1 mostra a diferença de profundidade dos

reservatórios do pós-sal e do pré-sal.

Figura 5.1: Reservatório do pré-sal(PETROBRAS, 2011b)

5.2 Regime Regulatório

A confirmação do pré-sal fez com que o marco regulatório fosse revisado,

resultando na introdução do modelo de partilha para as áreas do chamado polígono do

pré-sal e outras áreas estratégica através da Lei nº 12.351/2010. Assim, o país passou

a adotar um regime regulador misto no qual o modelo de concessão, estabelecido pela

Lei do Petróleo (Lei nº 9.478/97), continuou a vigorar para as demais áreas das bacias

sedimentares A Tabela 5.1 apresenta as principais características dos modelos que

constituem o regime regulatório misto atualmente em vigor no país.

41

Tabela 5.1: Características dos Modelos de Concessão e de Partilha (Elaboração própria baseado em ANP, 2012b)

Modelo de Concessão Modelo de Partilha

A Empresa ou consórcio contratado pela União

assume o risco exploratório de investir e não

encontrar petróleo e gás nas áreas cedidas

A Empresa ou consórcio contratado pela União

assume o risco exploratório de investir e não

encontrar petróleo e gás nas áreas cedidas

Todo petróleo e gás descobertos na área de

concessão são de propriedade da empresa ou

consórcio

A União e a empresa contratada partilham a

produção de petróleo e o gás natural extraídos

daquela área

A empresa ou consórcio paga participações

governamentais (taxas) tais como o bônus de

assinatura (na assinatura do contrato), o

pagamento pela retenção de área (no caso dos

blocos terrestres), royalties e, em caso de campos

de grande produção, participação especial

No caso de descobertas comerciais, os

investimentos e custos de E&P são descontados

da produção através do “custo em óleo”. Após o

desconto do “custo em óleo”, o excedente da

produção é partilhado entre a União e a empresa.

A empresa ainda paga royalties e participações

especiais sobre sua parcela de produção

Compatível com bacias petrolíferas de baixa

rentabilidade e alto risco, cenário brasileiro antes

da descoberta do pré-sal

Compatível com áreas detentoras de grandes

reservas e com grande volume de produção, ou

seja, alta rentabilidade e baixo risco, como as

reservas do pré-sal

De forma complementar a nova regulação, outras duas leis foram promulgadas.

Na Lei nº 12.276/2010, a União cedeu de forma onerosa áreas ainda não exploradas

no pré-sal à Petrobras, autorizando a produção de até 5 bilhões de barris de petróleo.

Em contrapartida, a União obteve mais ações da Petrobras aumentando sua

participação de menos de 40% para 47,8% do capital social da companhia.

A Lei nº 12.304/2010 criou a empresa estatal Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA)

que representará a União nos consórcios de E&P no pré-sal. Assim, o comitê

operacional dos consórcios deverá ser formado por membros da PPSA (50%) e por

membros da Petrobras, que deverá ser a operadora de todos os blocos do pré-sal por

determinação legal, e por membros das demais empresas vencedoras das licitações

de partilha.

5.3 Cenário Atual

Segundo a ANP (2012b), o Brasil possui 29 bacias sedimentares com interesse

para pesquisa de hidrocarbonetos. São 7,5 milhões de km² de bacias sedimentares

das quais aproximadamente 2,5 milhões de km² estão situados no mar. Entretanto, a

E&P ocorre em apenas 4,5% da área das bacias brasileiras. Em maio de 2011, eram

apenas 311 mil km² sob concessão, incluindo da Rodada Zero e da Cessão Onerosa.

A Figura 5.2 apresenta a divisão das bacias sedimentares brasileira, com destaque

para o Polígono do pré-sal, nas Bacias de Santos e Campos, delimitado pela Lei

nº12.351/2010.

42

Figura 5.2 : Bacias Sedimentares Brasileiras (Adaptado de ANP, 2012b)

De acordo com os Boletins de Produção de Petróleo e Gás Natural da ANP

(ANP, 2012c) referentes aos meses de setembro de 2010, setembro de 2011 e junho

de 20124, a Bacia de Campos é a principal produtora, sendo responsável por mais de

80% produção nacional de petróleo e mais de 30 % de gás natural. A Tabela 5.2

apresenta os valores da produção de petróleo e gás natural nos meses mencionados

anteriormente.

4 Na ocasião da consulta, em agosto de 2012, o site da ANP só disponibilizava os

boletins entre setembro de 2010 e junho de 2012. Por isso, para efeito comparativo da produção de petróleo e gás entre os anos 2010, 2011 e 2012, não foi possível usar sempre o mesmo mês de referência.

43

Tabela 5.2 : Produção de Petróleo e Gás Natural, por bacia sedimentar (ANP, 2012c)

Bacia Sedimentar

Setembro/2010 Setembro/2011 Junho/2012

Petróleo (bbl/d)

Gás Natural (m³/d)

Petróleo (bbl/d)

Gás Natural (m³/d)

Petróleo (bbl/d)

Gás Natural (m³/d)

Campos 1.685.438 27.227 1.773.844 25.770 1.662.601 25.945

Santos 47.883 2.010 80.830 6.789 142.195 11.206

Solimões 35.618 10.317 37.133 11.776 33.788 11.890

Espírito Santo 70.081 6.592 51.306 8.505 39.100 7.581

Potiguar 61.393 19.001 60.644 1.744 60.878 1.530

Recôncavo 43.927 3.200 42.902 2.683 43.579 2.641

Sergipe 40.775 3.421 40.867 2.327 40.902 2.970

Camamu 766 7.142 428 3.964 711 6.706

Alagoas 5.501 1.840 5.480 1.525 4.544 1.392

Ceará 6.259 138 5.756 90 4.485 60

Tucano Sul 25 132 20 84 13 62

Embora a produção de petróleo da Bacia de Santos ainda não alcance 10%

(referente a junho/2012) da produção da Bacia de Campos, é importante destacar seu

expressivo crescimento nos últimos dois anos. Entre setembro de 2010 e setembro de

2011, sua produção de petróleo e gás natural cresceu 69% e 238%, respectivamente.

Já entre setembro de 2011 e junho de 2012, houve aumento 76% da produção de

petróleo e 65% de gás natural, conforme apresentado na Figura 5.3 e na Figura 5.4.

Figura 5.3: Variação da Produção de Petróleo, por bacia sedimentar (Elaboração própria baseado em ANP, 2012c)

5%

69%

4%

-27%

-1% -2%

0%

-44%

0% -8% -20%

-6%

76%

-9% -24%

0% 2% 0%

66%

-17% -22% -35%

-60%

-40%

-20%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Set/10 - Set/11 Set/11 - Jun/12

44

Figura 5.4: Variação da Produção de Gás Natural, por bacia sedimentar (Elaboração própria baseado em ANP, 2012c)

A maior representatividade da Bacia de Santos no cenário nacional está

diretamente relacionada como o início da produção na província do pré-sal, mais

especificamente no Piloto de Produção de Lula5. Em junho de 2012, o Campo de Lula6

já era o quinto maior produtor de petróleo e possuía os maiores poços produtores de

petróleo do país. O poço 7LL3DRJS ocupava a primeira posição com uma produção

de 28.675 bbl/d, seguido pelo poço 3BRSA496RJS com 25.664 bbl/d e na quarta

posição estava o poço 9BRSA716RJS com 24.060 bbl/d.

De acordo como o Plano de Negócios 2011-2015 da Petrobrás, mais de 25%

dos investimentos da empresa nesses cinco anos são destinados ao desenvolvimento

do pré-sal da Bacia de Santos, o que significa um investimento de US$53,4

bilhões(BRASIL, 2011). Desta forma, diante das perspectivas de grande crescimento

das atividades de E&P de petróleo e gás natural na Bacia de Santos nos próximos

anos, espera-se que ocorram significativas alterações nos ambientes que compõem a

região, quer seja pela instalação das infraestruturas como portos, aeroportos, vias de

acessos, terminais de armazenamento, estaleiros, etc, pela a presença física das

plataformas ou pelo incremento na economia através de receitas e royalties.

5 A nomenclatura “Piloto de Produção” foi aplicada devido ao pioneirismo no Pré-Sal.

espera-se adquirir informações importantes ao desenvolvimento da produção de todo o Polo Pré-sal(PETROBRAS, 2011b)

6 Antes da Declaração de Comercialidade, o Campo de Lula era conhecido como Área

de Tupi (BM-S-11)

-5%

238%

14% 29%

-91%

-16% -32% -44% -17% -35% -36%

1%

65%

1%

-11% -12% -2%

28%

69%

-9% -33% -26%

-150%

-100%

-50%

0%

50%

100%

150%

200%

250%

300%

Set/10 - Set/11 Set/11 - Jun/12

45

Assim, a proposta do próximo capítulo é analisar a Bacia de Santos no que se

refere aos potenciais efeitos cumulativos do desenvolvimento das atividades de E&P

de petróleo e gás natural. Contudo, tendo em vista a ausência de estudos científicos

sobre impactos cumulativos das atividades na região, o presente trabalho fará uma

análise qualitativa dos principais aspectos relacionados à cumulatividade de impactos

dadas as características e as novas perspectivas de expansão das atividades.

Portanto, não é objetivo desse trabalho desenvolver uma avaliação de

impactos cumulativos que englobe todos os aspectos ambientais das atividades de

E&P na Bacia de Santos. O que se busca é promover uma visão regional das

atividades, apresentar os componentes ambientais, bem como identificar medidas que

visem , controlar ou mitigar alguns dos potenciais impactos cumulativos.

Particularmente, com exceção da atividade pesqueira, não serão abordados

nesse trabalho os impactos cumulativos no meio socioeconômico. Também não é foco

desse trabalho os impactos cumulativos causados nas demais fases do ciclo de vida

do petróleo e de seus derivados.

46

6 Estudo de Caso 2: Bacia de Santos

Para o desenvolvimento desse estudo de caso, foram utilizadas como

principais fontes de informações o banco de dados da ANP, o BDEP, os EIA/RIMA

disponibilizados pelo IBAMA, o Atlas de Sensibilidade Ambiental ao Óleo da Bacia

Marítima de Santos publicado pelo MMA e produções científicas, como artigos,

dissertações e teses, entre outros.

De forma semelhante ao estudo de caso do Alasca, será apresentada uma

breve descrição da região e de suas componentes ambientais e o histórico das

atividades de E&P, incluído ações passadas, presentes e futuras, razoavelmente

previsíveis.

6.1 Descrição da Bacia de Santos

A Bacia de Santos é uma bacia sedimentar marítima que ocupa uma área de

aproximadamente 352 mil km², compreendida entre Cabo Frio, litoral do Rio de

Janeiro, e Florianópolis, litoral de Santa Catarina, incluindo todo o litoral de São Paulo

e Paraná. (BACIA DE SANTOS, 2012).

Nessa região do país, há predominância de inverno seco e verão chuvoso, com

ventos de leste no inverno e de nordeste no verão. Os ventos de nordeste são

responsáveis pelo fenômeno da ressurgência costeira em Cabo Frio (RJ) e Cabo de

Santa Marta (SC), provocando o aumento da produção primária no

verão(PETROBRAS, 2010a).

O relevo do litoral apresenta uma composição variada, com a presença de

montanhas no Rio de Janeiro e no norte de São Paulo, como a Serra do Mar, e de

áreas mais planas e baixas entre o sul de São Paulo e Santa Catarina. O relevo

marinho é formado pela Plataforma Continental que varia entre 230 km de extensão

próximo a cidade de Santos e 50 km em Cabo Frio, e o Talude Continental que se

apresenta de forma bastante íngreme com profundidades superiores a 1.000

metros(PETROBRAS, 2010a).

Seu ambiente natural é composto por praias arenosas, restingas, dunas,

costões rochosos, manguezais e marismas, planícies de maré abrigada e bancos de

algas calcárias(MMA, 2007). No litoral fluminense, merecem destaque o embaiamento

Búzios- Cabo Frio, os compartimentos da Região dos Lagos, da Baía de Guanabara,

da Baía de Sepetiba e da Baía de Ilha Grande, nesses locais há a presença de

costões rochosos intercalados com praias arenosas. Destaca-se ainda a importante

presença de manguezais como nas Área de Proteção Ambiental de Guapimirim,

47

banhada pela Baía de Guanabara, e na Reserva Biológica e Arqueológica de

Guaratiba(MMA, 2007).

No litoral de São Paulo, há predominância de praias de areia fina e média. O

estado ainda apresenta grande número de ilhas como o compartimento Tabatinga-

Picinguaba e as ilhas de São Vicente e Santo Amaro. As partes centrais e sul

apresentam as maiores concentrações de manguezais, principalmente na área de São

Vicente, estuário de Santos e no canal de Bertioga, no centro, e com destaque para a

região de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, no sul, onde esses ambientes

apresentam alto grau de preservação devido ao limitado desenvolvimento urbano e

industrial(MMA, 2007).

No Paraná, as praias também predominam a região, com pequenas

interrupções por pontais rochosos e desembocaduras de baías como a Baía de

Paranaguá, onde também há a presença de importantes manguezais.

Em Santa Catarina, as praias arenosas oceânicas são mais extensas e

ocorrem associadas a sistemas de dunas. Dentre as formações de manguezais,

destaca-se o manguezal presente no complexo estuarino da Baía de Babitonga,

representando 75% dos manguezais do estado. Além disso, o estado apresenta

algumas regiões propícias para o desenvolvimento de marismas, como ao sul do

município de Laguna. No estado, há ainda a ocorrência de bancos rasos de algas

calcárias, principalmente na Reserva Biológica Marinha (REBIO) de Arvoredo(MMA,

2007).

Recurso Biológico

As regiões costeiras, principalmente na plataforma interna (até 40m de

profundidade) nas proximidades de baías e estuários, são onde ocorrem as maiores

abundâncias de fitoplânctons e zooplânctons. A comunidade bêntica do litoral varia de

acordo com o substrato presente, como por exemplo, a presença da ostra-do-mangue,

bancos bivalvo e caranguejos nos manguezais da Baía de Guanabara.

Cabe destacar que o ambiente marinho composto pelas províncias neríticas e

oceânicas não oferecem substrato suscetíveis à contaminação por óleo como no caso

dos ecossistemas costeiros. O impacto de derramamento de óleo nesse ambiente está

associado principalmente a rotas de aves migratórias, quelônios e mamíferos

marinhos, além dos recursos pesqueiros devido ao impedimento da atividade de

pesca(MMA, 2007).

Entre os principais recursos pesqueiros da região destaca-se a sardinha, o

namorado, o peixe-batata, a pescada, o cherne, o congro rosa e o

48

goete(PETROBRAS, 2010a), encontrados principalmente em águas costeiras com até

100 metros de profundidade. Em profundidades maiores, encontram-se espécies de

atum e de peixes formadores de cardumes como o peixe-lanterna e o bonito-

listrado(MMA, 2007). As espécies de tubarões e raias são altamente suscetíveis à

sobrepesca, pelo menos sete, das 82 espécies de tubarões e 45 de raias descritas,

estão ameaças de extinção, outras sete estão em condição de risco.

Existem cinco espécies de tartaruga marinha que desovam no litoral brasileiro,

a tartaruga-cabeçuda, a tartaruga-de-couro, a tartaruga-de-pente, a tartaruga-verde e

a tartaruga-oliva. Apesar dos pontos de desova estarem concentrados principalmente

no norte do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Sergipe, essas espécies podem

ser encontradas ao longo de litoral da Bacia de Santos.

Quanto aos mamíferos marinhos (baleias e golfinhos), há registros de 43

espécies na Bacia de Santos, entre elas estão a baleia-minke-anã, a baleia-azul, a

baleia-franca-do-sul, a baleia-jubarte, a cachalote, a toninha ou franciscana e o

golfinho-nariz-de-garrafa. As baleias franca-do-sul e jubarte ocorrem na região de julho

a novembro, quando realizam seus ciclos migratórios(PETROBRAS, 2010a). As

avistagens de baleia-azul são raras, provavelmente em função de sua excessiva

exploração no passado(MMA, 2007).

Nos ecossistemas costeiros, existem diversas aves marinhas, como gaivotas,

atobás e fragatas, que fazem ninho em ilhas litorâneas, além de espécies migratórias,

como os maçaricos e batuíras. Essas espécies migratórias são geralmente oriundas

do hemisfério norte, entre setembro e maio, e do extremo sul, entre maio e agosto

(meses mais frios nessas regiões)(PETROBRAS, 2010a).

No litoral da Bacia de Santos, ainda existem diversas unidades de conservação

(UC) que preservam o bioma Mata Atlântica, como o Mosaico da Bocaina, conjunto de

UCs localizado entre litoral sul do Rio de Janeiro e o litoral norte de São Paulo.

Publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, a carta-síntese da biodiversidade

integra o Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha, instrumento de gestão

territorial que reúne informações sobre as características físico-naturais e

socioeconômicas da costa. A Figura 6.1 apresenta a carta-síntese do Platô de Santos,

em verde mais escuro são destacadas as áreas consideradas de extrema importância

biológica; em verde mais claro, as de muito alta; em amarelo, são as de alta; e em

laranja, as de conhecimento insuficiente. O mapa ainda destaca as áreas de

ocorrência (hachurado em azul) e desova (hachurado em vermelho) das tartarugas

marinhas, e de ocorrência da baleia-franca e de corais profundos.

49

Figura 6.1: Macrodiagnóstico da Zona Costeira e Marinha - Biodiversidade do Platô de Santos(MMA, 2012b)

50

Recursos Socioeconômicos

A Bacia de Santos apresenta a maior concentração populacional do litoral

brasileiro, consequentemente, devido à sua diversidade de recursos socioeconômicos,

há uma alta complexidade em seu padrão de ocupação(MMA, 2007).

A região apresenta uma intensa atividade pesqueira na qual predomina a

pesca industrial, contribuindo com cerca de 70% das capturas regionais(MMA, 2007).

Os principais portos pesqueiros da região estão situados em Itajaí e Navegantes, em

Santa Catarina, Santos, em São Paulo, e Rio de Janeiro e Niterói, no estado do Rio de

Janeiro. A pesca industrial é praticada durante o ano inteiro em águas que variam de

150 a 600 metros de profundidade. Já a pesca artesanal é pratica nas proximidades

da costa em profundidades que variam de 10 a 50 metros(PETROBRAS, 2010a).

O turismo é outra atividade econômica de destaque e está diretamente

vinculado às beleza naturais e composição paisagística do litoral da Bacia de Santos.

No Rio de Janeiro, além da própria capital, a Região dos Lagos e a Costa Verde são

os principais polos de atração para esse tipo de turismo. Esse padrão é seguido ao

longo do Litoral Norte de São Paulo. Já no litoral Sul de São Paulo, destaca-se o

turismo ecológico nas unidades de conservação de região de Cananéia. No Paraná, a

ocupação turística no litoral é reduzida devido à sua pequena extensão e pela

ocorrência de extensos manguezais. Em Santa Catarina, além do turismo sazonal

associado aos ambientes costeiros, as cidades de Joinville, Blumenau, Itajaí e

Florianópolis apresentam grande aporte de visitantes, fazendo do turismo uma das

principais atividades econômicas do estado(MMA, 2007).

Com relação à atividade industrial, a região apresenta uma vasta diversidade

industrial, com intensa presença de infraestrutura de transporte de carga e

passageiros. No Rio de Janeiro, as áreas industriais e portuárias mais relevantes são

a Baía de Guanabara, onde estão localizados os portos do Rio de Janeiro e de Niteroí,

a Refinaria de Duque de Caxias (REDUC), entre outras dezenas de indústrias, as Baía

de Sepetiba e de Ilha Grande, onde se encontram os portos de Itaguaí e de Angra dos

Reis e as Usinas Nucleares de Angra I e II, além de siderúrgicas, indústrias químicas,

estaleiros, etc.

Em São Paulo, a região do estuário de Santos abriga o maior complexo

industrial e portuário do país. Além do Porto de Santos, estão instaladas indústrias

químicas, refinarias, como a Refinaria de Cubatão, estaleiros e indústrias de

beneficiamento. Outro ponto importante é o terminal de óleo de São Sebastião

(TEBAR). O TEBAR é um importante ponto de transbordo de produtos químicos, com

51

intenso tráfego de embarcações de grande porte, principalmente navios petroleiros

(MMA, 2007).

No Paraná, as atividades industriais estão concentradas na Baía de

Paranaguá, mais especificamente no entorno do porto de Paranaguá, onde ocorre

exportação de grãos e transbordo de cargas variadas, incluindo petróleo e seus

derivados. As atividades portuárias causam grande pressão sobre as áreas de

manguezal que dominam o interior da baía.

Os portos de São Francisco do Sul, próximo a Joinville, e de Itajaí concentram

as atividades industriais de Santa Catarina. Ambos os portos são de extrema

importância para o transporte de petróleo e seus derivados, produtos químicos, além

de serem pontos de desembarque para atividade pesqueira. O estado ainda possui

dois portos de menor porte ao sul, o porto de Florianópolis e de Imbituba.

6.2 Histórico da E&P: Passado, Presente e Futuro

As atividades exploratórias na Bacia de Santos tiveram início na década de

1960, mas somente a partir da década de 1970 foi perfurado o primeiro poço,

denominado 1-PRS-1. O alto custo da exploração na Bacia de Santos, associado ao

grande sucesso das atividades realizadas na Bacia de Campos, fizeram com que os

esforços para novas descobertas diminuíssem por algum tempo(PETROBRAS,

2010a). A Tabela 6.1 apresenta a cronologia das descobertas na Bacia de Santos.

Tabela 6.1 : Histórico das Atividades de E&P na Bacia de Santos (1960-2010) (PETROBRAS, 2011b)

52

A retomada de interesse na Bacia de Santos, no final da década de 1990,

resultou em importantes descobertas no Polo Uruguá e Mexilhão e, sobretudo, no Polo

Pré-sal. Esse interesse pode ser confirmado pela intensificação das atividades de

perfuração tanto de carácter exploratório e quanto para a produção (incluindo poços

produtores e injetores), conforme apresenta a Figura 6.2 sobre evolução da perfuração

de poços na Bacia de Santos entre 1970 e 2011.

É notável a intensificação das atividades de perfuração desde a descoberta do

pré-sal, em 2006. Nos últimos seis anos (2006-2011), foram perfurados 210 dos 410

poços da Bacia de Santos. Só, em 2011, a quantidade de poços perfurados superou

toda a atividade da década de 1990. O mapa permite também visualizar o avanço das

atividades em águas profundas, no Polo Pré-sal, onde a lâmina d’água varia entre

2.000m e 3.000m. No entanto, não se pode desconsiderar as recentes perfurações em

águas rasas, nas proximidades dos demais polos.

53

Figura 6.2: Mapa da localização dos poços perfurados na Bacia de Santos entre 1970-2011 (Elaboração própria baseado em ANP, 2012d)

54

Apesar da Lei de Petróleo (Lei nº 9478/97) ter acabado com monopólio da

Petrobras, a empresa figura como a grande responsável pelas atividades de E&P na

Bacia de Santos. A maioria dos atuais campos em produção é proveniente da Rodada

Zero 7. Além disso, a Petrobras participa do consórcio de todos os campos existentes,

sendo quase sempre responsável pela operação, conforme mostra a Tabela 6.2.

Tabela 6.2: Campo em fase de produção na Bacia de Santos(ANP, 2012d)

¹ Operadora / * Obs.: Os campos de Baúna e Piracaba foram declarados comerciais em

fevereiro/2012.

7 Na Rodada Zero, também conhecida com Rodada Petrobras, a ANP concedeu à

Petrobras, sem processo licitatório, 115 blocos exploratório, 51 campos em fase de

desenvolvimento, 231 em fase de produção (MARIANO, 2007)

Campos na etapa de produção da Fase de Produção - Data de Referência: 31/12/2011

Campo Estado Rodada Concessionários (%)

CARAVELA PR Rodada Zero Petrobras¹ (100)

CORAL PR Rodada Zero Panoro Energy (35) / Petrobras¹ (35) / Brasoil Coral (15) / Queiroz Galvão (15)

LULA RJ Rodada 2 Petrobras¹ (65 )/ BG Brasil (25) / Petrogal Brasil (10)

URUGUÁ RJ Rodada Zero Petrobras¹ (100)

LAGOSTA SP Rodada Zero Petrobras¹ (100)

MERLUZA SP Rodada Zero Petrobras¹ (100)

MEXILHÃO SP Rodada Zero Petrobras¹ (100)

Campos na etapa de desenvolvimento da Fase de Produção - Data de Referência: 31/12/2011

Campo Estado Rodada Concessionários (%)

ESTRELA DO MAR PR Rodada Zero Panoro Energy (65) / Petrobras¹ (35)

ATLANTA RJ Rodada Zero Petrobras (40) / Shell Brasil¹ (40) / Barra Energia (20)

CARAPIA RJ Rodada Zero Petrobras¹ (100)

OLIVA RJ Rodada Zero Petrobras (40) / Shell Brasil¹ (40) / Barra Energia (20)

PIRAPITANGA RJ Rodada Zero Petrobras¹ (100)

TAMBAÚ RJ Rodada Zero Petrobras¹ (100)

TAMBUATÁ RJ Rodada Zero Petrobras¹ (100)

CAVALO-MARINHO SC Rodada Zero Panoro Energy (50) / Petrobras¹ (35) / Brasoil Cav Marinho (15)

TUBARÃO SC Rodada Zero Petrobras¹ (100)

GUAIAMÁ SP Rodada 1 Petrobras¹ (100)

PIRACUCÁ SP Rodada 2 Petrobras¹ (63) / Repsol (37)

SAPINHOÁ SP Rodada 2 Petrobras¹ (45) / BG Brasil (30) / Repsol (25)

BAÚNA* SC Rodada 5 Petrobras¹ (100)

PIRACABA* SC Rodada 2 Petrobras¹ (100)

55

Com relação aos blocos exploratórios, a Petrobras também apresenta

significativa participação, com destaque para os blocos da Rodada 5 no quais a

empresa é a única concessionária. Além disso, a empresa recebeu importantes áreas

no polo pré-sal, através da cessão onerosa estabelecida pela Lei nº 12.276/2010.

Além das plataformas de produção propriamente ditas, outros

empreendimentos compõem as atividades de E&P na Bacia de Santos. Segundo

informações da ANP (2012e), atualmente, há duas rotas de gasoduto na região, são

elas:

Gasoduto Merluza-RPBC - escoa a produção de gás do Polo Merluza para a

Refinaria Presidente Bernardes-Cubatão, na Baixada Santista;

Gasodutos Tambaú-Uruguá, Uruguá-Mexilhão, Lula-Mexilhão e Mexilhão-

UTCGA – escoam a produção do Polo Uruguá e do Polo Pré-sal (Piloto de Lula) para

a Plataforma de Mexilhão e, posteriormente, para a Unidade de Tratamento de Gás de

Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo.

Na Bacia de Santos, o escoamento de petróleo é integralmente realizado por

navios aliviadores. Os principais terminais aquaviários responsáveis por receber,

armazenar e escoar a produção de petróleo e seus derivados na região são

(TRANSPETRO, 2012):

Terminal da Ilha D’água, Baía de Guanabara (RJ) – realiza operações de

cabotagem, de importação e exportação de produtos claros, escuros e de petróleo,

facilitando o escoamento de/para REDUC e outras empresas. Também fornece

bunker, por oleoduto, para navios atracados no terminal ou para navios fundeados na

Baía de Guanabara, por meio de barcaças. Na Baía de Guanabara, ainda está

localizado o Terminal da Ilha Redonda, onde ocorrem carga e descarga de navios de

GLP, butadieno e propeno.

Terminal de Angra dos Reis (RJ) – realiza cabotagem e importação de petróleo

para atender as refinarias de Duque de Caxias (REDUC/RJ) e da Gabriel Passos

(REGAP/MG). O terminal também funciona como entreposto de exportação e

cabotagem para terminais de menor porte e atende também a elaboração de bunker e

a exportação de óleo combustível excedente da produção nacional

Terminal de São Sebastião (TEBAR/SP) – é o maior terminal da Transpetro,

recebe petróleo nacional e importado por navio-petroleiro. Abastece, através de

oleodutos, quatro refinaria no estado de São Paulo, a REPLAN (Paulínia), REVAP

(Vale do Paraíba), RECAP (Capuava) e RPCB (Presidente Bernardes);

56

Terminal de Santos (SP) – opera com regulador do estoque de produção de

derivados de petróleo através da transferência e recebimento de produtos de navios,

abastecimento de bunker, recebimento e expedição de produtos para a RPCB e para o

terminal terrestre de Cubatão.

Terminal de Paranaguá (PR) – opera interligado à Refinaria Presidente Getúlio

Vargas (REPAR/PR), também fornece bunker para navios atracados no porto.

Terminal de São Francisco do Sul (SC) – recebe petróleo de navios através de

monobóia que segue por óleo duto até o terminal. O terminal é utilizado para

armazenar e transferir produtos para a REPAR por meio do oleoduto Santa Catarina-

Paraná.

Além dos terminais aquaviários, destaca-se também a presença dos terminais

terrestre de Campo dos Elíseos, em Duque de Caxias (RJ), o Terminal de Cubatão

(SP) e o Terminal de Itajaí (SC) que são importantes pontos de recepção e

armazenamento de derivados de petróleo para abastecer a sua região de influência e

para exportação(TRANSPETRO, 2012).

A Figura 6.3apresenta os campos em fase de produção (etapa de produção e

de desenvolvimento) e os blocos exploratórios existentes na Bacia de Santos de

acordo com a Rodada de Licitação da ANP e com a Cessão Onerosa. A Figura 6.3

ainda destaca a localização espacial dos gasodutos e terminais aquaviários

supracitados.

57

Figura 6.3: Campos em produção e Blocos Exploratórios, por rodada de licitação, e gasodutos e terminais aquaviários na Bacia de Santos (Elaboração própria baseado em ANP, 2012d ;TRANSPETRO, 2012).

58

No cenário futuro da Bacia de Santos, haverá uma continuidade da E&P nos

Polos de Uruguá e Sul, este último através do Desenvolvimento da Produção dos

Campos de Baúna e Piracaba, já em fase de licenciamento. Entretanto, espera-se

uma expressiva intensificação das atividades de E&P no Polo Pré-sal nas próximas

décadas.

De acordo com o Plano de Negócios da Petrobrás 2012-2016, a empresa

espera duplicar sua produção até o ano de 2020. Os reservatórios do pré-sal, tanto na

Bacia de Santos, quanto na Bacia de Campos, têm importante papel para o alcance

dessa meta. Estima-se que dos 4,2 milhões de barris de petróleo produzidos em 2020,

37% serão provenientes das áreas do pré-sal, incluindo as áreas de concessão e de

cessão onerosa(PETROBRAS, 2012). A Figura 6.4 destaca entre os projetos de

produção previstos para os próximos anos aqueles que serão desenvolvidos no pré-

sal e no pós-sal da Bacia de Santos

Figura 6.4: Curva de produção de óleo e LGN no Brasil (Adaptado de PETROBRAS, 2012)

Dos projetos do pré-sal citados, pode-se destacar o projeto da Petrobras

denominado “Atividade de Produção e Escoamento do Polo Pré-sal – Etapa 1”, o único

cujos estudos ambientais (EIA/RIMA) do processo licenciamento ambiental já foram

elaborados. Esse projeto prevê a implantação dos Pilotos de Produção de Lula

Nordeste e de Sapinhoá, com início de produção previsto para 2013 e do

Desenvolvimento de Produção Iracema, iniciando em 2014. Paralelamente, 11 TLD

deverão ser realizados para avaliar a viabilidade comercial de diversos blocos

exploratórios do polo. Para escoar as grandes quantidades de gás natural previstas

para os campos do pré-sal, o projeto ainda conta com a expansão do Gasoduto Lula-

MXL-UTGCA(PETROBRAS, 2011b).

Ainda relacionado ao escoamento da produção de gás, estão em processo de

licenciamento os projetos dos gasodutos Rota 2, que deverá ligar o Polo Pré-sal à

59

Macaé, e Rota 3, que levará o gás do pré-sal para o Complexo Petroquímico de

Itaboraí (COMPERJ) ainda em fase de construção.

Destacam-se ainda os desafios da indústria naval para atender o crescimento

da demanda por sondas de perfuração e unidades estacionárias de produção (UEPs),

como FPSO, plataformas semissubmersíveis, etc. Esse desafio é explicitado através

dos números apresentados na Figura 6.4. Para o desenvolvimento dos projetos

previstos até 2020, serão necessárias 38 UEPs das quais uma parcela deverá ser

produzida em estaleiros brasileiros, como os de Niterói e de Angra dos Reis.

6.3 Impactos Cumulativos

O objetivo deste item é identificar, a partir da caracterização dos recursos

presentes na Bacia de Santos e do desenvolvimento das atividades de E&P na região,

os efeitos que possuem caráter cumulativo. Adicionalmente, são citadas algumas das

medidas de controle ou mitigadoras que atuam na redução desses efeitos. Cabe

destacar que esse levantamento é de caráter qualitativo, uma vez que há uma

carência de estudos científicos que quantifiquem esses impactos na região.

Atividade Pesqueira

As plataformas atuam como recifes artificiais, favorecendo a fixação de

comunidades biológicas incrustantes. Consequentemente, tornam-se ponto de atração de

espécies pelágicas e, por isso, de grande interesse para a pesca.(PETROBRAS, 2010c)

Entretanto, por questões de segurança, é proibida a pesca e a navegação, com exceção

de embarcações autorizadas como os barcos de apoio e os navios aliviadores, em um

raio de 500 m das plataformas marítimas (NORMAN 08). Apesar dessa exclusão, no caso

da Bacia de Santos, os campos do pré-sal estão localizados em águas profundas, onde

não há pesca artesanal e mesmo a pesca industrial é improvável.

Contudo, as rotas das embarcações de apoio e de navios aliviadores causam

interferência na atividade pesqueira. Dessa forma, com a expansão do polo pré-sal nos

próximos anos, espera-se que ocorra um significativo aumento do trânsito de

embarcações, resultando em impactos cumulativos sobre a atividade pesqueira. Esse

cenário já pode ser notado em regiões portuárias como a Baía de Guanabara. A Figura

6.5 mostra o conflito de uso do espaço marítimo entre pequenos barcos de pesca e

grandes embarcações de apoio da indústria do petróleo na Baía de Guanabara.

60

Figura 6.5: Conflito no uso do espaço marítimo na Baía de Guanabara(JORNAL O GLOBO, 2012)

O número de navios atracados no Porto do Rio cresceu 146% entre 2009 e 2011

(CIA. DOCAS DO RIO DE JANERIO, 2012, apud JORNAL O GLOBO, 2012). Esse

crescimento é induzido principalmente pelas atividades de E&P offshore, conforme mostra

a Figura 6.6.

Figura 6.6: Movimentação Marítima na Baía de Guanabara(JORNAL O GLOBO, 2012)

Biota Marinha

Conforme apresentado na caracterização dos recursos biológicos da Bacia de

Santos (Figura 6.1), a região apresenta áreas de extrema e muito alta importância

biológica. Novamente, o trânsito de embarcações tem efeitos sobre o nécton,

principalmente mamíferos marinhos, como as baleias, e quelônios marinhos

(tartarugas). Com o aumento do tráfego, há maior possibilidade de colisão com esses

seres.

61

Apesar da falta de estudos conclusivos sobre as alterações na biota marinha

causadas pelo ruído submarino gerado pelas pesquisas sísmicas e demais atividades

de E&P, não permitindo caracterizar os efeitos cumulativos, atualmente são adotadas

um conjunto de medidas que visam minimizar esses efeitos. Nas sísmicas, pode-se

destacar o soft-start, método que consiste no aumento gradual dos disparos dos

canhões, possibilitando o deslocamento da biota de forma evitar danos físicos diretos

em seus organismos. Outra medida adotada é a observação visual para a detecção da

presença desses seres no momento do disparo e ainda tem se evitado esse tipo de

pesquisa durante o período de reprodução de algumas espécies.

O descarte dos cascalhos de perfuração tem impacto direto sobre a

comunidade bêntica, em especial quando estão associados a vestígios dos fluidos de

base não aquosa, pois a pluma de descarte formada é estreita. Entretanto, o grande

soterramento ocorre nas proximidades do lançamento, em um raio de 300

metros(SCHAFFEL, 2002). Além disso, o avanço das perfurações em águas profundas

reduz a presença de componentes ambientais passíveis de serem afetadas. Dessa

forma, apesar da possibilidade de ocorrência de sobreposição desses impactos, é

pouco provável seu efeito cumulativo na biota marinha.

O predomínio da Petrobras frente às atividades de E&P na Bacia de Santos

pode ser um fator interessante quanto ao monitoramento e mitigação de impactos

cumulativos sobre a biota marinha na região, pois uma única empresa concentra as

informações de todas as atividades desenvolvidas e seus respectivos aspectos

ambientais, facilitando a gestão dos impactos cumulativos.

Dentre os compromissos do Termo de Ajuste de Conduta firmado pela

Petrobrás com o IBAMA para as Atividades de Perfuração na Área Geográfica da

Bacia de Santos, a empresa deverá elaborar o Projeto de Caracterização Ambiental

Regional da Bacia de Santos, que proporcionará um maior conhecimento da região,

em especial em águas profundas, e Projeto de Avaliação de Impactos Ambientais das

atividades de perfuração realizadas na Bacia de Santos(PETROBRAS, 2010a), que

trará informações importantes para o desenvolvimento de estudos científicos sobre os

efeitos cumulativos desse conjunto de operações. Atualmente, o conhecimento dos

recursos biológicos de algumas áreas da Bacia de Santos, como no caso do Polo Pré-

sal, é considerado insuficiente para avaliar a importância (Figura 6.7), que também

dificulta avaliar os impactos causados pelas atividades de E&P.

62

Figura 6.7: Insuficiência de conhecimento sobre os recursos biológicos em águas profundas, principalmente no pré-sal

(Elaboração Própria baseado em ANP, 2012d; MMA, 2007; MMA, 2012b)

63

As considerações sobre o predomínio da Petrobras podem ser extrapoladas

para os demais aspectos das atividades de E&P como o lançamento de efluentes,

geração de resíduos, emissões atmosféricas, vazamento de óleo, entre outros.

Alteração da Qualidade da Água

Os principais efluentes descartados nas atividades de E&P são os fluidos de

perfuração, água de produção, resíduos alimentares e efluentes sanitários. Do ponto

de vista da cumulatividade, é improvável que haja sobreposição das zonas impactadas

devido ao grande potencial de dispersão dos oceanos.

Entretanto, é importante destacar que muitos projetos já preveem a reinjeção

da água de produção no reservatório como método de recuperação secundária,

visando para aumentar sua produtividade de óleo. O descarte de água de produção

deve ser realizado em conformidade com a Resolução CONAMA nº 393/07, ou seja,

teor de óleos e graxas (TOG) médio mensal de até 29 mg/L, com valor máximo diário

de 42 mg/L.

Embora, a Resolução exija um monitoramento semestral da água de produção

para compostos inorgânicos (arsênio, cromo, mercúrio, níquel, chumbo, zinco, entre

outros), radioisótopos (rádio-226 e rádio-226), composto orgânicos (HPA, BTEX e

HTP), toxicidade crônica e outros parâmetros complementares, não há exigência de

adequação a um padrão de lançamento. Segundo, o texto da própria resolução, esses

padrões deveriam ter sido estabelecidos por outra resolução um ano após sua

publicação, ou seja, em agosto de 2008. O lançamento indiscriminado desses

componentes podem ter impactos significativos e de caráter cumulativo, como é o

caso da bioacumulação.

Destaca-se que, de acordo com Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA nº 01/11

referente ao Projeto de Controle da Poluição (PCP), outros efluentes oleosos, como a

água de convés, só podem ser descartados no mar se apresentarem TOG de até 15

ppm. Em relação os resíduos sólidos, a nota proíbe o descarte no mar, com exceção

dos resíduos alimentares cujo descarte é condicionado à previa trituração, resultando

em tamanhos inferiores a 25 mm. Tanto para resíduos alimentares quanto para

efluentes sanitários ainda é imposta uma distância mínima da costa para o descarte.

Entretanto, as atividades de E&P na Bacia de Santos estão situadas em distância

muito superiores.

Quanto aos fluidos de perfuração, apesar do PCP não apontar diretrizes para

seu descarte, o Projeto de Monitoramento Ambiental (PMA) realiza testes

ecotoxicológicos para avaliar a toxicidade dos fluidos, sendo cada vez mais exigido

64

pelo IBAMA o uso de fluidos de base aquosa, em situações nas quais não há

impedimento técnico para o seu uso.

Emissões Atmosféricas

Conforme citado no Capítulo 3, são desprezíveis os efeitos cumulativos e

sinérgicos dos poluentes atmosféricos emitidos nas plataformas na alteração da

qualidade do ar onshore. Entretanto, alguns poluentes possuem caráter regional e

global, como o SOx e CO2, respectivamente.

Existe uma grande expectativa quanto o aumento do controle das emissões

atmosféricas das plataformas petrolíferas, a própria Nota Técnica CGPEG/DILIC/

IBAMA nº 01/11 já exige a realização de inventário semestral e indica que o tema

deverá ser tratado com mais especificidade em nota técnica futura. Entretanto, ainda

há uma carência de metodologias e estudos que quantifiquem e monitorem os efeitos

dessas emissões.

Com o grande potencial de produção de gás natural, alguns projetos do Polo

Pré-sal, como o Piloto de Lula NE e de Sapinhoá, necessitam reduzir o teor de CO2

para viabilizar o escoamento via gasoduto(PETROBRAS, 2011b). O CO2 removido

nesses projetos não será ventilado na atmosfera e sim reinjetado no reservatório.

Outro ponto relevante é de que apesar dos projetos dos TLD inviabilizarem, tanto o

escoamento do gás produzido quanto sua reinjeção, o volume de gás queimado no

flare é controlado pela ANP através do disposto na Portaria nº 249/2000.

Disposição de Resíduos Sólidos

Conforme destacado anteriormente, os resíduos sólidos gerados nas

plataformas não podem ser descartados no mar. Eles devem seguir para terra onde

devem receber uma destinação correta. A produção de resíduos das atividades de

E&P dificilmente causará pressão sobre a infraestrutura de aterros das grandes

cidades da Bacia de Santos, onde geralmente os resíduos são desembarcados. Além

disso, o PCP controla as destinações dos resíduos das plataformas e embarcações,

reduzindo a possibilidade de uma disposição inadequada.

Ainda referente ao PCP, nesse são estabelecidas metas de redução de

geração para as unidades marítimas e metas de disposição final. A Tabela 6.3

apresenta um resumo das metas e diretrizes do PCP tanto para resíduos sólidos,

como também para lançamento de alguns efluentes e emissões atmosféricas.

65

Tabela 6.3: Resumo das metas e diretrizes do Projeto de Controle da Poluição(IBAMA, 2011)

66

Vazamento de óleo

Dentre os impactos ambientais, os grandes vazamentos são os que possuem o

maior potencial de causar danos ao meio ambiente em um curto espaço de

tempo(CALIXTO, 2011). A eficiência dos Planos de Contingência é essencial para

mitigar os efeitos, evitando que ecossistemas sensíveis sejam severamente afetados.

Apesar da ausência de um banco de dados público sobre os acidentes

envolvendo vazamento de hidrocarbonetos no Brasil, a Companhia Ambiental do

Estado de São Paulo (CETESB) apresenta uma listagem das ocorrências de acidentes

no país entre 1960 e 2012, baseada em reportagens divulgadas pela impressa, dados

da marinha, entre outras fontes, conforme mostra a Tabela 6.4 a seguir.

Tabela 6.4: Acidentes envolvendo petróleo e derivados no Brasil entre 1960-2012(CETESB, 2012a)

Fonte/Causa Data Local / áreas atingidas Vol. Vazado

estimado

Transporte marítimo - Explosão do navio Sinclair Petrolore

Dez-60 Costa do Espírito Santo

próximo da Ilha de Trindade 66.530 m³ de

petróleo

Transporte marítimo - Colisão do navio Takimyia Maru com rocha

Ago-74 Canal de São Sebastião (SP)

praias e costões/ Ubatuba 6.000 m³ de

petróleo

Transporte marítimo - Colisão do navio Tarik Ibn Zyiad com rocha

Mar-75 Baía de Guanabara (RJ)

praias e costões 6.000 m³ de

petróleo

Transporte marítimo - Colisão do navio Brazilian Marina c/ rocha submersa

Jan-78 Canal de S.Sebastião (SP)

praias e costões 6.000 m³ de

petróleo

Rompimento de oleoduto Bertioga Linha S. Sebastião-Cubatão

Out-83 Canal de Bertioga (SP)

mangue, praias e costões 2.500 m³ de

petróleo

Rompimento de oleoduto - Vila Socó Linha Cubatão/Santos

Fev-84 Cubatão (SP)

mangue/mortos e feridos Não estimado de gasolina

Terminal de Armazenamento Incêndio no Córrego do Outeiro

Jun-84 Centro urbano de S. Sebastião

um óbito, pânico, praias Não estimado

Transporte marítimo - Colisão do navio Marina com píer do terminal

Mar-85 S. Sebastião (SP)

praias e costões litoral norte 2.500 m³ de

petróleo

Refinaria de Cubatão - Explosão em tanque de armazenamento

Jul-85 Cubatão (SP) Rio Cubatão

500 m³ de óleo combustível

Transporte marítimo - Vazamento de embarcação perto da REDUC

Jan-87 Baia da Guanabara (RJ) 12 m³ de óleo

lubrificante

Transporte marítimo - Navio Horta Barbosa/Terminal TORGUA

Ago-90 Baia da Guanabara (RJ) 20 m³

de petróleo

Transporte marítimo - Petroleiro Theomana (causa não apurada)

Set-91 Bacia de Campos (RJ)

alto mar 2.150 m³ de

petróleo

Rompimento de oleoduto – Costão do Navio linha São Sebastião/Cubatão

Mai-94 São Sebastião (SP)

Vegetação, praias e costões 2.700 m³ de

petróleo

Rompimento de oleoduto - Linha REDUC/Ilha d’Água

Mar-97 Baía da Guanabara (RJ)

manguezal 2.700/2.800 m³

óleo MF 180

Transporte marítimo - Colisão entre navios Smyrni e Elizabeth Rickmers

Jul-98 Porto de Santos 40 m³ de

óleo MF 180

Rompimento de oleoduto - Refinaria de Manaus - REMAN

Ago-99 Manaus (AM)

Igarapés e Rio Negro 1/3 m³ de óleo combustível

E&P - Sonda em campo terrestre Nov-99 Carmópolis (SE)

Rio Iriri/pesca Não estimado

de petróleo

Rompimento de oleoduto - REDUC - Ilha d’Água

Jan-00 Baía da Guanabara (RJ)

Praia/costão/mangue/pesca 1.300 m³ de Óleo MF 180

Transporte marítimo/monobóia - Falha transferência de petroleiro para terminal

Mar-00 Tramandaí (RS) mar/praia/pesca

18 m³ de petróleo

67

Refinaria do Paraná – rompimento de oleoduto Falha interna

Jul-00 Paraná

Rios Barigui e Iguaçu 4.000 m³ de

óleo

Rompimento de oleoduto Fev-01 Mato Grosso

Córrego Caninana 4 .000 m³ de

diesel

E&P - Plataforma P36 Mar-01 Bacia de Campos (RJ)

alto mar

1.200 m³ diesel e 350 m³ petróleo

E&P - Plataforma P7 Abr-01 Bacia de Campos (RJ)

alto mar 124 m³ de petróleo

Transporte marítimo - Encalhe do navio Norma em banco de areia

Out-01 Baía de Paranaguá (PR)

um óbito/fauna 5.000 m³ de

nafta

Aparecimento de manchas de petróleo tipo árabe, na Bahia

Ago-01 Litoral norte da Bahia

30 km de praias Não estimado

Transporte marítimo Explosão do navio Alina P

Dez-01 Canal de S. Sebastião

Um óbito Não estimado (peq. quant.)

Transporte marítimo - Falha transferência do navio Nortic Marita para terminal no Canal de S. Sebastião (SP)

Jun-03

Praias, costões, mangue e lagoa costeira de São

Sebastião a Ubatuba

25 m³ de petróleo

Rompimento de oleoduto - Linha S. Sebastião-Cubatão

Fev-04 Guaecá – S. Sebastião (SP)

Vegetação, rio, praia 300 m³ de petróleo

Transporte marítimo - Explosão do navio Vicuña no píer do terminal

Nov-04 Porto Paranaguá (PR)

praias,costões, mangue,fauna

4079,23 ton metanol

285 ton bunker

Transporte marítimo - Naufrágio de barcaça próximo de Manaus

Nov-05 Rio Negro (AM) Não estimado

Óleo combustível

Transporte marítimo - Embarcação empurradora NORSUL

Jan-08 Baía de S. Francisco (SC)

Praias e costões 116 m³de

diesel/lubrif.

Transporte marítimo - Colisão navio Chembulk Shangai com rebocador

Mar-08 Porto de Mucuripe (CE)

Praia de Icaraí 3 ton de óleo combustível

Refinaria - Vazamento interior da refinaria/Bahia

Abr-09 Baía de Todos os Santos

Rio, mar e praias Não estimado Mistura oleosa

Transporte Aquaviário - Vazamento de embarcação

Jan-09 Acre

Rio Purus 25 m³ de

óleo diesel

Transporte Aquaviário - Naufrágio de embarcação

Jun-09 Rio Negro (AM) 5 m³ L

de óleo diesel

Plataforma Xareú (PXA 1) - Falha no mangote de conexão

Jan-10 Litoral do Ceará - 42 km de

Paracuru e 85 km de Fortaleza 0,14 m³

de petróleo

Explosão da embarcação - Praia do Sancho durante serviço de reparo

Ago-10 Porto de Recife (PE)

2 óbitos, 2 feridos Não estimado

(gasolina)

E&P - Plataforma de Mexilhão - Falha na movimentação interna de diesel

Ago-10 Bacia de Santos

Poluição em alto mar 0,05 m³ de óleo

diesel

Refinaria - Extravasamento de tanque de resíduo oleoso

Jan-11 Cubatão (SP)

Contaminação do Rio Cubatão Não estimado

E&P - Plataforma da Chevron Dez-11 Bacia de Campos – RJ

Campo de Frade

365 m³ de petróleo (ANP)

Transporte marítimo - Falha na operação da monobóia (6 km da costa)

Jan-12 Tramandaí (RS) ~1,2 m³

(Petrobras)

E&P – FPSO Dynamic Producer Campo Carioca Nordeste

Jan-12 Bacia de Santos TLD no Pré-

sal, a 253 km do litoral norte de São Paulo

26 m³ de petróleo

Dentre esses acidentes citados, o rompimento do oleoduto REDUC – Terminal

da Ilha D’água, em janeiro de 2001 e o vazamento de óleo na Refinaria do Paraná, em

julho de 2001 mostrou a necessidade de uma estrutura nacional de atendimento à

emergência (CALIXTO, 2011), dada as proporções dos vazamentos, a sensibilidade

das áreas impactadas e a proximidade temporal dos eventos.

68

De acordo com Calixto (2011), no acidente ocorrido em 18 de janeiro de 2000,

cerca de 1.300 m³ de óleo combustível marítimo (MF-380) vazaram na Baía de

Guanabara, afetando diversos ecossistemas, incluindo praias, costões rochosos e

manguezais localizados na parte norte/nordeste da baía. Entre os principais

ambienteis atingidos, está a Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, severamente

afetada, um dos mais importantes nichos ecológicos da região que possui cerca de 14

mil hectares de manguezal.

O acidente na Refinaria Presidente Vargas (REPAR), no Paraná, ocorrido em

16 de julho de 2000, também foi causado pelo rompimento de um oleoduto. O

vazamento de cerca de 4.000 m³ de petróleo durou aproximadamente 2 horas e

atingiu o Rio Barigui, afluente do Rio Iguaçu. Os ecossistemas próximos ao ponto de

derramamento foram severamente afetados (GABARDO et al, 2003 apud CALIXTO,

2011).

Quanto às ações de resposta para o acidente da Baía de Guanabara, a

Petrobras, empresa responsável pelo acidente, acionou seu Plano de Ação

Emergencial e todas as suas embarcações para o lançamento das barreiras de

contenção disponíveis. Além disso, contratou a empresa inglesa Oil Spill Response

Limited (OSRL), de modo a promover ações de proteção dos ecossistemas, com o uso

de barreiras de contenção; recolhimento do óleo da superfície da água; recolhimento

da areia contaminada, do lixo oleoso e do não oleoso das praias; e hidrojateamento

das pedras, costões e muros para remoção da película de óleo (CALIXTO, 2011).

Adicionalmente a FEEMA (atual INEA), acionou o Plano de Emergência da

Baía de Guanabara (PEBG), no qual empresas como a ESSO, Refinaria de Petróleo

de Manguinhos, SHELL e São Miguel auxiliaram nas ações de contingência. O

acionamento do PEBG ressaltou suas eficiências, quando foi constatado que a

quantidade de barreiras de contenção e de absorção era insuficiente para atender a

evento daquele porte, e não era prevista a participação dos municípios e de ONGs e

socorro à fauna(CALIXTO, 2011).

Por causa do acidente, a Petrobras teve regularizar o licenciamento ambiental

de todas as unidades da REDUC e do Terminal da Ilha D’água, além de assinar

diversos convênios e termos de colaboração com municípios, para execução de

avaliação de impactos ambientais, sociais e econômicos; projetos de monitoramento,

educação ambiental, proteção, recuperação e valorização do patrimônio natural e

cultural e dos espaços públicos; além de patrocinar projetos culturais(CALIXTO, 2011).

69

Entretanto, a mais relevante ação da Petrobras após o acidente foi a criação do

Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional (PEGASO),

cinco dias após o acidente. O programa promoveu uma série de investimentos em

segurança e meio ambiente de modo a reduzir os riscos e os efeitos dos vazamentos,

como a automação de oleodutos, contenção de vazamento, recuperação de áreas

afetadas, monitoramento, compensação e indenizações(CALIXTO, 2011).

Do ponto de vista de estrutura de resposta aos derramamentos, o programa

culminou na criação do Centro de Defesa Ambiental (CDA) da Baía de Guanabara. A

estrutura de um CDA dispõe de barcos recolhedores, balsas, dispersantes químicos,

agentes biorremediadores e barreiras de contenção e absorção de óleo(PEDROSA,

2012). Na última década, a Petrobras expandiu o número de CDA espalhados pelo

país. Em 2010, Rede Nacional de Proteção da Petrobras era composta por dez CDAs

como mostra a Figura 6.8 a seguir.

Figura 6.8: Rede Nacional de Proteção da Petrobras(PETROBRAS, 2010b)

70

Em termos legais, de modo reativo ao acidente na Baia de Guanabara, foi feita

uma revisão da legislação nacional relacionada a derramamentos de óleo, resultando

na promulgação da Lei nº 9.966, conhecida como a Lei do Óleo, em 28 de abril de

2000, que dispôs sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada

por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas

nacionais. A lei estabelece uma hierarquia de planos de emergência e contingência

para a resposta a acidentes envolvendo vazamento de óleo em águas nacionais,

conforme apresenta a Tabela 6.5.

Tabela 6.5: Tipos de Planos de Emergência e Contingência no Brasil (Elaboração Própria)

Planos Situação Atual Descrição

Plano de Emergência Individual

(PEI)

Exigência vinculada ao licenciamento ambiental de portos, plataformas, terminais, dutos, entre outros, cujo conteúdo mínimo de seguir o disposto na Resolução CONAMA nº 398/08

Documento ou conjunto de documentos, que contenha as informações e descreva os procedimentos de resposta da instalação a um incidente de poluição por óleo, em águas sob jurisdição nacional, decorrente de suas atividades.

Plano de Área (PA)

Estabelecido pelo Decreto Lei nº 4781/03 para áreas de concentração

Porto de São Sebastião: em implementação desde 2009 (CETESB, 2012b)

Baía de Guanabara: Existência de instrumentos semelhantes de auxílio mútuo (PEDROSA, 2012)

Documento ou conjunto de documentos que contenham as informações, medidas e ações referentes a uma área de concentração de portos organizados, instalações portuárias, terminais, dutos ou plataformas e suas respectivas instalações de apoio, que visem integrar os diversos PEIs da área para o combate de poluição por óleo, bem como facilitar e ampliar a capacidade de resposta deste Plano e orientar as ações necessárias na ocorrência de acidentes de poluição por óleo de origem desconhecida.

Plano Nacional de Contingência

(PNC)

Minuta do decreto elaborada e em período de análise e aprovação por parte dos ministérios envolvidos e da Casa Civil (IBAMA, 2012b)

Documento, ainda não publicado, que fixa responsabilidades, estabelece uma estrutura organizacional nacional e define diretrizes que permitem aos órgãos do Poder Público e entidades privadas atuarem de maneira coordenada em incidentes de poluição por óleo, que possam afetar as águas jurisdicionais brasileiras (águas interiores e águas marítimas), ou, ainda, as dos países vizinhos, com o objetivo de reduzir os danos ambientais (CALIXTO, 2011)

No ambiente offshore, durante as atividades de E&P, apesar de não ter grande

significância em termos de danos ambientais causados pelo vazamento de óleo, o

acidente da P-36, em 2001, provocou grande comoção nacional devido à morte de

onze operários e ao naufrágio da plataforma (CALIXTO, 2011).

Mais recentemente, em 2011, embora não tenha se configurado um caso de

acionamento de uma estrutura nacional de contingência e de não tenha sido

71

comprovado o dano ambiental, o acidente no Campo de Frade da Chevron teve

grande repercussão na mídia e reacendeu a discussão sobre a necessidade do Plano

Nacional de Contingência. No ano anterior, a discussão já havia sido retomada devido

ao gravíssimo acidente no Golfo do México, o blowout do poço de Macondo durante a

atividade de perfuração em abril de 2010. Apesar da pouca relevância devido ao

pequeno volume de óleo vazado, acidente envolvendo o FPSO Dynamic Producer

durante o TLD na área de Carioca Nordeste, em janeiro de 2012, foi a primeira

ocorrência nas atividades de E&P do pré-sal.

Diante das informações apresentadas, a seguir são feitas algumas

considerações sobre aspectos relevantes do vazamento de óleo na Bacia de Santos:

A ocorrência de acidentes que resultem em grandes vazamentos de óleo é a

principal preocupação ambiental do desenvolvimento das atividades de E&P na Bacia

de Santos. Assim, como apresentado no estudo de caso do North Slope, essa

constante preocupação por parte da sociedade de uma forma geral, em especial por

grupos envolvidos com unidades de conservação, pesca e turismo, pode se

caracterizar um impacto cumulativo.

A intensificação das atividades, ou seja, um maior número de sondas

perfurando, mais plataformas em produção e mais navios aliviadores transitando, etc,

faz com que cresça a probabilidade de ocorrência de um evento acidental, pois há um

aumento da exposição aos perigos. Este aumento da exposição pode ser interpretado

como uma cumulatividade de riscos. Além disso, a introdução de novas tecnologias de

E&P, em especial em águas profundas e na camada pré-sal, dificulta a análise de

riscos dos empreendimentos, uma vez que não se tem disponível um histórico de

falhas e acidentes envolvendo esses equipamentos.

Atualmente, a avaliação de riscos de acidentes com derramamento de óleo é

feita a nível operacional, vinculada ao licenciamento ambiental, quando as decisões

estratégicas já foram tomadas, havendo pouca margem de manobra para a seleção de

alternativas de menor risco (GARCIA e LA ROVERE, 2011). Dessa forma, de forma

análoga ao apresentado no Capítulo 2, a avaliação de risco a nível estratégico, ou

seja, incorporada a AAE, pode contribuir para reduzir a cumulatividade de riscos e

impactos das atividades de E&P na região estudada. A exemplo disso, pode-se citar a

metodologia de Avaliação Estratégica de Risco à Biodiversidade desenvolvida por

Garcia e La Rovere (2011).

Como já descrito anteriormente, o ambiente marinho não oferece substratos

suscetíveis à contaminação por óleo como nos casos dos ecossistemas costeiros

72

(MMA, 2007). Os vazamentos que não alcancem a costa afetam principalmente aves,

quelônios e mamíferos marinhos, além de interferir na atividade pesqueira. A distância

entre o polo pré-sal e a zona costeira, reduz a probalidade de toque de óleo na costa

mesmo em cenários catastróficos, minimizando a possibilidade de ocorrência de

graves danos a ambientes costeiros mais sensíveis como marismas e manguezais.

A Figura 6.9 retirada do EIA do Polo Pré-sal (PETROBRAS, 2010c), mostra o

cenário castrófico, o pior caso, resultante do afundamento do FPSO (24 horas de

vazamento + 30 dias sem ações de contingência). Ressalta-se que essa é uma

modelagem probabilística, ou seja, apresenta apenas a tendência de deslocamento da

mancha de óleo de acordo com as condições meteoceanográficas, não trazendo

informações sobre volume de óleo e espessura da mancha.

Figura 6.9: Área total com probabilidade de óleo na água e toque na linha de costa para a Área do Pré-sal, decorrente do pior cenário (24 horas de vazamento contínuo e 30 dias sem intervenções),

durante os meses do inverno(PETROBRAS, 2010c).

Apesar de ser considerada uma modelagem conservadora, por ser pouco

provável que um acidente desse porte ocorra e que nenhuma medida de contigência

seja tomada, acidentes como o recente blowout no Golfo do México mostram que

existe sim a possibilidade de ocorrência de acidentes mais severos e incontroláveis do

que os piores casos habitualmente requeridos nos estudos ambientais para a

elaboração dos planos de emergência. Além disso, a cumulatividade de riscos deverá

resultar no aumento da ocorrência de acidente tanto de pequeno porte quanto de

73

grandes proporções, o que aumenta também a probalidade de que ambientes

costeiros sejam atingidos.

Embora, o desenvolvimento do pré-sal marque uma nova etapa na Bacia de

Santos na qual os futuros acidentes possam ter causas e consequências distintas das

apresentadas no atual histórico de acidentes, ainda são relevantes as informações

obtidas na análise de ocorrências passadas. Destaca-se que grande parte dos

acidentes já ocorridos se situou nas regiões portuárias e nas proximidades dos

terminais aquiviários, como a Baía de Guanabara e o Canal de São Sebastião, e foi

causada por problemas em navios aliviadores (navios-tanque) ou por rompimento de

oleodutos. Os ecossistemas dessas regiões foram impactados por sucessivos

acidentes (frequência), envolvendo volumes expressivos de óleo (severidade),

sugerindo a ocorrência de impactos cumulativos e revelando o risco (frequência x

severidade) das atividades de escoamento da produção de petróleo nas regiões

costeiras.

A exemplo disso, pode-se citar os dois acidentes ocorridos no mesmo oleoduto

na Baía de Guanabara. Antes do acidente de 2001, já descrito, em 1997, o

rompimento do oleoduto REDUC-Ilha D’água resultou no vazamento de quase 3.000

m³ de óleo, um dos maiores acidentes ocorridos na baía(CALIXTO, 2011). A

proximidade temporal e a coincidência espacial dos eventos indicam que não houve

tempo suficiente para que os ecossistemas afetados se recuperassem, caracterizando

a ocorrência de impactos cumulativos.

Dessa forma, ressalta-se a importância dos Planos de Áreas nessas regiões

que concentram atividades portuárias, terminais, dutos. Outro elemento importante

desses planos é o combate às chamadas manchas órfãs ou manchas de origem

desconhecida, aumentando a eficiência de resposta e reduzindo os efeitos

cumulativos de vazamentos que pela ausência de conhecimento da fonte causadoras.

De acordo com Pedrosa (2012), apesar de ter sido instituído em 2003 e de

haver algumas iniciativas, nenhum plano de área foi formalmente estabelecido. O

Plano de Área do Porto de São Sebastião que integra as estruturas de resposta da

Companhia de Docas do Porto de São Sebastião, da DERSA – Travessia da Balsa

São Sebastião/Ilhabela e da Petrobras/Transpetro – TEBAR, vem sendo implantado

desde 2009 (CETESB, 2012b). Na Baía de Guanabara, pode-se notar a existência de

ações de auxílio mútuo, como simulados envolvendo empresas como a Petrobras e

órgãos públicos(PEDROSA, 2012).

74

No caso da Petrobras, adicionalmente aos PEIs das plataformas, exigidos para

o licenciamento ambiental, a empresa possui estruturas de caráter regional como o

Plano de Emergência de Vazamento de Óleo da Bacia de Santos (PEVO-BS)

composto por CDAs, embarcações dedicadas, centros de recuperação da fauna entre

outros elementos e procedimentos de resposta.

Nota-se que devido à ausência dos Planos de Áreas e principalmente do Plano

Nacional de Contingência, a estrutura de resposta a vazamento de óleo hoje

estabelecido no país é baseado no sistema implementado pela Petrobras(PEDROSA,

2012). De certa forma, esse pode ser considerado um dos pontos positivos do

predomínio da Petrobras na Bacia de Santos, mencionado anteriormente, desde que o

PEVO-BS consiga incorporar os novos cenários acidentais provenientes do

incremento das atividades.

Contudo, a ausência do PNC, uma estrutura organizacional nacional, frente à

intensificação das atividades de E&P na Bacia de Santos e, consequentemente, o

maior risco de ocorrência de acidentes, expõe a fragilidade da capacidade de resposta

a acidentes como no Golfo do México em 2010, tornando os ecossistemas marinhos e

costeiros, as atividades econômicas (pesca, turismo, etc.), a sociedade como um todo,

mais vulneráveis a graves danos socioambientais.

75

7 Conclusões

O presente trabalho buscou ressaltar a importância da cumulatividade de

impactos ambientais no desenvolvimento das atividades de E&P. Embora exista uma

carência de estudos científicos sobre o tema no Brasil, nota-se sua relevância através

da experiência internacional apresentada, que apesar de ser de um ambiente com

características bastante distintas, contribuiu para o desenvolvimento do estudo de

caso da Bacia de Santos. A seguir, são apresentadas as considerações finais nas

quais são retomados os principais pontos abordados ao longo do trabalho.

A consideração dos impactos cumulativos é essencial para se

avaliar o impacto total, sobre as componentes ambientais, causado por uma

série de ações que ocorrem ou ocorrerão em uma região ao longo do tempo.

Nas últimas décadas, é notável o aumento da preocupação quanto aos

impactos cumulativos causados pela realização de uma série de ações em uma

mesma região, com proximidade temporal. O objetivo da avaliação de impactos

cumulativos é entender como uma componente ambiental é ou pode ser afetada por

todas essas ações.

A avaliação de impactos cumulativos em nível estratégico

apresenta benefícios se comparada com a avaliação em nível operacional, de

projeto.

Diversos países do mundo, como o Brasil, exigem a consideração dos

impactos cumulativos na Avaliação de Impacto Ambiental realizada no âmbito do

licenciamento ambiental de projetos. Entretanto, a ineficiência e a limitação da AIA

para considerar impactos causados por outras ações tem motivado o desenvolvimento

da Avaliação de Impactos Cumulativos em nível estratégico, vinculada à Avaliação

Ambiental Estratégia. Além de normalmente apresentar maior abrangência espacial, a

AAE permite a prévia identificação dos potenciais impactos cumulativos, possibilitando

a seleção de planos, programas e políticas que causem menos efeitos cumulativos,

bem como a adoção de medidas mais eficientes de mitigação.

No Brasil, o setor hidrelétrico é o que possui maior experiência em

considerar os impactos cumulativos. No setor de petróleo e gás, começam a

surgir instrumentos estratégicos.

O setor hidrelétrico já avalia a interferência cumulativa da instalação de uma

série de hidrelétricas em uma mesma bacia hidrográfica através da Avaliação

Ambiental Integrada. Recentemente, a Portaria MME/MMA nº 198/12, instituiu a

Avaliação Ambiental das Áreas Sedimentares que permitirá a tomada de decisão em

76

nível estratégico quanto à oferta de blocos exploratórios de petróleo e gás natural,

além de contribuir para o licenciamento ambiental.

A descoberta do pré-sal fará com que as atividades de E&P na

Bacia de Santos se intensifiquem nos próximos anos, trazendo alterações

ambientais e socioeconômicas para a região.

Desde a descoberta dos reservatórios do pré-sal, em 2006, nota-se um

expressivo crescimento das atividades de E&P no país. No foco desse crescimento,

está a Bacia de Santos que, nos últimos dois anos, quase triplicou sua produção

devido ao início da produção do Campo de Lula, no polo pré-sal. Diferentemente da

Bacia de Campos, a maior produtora do país onde as atividades de E&P já estão

consolidadas, a expansão das atividades ainda provocará muitas modificações

ambientais e socioeconômicas na Bacia de Santos.

O predomínio da Petrobras frente às atividades de E&P na Bacia de

Santos pode facilitar a gestão dos impactos cumulativos.

O histórico das atividades de E&P na Bacia de Santos mostra que mesmo com

o fim do monopólio a Petrobras permanecerá como a principal empresa responsável

pelas atividades na região, sobretudo, nas áreas do pré-sal devido à cessão onerosa.

Esse predomínio pode ser vantajoso para a avaliação e gestão dos impactos

cumulativos, visto que a adoção de medidas de controle e mitigadoras será feita

praticamente por uma única empresa. Isso evita que uma empresa se negue a mitigar

os impactos causados pelas demais. Porém é preciso que os órgãos responsáveis,

principalmente o IBAMA, sejam incisivos no estabelecimento e na fiscalização de tais

medidas.

No ambiente offshore, os impactos cumulativos são improváveis

devido às altas capacidades de assimilação e dispersão do mar e da atmosfera.

Destaca-se, entretanto, a falta de conhecimento científico, principalmente em

águas profundas.

Apesar da relevância dos efeitos cumulativos o desenvolvimento das atividades

de E&P de petróleo e gás natural, como foi apresentado no estudo de caso sobre o

North Slope no Alasca, há uma carência de estudos científicos sobre o tema no Brasil.

No ambiente offshore, a sobreposição de impactos é muitas vezes desconsiderada

devido à distância física entre as fontes emissoras, à alta capacidade de dispersão da

água e do ar.

Porém, deve-se destacar também a falta de conhecimento científico mais

profundo das componentes ambientais existentes, sobretudo nas áreas do pré-sal,

como apresentado na Figura 6.7, o que dificulta a avaliação e a gestão dos impactos

77

cumulativos. Sendo este também um fator que ressalta a necessidade de se agir com

responsabilidade ambiental no controle dos aspectos ambientais, através de

regulamentações e fiscalizações, independente da potencial capacidade de

assimilação do meio.

Os principais impactos cumulativos na Bacia de Santos não estão

vinculados diretamente às atividades de E&P, e sim às atividades associadas

que apresentam maior grau de interferência na zona costeira.

Cabe ressaltar que a intensificação das atividades de E&P não se traduz

apenas no aumento do número de sondas e plataformas perfurando e produzindo,

existe uma cadeia de atividades e serviços relacionada, formada por embarcações de

apoio, navios aliviadores, entre outros. Portanto, a interferência das atividades nas

componentes socioambientais não se limita aos impactos gerados pelas unidades de

E&P, é preciso avaliar o efeito total, ou seja, os efeitos cumulativos.

Pelo contrário, constata-se que os aspectos ambientais gerados pelas sondas

de perfuração e plataformas de produção, como o descarte de cascalho, lançamento

de água de produção e efluentes, emissões atmosféricas (locais), entre outros,

dificilmente provocarão efeitos que se sobreponham. A cumulatividade de impactos

acontece de forma mais significativa nas atividades associadas à E&P que

apresentam maior grau de interferência nas atividades desenvolvidas na zona

costeira, como ilustrado no conflito pelo uso do espaço marítimo da Baía de

Guanabara (Figura 6.5). Cabe ainda destacar, que apesar de não ter sido o foco desse

trabalho, as alterações no meio socioeconômico motivadas pela geração de

empregos, pagamento de royalties, entre outros fatores, possuem grande potencial de

acumulação.

Neste sentindo, questiona-se a capacidade da AIA em avaliar e gerir os

impactos cumulativos gerados pelas atividades associadas à E&P. Nota-se a ausência

de instrumentos a nível estratégico no desenvolvimento do pré-sal, o que não só

dificulta o processo de licenciamento como reduz a possibilidade de seleção de

alternativas menos impactantes e de medidas de mitigação mais eficazes.

Os maiores impactos da E&P offshore são causados quando

ocorrem grandes derramamentos de óleo, principalmente próximos às regiões

costeiras.

A maior preocupação da sociedade quanto à expansão das atividades de E&P

na Bacia de Santos é referente aos potenciais danos causados por acidentes com

vazamento de óleo. Somente essa constante preocupação já pode ser considerado

um impacto cumulativo. Outro fato relevante é que o histórico de acidentes mostra

78

uma série de ocorrências com proximidade temporal em locais como a Baía de

Guanabara e o Canal de São Sebastião, onde há um intenso tráfego de navios

aliviadores devido aos terminais e demais instalações ali presentes, indicando que os

ecossistemas não tiveram tempo suficiente para se recuperarem, caracterizando a

ocorrência de impactos cumulativos.

A intensificação das atividades de E&P não provoca só a

cumulatividade de impactos como também a cumulatividade de riscos.

A intensificação das atividades faz como que o risco de ocorrência de

acidentes aumente, devido ao aumento da exposição aos perigos, caracterizando a

cumulatividade de riscos. Aliado a isso, a introdução de novas tecnologias é um

desafio para a análise de riscos dos empreendimentos. Novamente, a incorporação da

avaliação de riscos apenas na fase operacional de licenciamento ambiental, reduz a

possibilidade de manobras e de adoção de opções que forneçam o menor risco para o

meio ambiente.

A estrutura de resposta a grandes vazamentos de óleo é frágil

devido à ausência dos planos de área e do PNC.

Os Planos de Emergência e Contingência são essenciais para minimizar

potenciais impactos causados pelo vazamento de óleo, principalmente, no que se

refere à proteção de ambientes mais sensíveis como manguezais. Atualmente, o

Plano de Emergência Individual, o primeiro no nível hierárquico de resposta e com

menor capacidade, é o único plano efetivamente existente devido sua exigência

durante o licenciamento ambiental. O sistema de resposta brasileiro, instituído pela Lei

nº 9.966/00, ainda carece da implementação dos Planos de Área e, principalmente, do

Plano Nacional de Contingência.

Na ausência desses elementos, nota-se que o desenvolvimento das atividades

de E&P no país é resguardado pela capacidade de resposta da Petrobras, que após

os sucessivos acidentes na Baía de Guanabara, por exemplo, investiu na criação da

Rede Nacional de Proteção. Dessa forma, as atividades da Bacia de Santos contam

com um plano regional de resposta a acidentes, o PEVO-BS.

Contudo, a intensificação das atividades, a cumulatividade de riscos, a

introdução de novos cenários acidentais devido ao uso de novas tecnologias, entre

outros elementos, expõem a fragilidade da ausência de uma estrutura organizacional

nacional, como o PNC, principalmente frente à possibilidade de ocorrência de

acidentes de grandes proporções como o ocorrido no Golfo do México em 2010.

79

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