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Universidade Federal de São Carlos
Departamento de Engenharia Química
Programa de Especialização em Biocombustíveis - PRH 44
Relatório Final
“Modelagem e simulação das etapas de hidrólise e fermentação do
bagaço de cana-de-açúcar no simulador EMSO”
Aluno: Jorge Augusto Rodrigues Fanton - RA 388807
Orientador: Prof. Dr. Antonio José Gonçalves da Cruz
Fevereiro de 2014
São Carlos, SP
Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Desenvolvimento
e Automação de Bioprocessos (LaDABio) do Departamento de Engenharia
Química (DEQ) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e contou
com o apoio financeiro do Programa de Recursos Humanos da Agência
Nacional do Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (PRH-ANP/MCT Nº 44).
Resumo
Com a crescente demanda por fontes de energia renovável, a produção
de etanol a partir de resíduos lignocelulósicos, denominado de etanol de
segunda geração (E2G), tem se tornado uma opção atrativa. No Brasil,
destaca-se como matéria-prima o bagaço de cana-de-açúcar (BCA), um
subproduto do processo de produção de açúcar e etanol, usado pela indústria
sucroalcooleira para gerar energia para o processo, através de sua queima nas
caldeiras. O excedente do BCA pode ser queimado para geração de energia
elétrica ou vendido no mercado. A produção de etanol a partir deste BCA
excedente é alternativa interessante, uma vez que o mesmo já se encontra na
própria indústria.
O objetivo deste trabalho foi implementar e validar, com emprego de
dados experimentais, modelos matemáticos que descrevam a cinética da
hidrólise enzimática do bagaço de cana pré-tratado em diferentes processos.
Posteriormente, utilizar os modelos ajustados em estudo de análise econômica
preliminar do processo de produção de etanol de segunda geração (E2G).
Avaliou também a influência de parâmetros econômicos como o custo do
etanol e das enzimas no resultado da análise. As simulações foram realizadas
no simulador de processos EMSO (Environment for Modeling Simulation and
Optimization). A análise econômica mostrou inviabilidade do processo de
produção do E2G em relação à produção de energia elétrica, nas condições
experimentais avaliadas e no cenário econômico estudado, devido
principalmente ao custo do pool enzimático. Contudo, o estudo mostrou que o
processo pode ser tornar viável com a diminuição do custo da enzima e
aumento do preço do etanol. O baixo volume de E2G produzido é devido à
restrição entre a quantidade de BCA desviada para queima na caldeira e a
quantidade empregada na rota de produção do E2G a fim de manter o balanço
energético do processo. O uso da palha de cana-de-açúcar como combustível
na caldeira contribui positivamente para o aumento do volume de etanol
produzido. Contudo, no cenário avaliado, a viabilidade econômica tornou-se
mais distante. Por fim, o trabalho mostrou que é importante o desenvolvimento
de ferramenta para simulação do processo. O conhecimento dos mecanismos
da etapa de hidrólise e sua simulação contribuem para o desenvolvimento
tecnológico do processo.
Sumário
1. Introdução ........................................................................................ 6
1.1. Cana-de-açúcar ........................................................................... 6
1.2. Bagaço de cana-de-açúcar ......................................................... 6
1.3. Material lignocelulósico ............................................................... 6
1.3.1. Celulose.................................................................................. 7
1.3.2. Hemicelulose .......................................................................... 7
1.3.3. Lignina .................................................................................... 8
1.4. Pré-Tratamento ........................................................................... 8
1.4.1. Pré-tratamento alcalino .......................................................... 9
1.4.2. Explosão a vapor .................................................................... 9
1.4.3. Hidrotérmico ........................................................................... 9
1.5. Hidrólise ...................................................................................... 9
1.6. Fermentação ............................................................................. 10
1.7. Comparação entre os métodos de hidrólise e fermentação ...... 11
1.8. Simulador EMSO (Environment for Modelling, Simulation and
Optimization) ................................................................................................. 12
2. Objetivos ......................................................................................... 12
3. Metodologia .................................................................................... 12
3.1. Validação cinética ..................................................................... 12
3.2. Avaliação econômica preliminar ................................................ 14
4. Resultados e Discussão ................................................................ 21
4.1. Validação cinética ..................................................................... 21
4.2. Análise econômica preliminar .................................................... 29
4.2.1. Reologia e escalonamento do reator .................................... 29
4.2.2. Análise do cenário presente ................................................. 31
4.2.3. Análise de sensibilidade aos parâmetros econômicos ......... 34
4.2.4. Análise do cenário presente utilizando a palha da cana ....... 35
4.2.5. Análise de sensibilidade aos parâmetros econômicos com o
uso da palha 37
5. Conclusões ..................................................................................... 39
6. Bibliografia ..................................................................................... 40
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Lista de condições experimentais analisadas na validação de
dados ............................................................................................................... 14
Tabela 2 - Dados utilizados na simulação do pré-tratamento .................. 16
Tabela 3 - Dados utilizados na simulação da etapa de concentração ..... 18
Tabela 4 - Parâmetros cinéticos ajustados para o modelo de Michaelis-
Menten com inibição competitiva para meio pseudo-homogêneo .................... 22
Tabela 5 - Parâmetros cinéticos ajustados para o modelo de Michaelis-
Menten com inibição competitiva para meio heterogêneo ............................... 22
Tabela 6 - Parâmetros cinéticos ajustados para o modelo de Chrastil .... 23
Tabela 7 - Comparação entre os modelos pelo coeficiente de
determinação (r²) .............................................................................................. 29
Tabela 8 - Parâmetros ajustados do modelo hiperbólico em relação aos
dados reológicos .............................................................................................. 30
Tabela 9 - Parâmetros ajustados do modelo hiperbólico em relação aos
dados de potência consumida .......................................................................... 31
Índice de Figuras
Figura 1 - Estrutura da matriz lignocelulósica ............................................ 7
Figura 2 - Representação do processo de pré-tratamento de um material
lignocelulósico .................................................................................................... 8
Figura 3 - Sequência de etapas da conversão de celulose a etanol .......... 9
Figura 4 - Esquema da hidrólise enzimática da celulose ......................... 10
Figura 5 - Rota simplificada da fermentação alcoólica da glicose............ 11
Figura 6 - Fluxograma referente à análise econômica efetuada .............. 15
Figura 7 - Ajuste aos dados no caso A1 .................................................. 23
Figura 8 - Ajuste aos dados no caso A2 .................................................. 24
Figura 9 - Ajuste aos dados no caso A3 .................................................. 24
Figura 10 - Ajuste aos dados no caso A4 ................................................ 25
Figura 11 - Ajuste aos dados no caso A5 ................................................ 25
Figura 12 - Ajuste aos dados no caso A6 ................................................ 26
Figura 13 - Ajuste aos dados no caso B1 ................................................ 26
Figura 14 - Ajuste aos dados no caso B2 ................................................ 27
Figura 15 - Ajuste aos dados no caso B3 ................................................ 27
Figura 16 - Ajuste aos dados no caso B4 ................................................ 28
Figura 17 - Ajuste aos dados no caso C1 ................................................ 28
Figura 18 - Ajuste ao modelo hiperbólico dos dados reológicos .............. 30
Figura 19 - Ajuste ao modelo hiperbólico dos dados de potência
consumida ........................................................................................................ 31
Figura 20 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do tempo de hidrólise 32
Figura 21 - Parâmetros relevantes para o caso A5 .................................. 33
Figura 22 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço da enzima e
da conversão para o caso A5 ........................................................................... 34
Figura 23 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço do etanol e da
conversão para o caso A5 ................................................................................ 35
Figura 24 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do tempo de hidrólise 36
Figura 25 - Volume de etanol produzido .................................................. 36
Figura 26 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço da enzima e
da conversão para o caso A5 ........................................................................... 37
Figura 27 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço do etanol e da
conversão para o caso A5 ................................................................................ 38
6
1. Introdução
1.1. Cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil durante a colonização
portuguesa entre 1515 e 1532, logo tornando o Brasil em um dos maiores
produtores mundiais. As variedades comerciais utilizadas hoje são originadas
de cruzamentos entre Saccharum offinarum (rica em açúcares, menos
resistente) e Saccharum spontaneum (pobre em açúcares, porém mais
resistente) (Alberto, 2010).
Segundo CONAB, 2012, na safra brasileira de 2012-2013 foram moídas
cerca de 590 milhões de toneladas de cana, sendo 48,93% destinada à
produção de açúcar e o restante de etanol. Nesta safra foram produzidos 38
milhões de toneladas de açúcar e 23 bilhões de litros de etanol.
1.2. Bagaço de cana-de-açúcar
O bagaço de cana-de-açúcar (BCA) é um subproduto da moagem da
cana gerado na proporção aproximada de 280 kg de BCA por tonelada de cana
moída (Cardona, et al., 2009). A indústria sucroalcooleira utiliza o bagaço na
geração de energia para o processo, através de sua queima e geração de
vapor nas caldeiras, com um excedente médio (acima do necessário para o
autoconsumo) de 23,12%1, na safra 2009-2012, em massa de BCA total
(úmido) (CONAB, 2011). Este excedente é usado na geração de energia
elétrica ou vendido diretamente. Contudo, por ser um material lignocelulósico,
uma alternativa seria sua utilização para a produção de etanol de segunda
geração (E2G). Uma das vantagens do uso do BCA está relacionado com a
questão logística, uma vez que o mesmo já se encontra no interior da unidade
industrial.
1.3. Material lignocelulósico
Os três principais componentes de um material lignocelulósico são:
celulose, hemicelulose e lignina. Segundo Rocha et al., 2011, o BCA apresenta
em média 45,5±1,1 % de celulose, 27,0±0,8 % de hemicelulose, 21,1±0,9 % de
1 47,81% em usinas que comercializam energia elétrica (CONAB, 2011).
7
lignina total, 2,2±0,1 % de resíduos minerais (cinzas) e 4,6±0,3% de extrativos.
A Figura 1 apresenta uma ilustração da estrutura da matriz lignocelulósica.
Figura 1 - Estrutura da matriz lignocelulósica
Fonte: Fengel, et al., 1984
1.3.1. Celulose
A celulose é um biopolímero, constituinte da parede celular vegetal,
formado por uma longa cadeia de glicoses, associadas na forma de dímeros,
celobioses, ligadas através de ligações β-1,4 glicosídicas, apresentando
ligações de hidrogênio intra e intermoleculares, responsáveis por sua cadeia
linear e ligação com a hemicelulose, como se observa na Figura 1. A
macromolécula apresenta regiões cristalinas e amorfas, que apresentam taxas
de hidrólise diferenciadas (Liu, 2010).
1.3.2. Hemicelulose
Hemiceluloses são polímeros amorfos, heterogêneos, e de cadeia
relativamente curta. Seus principais constituintes são as pentoses, D-xilose e L-
arabinose, e as hexoses, D-manose, D-glicose e D-galactose. Possui cadeia
principal com ligações β (relativamente fracas), o que explica sua hidrólise
relativamente rápida na presença de ácidos. Além de servir de conexão entre a
8
celulose, hidrofílica, e a lignina, hidrofóbica, sua ligação com a lignina confere
impermeabilidade e resistência a parasitas (Liu, 2010).
1.3.3. Lignina
Lignina é uma macromolécula amorfa composta principalmente pelos
monômeros p-hidróxi-fenil, siringil e guaiacil. É responsável pela rigidez e
resistência mecânica, além da defesa do vegetal contra enzimas e parasitas
(Liu, 2010; Brodeur, et al., 2011).
1.4. Pré-Tratamento
A etapa de pré-tratamento tem a finalidade de desorganizar o arranjo da
biomassa, aumentar a porosidade e reduzir sua cristalinade o que torna mais
fácil o acesso das enzimas, ou reagentes, ao substrato (via remoção da lignina
e da hemicelulose), sem degradar a matéria-prima (a celulose) nem gerar
resíduos que inibam a fermentação (produtos oriundos da degradação da
glicose e da xilose). A Figura 2 ilustra esquematicamente a biomassa antes e
após a etapa de pré-tratamento.
Figura 2 - Representação do processo de pré-tratamento de um material lignocelulósico
Fonte: Brodeur, et al., 2011
9
Nos próximos itens são descritos os pré-tratamentos a que foram
submetidas as amostras de bagaço analisadas neste trabalho.
1.4.1. Pré-tratamento alcalino
Apresenta vantagens econômicas por poder ser realizado em temperatura
e pressão relativamente baixas, em relação aos outros métodos. É um método
bastante eficaz na remoção da lignina e na redução da cristalinidade da
celulose (de Carli, 2011).
1.4.2. Explosão a vapor
Este método consiste em manter a biomassa em contato com vapor a
alta pressão para promover a hidrólise da hemicelulose por certo período de
tempo. Após a reação, segue-se uma descompressão repentina (de Carli,
2011).
1.4.3. Hidrotérmico
Baseia-se em manter a biomassa em contato com água, aquecendo a alta
pressão por determinado tempo, a fim de causar a solubilização e degradação
da hemicelulose.
1.5. Hidrólise
A etapa de hidrólise é a conversão do polímero de carboidratos (celulose
ou hemicelulose) em açúcares fermentescíveis, através do uso de enzimas ou
reagentes como ácidos inorgânicos. Neste trabalho só foi analisada a
sequência exibida na Figura 3, por isso só será descrita a rota enzimática da
hidrólise da celulose.
Figura 3 - Sequência de etapas da conversão de celulose a etanol
Fonte: Bommarius, et al., 2008
As enzimas celulases se dividem em dois grupos principais,
endoglucanases e exoglucanases ou celobiohidrolases: as primeiras se
difundem da fase líquida até o sólido, tendo preferência por se adsorver na
10
região amorfa da celulose, e só então reduz o grau de polimerização desta; a
segunda se adsorve nas extremidades do polímero, liberando celo-
oligosacarídeos, principalmente celobiose, na fase aquosa. Nesta fase, ocorre
a conversão de celobiose em glicose pela ação da β-glucosidase (vide
esquema na Figura 4). Percebe-se que a primeira etapa é a limitante, visto a
resistência à transferência de massa e adsorção, e nota-se a necessidade do
aumento de acessibilidade à celulose pelas enzimas, realizado no pré-
tratamento (de Carli, 2011).
Segundo Carvalho, 2011, as celulases são inibidas pela celobiose e a β-
glucosidase é inibida pela glicose, o que pode afetar a escolha do modo de
operação do reator de hidrólise.
Figura 4 - Esquema da hidrólise enzimática da celulose
Fonte: van Zyl, et al., 2011
1.6. Fermentação
A fermentação é um processo metabólico, realizado anaerobicamente, e
para a produção de etanol de segunda geração, pode ser a conversão de
11
glicose ou xilose em etanol. Como dito anteriormente, neste trabalho só foi
analisada a rota da Figura 3, logo será vista a fermentação de glicose com
Saccharomyces cerevisiae, ou seja, esta etapa é idêntica à produção de etanol
de primeira geração.
Figura 5 - Rota simplificada da fermentação alcoólica da glicose
Fonte: Flikweert, 1999
1.7. Comparação entre os métodos de hidrólise e fermentação
As etapas de hidrólise e fermentação podem ser realizadas em separado,
SHF (Separated Hydrolysis and Fermentation), ou simultaneamente, SSF
(Simultaneous Saccharification and Fermentation), ambas com vantagens e
desvantagens.
No primeiro processo é possível operar na temperatura e pH ótimo de
cada etapa, (40-50°C na hidrólise e 30-37°C na fermentação), diferente do
segundo caso, onde pode ocorrer aumento da morte celular, pelo aumento da
temperatura (> 30-32 oC), e/ou redução na velocidade de hidrólise, pela
redução da temperatura (< 55-50 oC). No segundo as inibições por celobiose e
glicose das enzimas e microrganismos são minimizadas pelo consumo
imediato, reduz-se o risco de contaminação pela presença de etanol (apesar
deste causar redução da atividade enzimática) (de Carli, 2011).
Os dados da literatura apontam para vantagens do processo SSF, no
entanto deve-se avaliar se este cenário se mantem após o escalonamento do
reator, visto a grande viscosidade da suspensão com alta carga de sólidos,
uma dificuldade para agitação e aeração (fundamentais para a sobrevivência
dos microrganismos).
Neste trabalho avaliou-se apenas o método SHF.
12
1.8. Simulador EMSO (Environment for Modelling, Simulation and
Optimization)
EMSO é um simulador brasileiro, capaz realizar simulações dinâmicas ou
estacionárias, resolver equações algébrico-diferenciais, otimizar processos,
estimar parâmetros de modelos implementadas, possui uma biblioteca de
propriedades físicas (VRTherm) e de modelos de equipamentos (EML - EMSO
Model Library), permite criação e utilização de modelos criados pelo usuário
através de uma linguagem própria (EMSO Modeling Language), orientada a
objetos. A linguagem de modelagem utiliza uma abordagem orientada a
equações, ou seja, igualar ambos os lados de uma expressão em vez de
atribuir o valor de um lado a um termo do outro, o que pode reduzir o número
de iterações até a convergência, comparado com um simulador modular-
sequencial, mas pode dificultar a convergência para simulações complexas.
2. Objetivos
Os objetivos deste trabalho foram implementar e validar, com emprego de
dados experimentais, modelos matemáticos que descrevam a cinética da
hidrólise enzimática do bagaço de cana pré-tratado. Posteriormente, utilizar os
modelos ajustados na análise econômica preliminar do processo de produção
de etanol de segunda geração (E2G) a partir desta biomassa e avaliar a
influência de parâmetros econômicos como o custo do etanol e das enzimas no
resultado da análise.
3. Metodologia
3.1. Validação cinética
Para a implementação no simulador foram escolhidos três modelos
matemáticos da cinética da hidrólise enzimática, conforme apresentado por
Carvalho, 2011:
Michaelis-Menten para meio pseudo-homogêneo com inibição
competitiva pelo produto (MMi), Equação (1) (Carvalho, 2011)
13
( )
( ) ( )
(1)
Michaelis-Menten em meio heterogêneo ( ) com inibição
competitiva pelo produto (MMh), Equação (2) (Carvalho, 2011)
( )
( )
(2)
Modelo de Chrastil, Equação (3) (Carvalho, 2011; Chrastil, 1987;
Chrastil, 1988)
( ( ))
(3)
Os parâmetros cinéticos ( , , , e/ou ) foram obtidos dos
ajustes aos dados experimentais de: de Carli, 2011, (Souza, 2013 e Correa,
2014) utilizando o ambiente Estimation do EMSO e algoritmo Complex
(baseado no método de poliedros flexíveis, visando minimizar o erro do ajuste
variando estes parâmetros). As outras variáveis, presentes nas equações (1) a
(3), são calculadas a partir das variáveis de entrada – Carga de sólidos
( ), carga enzimática ( ), atividade enzimática ( ) e fração
de celulose no bagaço pré-tratado ( ). Considerou-se a massa
específica do BCA como sendo: ⁄ .
(4)
⁄ (5)
⁄ ⁄ (6)
Foram analisados onze cenários com diferentes variáveis de entrada,
conforme apresenta a Tabela Tabela 1.
14
Tabela 1 - Lista de condições experimentais analisadas na validação dos modelos matemáticos
Abreviatura Pré-
Tratamento
Complexo
enzimático
(Atividade
enzimática,
⁄ )
Carga
enzimática
( ⁄ )
Carga de
Sólidos
A1 Hidrotérmico 1 (108) 20 10%
A2 Hidrotérmico 1 (108) 20 15%
A3 Hidrotérmico 1 (108) 20 20%
A4 Hidrotérmico 2 (297,5) 20 10%
A5 Hidrotérmico 2 (297,5) 20 15%
A6 Hidrotérmico 2 (297,5) 20 20%
B1 H2SO4 1% e
NaOH 7% 1 (108) 40 15%
B2 H2SO4 1% e
NaOH 7% 1 (108) 40 20%
B3 Explosão a vapor
e lavagem 1 (108) 40 20%
B4 NaOH 7% 1 (108) 40 20%
C1* Explosão a vapor 1 (297,5) 22,4 10%
Fontes: (de Carli, 2011), (Correa, 2014) e (Souza, 2013)
O cenário C1 utilizou outro tipo de impelidor (“orelha de elefante”) na
etapa de hidrólise. Nos demais ensaios de hidrólise foi empregado um
impelidor do tipo turbina de pás planas, (Rushton). Com a finalidade de reduzir
a resistência difusional, e devido à validação cinética ter sido feita
posteriormente aos demais, só foi realizado o ajuste do modelo que melhor
representou estes cenários.
3.2. Avaliação econômica preliminar
A análise econômica foi baseada no fluxograma da Figura 6, para o
método SHF, com simulação rigorosa apenas da cinética enzimática e agitação
deste reator, logo a variável tempo reflete o tempo de hidrólise apenas.
15
Fig
ura
6 -
Flu
xo
gra
ma r
efe
rente
à a
ná
lise
eco
nôm
ica
efe
tua
da
Fonte
: A
cerv
o P
essoal
16
A partir de uma base de cálculo de uma tonelada (1000 kg) de bagaço
úmido (50% de umidade) in-natura, procede-se a etapa de pré-tratamento. O
rendimento mássico dessa etapa é calculado pela Equação 7. A composição
do BCA pré-tratado e a demanda de vapor da etapa, estão disponíveis em: de
Carli, 2011, Furlan, et al., 2013 e Souza, 2013, e são apresentados na
TabelaTabela 2.
⁄ (7)
Tabela 2 - Dados utilizados na simulação da etapa de pré-tratamento
Pré-Tratamento Celulose Hemicelulose Lignina
Rendimento
Mássico
Demanda
de Vapor
no PT
(kg)
Hidrotérmico 61,2% 5,9% 31,0% 66% 3291,5
H2SO4 1%
e NaOH 7% 75,2% 13,1% 12,4% 35% 1781,4
Explosão a
vapor e
lavagem
57,4% 6,1% 32,8% 59% 500,0
NaOH 7% 77,9% 10,9% 12,0% 36% 488,8
Explosão a
vapor 43,6% 12,5% 29,0% 59% 500,0
Fontes: de Carli, 2011, Furlan, et al., 2013 e Souza, 2013
A separação das frações sólida e líquida é considerada ideal: sem
perdas, mantém a composição do BCA pré-tratado e não requer gasto
energético.
Na hidrólise a cinética da reação enzimática é representada pelo modelo
com melhores ajustes na maioria dos casos analisados, considerando o custo
com enzimas para atingir a carga enzimática desejada. A solução tem massa
específica considerada constante igual a da água pura a 4°C ( ).
( )
⁄ (8)
(9)
Para a agitação, inicialmente foi escolhido o impelidor tipo pitched-blade
visto que apresenta consumo de potência significativamente menor do que o
17
tipo Rushton, ambos comparados em Pereira, et al., 2011. A modelagem do
consumo de potência para este tipo de impelidor segue as equações (10) a (14)
(Pereira, et al., 2011; Nagata, 1975), com o cálculo do gasto energético para a
fração do reator utilizada, representada pelas equações (15) a (17).
(
)
(
)
( ) (10)
( (
)
) (11)
(
)
(12)
( ) (13)
(14)
∫ ( )
(15)
⁄ (16)
(17)
Para isto, é necessário o conhecimento da viscosidade da suspensão,
das dimensões do reator e da frequência de rotação do impelidor. As
dimensões do reator e frequência de rotação são obtidas mantendo as relações
geométricas de Pereira, et al., 2011 ( ⁄ , ⁄ , ⁄ ,
, ), utilizando como critério de escalonamento a velocidade constante
na ponta do impelidor (equação (19)), visando um volume de aproximadamente
10 m³ com rotação tal que houvesse dados de viscosidade aparente
disponíveis em Correa, 2014. A viscosidade é obtida por um ajuste hiperbólico
da viscosidade em função da conversão, a partir de dados de Correa, 2014.
(18)
⁄ (19)
( )
(20)
⁄ (21)
Para o caso C1, pela indisponibilidade da viscosidade aparente na
rotação aplicada e de correlações para o número de potência para o impelidor
18
utilizado, decidiu-se ajustar o número de potência em função da conversão
(equação (22)), mantendo o reator nas dimensões empregadas nos outros
cenários.
( )
(22)
A separação posterior é considerada ideal, sem perdas ou consumo
energético e sem alteração da composição, com umidade da fração sólida
diferente do BCA in-natura (suposta agora em 80%). A fração sólida é
destinada para a caldeira enquanto a fração líquida vai para a concentração,
onde é fornecida a massa de vapor necessária para concentrar o caldo até o
necessário para a fermentação, e retirada a massa de vapor produzido no
último efeito do evaporador, dados esses presentes em (Furlan, et al., 2013)
em função do tipo de pré-tratamento, apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 - Dados utilizados na simulação da etapa de concentração
Pré-Tratamento Demanda de vapor
na concentração
(kg)
Quantidade de vapor
produzido no último
efeito (kg)
Hidrotérmico 4072,0 3235,4
H2SO4 1% e NaOH 7% 9500,1 8869,9
Explosão a vapor e
lavagem 2369,9 2167,2
NaOH 7% 3103,1 2819,2
Fonte: (Furlan, et al., 2013)
A fermentação é simulada por um rendimento em relação a
estequiometria ( ) de 90% (ECS, 2007), ao invés de uma
simulação baseada na modelagem cinética, por questão de simplicidade.
Analogamente, a destilação é simulada por uma fração recuperada de etanol
( ) de 99% (ECS, 2007) e uma demanda de vapor na borbotagem ( ) de
⁄ (Furlan, et al., 2013), para etanol hidratado.
⁄
(23)
⁄
(24)
19
(25)
(26)
(27)
Na caldeira a massa de vapor produzida é calculada pela equação (28),
através do rendimento do equipamento (80% segundo Turbines Info, 2011) e
da razão entre a energia transferida da combustão e a variação da entalpia
específica do fluido, realizada no equipamento (água a 92 bar, 105,7°C para
vapor a 66 bar, 530°C (Fiomari, et al., 2006): (
) ⁄ , (Smith, et al., 2005)). A massa de bagaço alimentada é
calculada pelo simulador, tal que o vapor produzido compense a massa de
vapor necessária para o resto do processo. A expressão para se computar o
poder calorífico inferior (PCI) a partir do superior (PCS), (31), é obtida de EPA,
2007, considerando ⁄ (Smith, et al., 2005). A modelagem
desta etapa considera a perda de massa e mudança de composição do
bagaço, devido ao consumo da celulose na hidrólise, (equações (29), (30) e (33))
e o bagaço como uma mistura ideal (propriedades da mistura correspondem à
média ponderada, em relação à composição, das propriedades dos
componentes puros (32)).
( )
(28)
( ) ( ) (29)
( ) (30)
( ) (31)
∑
(32)
{( )
(33)
∑
(34)
(35)
Por fim, na turbina a energia produzida é calculada pelo produto dos
rendimentos da turbina e do gerador ( (Turbines
20
Info, 2011)) e da variação de entalpia no equipamento (vapor a 66 bar, 530°C
para vapor saturado a 2,37 bar (Fiomari, et al., 2006):
( ) ⁄ , (Smith, et al., 2005)).
( ) (36)
(37)
O fluxo de caixa total, então, é a soma dos fluxos de caixa das outras
etapas.
(38)
O fluxo de caixa total da queima direta do bagaço na caldeira é calculado
com as mesmas equações da caldeira e da turbina, apresentadas
anteriormente.
Os custos de aquecimento do reator de hidrólise e resfriamento e aeração
da dorna de fermentação, assim como possível ganho com a venda da
levedura excedente são desconsiderados nesta análise.
Para converter os resultados (qualquer variável ) da base em tonelada
de bagaço na alimentação do pré-tratamento para tonelada de cana, deve-se
calcular a massa de bagaço disponível para a rota 2G (equação (39), com
(Cardona, et al., 2009) e (Furlan, et
al., 2013)) e a massa consumida (equação (41), logo se pode calcular o
número de toneladas de cana necessárias para igualar esse resultado.
(39)
( ) (40)
(41)
(42)
(43)
Também foi analisada a possibilidade da utilização de palha em conjunto
com bagaço na alimentação da caldeira, visando aumentar a produção de
etanol. Como a palha é usada na cobertura do solo, deve-se determinar a
fração da palha disponível (utilizando ⁄ (Martins, et al.,
1999), ⁄ (CONAB, 2012) e
(Lamonica, 2007)):
21
⁄ (44)
A massa de palha alimentada na caldeira, foi atrelada a massa de bagaço
total utilizado, de acordo com as proporções destes na cana e disponibilidade
de uso:
(45)
A massa de vapor produzido é calculada pela Equação (6).
(
( )
( )) (46)
Com calculado pelas equações (31)-(35), utilizando a composição de
44,26% de celulose, 31,10% de hemicelulose, 19,01% de lignina (Santos, et al.,
2013) e 50% de umidade (Lamonica, 2007).
4. Resultados e Discussão
4.1. Validação cinética
Os parâmetros cinéticos ajustados para os três modelos estudados, e
para cada um dos casos analisados estão dispostos nas Tabelas Tabela 4,
Tabela 5 e Tabela 6. As curvas ajustadas foram plotadas em contraste aos
dados experimentais nas Figuras Figura 7 a Figura 16.
22
Tabela 4 - Parâmetros cinéticos ajustados para o modelo de Michaelis-Menten com inibição competitiva para meio pseudo-homogêneo
Caso ( ⁄ ) (
⁄ ) (
⁄ )
A1 1,548 10,481 0,0096
A2 0,933 10,822 0,0095
A3 0,504 10,905 0,0095
A4 1,581 10,264 0,032
A5 1,209 10,026 0,061
A6 0,500 10,303 0,097
B1 0,500 9,591 1,034
B2 1,610 9,597 0,184
B3 1,060 10,999 0,186
B4 1,622 9,586 0,117
Fonte: Acervo Pessoal
Tabela 5 - Parâmetros cinéticos ajustados para o modelo de Michaelis-Menten com inibição competitiva para meio heterogêneo
Caso ( ⁄ ) ( ⁄ ) (
⁄ )
A1 9,208 10,466 0,143
A2 4,650 10,164 0,106
A3 4,466 10,498 0,045
A4 9,583 10,276 1,377
A5 9,513 10,224 1,324
A6 9,138 10,058 0,616
B1 9,583 10,276 1,377
B2 9,906 10,503 0,555
B3 9,894 10,733 0,438
B4 9,888 10,882 0,364
Fonte: Acervo Pessoal
23
Tabela 6 - Parâmetros cinéticos ajustados para o modelo de Chrastil
Caso ( ⁄ )
A1 1,231 0,372
A2 0,175 0,344
A3 0,494 0,589
A4 11,390 0,328
A5 12,741 0,426
A6 5,655 0,476
B1 15,929 0,620
B2 6,333 0,597
B3 7,072 0,661
B4 3,231 0,539
C1 26,149 0,492
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 7 - Ajuste aos dados no caso A1
Fonte: Acervo Pessoal
0
5
10
15
20
25
0 10 20 30 40 50 60 70
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
24
Figura 8 - Ajuste aos dados no caso A2
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 9 - Ajuste aos dados no caso A3
Fonte: Acervo Pessoal
0
5
10
15
20
25
30
0 10 20 30 40 50 60 70
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
0
5
10
15
20
25
30
0 10 20 30 40 50 60 70
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
25
Figura 10 - Ajuste aos dados no caso A4
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 11 - Ajuste aos dados no caso A5
Fonte: Acervo Pessoal
0
10
20
30
40
50
60
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
26
Figura 12 - Ajuste aos dados no caso A6
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 13 - Ajuste aos dados no caso B1
Fonte: Acervo Pessoal
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
27
Figura 14 - Ajuste aos dados no caso B2
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 15 - Ajuste aos dados no caso B3
Fonte: Acervo Pessoal
0
15
30
45
60
75
90
105
120
0 5 10 15 20 25 30 35
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 10 20 30 40 50 60
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
28
Figura 16 - Ajuste aos dados no caso B4
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 17 - Ajuste aos dados no caso C1
Fonte: Acervo Pessoal
Comparando os modelos analisados pelos ajustes e pelo coeficiente de
determinação (r²), apresentado na Tabela Tabela 7, percebe-se que o modelo
0
13
25
38
50
63
75
88
100
113
125
0 10 20 30 40 50
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Ajuste - MMi
Ajuste - MMh
Ajuste - Chrastil
Experimental
0
10
20
30
40
50
0 20 40 60 80 100
Co
nce
ntr
ação
de
glic
ose
(g/
L)
tempo (h)
Experimental
Ajuste - Chrastil
29
de Chrastil foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais na maioria dos
casos vistos. Assim, este modelo foi escolhido para representar a cinética do
processo na segunda parte do trabalho.
Tabela 7 - Comparação entre os modelos pelo coeficiente de determinação (r²)
MMi MMh Chrastil Melhor
Ajuste
A1 0,951 0,951 0,961 Chrastil
A2 0,953 0,953 0,973 Chrastil
A3 0,951 0,950 0,954 Chrastil
A4 0,973 0,971 0,983 Chrastil
A5 0,977 0,978 0,974 MMh
A6 0,969 0,969 0,967 MMi
B1 0,941 0,930 0,935 MMi
B2 0,990 0,987 0,993 Chrastil
B3 0,982 0,979 0,994 Chrastil
B4 0,978 0,976 0,983 Chrastil Fonte: Acervo Pessoal
4.2. Análise econômica preliminar
4.2.1. Reologia e escalonamento do reator
Foi escolhido o diâmetro do reator (T) de 2 m, resultando em (mantidas as
proporções de Pereira, et al., 2011): diâmetro do impelidor (D) 0,84 m,
espessura do impelidor (W) 0,185 m, altura do reator (H) 2 m, volume do reator
6,28 m³ e frequência de rotação (N) 150 rpm. Nessa rotação, com os dados de
(Correa, 2014), foi ajustado o modelo hiperbólico da equação (20), com o
parâmetro obtido por extrapolação do polinômio de segunda ordem
(Equação (47)), ajustado da curva , no software Microsoft Excel ®. Os
outros parâmetros foram obtidos por ajuste no próprio EMSO. Os parâmetros
obtidos são expostos na Tabela 8 e o ajuste na Figura 18.
(47)
30
Tabela 8 - Parâmetros ajustados do modelo hiperbólico em relação aos dados reológicos
Parâmetro Valor
( ) 2488,59
1,192
0,204
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 18 - Ajuste ao modelo hiperbólico dos dados reológicos
Fonte: Acervo Pessoal
O ajuste realizado para o caso C1, como descrito na metodologia, e os
parâmetros obtidos são apresentados, respectivamente, na Tabela 9 e Figura
19.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00%
ln(μₒ/μ
)
Conversão (%)
Experimental
Ajuste Hiperbólico
31
Figura 19 - Ajuste ao modelo hiperbólico dos dados de potência consumida
Fonte: Acervo Pessoal
Tabela 9 - Parâmetros ajustados do modelo hiperbólico em relação aos dados de potência consumida
Parâmetro Valor
0,150
1,097
0,056
Fonte: Acervo Pessoal
4.2.2. Análise do cenário presente
Utilizando o modelo de Chrastil, com os parâmetros ajustados, para
representar a cinética, a metodologia descrita anteriormente e com os
parâmetros econômicos: Preço da enzima tipo 1 ( ) US$ 2,25/ kg, preço
da enzima tipo 2 US$ 3,50 /kg, preço do etanol hidratado ( ) R$ 1,17/L
(05 de Outubro de 2013, (UDOP, 2013)), preço da energia ( ) R$
102,41/MWh (ANEEL, 2011), câmbio do dólar R$ 2,21/US$ (05 de Outubro de
2013), foi feita a avaliação do soma dos fluxos de caixa (SFC) em base de US$
por tonelada de cana, apresentado na Figura 20.
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
00% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
ln(Npₒ/Np)
Conversão (%)
Experimental
Ajuste Hiperbólico
32
Figura 20 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do tempo de hidrólise
Fonte: Acervo Pessoal
Através dessa análise, percebe-se que apenas os casos que utilizam a
enzima tipo 2 (A4 a A6) apresentam perspectiva de lucro (SFC > R$ 0,00/TC),
mas mesmo assim, apenas no caso A5 com tempo de hidrólise de
aproximadamente 250 h, há perspectiva de lucro superior ao da queima direta
do bagaço para geração de energia.
Nota-se também a grande vantagem da utilização da enzima do tipo 2, já
que, apesar do preço mais elevado, apresenta melhores resultados na etapa
de hidrólise, os quais geram ganhos econômicos. A utilização de uma maior
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Som
a d
os
Flu
xos
de
Cai
xa (
US$
/TC
)
Tempo de hidrólise (h)
A1 A2 A3 A4
A5 A6 B1 B2
B3 B4 C1 Queima direta
33
carga enzimática inviabiliza o processo, visto que os casos que utilizaram
⁄ (B1 a B4) tiveram os piores resultados. Além disso, evidenciou-
se a limitação da transferência de massa em altas cargas de sólidos,
observando os piores resultados dos casos utilizando 20%, comparados aos
casos utilizando 15% (A6 contra A5, A3 contra A2 e B2 contra B1), e também a
maior eficiência do pré-tratamento com H2SO4 1% e NaOH 7% (B1 e B2), em
comparação aos demais do grupo B.
Não é possível comparar o tipo de impelidor, visto que não há dois
cenários em que este fator seja a única diferença, entretanto mantida a alta
conversão em baixo tempo, a utilização do impelidor do tipo “orelha de
elefante” pode ser vantajosa mudando os tipos de enzima e pré-tratamento e
da carga enzimática empregados.
Como o caso A5 obteve os melhores resultados foi escolhido para as
análises posteriores. A Figura 21 apresenta outros dados relevantes para este
caso.
Figura 21 - Parâmetros relevantes para o caso A5
Fonte: Acervo Pessoal
Estes dados apontam aspectos importantes do processo como a
relativamente baixa produção de etanol, devido ao consumo de energia e
30,00
31,00
32,00
33,00
34,00
35,00
36,00
37,00
38,00
39,00
40,00
1,00
1,25
1,50
1,75
2,00
2,25
2,50
2,75
3,00
3,25
3,50
3,75
4,00
4,25
4,50
4,75
5,00
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Ener
gia
Pro
du
zid
a (k
Wh
/TC
)
Acr
ésci
mo
da
pro
du
ção
de
eta
no
l (L/
TC)
Raz
ão m
ássi
ca d
e B
G p
ara
cald
eir
a/B
G p
ara
rota
2G
(k
g/kg
)
Tempo de hidrólise (h)
Acréscimo de Etanol (L/TC)
Razão (BG para Caldeira)/(BGpara 2G)Energia Gerada (kWh/TC)
Energia Gerada: QueimaDireta (kWh/TC)
34
desvio de bagaço para caldeira com a finalidade de suprir esta demanda. Por
exemplo, para 100 h de hidrólise e 66% de conversão, há uma produção de
3,73 L de etanol por tonelada de cana (TC) e a razão de BG para caldeira
sobre BG para rota 2G é 1,59, ou seja, do total disponível seriam destinados
38,6% para a rota 2G e o restante queimado para atender a demanda
energética desta rota e para este mesmo tempo de hidrólise, a redução de
energia produzida é de 8,2 kWh/TC.
4.2.3. Análise de sensibilidade aos parâmetros econômicos
Para o caso A5, foi avaliada a soma dos fluxos de caixa variando o preço
da enzima de US$ 1,50/kg a US$5,50/kg e do etanol de US$ 0,35/L a US$
0,75/L, apresentados respectivamente nas Figuras Figura 22 e Figura 23.
Figura 22 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço da enzima e da conversão para o caso A5
Fonte: Acervo Pessoal
35
Figura 23 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço do etanol e da conversão para o caso A5
Fonte: Acervo Pessoal
Através destas análises pode-se atingir o patamar de viabilidade (Soma
dos fluxos de caixa acima da queima direta US$ 1,84/TC), por exemplo, com
preço da enzima em US$ 2,50/kg (redução de 28,6% em relação ao cenário
analisado) e conversão da celulose de 60%, ou preço do etanol em US$
0,70/L(aumento de 32,2% em relação ao cenário analisado) e conversão de
65%.
4.2.4. Análise do cenário presente utilizando a palha da cana
Utilizando os mesmos parâmetros de 4.2.2, verificando apenas as
condições de A5, os resultados obtidos com o uso da palha na caldeira são
apresentados na Figura 24, e o volume de etanol produzido é apresentado na
Figura 25.
36
Figura 24 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do tempo de hidrólise
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 25 - Volume de etanol produzido
Fonte: Acervo Pessoal
Neste cenário, o objetivo de ampliar a produção de etanol, através do uso
da palha, é atingido, visto que mantem-se o balanço de energia do processo
reduzindo a competição entre o etanol 2G e a energia elétrica. A soma dos
fluxos de caixa alcança valores razoavelmente bons em baixo tempo de
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
6
7
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250
Som
a d
os
Flu
xos
de
Cai
xa (
US$
/TC
)
tempo de hidrólise (h)
A5
Queima Direta
0
2
4
6
8
10
12
0 50 100 150 200 250
Vo
lum
e d
e e
tan
ol p
rod
uzi
do
(L/
TC)
tempo de hidrólise (h)
37
hidrólise, no entanto economicamente, ainda é mais viável queimar todo o
bagaço e a palha para gerar energia.
4.2.5. Análise de sensibilidade aos parâmetros econômicos com o uso
da palha
A análise neste cenário foi feita similarmente a que foi feita em 4.2.3, os
resultados são apresentados nas Figuras Figura 26 e Figura 27.
Figura 26 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço da enzima e da conversão para o caso A5
Fonte: Acervo Pessoal
38
Figura 27 - Soma dos Fluxos de Caixa em função do preço do etanol e da conversão para o caso A5
Fonte: Acervo Pessoal
Em ambos os casos (variando preço da enzima e do etanol), nota-se
uma dificuldade em atingir o patamar da queima direta (US$ 6,45/TC),
evidenciando que com o uso da palha, apesar do possível lucro com baixo
tempo de hidrólise e do aumento da produção de etanol (em relação ao cenário
onde apenas se utiliza o bagaço na caldeira), a viabilidade econômica torna-se
de difícil obtenção.
39
5. Conclusões
Neste trabalho, a validação cinética foi concluída com relativamente alta
concordância com os dados experimentais; a análise econômica mostrou
inviabilidade deste processo em relação à produção de energia elétrica apenas,
no cenário estudado, devido principalmente ao gasto com as enzimas, mas
com potencial viabilidade com possíveis variações nos preços da enzima e do
etanol, e baixa produção de etanol em razão da competição entre a caldeira e a
rota 2G pelo bagaço a fim de manter o balanço energético; o uso da palha
como combustível da caldeira reduz esta competição, aumentando a produção
de etanol, contudo a viabilidade econômica se torna mais distante.
Fica evidente que o domínio tecnológico do processo é importante e que
a viabilidade econômica sofre forte influência dos preços dos produtos, o etanol
e a energia elétrica, além do insumo, pool enzimático. O desenvolvimento
tecnológico do processo, com o aumento da eficiência no processo de
conversão da celulose a glicose também é fator preponderante.
40
6. Bibliografia
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