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DIAGNÓSTICO DE SINTOMAS MUSCULOESQUELÉTICOS EM ELETRICISTAS DE UMA CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Victor Manuel de Almeida Seabra de Vasconcelos (UFSC) Elaine Cristina Casagrande Zanette (UDESC) José Luiz Fonseca da Silva FIlho (UDESC) Eugenio Andres Diaz Merino (UFSC) Resumo Este artigo tem por objetivo estudar os sintomas musculoesqueléticos dos eletricistas de uma concessionária de distribuição de energia elétrica de Santa Catarina. O trabalho muscular em situações ocupacionais pode causar fadigas e dores, deevido a esforços prolongados e repetitivos, ocasionando distúrbios musculoesqueléticos. Como comportamento preventivo para manter a saúde do trabalhador é necessário diagnosticar previamente os sintomas corporais. Buscou-se identificar onde ocorre a maior proporção de dores, desconfortos e formigamentos em diferentes regiões do corpo. Neste trabalho foi aplicado o questionário nórdico padronizado de sintomas músculo-esqueléticos, em sua versão em português, um instrumento de avaliação validado internacionalmente, com uma amostra de 19 eletricistas da unidade operacional que atende o município de Florianópolis/SC e regiões próximas. O instrumento avalia dores e suas interferências na vida do trabalhador em nove regiões anatômicas: região cervical, ombros, região torácica, cotovelos, punhos/mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos, tornozelos/pés. A pesquisa tem um enfoque bibliográfico-exploratório, aliada a uma abordagem quantitativa e qualitativa. Os resultados indicaram que os ombros, o pescoço a parte superior das costas são identificados com as regiões anatômicas com maior incidência de sintomas musculoesqueléticos. Palavras-chaves: sintomas musculoesqueléticos; questionário nórdico padronizado; ergonomia 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

DIAGNÓSTICO DE SINTOMAS … · a saúde, a segurança e o bem-estar do eletricista, em seu ambiente de trabalho. Os eletricistas exercem atividades em postos de trabalho …

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DIAGNÓSTICO DE SINTOMAS

MUSCULOESQUELÉTICOS EM

ELETRICISTAS DE UMA

CONCESSIONÁRIA DE DISTRIBUIÇÃO

DE ENERGIA ELÉTRICA

Victor Manuel de Almeida Seabra de Vasconcelos

(UFSC)

Elaine Cristina Casagrande Zanette

(UDESC)

José Luiz Fonseca da Silva FIlho

(UDESC)

Eugenio Andres Diaz Merino

(UFSC)

Resumo Este artigo tem por objetivo estudar os sintomas musculoesqueléticos

dos eletricistas de uma concessionária de distribuição de energia

elétrica de Santa Catarina. O trabalho muscular em situações

ocupacionais pode causar fadigas e dores, deevido a esforços

prolongados e repetitivos, ocasionando distúrbios

musculoesqueléticos. Como comportamento preventivo para manter a

saúde do trabalhador é necessário diagnosticar previamente os

sintomas corporais. Buscou-se identificar onde ocorre a maior

proporção de dores, desconfortos e formigamentos em diferentes

regiões do corpo. Neste trabalho foi aplicado o questionário nórdico

padronizado de sintomas músculo-esqueléticos, em sua versão em

português, um instrumento de avaliação validado internacionalmente,

com uma amostra de 19 eletricistas da unidade operacional que atende

o município de Florianópolis/SC e regiões próximas. O instrumento

avalia dores e suas interferências na vida do trabalhador em nove

regiões anatômicas: região cervical, ombros, região torácica,

cotovelos, punhos/mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos,

tornozelos/pés. A pesquisa tem um enfoque bibliográfico-exploratório,

aliada a uma abordagem quantitativa e qualitativa. Os resultados

indicaram que os ombros, o pescoço a parte superior das costas são

identificados com as regiões anatômicas com maior incidência de

sintomas musculoesqueléticos.

Palavras-chaves: sintomas musculoesqueléticos; questionário nórdico

padronizado; ergonomia

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

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1. INTRODUÇÃO

A Ergonomia, que trata das interações entre os seres humanos e os outros elementos de

um sistema, estuda a adaptação do trabalho ao homem. Tanto nos aspectos do ambiente físico

do trabalho, como nos fatores psicológicos e sociais. Esses estudos procuram desenvolver o

bem–estar do trabalhador e, por conseqüência, melhores resultados ao ser humano e às

organizações (IIDA, 1997; IEA, 2000; KROEMER, GRANDJEAN, 2005).

Os estudos ergonômicos em diversos tipos de trabalho possibilitam atender aos

pesquisadores em seus anseios de melhorar o desempenho dos trabalhadores, juntamente com

melhorias na sua saúde e segurança, pois o uso do corpo de maneira ergonomicamente

incorreta pode trazer diversos prejuízos à saúde dos seres humanos. Assim se visualizam os

benefícios de conhecer e analisar o trabalho em suas diversas dimensões.

A ergonomia contribui para solucionar grande número de problemas sociais envolvendo

saúde, segurança, conforto e eficiência dos trabalhadores. Desta forma, é possível obter uma

redução da ocorrência de acidentes com os trabalhadores quando consideradas

adequadamente suas capacidades e limitações nas etapas de projeto do trabalho e de seu

ambiente, obtendo-se ganhos de eficiência na produção. (DUL et al, 1995).

A energia elétrica é um bem vital para a sociedade. Para garantir a continuidade do

fornecimento desse bem é necessário o trabalho de muitos profissionais, entre eles o

eletricista. A operação e manutenção do sistema elétrico brasileiro dependem intensivamente

do trabalho dos eletricistas. É grande a importância do trabalho destes profissionais para a

sociedade. As condições ambientais em que trabalha, em geral, são muito difíceis.

Nesta pesquisa pretende-se identificar os problemas no trabalho que podem interferir na

saúde do eletricista de forma a auxiliar na busca por uma gestão do seu trabalho de modo mais

seguro.

Considerando o diagnóstico de índices elevados de acidentes do trabalho (Funcoge,

2008), apresenta-se uma emergente necessidade de estudos dos fatores que podem prejudicar

a saúde, a segurança e o bem-estar do eletricista, em seu ambiente de trabalho. Os eletricistas

exercem atividades em postos de trabalho que exigem a utilização de equipamentos e

materiais específicos, com constrangimentos ergonômicos nos esforços físicos, no manuseio

de materiais, no enfrentamento de grandes alturas e na necessidade, freqüente, de manter-se

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em pé estaticamente ou na condição dinâmica, como corroboram Guimarães, Fischer e

Bittencourt (2004).

Diante de todos esses fatores, motivou-se o presente estudo, buscando a investigação de

sintomas relacionados a dores e desconfortos musculoesqueléticos nos eletricista, que podem

incutir sobre sua saúde.

2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste estudo é identificar os sintomas musculoesqueléticos dos

eletricistas em nove regiões anatômicas do seu corpo: região cervical, ombros, região torácica,

cotovelos, punhos/mãos, região lombar, quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés.

Como objetivo específico pretende-se verificar as dores e os desconfortos por diferentes

regiões do corpo e associar com o perfil do trabalho do eletricista.

3. JUSTIFICATIVA

A busca de meios para proporcionar o máximo de conforto, segurança que garantam as

condições para um desempenho eficiente dos trabalhadores, adequando as condições de

trabalho às características dos trabalhadores é estabelecida em regulamentos e normas, como a

NR17 (Ministério do Trabalho e Emprego, 1990)

O trabalho e a produção nas organizações são importantes para o desenvolvimento

individual e da sociedade. A abordagem da ergonomia possibilita a melhoria das condições de

trabalho e a preservação da saúde dos trabalhadores levando a uma transformação da relação

homem-trabalho.

Uma ação ergonômica não se limita simplesmente a oferecer conforto: sua importância

está também nos métodos que transformam essas considerações sobre as técnicas de aplicação

e uso, colocando a saúde do trabalhador em primeiro plano (GUÉRIN et al, 2001).

O setor elétrico brasileiro apresenta um índice elevado de acidentes com consequências

graves e fatais. No relatório estatístico de acidentes de trabalho do setor elétrico brasileiro de

2008, o número total de acidentes do trabalho registrados ocorridos em empresas do setor

elétrico foi de 851 acidentes com afastamento de empregados próprios, 1.589 acidentes com

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afastamentos de empresas contratadas, num total de 77 empresas do setor (FUNDAÇÃO

COGE, 2008).

As posturas assumidas na realização das tarefas, o levantamento e o transporte de

cargas, além de outros fatores, evidenciados no ambiente de trabalho, muitas vezes expõem o

trabalhador a uma carga bem acima de sua capacidade. Associado às condições desfavoráveis

do trabalho, está o perfil deste trabalhador quem, em sua maioria, desconhece as normas de

segurança previstas em lei. Além disso, as condições inseguras e desconfortáveis na execução

de tarefas funcionam como fatores de pressão e aumento da carga de trabalho estando,

invariavelmente, associadas a acidentes e doenças ocupacionais (AGUIAR, 1996).

As condições relatadas acima reforçam a necessidade do desenvolvimento de pesquisas

e estudos ergonômicos do setor elétrico que possam diagnosticar a realidade do trabalho e da

situação dos eletricistas, de modo a colaborar com relatos científicos na busca de ferramentas

para aprimoramento e desenvolvimento pessoal e profissional desta área ocupacional.

A função do trabalho do eletricista é complexa, pois conforme deliberação 187 de 1997

(Celesc, 1997) as atividades dos eletricistas são diversas, entre elas: fazer inspeção visual da

rede de distribuição para localizar falhas; identificar falhas em componentes do sistema de

distribuição até 34,5 KV, em componentes da entrada de energia em locais aéreos e

subterrâneos; testar transformadores de distribuição com rede energizada; efetuar medições

instantâneas de corrente e tensão, entre várias outras.

Poucos eletricistas exercem a função durante todo período de sua vida de trabalho. Um

grande número deles apresenta lesões musculoesqueléticas após alguns anos de exposição à

atividade, principalmente devido ao uso excessivo de força. A atividade dos eletricistas

apresenta também riscos associados ao desenvolvimento de distúrbios osteomusculares

relacionados ao trabalho (DORT) devido à exposição a tarefas pesadas, posturas inadequadas,

manuseio de materiais e às condições climáticas variáveis por realizarem trabalho de campo

(SLEELEY, MARKLIN apud MORIGUCHI, 2008).

Esta pesquisa vem colaborar para os estudos sobre sintomas musculoesqueléticos em

eletricistas, subsidiando informações para a redução de acidentes e afastamentos do trabalho.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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Este estudo é caracterizado por ser bibliográfico e exploratório. Utiliza-se ainda de uma

amostragem representativa dos eletricistas de uma unidade operacional da Celesc,

concessionária de distribuição de energia elétrica em SC. Assume-se uma abordagem

quantitativa e qualitativa sobre as características do perfil e a percepção dos eletricistas.

O instrumento de coleta utilizado é o Questionário Nórdico Padronizado, validado

internacionalmente na versão em português, apresentado por Barros, Alexandre (2003).

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Há vários critérios para avaliar a adequação de um posto de trabalho. Entre eles se

incluem o tempo gasto na operação e o índice de erros e acidentes. Portanto, o melhor critério,

do ponto de vista ergonômico é a postura e o esforço físico exigido dos trabalhadores,

identificando-se os principais pontos de concentração de tensões, que tendem a provocar

dores nos músculos e tendões (IIDA, 1993).

Assim neste trabalho, serão verificados quais os principais pontos de concentração de

tensão muscular nas regiões anatômicas do corpo do eletricista.

A postura de trabalho do eletricista, quando no poste, em pé, implica em um trabalho

estático da musculatura dos membros inferiores, fonte de desconforto e dor, sendo as costas a

região mais sobrecarregada. Os eletricistas se posicionam semi-sentados para executar o

trabalho nas redes e, assim, apresentam problemas de acomodação dos membros inferiores,

dos pés principalmente, resultantes das características do poste e, em particular, dos sistemas

de subida por espora ou escada. As tarefas dos eletricistas caracterizam-se por adotarem

posturas desconfortáveis, e até de risco, tais como adução e abdução de braços e desvio do

tronco, descrevem Guimarães, Fischer e Bittencourt (2004).

A descrição na posição do trabalho do eletricista no poste identifica fortes cargas na

coluna e desconfortos posturais, que podem estabelecer sofrimento corporal e psicológico. As

melhorias na gestão do trabalho podem ser alcançadas adequando as ferramentas no posto de

trabalho, de modo a criar uma melhor condição para a sua execução. As melhorias nas

condições de saúde e segurança do trabalhador favorecem o desempenho profissional de da

organização.

5.1. A importância da postura de trabalho do eletricista

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Devido à importância dos esforços físicos realizados nas atividades dos eletricistas, o

conhecimento sobre postura contribui para um melhor desempenho ocupacional.

A postura é definida como a maneira de permitir o melhor funcionamento das estruturas

corporais, com o melhor aproveitamento das forças e o mínimo desgaste, seja na posição

ereta, sentada ou em decúbito (AGUIAR, 1996).

Para se definir postura, de acordo com Langlade (1975), devem-se levar em conta

fatores multivariados como: problemas de conservação de um equilíbrio total ou equilíbrios

parciais; luta contra a força da gravidade; e interação psicossomática (hábitos, meio ambiente,

atitudes e movimentos), para constituir o que se denomina postura (MORO, 2000).

Não existe uma postura ideal, mas sim várias posições que podem ser assumidas, desde

que se preserve o equilíbrio corporal com a manutenção das partes componentes do corpo

posicionadas e alinhadas entre si, de forma a contrariar a ação da força da gravidade e exigir

uma menor ação muscular do corpo do indivíduo (MORO, 2000).

As posições assumidas pelos eletricistas durante o trabalho dependem de vários fatores,

e são estas que farão o eletricista buscar, permanentemente, o equilíbrio corporal.

5.2. Esforço físico: sistema de subida e descida do poste

O trabalho dos eletricistas requer esforços físicos quando da subida e descida do poste,

os quais são executados com o auxílio de esporas, escadas de madeira ou escadas giratórias

acopladas a veículos.

Os problemas identificados com eletricistas relacionam-se com o esforço físico, trabalho

estático de membros superiores associados a uso de força, a postura de trabalho e as posturas

resultantes dos gestos de manipulação e preensão de componentes e/ou por dificuldades do

campo de visão (GUIMARÃES, FISCHER E BITTENCOURT, 2004; FISCHER, 2005)

As esporas são adequadas somente aos postes de madeira e a escada tanto aos de

madeira quanto os de concreto. A utilização de esporas cria uma situação de desconforto,

extenuante, principalmente para os mais velhos e que impõe um risco maior. A escada

também exige esforço principalmente devido às posturas assimétricas adotadas na subida e

descida. O transporte manual da escada singela até o local do trabalho é desgastante para os

eletricistas (GUIMARÃES, FISCHER E BITTENCOURT, 2004; FISCHER, 2005).

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Estas descrições demonstram a necessidade de conhecer o quanto de esforços físicos os

eletricistas estão submetidos para desempenhar as suas funções de maneira eficaz no trabalho.

5.3. Trabalho muscular estático e dinâmico – influências para o eletricista

Existem dois tipos de trabalho muscular: o dinâmico (com movimentos) e o estático

(sem movimentos). O trabalho dinâmico caracteriza-se pela alternância de contração e

extensão muscular, portanto, por tensão e relaxamento. O trabalho estático, ao contrário,

caracteriza-se por um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente

implica um trabalho de manutenção de postura (KROEME, GRANDJEAN, 2005).

Durante um esforço estático grande, os vasos sanguíneos são pressionados pela pressão

interna do tecido muscular, de forma a promover uma forte redução do fluxo sanguíneo pelo

músculo. Por outro lado, durante esforço dinâmico (como quando se caminha), o músculo age

como uma bomba sobre a circulação sanguínea: a contração expulsa o sangue dos músculos,

enquanto que o relaxamento subseqüente favorece o influxo de sangue renovado. Por este

mecanismo, a circulação do sangue é aumentada em várias vezes. No trabalho dinâmico, o

músculo recebe um grande afluxo de sangue, obtendo, assim, o açúcar de alta energia e o

oxigênio, enquanto que os resíduos formados são removidos. Em contraste, o músculo que

está realizando trabalho estático sofre uma grande redução das quantidades de açúcares e

oxigênio, além do que, talvez, seja o maior prejuízo, os resíduos não são retirados. Assim, os

dois tipos de esforço muscular afetam de modo diferenciado o suprimento de sangue para a

musculatura em trabalho. Por esta razão, não é possível manter esforço estático por um longo

período. A dor obriga a interromper o trabalho. Por outro lado, o trabalho dinâmico, desde que

realizado com um ritmo adequado, pode ser realizado por um longo período, sem fadiga

(KROEME, GRANDJEAN, 2005).

A fadiga muscular aparece em trabalho estático tão mais rapidamente quanto maior for a

força exercida, ou seja, quão maior for a tensão no músculo. Isto pode ser expresso em termos

de relação entre a duração máxima de uma contração muscular e a força empregada, conforme

foi sistematicamente estudado por Moltech (1963), Rohmert (1960) e Monod (1967).

Muitos especialistas acreditam que um trabalho pode ser mantido por várias horas por

dia, sem sintomas de fadiga, se a força exercida não exceder 10% da força máxima do

músculo envolvido. O componente estático do esforço combinado assume maior importância

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para a fadiga postural, ao passo que os músculos e tendões movendo os dedos podem

experienciar esforços repetitivos. Existe um componente estático em quase todas as formas de

trabalho físico (KROEME, GRANDJEAN, 2005).

5.4. Fadiga localizada e problemas musculoesqueléticos: reversíveis e

persistentes

Mesmo o trabalho muscular estático moderado pode provocar fadiga localizada nos

músculos envolvidos, e pode evoluir para um quadro de dores insuportáveis. Se os esforços

excessivos, tanto estáticos quanto dinâmicos, forem repetidos durante períodos mais longos,

pode ocorrer um quadro de dores também nas articulações, nos tendões e em outros tecidos.

Em suma, os esforços prolongados e repetitivos podem gerar desgastes e lesões das

articulações, ligamentos e tendões.

Hoje, o conjunto de informações disponíveis, permite concluir que esforços estáticos

excessivos e repetitivos estão associados ao aumento do risco de:

inflamação nas articulações devido ao estresse mecânico;

inflamação nos tendões ou nas extremidades dos tendões (tendinites ou tenossinovite);

inflamação nas bainhas dos tendões;

processos crônicos degenerativos, do tipo artrose nas articulações;

espasmos musculares dolorosos (cãibras);

doenças dos discos intervertebrais (KROEME, GRANDJEAN, 2005).

Estes sintomas de sobrecarga podem ser divididos em dois grupos: problemas

reversíveis e persistentes. Os sintomas reversíveis são de curta duração. As dores são

predominantemente localizadas na musculatura e nos tendões e desaparecem assim que a

carga é retirada. Trata-se de dores de fadiga. Os problemas persistentes também são

localizados nos músculos e tendões, mas também afetam as articulações e os tecidos

adjacentes. As dores não desaparecem, continuam após o trabalho ser interrompido. Os

sintomas persistentes são atribuídos aos processos inflamatórios e degenerativos nos tecidos

sobrecarregados. Os trabalhadores mais velhos estão mais propensos a tais problemas. Se os

problemas musculoesqueléticos persistem durante vários anos, podem piorar e levar a

inflamações crônicas, especialmente dos tendões e das bainhas dos tendões, e até à

deformação das articulações (KROEME, GRANDJEAN, 2005).

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As exposições levam a compreensão do processo de desenvolvimentos de problemas

reversíveis e persistentes no sistema musculoesquelético que podem ocorrer com

trabalhadores que executam trabalhos musculares, como os eletricistas. Por isto deve-se

oferecer atenção aos sintomas de dores, desconfortos e formigamentos nas diferentes regiões

anatômicas do indivíduo.

6. INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO UTILIZADO

Para que se possa garantir a qualidade dos instrumentos de avaliação adaptados,

recomenda-se que normas internacionais sejam seguidas quando da realização desse processo.

O emprego de uma metodologia aceita pela literatura científica permite a comparação dos

dados obtidos em diferentes idiomas quando da utilização desses instrumentos.

Neste trabalho foi adotado como instrumento de avaliação na sua versão para o

português brasileiro do Questionário Nórdico Padronizado, que permite a identificação de

distúrbios musculoesqueléticos em estudos epidemiológicos e que também pode ser utilizada

como um instrumento para a análise ergonômica do ambiente de trabalho e de equipamentos.

A utilização consagrada que este questionário vem tendo em diferentes contextos de

saúde ocupacional para uma variedade de populações o recomenda como adequado na área de

saúde ocupacional para avaliar amplos ambientes de trabalho de uma forma confiável, rápida

e econômica.

A utilização desta versão para o português brasileiro do Questionário Nórdico

Padronizado também foi escolhida por ser facilmente compreendida e aplicada rapidamente,

oferecendo confiabilidade substancial (BARROS, ALEXANDRE, 2003).

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QUESTIONÁRIO NÓRDICO PADRONIZADO

VERSÃO EM PORTUGUÊS

F

Fonte: BARROS, ALEXANDRE (2003).

6.1. Caracterização dos Sujeitos

A pesquisa, com uma abordagem quantitativa e qualitativa, utilizou como amostra

representativa 19 trabalhadores eletricistas de um universo de 40 eletricistas de uma unidade

operacional da concessionária de distribuição de energia elétrica que atendem o município de

Florianópolis – SC e regiões próximas.

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Em relação à função dos trabalhadores eletricistas, diante da diferenciação das

atividades e movimentos que estes executam, os mesmos agrupam-se em diferentes equipes

de trabalho:

a) Eletricista de Plantão-Emergência (EP), 12 eletricistas, 63,2%: eletricistas que atuam

em atendimento de emergência em redes de alta e baixa tensão, como abalroamentos,

troca de transformadores, reparos em redes e todas as atividades necessárias a serem

executadas para atender a emergência;

b) Eletricista Comercial (EC), 1 eletricista, 5,3%: eletricistas responsáveis pela ligação

e/ou desligamento do fornecimento de energia a consumidores, medição em

consumidores dos Grupos A (indivíduos e grandes empresas) e do Grupo B

(consumidores residenciais), incluindo manutenção e/ou retirada de medidores de

consumo de energia;

c) Eletricista Geral (EG), 6 eletricistas, 31,6%: eletricistas que atuam em atendimento de

emergência em redes de alta e baixa tensão bem como em montagens de serviços

programados, montando e desmontando redes por programação ou para melhorias,

como a construção da rede ou sua manutenção, dentro das funções para as quais o

eletricista foi treinado, podendo exercer como exemplo a função de eletricista

comercial ou programada de montador.

Os 19 eletricistas entrevistados eram do sexo masculino com a seguinte distribuição de

faixa etária:

37% de 40 - 49 anos;

21,05% de 30 a 39 anos;

15,79% de 20 - 29 anos;

15,79% possuem acima de 50 anos.

O grau de instrução dos eletricistas entrevistados era:

42,10% possuem o 2º grau completo;

26,32% possuem o 3º grau completo;

21,05% possuem o 1º grau completo;

10, 53% possuem o 3º grau incompleto.

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Com relação à prática de atividades físicas durante a semana 57,90% praticam atividade

física e 42, 10% não pratica nenhuma atividade física.

Em relação à predominância de horário 10,53 % tem horário fixo e 89,47% trabalham

em turno de revezamento, sendo que 94,74% dos entrevistados trabalham nos turnos:

matutino/vespertino/noturno devido ao sistema de trabalho de turno revezamento/escala. Em

relação à carga horária de trabalho: 73,68% trabalham 8 horas, e os demais trabalham 9, 10 ou

12 horas.

6.2. Exemplos de atividades do Eletricista de Plantão-Emergência

Foto 1 Foto 2

(Fotos: Celesc Distribuição - 2010)

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7. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Com relação aos sintomas nos últimos 12 meses, em sentir problemas como dor,

formigamento/dormência, as regiões com maior incidência foram:

I - Parte Superior das Costas: 57,09%;

II – Ombros: 47,37%;

III – Pescoço: 42,10%;

IV – Parte inferior das costas: 36,84%;

V - Cotovelos, punhos/mãos e tornozelos/pés: 31,58%;

VI – Quadril/coxas e joelhos: 26,32%.

No período dos últimos 12 meses, os eletricistas expuseram que foram impedidos de

realizar atividades normais (por exemplo: trabalho, atividades domésticas e de lazer) por

problemas em:

I – Pescoço e ombros: 15,79%;

II – Parte superior das costas, cotovelos e joelhos: 10,53%;

III – Parte inferior das costas e quadril/coxas: 5,26%.

Em relação à consulta a algum profissional da área da saúde (médico, fisioterapeuta) por

causa desta condição, nos últimos 12 meses, a incidência foi:

I – Ombros: 21,05%;

II – Pescoço e Parte Inferior das Costas: 15,79%;

III – Punhos/mãos e quadril/coxas: 10,53%;

IV – Parte superior das costas, cotovelos e joelhos: 5,26%;

V – Tornozelos/pés: 0%.

Quanto a problemas nos últimos 07 dias, foi relatado:

I – Ombros: 15,79%;

II – Pescoço: 10,53%;

III – Parte Inferior das costas, quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés: 5,26%;

IV – Parte superior das costas, cotovelos, punhos/mãos: 0%.

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Com a apresentação dos dados verifica-se que 52,79% dos eletricistas estão na faixa

etária de mais de 40 anos, 78,95% possuem acima do 2º grau completo e 57,90% praticam

algum esporte uma vez por semana.

Quanto aos sintomas musculoesqueléticas verifica-se que no último ano, as regiões que

os eletricistas mais sentiram dores, dormência/formigamento foram ordinariamente em 1º

lugar – a parte superior das costas, em 2º lugar – os ombros; e em 3º lugar – o pescoço.

Em relação ao impedimento de realizar atividades normais por problemas nas nove

diferentes regiões anatômicas apresentadas, foram classificadas em 1º lugar - pescoço e

ombros e seguindo em 2º lugar - parte superior das costas, cotovelos e joelhos.

Quanto à procura de profissional da área de saúde por problemas nestas áreas do corpo,

foram assim apresentadas: 1º lugar – ombros e 2º lugar - parte inferior das costas.

Com relação aos problemas apresentados por estas regiões nos últimos 07 dias,

verificou-se em ordem: 1º lugar - ombros e em 2º lugar - pescoço.

Com essas informações verifica-se que os ombros e pescoço são identificados com as

regiões anatômicas com maior incidência de sintomas musculoesqueléticas, seguindo com

parte superior das costas e a parte inferior das costas. Esta última causou dúvidas e necessita

ser mais bem analisada, pois não apareceu como maior índice de dores, mas foi alvo de

consulta de profissional de saúde, o que poderia ser indicação de um caso específico.

Uma pergunta aberta foi apresentada aos eletricistas sobre o que é sentir-se bem

corporalmente, ou seja, ter um corpo sem problemas para desenvolver bem o seu trabalho. Os

treze trabalhadores que responderam a esta pergunta atrelam o sentir-se bem corporalmente a

não sentir dores durante e após o trabalho, como dito por um dos entrevistados: “é ter

disposição para realizar as atividades sem dores que atrapalham a execução do serviço”.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

A análise dos dados obtidos na pesquisa realizada junto aos eletricistas, conforme já

caracterizado, apresenta claramente que as regiões, que mais foram motivos de destaque nas

perguntas sobre “dores / dormência / formigamento”, “impedimento de tarefas normais”,

“procura pelo profissional” e “problemas nos últimos sete dias”, são os ombros e o pescoço

seguido pela parte superior das costas.

Confrontando-se esses dados com as atividades desenvolvidas pelos eletricistas, pode-se

concluir que a causa desses sintomas esteja relacionada à sua posição de trabalho nessas

atividades. Nessas condições, toda a musculatura do pescoço é muito exigida para a sua

sustentação, também como resultado das posições que são frequentemente assumidas pelo

corpo, além das constantes flexões que este realiza. Todos esses esforços são decorrentes do

posicionamento necessário da cabeça para melhor proteção e visão dos equipamentos e

ferramentas, como também pela utilização dos braços em extensão, o que promove uma

grande carga e tensão nos músculos e articulações dos ombros, pescoço e costas.

As informações obtidas também indicam a necessidade de uma melhor preparação física

dos trabalhadores, de forma a propiciar a elevação da sua capacidade física nessas regiões

(fortalecimentos e alongamentos).

Os resultados obtidos e as posições assumidas pelos eletricistas no exercício de suas

atividades no trabalho indicam a necessidade de continuação das pesquisas, para que possam

ser analisadas em maior detalhe. Essa análise pode ser efetuada por meio de filmagem e

utilizando-se de protocolos de avaliação mais específicos, como RULA, que verifica os

movimentos e posições os membros superiores (MCATAMNEY, CORLETT 1993) e outros

aplicáveis.

Este estudo colaborou para o conhecimento do trabalho dos eletricistas da

concessionaria analisada, desenvolvido conforme caracterizado no inicio deste artigo. A

avaliação dos sintomas musculoesqueléticos nas regiões anatômicas do corpo dos

trabalhadores é importante para o desenvolvimento de estudos focados na prevenção de

doenças e acidentes relacionados ao trabalho.

Sugere-se para ser dada continuidade a esses estudos:

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investigar outras variáveis não abordadas neste estudo como condições

ambientais e aspectos psicológicos que interferem no desconforto

musculoesquelético,

efetuar análises para as diferentes funções dos eletricistas (comercial, linha-viva,

programada, emergência),

analisar as posições assumidas pelos eletricistas em suas atividades utilizando-se

de protocolos de avaliação mais específicos, como RULA.

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