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Índice 1. Introdução ao Direito.......................................... 4 1.1 O que é o Direito?.................................................4 1.2 Dimensões da palavra Direito.......................................4 1.3 Outras normas sociais..............................................4 1.4 Conceito de Estado.................................................5 1.5 Tutela Pública e Tutela Privada....................................6 1.6 Estado de Direito..................................................6 1.7 O Direito como expressão de cultura................................7 1.8 Os elementos do sistema jurídico...................................7 Sistema jurídico ocidental:.................................................7 Sistema jurídico muçulmano:.................................................8 1.9 Direito Positivo e Direito Natural.................................9 1.10 Fins do Direito: Justiça e Segurança..............................9 1.11 Sistema de Justiça...............................................11 RAL jurisdicional: Arbitragem..............................................11 RAL jurisdicional: Julgados de Paz.........................................12 RAL não jurisdicional: Mediação e Conciliação..............................13 2. As normas jurídicas........................................... 15 2.1 Características e estrutura das normas jurídicas..................15 Estrutura da norma jurídica:...............................................15 2.2 As fontes do Direito..............................................15 2.3 A lei escrita – fonte imediata do Direito.........................16 2.4 Hierarquia e criação de leis......................................17 Competência de criação de leis:............................................17 O processo de criação da Lei:..............................................18 2.5 Início e termo da vigência das normas.............................19 2.5 Ramos do Direito: Internacional e Europeu.........................19 Direito Internacional Público..............................................19 Página | 1

Direito Do Turismo - Apontamentos

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Page 1: Direito Do Turismo - Apontamentos

Índice1. Introdução ao Direito.........................................................................................................................4

1.1 O que é o Direito?.......................................................................................................................................4

1.2 Dimensões da palavra Direito.....................................................................................................................4

1.3 Outras normas sociais.................................................................................................................................4

1.4 Conceito de Estado.....................................................................................................................................5

1.5 Tutela Pública e Tutela Privada..................................................................................................................6

1.6 Estado de Direito.........................................................................................................................................6

1.7 O Direito como expressão de cultura..........................................................................................................7

1.8 Os elementos do sistema jurídico...............................................................................................................7

Sistema jurídico ocidental:.............................................................................................................................................7

Sistema jurídico muçulmano:........................................................................................................................................8

1.9 Direito Positivo e Direito Natural...............................................................................................................9

1.10 Fins do Direito: Justiça e Segurança.........................................................................................................9

1.11 Sistema de Justiça...................................................................................................................................11

RAL jurisdicional: Arbitragem....................................................................................................................................11

RAL jurisdicional: Julgados de Paz.............................................................................................................................12

RAL não jurisdicional: Mediação e Conciliação.........................................................................................................13

2. As normas jurídicas..........................................................................................................................15

2.1 Características e estrutura das normas jurídicas.......................................................................................15

Estrutura da norma jurídica:........................................................................................................................................15

2.2 As fontes do Direito..................................................................................................................................15

2.3 A lei escrita – fonte imediata do Direito...................................................................................................16

2.4 Hierarquia e criação de leis.......................................................................................................................17

Competência de criação de leis:...................................................................................................................................17

O processo de criação da Lei:......................................................................................................................................18

2.5 Início e termo da vigência das normas......................................................................................................19

2.5 Ramos do Direito: Internacional e Europeu..............................................................................................19

Direito Internacional Público.......................................................................................................................................19

Direito da União Europeia...........................................................................................................................................20

2.6 Direito Interno Português..........................................................................................................................21

Ramos do Direito Público............................................................................................................................................21

Ramos do Direito Privado............................................................................................................................................22

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Page 2: Direito Do Turismo - Apontamentos

3. Relação Jurídica...............................................................................................................................26

3.1 Estrutura da Relação Jurídica....................................................................................................................26

3.2 Elementos da Relação Jurídica.................................................................................................................26

Sujeitos.........................................................................................................................................................................26

Objeto...........................................................................................................................................................................37

Facto Jurídico..................................................................................................................................................40

Classificação dos Fatos Jurídicos:...............................................................................................................................40

Negócio Jurídico..........................................................................................................................................................40

4. Contratos..........................................................................................................................................42

4.1 Princípios que regulam os contratos.........................................................................................................43

4.2 Elementos essenciais do contrato..............................................................................................................44

4.3 Classificação de contratos.........................................................................................................................45

4.4 Efeitos/Eficácia dos contratos...................................................................................................................48

4.5 Extinção dos contratos..............................................................................................................................50

Fundamentos legais de resolução de um contrato.......................................................................................................52

Fundamento geral da resolução dos contratos.............................................................................................................53

4.6 Contratos tipificados.................................................................................................................................53

4.7 Garantia.....................................................................................................................................................58

5. Prestação de serviços turísticos........................................................................................................61

5.1 Noções jurídicas........................................................................................................................................61

5.1.1. Turismo..............................................................................................................................................................61

5.1.2. Atividade turística..............................................................................................................................................61

5.1.3. Serviço Turístico:...............................................................................................................................................61

5.1.4. Turista................................................................................................................................................................61

5.1.5. O utilizador de serviços turísticos......................................................................................................................61

5.2 A relação jurídica de prestação de serviços turísticos..............................................................................62

5.3. Política Nacional de Turismo...................................................................................................................62

5.3.1. Princípios Fundamentais....................................................................................................................................62

5.3.2. Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT)...............................................................................................62

5.3.3. Objectivos da Política Nacional de Turismo.....................................................................................................63

5.4 A Administração Pública do Turismo.......................................................................................................63

5.4.1. Administração direta do Estado.........................................................................................................................63

5.4.2. Administração Indireta do Estado......................................................................................................................64

5.4.3. Administração Autónoma..................................................................................................................................64

5.5 O Turismo no Tratado da União Europeia................................................................................................65

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Page 3: Direito Do Turismo - Apontamentos

6. Prestação de serviços turísticos: sujeitos..........................................................................................66

6.1Empreendimentos turísticos.......................................................................................................................66

6.1.1. Requisitos comuns aos empreendimentos turísticos..........................................................................................69

6.1.2. Instalação dos empreendimentos turísticos........................................................................................................70

6.1.3. Classificação dos empreendimentos turísticos..................................................................................................71

6.1.4. Registo Nacional de Empreendimentos Turísticos (RNET)..............................................................................72

6.1.5. Exploração e Funcionamento dos empreendimentos turísticos.........................................................................72

6.1.6. Responsável operacional....................................................................................................................................73

6.2. Os estabelecimentos de restauração e de bebidas....................................................................................74

6.3. As agências de viagens e turismo............................................................................................................74

6.4. Prestadores de animação turística............................................................................................................74

6.5. Concessionários de jogos de fortuna e azar.............................................................................................74

6.6. Empresas de Transporte...........................................................................................................................74

6.7. As empresas de aluguer de veículos........................................................................................................75

7. A relação jurídica: alojamento turístico...........................................................................................76

7.1. Os sujeitos................................................................................................................................................76

7.2. O Objeto...................................................................................................................................................76

7.3. Facto jurídico: o contrato de hospedagem...............................................................................................76

7.4. Conteúdo da relação jurídica...................................................................................................................76

8. A Relação Jurídica: preparação de viagem......................................................................................78

8.1. Sujeitos.....................................................................................................................................................78

8.1.1. Actividade das agências de viagem e turismo, requisitos de acesso e tipologia...............................................78

8.2. Objeto:......................................................................................................................................................78

8.2.1. Distinção entre viagens não turísticas e viagens turísticas................................................................................79

8.2.2. Referência particular às viagens organizadas (nº 2, do artigo 15º)....................................................................79

8.3. Facto jurídico...........................................................................................................................................79

8.3.1. Formação do contrato........................................................................................................................................79

8.3.2. Modificações do contrato...................................................................................................................................80

8.3.3. Cessação do contrato.........................................................................................................................................80

8.4. Incumprimento parcial ou cumprimento defeituoso após o início da viagem.........................................80

8.5. Garantia....................................................................................................................................................80

8.5.1. Responsabilidade da agência quanto ao incumprimento dos prestadores de serviços turísticos.......................80

8.5.2. Limites Quantitativos das indemnizações..........................................................................................................81

8.5.3. Mecanismos de garantia.....................................................................................................................................81

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Page 4: Direito Do Turismo - Apontamentos

1. Introdução ao Direito

1.1 O QUE É O DIREITO?

Direito é uma ordem normativa eminentemente social. O Direito estuda o que deve ser o

comportamento do homem na sociedade. O Direito só existe porque existe sociedade, por isso é

eminentemente social; é uma necessidade quando o homem se reorganiza e interage com outros.

Assim sendo, o Direito assume quatro funções fundamentais:

Proteger valores humanos;

Dotar a sociedade de uma ordem;

Prevenir e solucionar conflitos através de critérios de justiça;

Organizar, disciplinar as várias atividades sociais.

Pretende instaurar na sociedade uma ordem inteiramente justa na sociedade, através de normas

organizadas. Quando o Direito se afastar do objetivo de proteger os valores humanos, o Direito

perde a sua dignidade e a sua validade. Os valores humanos podem ser individuais ou coletivos.

Quais são esses valores: a vida humana; a liberdade; o ambiente; a educação; a saúde; a integridade

física e moral. Estes são valores eminentemente sociais. Contudo também defende valores

eminentemente patrimoniais, tais como a propriedade ou o contrato, a título de exemplo.

1.2 DIMENSÕES DA PALAVRA DIREITO

Dimensão objetiva (law): conjunto de normas de conduta social.

Dimensão subjetiva (right): trata-se de um poder ou faculdade de exigir de outras

pessoas um determinado comportamento.

É ao Direito em sentido objetivo que compete proteger, garantir o direito em sentido subjetivo,

a exequibilidade do direito subjetivo só é possível pela existência do Direito objetivo.

1.3 OUTRAS NORMAS SOCIAIS

Na sociedade, para além do Direito, existem outras ordens, normas ou regras que impõem

deveres, que variam de acordo com o espaço e com o tempo:

Ordem normativa ética (regras morais)

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Ordem normativa religiosa (regras religiosas)

Ordem normativa cultural (regras de trato social)

Qual a diferença entre Direito e as outras normas?

A diferença está na natureza, no âmbito das aplicações e reações dessas normas.

As normas morais são um conjunto de preceitos impostos pela consciência individual. Estas

normas abrangem quase todas as manifestações da vida. Ao Direito não interessa o que nós

pensamos. A finalidade das normas morais é a persecução do bem. As normas religiosas são um

conjunto de normas com a finalidade de salvação. As normas de trato social abrangem a relação

exteriorizada das pessoas. Criam condições de coexistência própria entre os indivíduos.

As normas do Direito caracterizam-se por se impor aos seus destinatários. Imperatividade

das normas jurídicas através de uma coercibilidade (aplicação de sanções para o seu não

cumprimento). Existem relações de coincidência com as outras normas, relações de indiferença ou

relações de conflito (quando valores chocam com as regras do Direito).

1.4 CONCEITO DE ESTADO

O território permite a um povo que reivindicou o poder político seja independente. É no

território que o Estado aplica o Direito que ele cria e implanta órgãos para aplicar o Direito, as leis.

O território também define as fronteiras da jurisdição e autonomia perante os outros Estados. O

poder político permite dar existência às funções próprias do Estado.

O Direito não poderia existir plenamente na sociedade sem o auxílio do Estado.

A ideia de coação não dispensa a intervenção do Estado. Se não cumprirem existe um aparelho

do Estado que forçará o cumprimento dessas normas jurídicas. Na relação entre o Direito e o Estado,

ao Estado compete auxiliar o Direito na sua existência quotidiana através dos seus órgãos próprios e

realizar o Direito recorrendo ao uso da força. Compete ao Estado proteger os valores que são

relevantes para o Direito, através das polícias, dos tribunais, ministério público e outras autoridades

administrativas. Esse poder de usar a força é monopolizado pelo Estado nas sociedades

contemporâneas.

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Page 6: Direito Do Turismo - Apontamentos

1.5 TUTELA PÚBLICA E TUTELA PRIVADA

Entenda-se como tutela pública a proteção, a garantia pública dos valores, dos direitos, dos

interesses juridicamente relevantes que importam ao Direito.

Esta é a regra geral nas sociedades contemporâneas.

Contudo existem exceções em que o Direito admite que a força seja usada pelo particular,

entenda-se tutela privada, somente admitida em situações de legítima defesa (artigo 337º Código

Civil – CC), ação direta (artigo 336º CC), estado de necessidade (artigo 339º CC), direito de

retenção (artigo 754º CC) e direito de resistência (artigo 21º Constituição da República

Portuguesa – CRP).

Dois pressupostos para o uso da tutela privada lícita (lícito significa conforme o Direito):

É necessário que haja perigo para um valor, um direito ou que um direito ofendido ainda

possa ser reconstruído;

É necessário que se verifique a impossibilidade prática de recorrer com utilidade à tutela

pública para proteger o valor que está em perigo

1.6 ESTADO DE DIREITO

O Estado de direito tem como finalidade proteger os direitos, liberdades e garantias dos

cidadãos através do Direito. Num Estado de direito a atuação dos membros da sociedade e dos

órgãos do Estado está vinculada ao Direito (Primado da Lei). Ninguém está acima do Direito.

Compete, então, ao Direito definir o âmbito, competências e limites das funções do Estado. (artigos

266º; 271º e 272º CRP).

Manifestações da ideia de Estado de direito na CRP: Princípios da legalidade (artigo 3º), da

separação de poderes (artigo 2º), da independência e imparcialidade dos tribunais (artigo 203º), da

igualdade perante a lei (artigo 13º), do direito de acesso ao Direito e aos tribunais (artigo 20º) no

qual se integra o direito de recorrer das decisões desfavoráveis; poder atribuído ao cidadão de

controlo os atos dos órgãos da administração pública (artigos 268º e 271º); importância concedida

aos direitos fundamentais que só podem ser restringidos nos termos expressamente previstos na lei

(artigos 16º, 18º, 19º e 24º a 52º). Num Estado de direito não basta haver um conjunto de normas,

terá que existir simultaneamente uma submissão dos membros desse Estado a essas mesmas normas.

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1.7 O DIREITO COMO EXPRESSÃO DE CULTURA

O Direito é uma parte importante da cultura duma determinada sociedade. Pode concluir-se

que cada sociedade possui o seu próprio Direito.

Cada Direito de um Estado é único e está organizado num sistema jurídico, isto é, um conjunto

de relações entre os elementos que compõem esse mesmo sistema e que lhe confere unidade, coesão,

harmonia e coerência.

1.8 OS ELEMENTOS DO SISTEMA JURÍDICO

Denomina-se sistema jurídico ou ordenamento jurídico essa unidade de ordem, esse todo

organizado que existe numa determinada sociedade e que abrange as normas que impõem ou

proíbem condutas e as que estabelecem direitos subjetivos (poderes ou faculdades).

As normas que determinam os processos de criação, revelação, aplicação e execução do Direito

e que regulam o estatuto e função dos profissionais que atuam no âmbito do sistema de

administração da justiça, mas, também, o conjunto de decisões proferidas pelos Tribunais sobre a

solução encontrada para os litígios, aplicando o Direito aos casos concretos (jurisprudência), bem

como os estudos e reflexões efetuadas pelos juristas especialistas sobre a interpretação e a aplicação

das normas jurídicas (doutrina) e, finalmente, os princípios fundamentais de Direito que

constituem a estrutura central do sistema jurídico.

Existem dois tipos de sistemas jurídicos:

O ocidental

O muçulmano:

SISTEMA JURÍDICO OCIDENTAL:

Romano-germânico (civil law): lei escrita; tendência para a codificação da Lei; o Direito

é estudado pelo método da hermenêutica (interpretação do texto); separação entre quem

cria e aquele que aplica o Direito. Duas magistraturas: a judicial e o ministério público.

Anglo-saxónico (common law): tem como base a cultura anglo-saxónica. O Direito não é

escrito mas transmitido oralmente. A sua principal fonte é o costume. Neste sistema

jurídico, os tribunais também criam leis (precedente).

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Page 8: Direito Do Turismo - Apontamentos

SISTEMA JURÍDICO MUÇULMANO:

Fundamentalista absoluto : considera a lei fundamental do país, do Estado a Shari’ah, o

equivalente ao Direito constitucional. As normas criadas pelo Estado têm que coincidir

com a Shari’ah, as normas religiosas.

Intermédio (moderado): existe uma constituição que para além de definir o quadro

político do Estado, consagra normas de direitos fundamentais de liberdades e garantias.

Liberal : possui uma constituição, normas criadas pelos órgãos do Estado e as normas da

Shari’ah. Há uma superioridade do Direito criado pelo Estado em relação ao Direito

religioso.

Algumas considerações e comparações entre os dois sistemas:

O sistema jurídico ocidental foi-se separando das outras normas normativas sociais, ao passo

que o sistema jurídico muçulmano abrange regras jurídicas que fazem parte integrante da religião,

além das normas do Estado e dá uma grande importância ao Direito religioso ou Shari’ah [Shari’ah:

é o Direito que tem como fonte os textos sagrados e ainda reflexões feitas por profetas e juízes que

aplicam ou aplicaram esse Direito. Fontes da Shari’ah: Corão; Suma (conjunto de reflexões e

comentários); Idjamã (decisões dos tribunais que resultam de uma interpretação coincidente às

normas do Corão)].

Enquanto o Direito ocidental assume uma clara e evidente separação relativamente às

normas religiosas e morais, o Direito muçulmano não admite essa separação. No sistema

muçulmano verificamos que parte das normas é criação divina “revelada” aos homens.

O sistema ocidental é adaptado a uma realidade mutável, altera-se consoante as necessidades, o

sistema muçulmano é imutável no tempo e no espaço; enquanto o sistema ocidental é alvo de crítica

e melhoramento, o sistema muçulmano é dogmático, deve aceitar-se tal como é.

O sistema ocidental tem um âmbito de competência limitada ao espaço, está confinado dentro

de cada Nação/Estado. O sistema muçulmano aplica-se num espaço muito mais vasto, partindo do

princípio da pessoalidade, aplicando-se a qualquer pessoa muçulmana, independentemente do país

em que resida.

O sistema muçulmano defende e protege valores coletivos e individuais, no entanto os valores

coletivos estão acima dos valores individuais. No sistema ocidental acontece praticamente o

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Page 9: Direito Do Turismo - Apontamentos

contrário, ainda que ultimamente se dê alguma importância aos valores coletivos, tal como acontece

com a questão ambiental. Tendo em conta o caráter imutável do Direito da Shari’ah, o Direito penal

muçulmano contém sanções que, comparadas com o Direito ocidental, são desumanas e bárbaras.

1.9 DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL

O Direito positivo é um conjunto de normas jurídicas que exprimindo a vontade do Estado,

vigora num dado momento e local.

No ocidente fala-se numa outra realidade: de Direito natural, isto é, num Direito supra

positivo, válido para todas as pessoas, independentemente do tempo e espaço, tendo como

justificação uma ideia de Humanidade; prossegue a justiça aceite por qualquer ser humano. Tem

como fonte uma ideia de sagrado ou tem como fonte a natureza humana. É um Direito ideal, que se

quer justo para todos os homens. É uma espécie de pressuposto crítico do Direito positivo. O

Direito natural é eminente ao homem.

1.10 FINS DO DIREITO: JUSTIÇA E SEGURANÇA

Não é tarefa fácil encontrar uma definição de justiça. Segundo Aristóteles, na sociedade a

justiça tem dois rostos: o reconhecimento do mérito a cada membro da sociedade e deve existir uma

igualdade entre as partes e a reciprocidade o âmbito da troca de bens e serviços. Segundo Ulpiano, a

justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o que é seu. É a decisão de reconhecer o

seu a seu dono.

A justiça caracteriza-se através de princípios que se encontram no Direito positivo:

O princípio da igualdade: um Direito que não considera os seus cidadãos iguais não é

um Direito justo;

O princípio da imparcialidade: o Direito deve ser imparcial, bem como a sua aplicação;

O princípio da reciprocidade: justo é aquilo, que na troca de bens e serviços, na relação

interpessoal, cada parte pode exigir da outra;

O princípio da proporcionalidade: justo é aquilo que for proporcional, tendo em

consideração uma finalidade a atingir, devem ser usados os meios que se julguem ser

mais adequados.

Um cidadão que não reconhece justiça numa norma jurídica, não lhe reconhece validade.

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A segurança traduz uma ideia de tranquilidade, paz e ordem comunitária. A ideia de segurança

reflete-se nas expetativas que cada membro da sociedade possui acerca dessa mesma ideia.

O cidadão está relativamente ao Estado numa relação ambivalente: pede ao Estado que o

proteja e procura defender-se do Estado. Uma vez que o Estado também possui força, o cidadão

através do Direito, tem a oportunidade de se defender do uso da força exercida pelo Estado.

O poder do Estado é levado por pessoas, por seres humanos que frequentemente se deixam

corromper, logo é necessário que o cidadão se sinta seguro e possua mecanismos de defesa que o

proteja contra os abusos de poder, através do Direito.

Com a segurança e certeza jurídica pretende-se que seja cumprida a previsibilidade, isto é,

que se tenha conhecimento de uma realidade que venha a ocorrer no futuro. O Direito deve poder ser

conhecido pelos seus destinatários. Exige-se que as normas de conduta que são impostas aos

cidadãos sejam conhecidas por estes, de modo a que orientem a sua conduta de acordo com essas

normas.

A ideia de previsibilidade possui o pressuposto conhecimento das normas, regras (artigo 6º

CC – ignorância ou má interpretação da lei). No Diário da República publicam-se as normas

jurídicas produzidas, e deste modo dão a oportunidade aos seus cidadãos a possibilidade de

conhecerem e de se prepararem.

Daí a importância da vacatio legis (vazio da lei: refere-se a um período de tempo que se conta

desde a publicação da norma em Diário da República até ao momento da sua entrada em vigor).

Este período de tempo vai permitir ao cidadão conhecer a lei, interpretá-la e decidir a sua conduta

(artigo 5º CC). Não seria justo obrigar a cumprir uma norma sem poder conhecê-la e interpretá-la.

A ideia de estabilidade exige que o Direito ao definir as situações reguladoras da vida as

regule de forma clara e inequívoca e que defina claramente quais as consequências e que

permaneçam no tempo. Devem ser claras, inequívocas e permanentes. Exige que as normas jurídicas

não sejam alteradas a toda a hora.

Pretende-se que as normas sejam estáveis no tempo; a alteração contínua leva a que as pessoas

não se sintam seguras e sem certeza jurídica. As decisões dos juízes têm de ser claras, inequívocas e

têm de produzir efeito. Através do recurso, o cidadão tem à sua disposição uma ferramenta de

fiscalização dos juízes.

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Page 11: Direito Do Turismo - Apontamentos

Assim sendo, uma decisão proferida pelo tribunal que é definitiva - caso julgado - já não

admite recurso e produz consequências (transitou em julgado). Isto acontece quando é proferida em

tribunal de 1ª instância e não admite recurso. Havendo lugar ao recurso, ele tem de ser invocado num

determinado prazo.

O tempo tem consequências em Direito: a prescrição é a extinção de um Direito pelo seu não

exercício durante um determinado período de tempo (artigo 298º, 300º e seguintes CC); a usucapião

é um processo de aquisição de um Direito pelo seu exercício durante um determinado período de

tempo (artigo 1287º CC).

Três graus de jurisdição em Portugal:

Tribunal de 1ª instância: Tribunal de Comarca

Tribunal de 2ª instância: Tribunal da Relação

Tribunal de 3ª instância: Supremo Tribunal de Justiça (STJ)

1.11 SISTEMA DE JUSTIÇA

Quando falamos de sistema de justiça, falamos de tribunais e dentro destes de juízes,

funcionários e procuradores do ministério público. Contudo o sistema de justiça também abrange as

forças policiais. Desde há vários anos que o sistema judicial tem vindo a ser alvo de críticas justas.

Para procurar responder à crítica da morosidade dos tribunais, foram criados os processos de

resolução alternativa de litígios – RAL – (artigo 202 CRP).

RAL Jurisdicional : o terceiro encontra-se acima das partes e faz valer a sua decisão:

Arbitragem

Julgados de Paz

RAL não jurisdicional : o terceiro ajuda a estabelecer acordo entre as partes:

Conciliação

Mediação

RAL JURISDICIONAL: ARBITRAGEM

A Arbitragem foi instituída em Portugal pela Lei de Arbitragem Voluntária nº 31/86 de 29 de

Agosto e pelo Decreto-Lei nº 425/86 de 27 de Dezembro. Recentemente, a Lei nº 63/2011 de 14 de

Dezembro, revogou a Lei nº 31/86.

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Page 12: Direito Do Turismo - Apontamentos

Trata-se de um processo de resolução de litígios voluntário (é necessário o prévio acordo das

partes litigantes), a decisão do conflito é confiada a um ou mais árbitros (sempre em número ímpar).

As partes podem escolher as regras do processo, o prazo para a decisão, a língua usada e

autorizar o recurso à equidade, podendo, ainda, escolher o lugar de funcionamento do tribunal

arbitral.

Os árbitros estão obrigados a respeitar os princípios da legalidade, da igualdade entre as

partes, do contraditório (devem ouvir ambas as partes e avaliar os elementos de prova que cada

uma apresenta, antes de decidir) da representação (devem permitir que as partes se façam

representar por advogado) e da verdade material (devem avaliar os argumentos e a prova

apresentados, de acordo com as regras processuais, com a finalidade de apurarem a verdade dos

factos).

O procedimento caracteriza-se, em confronto com o processo judicial, por acentuadas

simplificação e celeridade, maior proximidade (e acessibilidade) e menores custos.

Os Centros de Arbitragem dispõem de serviços de Mediação e de Conciliação que têm em vista

possibilitar a resolução do litígio por acordo.

A decisão tem o valor de uma decisão judicial proferida na 1ª instância e produz efeitos

executivos. Se as partes não tiverem previamente a ele renunciado, a decisão arbitral dá direito a

recurso, desde que não tenha sido proferida à luz da equidade.

RAL JURISDICIONAL: JULGADOS DE PAZ

Os Julgados de Paz foram (re) criados, em Portugal, pela Lei nº 78/2001 de 13 de Julho.

Pretende-se, com esta jurisdição, prestar serviço às pessoas que só ocasionalmente procuram uma

instância contenciosa para solucionar conflitos e abranger litígios de reduzida importância ou de

pequeno valor.

A competência do Julgado de Paz não ultrapassa determinados litígios cíveis (não abrange

conflitos com origem num crime, o Julgado de Paz não tem competência para aplicar penas, embora

possa apreciar pedidos de indemnização cível decorrentes da prática de determinados crimes de

pequena gravidade de valor não superior ao da alçada do tribunal de 1ª instância (que é, atualmente,

de 5.000 euros).

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Page 13: Direito Do Turismo - Apontamentos

O Julgado de Paz dispõe de serviços de Mediação e de Conciliação com vista à resolução do

conflito por acordo.

Na falta de acordo, o caso é decidido pelo Juiz de Paz (os Juízes de Paz são licenciados em

direito, nomeados pelo Conselho Superior da Magistratura, com experiência profissional

considerada bastante e qualidades de idoneidade e isenção que constituam garantia de desempenho

imparcial das funções).

Esta decisão tem o valor de uma decisão proferida por um tribunal judicial de 1ª instância e

admite recurso quando o valor da causa exceder metade do valor da alçada da 1ª instância (superior

a 2.500 euros, por conseguinte), para o tribunal de comarca ou para o tribunal de competência

específica, atenta a matéria.

O Julgado de Paz apresenta vantagens: é uma jurisdição informal e acessível, de proximidade

com os cidadãos (justiça de vizinhança), por essa razão, mais humanizada, com custas reduzidas,

mais célere, e a possibilitar maior flexibilidade de soluções; para além de que permite a

descentralização da administração da justiça e estimula parcerias entre o Estado central e a autarquia,

na medida em que o Julgado de Paz funciona em instalações fornecidas pela autarquia que o apoia

financeiramente. As desvantagens prendem-se com o número, considerado ainda não suficiente dos

Julgados de Paz, que não cobre as necessidades de todas as regiões geográficas, com o limitado

âmbito de competências, com o défice de divulgação e de visibilidade desta jurisdição e com a

relativa desconfiança com que é olhada pelos advogados que, quando a procuram, utilizam, amiúde,

expedientes dilatórios (solicitando, por exemplo, a realização de determinada diligência no tribunal

de comarca, o que, inevitavelmente, atrasa o processo).

RAL NÃO JURISDICIONAL: MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

A Mediação e a Conciliação são vias de resolução voluntária, extrajudicial, não contenciosa de

litígios, isto é, são processos negociais, não adversariais, que tendem à resolução do conflito entre as

partes através de um acordo, com o auxílio de um terceiro. São processos de natureza confidencial,

os intervenientes estão obrigados ao dever de sigilo, e caracterizam-se pela gratuitidade, flexibilidade

e criatividade de soluções.

Ora, enquanto na Conciliação, o terceiro procura estimular, instigar os litigantes a aceitarem

um acordo que ele próprio propõe e que julga constituir a solução mais justa, na Mediação, o

terceiro, que tem o nome de mediador, assume uma posição não ativa, não interventiva relativamente

ao acordo ou ao seu conteúdo. O mediador limita-se a criar as condições mais adequadas à

concretização do processo negocial, cabendo às partes a construção do acordo e a definição do seu

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Page 14: Direito Do Turismo - Apontamentos

conteúdo. O mediador deverá, tanto quanto possível, manter-se neutro relativamente ao conflito,

equidistante e imparcial perante as necessidades ou interesses manifestados pelas partes.

Este processo de resolução alternativa de litígios que foi levado a efeito em determinadas

regiões do país, a título experimental, abrange, apenas, crimes particulares (cuja investigação e

submissão a julgamento depende, respetivamente, de queixa e acusação do particular ofendido) e

crimes semipúblicos (a abertura do inquérito pelo Ministério Público para proceder à investigação,

depende de queixa do ofendido) cuja pena não ultrapasse 5 anos de prisão.

Fora do âmbito de competência da mediação estão os crimes sexuais, os crimes cuja vítima

seja menor de 16 anos e os crimes de corrupção, peculato ou tráfico de influências. Se o Ministério

Público entender que a mediação responderá as exigências de prevenção dos crimes que militam

naquele caso concreto, ou as partes requererem a mediação, o processo criminal suspende-se e é

designado um mediador que procurará, no prazo de três meses, promover a aproximação entre as

partes e auxiliá-los a encontrar um acordo que permita a reparação dos danos causados pelo crime e

que contribua para a restauração da paz social (não é admitido um acordo que inclua penas

privativas de liberdade ou deveres que ofendam a dignidade do suspeito do crime ou que se

prolonguem por mais de 6 meses).

A obtenção de acordo homologado pelo Ministério Público equivale à desistência da queixa-

crime.

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Page 15: Direito Do Turismo - Apontamentos

2. As normas jurídicas

2.1 CARACTERÍSTICAS E ESTRUTURA DAS NORMAS JURÍDICAS

As normas jurídicas distinguem-se das outras normas sociais (religiosas, morais, de trato

social) devido à sua natureza e à sua especificidade.

Características essenciais das normas jurídicas:

Imperatividade: a norma jurídica determina quais as condutas que o indivíduo deve

adotar.

Generalidade e Abstração: A norma jurídica determina a conduta a adotar por qualquer

pessoa que se encontre na situação que a norma descreve ou prevê, dirige-se, portanto, a

uma generalidade ou pluralidade de pessoas, a uma categoria abstrata de pessoas e não a

uma dada pessoa ou a um conjunto determinado, específico de pessoas.

Coercibilidade: O incumprimento das normas jurídicas imperativas desencadeia sanções

(prisão, multa, coima, indemnização cível) que são aplicadas e executadas por intermédio

de um aparelho de poder e de força.

ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA:

A estrutura tipo ou estrutura geral da norma jurídica é constituída por dois elementos:

A previsão ou hipótese: situação da vida, situação de facto ou relação com relevância

jurídicas;

A estatuição ou injunção: efeitos ou consequências jurídicas decorrentes da verificação

da situação ou relação descritas na previsão (artigo 483º CC).

2.2 AS FONTES DO DIREITO

A expressão “fontes do Direito” é utilizada em sentido metafórico uma vez que se trata de

processos ou modos de criação e revelação do Direito. As fontes de Direito em geral são: lei escrita;

o costume; a jurisprudência; a doutrina; a equidade; os princípios fundamentais do Direito. Cada

sistema jurídico atribui uma importância a cada uma destas fontes.

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Page 16: Direito Do Turismo - Apontamentos

Em Portugal a única fonte imediata e originária do Direito é a lei escrita . Só a lei escrita é

obrigatória e vinculativa. As outras são consideradas mediatas do Direito, isto é, não são verdadeiras

fontes (não criam Direito) a não ser em circunstâncias particulares que a lei permite.

Os princípios fundamentais do Direito português (os alicerces, as bases do sistema

jurídico) encontram-se nos artigos 1º,3º e 4º da CRP.

O costume é um conjunto de normas jurídicas não escritas, de tradição oral e que surgem nas

seguintes condições: é necessário que seja uma norma que é cumprida pela comunidade ao longo de

séculos e acompanhada por um sentimento de obrigatoriedade jurídica. Possui dois elementos

essenciais:

Objetivo (corpus): há o cumprimento dessa norma pela comunidade durante um tempo

constante, uniforme, repetido e de modo consensual.

Subjetivo (animus): a convicção por parte da comunidade de que essas normas são

juridicamente vinculativas.

Como estabelecer a diferença entre o costume e usos e costumes: a presença ou não do animus.

A jurisprudência é o conjunto de decisões emanadas pelos tribunais. Uma decisão em que o

juiz aplica o Direito ao caso em questão. As sentenças traduzem-se pela solução ao conflito. Quando

as sentenças são proferidas por tribunais de grau superior denominam-se de “acórdãos”.

Em Portugal as decisões proferidas pelos tribunais só são vinculativas no caso concreto a

que se referem, não se tornando, assim, vinculativas para outros tribunais que venham a julgar

casos semelhantes (artigo 2º CC). A jurisprudência possui no entanto um valor muito próprio e

característico: permite saber qual é o sentido da interpretação das normas jurídicas.

A doutrina é um conjunto de opiniões exprimidas em pareceres, artigos, teses, etc., por um

jurisconsulto. A doutrina torna-se assim uma preciosa ajuda na aplicação do Direito.

2.3 A LEI ESCRITA – FONTE IMEDIATA DO DIREITO

Uma lei (fonte imediata) é um documento escrito que contém uma determinada forma pré

estabelecida e que contém normas jurídicas e é emitido por um órgão competente para o efeito

(artigo 1º CC). Obs. Ver os princípios fundamentais do Direito português.

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Page 17: Direito Do Turismo - Apontamentos

A lei superior em Portugal é a Constituição.

Qualquer lei que contrarie a Constituição da República Portuguesa é inconstitucional.

Quando uma lei de grau inferior ofende uma lei de grau superior é ilegal.

2.4 HIERARQUIA E CRIAÇÃO DE LEIS

O ordenamento hierárquico (artigo 112º CRP) do Direito português é o seguinte:

A Constituição da República e as Leis Constitucionais;

As normas e os princípios de Direito Internacional geral e as Convenções Internacionais;

As leis (Assembleia da República) e os decretos-lei (Governo);

Os decretos legislativos regionais;

Os Regulamentos do Governo

Regulamentos Municipais ou outros

COMPETÊNCIA DE CRIAÇÃO DE LEIS:

Assembleia da República :

Artigo 161º c) d) e); Artigo 164º; Artigo 165º

Governo:

Artigo 197º d); Artigo 198º; Artigo 199º c); Artigo 200º c) d); Artigo 201º nº 3

Regiões Autónomas:

Artigo 227º e seguintes

Autarquias:

Artigo 241º

As leis podem ainda “classificar-se” de acordo com o órgão de criação da mesma:

Leis solenes ou formais :

Leis constitucionais – CRP

Leis – Assembleia da República

Decretos – lei – Governo

Decretos legislativos regionais – Regiões Autónomas

Regulamentos :

Decretos regulamentares – Governo

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Page 18: Direito Do Turismo - Apontamentos

Decretos regulamentares regionais – Regiões Autónomas

Resolução do Conselho de Ministros – Governo

Portarias e despachos normativos – Governo

Regulamentos das Autarquias :

Regulamentos e posturas municipais – Autarquias

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA LEI:

1ª Fase: Elaboração da Lei

O processo de elaboração dos atos legislativos não é uniforme, variando em função de diversos

fatores, sendo que cada órgão dotado de competência legislativa tem o seu modo próprio de agir na

elaboração das leis.

Destacam-se assim os diplomas de iniciativa legislativa (artigo 167º CRP):

Dos deputados ou grupos parlamentares (projeto de lei)

Do Governo (proposta de lei)

2ª Fase: Discussão e votação (artigo 168º CRP)

Realizada na Assembleia da República no plenário imediatamente a seguir à sua apresentação a

discussão.

Se existirem algumas normas, faz-se a votação na generalidade passando de seguida para a

Comissão onde se fará a discussão e votação norma por norma (votação na especialidade).

3ª Fase: Promulgação da Lei

O Presidente da República é o guardião de determinados princípios e valores.

Compete ao Presidente da República fiscalizar o diploma em três dimensões: a

constitucionalidade e ilegalidade da lei e se a mesma de coaduna com as politicas fundamentais do

Estado português (artigo 134º, 135º, 136º, 278º nº1 CRP).

Após a promulgação é necessário proceder a sua assinatura por parte de um membro do

Governo - referenda ministerial (artigo 140º CRP).

4 ª Fase: Publicação (artigo 119º c CRP)

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Page 19: Direito Do Turismo - Apontamentos

Algumas considerações sobre a competência e criação de leis:

Os artigos 164º e 165º da CRP contemplam as matérias sobre as quais a Assembleia da

República legisla e sobre as quais pode deferir competência ao Governo para legislar;

O decreto-lei não pode ofender a autorização legislativa da Assembleia da República;

Compete ao Governo enviar proposta de lei (iniciativas legislativas que não são da sua

competência) para a Assembleia da República.

2.5 INÍCIO E TERMO DA VIGÊNCIA DAS NORMAS

O início de uma lei (norma) ocorre no fim do período da vacatio legis (Artigo 5º CC).

Contudo uma lei não vigora eternamente. Segundo o artigo 7º do CC, o momento em que a lei

se extingue (cessação da vigência da lei) pode ocorrer através de dois mecanismos:

Caducidade: processo de extinção da lei que ocorre no interior da lei, isto é, a lei vigora

enquanto ou quando o fato ocorre (leis temporárias). A lei pode caducar quando a

realidade a que se refere deixou de existir.

Revogação: processo que ocorre externamente à lei, por virtude da entrada em vigor de

uma nova lei que declara extinta a lei anterior. A revogação pode ser integral (ab-

rogação) ou pode ser parcial (derrogação). A revogação pode ser de dois tipos:

Expressa: se a nova lei anular declaradamente a anterior;

Tácita: quando a nova lei não declara a anulação da anterior, mas regula

integralmente toda a matéria que era regulada pela lei anterior. Ocorre também

quando a nova lei cria regra ou regras que divergem da disciplina da lei anterior.

Obs.: a lei que vem revogar a lei antiga terá que possuir o mesmo grau hierárquico ou

superior à lei revogada.

2.5 RAMOS DO DIREITO: INTERNACIONAL E EUROPEU

As normas jurídicas são múltiplas e referem-se a matérias distintas. Então, para que se proceda

a um estudo adequado dessas normas, entendeu-se agrupar essas normas em vários ramos. Iremos

ter vários ramos do Direito consoante as matérias a que as normas se referem.

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Page 20: Direito Do Turismo - Apontamentos

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Trata as relações internacionais estaduais ao nível jurídico. O objetivo é limitar o poder dos

Estados internamente no que respeita ao abuso em relação aos seus cidadãos. A sua finalidade era

regular as relações entre os Estados, criar condições para que os Estados resolvessem os seus

conflitos sem recorrer à guerra. Os Estados e as entidades equiparadas a Estados são os sujeitos

do Direito Internacional Público. As Organizações Internacionais Governamentais também são

reguladas pelo Direito Internacional. O Direito Internacional abrange os domínios económicos,

culturais, o uso de armas, entre outros.

A pessoa humana é um sujeito do Direito Internacional (objetivamente e passivamente).

Atualmente qualquer pessoa que seja membro de um Estado está “coberta” pelos órgãos que aplicam

o Direito Internacional (Tribunal Internacional de Justiça – sediado em Haia e o Tribunal Europeu

do Direitos do Homem – sediado em Estrasburgo) em relação aos crimes de genocídio, crimes de

guerra e crimes contra a Humanidade.

Fontes do Direito Internacional:

Costumeiras: conjunto de regras praticadas pelos Estados, sob forma constante ao longo

dos anos e que os Estados consideram consensuais e conferem obrigatoriedade jurídica.

Convencionais: conjunto de diplomas legislativos criados em encontros diplomáticos

entre os Estados (Tratados, Acordos, Convenções, Pactos).

Princípios gerais de Direito comuns às nações civilizadas: Tratados múltiplos de

Convenções Internacionais (Direitos da Criança, do Homem, Contra a escravatura, etc.) e

Tribunais de competência especializada.

Obs.: artigo 8º CC nº1, nº2, nº3

DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

Foi criado para a liberdade de circulação de bens, pessoas, serviços e capitais. Como Estado

membro da União Europeia, Portugal está obrigado às normas do Direito Europeu.

Fontes do Direito Europeu:

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Page 21: Direito Do Turismo - Apontamentos

Direito Comunitário Originário: conjunto de normas que estão na origem ou que

integram os tratados constitutivos das Comunidades Europeias (ex.: Tratado de Paris) e

por todas as normas que alteraram ou completaram os primeiros;

Direito Comunitário Derivado: constituído pelas normas diretamente criadas pelas

instituições comunitárias com competência para tal tendo em vista a execução dos

Tratados Comunitários (ex.: normas derivadas do Conselho Europeu). Assim constituem

Direito Comunitário derivado: regulamentos, diretivas, decisões, recomendações e

pareceres. O Direito Comunitário Derivado tem de estar de acordo com o Direito

Comunitário Originário.

2.6 DIREITO INTERNO PORTUGUÊS

 O Direito Público distingue-se do Direito Privado pelo fato de, no Direito Público, serem

reguladas relações entre dois sujeitos, em que um deles (a entidade pública) está numa posição de

supremacia perante o outro, em virtude de se encontrar no exercício de poderes públicos ( ius

imperii).

De forma diferente ocorre no caso do Direito Privado, enquanto categoria do Direito, e que

disciplina um conjunto de relações entre sujeitos em igualdade de posição, ou seja, enquanto simples

particulares. Elucidativo desta diferença entre as duas categorias pode referir-se os casos do Direito

Fiscal, enquanto ramo do Direito Público (a relação de supremacia entre, por um lado, o ente

público fiscalizador, no exercício de um poder de autoridade público, e o cidadão contribuinte) e

ainda o caso do Direito da Família, como ramo do Direito Privado, (por exemplo, a relação

igualitária existente entre dois cônjuges ligados pelo matrimónio). Ainda de acordo com o critério

acima apontado, são também de Direito Público aquelas regras ou normas que disciplinam a

organização e atividade do Estado e de outras entidades públicas, como, por exemplo, as autarquias,

e ainda as normas que regulam as relações desses entes públicos entre si, no exercício dos poderes

que lhes competem. 

RAMOS DO DIREITO PÚBLICO

Direito Constitucional: é o primeiro de todos os ramos em Portugal. Vem exprimido na

CRP. É um conjunto de normas jurídicas que regulam e estruturam o funcionamento dos

órgãos superiores do Estado, designadamente regras que determinam os modos de

formação e manifestação da vontade politica. Também determina os princípios

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Page 22: Direito Do Turismo - Apontamentos

fundamentais de índole politica e jurídica da comunidade, em particular define os

direitos, liberdades e garantias dos particulares. ACRP é a lei mais importante do Direito

Constitucional. Assim sendo o Direito Constitucional:

Está acima de todas as leis e de todas as decisões dos órgãos do Estado e dos

particulares; se houver desconformidade de uma norma da lei com a CRP temos

uma inconstitucionalidade (uma forma de ilegalidade).

A alteração da Constituição obedece a regras rígidas e a limites que se encontram

consignados nos artigos 284º e seguintes da CRP.

Direito Administrativo: constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a

organização, a atividade e o controlo da Administração Pública e as relações que esta, no

exercício da atividade administrativa de gestão pública, estabelece com outros sujeitos de

Direito.

Direito Financeiro: é todo o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a atividade

financeira do Estado. Atividade financeira é aquela que o Estado desenvolve ao efetuar

as despesas públicas e a obter as receitas públicas necessárias à cobertura dessas

despesas. Na CRP existem normas de natureza fiscal (artigos 106º e 107º): Garantias

fundamentais dos cidadãos em matéria tributária e orientam o legislador e limitam a sua

competência fiscal.

Direito Penal: conjunto de regras jurídicas que estabelecem, por um lado, quais os

comportamentos humanos que são considerados crimes, pelo legislador, e, por outro,

quais as sanções que lhes são aplicáveis (pena de prisão, de multa, ou medida de

segurança).

Direito Processual: conjunto das regras e dos comandos normativos que acompanham a

vida de uma ação em tribunal, desde que instaurada até que seja proferida a decisão que

lhe ponha termo. O direito processual civil não só acompanha a vida de uma ação em

tribunal como também lhe impõe uma tramitação própria, com normas de verificação de

todos os requisitos, definido também as regras relativamente às partes (autor/réu) e do

próprio tribunal. A tramitação de uma ação é feita de acordo com um conjunto de regras

com limites previstos e impostos na própria lei, tudo se desenvolve com a método e rigor,

tendo que se respeitar um rito processual, o processo consiste numa evolução lógica de

atos e técnicas devidamente previstas na lei.

Direito dos Registos e Notariado: conjunto de normas jurídicas que regulam os atos

praticados pelas várias entidades ou pessoas.

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Page 23: Direito Do Turismo - Apontamentos

RAMOS DO DIREITO PRIVADO

Direito Internacional Privado: estabelece o critério aplicável perante uma situação onde

se relacionam vários sistemas jurídicos (artigos 25º a 65º CC).

Direito Civil: constituído por quatro ramos:

Direito das Obrigações: livro 2 do CC. Conjunto de normas que regulam o acesso

e a circulação dos bens no sentido da sua aquisição. O seu tratamento jurídico

incide sobre a transmissibilidade e acesso aos bens numa perspetiva de dinâmica

patrimonial. Regula a mobilidade da vida económica. As normas obrigacionais

permitem uma utilização indireta do bem, porque a sua fruição está dependente da

intervenção do devedor A sua principal fonte é o contrato (artigo 405º CC):

Contrato de compra e venda: é o contrato pelo qual se transmite a

propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço (artigo 874º e

seguintes CC);

Contrato de doação: é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de

liberalidade e à custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa

ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do outro contraente

(Artigo 940º e seguintes CC);

Contrato de locação (artigo 1022º e seguintes CC);

Contrato de mútuo (artigo 1142º e seguintes CC);

Contrato de empreitada (artigo 1207º CC)

Direito das Coisas ou Direitos Reais: livro 3 CC. Conjunto de normas que

regulam a disposição plena dos bens e a sua apropriação. Daí que as suas normas se

prendam essencialmente com o domínio e a utilização dos bens, regulando o

autêntico e autónomo poder das pessoas sobre as coisas. O direito das coisas tem

assim uma disciplina específica e direta da utilização do bem, o poder que

determinado sujeito possui sobre um bem, numa perspetiva de estática patrimonial,

numa perspetiva de domínio. Nessa medida, conferem maior segurança sobre os

bens ao seu titular. É neste sentido que se pode afirmar que o direito das coisas

regula as infraestruturas socioeconómicas de uma sociedade. Três tipos de Direitos

Reais:

Real de Gozo: nos direitos reais de gozo, o aproveitamento da coisa é feito

de modo direto e imediato no sentido de que, o titular do direito real de gozo

pode fazer suas as utilidades que a coisa lhe proporciona. Pode colher os

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Page 24: Direito Do Turismo - Apontamentos

frutos naturais, perceber frutos civis, consumir a coisa, alterá-la, etc.

Portanto, o titular do direito real de gozo, satisfaz o seu interesse através do

aproveitamento do valor de uso da coisa, retirando da sua substância todas as

utilidades dessa coisa. São direitos reais de gozo: a posse, o direito de

propriedade (compropriedade e propriedade horizontal), as servidões (artigo

1543º CC), o direito de superfície (artigo 1544º e seguintes CC), o direito

de uso e habitação (artigo 1484º e seguintes CC), o direito de usufruto

(artigo 1439º e seguintes CC) e o direito real de habitação periódica.

Real de Garantia: nos direitos reais de garantia, as utilidades

proporcionadas ao seu titular são aproveitadas de modo indireto, isto é,

através do valor económico, do valor de troca, e não através do seu valor de

uso. Estes direitos reais são acessórios de uma relação creditória e por isso

encontram-se regulados no Livro II, tendo a função de assegurar eficazmente

ao credor, o pagamento preferencial do seu crédito pelo valor da coisa sobre

que recaem. Os direitos reais de garantia caracterizam-se pelo facto de

incidirem sobre o valor ou os rendimentos de bens certos e determinados, do

próprio devedor ou de um terceiro. O CC admite os seguintes direitos reais de

garantia: consignação de rendimentos (artigo 656º CC); penhor (artigo 666º

CC); hipoteca (artigo 686º CC); privilégios creditórios (artigo 733º CC);

direito de retenção (artigo 754º CC).

Real de Aquisição: constituem a categoria de direitos reais mais recente, em

que o interesse do titular é satisfeito através da aquisição de um outro direito

real, (a partir do momento em que se exerce o direito real de aquisição, o seu

titular é imediatamente transposto para outro direito real de gozo).

Direito da Família: livro 4 CC. É o conjunto das normas jurídicas que regulam as

relações jurídicas familiares: casamento (artigo 1577º CC); filiação (artigo 1796º

CC); adoção (artigo 1586º e seguintes CC).

Direito Sucessório: a sucessão é a transmissão por morte de direitos e obrigações

que estariam na titularidade do falecido anteriormente à sua morte e que não se

extinguiram pela verificação desse facto. Com a sucessão são chamadas uma ou

mais pessoas à titularidade das relações patrimoniais da pessoa falecida

verificando-se a consequente devolução dos bens que pertenciam à mesma. A

sucessão realiza-se por lei, testamento ou contrato (também denominado pacto

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Page 25: Direito Do Turismo - Apontamentos

sucessório). A primeira denomina-se sucessão legal e as últimas sucessão

voluntária.

A sucessão legal (artigo 2157º a 2160º CC) é aquela que opera por efeito da

lei, dispondo esta de um regime supletivo para os casos em que o falecido

não dispôs dos seus bens por testamento ou por contrato (sucessão legítima),

ou de um regime imperativo que não pode ser afastado pela vontade do

falecido, instituindo como herdeiros obrigatórios do falecido o seu cônjuge,

descendentes e ascendentes, e atribuindo a estes uma quota da herança que

não pode ser afetada pelas disposições voluntárias do falecido (sucessão

legitimária). Desta forma, mesmo que o falecido deixe testamento ou celebre

contrato para vigorar depois da sua morte e não preveja como seus herdeiros

o seu cônjuge, ascendentes ou descendentes, a lei dispõe que, mesmo assim,

estes são seus herdeiros e têm direito a uma parte determinada da herança.

A sucessão voluntária pode realizar-se mediante testamento (ato jurídico

unilateral realizado por uma pessoa para vigorar depois da sua morte,

através do qual ela dispõe do seu património em favor de uma ou mais

pessoas determinadas) ou contrato (contrato em que uma pessoa dispõe da

sua própria sucessão, distinguindo-se do testamento por ser um ato jurídico

bilateral em que intervêm os herdeiros ou legatários que se pretendem

instituir com aquele ato e que desde logo aceitam a disposição que é feita em

seu benefício). Os pactos sucessórios só são admitidos nos casos

excecionalmente previstos na lei, como é o caso dos pactos sucessórios

inseridos em convenção antenupcial.

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Page 26: Direito Do Turismo - Apontamentos

3. Relação Jurídica

3.1 ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA

Relação jurídica, num sentido amplo, é toda e qualquer relação da vida social disciplinada pelo

Direito. Relação jurídica, num sentido restrito, é a relação da vida social disciplinada pelo Direito,

mediante a atribuição a um sujeito de um direito subjetivo e a imposição a outro de um dever jurídico

ou sujeição.

A sua estrutura é composta por um Direito Subjetivo (implicando a existência do Direito

Objetivo) e por um Dever Jurídico ou uma Sujeição. Direito Subjetivo é o poder atribuído pela

Ordem Jurídica a uma pessoa de livremente exigir ou pretender de outra certo comportamento

positivo (ação) ou negativo (omissão), ou de por um ato de livre vontade, só de per si ou integrado

por um ato de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos inevitáveis na esfera

jurídica alheia. A relação jurídica é composta por um lado ativo, o titular do Direito Subjetivo, e um

lado passivo, o titular do dever jurídico ou sujeição. Só existe um Direito Subjetivo quando o seu

titular é livre de o exercer ou não. Assim, não são considerados verdadeiros direitos subjetivos os

chamados poderes-deveres (por falta da liberdade de atuação) ou os poderes jurídicos stricto sensu

(por se tratar de manifestações imediatas ca capacidade jurídica).

O Direito Subjetivo propriamente dito corresponde à 1ª parte da definição. Sobre o

sujeito passivo recai um dever jurídico, ou seja, a necessidade de realizar o

comportamento a que tem direito o titular ativo da relação jurídica.

Ao Direito Potestativo corresponde a 2ª parte da definição. Ao titular passivo da relação

jurídica corresponde uma sujeição, ou seja, a situação em que ele se encontra de não

poder evitar que determinadas consequências se produzam na esfera jurídica.

3.2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA

SUJEITOS

São as pessoas entre as quais a relação jurídica se estabelece, são os titulares do Direito

Subjetivo e das posições passivas correspondentes (dever jurídico ou sujeição). Estes podem ser

pessoas singulares ou coletivas, consoante se trate de indivíduos ou organizações. Os Sujeitos são

dotados de personalidade jurídica, pois esta é precisamente a aptidão para se ser titular de relações

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Page 27: Direito Do Turismo - Apontamentos

jurídicas, ou seja, direitos e vinculações. Também o Direito Objetivo atribui personalidade jurídica a

certas organizações, para uma melhor consecução dos fins sociais, estas são as Pessoas Coletivas.

Pessoas Singulares

A personalidade jurídica, segundo o artigo 66º CC, adquire-se no momento do nascimento

completo e com vida. O Direito moderno dá grande relevância à natureza e à dignidade do ser

humano, orientando-se assim, no sentido de reconhecer a personalidade jurídica de todos os seres

humanos, sendo esta uma condição indispensável para a realização dos seus fins e interesses na vida

social. É de denotar que qualquer pessoa é titular de um certo número de direitos absolutos, visto que

se impõem ao respeito de todas as outras e têm por objetivo certas manifestações de liberdade

humana, física ou moral; sendo os direitos de personalidade: o direito à vida, à liberdade, à honra,

etc. Os direitos de personalidade estão fundamentalmente consagrados na CRP nos artigos 24º, 25º,

26º e 27º, respetivamente dizem respeito ao Direito à Vida, ao Direito à integridade pessoal, a outros

direitos pessoais e ao direito à liberdade e à segurança.

O conceito de capacidade jurídica pode ser considerado segundo duas perspetivas distintas: a

da titularidade (capacidade jurídica ou de gozo) e a do exercício (capacidade de exercício).

Capacidade jurídica ou de gozo é a aptidão para ser titular de um círculo maior ou menor de relações

jurídicas. Capacidade de exercício de direitos é o conjunto de direitos e vinculações que a pessoa

pode exercer ou cumprir por si, pessoal e livremente, ou mediante procurador.

A capacidade jurídica ou de gozo decorre do artigo 67º CC. A capacidade de gozo de

direitos, ou jurídica, é o conteúdo necessário da personalidade jurídica uma vez que esta

compete a todas as pessoas e é a aptidão para ser sujeito de relações jurídicas. Este é um

conceito puramente qualitativo dado que se refere apenas à qualidade ou à condição da

entidade em causa, enquanto a capacidade jurídica tem um sentido quantitativo, pois a

medida de direitos e de vinculações de que cada um pode ser titular e a que pode estar

adstrito é variável. Esta aptidão para ser titular de um círculo maior ou menor de relações

jurídicas denomina-se capacidade jurídica, ou de gozo. Por norma, todas as pessoas

singulares ao atingirem a maioridade adquirem capacidade de exercício, que resulta do

preceituado nos artigos 130º e 133º CC.

Porém, a lei também reconhece situações excecionais, tal como as incapacidades. Pode

suceder, uma pessoa ser titular de direitos, ou seja, ter capacidade de gozo, e não os poder

exercer, por lhe faltar a necessária idoneidade para atuar juridicamente, isto é, a

necessária capacidade de exercício de direitos (menores e dementes). Podemos também

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Page 28: Direito Do Turismo - Apontamentos

deparar com uma situação oposta à referida anteriormente, e que se designa por

incapacidade de exercício de direitos – genérica ou específica, estando dependente dos

atos jurídicos a que se refere. As principais incapacidades de exercício estabelecidas pelo

Código Civil são as seguintes:

Menoridade (artigo 122º CC): Apesar da incapacidade geral de exercício de que

sofrem, os menores têm algumas capacidades concretas de exercício, em

conformidade com a ressalva incerta no artigo 127º CC. O menor só pode atuar

juridicamente quando cessar a sua incapacidade antes disso, é substituído por um

representante legal. A forma de suprimento comum da incapacidade de exercício

dos menores é a representação que pode ser feita da seguinte forma:

Pelo poder paternal (Artigo 1877º do Código Civil)

Pela tutela (Artigo 1921º do Código Civil)

Artigo 132º do Código Civil - Emancipação: O menor, através da

emancipação adquire em princípio a capacidade genérica de exercício, como

se fosse maior de idade. A emancipação atribui ao menos plena capacidade

de exercício d direitos, habilitando-o a reger a sua pessoa e a dispor

livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto no artigo

1649ºCC.

Interdição: Esta é a incapacidade mais grave e resulta de determinadas

deficiências psíquicas ou físicas, possuídas por certas pessoas, que lhes afetam a

vontade e o normal discernimento para poderem reger-se, tomar resoluções, dispor

dos seus bens, enfim, atuar juridicamente. O interdito tem um regime jurídico

semelhante ao menor, quer quanto ao valor dos atos praticados, quer quanto os

meios de suprir a sua incapacidade. Artigo 138º do Código Civil (Pessoas sujeitas

a interdição); Artigo 139º do Código Civil (Capacidade do interdito e regime da

interdição). A representação legal é uma forma de suprir esta incapacidade,

estabelecendo-se uma tutela que é regulada pelas mesmas normas que a dos

menores e conferida pela ordem indicada no Artigo 143º do Código Civil (a quem

incumbe a tutela). Para além ser considerado interdito é necessário que a sua

incapacidade seja declarada por sentença judicial. A incapacidade por interdição só

cessará se desaparecer o motivo natural que a originou que está preceituado no

Artigo 151º do Código Civil. Obs. Ver também os seguintes artigos do CC: 148º;

149º; 150º.

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Inabilitação: O que determina a inabilitação é o mesmo da interdição, mas com

menor gravidade, a que se juntam ainda certos modos habituais de comportamento,

como a prodigalidade, o abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes (artigos

152º a 156ºCC). A inabilitação resulta de uma sentença judicial proferida no termo

de uma ação interposta para esse fim. Nessa sentença determina-se a extensão da

incapacidade. Esta incapacidade é suprida (artigo 153º CC) pelo instituto de

assistência. A incapacidade por inabilitação, tal como a anterior, só cessará no caso

de desaparecer o motivo que lhe deu origem e depois de se ter requerido no tribunal

“o levantamento da inabilitação” (artigo 155º CC).

Incapacidade Acidental (artigo 257º CC): resulta de qualquer causa transitória

que leve a pessoa a agir sem ter consciência dos seus atos.

Ilegitimidades conjugais: são proibições legais que visam proteger o interesse do

outro cônjuge e da família. Artigos Código Civil: 1735º; 1736º; 174º e seguintes;

1682º nº2; 1687º.

Anulabilidade e Nulidade: por anulação, entende-se uma forma de invalidade. Ou seja,

um negócio jurídico é originariamente válido e assim permanece até que o contrário seja

decretado por um tribunal competente, a pedido de uma das partes interessadas (artigo

289º e seguintes CC). A nulidade é a declaração de invalidade de um ato que não

necessita de ser declarado por um tribunal (artigo 285º e seguintes CC).

Pessoas Coletivas

São organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou por uma massa de bens,

dirigidos à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais a ordem jurídica atribui a

Personalidade Jurídica.

É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a suscetibilidade de

direitos e vinculações.

Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens,

que constituem centros autónomos de relações jurídicas.

Há duas espécies fundamentais de Pessoas Coletivas: as Corporações e as Fundações.

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Page 30: Direito Do Turismo - Apontamentos

As Corporações, têm um substrato integrado por um agrupamento de pessoas singulares que

visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou associados organizam a

corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e destino.

As Fundações, têm um substrato integrado por um conjunto de bens adstrito pelo fundador a

um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a atribuição patrimonial a

favor da nova Fundação, as diretivas ou normas de regulamentação do ente fundacional da sua

existência, funcionamento e destino.

A função económico-social do instituto da personalidade coletiva liga-se à realização de

interesses comuns ou coletivos, de carácter duradouro.

Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma comunidade

regional, nacional ou a género humano, são uma realidade inegável: são os referidos interesses

coletivos ou comuns. Alguns desses interesses são duradouros, excedendo a vida dos homens ou, em

todo o caso, justificando a criação de uma organização estável.

Essência/Base/Substrato da Pessoa Coletiva

É o conjunto de elementos da realidade extrajurídica, elevado à qualidade de sujeito jurídico

pelo reconhecimento.

O substrato é imprescindível para a existência da Pessoa Coletiva.

Elemento Pessoal: verifica-se nas Corporações. É a coletividade de indivíduos que se

agrupam para a realização através de atividades pessoais e meios materiais de um

objetivo ou finalidade comum. É o conjunto dos associados

O Elemento Patrimonial: intervém nas Fundações. É o complexo de bens que o

fundador afetou à consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se

habitualmente por dotação.

Nas Corporações só o Elemento Pessoal é relevante, só ele sendo um componente necessário

do substrato da Pessoa Coletiva. Pode existir a corporação, sem que lhe pertença património. Por sua

vez nas Fundações só o Elemento Patrimonial assume relevo no interior da Pessoa Coletiva, estando

a atividade pessoal – necessária à prossecução do objetivo fundacional – ao serviço da afetação

patrimonial – estando subordinada a esta, em segundo plano ou até, rigorosamente, fora do substrato

da Fundação.

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Page 31: Direito Do Turismo - Apontamentos

Parece portanto:

Nas Corporações, é fundamental apenas o Elemento Pessoal, sendo possível,

embora seja uma hipótese rara, a inexistência de um património; este, quando

existe, está subordinado ao elemento pessoal.

Nas Fundações, é fundamental o Elemento Patrimonial, sendo a atividade pessoal

dos administradores subordinada à afetação patrimonial feita pelo fundador e

estando ao serviço dela; beneficiários e fundadores estão, respetivamente, além e

aquém da Fundação.

Elemento Teleológico (fim último a que se destina): a Pessoa Coletiva deve prosseguir

uma certa finalidade, justamente a fim ou causa determinante da formação da

coletividade social ou da dotação fundacional. Torna-se necessário que o fim visado pela

Pessoa Coletiva satisfaça a certos requisitos, assim:

Deve revestir os requisitos gerais do objetivo de qualquer negócio jurídico (artigo

280º CC). Assim, deve o fim da Pessoa Coletiva ser determinável, física ou

legalmente, não contrária à lei ou à ordem pública, nem ofensivo aos bons

costumes (artigo 280º CC).

Deve se comum ou coletivo. Manifesta-se a sua exigência quanto às sociedades.

Quanto às Associações que não tenham por fim o lucro económico dos associados

não há preceito expresso, formulando a sua exigência, mas esta deriva da razão de

ser do instituto da personalidade coletiva. Quanto às Fundações a exigência deste

requisito não oferece dúvidas estando excluída a admissibilidade duma Fundação

dirigida a um fim privado do fundador ou da sua família; com efeito, dos artigos

157º e 188º/1 CC, resulta a necessidade de o escopo fundacional de ser de interesse

social.

Põe-se, por vezes, o problema de saber se o fim das Pessoas Coletivas deve ser

duradouro ou permanente. Não é legítima a exigência deste requisito em termos da

sua falta impedir forçosamente a constituição de uma Pessoa Coletiva.

Elemento Intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurídica,

distinta dos associados, do fundador ou dos beneficiários. A existência deste elemento

radica na circunstância de a constituição de uma Pessoa Coletiva ter na origem um

negócio jurídico: o ato da constituição nas Associações (artigo 167º CC), o contrato de

sociedade para as Sociedades (artigo 980º CC) e o ato de instituição nas Fundações

(artigo 186º CC). Ora nos negócios jurídicos os efeitos determinados pela ordem

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jurídica dependem, em termos que posteriormente serão explicitados, da existência e do

conteúdo duma vontade correspondente. Falta também o elemento intencional nas

Fundações de facto e nas Fundações fiduciárias

Estamos perante a primeira figura (Fundação de facto) quando um indivíduo

pretende criar ou manter uma obra de utilidade pública, financiando-a com uma

certa parte do seu património, mas sem contrair um vínculo jurídico

correspondente, podendo, em qualquer momento, pôr termo à afetação desses bens

àquele fim.

Estamos perante a segunda figura (Fundação fiduciária) quando se dispõe a favor

de uma certa Pessoa Coletiva já existente, para que ela prossiga um certo fim de

utilidade pública, compatível com o seu próprio escopo. São uma manifestação

típica de liberdades com cláusula modal.

Elemento organizatório: a Pessoa Coletiva é, igualmente, por uma organização

destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenação

unificadora.

Órgãos

Conjunto de poderes organizados e ordenados com vista à prossecução de um certo fim que se

procede à formulação e manifestação da vontade da Pessoa Coletiva, sendo assim que a Pessoa

Coletiva consegue exteriorizar a sua vontade (coletiva).

É o instrumento jurídico através do qual se organizam as vontades individuais que formam e

manifestam a vontade coletiva e final da associação. São o elemento estrutural, não tendo realidade

física.

Os atos dos órgãos da Pessoa Coletiva têm efeito meramente interno para a satisfação dos fins

dessa Pessoa Coletiva.

É o centro de imputação de poderes funcionais com vista à formação e manifestação da

vontade juridicamente imputável à Pessoa Coletiva, para o exercício de direitos e para o

cumprimento das obrigações que lhe cabem. Não tem todos os poderes e nem todos os direitos que

cabem à Pessoa Singular, só tem Capacidade de Exercício para aquilo que lhe é especificamente

imposto.

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Page 33: Direito Do Turismo - Apontamentos

A cada órgão são atribuídos poderes específicos segundo uma certa organização interna, que

envolve a determinação das pessoas que os vão exercer. Os titulares são os suportes funcionais

atribuídos a cada órgão, o qual denomina-se competência do órgão: órgão individual decide e o

órgão deliberativo delibera.

Pessoas coletivas de direito público e pessoas coletivas de direito privado

São de Direito Público as Pessoas Coletivas que desfrutam, em maior ou menor extensão, o

chamado ius imperi, correspondendo-lhe portanto quaisquer direitos de poder público, quaisquer

funções próprias da autoridade estadual; são de Direito Privado todas as outras.

Mas em que consiste o imperium, o poder público, a autoridade estadual? Grosso modo, na

possibilidade de, por via normativa ou através de determinações concretas, emitir comandos

vinculativos, executáveis pela força, sendo caso disso, contra aqueles a quem são dirigidos.

Pessoas Coletivas públicas são pois aquelas às quais couber, segundo o ordenamento jurídico e

em maior ou menor grau, uma tal posição de supremacia, uma tal possibilidade de afirmar uma

vontade imperante.

Classificação das pessoas coletivas públicas:

Podem-se distinguir três categorias:

Pessoas Coletivas de População e Território;

Pessoas Coletivas de Tipo Institucional ou de Tipo Associativo;

Pessoas Coletivas de Utilidade Pública são as que propõem um escopo de interesse

público, ainda que, concretamente, se dirijam à satisfação dum interesse dos próprios

associados ou do próprio fundador. Existem várias subcategorias:

Pessoas Coletivas de utilidade pública administrativa: são as Pessoas Coletivas

criadas por particulares. Não são administradas pelo Estado ou por corpos

administrativos, no entanto prosseguem fins com relevância especial para os

habitantes de determinada circunscrição.

Pessoas Coletivas de mera utilização pública: são as Associações ou Fundações

que prossigam fins de interesse geral quer a nível nacional ou regional.

Associações ou Fundações essas, que colaboram com a Administração central ou

local, para prosseguirem fins próprios nacionais ou locais.

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Page 34: Direito Do Turismo - Apontamentos

Pessoas Coletivas de Direito Privado e utilidade pública: são aquelas que

propõem um escopo de interesse público, ainda que concorrentemente acabem por

satisfazer os interesses dos seus próprios associados.

Classificações legais das Pessoas Coletivas

Esta classificação – Associações, Fundações, Sociedades – não tem um carácter unitário,

porque as Associações e Sociedades são Pessoas Coletivas de tipo corporativo e por isso impõem-se

as Fundações.

Por outro lado, as Associações e Fundações integram uma mesma categoria oposta às

Sociedades, porque estas visam fins económicos e aquelas não.

A tipificação legal das Associações, Fundações e Sociedades é notória no Código Civil. Este

regula a matéria das Associações e Fundações no cap. II, dedicado às Pessoas Coletivas:

Artigos 167º e seguintes: Associações;

Artigos 185º e seguintes: Fundações.

O artigo 157º (as disposições do presente capítulo são aplicáveis às Associações que não

tenham por fim o lucro económico dos associados, às Fundações de interesse social, e ainda às

sociedades, quando a analogia das situações o justifique) é o primeiro artigo do Código Civil onde

se estabelece o regime das Pessoas Coletivas. Esclarece este artigo, que se aplica diretamente às

Fundações sem fim lucrativo; às Fundações de interesse social e também às sociedades sempre que a

analogia das situações o justifique.

No artigo 157º CC, o legislador entendeu que há três tipos de Pessoas Coletivas.

No ordenamento jurídico português, há em termos legais uma separação de Pessoas Coletivas

de Direito Público em Associações e Fundações.

Os artigos 167º a 184º CC visam regular as Associações em sentido restrito.

O legislador faz distinções entre Pessoas Coletivas e Sociedades (artigo 2033º/2 CC: Na

sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade: b) As pessoas coletivas e as

sociedades).

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Page 35: Direito Do Turismo - Apontamentos

No entanto, quando se fala de Pessoas Coletivas, não se quer excluir as sociedades. A Pessoa

Coletiva abrange sempre as sociedades.

Na ordem jurídica portuguesa há sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma

comercial. O legislador usa palavra Pessoa Coletiva num sentido amplo (encontram-se abrangidas

as entidades suscetíveis de personificação) e restrito (as sociedades). Sociedade, é uma associação

privada com fim económico lucrativo.

Sociedades Comerciais

Nos termos do artigo 1º/2 do Código das Sociedades Comerciais (CSC), a sociedade é

comercial quando tenha por objeto a prática de atos de comércio e adote um dos diversos tipos

regulados nesse código.

A sua caracterização faz-se em, função do seu objeto e da sua organização formal.

Podem revestir quatro formas:

Sociedades em nome coletivo: nestas sociedades cada sócio responde individualmente

pela sua entrada e responde ainda solidariamente e subsidiariamente pelas organizações

sociais (artigo 175º/1 CSC). Neste caso, se um dos sócios satisfizer do passivo social

mais que aquilo que lhe competia, tem direito de regresso sobre os demais sócios

(artigo 175º/3 CSC).

Sociedade por quotas de responsabilidade limitada: cada sócio responde apenas pela

realização da sua quota e solidariamente pela dos demais sócios até à completa

realização do capital social. No entanto não responde em geral pelas dívidas sociais

(art.º 197º/1/3 CSC).

Sociedades anónimas: cada sócio responde apenas pela realização das ações que

subscreveu. Uma vez realizado o seu capital, o sócio não responde nem pela realização

da quota dos demais sócios, nem pelas dívidas sociais.

Sociedades em Comandita: nestas sociedades o regime de responsabilidade dos sócios

é misto: há sócios comanditados que são aqueles que respondem como sócios das

sociedades em nome coletivo e há os sócios comanditários, estes respondem apenas

pela sua entrada na sociedade (artigo 477 seg. CSC).

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Page 36: Direito Do Turismo - Apontamentos

Sociedades civis sob forma comercial

Caracterizam-se pela circunstância de não terem por objeto a prática de atos de comércio nem

o exercício de quaisquer atividades previstas no Código Comercial. No entanto, a lei comercial

portuguesa admite a possibilidade dessas sociedades civis adotarem as formas comerciais para efeito

de estruturação das quatro formas que pode revestir a sociedade comercial. Neste caso, passam a

chamar-se sociedades civis sob forma comercial e ficam, sujeitas às disposições do Código das

Sociedades Comerciais. No entanto, não ficam sujeitas a um conjunto de obrigações específicas das

sociedades comerciais. São Pessoas Coletivas com Personalidade Jurídica.

Sociedades civis simples

São aquelas que não têm por objeto a prática de atos comerciais e estão sujeitas ao regime do

Código Civil. Aplicam-se-lhes as disposições do artigo 980º seg. CC. Estas sociedades civis simples

distinguem-se das sociedades civis sob forma comercial, dada a forma que revestem, que está

relacionada com a sua organização formal.

Tem ainda uma outra característica que é o facto de ficarem subordinadas ao regime da lei

civil.

No que toca à responsabilidade dos sócios destas sociedades, segue-se o modelo de

responsabilidade dos sócios das sociedades em nome coletivo.

Para além da responsabilidade dos bens de entrada, diz o artigo 997º CC, que eles também

têm ainda a responsabilidade pessoal e solidariamente pelas dívidas sociais.

Princípios fundamentais comuns a todas as pessoas coletivas

Princípio da verdade: impõe a necessidade de não induzir em erro quanto à

identificação e natureza da Pessoa Coletiva nem induzir em erro quanto à sua atividade

art.º 1º, DL 42/89).

Princípio da novidade: impõe a necessidade da Pessoa Coletiva não se confundir com

nomes de outros estabelecimentos já existentes (art.º 2º/5, DL 42/89).

Princípio da exclusividade: assegura ao titular da denominação, desde o seu registo, o

direito ao uso privativo da mesma, afastando quaisquer outras Pessoas Coletivas de usar

uma denominação igual (art.º 6º e 78º/1, DL 42/89).

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Respeito pela língua portuguesa: impõe a necessidade na redação de respeito pelas

regras gramaticais em português.

Princípio da legalidade: impede o uso de denominação que lesem os bons costumes

ou que contenham termos ou expressões incompatíveis com a liberdade de opção

política, religiosa ou ideológica.

Princípio da especialidade – artigoº 160º CC – a Pessoas Coletiva deve praticar atos

jurídicos em concordância com os seus fins estatutários (não podem ser titulares de

direitos e obrigações que não forem necessários ou convenientes à realização dos seus

fins). É uma capacidade específica, limitada pelo fim que visam prosseguir e que foi

determinante da concessão da personalidade.

 Capacidade das Pessoas Coletivas

A Capacidade Jurídica das Pessoas Coletivas é um “status” inerente à sua existência como

pessoas jurídicas (artigo 67º CC). É uma Capacidade Jurídica Específica enquanto a das pessoas

singulares é de carácter geral. A lei refere-se-lhe expressamente para o efeito de a limitar. Essas

limitações constam do artigo 160º CC. A noção de Capacidade de Gozo, tal como em relação às

pessoas singulares, estabelece-se como medida de direitos ou vinculações de que a Pessoa Coletiva

pode ser titular ou estar adstrita.

OBJETO

O objeto da relação jurídica é tudo aquilo sobre que incidem os poderes do titular ativo da

relação. Alguns dos possíveis objetos da relação jurídica, são as pessoas, prestações, coisas corpóreas

ou coisas incorpóreas.

Pessoas

As pessoas só podem ser objeto da RJ nos denominados poderes-deveres ou poderes-

funcionais. Por exemplo, os direitos inseridos no instituto da tutela não atribuem qualquer tipo de

domínio sobre a pessoa do incapacitado.

Prestações

A prestação diz respeito a condutas a que o devedor está obrigado. A noção de obrigação

encontra-se no art.º 397.º do CC e o princípio geral quanto ao cumprimento das obrigações vem

previsto no art.º 762.º do mesmo diploma.

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Page 38: Direito Do Turismo - Apontamentos

Coisas

Art.º 202.º CC: Noção bastante ampla compreende não só as coisas no sentido físico (um

livro), como realidades imateriais e não sensíveis que podem ser objeto de direitos (obra literária).

Quatro características essências da coisa:

Existência autónoma ou separada

Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém

Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas

Impessoal: não pode possuir personalidade jurídica

Classificação das coisas – artigoº 203.º do Código Civil

Coisas corpóreas: coisas que podem ser apreendidas pelo Homem através dos sentidos

(livro, casa…).

Coisas incorpóreas: coisas que não tendo existência física não podem ser apreendidas

pelos sentidos (obras literárias, firma de um comerciante, direitos de autor…).

Coisas no comércio: aquelas que podem ser objeto de propriedade privada.

Coisas fora do comércio: aquelas que não podem ser objeto de direitos privados (luz,

ar, coisas de domínio publico) artigo 202.º,n.º2CC.

Coisas Imóveis: artigo 204.º CC: prédios rústicos e urbanos: n.º2 do artigo 204.º CC

– elemento fundamental: incorporação no solo; águas; árvores, arbustos e os frutos

naturais, enquanto estiverem ligados ao solo; direitos inerentes aos imóveis

mencionados nas alíneas anteriores partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos:

artigo 204.º,n.º3CC.

Coisas Móveis: artigo 205.º CC: são todas as coisas não compreendidas no artigo

204.ºCC.

Coisas simples: constituem uma unidade. Esta unidade pode ser natural (uma pedra

preciosa), ou resultar da ação do homem (um copo de vidro, uma moeda).

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Page 39: Direito Do Turismo - Apontamentos

Coisas compostas: artigo 206.º,n.º1 CC: constituída por vários elementos (várias

coisas simples), que não obstante o nexo que as liga, conservam a sua individualidade

própria, mas de cuja combinação resulta um todo que o direito trata unitariamente.

Coisas fungíveis: coisas que se determinam pelo seu género, qualidade e quantidade

artigo 207.º CC: diz-se fungível o que é substituível por outra realidade.

Coisas infungíveis: são aquelas que não são substituíveis, tendo de ser entregues ou

restituídas elas mesmo (um quadro de certo pintor).

Coisas consumíveis: coisa cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua

alienação: artigo 208.º CC, ex.: alimentos.

Coisas não consumíveis: são aquelas cuja utilização regular não implica o seu

consumo, quer material quer jurídico, embora possam sofrer uma deterioração mais ou

menos lenta (ex.: um livro).

Coisas divisíveis: coisas que pode ser fracionada sem alteração da sua substância,

diminuição de valor ou prejuízo param o uso a que se destinam: artigo 209.º CC, ex.:

serviço de porcelana.

Coisas indivisíveis: coisa que não podem fracionar-se, como acontece com os animais

vivos, os quadros, etc. A indivisibilidade pode resultar da lei ou de acordo das partes.

Coisas principais: aquelas que existem independentemente de outras (uma casa, um

livro).

Coisas acessórias: artigo 210.º CC: coisas móveis, que não constituindo partes

integrantes, estão afetadas por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outra

(ex.: uma moldura em relação a um quadro).

Coisas presentes: aquelas que existem e pertencem a uma determinada pessoa em certo

momento.

Coisas futuras: as que não estão em poder do disponente ou a que este não tem direito

ao tempo da declaração negocial: artigo 211.º CC.

Obs. Ver também artigo 280º CC: objeto do negócio.

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Page 40: Direito Do Turismo - Apontamentos

FACTO JURÍDICO

Noção de facto jurídico

Toda relação de direito nasce, conserva-se, transfere-se, modifica-se, ou extingue-se, em

virtude de um acontecimento capaz de produzir o seu nascimento, a sua conservação, a sua

transferência, a sua modificação ou a sua extinção. Esse acontecimento recebe o nome de fato

jurídico.

CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS:

Factos Naturais (factos jurídicos em sentido estrito): são acontecimentos que embora

produzindo efeitos jurídicos não traduzem a exteriorização de uma vontade humana.

Ex: o nascimento, a morte natural, um incêndio, uma tempestade.

Factos Voluntários (atos jurídicos): são acontecimentos produtores de efeitos jurídicos

que representam a manifestação de uma vontade humana. Ex: o testamento, um

contrato.

Atos lícitos: ato jurídico conforme com o direito objetivo. Ex: se alguém tendo

capacidade de exercício, vende um objeto a outra pessoa, pratica um ato lícito.

Atos ilícitos: ato jurídico que viola ou ofende o direito objetivo – é contrário ao direito

objetivo (civis ou criminais, dolosos ou negligentes). Ex: se alguém, deliberadamente,

mata outro, pratica um ato ilícito. Estes podem dividir-se em:

Dolosos: quando o seu autor tem a intenção deliberada de fazer mal ou

prejudicar.

Negligentes ou meramente culposos: quando o indivíduo, na sua atuação, omite

deveres de cuidado ou de perícia, comportando-se de forma negligente ou

imprudente. Apesar de não prever o resultado que venha a ocorrer, essa sua

atuação imprudente e descuidada confere-lhe culpa.

NEGÓCIO JURÍDICO

São factos jurídicos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações

de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo da

vontade das partes, tal como este é objectivamente apercebido. (os efeitos dos negócios jurídicos

produzem-se ex voluntate) Ex: o testamento e os contratos.

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Page 41: Direito Do Turismo - Apontamentos

No negócio, tem de haver de ação, sem esta, o negócio é inexistente. O autor do ato tem de

querer um certo comportamento exterior por atos escritos ou por palavras. Tem de ser de livre

vontade, de outra maneira será inexistente (ex. coação física), tem de haver uma declaração 

(exteriorização da vontade do agente), constitui um elemento de natureza subjetiva.

O comportamento não basta ser desejado em si mesmo, é necessário que ele seja utilizado pelo

declarante como meio apto a transmitir um certo conteúdo de comportamento.

Classificação dos Negócios Jurídicos:

Negócios jurídicos unilaterais: há uma só declaração de vontade ou várias

declarações, mas paralelas, formando um só grupo. (Ex: o testamento, a renúncia à

prescrição, etc.) É desnecessária a anuência do adversário; vigora o princípio da

tipicidade (art.º 457° CC)

Negócios jurídicos bilaterais ou contratos: aqueles onde há duas ou mais declarações

de vontade, de conteúdo oposto, mas convergente na comum pretensão de produzir

resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte. Há por um lado

uma oferta ou proposta e por outro lado uma aceitação que se conciliam num consenso.

Os contratos bilaterais geram obrigações para ambas as partes, obrigações legadas

entre si por um nexo de causalidade ou correspectividade.

Declaração Negocial: é um comportamento que exteriormente observado cria a aparência que

se traduz num conteúdo de vontade negocial. È a intenção de realizar certos efeitos jurídico (art.º

217º e seguintes do CC).

Numa declaração negocial podem distinguir-se normalmente os seguintes elementos:

Declaração propriamente dita (elemento externo) - consiste no comportamento

declarativo;

Vontade Real (elemento interno) - consiste no querer, na realidade vilitiva que

normalmente existirá com o sentido objetivo da declaração:

Vontade de ação;

Vontade da declaração ou vontade da relevância negocial da ação

Vontade negocial, vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado

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Page 42: Direito Do Turismo - Apontamentos

4. ContratosDiz-se contratos o acordo vinculativo assente sobre duas ou mas declarações de vontade

(oferta ou proposta, de um lado; aceitação, do outro), contrapostas mas perfeitamente

harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma composição unitária de interesses.

O Código Civil português vigente não define expressamente a figura do contrato, além de

admitir a constituição de obrigações com prestação de carácter não patrimonial (art.º 398º/2 CC),

considera expressamente como contratos o casamento (art.º 1577º CC), do qual brotam relações

essencialmente pessoais, bem como o pacto sucessório (art.º 1701º, 2026º, 2028º CC), que é fonte

de relações mortis causa.

O contrato pode ser hoje, por conseguinte, não só fonte de obrigações (da sua constituição,

transferência, modificação ou extinção), mas de direitos reais, familiares e sucessórios.

O contrato é essencialmente um acordo vinculativo de vontades opostas, mas harmonizáveis

entre si.

O seu elemento fundamental é o mútuo consenso. Se as declarações de vontade das partes,

apesar de opostas, não se ajustam uma à outra, não há contrato, por que falta o mútuo consentimento.

Se a resposta do destinatário da proposta contratual não for de pura aceitação, haverá que

considerá-la, em homenagem à vontade do proponente, como rejeição da proposta recebida ou como

formulação de nova proposta, até se alcançar o pleno acordo dos contraentes (art.º 223º CC).

As vontades integram o acordo contratual, embora concordantes ou ajustáveis entre si, têm que

ser opostas, animadas de sinal contrário.

Se as declarações de vontade são concordantes, mas caminham no mesmo sentido, refletindo

interesses paralelos, não há contrato, mas ato coletivo ou acordo.

O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, isto é, integrado pela manifestação de

duas ou mais vantagens diversas que se conjugam para a realização de um objetivo comum.

A única razão porque se fala em vontades contrapostas mas convergentes para a produção de

um certo efeito, é para distinguir os contratos dos negócios jurídicos unilaterais em que há mais de

que um sujeito. E aí as declarações de vontade já não são contrapostas, mas são paralelas.

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Page 43: Direito Do Turismo - Apontamentos

A liberdade de contratual encontra-se consagrada no art. 405º CC, e corresponde a esta ideia

muito simples: as partes são livres de celebrar ou não celebrar o contrato que quiserem.

A liberdade contratual tem portanto duas vertentes, ou componentes: a liberdade de celebração

e liberdade de estipulação.

4.1 PRINCÍPIOS QUE REGULAM OS CONTRATOS

Princípio da Unidade Contratual: No que diz respeito aos contratos, tudo o que for

negociado e estipulado entre as partes terá que ser objeto de apenas um contrato, ou seja, impede-se

deste modo que um determinado negócio seja tratado em dois ou três contratos distintos. Tudo deve

ser regulado num só contrato.

Assim, caso seja necessário proceder a eventuais alterações do que tinha sido inicialmente

estabelecido tal só será possível através de aditamentos, que embora introduzam alterações no

contrato inicialmente celebrado, têm efeitos retractivos, não afetando nem a validade nem os efeitos

que, entretanto, já se verificaram.

O princípio da confiança: Princípio, segundo o qual cada contraente deve responder pelas

expectativas, que justificadamente cria, com a sua declaração, no espírito da contraparte.

Explica por sua vez, a força vinculativa do contrato, a doutrina válida em matéria de

interpretação dos contratos (arts. 236º, 238º, 239º - 217º CC), e a regra da imodificabilidade do

contrato por vontade unilateral, de um dos contraentes (art. 406º CC).

O Princípio Liberdade Contratual: O artigo 405º do Código Civil enuncia o princípio da

liberdade contratual como a faculdade que as partes têm, dentro dos limites da lei, de fixar

livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos prescritos no Código ou

incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver.

Este princípio divide-se, assim, em duas vertentes:

A liberdade de celebração (as partes são livres de aceitar submeter-se ao contrato);

A liberdade de estipulação (as partes são livres de negociar os diversos aspetos

concernentes ao contrato em questão).

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4.2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO

Para que um contrato seja validamente celebrado é necessário que se verifiquem determinados

requisitos de validade, ou seja, realidades sem as quais o contrato existe, mas não é válido, antes é

nulo ou anulável. Existem dois tipos de requisitos de validade:

Ordem material que asseguram a validade substancial do negócio que se pretende

celebrar:

A Capacidade e a Legitimidade: A capacidade traduz-se num modo de ser ou

qualidade do sujeito em si. No domínio dos negócios jurídicos fala-se de

capacidade negocial de gozo (ou capacidade jurídica negocial) e da capacidade

negocial de exercício. Legitimidade é o poder que alguém tem de celebrar

determinado contrato derivado do facto de lhe pertencerem os interesses que

serão matéria de tal contrato.

Declaração de vontade negocial ou mútuo consenso: Comportamento ou

conduta que exteriormente observado cria a aparência de um certo conteúdo de

vontade negocial, caracterizando, depois, a vontade negocial como a intenção de

realizar certos efeitos práticos, com ânimo de que sejam juridicamente tutelados

e vinculantes. A declaração pretende ser o instrumento de exteriorização da

vontade do declarante. A falta de declaração negocial conduz à inexistência

material do negócio. A declaração contratual pode ser (nos termos do art. 217º

CC): expressa: quando é feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio

direto de manifestação de vontade ou tácita: quando do seu conteúdo direto se

deduz de factos que com toda a probabilidade, a revelam. A declaração

contratual divide-se nos seguintes elementos:

A declaração propriamente dita (elemento externo), consiste no

comportamento declarativo;

A vontade (elemento interno) consiste no querer tal comportamento

com sentido contratual e com os resultados que lhe são atribuídos.

Idoneidade do objeto: Segundo o artigo 280º do Código Civil, o objeto

negocial tem que preencher determinados requisitos para que seja susceptível de

ser alvo de uma contratualização: tem que ser física e legalmente possível. Ou

seja terá que ser lícito que não contrarie a lei; determinável, que não contrarie a

ordem pública; conforme aos bons costumes.

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Os de ordem formal: que determinam a validade do modo como o negócio é

celebrado, ou seja, como tem que se apresentar frente aos outros. Ex: contrato

celebrado por escritura pública.

4.3 CLASSIFICAÇÃO DE CONTRATOS

Contratos típicos (ou nominados) e contratos atípicos (ou inominados): dizem-

se contratos típicos ou nominados, os que, além de possuírem um nome próprio, que os

distingue dos demais, constituem objeto de uma regulamentação legal específica. Os

contratos típicos ou nominados, que a lei chama a si para os disciplinar juridicamente,

correspondem às espécies negociais mais importantes no comércio jurídico. E a

disciplina específica traçada na lei para cada um deles obedece, pelo menos, a um duplo

objetivo do legislador. Por um lado, exatamente porque se trata dos acordos negociais

mais vulgarizados na prática, a lei pretende auxiliar as partes e os Tribunais, fixando a

disciplina jurídica aplicável aos pontos em que, não obstante a importâncias que

revestem, as convenções redigidas pelas partes são frequentemente omissas. Por outro

lado, a lei aproveita o esquema negocial típico do contrato nominado para, a propósito

do conflito de interesses particulares subjacente a cada um deles, fixar as normas

imperativas ditadas pelos princípios básicos do sistema. Distintos dos contratos típicos

ou nominados são aqueles (chamados contratos atípicos ou inominados) que as partes,

ao abrigo do princípio da liberdade contratual (art. 405º/1 CC), criam fora dos modelos

traçados e regulados na lei.

Contratos mistos: Diz-se misto, o contrato no qual se reúnam elementos de dois ou

mais negócios, total ou parcialmente regulados na lei. Em lugar de realizarem um ou

mais dos tipos ou modelos de convenção contratual incluídos no catálogo da lei, as

partes, porque os seus interesses o impõem a cada passo, celebram por vezes contratos

com prestações de natureza diversa ou com uma articulação de prestações diferentes da

prevista na lei, mas encontrando-se ambas as prestações ou todas elas compreendidas

em espécies típicas diretamente reguladas na lei.

Contratos gratuitos e contratos onerosos: Diz-se contrato oneroso, o que a atribuição

patrimonial efetuada por cada um dos contraentes tem por co respectivo, compensação

ou equivalente a atribuição da mesma natureza proveniente do outro, para alcançar ou

manter a atribuição patrimonial da contraparte, cada contraente tem (o ónus hoc sensu)

de realizar uma contraprestação. Para que o contrato seja oneroso é preciso que cada

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uma das partes tenha simultaneamente uma vantagem de natureza patrimonial e um

sacrifício do mesmo tipo. É gratuito o contrato em que, segundo a comum interação

dos contraentes, um deles proporcionou uma vantagem patrimonial ou outro, sem

qualquer co respectivo ou contraprestação. Para que o contrato seja gratuito, é preciso

que uma das partes tenha um benefício patrimonial e a outra sofra apenas um sacrifício

patrimonial.

Contratos bilaterais e unilaterais: Dizem-se contratos unilaterais, os contratos dos

quais resultam obrigações só para uma das partes. O contrato é sempre um negócio

jurídico bilateral, visto nascer do enlace de duas declarações de vontade contrapostas e

ter assim sempre duas partes. Mas há negócios bilaterais que só criam obrigações para

uma das partes (ex. doações – art. 940º CC – comodato – art. 1129º CC – no mútuo e

no mandato gratuito – art. 1157º CC, etc.; estes são contratos unilaterais.

Dos contratos bilaterais (ou sinalagmáticos), como a compra e venda, a empreitada,

não só nascem obrigações se encontram unidas uma à outra por um vínculo de

reciprocidade ou interdependência. O vínculo que, segundo a intenção dos contraentes,

acompanha as obrigações típicas do contrato desde o nascimento deste, continua a

refletir-se no regime da relação contratual, durante todo o período de execução do

negócio e em todas as vicissitudes registadas ao longo da existência das obrigações.

Os contratos bilaterais ou sinalagmáticos, são contratos de que emergem duas

obrigações, cada uma a cargo de uma das partes, ligadas pelo tal sinalagma genético ou

funcional. O sinalagma, liga entre si as prestações essenciais de cada contrato bilateral,

mas não todos os deveres de prestação dele nascidos.

Exceção do não cumprimento (art. 428º CC): Um dos traços fundamentais do regime

dos contratos bilaterais, que constitui um simples corolário do pensamento básico do

sinalagma funcional, consiste na exceção do não cumprimento do contrato (exceptio

non adimpleti contratus). Desde que não haja prazos diferentes para o cumprimento das

prestações, qualquer dos contraentes pode recusar a sua prestação (invocando a exceção

do não cumprimento do contrato), enquanto o outro não efetuar a que lhe compete ou

não o oferecer o seu cumprimento simultâneo (art. 428º CC). As obrigações

compreendidas no sinalagma devem, em princípio, ser cumpridas simultaneamente.

Condição resolutiva tácita: Se a impossibilidade da prestação proceder de facto

imputável ao devedor, tem o credor a faculdade de resolver o contrato e de exigir a

restituição da sua prestação por inteiro, se porventura a tiver já realizado (art. 810º/2

CC). É a principal sanção apontada contra o inadimplemento da obrigação nos

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contratos bilaterais, medida que assenta sobre a chamada condição resolutiva tácita. A

designação de condição resolutiva tácita repousa sobre a ideia de que, atento o nexo de

interdependência psicológica existente entre as prestações integradoras do contrato

bilateral, cada uma das partes se reserva a faculdade de resolver o contrato (fazendo

cessar a sua eficácia) se a outra não quiser ou não puder cumprir.

Contrato a favor de terceiro: É o contrato em que um dos contraentes (promitente)

atribui, por conta e à ordem do outro (promissário), uma vantagem a um terceiro

(beneficiário) estranho à relação contratual. A vantagem traduz-se em regra numa

prestação assente sobre o respectivo direito de crédito; mas pode consistir outro sim na

liberação de um débito, na constituição, modificação ou extinção de um direito real.

Essencial ao contrato a favor de terceiro, como figura típica autónoma, é que os

contraentes procedam com a intenção de atribuir, através dele, um direito (de crédito ou

real) a terceiro ou que dele resulte, pelo menos, uma atribuição patrimonial imediata

para o beneficiário.

Contrato para pessoa a nomear (art. 452º CC): É o contrato em que uma das partes

se reserva a faculdade de designar uma outra pessoa que assuma a sua posição na

relação contratual, como se o contrato tivesse sido celebrado com esta última. Não há

no contrato para pessoa a nomear nenhum desvio ao princípio da eficácia relativa (inter

partes) dos contratos. O contrato para pessoa a nomear produz todos os seus efeitos

apenas entre os contraentes. Só que, enquanto não há designação do animus electu, os

contraentes são os outorgantes do contrato. Depois da designação, o contraente passa a

ser, de acordo com o conteúdo do contrato, já não o outorgante, mas a pessoa designada

(art. 455º/1 CC). Este contrato tem o seu campo principal de incidência na compra e

venda. E tanto pode ser posteriormente nomeado o comprador, como o vendedor. Ou a

pessoa a nomear aceita o negócio e considera-se contraente o que o foi originariamente,

salvo, neste último caso se houver estipulação em contrário. Admite-se assim, dentro

dos princípios da autonomia privada, que se deixe o negócio sob condição, ou seja,

ineficaz se a pessoa a nomear não o ratificar.

4.4 EFEITOS/EFICÁCIA DOS CONTRATOS

Os contratos podem produzir efeitos de natureza jurídica muito variada. Tipicamente e

privilegiadamente os contratos são fontes de obrigações, podem produzir e muitas vezes produzem

efeitos de natureza obrigacional. Mas podem produzir efeitos de natureza real.

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Page 48: Direito Do Turismo - Apontamentos

Um contrato de compra e venda produz um efeito real, transmite-se um direito real por

eles;

Um contrato de constituição de usufruto é um contrato que produz um efeito real,

constitui um direito real;

Um contrato de constituição de uma servidão é um contrato com um efeito de natureza

real.

O princípio da eficácia inter partes do contrato (art. 406º CC), é um princípio geral de

imodificabilidade e indestrutibilidade do contrato: a não ser “por mútuo consentimento dos

contraentes”. Em princípio o contrato não pode modificar-se nem extinguir-se, senão, com o acordo

de ambas as partes.

Quanto à resolução dos contratos; e à eficácia inter partes

O direito à resolução pode ser exercido extrajudicialmente, em muitos casos, basta o contraente

que tem fundamento dizer à outra parte “acabou, extingue-se com este fundamento”.

E há casos em que a lei impõe o recurso ao Tribunal, o direito à resolução é um direito

potestativo, que às vezes é de exercício judicial. Também há exceções, que a lei enuncia que em

relação a terceiros (inter partes) o contrato produz efeitos em termos previstos na lei (art. 406º/2

CC). Afirmando que o contrato deve ser pontualmente cumprido, a lei quer dizer que todas as

cláusulas contratuais devem ser observadas, que o contrato deve ser cumprido ponto por ponto, e não

apenas que ele deve ser executado no prazo fixado.

A regra da ineficácia dos contratos em relação a terceiros não contraria o princípio geral de que

todos têm de reconhecer a eficácia deles entre as partes. É pois, de distinguir entre efeitos diretos e

efeitos reflexos. Estes atingem terceiros.

Uma importante categoria de contratos no que respeita aos efeitos que produzem são os

chamados contratos com eficácia real, também designados por contratos reais “quod effectum”,quer

dizer contratos reais quanto aos efeitos. Estes contratos produzem efeitos de direito real, isto é,

constituem, transmitem, modificam ou extinguem direitos reais.

Quanto a estes contratos vigora o princípio da consensualidade: significa que o efeito real

emergente do contrato se produz pela mera celebração do contrato, pelo mero acordo das partes,

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independentemente de qualquer ato ulterior, designadamente, independentemente de qualquer

entrega do bem. Temos pois o princípio da consensualidade com duas aceções:

Princípio da consensualidade, para significar que um contrato se celebra pelo mero

acordo das partes, independentemente da observância de qualquer forma especial ou da

entrega de qualquer bem;

E princípio da consensualidade, com o sentido que lhe é atribuído pelo art. 408º CC,

nos contratos com eficácia real, significando que o efeito real decorrendo do contrato

independentemente de qualquer ato posterior ao acordo conclusivo do contrato (art.

1129º, 1142º, 1185º CC).

O princípio geral decorrente do art. 408º CC é o de que o efeito real do contrato em princípio

se produz pela mera celebração do contrato.

Os contratos reais quanto à constituição, são aqueles que se aperfeiçoam, que se celebra

apenas com a entrega da coisa que é seu objeto (ex.: comodato, mútuo, depósito). São três as

principais diferenças existentes entre os regimes da eficácia real e da eficácia meramente

obrigacional dos contratos de alienação ou operação de coisa determinada:

O contrato de alienação, não dispensando um ato posterior de transmissão da posse e de

transferência do domínio, mercê da sua eficácia meramente obrigacional, torna o

adquirente um simples credor da transferência de coisa, com todas as contingências

próprias do carácter relativo dos direitos de crédito.

No sistema de translação imediata, o risco do perecimento da coisa passa a correr por

conta do adquirente, antes mesmo do alienante efetuar a entrega (arts. 408º/1, 796º/1

CC), ao invés do que sucede com outra orientação, se a coisa, por qualquer

circunstância, só depois da conclusão do contrato se transferir para o adquirente,

somente a partir deste momento posterior o risco passa a correr por conta dele.

A nulidade ou anulação do contrato de alienação tem como consequência, no regime

tradicionalmente aceite entre nós a restauração do domínio da titularidade do alienante

(art. 291º CC – limitação).

Coisa futura: Isto não é assim, porém, quando o contrato com eficácia real respeitar a coisa

futura ou indeterminada. Coisa futura é a coisa que ainda não existe materialmente, é a coisa que já

existindo materialmente não tem autonomia jurídica; e ainda são as coisas futuras aquelas que não

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Page 50: Direito Do Turismo - Apontamentos

estão em poder do disponente ou a que ele não tem direito ao tempo da declaração negocial (art.

211º CC).

Quando a coisa é indeterminada, tem de ser indeterminável, também não se constitui ou

transmite imediatamente o efeito real, só quando a coisa for determinada com o conhecimento de

ambas as partes. Quando se tratar de partes componentes ou integrantes, a lei diz que o efeito real

opera no momento da separação ou colheita do bem.

Reserva de propriedade: O princípio da transferência imediata do direito real constitui a regra

dos contratos de alienação de coisa determinada (art. 408º/1 CC); mas não se trata de um princípio

de ordem pública. É uma pura regra supletiva, que as partes podem afastar, por exemplo, mediante o

estabelecimento de uma cláusula de reserva de propriedade. A reserva de propriedade, prevista no

art. 409º CC (art. 934º, quanto à reserva de venda a prestações), consiste na possibilidade,

conferida ao alienante de coisa determinada, de manter, na sua titularidade o domínio da coisa até ao

cumprimento (total ou parcial) das obrigações que recaíam sobre a outra parte ou até à verificação de

qualquer outro evento. Trata-se de uma cláusula que naturalmente há-de convir, por excelência, às

vendas a prestações e às vendas com espera de preço. No caso previsto no art. 409º CC, o negócio é

realizado sob condição suspensiva, quanto à transferência da propriedade. A reserva, quando incida

sobre coisas imóveis, ou sobre coisas móveis sujeitas a registo, carece de ser registada, sem o que

não produz efeitos em relação a terceiros.

Tratando-se de coisa móvel, não sujeita a registo, o pacto vale em relação a terceiros, sem

necessidade de qualquer formalidade especial, uma vez que não vigora, quanto às próprias coisas

móveis, o princípio segundo o qual a posse vale título.

4.5 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

Os contratos extinguem-se, desde logo nos termos do art. 406º CC, que é o regime geral, por

mútuo consenso, isto é, por acordo das partes. Se ambas as partes quiserem terminar o contrato que

celebraram, naturalmente que podem livremente fazê-lo. Esta forma extintiva do contrato designa-se

por revogação ou distrate do contrato.

A revogação ou distrate tem normalmente uma eficácia “ex nunc”, isto é, para o futuro, todos

os efeitos produzidos pelo contrato se mantêm e ele deixa de produzir efeitos a partir do momento da

sua revogação. Mas as partes podem atribuir-lhe eficácia retroativa, desde que não afetem direitos de

terceiros.

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As estipulações posteriores ao negócio formal só estão sujeitas às exigências formais do

próprio negócio se a razão de ser dessa exigência lhe for extensiva (art. 221º/2 CC).

Para além da revogação ou distrate, o contrato pode extinguir-se por caducidade. É um efeito

jurídico decorrente da verificação de um facto jurídico “stricto sensu”.

Num negócio o contrato caduca quando, por exemplo, tinha um prazo ou quando tinha um

termo incerto, pela verificação de um facto jurídico “stricto sensu”, que é o decurso do tempo, em

que o contrato deixa de produzir efeitos, isto é a caducidade.

A caducidade tem tipicamente, apenas efeitos para o futuro, todos os efeitos já produzidos pelo

contrato até ao momento da verificação do prazo são preservados.

Outra forma de extinção dos contratos e a denúncia. Esta é uma forma de extinção dos

contratos de execução duradoura, sem tempo de duração convencional ou legalmente fixada. Só pode

haver denúncia, nos contratos de execução duradoura que não tenha prazo, nem convencional nem

legalmente fixado, que não tenham termo de duração, que tenham, sido acordados para vigorar

indefinidamente.

Uma última forma de extinção dos contratos é a chamada resolução, também designada

sobretudo pela doutrina mais antiga rescisão do contrato. A resolução do contrato encontra-se

prevista e regulada nos arts. 432º segs. CC, e consiste na extinção do contrato com eficácia retroativa

por declaração unilateral e vinculada de uma das partes. Tal significa que a resolução do contrato é

feita por um dos contraentes – por apenas um dos contraentes. Porém ela não é feita livremente por

esse ou por qualquer dos contraentes; só pode ser feita, é um direito potestativo, que só pode ser

exercido, quando tiver fundamento na lei ou no próprio contrato.

O exercício do direito à resolução do contrato tem como efeito a extinção de todos os efeitos

do contrato, retroativamente “abinicio”, o que significa que na esfera jurídica do outro contraente

todos os efeitos jurídicos que o contrato lá tinha produzido desaparecem. Isso quer ele queira, quer

não queira, sem que se possa opor a isso. É por isso que a resolução de um contrato é um direito

potestativo, vinculado a um fundamento legal ou convencional.

FUNDAMENTOS LEGAIS DE RESOLUÇÃO DE UM CONTRATO

Falta de pagamento de uma prestação que não exceda o oitavo do preço (art. 934º

CC.) Não é geral, é privativo da compra e venda a prestação com reserva de propriedade. A

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exceção aberta no art. 934º CC, ao regime geral de venda na prestações reveste carácter

imperativo. Não obstante convenção em contrário, ainda que haja, ou mesmo que haja

“convenção em contrário”. É esse o sentido que inquestionavelmente decorre do espírito da

lei, toda empenhada em defender o comprador contra a perigosa sedução do pagamento a

prestações e da máquina publicitária dos vendedores e em atenuar as consequências da

desigual condição económica dos contraentes. Para conseguir esse objetivo, a norma legal

necessita de impor-se ao próprio contraente protegido, a fim de que ele não seja vítima da sua

mesma fraqueza.

Um fundamento que é extensivo a toda uma categoria de contratos, e o art. 810º/2 CC,

o incumprimento definitivo e culposo de uma das obrigações das partes: Este

fundamento permite a resolução do contrato, quando o contrato for sinalagmático, for

bilateral: nos contratos bilaterais, o credor tem direito à resolução do contrato se o

devedor incumprir definitiva e culposamente a obrigação que sobre ele impendia. O

principal objetivo da cláusula penal (art. 810º CC) é evitar dúvidas futuras e litígios

entre as partes quanto à determinação do montante da indemnização. Muitas vezes

porém, ela é fixada com o intuito de pôr um limite à responsabilidade nos casos em que

os danos possam atingir proporções exageradas em relação às previsões normais dos

contraentes. Também pode servir para atribuir carácter patrimonial a prestação que o

não tem (art. 398º/2 CC). Não só porque se trata de uma cláusula acessória, mas

porque a obrigação do devedor se modifica, quando haja lugar à aplicação de pena,

exige o n.º 2 do art. 810º CC, para a cláusula penal, a forma exigida para a obrigação

principal, e considera a cláusula nula, se for nula esta obrigação. Pela mesma razão se

deve considerar inexigível a pena convencionada, embora a lei não o diga

expressamente, se for inexigível a obrigação principal, como acontece nas obrigações

naturais, pelo menos quando a razão da inexigibilidade for a mesma. Apesar do carácter

acessório que normalmente reveste, nada obsta a que a cláusula penal seja assumida

como penalidade para a não realização de determinado ato, sem que a parte se obrigue

propriamente à realização desse ato.

FUNDAMENTO GERAL DA RESOLUÇÃO DOS CONTRATOS

É aquele que está previsto e regulado nos arts 437º a 439º CC, é a chamada alteração das

circunstâncias. A resolução ou modificação do contrato é admitida em termos propositadamente

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genéricos, para que, em cada caso o Tribunal, atendendo à boa-fé e à base do negócio, possa

conceder ou não a resolução ou modificação. Alude a lei, aos seguintes requisitos:

Que haja alteração anormal das circunstâncias em que as partes tenham fundado

receio de contratar. É preciso que essas circunstâncias se tenham modificado;

Que a exigência de obrigação à parte lesada afete gravemente os princípios da boa-fé

contratual e não seja coberta pelos riscos do negócio como no caso de se tratar de um

negócio por sua natureza aleatório.

Não exige a lei que os contratos tenham prestações correspectivas. Pode tratar-se, assim, dum

contrato unilateral, como uma doação, um depósito gratuito, um mandato gratuito, etc.

Tem especial relevo a aplicação dos princípios dos arts 433º a 435º CC. A restituição, quando

houver lugar a ela, não está subordinada às regras do enriquecimento sem causa. Há que restituir

tudo o que tiver sido recebido.

Tem ainda grande importância prática o disposto no art. 434º/2 CC, visto ser nos contratos de

execução continuada ou periódica que a resolução ou modificação fundada na alteração das

circunstâncias tem o seu campo de mais frequente aplicação.

4.6 CONTRATOS TIPIFICADOS

Compra e venda (art. 874º e seguintes CC): Do art. 874º CC, resulta claramente a atribuição

de natureza real, e não apenas obrigacional, ao contrato de compra e venda o que resulta também do

art. 879º a) CC. Dos próprios termos da definição – que alude à transmissão de propriedade ao outro

direito – se depreende, porém, que a compra e venda continua a ser o instrumento jurídico da troca

de bens – e não da troca da prestação de serviços. Tem por objeto essencial a transmissão de um

direito, que, para ser transmitido, necessita de existir previamente como tal, na titularidade do

vendedor, a compra e venda não se confunde com o contrato de empreitada (art. 1207º CC).

Doação (art. 940º e segs. CC): São três os requisitos exigidos no art. 940º CC, para que exista

uma doação:

Disposição gratuita de certos bens, ou assunção de uma dívida, em benefício do

donatário, a atribuição patrimonial sem co respectivo;

Diminuição do património do doador;

Espírito de liberdade.

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Forçoso é, para haver doação, que a atribuição patrimonial seja gratuita, e que não exista,

portanto um co respectivo de natureza patrimonial. Pode existir, entretanto, um co respectivo de

natureza moral, sem que o ato para a sua gratuitidade, assim como podem existir encargos impostos

ao donatário (cláusulas modais), que limitem o valor da liberalidade (art. 963º CC).

Sociedade (arts. 980º e segs. CC): O art. 980º não dá uma definição de sociedade, mas do

contrato de sociedade. A origem necessariamente contratual da sociedade reflete-se no regime do ato

jurídico que dá lugar à sua constituição, são três os requisitos essenciais do contrato de sociedade: 

A contribuição dos sócios;

O exercício em comum de certa atividade económica que não seja de mera fruição;

E a repartição dos lucros.

A sociedade tem sempre por objeto a repartição dos lucros, não bastando que os sócios lucrem

diretamente através da atividade em comum. Às sociedades são aplicáveis subsidiariamente, as

disposições que regulam as pessoas coletivas, quando a analogia das situações o justifique (art. 157º

CC).

Locação (art. 1022º segs. CC): O contrato de locação é puramente consensual, não tendo, por

conseguinte, carácter real quod constitutionem. É oneroso e tem efeitos duradouros (porquanto dele

nasce uma relação – a relação locativa – que tem, de um lado, uma prestação continuada – a do

locador – e, do outro, uma prestação periódica ou reiterada – a do locatário).

Parceria pecuária (art. 1121º segs. CC): Os sujeitos deste contrato têm as designações

de parceiro proprietário e parceiro pensador  (art. 1123º e 1127º CC). A lei não impede que as

posições atribuídas neste artigo, quer ao parceiro proprietário quer ao parceiro pensador, sejam

exercidas, em parte, pelo outro contraente.

Comodato (arts 1129º e segs. CC): É por sua natureza real quod constitutionem  – no sentido

de que só se completa pela entrega da coisa. A lei diz intencionalmente que o comodato é o contrato

pelo qual uma das partes entrega…certa coisa, e não pelo qual se obriga a entregar. O comodato é

um contrato gratuito, onde não há por conseguinte, a cargo do comodatário, prestações que

constituam o equivalente ou o co respectivo da atribuição efetuada pelo comodante. Nenhuma das

obrigações discriminadas no art. 1135º CC, está realmente ligada a esta atribuição pelo nexo próprio

do sinalagma ou mesmo dos contratos onerosos. O objeto do comodato há-de ser certa coisa, móvel

ou imóvel, e portanto, uma coisa não fungível, dada a obrigação imposta ao comodatário de restituir.

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Mútuo (arts. 1142º segs. CC): O mútuo implica a transferência da propriedade, não porque a

função do contrato se dirija a esse fim, mas porque a traslatio dominii é indispensável – como meio

ou instrumento jurídico – de obtenção do gozo da coisa que se visa proporcionar ao mutuário, dada a

natureza fungível dela. Implicando o contrato de mútuo a transferência da propriedade da coisa. O

contrato de mútuo (gratuito) é tal, como o comodato, um contrato unilateral sobre a obrigação de

restituir imposta ao mutuário. O mútuo tem naturalmente por objeto o dinheiro, mas pode recair

sobre outras coisas, desde que sejam fungíveis.

Contrato de trabalho (art. 1152º CC): Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se

obriga, mediante retribuição, a prestar a sua atividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a

autoridade e direção desta.

Prestação de serviços (art. 1154º CC): Contrato de prestação de serviço é aquele em que uma

das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com

ou sem retribuição. O mandato, o depósito e a empreitada, regulados nos capítulos subsequentes, são

modalidades do contrato de prestação de serviço.

Mandato  (art. 1157º segs. CC): Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a

praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra. O mandato presume-se gratuito, excepto se

tiver por objeto atos que o mandatário pratique por profissão; neste caso, presume-se oneroso. Se o

mandato for oneroso, a medida da retribuição, não havendo ajuste entre as partes, é determinada

pelas tarifas profissionais; na falta destas, pelos usos; e, na falta de umas e outros, por juízos de

equidade. O mandatário é obrigado:

A praticar os atos compreendidos no mandato, segundo as instruções do mandante;

A prestar as informações que este lhe peça, relativas ao estado da gestão;

A comunicar ao mandante, com prontidão, a execução do mandato ou, se o não tiver

executado, a razão por que assim procedeu;

A prestar contas, findo o mandato ou quando o mandante as exigir;

A entregar ao mandante o que recebeu em execução do mandato ou no exercício deste,

se o não despendeu normalmente no cumprimento do contrato.

O mandato é livremente revogável por qualquer das partes, não obstante convenção em

contrário ou renúncia ao direito de revogação. Se, porém, o mandato tiver sido conferido também no

interesse do mandatário ou de terceiro, não pode ser revogado pelo mandante sem acordo do

interessado, salvo ocorrendo justa causa. O mandato caduca:

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Por morte ou interdição do mandante ou do mandatário;

Por inabilitação do mandante, se o mandato tiver por objeto atos que não possam ser

praticados sem intervenção do curador.

Salvo estipulação em contrário, o mandatário não é responsável pela falta de cumprimento das

obrigações assumidas pelas pessoas com quem haja contratado, a não ser que no momento da

celebração do contrato conhecesse ou devesse conhecer a insolvência delas.

Depósito (art. 1185º segs. CC): Depósito é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra

uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for exigida. É aplicável ao

depósito o disposto no artigo 1158.º O depositário é obrigado:

A guardar a coisa depositada;

A avisar imediatamente o depositante, quando saiba que algum perigo ameaça a coisa

ou que terceiro se arroga direitos em relação a ela, desde que o facto seja desconhecido

do depositante;

A restituir a coisa com os seus frutos.

O depositário pode guardar a coisa de modo diverso do convencionado, quando haja razões

para supor que o depositante aprovaria a alteração, se conhecesse as circunstâncias que a

fundamentam; mas deve participar-lhe a mudança logo que a comunicação seja possível. O

depositário não pode recusar a restituição ao depositante com o fundamento de que este não é

proprietário da coisa nem tem sobre ela outro direito. Se, porém, for proposta por terceiro ação de

reivindicação contra o depositário, este, enquanto não for julgada definitivamente a ação, só pode

liberar-se da obrigação de restituir consignando em depósito a coisa. Se chegar ao conhecimento do

depositário que a coisa provém de crime, deve participar imediatamente o depósito à pessoa a quem

foi subtraída ou, não sabendo quem é, ao Ministério Público; e só poderá restituir a coisa ao

depositante se dentro de quinze dias, contados da participação, ela não lhe for reclamada por quem

de direito.

Empreitada (art. 1207º segs. CC): Empreitada é o contrato pelo qual uma das partes se obriga

em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço. Essencial para que haja empreitada é

que o contrato tenha por objeto a realização de uma obra e não um serviço pessoal. Os sujeitos do

contrato de empreitada têm as designações legais de empreiteiro e de dono da obra.

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Page 57: Direito Do Turismo - Apontamentos

Renda perpétua (art. 1231º segs. CC): Contrato de renda perpétua é aquele em que uma

pessoa aliena em favor de outra certa soma de dinheiro, ou qualquer outra coisa móvel ou imóvel, ou

um direito, e a segunda se obriga, sem limite de tempo, a pagar, como renda, determinada quantia em

dinheiro ou outra coisa fungível. Como elementos do contrato, exige o art. 1231º CC, que haja, por

parte de um dos contraentes, a transferência de certa soma de dinheiro ou qualquer outra coisa móvel

ou imóvel, ou um direito, e que o adquirente se obrigue a pagar, como renda, determinada quantia

em dinheiro ou outra coisa fungível. A renda perpétua só é válida se for constituída por escritura

pública. O devedor da renda é obrigado a caucionar o cumprimento da obrigação. Ao beneficiário da

renda é permitido resolver o contrato, quando o devedor se constitua em mora quanto às prestações

correspondentes a dois anos, ou se verifique algum dos casos previstos no artigo 780º CC. O devedor

pode a todo o tempo remir a renda, mediante o pagamento da importância em dinheiro que

represente a capitalização da mesma, a taxa legal de juros. O direito de remissão e irrenunciável, mas

é lícito estipular-se que não possa ser exercido em vida do primeiro beneficiário ou dentro de certo

prazo não superior a vinte anos.

Renda vitalícia (art. 1238º segs. CC): Contrato de renda vitalícia é aquele em que uma pessoa

aliena em favor de outra certa soma de dinheiro, ou qualquer outra coisa móvel ou imóvel, ou um

direito, e a segunda se obriga a pagar certa quantia em dinheiro ou outra coisa fungível durante a

vida do alienante ou de terceiro. Sem prejuízo da aplicação das regras especiais de forma quanto à

alienação da coisa ou do direito, a renda vitalícia deve ser constituída por documento escrito, sendo

necessária escritura pública se a coisa ou o direito alienado for de valor igual ou superior a 20 000

euros. A renda pode ser convencionada por uma ou duas vidas. Ao beneficiário da renda vitalícia é

lícito resolver o contrato nos mesmos termos em que é permitida a resolução da renda perpétua ao

respectivo beneficiário.

Jogo e aposta (art. 1245º CC): O jogo e a aposta não são contratos válidos nem constituem

fonte de obrigações civis; porém, quando lícitos, são fonte de obrigações naturais, excepto se neles

concorrer qualquer outro motivo de nulidade ou anulabilidade, nos termos gerais de direito, ou se

houver fraude do credor na sua execução.

O jogo e aposta, mesmo quando lícitos, não são contratos válidos nem, portanto, fonte de

obrigações civis. Os jogos lícitos são porém, fonte de obrigações naturais, sendo aplicável a estas

obrigações o disposto no art. 402º e segs. CC. Quer isto dizer, no essencial, que não é judicialmente

exigível o cumprimento das obrigações emergentes dos jogos lícitos, mas que, na hipótese de o

devedor cumprir espontaneamente, já lhe não será permitido exigir a repetição do indevido. A

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Page 58: Direito Do Turismo - Apontamentos

atribuição por ele efetuada em tais circunstâncias é juridicamente reconhecida como incumprimento

de um dever social.

Transação (art. 1248º segs. CC): Transação é o contrato pelo qual as partes previnem ou

terminam um litígio mediante recíprocas concessões. O fim do contrato é prevenir ou terminar um

litígio. Admite portanto, a lei que a transação tenha lugar, não só estando a causa pendente, mas

também antes da proposição da ação judicial, trata-se neste caso, da transação chamada preventiva

ou extra judicial a que se refere o art. 1250º CC. A transação tem por objeto recíprocas concessões. A

transação preventiva ou extrajudicial constará de escritura pública quando dela possa derivar algum

efeito para o qual a escritura seja exigida, e constará de documento escrito nos casos restantes. As

partes não podem transigir sobre direitos de que lhes não é permitido dispor, nem sobre questões

respeitantes a negócios jurídicos ilícitos.

4.7 GARANTIA

A lei não se limita a impor um dever de prestar ao obrigado e a atribuir ao credor o correlativo

à prestação. Procura assegurar também a realização coactiva da prestação sem prejuízo do direito

que, em certos casos, cabe ao credor de resolver o contrato ou de recusar legitimamente o

cumprimento da obrigação que recaía sobre ele próprio, até que a devedor se decida a cumprir.

A ação creditória, é o poder de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação, quando o

devedor não cumpra voluntariamente, e de executar o património deste (art. 817º CC).

Vista do lado do devedor, a garantia traduz-se fundamentalmente na responsabilidade do seu

património pelo cumprimento da obrigação e na consequente sujeição dos bens que o integram aos

fins específicos da execução forçada.

Se o devedor não cumprir espontaneamente a obrigação:

Ou a prestação é de tal natureza que o credor pode exigir a sua execução específica; ou

a prestação, por ser infungível, é insusceptível de execução específica.

Ou o credor já perdeu o interesse que tinha na prestação e o incumprimento tornou-se

definitivo.

Quando se chega a esta situação de o credor ter ao seu dispor a indemnização pelos danos

decorrentes do incumprimento, o que garante o cumprimento do crédito e do crédito indemnizatório

é o património do devedor. A garantia geral das obrigações é o património do devedor. Mas nem

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Page 59: Direito Do Turismo - Apontamentos

todos os bens são susceptíveis de apreensão judicial, isto é, nem todos os bens são penhoráveis (arts.

82º, 823º CPC), dentro dos bens penhoráveis há três categorias:

Há bens que são totalmente penhoráveis;

Há bens que são relativamente penhoráveis, quer dizer que são impenhoráveis em

relação a certos processos;

Há bens que são parcialmente impenhoráveis, assim acontece com uma parte (2/3) de

todas as remunerações periódicas de trabalho.

A garantia geral das obrigações, é constituída não por todo o património do devedor, mas

apenas pelos bens componentes desse património que são susceptíveis de penhora. Meios de

conservação da garantia patrimonial:

Declaração de nulidade/legitimidade dos credores (art. 605º CC);

Sub-rogação do credor ao devedor (art. 606º CC);

A impugnação pauliana (art. 610º, 612º CC);

Arresto  (art. 619º CC).

Garantias especiais das obrigações

Para além da garantia geral que é comum a qualquer obrigação, uma obrigação pode dispor de

uma garantia especial, a qual pode ter como fonte: convenção, a lei ou decisão judicial,

dependentemente do tipo de garantia. Dois subtipos:

Garantias pessoais;

Garantias reais.

Garantias pessoais: está-se perante esta, quando um sujeito, terceiro relativamente à relação

obrigacional, responde com o seu património pelo cumprimento da obrigação. A nossa lei prevê três

garantias especiais pessoais:

A fiança (art. 627º CC);

A sub-fiança (art. 630º CC);

Mandato de crédito (art. 629º CC).

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Page 60: Direito Do Turismo - Apontamentos

Garantias reais: Está-se perante esta, quando por convenção das partes, por estipulação da lei

ou por decisão judicial, certos bens, ou o valor de certos bens, ou o valor dos rendimentos de certos

bens, responde privilegiadamente pelo cumprimento da obrigação.

Quer isto dizer que quando há uma garantia real, o credor tem o direito de se fazer pagar com

preferência sobre todos os credores, pelo valor de um certo bem ou dos rendimentos de um certo

bem. Ele pode fazer vender judicialmente um certo bem e com o produto da venda judicial desse

bem, fazer-se pagar pelo seu crédito. Isto independentemente de ser ou não suficiente. Se for

insuficiente, ele depois concorre, para a parte restante com os demais credores quanto à garantia

geral. As garantias reais previstas na nossa lei são:

A consignação de rendimentos (art. 656º CC);

Penhor (art. 666º/1 CC);

Hipoteca (art. 686º/1 CC);

Privilégios creditórios (art. 733; 736º CC);

Direito de retenção (art. 754º CC).

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Page 61: Direito Do Turismo - Apontamentos

5. Prestação de serviços turísticos

5.1 NOÇÕES JURÍDICAS

5.1.1. TURISMO

Tal como definido no artigo 2º, alínea a) do Decreto-Lei nº 191/2009, de 17 de Agosto (Lei

de Bases das Políticas Públicas de Turismo, doravante, LBT): “movimento temporário de

pessoas para destinos turísticos distintos da sua residência habitual, por motivos de lazer, negócios

ou outros, bem como as atividades económicas geradas e as facilidades criadas para satisfazer as

suas necessidades”

5.1.2. ATIVIDADE TURÍSTICA

Qualquer atividade económica direta ou indiretamente ligada à satisfação de necessidades e

interesses dos intervenientes no fenómeno do turismo, nomeadamente, a prestação de serviços aos

turistas

5.1.3. SERVIÇO TURÍSTICO:

Atividade turística que tem por objeto a satisfação das necessidades e interesses dos turistas

(alojamento, organização de eventos, transportes, organização de viagens, etc…)

5.1.4. TURISTA

Nos termos da alínea c), do artigo 2º da LBT, é “a pessoa que passa pelo menos uma noite

num local que não seja o da residência habitual e a sua deslocação não tenha como motivação o

exercício de atividade profissional remunerada no local visitado”.

5.1.5. O UTILIZADOR DE SERVIÇOS TURÍSTICOS

É, de acordo com o que consta da alínea d), do artigo 2º da LBT “ a pessoa que, não reunindo

a qualidade de turista, utiliza serviços e facilidades turísticas”.

De onde se retira que os serviços turísticos, preferencialmente destinados ao turista, podem ser

prestados a outras pessoas, por exemplo os utentes de um spa ou de uma piscina de um hotel.

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Page 62: Direito Do Turismo - Apontamentos

5.2 A RELAÇÃO JURÍDICA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TURÍSTICOS

Relação jurídica que emerge, regra geral, de um contrato (de prestação de serviços ou de um

contrato misto, por exemplo, locação e prestação de serviços), entre quem (pessoa singular ou

coletiva, habitualmente no âmbito da exploração de uma empresa) realiza uma atividade turística,

de uma parte e o turista ou o utilizador de serviços turísticos, de outra parte.

Não cabem no domínio da relação jurídica definida as relações jurídicas que se estabelecem

entre diferentes prestadores de atividades turísticas que não envolvam a prestação direta de um

serviço ao turista ou ao utilizador do serviço turístico.

5.3 . POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO

5.3.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Princípio da sustentabilidade: Este princípio encontra-se vertido no artigo 4º, alienas

a) a c), da LBT e exprime-se na exigência de adoção de políticas que fomentem a

fruição e utilização dos recursos ambientais, o respeito pela autenticidade

sociocultural das comunidades locais e a viabilidade económica das empresas.

Princípio da transversalidade: O artigo 5º da LBT define este princípio como “ a

necessidade de articulação e de envolvimento harmonizado de todas as políticas

sectoriais que influenciam o desenvolvimento turístico ….”

Princípio da competitividade: Nos termos das alíneas a) a e), do artigo 6º da LBT, o

essencial do denominado princípio manifesta-se pela adoção de políticas de

ordenamento do território, mecanismos de regulação, políticas de simplificação de

procedimentos administrativos, de educação e formação, bem como políticas fiscais e

laborais, que permitam criar vantagens competitivas face aos países concorrentes.

Princípio do respeito pelos direitos do consumidor à qualidade e segurança dos

serviços turísticos (veja-se artigo 7º da LBT).

Princípio da regulação e da fiscalização das atividades turísticas (veja-se artigo 7º

da LBT).

5.3.2. PLANO ESTRATÉGICO NACIONAL DO TURISMO (PENT)

Documento onde se encontra o plano de âmbito de aplicação plurianual contendo “diretrizes,

metas e linhas de ação” que “enquadra” as políticas públicas de turismo, artigo 8º da LBT. O PENT

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Page 63: Direito Do Turismo - Apontamentos

atualmente em vigor (PENT 2013-2015) foi aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº

24/2013 que cria a Comissão de Orientação Estratégica para o Turismo (COET) presidida pelo

Primeiro-Ministro.

5.3.3. OBJECTIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO

Tendo em atenção o que vem estabelecido no artigo 9º, nº 1, alíneas a) a j) da LBT são

objetivos da política nacional de turismo: aumentar os fluxos turísticos, contribuir para o

desenvolvimento económico e social do País, promover o reforço da organização regional do

turismo, promover a generalização do acesso dos portugueses aos benefícios do turismo, a

acessibilidade às atividades e empreendimentos turísticos, estimular a competitividade internacional,

criar as condições mais favoráveis para o aumento do investimento privado, construir uma identidade

turística nacional e uma atitude de hospitalidade transversal a todo o país, estimular a concretização

de parcerias público-privadas, introduzir mecanismos de compensação em favor de comunidades

locais.

5.3.4. Áreas de Atuação

Qualificação da oferta (artigo 10º da LBT), formação e qualificação dos recursos humanos

(artigo 11º da LBT), promoção turística (artigo 12º da LBT), acessibilidades (artigo 13º da LBT),

apoiam ao investimento (artigo 14º da LBT), informação turística (artigo 15º da LBT) e

conhecimento e investigação.

5.4 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO TURISMO

Entende-se por Administração Pública do Turismo o conjunto de entidades estruturalmente

vinculadas ao Estado, dotadas de atribuições e competências públicas, que lhes permitem prosseguir

o interesse público, no âmbito do Turismo. Denominam-se, por isso “agentes públicos do turismo”

(veja-se o artigo 17º da LBT).

5.4.1. ADMINISTRAÇÃO DIRETA DO ESTADO

5.4.1.2. Governo, em particular, o Ministério da Economia e do Emprego: Este órgão

governamental tem, de entre outras atribuições e competências, “ por missão a conceção, a

execução e a avaliação das políticas ……. de turismo e de defesa dos consumidores” ( veja-se o

Decreto-Lei nº 126-C/2011 de 29 de Dezembro que aprova a Lei Orgânica deste Ministério).

Destacam-se o Ministro e o Secretário de Estado do Turismo.

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Page 64: Direito Do Turismo - Apontamentos

5.4.1.2. Direcção-Geral das Atividades Económicas

5.4.1.3. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE): esta entidade “tem

por missão a fiscalização e prevenção do cumprimento da legislação reguladora do exercício das

atividades económicas, nos sectores alimentar e não alimentar, bem como a avaliação e

comunicação dos riscos na cadeia alimentar” (artigo 14º da Lei Orgânica do Ministério da

Economia e do Emprego).

5.4.1.4. Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (órgãos do Ministério da

Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território).

5.4.2. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA DO ESTADO

5.4.2.1. Instituto do Turismo de Portugal (Instituto de Portugal, I.P.) entendido como a

“autoridade turística nacional”, está regulado no Decreto-Lei nº 141/2007 que aprova a sua Lei

Orgânica)

São atribuições do Turismo de Portugal, IP, nos termos do artigo 4º, nº2, alíneas a) a j) do

referido Decreto-Lei, apoiar o membro do Governo responsável pelo turismo na definição,

enquadramento normativo e execução da política nacional e comunitária aplicável ao sector, propor

ao Governo as linhas estratégicas aplicáveis ao desenvolvimento do sector, assegurar a coordenação

de estudos e estatísticas, prestar apoio técnico e financeiro às entidades públicas e privadas do sector,

planear, coordenar e executar a política de promoção do país, incentivar e desenvolver uma adequada

política de qualificação de recursos humanos, acompanhar a evolução da oferta turística nacional,

promover uma política adequada de ordenamento turístico e de estruturação da oferta, apoiar

tecnicamente o membro do governo responsável pelo turismo em matéria de jogos de fortuna e azar,

fiscalizar a exploração dos jogos de fortuna e azar e do funcionamento dos casinos e bingos.

5.4.2.2. Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas a que se refere o Decreto-Lei

nº 135/2012 de 29 de Junho.

5.4.3. ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA

5.4.3.1. Entidades Regionais de Turismo: são pessoas coletivas de direito público, de âmbito

territorial, de acordo com a Lei nº 33/2013 de 16 de Maio.

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Page 65: Direito Do Turismo - Apontamentos

Têm por missão, como consta do artigo 5º, nº1 da mencionada Lei, “ a valorização e

desenvolvimento das potencialidades turísticas da respectiva área regional de turismo, bem como a

gestão integrada dos destinos no quadro do desenvolvimento turístico regional, de acordo com as

orientações e diretrizes da política de turismo definida pelo Governo e os planos plurianuais da

administração central e dos municípios que as integram”.

As suas atribuições encontram-se previstas nas alíneas de a) a g) do nº 2 do aludido artigo 5º:

“colaborar com os órgãos de administração central, definir o plano regional de turismo, assegurar

o levantamento atualizado da oferta turística regional e sub-regional, realizar a promoção da região

no mercado interno alargado, organizar e difundir a informação turística, dinamizar e potenciar os

valores e recursos turísticos regionais e sub-regionais e monitorizar a oferta turística regional e

sub-regional”.

5.4.3.2. As Autarquias Locais (Municípios e Freguesias)

5.4.3.3. Regiões Autónomas (Açores e Madeira)

5.5 O TURISMO NO TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA.

A União Europeia, Organização Internacional Regional de que Portugal é Estado- Membro,

possui uma política em matéria de turismo cujo essencial está vazado no artigo 195º, do Tratado da

União Europeia:

“1. A União completa a ação dos Estados-Membros no sector do turismo, nomeadamente

através da promoção da competitividade das empresas da União neste sector.

Para o efeito, a ação da União tem por objetivos:

a) Incentivar a criação de um clima propício ao desenvolvimento das empresas neste sector;

b)Fomentar a cooperação entre os Estados-Membros, nomeadamente através do intercâmbio

de boas práticas.

2. O Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo legislativo

ordinário, estabelecem as medidas específicas destinadas a completar as ações desenvolvidas nos

Estados-Membros para realizar os objetivos enunciados no presente artigo, com exclusão de

qualquer harmonização das disposições legislativas e regulamentares dos Estados-Membros.”

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Page 66: Direito Do Turismo - Apontamentos

6. Prestação de serviços turísticos: sujeitosConsideram-se prestadores de serviços turísticos:

Os empreendimentos turísticos;

Os estabelecimentos de restauração e de bebidas;

As agências de viagem e turismo;

Os prestadores de animação turística;

Os concessionários de jogos de fortuna e azar;

As empresas de transporte;

As empresas de aluguer de veículos.

6.1EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS

O Decreto-Lei nº 39/2008, de 7 de Março, consagra regime jurídico aplicável à instalação,

exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos. A definição de empreendimento

turístico está prevista no artigo 2º, nº 1, do referido Decreto-Lei: “Consideram-se

empreendimentos turísticos os estabelecimentos que se destinam a prestar serviços de alojamento,

mediante remuneração, dispondo, para o seu funcionamento, de um adequado conjunto de

estruturas, equipamentos e serviços complementares”.

Os tipos de empreendimentos turísticos são, de acordo com o artigo 4º DL nº 39/2008:

Os estabelecimentos hoteleiros;

Os aldeamentos turísticos;

Os apartamentos turísticos;

Os conjuntos turísticos (resorts);

Os empreendimentos de turismo de habitação;

Os empreendimentos de turismo no espaço rural;

Os parques de campismo e de caravanismo;

Os empreendimentos de turismo da natureza

Estabelecimentos Hoteleiros

Os estabelecimentos hoteleiros são, nos termos do artigo 11, nº1, do Decreto-Lei em análise

(veja-se, ainda, a Portaria nº 327/2008): “ empreendimentos turísticos destinados a proporcionar

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alojamento temporário e outros serviços acessórios ou de apoio, com o sem fornecimento de

refeições e vocacionados a uma locação diária”.

Os estabelecimentos hoteleiros dividem-se em Grupos ou Subtipos.

Hotéis;

Hotéis-apartamentos (aparthotéis) nos casos em que a maioria das unidades de

alojamento é constituída por apartamentos;

Pousadas quando explorados diretamente pela ENATUR, Empresa Nacional de

Turismo, SA, ou por terceiros mediante a celebração de contratos de franquia ou de

cessão de exploração e instalados em imóveis classificados como monumentos

nacionais, de interesse público, de interesse regional e municipal ou em edifícios que,

pela sua antiguidade, valor arquitetónico e histórico, sejam representativos de uma

determinada época.

Quanto às condições gerais de instalação de estabelecimentos hoteleiros, dispõe o artigo 12º

do mesmo Decreto-Lei, que estes devem possuir, no mínimo, 10 unidades de alojamento, podendo

ocupar uma parte independente de um edifício … ou a totalidade de um ou mais edifícios que

constituam um conjunto harmónico e articulado. Permite-se que num mesmo edifício sejam

instalados estabelecimentos hoteleiros de diferentes grupos ou categorias.

Aldeamentos turísticos

São os empreendimentos turísticos que, nos termos do artigo 13º do referenciado Decreto-Lei

e da Portaria nº 327/2008, são “constituídos por um conjunto de instalações funcionalmente

interdependentes com expressão arquitetónica coerente, situadas em espaços com continuidade

territorial, ainda que atravessados por estradas e caminhos municipais, linhas ferroviárias

secundárias, linhas de água e faixas de terreno afectas a funções de proteção e conservação de

recursos naturais, destinados a proporcionar alojamento e serviços complementares de apoio a

turistas.”

Apartamentos turísticos

Encontram-se definidos no artigo 14º, do vertente Decreto-Lei (veja-se, também, a Portaria nº

327/2008): “são constituídos por um conjunto coerente de unidades de alojamento, mobiladas e

equipadas, que se destinem a proporcionar alojamento e outros serviços complementares e de apoio

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Page 68: Direito Do Turismo - Apontamentos

a turistas”. Podem ocupar parte de um edifício ou a totalidade de um ou mais edifícios que

constituam um conjunto harmónico e articulado entre si”.

Conjuntos turísticos ( Resorts )

Estes empreendimentos turísticos possuem como características principais: a sua constituição -

núcleos de instalações funcionalmente interdependentes, situadas em espaços com continuidade

territorial; o seu destino - proporcionar alojamento e serviços complementares de apoio a turistas; a

administração comum de serviços partilhados e de equipamentos de utilização comum; e o facto de

integrarem, pelo menos dois empreendimentos turísticos de um dos tipos previstos no nº1, do artigo

4º, sendo que um deles é, obrigatoriamente, um estabelecimento hoteleiro de cinco ou quatro

estrelas. Exige-se, ainda que possuam um equipamento de animação autónomo e um estabelecimento

de restauração.

Os conjuntos turísticos ou resorts devem cumprir determinados requisitos mínimos que lhes

impõem possuir: vias de circulação internas que permitam o trânsito de veículos de emergência bem

como vias com uma largura mínima de 3 ou 5 metros consoante sejam de sentido único ou duplo;

áreas de estacionamento de uso comum; espaços e áreas verdes exteriores envolventes para uso

comum; portaria; piscina de utilização comum e equipamentos de desporto e lazer.

Os equipamentos de animação nos resorts podem ser campos de golfe; marinas, portos e docas

de recreio; instalações de spa, balneoterapia, talassoterapia e análogas; centros de convenção e

congressos; hipódromos e centros equestres; casinos; autódromos e Kartódromos; parques temáticos

e centros e escolas de mergulho.

Empreendimentos de turismo de habitação

Estão previstos no artigo 17º, do Decreto-Lei em causa, mas, também, na Portaria nº

937/2008, de 20 de Agosto. Características: estabelecimentos de natureza familiar instalados em

imóveis antigos particulares que, pelo seu valor arquitetónico, histórico ou artístico, sejam

representativos de uma determinada época, nomeadamente, palácios ou solares, podendo localizar-se

em espaços rurais ou urbanos. O número máximo de unidades de alojamento é de 15.

Empreendimentos turísticos no espaço rural

São regulados pelo artigo 18º, do mencionado Decreto-Lei e pela Portaria nº 937/2008.

Destinam-se a prestar, em espaços rurais, “serviços de alojamento a turistas, dispondo para o seu

funcionamento de um adequado conjunto de instalações, estruturas, equipamentos e serviços

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Page 69: Direito Do Turismo - Apontamentos

complementares, com vista a oferecer um produto turístico completo e diversificado no espaço

rural”. Contemplam-se os seguintes Grupos ou Subtipos:

Casas de Campo – imóveis situados em aldeias e espaços rurais que se integrem pela

sua traça, materiais de construção e demais características, na arquitetura típica local.

Quando se situem em aldeias e sejam exploradas de uma forma integrada, por uma

única entidade, são consideradas como turismo de aldeia.

Empreendimentos de agroturismo – imóveis situados em explorações agrícolas que

permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da atividade agrícola, ou a

participação nos trabalhos aí desenvolvidos, de acordo com as regras estabelecidas pelo

responsável.

Hotéis rurais – estabelecimentos hoteleiros situados em espaços rurais que, pela sua

traça arquitetónica e materiais de construção, respeitem as características dominantes na

região onde estão implantados, podendo instalar-se em edifícios novos.

Parques de campismo e de caravanismo

Devem revestir as características previstas no artigo 19º do vertente Decreto-Lei, que os

define, bem como na Portaria nº 1320/2008 de 17 de Novembro: Terão de estar instalados em

terrenos devidamente delimitados e dotados de estruturas destinadas a permitir a instalação de

tendas, reboques, caravanas ou autocaravanas e demais material e equipamento necessários à prática

do campismo e do caravanismo. Podem ser públicos ou privativos.

Empreendimentos de turismo da natureza

A definição consta do artigo 20º, do mencionado Decreto-Lei (veja-se, também, a Portaria nº

261/2009, de 6 de Abril). Destinam-se a prestar serviços de alojamento a turistas, em áreas

classificadas ou noutras áreas com valores naturais, dispondo, para o seu funcionamento de um

adequado conjunto de instalações, estruturas, equipamentos e serviços complementares relacionadas

com a animação ambiental, a visitação de áreas naturais, o desporto de natureza e a interpretação

ambiental. O seu reconhecimento compete ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas,

I.P.

6.1.1. REQUISITOS COMUNS AOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS

Os empreendimentos turísticos enunciados estão vinculados ao cumprimento de determinados

requisitos em matéria de unidades de alojamento (artigo 7º) e acessibilidade (artigo 6º). Considera-

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Page 70: Direito Do Turismo - Apontamentos

se unidade de alojamento o espaço delimitado destinado ao uso exclusivo e privativo do utente do

empreendimento turístico, quer se trate de um quarto, de uma suite, de um apartamento ou de uma

moradia, conforme o tipo de empreendimento turístico. Exige-se que todas as unidades de

alojamento sejam identificadas no exterior da respectiva porta de entrada em local bem visível, sejam

insonorizadas e possuam janelas ou portadas em comunicação direta com o exterior. As respectivas

portas devem possuir um sistema de segurança que apenas permita o acesso ao utente e ao pessoal do

estabelecimento.

Sem prejuízo de aplicação de regras técnicas específicas, todos os empreendimentos turísticos

devem dispor de instalações, equipamentos e, pelo menos, de uma unidade de alojamento, que

permitam a sua utilização por utentes com mobilidade condicionada.

É autorizada a instalação de estabelecimentos comerciais ou de prestação de serviços nos

empreendimentos turísticos, desde que o seu número e localização não afetem a função e utilização

das áreas de uso comum (artigo 10º).

Necessário se torna estabelecer a distinção entre empreendimentos turísticos e uma outra

realidade próxima desta, mas que com ela não se confunde, os denominados “ estabelecimentos de

alojamento local ”, os quais vêm previstos na alínea b), do artigo 2º e , no artigo 3º , do vertente

Decreto-Lei. A eles se refere, ainda, a Portaria nº 517/2008, de 25 de Junho.

Os estabelecimentos de alojamento local situam-se em moradias ou apartamentos e

estabelecimentos de hospedagem que dispõem de autorização de utilização e, nesses termos, prestem

serviços de alojamento temporário, mediante remuneração, porém, não reúnem os requisitos para

serem considerados empreendimentos turísticos, isto é, não possuam serviços e estruturas

complementares ou de apoio.

Apenas os estabelecimentos de alojamento local que se encontrem registados nas câmaras

municipais da área, registo que é obrigatório, podem ser comercializados para fins turísticos.

Contudo, deverão identificar-se como “alojamento local” sendo-lhes proibida a utilização da

qualificação “turismo”, “turístico” ou outro sistema de classificação.

6.1.2. INSTALAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS

A instalação dos empreendimentos turísticos é antecedida, obrigatoriamente, do cumprimento

de procedimentos municipais de controlo urbanístico, licenciamento, comunicação prévia e

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Page 71: Direito Do Turismo - Apontamentos

informação prévia (artigo 23º, nº1) e, sendo o caso, de parecer favorável do Turismo de Portugal,

I.P. (artigo 26º). Os empreendimentos turísticos enunciados nas alíneas a) a d,) do nº1, do artigo 4º

e na alínea c,) do nº3, do artigo 18º, do referenciado Decreto-Lei, carecem de parecer do Turismo de

Portugal que é vinculativo, quando desfavorável (artigo 26º, nº 3), no entanto, sendo favorável não

obriga o Município a deferir a pretensão urbanística do interessado. Compete à Câmara Municipal,

nos casos dos parques de campismo e de caravanismo e dos empreendimentos de turismo de

habitação e de turismo no espaço rural (com exceção dos hotéis rurais), ao emitir o alvará de licença

ou a admissão da comunicação prévia, fixar a capacidade máxima e atribuir a classificação ao

empreendimento.

A autorização municipal de utilização para fins turísticos deve ser requerida nos termos do

artigo 30º. Denomina-se alvará o documento que certifica a autorização de utilização para fins

turísticos.

Constitui título válido de abertura do empreendimento qualquer dos documentos que são

enunciados nas alíneas a) a c), do artigo 32º: alvará de autorização de utilização para fins turísticos;

comprovativo de ter efetuado a comunicação prevista no nº1 do artigo 31º; requerimento de

intimação judicial para a prática de ato legalmente devido, nos termos do nº 3, do artigo 31º.

6.1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS

A classificação destina-se a atribuir, confirmar ou alterar a tipologia e a categoria dos

empreendimentos turísticos e tem natureza obrigatória, como estipula o artigo 34º. No artigo 35º,

determina-se que os empreendimentos turísticos referidos nas alíneas a) a c), do nº1, do artigo 4º, se

classificam nas categorias de uma a cinco estrelas, tendo em atenção a qualidade do serviço e das

instalações (veja-se, também, a Portaria nº 327/2008).

Quanto à classificação dos empreendimentos de turismo de habitação, de turismo no espaço

rural (com exceção dos hotéis rurais) e de campismo e caravanismo, veja-se o artigo 22º.

Não estabelecendo a lei qualquer designação “ escalonada” quanto à classificação a atribuir ao

turismo de habitação e turismo em espaço rural, permite-se, no artigo 3º da Portaria nº 1320/2008, de

17 de Novembro, que, a solicitação do interessado, seja atribuía a classificação de 3 a 5 estrelas, aos

parques de campismo e caravanismo.

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Page 72: Direito Do Turismo - Apontamentos

Na classificação deverão considerar-se as seguintes características: instalações e equipamentos;

serviços de receção e portaria, limpeza e lavandaria, alimentação e bebidas e serviços

complementares, de acordo com o artigo 35º, nº2.

A competência para a realização da auditoria de classificação é outorgada ao Turismo de

Portugal, I. P., no caso dos empreendimentos turísticos referidos nas alíneas a) a d) do nº1, do

artigo 4º e na alínea c) do nº3 do artigo 18º. Quanto à auditoria e classificação dos parques de

campismo e caravanismo, dos empreendimentos de turismo de habitação e de turismo no espaço

rural, compete ao Presidente da Câmara Municipal, vejam-se os artigos 31º, nº 1 e 32º, alínea c).

A classificação dos empreendimentos turísticos deve ser obrigatoriamente revista de quatro em

quatro anos, nos termos do artigo 38ª, podendo ser, ainda, revista, a todo o tempo, oficiosamente ou a

pedido do interessado, quando se verificar a alteração dos pressupostos que determinaram a

respectiva atribuição.

6.1.4. REGISTO NACIONAL DE EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS (RNET)

O Turismo de Portugal, I.P., disponibiliza, no seu sítio na Internet, o Registo Nacional dos

Empreendimentos Turísticos (RNET), que constitui uma relação atualizada dos empreendimentos

turísticos com título de abertura válido.

6.1.5. EXPLORAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS

No âmbito da exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos há que atender a

determinados princípios:

Princípio da veracidade (artigos 41 e 42º):

Este princípio aplica-se quanto à escolha do nome do empreendimento turístico que não pode

sugerir uma tipologia, uma classificação ou características que não possua, sendo que a expressão

“hotel” só pode ser utilizada pelos empreendimentos turísticos enunciados na alínea a) do nº1, do

artigo 4º e na alínea c) do nº3, do artigo 18º. Os empreendimentos turísticos que possuam

infraestruturas e equipamentos exigidas para os resorts, (veja-se artigo 16º) podem, para fins

comerciais usar, com o nome, a expressão, resort.

O princípio da veracidade aplica-se, ainda, no domínio da publicidade, documentação

comercial e merchandising que devem conter o respectivo nome e classificação.

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Page 73: Direito Do Turismo - Apontamentos

Princípio da reserva exclusiva do exercício do alojamento turístico (artigo 43º)

Exceção feita aos estabelecimentos de alojamento local, só os empreendimentos turísticos

previstos no vertente Decreto-Lei podem prestar serviços de alojamento turístico. O serviço de

alojamento turístico presume-se existir, quando num imóvel ou fração de um imóvel se encontre

equipado e mobilado e se ofereçam ao público, para além de dormida, serviços de limpeza e receção,

por períodos inferiores a 30 dias.

Princípio da continuidade da exploração e da prontidão da totalidade das unidades de

alojamento (artigo 45º, nºs 1 e 2º):

Exige-se que o regime de exploração turística das unidades de alojamento se faça de forma

permanente e continuada, sendo que para o feito, compete à entidade exploradora assegurar que

permanecem mobiladas e equipadas em condições adequadas à sua função e nelas são prestados os

serviços correspondentes à categoria atribuída ao empreendimento turístico.

Princípio de liberdade de acesso (artigo 48º):

O acesso aos empreendimentos turísticos é livre, excetuando-se as situações enunciadas nos

nº2, nº3 e 4 do artigo 48º: pode ser recusado o acesso a quem perturbe o seu normal funcionamento;

pode afetar-se total ou parcialmente o empreendimento turístico à utilização exclusiva por associados

ou beneficiários das entidades proprietárias ou da entidade exploradora; pode reservar-se

temporariamente parte ou a totalidade do empreendimento turístico; pode, finalmente, reservar-se o

acesso e a utilização de serviços, equipamentos e instalações do empreendimento turístico aos

utentes nele alojado e seus acompanhantes.

Princípio da exploração unitária (artigo 44º):

Excetuado o caso dos conjuntos turísticos, resorts, cada empreendimento turístico deve ser

explorado por uma única entidade que é designada pelo titular do respectivo alvará de autorização de

utilização para fins turísticos. Encontram-se fora do âmbito deste dever os estabelecimentos

comerciais e de restauração ou de bebidas, autonomamente autorizados.

6.1.6. RESPONSÁVEL OPERACIONAL

Nos empreendimentos turísticos existe, obrigatoriamente, um responsável nomeado pela

entidade exploradora (artigo 47º). Exige-se que o responsável operacional nos empreendimentos

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turísticos de cinco, quatro e três estrelas seja uma pessoa habilitada para o exercício da profissão de

“diretor de hotel”. A profissão de direção hoteleira pressupunha os requisitos previstos no Decreto-

Lei nº 271/82, de 13 de Julho, porém, tal não se verifica, dado que estes requisitos foram eliminados

pelo Decreto-Lei nº 49/2011, de 8 de Abril, que o revogou.

6.2. OS ESTABELECIMENTOS DE RESTAURAÇÃO E DE BEBIDAS

O regime aplicável a estes prestadores de serviços turísticos encontra-se no Decreto-Lei nº

234/2007, de 19 de Junho, bem como no Decreto-Regulamentar nº 20/2008, de 27 de Novembro. Há

que atender, ainda ao Decreto-Lei nº 9/2002 de 24 de Janeiro que estabelece restrições à venda e

consumo de bebidas alcoólicas e à Portaria nº 262/2000, de 13 de Maio que obriga à afixação, clara,

legível e em local visível, de uma tabela de preços, bem como as condições de prestação de serviços.

6.3. AS AGÊNCIAS DE VIAGENS E TURISMO

O acesso à atividade próprio das agências de viagens e turismo é regulado pelo Decreto-Lei nº

61/2011 de 6 de Maio.

6.4. PRESTADORES DE ANIMAÇÃO TURÍSTICA

O acesso e exercício da atividade das empresas de animação turística e dos operadores

marítimo-turísticos, está previsto no Decreto-Lei nº 108/2009, de 15 de Maio. A Portaria nº

651/2009, de 12 de Junho, refere-se ao respectivo Código de Conduta.

6.5. CONCESSIONÁRIOS DE JOGOS DE FORTUNA E AZAR

Este serviço turístico encontra-se regulado na Lei do Jogo, aprovada pelo Decreto-Lei nº

422/89, de 2 de Dezembro. Convém ter presente o regime jurídico do contrato de jogo e aposta

previsto nos artigos 1245º a 1247º do Código Civil.

6.6. EMPRESAS DE TRANSPORTE

As empresas de transporte abrangem o transporte aéreo, regulado pelo Decreto-Lei nº

209/2005 de 29 de Novembro que cria o regime sancionatório aplicável ao Regulamento (CE) nº

261/2004, do Parlamento Europeu e do Conselho, o transporte rodoviário que, nos termos do

Decreto-Lei nº 3/2001, se aplica a veículos com mais de nove lugares, o transporte em táxi, cujo

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regime jurídico se encontra vertido no Decreto-Lei nº 251/98 de 11 de Agosto, o transporte

ferroviário, regido pelo Decreto-Lei nº 58/2008, de 26 de Março, e o transporte marítimo, previsto no

Decreto-Lei nº 349/86, de 17 de Outubro.

6.7. AS EMPRESAS DE ALUGUER DE VEÍCULOS

O regime jurídico da indústria de aluguer de veículos sem condutor está plasmado no Decreto-

Lei nº 354/86 de 23 de Outubro.

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7. A relação jurídica: alojamento turístico

7.1. OS SUJEITOS

De uma parte, a empresa exploradora de um empreendimento turístico ou de um

estabelecimento de alojamento local.

Recorde-se que, com exceção dos estabelecimentos de alojamento local, só os

empreendimentos turísticos previstos no Decreto-Lei nº 39/2008, podem prestar serviços de

alojamento turístico, entendendo-se por tal, “estabelecimentos destinados a prestar serviços de

alojamento, mediante remuneração, dispondo, para o seu funcionamento, de um adequado conjunto

de estruturas, equipamentos e serviços complementares (artigos 2º, nº2 e 43º nº 1, do referido

Decreto-Lei). De outra parte, o turista ou o utilizador de serviços turísticos (artigo 2º da LBT).

7.2. O OBJETO

O objeto da relação jurídica de alojamento turístico é múltiplo: a “unidade de alojamento”

considerada como “o espaço delimitado destinado ao uso exclusivo e privativo de utente do

empreendimento turístico”, nos termos do nº 1, do artigo 7º de mesmo Decreto-Lei. As zonas

comuns, os equipamentos de uso comum e os serviços.

7.3. FACTO JURÍDICO: O CONTRATO DE HOSPEDAGEM

O contrato de hospedagem turística como contrato misto, que abrange elementos integrantes de

contratos tipificados na lei – locação quanto à unidade de alojamento, zonas comuns e equipamentos

comuns (artigo 1022º, do C. Civil); depósito quanto aos objetos pertencentes ao hóspede (artigo

1185º, do C. Civil); prestação de serviços (artigo 1154º, do C. Civil); compra e venda (artigo 874º

do C. Civil).

7.4. CONTEÚDO DA RELAÇÃO JURÍDICA

Tenham-se em atenção os deveres principais que impendem sobre quem explora o

empreendimento turístico (artigo 46º, alínea c) do Decreto-Lei nº 39/2008 e), bem como os seus

deveres laterais de garantia da segurança da pessoa e dos bens do utente (obrigação de

“incolumidade”). Neste âmbito, exige o nº 4 do Decreto-Lei nº 39/2008 que as portas de entrada das

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unidades de alojamento possuam um sistema de segurança que apenas permita o acesso ao utente e

ao pessoal do estabelecimento. Veja-se, a Portaria nº 327/2008 (Tabelas em Anexo), que prevê a

obrigatoriedade da existência de serviços de depósitos de valores na receção em todos os

empreendimentos turísticos, enquanto que a existência de serviços de depósito de bagagens só é

exigida aos que possuam a categoria de três, quatro e cinco estrelas.

Aos deveres, que decorrem da relação jurídica para quem explora o empreendimento turístico,

correspondem direitos do turista ou utilizador de serviços turísticos: (artigo 22º, alíneas d), f) e g)

da LBT).

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Page 78: Direito Do Turismo - Apontamentos

8. A Relação Jurídica: preparação de viagemO regime específico aplicável a esta relação jurídica consta do Decreto-Lei nº 61/2011, de 6

de Maio.

8.1. SUJEITOS

De uma parte, o turista ou utilizador de serviços turísticos que a lei designa por “cliente”, de

acordo com o nº7, do artigo 29º, do aludido diploma legal.

De outra parte, as agências de viagem e turismo, tal como estão definidas no artigo 3º do

Decreto-Lei em causa.

8.1.1. ATIVIDADE DAS AGÊNCIAS DE VIAGEM E TURISMO, REQUISITOS DE ACESSO E TIPOLOGIA

As agências de viagem realizam atividades que as caracterizam e identificam, as atividades a

título principal, bem como atividades a título acessório (vejam-se, os nºs 1 e 2, do artigo 3º).

Ora, de acordo com o estipulado no nº 1, do artigo 4º, as atividades a título principal são, em

território nacional, da reserva exclusiva das agências de viagem e turismo que se encontrem inscritas

no Registo Nacional de Agências de Viagem e Turismo (RNAVT), ou que operem nos termos do

artigo 10º. As exceções, a este princípio de exclusividade, encontram-se previstas nas alíneas a) a c)

do nº2 do artigo 4º.

O acesso à atividade própria das agências de viagem, para além da inscrição no RNAVT, por

mera comunicação prévia (alínea b), nº2, artigo 8º do Decreto-Lei nº 92/2010 de 26 de Julho),

depende do preenchimento dos requisitos enunciados nas alíneas a) e b) do artigo 6º e,

respectivamente, nos artigos 32º e 35º, a saber, a subscrição do Fundo de Garantia de Viagens e

Turismo (FGVT) e a contratação de um seguro de responsabilidade civil.

As agências de viagem e turismo podem ser agências vendedoras ou agências organizadoras,

estas últimas designam-se “operadores turísticos”, vejam-se os nºs 2 e 3, do artigo 15º.

8.2. OBJETO:

Serviços de preparação e acompanhamento de viagens

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Page 79: Direito Do Turismo - Apontamentos

8.2.1. DISTINÇÃO ENTRE VIAGENS NÃO TURÍSTICAS E VIAGENS TURÍSTICAS

As viagens turísticas, em sentido amplo, integram as viagens turísticas em sentido estrito que

combinam, pelo menos dois, dos serviços enunciados nas alíneas do nº1 do artigo 15º, e as viagens

por medida previstas no nº3 do referido artigo.

Às viagens não turísticas refere-se o nº 4 do mesmo artigo.

8.2.2. REFERÊNCIA PARTICULAR ÀS VIAGENS ORGANIZADAS (Nº 2, DO ARTIGO 15º)

8.3. FACTO JURÍDICO

Um contrato celebrado entre a agência e o cliente. Alusão especial ao contrato de viagem

organizada.

8.3.1. FORMAÇÃO DO CONTRATO

É necessário tomar em conta as obrigações pré-contratuais que impendem sobre a agência de

viagens, que, para além das que decorrem das normas gerais do direito civil, abrangem, ainda, a

obrigação de informação que se encontra prevista no artigo 16º.

Reveste particular importância o programa de viagem, que deverá estar disponível para

entregar a quem o solicite e deve conter, para além dos aludidos no nº1, do artigo 16º, todos os

elementos referidos nas alíneas a) a o), do nº1, do artigo 20º, bem como outras que se tornem

exigíveis (artigo 18º).

O programa de viagem, entendido como declaração negocial (proposta ao público), vincula a

agência de viagens ao seu cumprimento, com as exceções previstas no artigo 19º.

O contrato considera-se celebrado, quer a sua conclusão se efetue por simples consenso ou por

documento, assinado por ambas as partes, nos termos do artigo 20º, nºs 2 e 3.

O texto do contrato (e, naturalmente, do programa) deve conter, obrigatoriamente, os

elementos referidos nos nº1 e nº4, do artigo 20º.

Antes do início da viagem, deve a agência prestar, atempadamente, ao cliente as informações

enunciadas nas alíneas a) a i), do artigo 21º.

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8.3.2. MODIFICAÇÕES DO CONTRATO

Modificações subjetivas: a cessão da posição contratual do cliente e efeitos jurídicos que dela

emergem, nos termos do artigo 22º.

Modificações objetivas: a alteração do preço antes do início da viagem, nos termos do artigo

23º. Efeitos jurídicos da alteração do preço não permitida legalmente.

8.3.3. CESSAÇÃO DO CONTRATO

O cliente pode rescindir o contrato em caso de alteração do preço (nº 4, do artigo 23º), e em

caso de impossibilidade de cumprimento de obrigações essenciais (artigo 24º).

Sem prejuízo dos deveres que incumbem à agência nos casos referidos, o cliente tem direito a

ser imediatamente reembolsado das quantias pagas, ou, em alternativa, optar por participar numa

outra viagem organizada, como dispõe o artigo 25º, alíneas a) e b). Em todo o caso, pode o cliente

rescindir o contrato a todo o tempo (direito de livre rescisão), nos termos do artigo 26º.

Quando a cessação do contrato se deva a iniciativa da agência, por “cancelamento da viagem”,

antes da data da partida, tem o cliente, sem prejuízo da responsabilidade civil, o direito previsto no

artigo 25º.

8.4. INCUMPRIMENTO PARCIAL OU CUMPRIMENTO DEFEITUOSO APÓS O

INÍCIO DA VIAGEM

Aplica-se, nestes casos, o disposto no artigo 27º

8.5. GARANTIA

8.5.1. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA QUANTO AO INCUMPRIMENTO DOS PRESTADORES DE

SERVIÇOS TURÍSTICOS

8.5.1.1. Viagens organizadas (vejam-se os nºs 2, 3, e 4, do artigo 29º).

8.5.1.2. Viagens turísticas em sentido estrito e por medida (veja-se o nº 5, do artigo 29º).

8.5.1.3. Viagens não turísticas (veja-se o nº 6, do artigo 29º).

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Page 81: Direito Do Turismo - Apontamentos

8.5.2. LIMITES QUANTITATIVOS DAS INDEMNIZAÇÕES

8.5.2.1. Transporte aéreo (artigo 30º, nº 1)

8.5.2.2. Transporte ferroviário (artigo 30º, nº 1)

8.5.2.3. Transporte marítimo (artigo 30º, nº 2)

8.5.2.4. Destruição ou furto de bens em estabelecimentos de alojamento (artigo 30º, nº3)

8.5.3. MECANISMOS DE GARANTIA

8.5.3.1. O Fundo de Garantia de Viagens e Turismo (FGVT) (artigos 31º e seguintes)

8.5.3.2. Seguro obrigatório (para as agências) de responsabilidade civil (artigo 35º)

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