Upload
ziago-zaguzpkr
View
47
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
Índice1. Introdução ao Direito.........................................................................................................................4
1.1 O que é o Direito?.......................................................................................................................................4
1.2 Dimensões da palavra Direito.....................................................................................................................4
1.3 Outras normas sociais.................................................................................................................................4
1.4 Conceito de Estado.....................................................................................................................................5
1.5 Tutela Pública e Tutela Privada..................................................................................................................6
1.6 Estado de Direito.........................................................................................................................................6
1.7 O Direito como expressão de cultura..........................................................................................................7
1.8 Os elementos do sistema jurídico...............................................................................................................7
Sistema jurídico ocidental:.............................................................................................................................................7
Sistema jurídico muçulmano:........................................................................................................................................8
1.9 Direito Positivo e Direito Natural...............................................................................................................9
1.10 Fins do Direito: Justiça e Segurança.........................................................................................................9
1.11 Sistema de Justiça...................................................................................................................................11
RAL jurisdicional: Arbitragem....................................................................................................................................11
RAL jurisdicional: Julgados de Paz.............................................................................................................................12
RAL não jurisdicional: Mediação e Conciliação.........................................................................................................13
2. As normas jurídicas..........................................................................................................................15
2.1 Características e estrutura das normas jurídicas.......................................................................................15
Estrutura da norma jurídica:........................................................................................................................................15
2.2 As fontes do Direito..................................................................................................................................15
2.3 A lei escrita – fonte imediata do Direito...................................................................................................16
2.4 Hierarquia e criação de leis.......................................................................................................................17
Competência de criação de leis:...................................................................................................................................17
O processo de criação da Lei:......................................................................................................................................18
2.5 Início e termo da vigência das normas......................................................................................................19
2.5 Ramos do Direito: Internacional e Europeu..............................................................................................19
Direito Internacional Público.......................................................................................................................................19
Direito da União Europeia...........................................................................................................................................20
2.6 Direito Interno Português..........................................................................................................................21
Ramos do Direito Público............................................................................................................................................21
Ramos do Direito Privado............................................................................................................................................22
Página | 1
3. Relação Jurídica...............................................................................................................................26
3.1 Estrutura da Relação Jurídica....................................................................................................................26
3.2 Elementos da Relação Jurídica.................................................................................................................26
Sujeitos.........................................................................................................................................................................26
Objeto...........................................................................................................................................................................37
Facto Jurídico..................................................................................................................................................40
Classificação dos Fatos Jurídicos:...............................................................................................................................40
Negócio Jurídico..........................................................................................................................................................40
4. Contratos..........................................................................................................................................42
4.1 Princípios que regulam os contratos.........................................................................................................43
4.2 Elementos essenciais do contrato..............................................................................................................44
4.3 Classificação de contratos.........................................................................................................................45
4.4 Efeitos/Eficácia dos contratos...................................................................................................................48
4.5 Extinção dos contratos..............................................................................................................................50
Fundamentos legais de resolução de um contrato.......................................................................................................52
Fundamento geral da resolução dos contratos.............................................................................................................53
4.6 Contratos tipificados.................................................................................................................................53
4.7 Garantia.....................................................................................................................................................58
5. Prestação de serviços turísticos........................................................................................................61
5.1 Noções jurídicas........................................................................................................................................61
5.1.1. Turismo..............................................................................................................................................................61
5.1.2. Atividade turística..............................................................................................................................................61
5.1.3. Serviço Turístico:...............................................................................................................................................61
5.1.4. Turista................................................................................................................................................................61
5.1.5. O utilizador de serviços turísticos......................................................................................................................61
5.2 A relação jurídica de prestação de serviços turísticos..............................................................................62
5.3. Política Nacional de Turismo...................................................................................................................62
5.3.1. Princípios Fundamentais....................................................................................................................................62
5.3.2. Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT)...............................................................................................62
5.3.3. Objectivos da Política Nacional de Turismo.....................................................................................................63
5.4 A Administração Pública do Turismo.......................................................................................................63
5.4.1. Administração direta do Estado.........................................................................................................................63
5.4.2. Administração Indireta do Estado......................................................................................................................64
5.4.3. Administração Autónoma..................................................................................................................................64
5.5 O Turismo no Tratado da União Europeia................................................................................................65
Página | 2
6. Prestação de serviços turísticos: sujeitos..........................................................................................66
6.1Empreendimentos turísticos.......................................................................................................................66
6.1.1. Requisitos comuns aos empreendimentos turísticos..........................................................................................69
6.1.2. Instalação dos empreendimentos turísticos........................................................................................................70
6.1.3. Classificação dos empreendimentos turísticos..................................................................................................71
6.1.4. Registo Nacional de Empreendimentos Turísticos (RNET)..............................................................................72
6.1.5. Exploração e Funcionamento dos empreendimentos turísticos.........................................................................72
6.1.6. Responsável operacional....................................................................................................................................73
6.2. Os estabelecimentos de restauração e de bebidas....................................................................................74
6.3. As agências de viagens e turismo............................................................................................................74
6.4. Prestadores de animação turística............................................................................................................74
6.5. Concessionários de jogos de fortuna e azar.............................................................................................74
6.6. Empresas de Transporte...........................................................................................................................74
6.7. As empresas de aluguer de veículos........................................................................................................75
7. A relação jurídica: alojamento turístico...........................................................................................76
7.1. Os sujeitos................................................................................................................................................76
7.2. O Objeto...................................................................................................................................................76
7.3. Facto jurídico: o contrato de hospedagem...............................................................................................76
7.4. Conteúdo da relação jurídica...................................................................................................................76
8. A Relação Jurídica: preparação de viagem......................................................................................78
8.1. Sujeitos.....................................................................................................................................................78
8.1.1. Actividade das agências de viagem e turismo, requisitos de acesso e tipologia...............................................78
8.2. Objeto:......................................................................................................................................................78
8.2.1. Distinção entre viagens não turísticas e viagens turísticas................................................................................79
8.2.2. Referência particular às viagens organizadas (nº 2, do artigo 15º)....................................................................79
8.3. Facto jurídico...........................................................................................................................................79
8.3.1. Formação do contrato........................................................................................................................................79
8.3.2. Modificações do contrato...................................................................................................................................80
8.3.3. Cessação do contrato.........................................................................................................................................80
8.4. Incumprimento parcial ou cumprimento defeituoso após o início da viagem.........................................80
8.5. Garantia....................................................................................................................................................80
8.5.1. Responsabilidade da agência quanto ao incumprimento dos prestadores de serviços turísticos.......................80
8.5.2. Limites Quantitativos das indemnizações..........................................................................................................81
8.5.3. Mecanismos de garantia.....................................................................................................................................81
Página | 3
1. Introdução ao Direito
1.1 O QUE É O DIREITO?
Direito é uma ordem normativa eminentemente social. O Direito estuda o que deve ser o
comportamento do homem na sociedade. O Direito só existe porque existe sociedade, por isso é
eminentemente social; é uma necessidade quando o homem se reorganiza e interage com outros.
Assim sendo, o Direito assume quatro funções fundamentais:
Proteger valores humanos;
Dotar a sociedade de uma ordem;
Prevenir e solucionar conflitos através de critérios de justiça;
Organizar, disciplinar as várias atividades sociais.
Pretende instaurar na sociedade uma ordem inteiramente justa na sociedade, através de normas
organizadas. Quando o Direito se afastar do objetivo de proteger os valores humanos, o Direito
perde a sua dignidade e a sua validade. Os valores humanos podem ser individuais ou coletivos.
Quais são esses valores: a vida humana; a liberdade; o ambiente; a educação; a saúde; a integridade
física e moral. Estes são valores eminentemente sociais. Contudo também defende valores
eminentemente patrimoniais, tais como a propriedade ou o contrato, a título de exemplo.
1.2 DIMENSÕES DA PALAVRA DIREITO
Dimensão objetiva (law): conjunto de normas de conduta social.
Dimensão subjetiva (right): trata-se de um poder ou faculdade de exigir de outras
pessoas um determinado comportamento.
É ao Direito em sentido objetivo que compete proteger, garantir o direito em sentido subjetivo,
a exequibilidade do direito subjetivo só é possível pela existência do Direito objetivo.
1.3 OUTRAS NORMAS SOCIAIS
Na sociedade, para além do Direito, existem outras ordens, normas ou regras que impõem
deveres, que variam de acordo com o espaço e com o tempo:
Ordem normativa ética (regras morais)
Página | 4
Ordem normativa religiosa (regras religiosas)
Ordem normativa cultural (regras de trato social)
Qual a diferença entre Direito e as outras normas?
A diferença está na natureza, no âmbito das aplicações e reações dessas normas.
As normas morais são um conjunto de preceitos impostos pela consciência individual. Estas
normas abrangem quase todas as manifestações da vida. Ao Direito não interessa o que nós
pensamos. A finalidade das normas morais é a persecução do bem. As normas religiosas são um
conjunto de normas com a finalidade de salvação. As normas de trato social abrangem a relação
exteriorizada das pessoas. Criam condições de coexistência própria entre os indivíduos.
As normas do Direito caracterizam-se por se impor aos seus destinatários. Imperatividade
das normas jurídicas através de uma coercibilidade (aplicação de sanções para o seu não
cumprimento). Existem relações de coincidência com as outras normas, relações de indiferença ou
relações de conflito (quando valores chocam com as regras do Direito).
1.4 CONCEITO DE ESTADO
O território permite a um povo que reivindicou o poder político seja independente. É no
território que o Estado aplica o Direito que ele cria e implanta órgãos para aplicar o Direito, as leis.
O território também define as fronteiras da jurisdição e autonomia perante os outros Estados. O
poder político permite dar existência às funções próprias do Estado.
O Direito não poderia existir plenamente na sociedade sem o auxílio do Estado.
A ideia de coação não dispensa a intervenção do Estado. Se não cumprirem existe um aparelho
do Estado que forçará o cumprimento dessas normas jurídicas. Na relação entre o Direito e o Estado,
ao Estado compete auxiliar o Direito na sua existência quotidiana através dos seus órgãos próprios e
realizar o Direito recorrendo ao uso da força. Compete ao Estado proteger os valores que são
relevantes para o Direito, através das polícias, dos tribunais, ministério público e outras autoridades
administrativas. Esse poder de usar a força é monopolizado pelo Estado nas sociedades
contemporâneas.
Página | 5
1.5 TUTELA PÚBLICA E TUTELA PRIVADA
Entenda-se como tutela pública a proteção, a garantia pública dos valores, dos direitos, dos
interesses juridicamente relevantes que importam ao Direito.
Esta é a regra geral nas sociedades contemporâneas.
Contudo existem exceções em que o Direito admite que a força seja usada pelo particular,
entenda-se tutela privada, somente admitida em situações de legítima defesa (artigo 337º Código
Civil – CC), ação direta (artigo 336º CC), estado de necessidade (artigo 339º CC), direito de
retenção (artigo 754º CC) e direito de resistência (artigo 21º Constituição da República
Portuguesa – CRP).
Dois pressupostos para o uso da tutela privada lícita (lícito significa conforme o Direito):
É necessário que haja perigo para um valor, um direito ou que um direito ofendido ainda
possa ser reconstruído;
É necessário que se verifique a impossibilidade prática de recorrer com utilidade à tutela
pública para proteger o valor que está em perigo
1.6 ESTADO DE DIREITO
O Estado de direito tem como finalidade proteger os direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos através do Direito. Num Estado de direito a atuação dos membros da sociedade e dos
órgãos do Estado está vinculada ao Direito (Primado da Lei). Ninguém está acima do Direito.
Compete, então, ao Direito definir o âmbito, competências e limites das funções do Estado. (artigos
266º; 271º e 272º CRP).
Manifestações da ideia de Estado de direito na CRP: Princípios da legalidade (artigo 3º), da
separação de poderes (artigo 2º), da independência e imparcialidade dos tribunais (artigo 203º), da
igualdade perante a lei (artigo 13º), do direito de acesso ao Direito e aos tribunais (artigo 20º) no
qual se integra o direito de recorrer das decisões desfavoráveis; poder atribuído ao cidadão de
controlo os atos dos órgãos da administração pública (artigos 268º e 271º); importância concedida
aos direitos fundamentais que só podem ser restringidos nos termos expressamente previstos na lei
(artigos 16º, 18º, 19º e 24º a 52º). Num Estado de direito não basta haver um conjunto de normas,
terá que existir simultaneamente uma submissão dos membros desse Estado a essas mesmas normas.
Página | 6
1.7 O DIREITO COMO EXPRESSÃO DE CULTURA
O Direito é uma parte importante da cultura duma determinada sociedade. Pode concluir-se
que cada sociedade possui o seu próprio Direito.
Cada Direito de um Estado é único e está organizado num sistema jurídico, isto é, um conjunto
de relações entre os elementos que compõem esse mesmo sistema e que lhe confere unidade, coesão,
harmonia e coerência.
1.8 OS ELEMENTOS DO SISTEMA JURÍDICO
Denomina-se sistema jurídico ou ordenamento jurídico essa unidade de ordem, esse todo
organizado que existe numa determinada sociedade e que abrange as normas que impõem ou
proíbem condutas e as que estabelecem direitos subjetivos (poderes ou faculdades).
As normas que determinam os processos de criação, revelação, aplicação e execução do Direito
e que regulam o estatuto e função dos profissionais que atuam no âmbito do sistema de
administração da justiça, mas, também, o conjunto de decisões proferidas pelos Tribunais sobre a
solução encontrada para os litígios, aplicando o Direito aos casos concretos (jurisprudência), bem
como os estudos e reflexões efetuadas pelos juristas especialistas sobre a interpretação e a aplicação
das normas jurídicas (doutrina) e, finalmente, os princípios fundamentais de Direito que
constituem a estrutura central do sistema jurídico.
Existem dois tipos de sistemas jurídicos:
O ocidental
O muçulmano:
SISTEMA JURÍDICO OCIDENTAL:
Romano-germânico (civil law): lei escrita; tendência para a codificação da Lei; o Direito
é estudado pelo método da hermenêutica (interpretação do texto); separação entre quem
cria e aquele que aplica o Direito. Duas magistraturas: a judicial e o ministério público.
Anglo-saxónico (common law): tem como base a cultura anglo-saxónica. O Direito não é
escrito mas transmitido oralmente. A sua principal fonte é o costume. Neste sistema
jurídico, os tribunais também criam leis (precedente).
Página | 7
SISTEMA JURÍDICO MUÇULMANO:
Fundamentalista absoluto : considera a lei fundamental do país, do Estado a Shari’ah, o
equivalente ao Direito constitucional. As normas criadas pelo Estado têm que coincidir
com a Shari’ah, as normas religiosas.
Intermédio (moderado): existe uma constituição que para além de definir o quadro
político do Estado, consagra normas de direitos fundamentais de liberdades e garantias.
Liberal : possui uma constituição, normas criadas pelos órgãos do Estado e as normas da
Shari’ah. Há uma superioridade do Direito criado pelo Estado em relação ao Direito
religioso.
Algumas considerações e comparações entre os dois sistemas:
O sistema jurídico ocidental foi-se separando das outras normas normativas sociais, ao passo
que o sistema jurídico muçulmano abrange regras jurídicas que fazem parte integrante da religião,
além das normas do Estado e dá uma grande importância ao Direito religioso ou Shari’ah [Shari’ah:
é o Direito que tem como fonte os textos sagrados e ainda reflexões feitas por profetas e juízes que
aplicam ou aplicaram esse Direito. Fontes da Shari’ah: Corão; Suma (conjunto de reflexões e
comentários); Idjamã (decisões dos tribunais que resultam de uma interpretação coincidente às
normas do Corão)].
Enquanto o Direito ocidental assume uma clara e evidente separação relativamente às
normas religiosas e morais, o Direito muçulmano não admite essa separação. No sistema
muçulmano verificamos que parte das normas é criação divina “revelada” aos homens.
O sistema ocidental é adaptado a uma realidade mutável, altera-se consoante as necessidades, o
sistema muçulmano é imutável no tempo e no espaço; enquanto o sistema ocidental é alvo de crítica
e melhoramento, o sistema muçulmano é dogmático, deve aceitar-se tal como é.
O sistema ocidental tem um âmbito de competência limitada ao espaço, está confinado dentro
de cada Nação/Estado. O sistema muçulmano aplica-se num espaço muito mais vasto, partindo do
princípio da pessoalidade, aplicando-se a qualquer pessoa muçulmana, independentemente do país
em que resida.
O sistema muçulmano defende e protege valores coletivos e individuais, no entanto os valores
coletivos estão acima dos valores individuais. No sistema ocidental acontece praticamente o
Página | 8
contrário, ainda que ultimamente se dê alguma importância aos valores coletivos, tal como acontece
com a questão ambiental. Tendo em conta o caráter imutável do Direito da Shari’ah, o Direito penal
muçulmano contém sanções que, comparadas com o Direito ocidental, são desumanas e bárbaras.
1.9 DIREITO POSITIVO E DIREITO NATURAL
O Direito positivo é um conjunto de normas jurídicas que exprimindo a vontade do Estado,
vigora num dado momento e local.
No ocidente fala-se numa outra realidade: de Direito natural, isto é, num Direito supra
positivo, válido para todas as pessoas, independentemente do tempo e espaço, tendo como
justificação uma ideia de Humanidade; prossegue a justiça aceite por qualquer ser humano. Tem
como fonte uma ideia de sagrado ou tem como fonte a natureza humana. É um Direito ideal, que se
quer justo para todos os homens. É uma espécie de pressuposto crítico do Direito positivo. O
Direito natural é eminente ao homem.
1.10 FINS DO DIREITO: JUSTIÇA E SEGURANÇA
Não é tarefa fácil encontrar uma definição de justiça. Segundo Aristóteles, na sociedade a
justiça tem dois rostos: o reconhecimento do mérito a cada membro da sociedade e deve existir uma
igualdade entre as partes e a reciprocidade o âmbito da troca de bens e serviços. Segundo Ulpiano, a
justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o que é seu. É a decisão de reconhecer o
seu a seu dono.
A justiça caracteriza-se através de princípios que se encontram no Direito positivo:
O princípio da igualdade: um Direito que não considera os seus cidadãos iguais não é
um Direito justo;
O princípio da imparcialidade: o Direito deve ser imparcial, bem como a sua aplicação;
O princípio da reciprocidade: justo é aquilo, que na troca de bens e serviços, na relação
interpessoal, cada parte pode exigir da outra;
O princípio da proporcionalidade: justo é aquilo que for proporcional, tendo em
consideração uma finalidade a atingir, devem ser usados os meios que se julguem ser
mais adequados.
Um cidadão que não reconhece justiça numa norma jurídica, não lhe reconhece validade.
Página | 9
A segurança traduz uma ideia de tranquilidade, paz e ordem comunitária. A ideia de segurança
reflete-se nas expetativas que cada membro da sociedade possui acerca dessa mesma ideia.
O cidadão está relativamente ao Estado numa relação ambivalente: pede ao Estado que o
proteja e procura defender-se do Estado. Uma vez que o Estado também possui força, o cidadão
através do Direito, tem a oportunidade de se defender do uso da força exercida pelo Estado.
O poder do Estado é levado por pessoas, por seres humanos que frequentemente se deixam
corromper, logo é necessário que o cidadão se sinta seguro e possua mecanismos de defesa que o
proteja contra os abusos de poder, através do Direito.
Com a segurança e certeza jurídica pretende-se que seja cumprida a previsibilidade, isto é,
que se tenha conhecimento de uma realidade que venha a ocorrer no futuro. O Direito deve poder ser
conhecido pelos seus destinatários. Exige-se que as normas de conduta que são impostas aos
cidadãos sejam conhecidas por estes, de modo a que orientem a sua conduta de acordo com essas
normas.
A ideia de previsibilidade possui o pressuposto conhecimento das normas, regras (artigo 6º
CC – ignorância ou má interpretação da lei). No Diário da República publicam-se as normas
jurídicas produzidas, e deste modo dão a oportunidade aos seus cidadãos a possibilidade de
conhecerem e de se prepararem.
Daí a importância da vacatio legis (vazio da lei: refere-se a um período de tempo que se conta
desde a publicação da norma em Diário da República até ao momento da sua entrada em vigor).
Este período de tempo vai permitir ao cidadão conhecer a lei, interpretá-la e decidir a sua conduta
(artigo 5º CC). Não seria justo obrigar a cumprir uma norma sem poder conhecê-la e interpretá-la.
A ideia de estabilidade exige que o Direito ao definir as situações reguladoras da vida as
regule de forma clara e inequívoca e que defina claramente quais as consequências e que
permaneçam no tempo. Devem ser claras, inequívocas e permanentes. Exige que as normas jurídicas
não sejam alteradas a toda a hora.
Pretende-se que as normas sejam estáveis no tempo; a alteração contínua leva a que as pessoas
não se sintam seguras e sem certeza jurídica. As decisões dos juízes têm de ser claras, inequívocas e
têm de produzir efeito. Através do recurso, o cidadão tem à sua disposição uma ferramenta de
fiscalização dos juízes.
Página | 10
Assim sendo, uma decisão proferida pelo tribunal que é definitiva - caso julgado - já não
admite recurso e produz consequências (transitou em julgado). Isto acontece quando é proferida em
tribunal de 1ª instância e não admite recurso. Havendo lugar ao recurso, ele tem de ser invocado num
determinado prazo.
O tempo tem consequências em Direito: a prescrição é a extinção de um Direito pelo seu não
exercício durante um determinado período de tempo (artigo 298º, 300º e seguintes CC); a usucapião
é um processo de aquisição de um Direito pelo seu exercício durante um determinado período de
tempo (artigo 1287º CC).
Três graus de jurisdição em Portugal:
Tribunal de 1ª instância: Tribunal de Comarca
Tribunal de 2ª instância: Tribunal da Relação
Tribunal de 3ª instância: Supremo Tribunal de Justiça (STJ)
1.11 SISTEMA DE JUSTIÇA
Quando falamos de sistema de justiça, falamos de tribunais e dentro destes de juízes,
funcionários e procuradores do ministério público. Contudo o sistema de justiça também abrange as
forças policiais. Desde há vários anos que o sistema judicial tem vindo a ser alvo de críticas justas.
Para procurar responder à crítica da morosidade dos tribunais, foram criados os processos de
resolução alternativa de litígios – RAL – (artigo 202 CRP).
RAL Jurisdicional : o terceiro encontra-se acima das partes e faz valer a sua decisão:
Arbitragem
Julgados de Paz
RAL não jurisdicional : o terceiro ajuda a estabelecer acordo entre as partes:
Conciliação
Mediação
RAL JURISDICIONAL: ARBITRAGEM
A Arbitragem foi instituída em Portugal pela Lei de Arbitragem Voluntária nº 31/86 de 29 de
Agosto e pelo Decreto-Lei nº 425/86 de 27 de Dezembro. Recentemente, a Lei nº 63/2011 de 14 de
Dezembro, revogou a Lei nº 31/86.
Página | 11
Trata-se de um processo de resolução de litígios voluntário (é necessário o prévio acordo das
partes litigantes), a decisão do conflito é confiada a um ou mais árbitros (sempre em número ímpar).
As partes podem escolher as regras do processo, o prazo para a decisão, a língua usada e
autorizar o recurso à equidade, podendo, ainda, escolher o lugar de funcionamento do tribunal
arbitral.
Os árbitros estão obrigados a respeitar os princípios da legalidade, da igualdade entre as
partes, do contraditório (devem ouvir ambas as partes e avaliar os elementos de prova que cada
uma apresenta, antes de decidir) da representação (devem permitir que as partes se façam
representar por advogado) e da verdade material (devem avaliar os argumentos e a prova
apresentados, de acordo com as regras processuais, com a finalidade de apurarem a verdade dos
factos).
O procedimento caracteriza-se, em confronto com o processo judicial, por acentuadas
simplificação e celeridade, maior proximidade (e acessibilidade) e menores custos.
Os Centros de Arbitragem dispõem de serviços de Mediação e de Conciliação que têm em vista
possibilitar a resolução do litígio por acordo.
A decisão tem o valor de uma decisão judicial proferida na 1ª instância e produz efeitos
executivos. Se as partes não tiverem previamente a ele renunciado, a decisão arbitral dá direito a
recurso, desde que não tenha sido proferida à luz da equidade.
RAL JURISDICIONAL: JULGADOS DE PAZ
Os Julgados de Paz foram (re) criados, em Portugal, pela Lei nº 78/2001 de 13 de Julho.
Pretende-se, com esta jurisdição, prestar serviço às pessoas que só ocasionalmente procuram uma
instância contenciosa para solucionar conflitos e abranger litígios de reduzida importância ou de
pequeno valor.
A competência do Julgado de Paz não ultrapassa determinados litígios cíveis (não abrange
conflitos com origem num crime, o Julgado de Paz não tem competência para aplicar penas, embora
possa apreciar pedidos de indemnização cível decorrentes da prática de determinados crimes de
pequena gravidade de valor não superior ao da alçada do tribunal de 1ª instância (que é, atualmente,
de 5.000 euros).
Página | 12
O Julgado de Paz dispõe de serviços de Mediação e de Conciliação com vista à resolução do
conflito por acordo.
Na falta de acordo, o caso é decidido pelo Juiz de Paz (os Juízes de Paz são licenciados em
direito, nomeados pelo Conselho Superior da Magistratura, com experiência profissional
considerada bastante e qualidades de idoneidade e isenção que constituam garantia de desempenho
imparcial das funções).
Esta decisão tem o valor de uma decisão proferida por um tribunal judicial de 1ª instância e
admite recurso quando o valor da causa exceder metade do valor da alçada da 1ª instância (superior
a 2.500 euros, por conseguinte), para o tribunal de comarca ou para o tribunal de competência
específica, atenta a matéria.
O Julgado de Paz apresenta vantagens: é uma jurisdição informal e acessível, de proximidade
com os cidadãos (justiça de vizinhança), por essa razão, mais humanizada, com custas reduzidas,
mais célere, e a possibilitar maior flexibilidade de soluções; para além de que permite a
descentralização da administração da justiça e estimula parcerias entre o Estado central e a autarquia,
na medida em que o Julgado de Paz funciona em instalações fornecidas pela autarquia que o apoia
financeiramente. As desvantagens prendem-se com o número, considerado ainda não suficiente dos
Julgados de Paz, que não cobre as necessidades de todas as regiões geográficas, com o limitado
âmbito de competências, com o défice de divulgação e de visibilidade desta jurisdição e com a
relativa desconfiança com que é olhada pelos advogados que, quando a procuram, utilizam, amiúde,
expedientes dilatórios (solicitando, por exemplo, a realização de determinada diligência no tribunal
de comarca, o que, inevitavelmente, atrasa o processo).
RAL NÃO JURISDICIONAL: MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
A Mediação e a Conciliação são vias de resolução voluntária, extrajudicial, não contenciosa de
litígios, isto é, são processos negociais, não adversariais, que tendem à resolução do conflito entre as
partes através de um acordo, com o auxílio de um terceiro. São processos de natureza confidencial,
os intervenientes estão obrigados ao dever de sigilo, e caracterizam-se pela gratuitidade, flexibilidade
e criatividade de soluções.
Ora, enquanto na Conciliação, o terceiro procura estimular, instigar os litigantes a aceitarem
um acordo que ele próprio propõe e que julga constituir a solução mais justa, na Mediação, o
terceiro, que tem o nome de mediador, assume uma posição não ativa, não interventiva relativamente
ao acordo ou ao seu conteúdo. O mediador limita-se a criar as condições mais adequadas à
concretização do processo negocial, cabendo às partes a construção do acordo e a definição do seu
Página | 13
conteúdo. O mediador deverá, tanto quanto possível, manter-se neutro relativamente ao conflito,
equidistante e imparcial perante as necessidades ou interesses manifestados pelas partes.
Este processo de resolução alternativa de litígios que foi levado a efeito em determinadas
regiões do país, a título experimental, abrange, apenas, crimes particulares (cuja investigação e
submissão a julgamento depende, respetivamente, de queixa e acusação do particular ofendido) e
crimes semipúblicos (a abertura do inquérito pelo Ministério Público para proceder à investigação,
depende de queixa do ofendido) cuja pena não ultrapasse 5 anos de prisão.
Fora do âmbito de competência da mediação estão os crimes sexuais, os crimes cuja vítima
seja menor de 16 anos e os crimes de corrupção, peculato ou tráfico de influências. Se o Ministério
Público entender que a mediação responderá as exigências de prevenção dos crimes que militam
naquele caso concreto, ou as partes requererem a mediação, o processo criminal suspende-se e é
designado um mediador que procurará, no prazo de três meses, promover a aproximação entre as
partes e auxiliá-los a encontrar um acordo que permita a reparação dos danos causados pelo crime e
que contribua para a restauração da paz social (não é admitido um acordo que inclua penas
privativas de liberdade ou deveres que ofendam a dignidade do suspeito do crime ou que se
prolonguem por mais de 6 meses).
A obtenção de acordo homologado pelo Ministério Público equivale à desistência da queixa-
crime.
Página | 14
2. As normas jurídicas
2.1 CARACTERÍSTICAS E ESTRUTURA DAS NORMAS JURÍDICAS
As normas jurídicas distinguem-se das outras normas sociais (religiosas, morais, de trato
social) devido à sua natureza e à sua especificidade.
Características essenciais das normas jurídicas:
Imperatividade: a norma jurídica determina quais as condutas que o indivíduo deve
adotar.
Generalidade e Abstração: A norma jurídica determina a conduta a adotar por qualquer
pessoa que se encontre na situação que a norma descreve ou prevê, dirige-se, portanto, a
uma generalidade ou pluralidade de pessoas, a uma categoria abstrata de pessoas e não a
uma dada pessoa ou a um conjunto determinado, específico de pessoas.
Coercibilidade: O incumprimento das normas jurídicas imperativas desencadeia sanções
(prisão, multa, coima, indemnização cível) que são aplicadas e executadas por intermédio
de um aparelho de poder e de força.
ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA:
A estrutura tipo ou estrutura geral da norma jurídica é constituída por dois elementos:
A previsão ou hipótese: situação da vida, situação de facto ou relação com relevância
jurídicas;
A estatuição ou injunção: efeitos ou consequências jurídicas decorrentes da verificação
da situação ou relação descritas na previsão (artigo 483º CC).
2.2 AS FONTES DO DIREITO
A expressão “fontes do Direito” é utilizada em sentido metafórico uma vez que se trata de
processos ou modos de criação e revelação do Direito. As fontes de Direito em geral são: lei escrita;
o costume; a jurisprudência; a doutrina; a equidade; os princípios fundamentais do Direito. Cada
sistema jurídico atribui uma importância a cada uma destas fontes.
Página | 15
Em Portugal a única fonte imediata e originária do Direito é a lei escrita . Só a lei escrita é
obrigatória e vinculativa. As outras são consideradas mediatas do Direito, isto é, não são verdadeiras
fontes (não criam Direito) a não ser em circunstâncias particulares que a lei permite.
Os princípios fundamentais do Direito português (os alicerces, as bases do sistema
jurídico) encontram-se nos artigos 1º,3º e 4º da CRP.
O costume é um conjunto de normas jurídicas não escritas, de tradição oral e que surgem nas
seguintes condições: é necessário que seja uma norma que é cumprida pela comunidade ao longo de
séculos e acompanhada por um sentimento de obrigatoriedade jurídica. Possui dois elementos
essenciais:
Objetivo (corpus): há o cumprimento dessa norma pela comunidade durante um tempo
constante, uniforme, repetido e de modo consensual.
Subjetivo (animus): a convicção por parte da comunidade de que essas normas são
juridicamente vinculativas.
Como estabelecer a diferença entre o costume e usos e costumes: a presença ou não do animus.
A jurisprudência é o conjunto de decisões emanadas pelos tribunais. Uma decisão em que o
juiz aplica o Direito ao caso em questão. As sentenças traduzem-se pela solução ao conflito. Quando
as sentenças são proferidas por tribunais de grau superior denominam-se de “acórdãos”.
Em Portugal as decisões proferidas pelos tribunais só são vinculativas no caso concreto a
que se referem, não se tornando, assim, vinculativas para outros tribunais que venham a julgar
casos semelhantes (artigo 2º CC). A jurisprudência possui no entanto um valor muito próprio e
característico: permite saber qual é o sentido da interpretação das normas jurídicas.
A doutrina é um conjunto de opiniões exprimidas em pareceres, artigos, teses, etc., por um
jurisconsulto. A doutrina torna-se assim uma preciosa ajuda na aplicação do Direito.
2.3 A LEI ESCRITA – FONTE IMEDIATA DO DIREITO
Uma lei (fonte imediata) é um documento escrito que contém uma determinada forma pré
estabelecida e que contém normas jurídicas e é emitido por um órgão competente para o efeito
(artigo 1º CC). Obs. Ver os princípios fundamentais do Direito português.
Página | 16
A lei superior em Portugal é a Constituição.
Qualquer lei que contrarie a Constituição da República Portuguesa é inconstitucional.
Quando uma lei de grau inferior ofende uma lei de grau superior é ilegal.
2.4 HIERARQUIA E CRIAÇÃO DE LEIS
O ordenamento hierárquico (artigo 112º CRP) do Direito português é o seguinte:
A Constituição da República e as Leis Constitucionais;
As normas e os princípios de Direito Internacional geral e as Convenções Internacionais;
As leis (Assembleia da República) e os decretos-lei (Governo);
Os decretos legislativos regionais;
Os Regulamentos do Governo
Regulamentos Municipais ou outros
COMPETÊNCIA DE CRIAÇÃO DE LEIS:
Assembleia da República :
Artigo 161º c) d) e); Artigo 164º; Artigo 165º
Governo:
Artigo 197º d); Artigo 198º; Artigo 199º c); Artigo 200º c) d); Artigo 201º nº 3
Regiões Autónomas:
Artigo 227º e seguintes
Autarquias:
Artigo 241º
As leis podem ainda “classificar-se” de acordo com o órgão de criação da mesma:
Leis solenes ou formais :
Leis constitucionais – CRP
Leis – Assembleia da República
Decretos – lei – Governo
Decretos legislativos regionais – Regiões Autónomas
Regulamentos :
Decretos regulamentares – Governo
Página | 17
Decretos regulamentares regionais – Regiões Autónomas
Resolução do Conselho de Ministros – Governo
Portarias e despachos normativos – Governo
Regulamentos das Autarquias :
Regulamentos e posturas municipais – Autarquias
O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA LEI:
1ª Fase: Elaboração da Lei
O processo de elaboração dos atos legislativos não é uniforme, variando em função de diversos
fatores, sendo que cada órgão dotado de competência legislativa tem o seu modo próprio de agir na
elaboração das leis.
Destacam-se assim os diplomas de iniciativa legislativa (artigo 167º CRP):
Dos deputados ou grupos parlamentares (projeto de lei)
Do Governo (proposta de lei)
2ª Fase: Discussão e votação (artigo 168º CRP)
Realizada na Assembleia da República no plenário imediatamente a seguir à sua apresentação a
discussão.
Se existirem algumas normas, faz-se a votação na generalidade passando de seguida para a
Comissão onde se fará a discussão e votação norma por norma (votação na especialidade).
3ª Fase: Promulgação da Lei
O Presidente da República é o guardião de determinados princípios e valores.
Compete ao Presidente da República fiscalizar o diploma em três dimensões: a
constitucionalidade e ilegalidade da lei e se a mesma de coaduna com as politicas fundamentais do
Estado português (artigo 134º, 135º, 136º, 278º nº1 CRP).
Após a promulgação é necessário proceder a sua assinatura por parte de um membro do
Governo - referenda ministerial (artigo 140º CRP).
4 ª Fase: Publicação (artigo 119º c CRP)
Página | 18
Algumas considerações sobre a competência e criação de leis:
Os artigos 164º e 165º da CRP contemplam as matérias sobre as quais a Assembleia da
República legisla e sobre as quais pode deferir competência ao Governo para legislar;
O decreto-lei não pode ofender a autorização legislativa da Assembleia da República;
Compete ao Governo enviar proposta de lei (iniciativas legislativas que não são da sua
competência) para a Assembleia da República.
2.5 INÍCIO E TERMO DA VIGÊNCIA DAS NORMAS
O início de uma lei (norma) ocorre no fim do período da vacatio legis (Artigo 5º CC).
Contudo uma lei não vigora eternamente. Segundo o artigo 7º do CC, o momento em que a lei
se extingue (cessação da vigência da lei) pode ocorrer através de dois mecanismos:
Caducidade: processo de extinção da lei que ocorre no interior da lei, isto é, a lei vigora
enquanto ou quando o fato ocorre (leis temporárias). A lei pode caducar quando a
realidade a que se refere deixou de existir.
Revogação: processo que ocorre externamente à lei, por virtude da entrada em vigor de
uma nova lei que declara extinta a lei anterior. A revogação pode ser integral (ab-
rogação) ou pode ser parcial (derrogação). A revogação pode ser de dois tipos:
Expressa: se a nova lei anular declaradamente a anterior;
Tácita: quando a nova lei não declara a anulação da anterior, mas regula
integralmente toda a matéria que era regulada pela lei anterior. Ocorre também
quando a nova lei cria regra ou regras que divergem da disciplina da lei anterior.
Obs.: a lei que vem revogar a lei antiga terá que possuir o mesmo grau hierárquico ou
superior à lei revogada.
2.5 RAMOS DO DIREITO: INTERNACIONAL E EUROPEU
As normas jurídicas são múltiplas e referem-se a matérias distintas. Então, para que se proceda
a um estudo adequado dessas normas, entendeu-se agrupar essas normas em vários ramos. Iremos
ter vários ramos do Direito consoante as matérias a que as normas se referem.
Página | 19
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Trata as relações internacionais estaduais ao nível jurídico. O objetivo é limitar o poder dos
Estados internamente no que respeita ao abuso em relação aos seus cidadãos. A sua finalidade era
regular as relações entre os Estados, criar condições para que os Estados resolvessem os seus
conflitos sem recorrer à guerra. Os Estados e as entidades equiparadas a Estados são os sujeitos
do Direito Internacional Público. As Organizações Internacionais Governamentais também são
reguladas pelo Direito Internacional. O Direito Internacional abrange os domínios económicos,
culturais, o uso de armas, entre outros.
A pessoa humana é um sujeito do Direito Internacional (objetivamente e passivamente).
Atualmente qualquer pessoa que seja membro de um Estado está “coberta” pelos órgãos que aplicam
o Direito Internacional (Tribunal Internacional de Justiça – sediado em Haia e o Tribunal Europeu
do Direitos do Homem – sediado em Estrasburgo) em relação aos crimes de genocídio, crimes de
guerra e crimes contra a Humanidade.
Fontes do Direito Internacional:
Costumeiras: conjunto de regras praticadas pelos Estados, sob forma constante ao longo
dos anos e que os Estados consideram consensuais e conferem obrigatoriedade jurídica.
Convencionais: conjunto de diplomas legislativos criados em encontros diplomáticos
entre os Estados (Tratados, Acordos, Convenções, Pactos).
Princípios gerais de Direito comuns às nações civilizadas: Tratados múltiplos de
Convenções Internacionais (Direitos da Criança, do Homem, Contra a escravatura, etc.) e
Tribunais de competência especializada.
Obs.: artigo 8º CC nº1, nº2, nº3
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
Foi criado para a liberdade de circulação de bens, pessoas, serviços e capitais. Como Estado
membro da União Europeia, Portugal está obrigado às normas do Direito Europeu.
Fontes do Direito Europeu:
Página | 20
Direito Comunitário Originário: conjunto de normas que estão na origem ou que
integram os tratados constitutivos das Comunidades Europeias (ex.: Tratado de Paris) e
por todas as normas que alteraram ou completaram os primeiros;
Direito Comunitário Derivado: constituído pelas normas diretamente criadas pelas
instituições comunitárias com competência para tal tendo em vista a execução dos
Tratados Comunitários (ex.: normas derivadas do Conselho Europeu). Assim constituem
Direito Comunitário derivado: regulamentos, diretivas, decisões, recomendações e
pareceres. O Direito Comunitário Derivado tem de estar de acordo com o Direito
Comunitário Originário.
2.6 DIREITO INTERNO PORTUGUÊS
O Direito Público distingue-se do Direito Privado pelo fato de, no Direito Público, serem
reguladas relações entre dois sujeitos, em que um deles (a entidade pública) está numa posição de
supremacia perante o outro, em virtude de se encontrar no exercício de poderes públicos ( ius
imperii).
De forma diferente ocorre no caso do Direito Privado, enquanto categoria do Direito, e que
disciplina um conjunto de relações entre sujeitos em igualdade de posição, ou seja, enquanto simples
particulares. Elucidativo desta diferença entre as duas categorias pode referir-se os casos do Direito
Fiscal, enquanto ramo do Direito Público (a relação de supremacia entre, por um lado, o ente
público fiscalizador, no exercício de um poder de autoridade público, e o cidadão contribuinte) e
ainda o caso do Direito da Família, como ramo do Direito Privado, (por exemplo, a relação
igualitária existente entre dois cônjuges ligados pelo matrimónio). Ainda de acordo com o critério
acima apontado, são também de Direito Público aquelas regras ou normas que disciplinam a
organização e atividade do Estado e de outras entidades públicas, como, por exemplo, as autarquias,
e ainda as normas que regulam as relações desses entes públicos entre si, no exercício dos poderes
que lhes competem.
RAMOS DO DIREITO PÚBLICO
Direito Constitucional: é o primeiro de todos os ramos em Portugal. Vem exprimido na
CRP. É um conjunto de normas jurídicas que regulam e estruturam o funcionamento dos
órgãos superiores do Estado, designadamente regras que determinam os modos de
formação e manifestação da vontade politica. Também determina os princípios
Página | 21
fundamentais de índole politica e jurídica da comunidade, em particular define os
direitos, liberdades e garantias dos particulares. ACRP é a lei mais importante do Direito
Constitucional. Assim sendo o Direito Constitucional:
Está acima de todas as leis e de todas as decisões dos órgãos do Estado e dos
particulares; se houver desconformidade de uma norma da lei com a CRP temos
uma inconstitucionalidade (uma forma de ilegalidade).
A alteração da Constituição obedece a regras rígidas e a limites que se encontram
consignados nos artigos 284º e seguintes da CRP.
Direito Administrativo: constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a
organização, a atividade e o controlo da Administração Pública e as relações que esta, no
exercício da atividade administrativa de gestão pública, estabelece com outros sujeitos de
Direito.
Direito Financeiro: é todo o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a atividade
financeira do Estado. Atividade financeira é aquela que o Estado desenvolve ao efetuar
as despesas públicas e a obter as receitas públicas necessárias à cobertura dessas
despesas. Na CRP existem normas de natureza fiscal (artigos 106º e 107º): Garantias
fundamentais dos cidadãos em matéria tributária e orientam o legislador e limitam a sua
competência fiscal.
Direito Penal: conjunto de regras jurídicas que estabelecem, por um lado, quais os
comportamentos humanos que são considerados crimes, pelo legislador, e, por outro,
quais as sanções que lhes são aplicáveis (pena de prisão, de multa, ou medida de
segurança).
Direito Processual: conjunto das regras e dos comandos normativos que acompanham a
vida de uma ação em tribunal, desde que instaurada até que seja proferida a decisão que
lhe ponha termo. O direito processual civil não só acompanha a vida de uma ação em
tribunal como também lhe impõe uma tramitação própria, com normas de verificação de
todos os requisitos, definido também as regras relativamente às partes (autor/réu) e do
próprio tribunal. A tramitação de uma ação é feita de acordo com um conjunto de regras
com limites previstos e impostos na própria lei, tudo se desenvolve com a método e rigor,
tendo que se respeitar um rito processual, o processo consiste numa evolução lógica de
atos e técnicas devidamente previstas na lei.
Direito dos Registos e Notariado: conjunto de normas jurídicas que regulam os atos
praticados pelas várias entidades ou pessoas.
Página | 22
RAMOS DO DIREITO PRIVADO
Direito Internacional Privado: estabelece o critério aplicável perante uma situação onde
se relacionam vários sistemas jurídicos (artigos 25º a 65º CC).
Direito Civil: constituído por quatro ramos:
Direito das Obrigações: livro 2 do CC. Conjunto de normas que regulam o acesso
e a circulação dos bens no sentido da sua aquisição. O seu tratamento jurídico
incide sobre a transmissibilidade e acesso aos bens numa perspetiva de dinâmica
patrimonial. Regula a mobilidade da vida económica. As normas obrigacionais
permitem uma utilização indireta do bem, porque a sua fruição está dependente da
intervenção do devedor A sua principal fonte é o contrato (artigo 405º CC):
Contrato de compra e venda: é o contrato pelo qual se transmite a
propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço (artigo 874º e
seguintes CC);
Contrato de doação: é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de
liberalidade e à custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa
ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do outro contraente
(Artigo 940º e seguintes CC);
Contrato de locação (artigo 1022º e seguintes CC);
Contrato de mútuo (artigo 1142º e seguintes CC);
Contrato de empreitada (artigo 1207º CC)
Direito das Coisas ou Direitos Reais: livro 3 CC. Conjunto de normas que
regulam a disposição plena dos bens e a sua apropriação. Daí que as suas normas se
prendam essencialmente com o domínio e a utilização dos bens, regulando o
autêntico e autónomo poder das pessoas sobre as coisas. O direito das coisas tem
assim uma disciplina específica e direta da utilização do bem, o poder que
determinado sujeito possui sobre um bem, numa perspetiva de estática patrimonial,
numa perspetiva de domínio. Nessa medida, conferem maior segurança sobre os
bens ao seu titular. É neste sentido que se pode afirmar que o direito das coisas
regula as infraestruturas socioeconómicas de uma sociedade. Três tipos de Direitos
Reais:
Real de Gozo: nos direitos reais de gozo, o aproveitamento da coisa é feito
de modo direto e imediato no sentido de que, o titular do direito real de gozo
pode fazer suas as utilidades que a coisa lhe proporciona. Pode colher os
Página | 23
frutos naturais, perceber frutos civis, consumir a coisa, alterá-la, etc.
Portanto, o titular do direito real de gozo, satisfaz o seu interesse através do
aproveitamento do valor de uso da coisa, retirando da sua substância todas as
utilidades dessa coisa. São direitos reais de gozo: a posse, o direito de
propriedade (compropriedade e propriedade horizontal), as servidões (artigo
1543º CC), o direito de superfície (artigo 1544º e seguintes CC), o direito
de uso e habitação (artigo 1484º e seguintes CC), o direito de usufruto
(artigo 1439º e seguintes CC) e o direito real de habitação periódica.
Real de Garantia: nos direitos reais de garantia, as utilidades
proporcionadas ao seu titular são aproveitadas de modo indireto, isto é,
através do valor económico, do valor de troca, e não através do seu valor de
uso. Estes direitos reais são acessórios de uma relação creditória e por isso
encontram-se regulados no Livro II, tendo a função de assegurar eficazmente
ao credor, o pagamento preferencial do seu crédito pelo valor da coisa sobre
que recaem. Os direitos reais de garantia caracterizam-se pelo facto de
incidirem sobre o valor ou os rendimentos de bens certos e determinados, do
próprio devedor ou de um terceiro. O CC admite os seguintes direitos reais de
garantia: consignação de rendimentos (artigo 656º CC); penhor (artigo 666º
CC); hipoteca (artigo 686º CC); privilégios creditórios (artigo 733º CC);
direito de retenção (artigo 754º CC).
Real de Aquisição: constituem a categoria de direitos reais mais recente, em
que o interesse do titular é satisfeito através da aquisição de um outro direito
real, (a partir do momento em que se exerce o direito real de aquisição, o seu
titular é imediatamente transposto para outro direito real de gozo).
Direito da Família: livro 4 CC. É o conjunto das normas jurídicas que regulam as
relações jurídicas familiares: casamento (artigo 1577º CC); filiação (artigo 1796º
CC); adoção (artigo 1586º e seguintes CC).
Direito Sucessório: a sucessão é a transmissão por morte de direitos e obrigações
que estariam na titularidade do falecido anteriormente à sua morte e que não se
extinguiram pela verificação desse facto. Com a sucessão são chamadas uma ou
mais pessoas à titularidade das relações patrimoniais da pessoa falecida
verificando-se a consequente devolução dos bens que pertenciam à mesma. A
sucessão realiza-se por lei, testamento ou contrato (também denominado pacto
Página | 24
sucessório). A primeira denomina-se sucessão legal e as últimas sucessão
voluntária.
A sucessão legal (artigo 2157º a 2160º CC) é aquela que opera por efeito da
lei, dispondo esta de um regime supletivo para os casos em que o falecido
não dispôs dos seus bens por testamento ou por contrato (sucessão legítima),
ou de um regime imperativo que não pode ser afastado pela vontade do
falecido, instituindo como herdeiros obrigatórios do falecido o seu cônjuge,
descendentes e ascendentes, e atribuindo a estes uma quota da herança que
não pode ser afetada pelas disposições voluntárias do falecido (sucessão
legitimária). Desta forma, mesmo que o falecido deixe testamento ou celebre
contrato para vigorar depois da sua morte e não preveja como seus herdeiros
o seu cônjuge, ascendentes ou descendentes, a lei dispõe que, mesmo assim,
estes são seus herdeiros e têm direito a uma parte determinada da herança.
A sucessão voluntária pode realizar-se mediante testamento (ato jurídico
unilateral realizado por uma pessoa para vigorar depois da sua morte,
através do qual ela dispõe do seu património em favor de uma ou mais
pessoas determinadas) ou contrato (contrato em que uma pessoa dispõe da
sua própria sucessão, distinguindo-se do testamento por ser um ato jurídico
bilateral em que intervêm os herdeiros ou legatários que se pretendem
instituir com aquele ato e que desde logo aceitam a disposição que é feita em
seu benefício). Os pactos sucessórios só são admitidos nos casos
excecionalmente previstos na lei, como é o caso dos pactos sucessórios
inseridos em convenção antenupcial.
Página | 25
3. Relação Jurídica
3.1 ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA
Relação jurídica, num sentido amplo, é toda e qualquer relação da vida social disciplinada pelo
Direito. Relação jurídica, num sentido restrito, é a relação da vida social disciplinada pelo Direito,
mediante a atribuição a um sujeito de um direito subjetivo e a imposição a outro de um dever jurídico
ou sujeição.
A sua estrutura é composta por um Direito Subjetivo (implicando a existência do Direito
Objetivo) e por um Dever Jurídico ou uma Sujeição. Direito Subjetivo é o poder atribuído pela
Ordem Jurídica a uma pessoa de livremente exigir ou pretender de outra certo comportamento
positivo (ação) ou negativo (omissão), ou de por um ato de livre vontade, só de per si ou integrado
por um ato de uma autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos inevitáveis na esfera
jurídica alheia. A relação jurídica é composta por um lado ativo, o titular do Direito Subjetivo, e um
lado passivo, o titular do dever jurídico ou sujeição. Só existe um Direito Subjetivo quando o seu
titular é livre de o exercer ou não. Assim, não são considerados verdadeiros direitos subjetivos os
chamados poderes-deveres (por falta da liberdade de atuação) ou os poderes jurídicos stricto sensu
(por se tratar de manifestações imediatas ca capacidade jurídica).
O Direito Subjetivo propriamente dito corresponde à 1ª parte da definição. Sobre o
sujeito passivo recai um dever jurídico, ou seja, a necessidade de realizar o
comportamento a que tem direito o titular ativo da relação jurídica.
Ao Direito Potestativo corresponde a 2ª parte da definição. Ao titular passivo da relação
jurídica corresponde uma sujeição, ou seja, a situação em que ele se encontra de não
poder evitar que determinadas consequências se produzam na esfera jurídica.
3.2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA
SUJEITOS
São as pessoas entre as quais a relação jurídica se estabelece, são os titulares do Direito
Subjetivo e das posições passivas correspondentes (dever jurídico ou sujeição). Estes podem ser
pessoas singulares ou coletivas, consoante se trate de indivíduos ou organizações. Os Sujeitos são
dotados de personalidade jurídica, pois esta é precisamente a aptidão para se ser titular de relações
Página | 26
jurídicas, ou seja, direitos e vinculações. Também o Direito Objetivo atribui personalidade jurídica a
certas organizações, para uma melhor consecução dos fins sociais, estas são as Pessoas Coletivas.
Pessoas Singulares
A personalidade jurídica, segundo o artigo 66º CC, adquire-se no momento do nascimento
completo e com vida. O Direito moderno dá grande relevância à natureza e à dignidade do ser
humano, orientando-se assim, no sentido de reconhecer a personalidade jurídica de todos os seres
humanos, sendo esta uma condição indispensável para a realização dos seus fins e interesses na vida
social. É de denotar que qualquer pessoa é titular de um certo número de direitos absolutos, visto que
se impõem ao respeito de todas as outras e têm por objetivo certas manifestações de liberdade
humana, física ou moral; sendo os direitos de personalidade: o direito à vida, à liberdade, à honra,
etc. Os direitos de personalidade estão fundamentalmente consagrados na CRP nos artigos 24º, 25º,
26º e 27º, respetivamente dizem respeito ao Direito à Vida, ao Direito à integridade pessoal, a outros
direitos pessoais e ao direito à liberdade e à segurança.
O conceito de capacidade jurídica pode ser considerado segundo duas perspetivas distintas: a
da titularidade (capacidade jurídica ou de gozo) e a do exercício (capacidade de exercício).
Capacidade jurídica ou de gozo é a aptidão para ser titular de um círculo maior ou menor de relações
jurídicas. Capacidade de exercício de direitos é o conjunto de direitos e vinculações que a pessoa
pode exercer ou cumprir por si, pessoal e livremente, ou mediante procurador.
A capacidade jurídica ou de gozo decorre do artigo 67º CC. A capacidade de gozo de
direitos, ou jurídica, é o conteúdo necessário da personalidade jurídica uma vez que esta
compete a todas as pessoas e é a aptidão para ser sujeito de relações jurídicas. Este é um
conceito puramente qualitativo dado que se refere apenas à qualidade ou à condição da
entidade em causa, enquanto a capacidade jurídica tem um sentido quantitativo, pois a
medida de direitos e de vinculações de que cada um pode ser titular e a que pode estar
adstrito é variável. Esta aptidão para ser titular de um círculo maior ou menor de relações
jurídicas denomina-se capacidade jurídica, ou de gozo. Por norma, todas as pessoas
singulares ao atingirem a maioridade adquirem capacidade de exercício, que resulta do
preceituado nos artigos 130º e 133º CC.
Porém, a lei também reconhece situações excecionais, tal como as incapacidades. Pode
suceder, uma pessoa ser titular de direitos, ou seja, ter capacidade de gozo, e não os poder
exercer, por lhe faltar a necessária idoneidade para atuar juridicamente, isto é, a
necessária capacidade de exercício de direitos (menores e dementes). Podemos também
Página | 27
deparar com uma situação oposta à referida anteriormente, e que se designa por
incapacidade de exercício de direitos – genérica ou específica, estando dependente dos
atos jurídicos a que se refere. As principais incapacidades de exercício estabelecidas pelo
Código Civil são as seguintes:
Menoridade (artigo 122º CC): Apesar da incapacidade geral de exercício de que
sofrem, os menores têm algumas capacidades concretas de exercício, em
conformidade com a ressalva incerta no artigo 127º CC. O menor só pode atuar
juridicamente quando cessar a sua incapacidade antes disso, é substituído por um
representante legal. A forma de suprimento comum da incapacidade de exercício
dos menores é a representação que pode ser feita da seguinte forma:
Pelo poder paternal (Artigo 1877º do Código Civil)
Pela tutela (Artigo 1921º do Código Civil)
Artigo 132º do Código Civil - Emancipação: O menor, através da
emancipação adquire em princípio a capacidade genérica de exercício, como
se fosse maior de idade. A emancipação atribui ao menos plena capacidade
de exercício d direitos, habilitando-o a reger a sua pessoa e a dispor
livremente dos seus bens como se fosse maior, salvo o disposto no artigo
1649ºCC.
Interdição: Esta é a incapacidade mais grave e resulta de determinadas
deficiências psíquicas ou físicas, possuídas por certas pessoas, que lhes afetam a
vontade e o normal discernimento para poderem reger-se, tomar resoluções, dispor
dos seus bens, enfim, atuar juridicamente. O interdito tem um regime jurídico
semelhante ao menor, quer quanto ao valor dos atos praticados, quer quanto os
meios de suprir a sua incapacidade. Artigo 138º do Código Civil (Pessoas sujeitas
a interdição); Artigo 139º do Código Civil (Capacidade do interdito e regime da
interdição). A representação legal é uma forma de suprir esta incapacidade,
estabelecendo-se uma tutela que é regulada pelas mesmas normas que a dos
menores e conferida pela ordem indicada no Artigo 143º do Código Civil (a quem
incumbe a tutela). Para além ser considerado interdito é necessário que a sua
incapacidade seja declarada por sentença judicial. A incapacidade por interdição só
cessará se desaparecer o motivo natural que a originou que está preceituado no
Artigo 151º do Código Civil. Obs. Ver também os seguintes artigos do CC: 148º;
149º; 150º.
Página | 28
Inabilitação: O que determina a inabilitação é o mesmo da interdição, mas com
menor gravidade, a que se juntam ainda certos modos habituais de comportamento,
como a prodigalidade, o abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes (artigos
152º a 156ºCC). A inabilitação resulta de uma sentença judicial proferida no termo
de uma ação interposta para esse fim. Nessa sentença determina-se a extensão da
incapacidade. Esta incapacidade é suprida (artigo 153º CC) pelo instituto de
assistência. A incapacidade por inabilitação, tal como a anterior, só cessará no caso
de desaparecer o motivo que lhe deu origem e depois de se ter requerido no tribunal
“o levantamento da inabilitação” (artigo 155º CC).
Incapacidade Acidental (artigo 257º CC): resulta de qualquer causa transitória
que leve a pessoa a agir sem ter consciência dos seus atos.
Ilegitimidades conjugais: são proibições legais que visam proteger o interesse do
outro cônjuge e da família. Artigos Código Civil: 1735º; 1736º; 174º e seguintes;
1682º nº2; 1687º.
Anulabilidade e Nulidade: por anulação, entende-se uma forma de invalidade. Ou seja,
um negócio jurídico é originariamente válido e assim permanece até que o contrário seja
decretado por um tribunal competente, a pedido de uma das partes interessadas (artigo
289º e seguintes CC). A nulidade é a declaração de invalidade de um ato que não
necessita de ser declarado por um tribunal (artigo 285º e seguintes CC).
Pessoas Coletivas
São organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou por uma massa de bens,
dirigidos à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais a ordem jurídica atribui a
Personalidade Jurídica.
É um organismo social destinado a um fim lícito que o Direito atribui a suscetibilidade de
direitos e vinculações.
Trata-se de organizações integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens,
que constituem centros autónomos de relações jurídicas.
Há duas espécies fundamentais de Pessoas Coletivas: as Corporações e as Fundações.
Página | 29
As Corporações, têm um substrato integrado por um agrupamento de pessoas singulares que
visam um interesse comum, egoístico ou altruístico. Essas pessoas ou associados organizam a
corporação, dão-lhe assistência e cabe-lhe a sua vida e destino.
As Fundações, têm um substrato integrado por um conjunto de bens adstrito pelo fundador a
um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a atribuição patrimonial a
favor da nova Fundação, as diretivas ou normas de regulamentação do ente fundacional da sua
existência, funcionamento e destino.
A função económico-social do instituto da personalidade coletiva liga-se à realização de
interesses comuns ou coletivos, de carácter duradouro.
Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma comunidade
regional, nacional ou a género humano, são uma realidade inegável: são os referidos interesses
coletivos ou comuns. Alguns desses interesses são duradouros, excedendo a vida dos homens ou, em
todo o caso, justificando a criação de uma organização estável.
Essência/Base/Substrato da Pessoa Coletiva
É o conjunto de elementos da realidade extrajurídica, elevado à qualidade de sujeito jurídico
pelo reconhecimento.
O substrato é imprescindível para a existência da Pessoa Coletiva.
Elemento Pessoal: verifica-se nas Corporações. É a coletividade de indivíduos que se
agrupam para a realização através de atividades pessoais e meios materiais de um
objetivo ou finalidade comum. É o conjunto dos associados
O Elemento Patrimonial: intervém nas Fundações. É o complexo de bens que o
fundador afetou à consecução do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se
habitualmente por dotação.
Nas Corporações só o Elemento Pessoal é relevante, só ele sendo um componente necessário
do substrato da Pessoa Coletiva. Pode existir a corporação, sem que lhe pertença património. Por sua
vez nas Fundações só o Elemento Patrimonial assume relevo no interior da Pessoa Coletiva, estando
a atividade pessoal – necessária à prossecução do objetivo fundacional – ao serviço da afetação
patrimonial – estando subordinada a esta, em segundo plano ou até, rigorosamente, fora do substrato
da Fundação.
Página | 30
Parece portanto:
Nas Corporações, é fundamental apenas o Elemento Pessoal, sendo possível,
embora seja uma hipótese rara, a inexistência de um património; este, quando
existe, está subordinado ao elemento pessoal.
Nas Fundações, é fundamental o Elemento Patrimonial, sendo a atividade pessoal
dos administradores subordinada à afetação patrimonial feita pelo fundador e
estando ao serviço dela; beneficiários e fundadores estão, respetivamente, além e
aquém da Fundação.
Elemento Teleológico (fim último a que se destina): a Pessoa Coletiva deve prosseguir
uma certa finalidade, justamente a fim ou causa determinante da formação da
coletividade social ou da dotação fundacional. Torna-se necessário que o fim visado pela
Pessoa Coletiva satisfaça a certos requisitos, assim:
Deve revestir os requisitos gerais do objetivo de qualquer negócio jurídico (artigo
280º CC). Assim, deve o fim da Pessoa Coletiva ser determinável, física ou
legalmente, não contrária à lei ou à ordem pública, nem ofensivo aos bons
costumes (artigo 280º CC).
Deve se comum ou coletivo. Manifesta-se a sua exigência quanto às sociedades.
Quanto às Associações que não tenham por fim o lucro económico dos associados
não há preceito expresso, formulando a sua exigência, mas esta deriva da razão de
ser do instituto da personalidade coletiva. Quanto às Fundações a exigência deste
requisito não oferece dúvidas estando excluída a admissibilidade duma Fundação
dirigida a um fim privado do fundador ou da sua família; com efeito, dos artigos
157º e 188º/1 CC, resulta a necessidade de o escopo fundacional de ser de interesse
social.
Põe-se, por vezes, o problema de saber se o fim das Pessoas Coletivas deve ser
duradouro ou permanente. Não é legítima a exigência deste requisito em termos da
sua falta impedir forçosamente a constituição de uma Pessoa Coletiva.
Elemento Intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurídica,
distinta dos associados, do fundador ou dos beneficiários. A existência deste elemento
radica na circunstância de a constituição de uma Pessoa Coletiva ter na origem um
negócio jurídico: o ato da constituição nas Associações (artigo 167º CC), o contrato de
sociedade para as Sociedades (artigo 980º CC) e o ato de instituição nas Fundações
(artigo 186º CC). Ora nos negócios jurídicos os efeitos determinados pela ordem
Página | 31
jurídica dependem, em termos que posteriormente serão explicitados, da existência e do
conteúdo duma vontade correspondente. Falta também o elemento intencional nas
Fundações de facto e nas Fundações fiduciárias
Estamos perante a primeira figura (Fundação de facto) quando um indivíduo
pretende criar ou manter uma obra de utilidade pública, financiando-a com uma
certa parte do seu património, mas sem contrair um vínculo jurídico
correspondente, podendo, em qualquer momento, pôr termo à afetação desses bens
àquele fim.
Estamos perante a segunda figura (Fundação fiduciária) quando se dispõe a favor
de uma certa Pessoa Coletiva já existente, para que ela prossiga um certo fim de
utilidade pública, compatível com o seu próprio escopo. São uma manifestação
típica de liberdades com cláusula modal.
Elemento organizatório: a Pessoa Coletiva é, igualmente, por uma organização
destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenação
unificadora.
Órgãos
Conjunto de poderes organizados e ordenados com vista à prossecução de um certo fim que se
procede à formulação e manifestação da vontade da Pessoa Coletiva, sendo assim que a Pessoa
Coletiva consegue exteriorizar a sua vontade (coletiva).
É o instrumento jurídico através do qual se organizam as vontades individuais que formam e
manifestam a vontade coletiva e final da associação. São o elemento estrutural, não tendo realidade
física.
Os atos dos órgãos da Pessoa Coletiva têm efeito meramente interno para a satisfação dos fins
dessa Pessoa Coletiva.
É o centro de imputação de poderes funcionais com vista à formação e manifestação da
vontade juridicamente imputável à Pessoa Coletiva, para o exercício de direitos e para o
cumprimento das obrigações que lhe cabem. Não tem todos os poderes e nem todos os direitos que
cabem à Pessoa Singular, só tem Capacidade de Exercício para aquilo que lhe é especificamente
imposto.
Página | 32
A cada órgão são atribuídos poderes específicos segundo uma certa organização interna, que
envolve a determinação das pessoas que os vão exercer. Os titulares são os suportes funcionais
atribuídos a cada órgão, o qual denomina-se competência do órgão: órgão individual decide e o
órgão deliberativo delibera.
Pessoas coletivas de direito público e pessoas coletivas de direito privado
São de Direito Público as Pessoas Coletivas que desfrutam, em maior ou menor extensão, o
chamado ius imperi, correspondendo-lhe portanto quaisquer direitos de poder público, quaisquer
funções próprias da autoridade estadual; são de Direito Privado todas as outras.
Mas em que consiste o imperium, o poder público, a autoridade estadual? Grosso modo, na
possibilidade de, por via normativa ou através de determinações concretas, emitir comandos
vinculativos, executáveis pela força, sendo caso disso, contra aqueles a quem são dirigidos.
Pessoas Coletivas públicas são pois aquelas às quais couber, segundo o ordenamento jurídico e
em maior ou menor grau, uma tal posição de supremacia, uma tal possibilidade de afirmar uma
vontade imperante.
Classificação das pessoas coletivas públicas:
Podem-se distinguir três categorias:
Pessoas Coletivas de População e Território;
Pessoas Coletivas de Tipo Institucional ou de Tipo Associativo;
Pessoas Coletivas de Utilidade Pública são as que propõem um escopo de interesse
público, ainda que, concretamente, se dirijam à satisfação dum interesse dos próprios
associados ou do próprio fundador. Existem várias subcategorias:
Pessoas Coletivas de utilidade pública administrativa: são as Pessoas Coletivas
criadas por particulares. Não são administradas pelo Estado ou por corpos
administrativos, no entanto prosseguem fins com relevância especial para os
habitantes de determinada circunscrição.
Pessoas Coletivas de mera utilização pública: são as Associações ou Fundações
que prossigam fins de interesse geral quer a nível nacional ou regional.
Associações ou Fundações essas, que colaboram com a Administração central ou
local, para prosseguirem fins próprios nacionais ou locais.
Página | 33
Pessoas Coletivas de Direito Privado e utilidade pública: são aquelas que
propõem um escopo de interesse público, ainda que concorrentemente acabem por
satisfazer os interesses dos seus próprios associados.
Classificações legais das Pessoas Coletivas
Esta classificação – Associações, Fundações, Sociedades – não tem um carácter unitário,
porque as Associações e Sociedades são Pessoas Coletivas de tipo corporativo e por isso impõem-se
as Fundações.
Por outro lado, as Associações e Fundações integram uma mesma categoria oposta às
Sociedades, porque estas visam fins económicos e aquelas não.
A tipificação legal das Associações, Fundações e Sociedades é notória no Código Civil. Este
regula a matéria das Associações e Fundações no cap. II, dedicado às Pessoas Coletivas:
Artigos 167º e seguintes: Associações;
Artigos 185º e seguintes: Fundações.
O artigo 157º (as disposições do presente capítulo são aplicáveis às Associações que não
tenham por fim o lucro económico dos associados, às Fundações de interesse social, e ainda às
sociedades, quando a analogia das situações o justifique) é o primeiro artigo do Código Civil onde
se estabelece o regime das Pessoas Coletivas. Esclarece este artigo, que se aplica diretamente às
Fundações sem fim lucrativo; às Fundações de interesse social e também às sociedades sempre que a
analogia das situações o justifique.
No artigo 157º CC, o legislador entendeu que há três tipos de Pessoas Coletivas.
No ordenamento jurídico português, há em termos legais uma separação de Pessoas Coletivas
de Direito Público em Associações e Fundações.
Os artigos 167º a 184º CC visam regular as Associações em sentido restrito.
O legislador faz distinções entre Pessoas Coletivas e Sociedades (artigo 2033º/2 CC: Na
sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade: b) As pessoas coletivas e as
sociedades).
Página | 34
No entanto, quando se fala de Pessoas Coletivas, não se quer excluir as sociedades. A Pessoa
Coletiva abrange sempre as sociedades.
Na ordem jurídica portuguesa há sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma
comercial. O legislador usa palavra Pessoa Coletiva num sentido amplo (encontram-se abrangidas
as entidades suscetíveis de personificação) e restrito (as sociedades). Sociedade, é uma associação
privada com fim económico lucrativo.
Sociedades Comerciais
Nos termos do artigo 1º/2 do Código das Sociedades Comerciais (CSC), a sociedade é
comercial quando tenha por objeto a prática de atos de comércio e adote um dos diversos tipos
regulados nesse código.
A sua caracterização faz-se em, função do seu objeto e da sua organização formal.
Podem revestir quatro formas:
Sociedades em nome coletivo: nestas sociedades cada sócio responde individualmente
pela sua entrada e responde ainda solidariamente e subsidiariamente pelas organizações
sociais (artigo 175º/1 CSC). Neste caso, se um dos sócios satisfizer do passivo social
mais que aquilo que lhe competia, tem direito de regresso sobre os demais sócios
(artigo 175º/3 CSC).
Sociedade por quotas de responsabilidade limitada: cada sócio responde apenas pela
realização da sua quota e solidariamente pela dos demais sócios até à completa
realização do capital social. No entanto não responde em geral pelas dívidas sociais
(art.º 197º/1/3 CSC).
Sociedades anónimas: cada sócio responde apenas pela realização das ações que
subscreveu. Uma vez realizado o seu capital, o sócio não responde nem pela realização
da quota dos demais sócios, nem pelas dívidas sociais.
Sociedades em Comandita: nestas sociedades o regime de responsabilidade dos sócios
é misto: há sócios comanditados que são aqueles que respondem como sócios das
sociedades em nome coletivo e há os sócios comanditários, estes respondem apenas
pela sua entrada na sociedade (artigo 477 seg. CSC).
Página | 35
Sociedades civis sob forma comercial
Caracterizam-se pela circunstância de não terem por objeto a prática de atos de comércio nem
o exercício de quaisquer atividades previstas no Código Comercial. No entanto, a lei comercial
portuguesa admite a possibilidade dessas sociedades civis adotarem as formas comerciais para efeito
de estruturação das quatro formas que pode revestir a sociedade comercial. Neste caso, passam a
chamar-se sociedades civis sob forma comercial e ficam, sujeitas às disposições do Código das
Sociedades Comerciais. No entanto, não ficam sujeitas a um conjunto de obrigações específicas das
sociedades comerciais. São Pessoas Coletivas com Personalidade Jurídica.
Sociedades civis simples
São aquelas que não têm por objeto a prática de atos comerciais e estão sujeitas ao regime do
Código Civil. Aplicam-se-lhes as disposições do artigo 980º seg. CC. Estas sociedades civis simples
distinguem-se das sociedades civis sob forma comercial, dada a forma que revestem, que está
relacionada com a sua organização formal.
Tem ainda uma outra característica que é o facto de ficarem subordinadas ao regime da lei
civil.
No que toca à responsabilidade dos sócios destas sociedades, segue-se o modelo de
responsabilidade dos sócios das sociedades em nome coletivo.
Para além da responsabilidade dos bens de entrada, diz o artigo 997º CC, que eles também
têm ainda a responsabilidade pessoal e solidariamente pelas dívidas sociais.
Princípios fundamentais comuns a todas as pessoas coletivas
Princípio da verdade: impõe a necessidade de não induzir em erro quanto à
identificação e natureza da Pessoa Coletiva nem induzir em erro quanto à sua atividade
art.º 1º, DL 42/89).
Princípio da novidade: impõe a necessidade da Pessoa Coletiva não se confundir com
nomes de outros estabelecimentos já existentes (art.º 2º/5, DL 42/89).
Princípio da exclusividade: assegura ao titular da denominação, desde o seu registo, o
direito ao uso privativo da mesma, afastando quaisquer outras Pessoas Coletivas de usar
uma denominação igual (art.º 6º e 78º/1, DL 42/89).
Página | 36
Respeito pela língua portuguesa: impõe a necessidade na redação de respeito pelas
regras gramaticais em português.
Princípio da legalidade: impede o uso de denominação que lesem os bons costumes
ou que contenham termos ou expressões incompatíveis com a liberdade de opção
política, religiosa ou ideológica.
Princípio da especialidade – artigoº 160º CC – a Pessoas Coletiva deve praticar atos
jurídicos em concordância com os seus fins estatutários (não podem ser titulares de
direitos e obrigações que não forem necessários ou convenientes à realização dos seus
fins). É uma capacidade específica, limitada pelo fim que visam prosseguir e que foi
determinante da concessão da personalidade.
Capacidade das Pessoas Coletivas
A Capacidade Jurídica das Pessoas Coletivas é um “status” inerente à sua existência como
pessoas jurídicas (artigo 67º CC). É uma Capacidade Jurídica Específica enquanto a das pessoas
singulares é de carácter geral. A lei refere-se-lhe expressamente para o efeito de a limitar. Essas
limitações constam do artigo 160º CC. A noção de Capacidade de Gozo, tal como em relação às
pessoas singulares, estabelece-se como medida de direitos ou vinculações de que a Pessoa Coletiva
pode ser titular ou estar adstrita.
OBJETO
O objeto da relação jurídica é tudo aquilo sobre que incidem os poderes do titular ativo da
relação. Alguns dos possíveis objetos da relação jurídica, são as pessoas, prestações, coisas corpóreas
ou coisas incorpóreas.
Pessoas
As pessoas só podem ser objeto da RJ nos denominados poderes-deveres ou poderes-
funcionais. Por exemplo, os direitos inseridos no instituto da tutela não atribuem qualquer tipo de
domínio sobre a pessoa do incapacitado.
Prestações
A prestação diz respeito a condutas a que o devedor está obrigado. A noção de obrigação
encontra-se no art.º 397.º do CC e o princípio geral quanto ao cumprimento das obrigações vem
previsto no art.º 762.º do mesmo diploma.
Página | 37
Coisas
Art.º 202.º CC: Noção bastante ampla compreende não só as coisas no sentido físico (um
livro), como realidades imateriais e não sensíveis que podem ser objeto de direitos (obra literária).
Quatro características essências da coisa:
Existência autónoma ou separada
Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém
Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas
Impessoal: não pode possuir personalidade jurídica
Classificação das coisas – artigoº 203.º do Código Civil
Coisas corpóreas: coisas que podem ser apreendidas pelo Homem através dos sentidos
(livro, casa…).
Coisas incorpóreas: coisas que não tendo existência física não podem ser apreendidas
pelos sentidos (obras literárias, firma de um comerciante, direitos de autor…).
Coisas no comércio: aquelas que podem ser objeto de propriedade privada.
Coisas fora do comércio: aquelas que não podem ser objeto de direitos privados (luz,
ar, coisas de domínio publico) artigo 202.º,n.º2CC.
Coisas Imóveis: artigo 204.º CC: prédios rústicos e urbanos: n.º2 do artigo 204.º CC
– elemento fundamental: incorporação no solo; águas; árvores, arbustos e os frutos
naturais, enquanto estiverem ligados ao solo; direitos inerentes aos imóveis
mencionados nas alíneas anteriores partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos:
artigo 204.º,n.º3CC.
Coisas Móveis: artigo 205.º CC: são todas as coisas não compreendidas no artigo
204.ºCC.
Coisas simples: constituem uma unidade. Esta unidade pode ser natural (uma pedra
preciosa), ou resultar da ação do homem (um copo de vidro, uma moeda).
Página | 38
Coisas compostas: artigo 206.º,n.º1 CC: constituída por vários elementos (várias
coisas simples), que não obstante o nexo que as liga, conservam a sua individualidade
própria, mas de cuja combinação resulta um todo que o direito trata unitariamente.
Coisas fungíveis: coisas que se determinam pelo seu género, qualidade e quantidade
artigo 207.º CC: diz-se fungível o que é substituível por outra realidade.
Coisas infungíveis: são aquelas que não são substituíveis, tendo de ser entregues ou
restituídas elas mesmo (um quadro de certo pintor).
Coisas consumíveis: coisa cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua
alienação: artigo 208.º CC, ex.: alimentos.
Coisas não consumíveis: são aquelas cuja utilização regular não implica o seu
consumo, quer material quer jurídico, embora possam sofrer uma deterioração mais ou
menos lenta (ex.: um livro).
Coisas divisíveis: coisas que pode ser fracionada sem alteração da sua substância,
diminuição de valor ou prejuízo param o uso a que se destinam: artigo 209.º CC, ex.:
serviço de porcelana.
Coisas indivisíveis: coisa que não podem fracionar-se, como acontece com os animais
vivos, os quadros, etc. A indivisibilidade pode resultar da lei ou de acordo das partes.
Coisas principais: aquelas que existem independentemente de outras (uma casa, um
livro).
Coisas acessórias: artigo 210.º CC: coisas móveis, que não constituindo partes
integrantes, estão afetadas por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outra
(ex.: uma moldura em relação a um quadro).
Coisas presentes: aquelas que existem e pertencem a uma determinada pessoa em certo
momento.
Coisas futuras: as que não estão em poder do disponente ou a que este não tem direito
ao tempo da declaração negocial: artigo 211.º CC.
Obs. Ver também artigo 280º CC: objeto do negócio.
Página | 39
FACTO JURÍDICO
Noção de facto jurídico
Toda relação de direito nasce, conserva-se, transfere-se, modifica-se, ou extingue-se, em
virtude de um acontecimento capaz de produzir o seu nascimento, a sua conservação, a sua
transferência, a sua modificação ou a sua extinção. Esse acontecimento recebe o nome de fato
jurídico.
CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS:
Factos Naturais (factos jurídicos em sentido estrito): são acontecimentos que embora
produzindo efeitos jurídicos não traduzem a exteriorização de uma vontade humana.
Ex: o nascimento, a morte natural, um incêndio, uma tempestade.
Factos Voluntários (atos jurídicos): são acontecimentos produtores de efeitos jurídicos
que representam a manifestação de uma vontade humana. Ex: o testamento, um
contrato.
Atos lícitos: ato jurídico conforme com o direito objetivo. Ex: se alguém tendo
capacidade de exercício, vende um objeto a outra pessoa, pratica um ato lícito.
Atos ilícitos: ato jurídico que viola ou ofende o direito objetivo – é contrário ao direito
objetivo (civis ou criminais, dolosos ou negligentes). Ex: se alguém, deliberadamente,
mata outro, pratica um ato ilícito. Estes podem dividir-se em:
Dolosos: quando o seu autor tem a intenção deliberada de fazer mal ou
prejudicar.
Negligentes ou meramente culposos: quando o indivíduo, na sua atuação, omite
deveres de cuidado ou de perícia, comportando-se de forma negligente ou
imprudente. Apesar de não prever o resultado que venha a ocorrer, essa sua
atuação imprudente e descuidada confere-lhe culpa.
NEGÓCIO JURÍDICO
São factos jurídicos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações
de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo da
vontade das partes, tal como este é objectivamente apercebido. (os efeitos dos negócios jurídicos
produzem-se ex voluntate) Ex: o testamento e os contratos.
Página | 40
No negócio, tem de haver de ação, sem esta, o negócio é inexistente. O autor do ato tem de
querer um certo comportamento exterior por atos escritos ou por palavras. Tem de ser de livre
vontade, de outra maneira será inexistente (ex. coação física), tem de haver uma declaração
(exteriorização da vontade do agente), constitui um elemento de natureza subjetiva.
O comportamento não basta ser desejado em si mesmo, é necessário que ele seja utilizado pelo
declarante como meio apto a transmitir um certo conteúdo de comportamento.
Classificação dos Negócios Jurídicos:
Negócios jurídicos unilaterais: há uma só declaração de vontade ou várias
declarações, mas paralelas, formando um só grupo. (Ex: o testamento, a renúncia à
prescrição, etc.) É desnecessária a anuência do adversário; vigora o princípio da
tipicidade (art.º 457° CC)
Negócios jurídicos bilaterais ou contratos: aqueles onde há duas ou mais declarações
de vontade, de conteúdo oposto, mas convergente na comum pretensão de produzir
resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte. Há por um lado
uma oferta ou proposta e por outro lado uma aceitação que se conciliam num consenso.
Os contratos bilaterais geram obrigações para ambas as partes, obrigações legadas
entre si por um nexo de causalidade ou correspectividade.
Declaração Negocial: é um comportamento que exteriormente observado cria a aparência que
se traduz num conteúdo de vontade negocial. È a intenção de realizar certos efeitos jurídico (art.º
217º e seguintes do CC).
Numa declaração negocial podem distinguir-se normalmente os seguintes elementos:
Declaração propriamente dita (elemento externo) - consiste no comportamento
declarativo;
Vontade Real (elemento interno) - consiste no querer, na realidade vilitiva que
normalmente existirá com o sentido objetivo da declaração:
Vontade de ação;
Vontade da declaração ou vontade da relevância negocial da ação
Vontade negocial, vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado
Página | 41
4. ContratosDiz-se contratos o acordo vinculativo assente sobre duas ou mas declarações de vontade
(oferta ou proposta, de um lado; aceitação, do outro), contrapostas mas perfeitamente
harmonizáveis entre si, que visam estabelecer uma composição unitária de interesses.
O Código Civil português vigente não define expressamente a figura do contrato, além de
admitir a constituição de obrigações com prestação de carácter não patrimonial (art.º 398º/2 CC),
considera expressamente como contratos o casamento (art.º 1577º CC), do qual brotam relações
essencialmente pessoais, bem como o pacto sucessório (art.º 1701º, 2026º, 2028º CC), que é fonte
de relações mortis causa.
O contrato pode ser hoje, por conseguinte, não só fonte de obrigações (da sua constituição,
transferência, modificação ou extinção), mas de direitos reais, familiares e sucessórios.
O contrato é essencialmente um acordo vinculativo de vontades opostas, mas harmonizáveis
entre si.
O seu elemento fundamental é o mútuo consenso. Se as declarações de vontade das partes,
apesar de opostas, não se ajustam uma à outra, não há contrato, por que falta o mútuo consentimento.
Se a resposta do destinatário da proposta contratual não for de pura aceitação, haverá que
considerá-la, em homenagem à vontade do proponente, como rejeição da proposta recebida ou como
formulação de nova proposta, até se alcançar o pleno acordo dos contraentes (art.º 223º CC).
As vontades integram o acordo contratual, embora concordantes ou ajustáveis entre si, têm que
ser opostas, animadas de sinal contrário.
Se as declarações de vontade são concordantes, mas caminham no mesmo sentido, refletindo
interesses paralelos, não há contrato, mas ato coletivo ou acordo.
O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral, isto é, integrado pela manifestação de
duas ou mais vantagens diversas que se conjugam para a realização de um objetivo comum.
A única razão porque se fala em vontades contrapostas mas convergentes para a produção de
um certo efeito, é para distinguir os contratos dos negócios jurídicos unilaterais em que há mais de
que um sujeito. E aí as declarações de vontade já não são contrapostas, mas são paralelas.
Página | 42
A liberdade de contratual encontra-se consagrada no art. 405º CC, e corresponde a esta ideia
muito simples: as partes são livres de celebrar ou não celebrar o contrato que quiserem.
A liberdade contratual tem portanto duas vertentes, ou componentes: a liberdade de celebração
e liberdade de estipulação.
4.1 PRINCÍPIOS QUE REGULAM OS CONTRATOS
Princípio da Unidade Contratual: No que diz respeito aos contratos, tudo o que for
negociado e estipulado entre as partes terá que ser objeto de apenas um contrato, ou seja, impede-se
deste modo que um determinado negócio seja tratado em dois ou três contratos distintos. Tudo deve
ser regulado num só contrato.
Assim, caso seja necessário proceder a eventuais alterações do que tinha sido inicialmente
estabelecido tal só será possível através de aditamentos, que embora introduzam alterações no
contrato inicialmente celebrado, têm efeitos retractivos, não afetando nem a validade nem os efeitos
que, entretanto, já se verificaram.
O princípio da confiança: Princípio, segundo o qual cada contraente deve responder pelas
expectativas, que justificadamente cria, com a sua declaração, no espírito da contraparte.
Explica por sua vez, a força vinculativa do contrato, a doutrina válida em matéria de
interpretação dos contratos (arts. 236º, 238º, 239º - 217º CC), e a regra da imodificabilidade do
contrato por vontade unilateral, de um dos contraentes (art. 406º CC).
O Princípio Liberdade Contratual: O artigo 405º do Código Civil enuncia o princípio da
liberdade contratual como a faculdade que as partes têm, dentro dos limites da lei, de fixar
livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos prescritos no Código ou
incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver.
Este princípio divide-se, assim, em duas vertentes:
A liberdade de celebração (as partes são livres de aceitar submeter-se ao contrato);
A liberdade de estipulação (as partes são livres de negociar os diversos aspetos
concernentes ao contrato em questão).
Página | 43
4.2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO
Para que um contrato seja validamente celebrado é necessário que se verifiquem determinados
requisitos de validade, ou seja, realidades sem as quais o contrato existe, mas não é válido, antes é
nulo ou anulável. Existem dois tipos de requisitos de validade:
Ordem material que asseguram a validade substancial do negócio que se pretende
celebrar:
A Capacidade e a Legitimidade: A capacidade traduz-se num modo de ser ou
qualidade do sujeito em si. No domínio dos negócios jurídicos fala-se de
capacidade negocial de gozo (ou capacidade jurídica negocial) e da capacidade
negocial de exercício. Legitimidade é o poder que alguém tem de celebrar
determinado contrato derivado do facto de lhe pertencerem os interesses que
serão matéria de tal contrato.
Declaração de vontade negocial ou mútuo consenso: Comportamento ou
conduta que exteriormente observado cria a aparência de um certo conteúdo de
vontade negocial, caracterizando, depois, a vontade negocial como a intenção de
realizar certos efeitos práticos, com ânimo de que sejam juridicamente tutelados
e vinculantes. A declaração pretende ser o instrumento de exteriorização da
vontade do declarante. A falta de declaração negocial conduz à inexistência
material do negócio. A declaração contratual pode ser (nos termos do art. 217º
CC): expressa: quando é feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio
direto de manifestação de vontade ou tácita: quando do seu conteúdo direto se
deduz de factos que com toda a probabilidade, a revelam. A declaração
contratual divide-se nos seguintes elementos:
A declaração propriamente dita (elemento externo), consiste no
comportamento declarativo;
A vontade (elemento interno) consiste no querer tal comportamento
com sentido contratual e com os resultados que lhe são atribuídos.
Idoneidade do objeto: Segundo o artigo 280º do Código Civil, o objeto
negocial tem que preencher determinados requisitos para que seja susceptível de
ser alvo de uma contratualização: tem que ser física e legalmente possível. Ou
seja terá que ser lícito que não contrarie a lei; determinável, que não contrarie a
ordem pública; conforme aos bons costumes.
Página | 44
Os de ordem formal: que determinam a validade do modo como o negócio é
celebrado, ou seja, como tem que se apresentar frente aos outros. Ex: contrato
celebrado por escritura pública.
4.3 CLASSIFICAÇÃO DE CONTRATOS
Contratos típicos (ou nominados) e contratos atípicos (ou inominados): dizem-
se contratos típicos ou nominados, os que, além de possuírem um nome próprio, que os
distingue dos demais, constituem objeto de uma regulamentação legal específica. Os
contratos típicos ou nominados, que a lei chama a si para os disciplinar juridicamente,
correspondem às espécies negociais mais importantes no comércio jurídico. E a
disciplina específica traçada na lei para cada um deles obedece, pelo menos, a um duplo
objetivo do legislador. Por um lado, exatamente porque se trata dos acordos negociais
mais vulgarizados na prática, a lei pretende auxiliar as partes e os Tribunais, fixando a
disciplina jurídica aplicável aos pontos em que, não obstante a importâncias que
revestem, as convenções redigidas pelas partes são frequentemente omissas. Por outro
lado, a lei aproveita o esquema negocial típico do contrato nominado para, a propósito
do conflito de interesses particulares subjacente a cada um deles, fixar as normas
imperativas ditadas pelos princípios básicos do sistema. Distintos dos contratos típicos
ou nominados são aqueles (chamados contratos atípicos ou inominados) que as partes,
ao abrigo do princípio da liberdade contratual (art. 405º/1 CC), criam fora dos modelos
traçados e regulados na lei.
Contratos mistos: Diz-se misto, o contrato no qual se reúnam elementos de dois ou
mais negócios, total ou parcialmente regulados na lei. Em lugar de realizarem um ou
mais dos tipos ou modelos de convenção contratual incluídos no catálogo da lei, as
partes, porque os seus interesses o impõem a cada passo, celebram por vezes contratos
com prestações de natureza diversa ou com uma articulação de prestações diferentes da
prevista na lei, mas encontrando-se ambas as prestações ou todas elas compreendidas
em espécies típicas diretamente reguladas na lei.
Contratos gratuitos e contratos onerosos: Diz-se contrato oneroso, o que a atribuição
patrimonial efetuada por cada um dos contraentes tem por co respectivo, compensação
ou equivalente a atribuição da mesma natureza proveniente do outro, para alcançar ou
manter a atribuição patrimonial da contraparte, cada contraente tem (o ónus hoc sensu)
de realizar uma contraprestação. Para que o contrato seja oneroso é preciso que cada
Página | 45
uma das partes tenha simultaneamente uma vantagem de natureza patrimonial e um
sacrifício do mesmo tipo. É gratuito o contrato em que, segundo a comum interação
dos contraentes, um deles proporcionou uma vantagem patrimonial ou outro, sem
qualquer co respectivo ou contraprestação. Para que o contrato seja gratuito, é preciso
que uma das partes tenha um benefício patrimonial e a outra sofra apenas um sacrifício
patrimonial.
Contratos bilaterais e unilaterais: Dizem-se contratos unilaterais, os contratos dos
quais resultam obrigações só para uma das partes. O contrato é sempre um negócio
jurídico bilateral, visto nascer do enlace de duas declarações de vontade contrapostas e
ter assim sempre duas partes. Mas há negócios bilaterais que só criam obrigações para
uma das partes (ex. doações – art. 940º CC – comodato – art. 1129º CC – no mútuo e
no mandato gratuito – art. 1157º CC, etc.; estes são contratos unilaterais.
Dos contratos bilaterais (ou sinalagmáticos), como a compra e venda, a empreitada,
não só nascem obrigações se encontram unidas uma à outra por um vínculo de
reciprocidade ou interdependência. O vínculo que, segundo a intenção dos contraentes,
acompanha as obrigações típicas do contrato desde o nascimento deste, continua a
refletir-se no regime da relação contratual, durante todo o período de execução do
negócio e em todas as vicissitudes registadas ao longo da existência das obrigações.
Os contratos bilaterais ou sinalagmáticos, são contratos de que emergem duas
obrigações, cada uma a cargo de uma das partes, ligadas pelo tal sinalagma genético ou
funcional. O sinalagma, liga entre si as prestações essenciais de cada contrato bilateral,
mas não todos os deveres de prestação dele nascidos.
Exceção do não cumprimento (art. 428º CC): Um dos traços fundamentais do regime
dos contratos bilaterais, que constitui um simples corolário do pensamento básico do
sinalagma funcional, consiste na exceção do não cumprimento do contrato (exceptio
non adimpleti contratus). Desde que não haja prazos diferentes para o cumprimento das
prestações, qualquer dos contraentes pode recusar a sua prestação (invocando a exceção
do não cumprimento do contrato), enquanto o outro não efetuar a que lhe compete ou
não o oferecer o seu cumprimento simultâneo (art. 428º CC). As obrigações
compreendidas no sinalagma devem, em princípio, ser cumpridas simultaneamente.
Condição resolutiva tácita: Se a impossibilidade da prestação proceder de facto
imputável ao devedor, tem o credor a faculdade de resolver o contrato e de exigir a
restituição da sua prestação por inteiro, se porventura a tiver já realizado (art. 810º/2
CC). É a principal sanção apontada contra o inadimplemento da obrigação nos
Página | 46
contratos bilaterais, medida que assenta sobre a chamada condição resolutiva tácita. A
designação de condição resolutiva tácita repousa sobre a ideia de que, atento o nexo de
interdependência psicológica existente entre as prestações integradoras do contrato
bilateral, cada uma das partes se reserva a faculdade de resolver o contrato (fazendo
cessar a sua eficácia) se a outra não quiser ou não puder cumprir.
Contrato a favor de terceiro: É o contrato em que um dos contraentes (promitente)
atribui, por conta e à ordem do outro (promissário), uma vantagem a um terceiro
(beneficiário) estranho à relação contratual. A vantagem traduz-se em regra numa
prestação assente sobre o respectivo direito de crédito; mas pode consistir outro sim na
liberação de um débito, na constituição, modificação ou extinção de um direito real.
Essencial ao contrato a favor de terceiro, como figura típica autónoma, é que os
contraentes procedam com a intenção de atribuir, através dele, um direito (de crédito ou
real) a terceiro ou que dele resulte, pelo menos, uma atribuição patrimonial imediata
para o beneficiário.
Contrato para pessoa a nomear (art. 452º CC): É o contrato em que uma das partes
se reserva a faculdade de designar uma outra pessoa que assuma a sua posição na
relação contratual, como se o contrato tivesse sido celebrado com esta última. Não há
no contrato para pessoa a nomear nenhum desvio ao princípio da eficácia relativa (inter
partes) dos contratos. O contrato para pessoa a nomear produz todos os seus efeitos
apenas entre os contraentes. Só que, enquanto não há designação do animus electu, os
contraentes são os outorgantes do contrato. Depois da designação, o contraente passa a
ser, de acordo com o conteúdo do contrato, já não o outorgante, mas a pessoa designada
(art. 455º/1 CC). Este contrato tem o seu campo principal de incidência na compra e
venda. E tanto pode ser posteriormente nomeado o comprador, como o vendedor. Ou a
pessoa a nomear aceita o negócio e considera-se contraente o que o foi originariamente,
salvo, neste último caso se houver estipulação em contrário. Admite-se assim, dentro
dos princípios da autonomia privada, que se deixe o negócio sob condição, ou seja,
ineficaz se a pessoa a nomear não o ratificar.
4.4 EFEITOS/EFICÁCIA DOS CONTRATOS
Os contratos podem produzir efeitos de natureza jurídica muito variada. Tipicamente e
privilegiadamente os contratos são fontes de obrigações, podem produzir e muitas vezes produzem
efeitos de natureza obrigacional. Mas podem produzir efeitos de natureza real.
Página | 47
Um contrato de compra e venda produz um efeito real, transmite-se um direito real por
eles;
Um contrato de constituição de usufruto é um contrato que produz um efeito real,
constitui um direito real;
Um contrato de constituição de uma servidão é um contrato com um efeito de natureza
real.
O princípio da eficácia inter partes do contrato (art. 406º CC), é um princípio geral de
imodificabilidade e indestrutibilidade do contrato: a não ser “por mútuo consentimento dos
contraentes”. Em princípio o contrato não pode modificar-se nem extinguir-se, senão, com o acordo
de ambas as partes.
Quanto à resolução dos contratos; e à eficácia inter partes
O direito à resolução pode ser exercido extrajudicialmente, em muitos casos, basta o contraente
que tem fundamento dizer à outra parte “acabou, extingue-se com este fundamento”.
E há casos em que a lei impõe o recurso ao Tribunal, o direito à resolução é um direito
potestativo, que às vezes é de exercício judicial. Também há exceções, que a lei enuncia que em
relação a terceiros (inter partes) o contrato produz efeitos em termos previstos na lei (art. 406º/2
CC). Afirmando que o contrato deve ser pontualmente cumprido, a lei quer dizer que todas as
cláusulas contratuais devem ser observadas, que o contrato deve ser cumprido ponto por ponto, e não
apenas que ele deve ser executado no prazo fixado.
A regra da ineficácia dos contratos em relação a terceiros não contraria o princípio geral de que
todos têm de reconhecer a eficácia deles entre as partes. É pois, de distinguir entre efeitos diretos e
efeitos reflexos. Estes atingem terceiros.
Uma importante categoria de contratos no que respeita aos efeitos que produzem são os
chamados contratos com eficácia real, também designados por contratos reais “quod effectum”,quer
dizer contratos reais quanto aos efeitos. Estes contratos produzem efeitos de direito real, isto é,
constituem, transmitem, modificam ou extinguem direitos reais.
Quanto a estes contratos vigora o princípio da consensualidade: significa que o efeito real
emergente do contrato se produz pela mera celebração do contrato, pelo mero acordo das partes,
Página | 48
independentemente de qualquer ato ulterior, designadamente, independentemente de qualquer
entrega do bem. Temos pois o princípio da consensualidade com duas aceções:
Princípio da consensualidade, para significar que um contrato se celebra pelo mero
acordo das partes, independentemente da observância de qualquer forma especial ou da
entrega de qualquer bem;
E princípio da consensualidade, com o sentido que lhe é atribuído pelo art. 408º CC,
nos contratos com eficácia real, significando que o efeito real decorrendo do contrato
independentemente de qualquer ato posterior ao acordo conclusivo do contrato (art.
1129º, 1142º, 1185º CC).
O princípio geral decorrente do art. 408º CC é o de que o efeito real do contrato em princípio
se produz pela mera celebração do contrato.
Os contratos reais quanto à constituição, são aqueles que se aperfeiçoam, que se celebra
apenas com a entrega da coisa que é seu objeto (ex.: comodato, mútuo, depósito). São três as
principais diferenças existentes entre os regimes da eficácia real e da eficácia meramente
obrigacional dos contratos de alienação ou operação de coisa determinada:
O contrato de alienação, não dispensando um ato posterior de transmissão da posse e de
transferência do domínio, mercê da sua eficácia meramente obrigacional, torna o
adquirente um simples credor da transferência de coisa, com todas as contingências
próprias do carácter relativo dos direitos de crédito.
No sistema de translação imediata, o risco do perecimento da coisa passa a correr por
conta do adquirente, antes mesmo do alienante efetuar a entrega (arts. 408º/1, 796º/1
CC), ao invés do que sucede com outra orientação, se a coisa, por qualquer
circunstância, só depois da conclusão do contrato se transferir para o adquirente,
somente a partir deste momento posterior o risco passa a correr por conta dele.
A nulidade ou anulação do contrato de alienação tem como consequência, no regime
tradicionalmente aceite entre nós a restauração do domínio da titularidade do alienante
(art. 291º CC – limitação).
Coisa futura: Isto não é assim, porém, quando o contrato com eficácia real respeitar a coisa
futura ou indeterminada. Coisa futura é a coisa que ainda não existe materialmente, é a coisa que já
existindo materialmente não tem autonomia jurídica; e ainda são as coisas futuras aquelas que não
Página | 49
estão em poder do disponente ou a que ele não tem direito ao tempo da declaração negocial (art.
211º CC).
Quando a coisa é indeterminada, tem de ser indeterminável, também não se constitui ou
transmite imediatamente o efeito real, só quando a coisa for determinada com o conhecimento de
ambas as partes. Quando se tratar de partes componentes ou integrantes, a lei diz que o efeito real
opera no momento da separação ou colheita do bem.
Reserva de propriedade: O princípio da transferência imediata do direito real constitui a regra
dos contratos de alienação de coisa determinada (art. 408º/1 CC); mas não se trata de um princípio
de ordem pública. É uma pura regra supletiva, que as partes podem afastar, por exemplo, mediante o
estabelecimento de uma cláusula de reserva de propriedade. A reserva de propriedade, prevista no
art. 409º CC (art. 934º, quanto à reserva de venda a prestações), consiste na possibilidade,
conferida ao alienante de coisa determinada, de manter, na sua titularidade o domínio da coisa até ao
cumprimento (total ou parcial) das obrigações que recaíam sobre a outra parte ou até à verificação de
qualquer outro evento. Trata-se de uma cláusula que naturalmente há-de convir, por excelência, às
vendas a prestações e às vendas com espera de preço. No caso previsto no art. 409º CC, o negócio é
realizado sob condição suspensiva, quanto à transferência da propriedade. A reserva, quando incida
sobre coisas imóveis, ou sobre coisas móveis sujeitas a registo, carece de ser registada, sem o que
não produz efeitos em relação a terceiros.
Tratando-se de coisa móvel, não sujeita a registo, o pacto vale em relação a terceiros, sem
necessidade de qualquer formalidade especial, uma vez que não vigora, quanto às próprias coisas
móveis, o princípio segundo o qual a posse vale título.
4.5 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
Os contratos extinguem-se, desde logo nos termos do art. 406º CC, que é o regime geral, por
mútuo consenso, isto é, por acordo das partes. Se ambas as partes quiserem terminar o contrato que
celebraram, naturalmente que podem livremente fazê-lo. Esta forma extintiva do contrato designa-se
por revogação ou distrate do contrato.
A revogação ou distrate tem normalmente uma eficácia “ex nunc”, isto é, para o futuro, todos
os efeitos produzidos pelo contrato se mantêm e ele deixa de produzir efeitos a partir do momento da
sua revogação. Mas as partes podem atribuir-lhe eficácia retroativa, desde que não afetem direitos de
terceiros.
Página | 50
As estipulações posteriores ao negócio formal só estão sujeitas às exigências formais do
próprio negócio se a razão de ser dessa exigência lhe for extensiva (art. 221º/2 CC).
Para além da revogação ou distrate, o contrato pode extinguir-se por caducidade. É um efeito
jurídico decorrente da verificação de um facto jurídico “stricto sensu”.
Num negócio o contrato caduca quando, por exemplo, tinha um prazo ou quando tinha um
termo incerto, pela verificação de um facto jurídico “stricto sensu”, que é o decurso do tempo, em
que o contrato deixa de produzir efeitos, isto é a caducidade.
A caducidade tem tipicamente, apenas efeitos para o futuro, todos os efeitos já produzidos pelo
contrato até ao momento da verificação do prazo são preservados.
Outra forma de extinção dos contratos e a denúncia. Esta é uma forma de extinção dos
contratos de execução duradoura, sem tempo de duração convencional ou legalmente fixada. Só pode
haver denúncia, nos contratos de execução duradoura que não tenha prazo, nem convencional nem
legalmente fixado, que não tenham termo de duração, que tenham, sido acordados para vigorar
indefinidamente.
Uma última forma de extinção dos contratos é a chamada resolução, também designada
sobretudo pela doutrina mais antiga rescisão do contrato. A resolução do contrato encontra-se
prevista e regulada nos arts. 432º segs. CC, e consiste na extinção do contrato com eficácia retroativa
por declaração unilateral e vinculada de uma das partes. Tal significa que a resolução do contrato é
feita por um dos contraentes – por apenas um dos contraentes. Porém ela não é feita livremente por
esse ou por qualquer dos contraentes; só pode ser feita, é um direito potestativo, que só pode ser
exercido, quando tiver fundamento na lei ou no próprio contrato.
O exercício do direito à resolução do contrato tem como efeito a extinção de todos os efeitos
do contrato, retroativamente “abinicio”, o que significa que na esfera jurídica do outro contraente
todos os efeitos jurídicos que o contrato lá tinha produzido desaparecem. Isso quer ele queira, quer
não queira, sem que se possa opor a isso. É por isso que a resolução de um contrato é um direito
potestativo, vinculado a um fundamento legal ou convencional.
FUNDAMENTOS LEGAIS DE RESOLUÇÃO DE UM CONTRATO
Falta de pagamento de uma prestação que não exceda o oitavo do preço (art. 934º
CC.) Não é geral, é privativo da compra e venda a prestação com reserva de propriedade. A
Página | 51
exceção aberta no art. 934º CC, ao regime geral de venda na prestações reveste carácter
imperativo. Não obstante convenção em contrário, ainda que haja, ou mesmo que haja
“convenção em contrário”. É esse o sentido que inquestionavelmente decorre do espírito da
lei, toda empenhada em defender o comprador contra a perigosa sedução do pagamento a
prestações e da máquina publicitária dos vendedores e em atenuar as consequências da
desigual condição económica dos contraentes. Para conseguir esse objetivo, a norma legal
necessita de impor-se ao próprio contraente protegido, a fim de que ele não seja vítima da sua
mesma fraqueza.
Um fundamento que é extensivo a toda uma categoria de contratos, e o art. 810º/2 CC,
o incumprimento definitivo e culposo de uma das obrigações das partes: Este
fundamento permite a resolução do contrato, quando o contrato for sinalagmático, for
bilateral: nos contratos bilaterais, o credor tem direito à resolução do contrato se o
devedor incumprir definitiva e culposamente a obrigação que sobre ele impendia. O
principal objetivo da cláusula penal (art. 810º CC) é evitar dúvidas futuras e litígios
entre as partes quanto à determinação do montante da indemnização. Muitas vezes
porém, ela é fixada com o intuito de pôr um limite à responsabilidade nos casos em que
os danos possam atingir proporções exageradas em relação às previsões normais dos
contraentes. Também pode servir para atribuir carácter patrimonial a prestação que o
não tem (art. 398º/2 CC). Não só porque se trata de uma cláusula acessória, mas
porque a obrigação do devedor se modifica, quando haja lugar à aplicação de pena,
exige o n.º 2 do art. 810º CC, para a cláusula penal, a forma exigida para a obrigação
principal, e considera a cláusula nula, se for nula esta obrigação. Pela mesma razão se
deve considerar inexigível a pena convencionada, embora a lei não o diga
expressamente, se for inexigível a obrigação principal, como acontece nas obrigações
naturais, pelo menos quando a razão da inexigibilidade for a mesma. Apesar do carácter
acessório que normalmente reveste, nada obsta a que a cláusula penal seja assumida
como penalidade para a não realização de determinado ato, sem que a parte se obrigue
propriamente à realização desse ato.
FUNDAMENTO GERAL DA RESOLUÇÃO DOS CONTRATOS
É aquele que está previsto e regulado nos arts 437º a 439º CC, é a chamada alteração das
circunstâncias. A resolução ou modificação do contrato é admitida em termos propositadamente
Página | 52
genéricos, para que, em cada caso o Tribunal, atendendo à boa-fé e à base do negócio, possa
conceder ou não a resolução ou modificação. Alude a lei, aos seguintes requisitos:
Que haja alteração anormal das circunstâncias em que as partes tenham fundado
receio de contratar. É preciso que essas circunstâncias se tenham modificado;
Que a exigência de obrigação à parte lesada afete gravemente os princípios da boa-fé
contratual e não seja coberta pelos riscos do negócio como no caso de se tratar de um
negócio por sua natureza aleatório.
Não exige a lei que os contratos tenham prestações correspectivas. Pode tratar-se, assim, dum
contrato unilateral, como uma doação, um depósito gratuito, um mandato gratuito, etc.
Tem especial relevo a aplicação dos princípios dos arts 433º a 435º CC. A restituição, quando
houver lugar a ela, não está subordinada às regras do enriquecimento sem causa. Há que restituir
tudo o que tiver sido recebido.
Tem ainda grande importância prática o disposto no art. 434º/2 CC, visto ser nos contratos de
execução continuada ou periódica que a resolução ou modificação fundada na alteração das
circunstâncias tem o seu campo de mais frequente aplicação.
4.6 CONTRATOS TIPIFICADOS
Compra e venda (art. 874º e seguintes CC): Do art. 874º CC, resulta claramente a atribuição
de natureza real, e não apenas obrigacional, ao contrato de compra e venda o que resulta também do
art. 879º a) CC. Dos próprios termos da definição – que alude à transmissão de propriedade ao outro
direito – se depreende, porém, que a compra e venda continua a ser o instrumento jurídico da troca
de bens – e não da troca da prestação de serviços. Tem por objeto essencial a transmissão de um
direito, que, para ser transmitido, necessita de existir previamente como tal, na titularidade do
vendedor, a compra e venda não se confunde com o contrato de empreitada (art. 1207º CC).
Doação (art. 940º e segs. CC): São três os requisitos exigidos no art. 940º CC, para que exista
uma doação:
Disposição gratuita de certos bens, ou assunção de uma dívida, em benefício do
donatário, a atribuição patrimonial sem co respectivo;
Diminuição do património do doador;
Espírito de liberdade.
Página | 53
Forçoso é, para haver doação, que a atribuição patrimonial seja gratuita, e que não exista,
portanto um co respectivo de natureza patrimonial. Pode existir, entretanto, um co respectivo de
natureza moral, sem que o ato para a sua gratuitidade, assim como podem existir encargos impostos
ao donatário (cláusulas modais), que limitem o valor da liberalidade (art. 963º CC).
Sociedade (arts. 980º e segs. CC): O art. 980º não dá uma definição de sociedade, mas do
contrato de sociedade. A origem necessariamente contratual da sociedade reflete-se no regime do ato
jurídico que dá lugar à sua constituição, são três os requisitos essenciais do contrato de sociedade:
A contribuição dos sócios;
O exercício em comum de certa atividade económica que não seja de mera fruição;
E a repartição dos lucros.
A sociedade tem sempre por objeto a repartição dos lucros, não bastando que os sócios lucrem
diretamente através da atividade em comum. Às sociedades são aplicáveis subsidiariamente, as
disposições que regulam as pessoas coletivas, quando a analogia das situações o justifique (art. 157º
CC).
Locação (art. 1022º segs. CC): O contrato de locação é puramente consensual, não tendo, por
conseguinte, carácter real quod constitutionem. É oneroso e tem efeitos duradouros (porquanto dele
nasce uma relação – a relação locativa – que tem, de um lado, uma prestação continuada – a do
locador – e, do outro, uma prestação periódica ou reiterada – a do locatário).
Parceria pecuária (art. 1121º segs. CC): Os sujeitos deste contrato têm as designações
de parceiro proprietário e parceiro pensador (art. 1123º e 1127º CC). A lei não impede que as
posições atribuídas neste artigo, quer ao parceiro proprietário quer ao parceiro pensador, sejam
exercidas, em parte, pelo outro contraente.
Comodato (arts 1129º e segs. CC): É por sua natureza real quod constitutionem – no sentido
de que só se completa pela entrega da coisa. A lei diz intencionalmente que o comodato é o contrato
pelo qual uma das partes entrega…certa coisa, e não pelo qual se obriga a entregar. O comodato é
um contrato gratuito, onde não há por conseguinte, a cargo do comodatário, prestações que
constituam o equivalente ou o co respectivo da atribuição efetuada pelo comodante. Nenhuma das
obrigações discriminadas no art. 1135º CC, está realmente ligada a esta atribuição pelo nexo próprio
do sinalagma ou mesmo dos contratos onerosos. O objeto do comodato há-de ser certa coisa, móvel
ou imóvel, e portanto, uma coisa não fungível, dada a obrigação imposta ao comodatário de restituir.
Página | 54
Mútuo (arts. 1142º segs. CC): O mútuo implica a transferência da propriedade, não porque a
função do contrato se dirija a esse fim, mas porque a traslatio dominii é indispensável – como meio
ou instrumento jurídico – de obtenção do gozo da coisa que se visa proporcionar ao mutuário, dada a
natureza fungível dela. Implicando o contrato de mútuo a transferência da propriedade da coisa. O
contrato de mútuo (gratuito) é tal, como o comodato, um contrato unilateral sobre a obrigação de
restituir imposta ao mutuário. O mútuo tem naturalmente por objeto o dinheiro, mas pode recair
sobre outras coisas, desde que sejam fungíveis.
Contrato de trabalho (art. 1152º CC): Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se
obriga, mediante retribuição, a prestar a sua atividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a
autoridade e direção desta.
Prestação de serviços (art. 1154º CC): Contrato de prestação de serviço é aquele em que uma
das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com
ou sem retribuição. O mandato, o depósito e a empreitada, regulados nos capítulos subsequentes, são
modalidades do contrato de prestação de serviço.
Mandato (art. 1157º segs. CC): Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a
praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra. O mandato presume-se gratuito, excepto se
tiver por objeto atos que o mandatário pratique por profissão; neste caso, presume-se oneroso. Se o
mandato for oneroso, a medida da retribuição, não havendo ajuste entre as partes, é determinada
pelas tarifas profissionais; na falta destas, pelos usos; e, na falta de umas e outros, por juízos de
equidade. O mandatário é obrigado:
A praticar os atos compreendidos no mandato, segundo as instruções do mandante;
A prestar as informações que este lhe peça, relativas ao estado da gestão;
A comunicar ao mandante, com prontidão, a execução do mandato ou, se o não tiver
executado, a razão por que assim procedeu;
A prestar contas, findo o mandato ou quando o mandante as exigir;
A entregar ao mandante o que recebeu em execução do mandato ou no exercício deste,
se o não despendeu normalmente no cumprimento do contrato.
O mandato é livremente revogável por qualquer das partes, não obstante convenção em
contrário ou renúncia ao direito de revogação. Se, porém, o mandato tiver sido conferido também no
interesse do mandatário ou de terceiro, não pode ser revogado pelo mandante sem acordo do
interessado, salvo ocorrendo justa causa. O mandato caduca:
Página | 55
Por morte ou interdição do mandante ou do mandatário;
Por inabilitação do mandante, se o mandato tiver por objeto atos que não possam ser
praticados sem intervenção do curador.
Salvo estipulação em contrário, o mandatário não é responsável pela falta de cumprimento das
obrigações assumidas pelas pessoas com quem haja contratado, a não ser que no momento da
celebração do contrato conhecesse ou devesse conhecer a insolvência delas.
Depósito (art. 1185º segs. CC): Depósito é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra
uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for exigida. É aplicável ao
depósito o disposto no artigo 1158.º O depositário é obrigado:
A guardar a coisa depositada;
A avisar imediatamente o depositante, quando saiba que algum perigo ameaça a coisa
ou que terceiro se arroga direitos em relação a ela, desde que o facto seja desconhecido
do depositante;
A restituir a coisa com os seus frutos.
O depositário pode guardar a coisa de modo diverso do convencionado, quando haja razões
para supor que o depositante aprovaria a alteração, se conhecesse as circunstâncias que a
fundamentam; mas deve participar-lhe a mudança logo que a comunicação seja possível. O
depositário não pode recusar a restituição ao depositante com o fundamento de que este não é
proprietário da coisa nem tem sobre ela outro direito. Se, porém, for proposta por terceiro ação de
reivindicação contra o depositário, este, enquanto não for julgada definitivamente a ação, só pode
liberar-se da obrigação de restituir consignando em depósito a coisa. Se chegar ao conhecimento do
depositário que a coisa provém de crime, deve participar imediatamente o depósito à pessoa a quem
foi subtraída ou, não sabendo quem é, ao Ministério Público; e só poderá restituir a coisa ao
depositante se dentro de quinze dias, contados da participação, ela não lhe for reclamada por quem
de direito.
Empreitada (art. 1207º segs. CC): Empreitada é o contrato pelo qual uma das partes se obriga
em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço. Essencial para que haja empreitada é
que o contrato tenha por objeto a realização de uma obra e não um serviço pessoal. Os sujeitos do
contrato de empreitada têm as designações legais de empreiteiro e de dono da obra.
Página | 56
Renda perpétua (art. 1231º segs. CC): Contrato de renda perpétua é aquele em que uma
pessoa aliena em favor de outra certa soma de dinheiro, ou qualquer outra coisa móvel ou imóvel, ou
um direito, e a segunda se obriga, sem limite de tempo, a pagar, como renda, determinada quantia em
dinheiro ou outra coisa fungível. Como elementos do contrato, exige o art. 1231º CC, que haja, por
parte de um dos contraentes, a transferência de certa soma de dinheiro ou qualquer outra coisa móvel
ou imóvel, ou um direito, e que o adquirente se obrigue a pagar, como renda, determinada quantia
em dinheiro ou outra coisa fungível. A renda perpétua só é válida se for constituída por escritura
pública. O devedor da renda é obrigado a caucionar o cumprimento da obrigação. Ao beneficiário da
renda é permitido resolver o contrato, quando o devedor se constitua em mora quanto às prestações
correspondentes a dois anos, ou se verifique algum dos casos previstos no artigo 780º CC. O devedor
pode a todo o tempo remir a renda, mediante o pagamento da importância em dinheiro que
represente a capitalização da mesma, a taxa legal de juros. O direito de remissão e irrenunciável, mas
é lícito estipular-se que não possa ser exercido em vida do primeiro beneficiário ou dentro de certo
prazo não superior a vinte anos.
Renda vitalícia (art. 1238º segs. CC): Contrato de renda vitalícia é aquele em que uma pessoa
aliena em favor de outra certa soma de dinheiro, ou qualquer outra coisa móvel ou imóvel, ou um
direito, e a segunda se obriga a pagar certa quantia em dinheiro ou outra coisa fungível durante a
vida do alienante ou de terceiro. Sem prejuízo da aplicação das regras especiais de forma quanto à
alienação da coisa ou do direito, a renda vitalícia deve ser constituída por documento escrito, sendo
necessária escritura pública se a coisa ou o direito alienado for de valor igual ou superior a 20 000
euros. A renda pode ser convencionada por uma ou duas vidas. Ao beneficiário da renda vitalícia é
lícito resolver o contrato nos mesmos termos em que é permitida a resolução da renda perpétua ao
respectivo beneficiário.
Jogo e aposta (art. 1245º CC): O jogo e a aposta não são contratos válidos nem constituem
fonte de obrigações civis; porém, quando lícitos, são fonte de obrigações naturais, excepto se neles
concorrer qualquer outro motivo de nulidade ou anulabilidade, nos termos gerais de direito, ou se
houver fraude do credor na sua execução.
O jogo e aposta, mesmo quando lícitos, não são contratos válidos nem, portanto, fonte de
obrigações civis. Os jogos lícitos são porém, fonte de obrigações naturais, sendo aplicável a estas
obrigações o disposto no art. 402º e segs. CC. Quer isto dizer, no essencial, que não é judicialmente
exigível o cumprimento das obrigações emergentes dos jogos lícitos, mas que, na hipótese de o
devedor cumprir espontaneamente, já lhe não será permitido exigir a repetição do indevido. A
Página | 57
atribuição por ele efetuada em tais circunstâncias é juridicamente reconhecida como incumprimento
de um dever social.
Transação (art. 1248º segs. CC): Transação é o contrato pelo qual as partes previnem ou
terminam um litígio mediante recíprocas concessões. O fim do contrato é prevenir ou terminar um
litígio. Admite portanto, a lei que a transação tenha lugar, não só estando a causa pendente, mas
também antes da proposição da ação judicial, trata-se neste caso, da transação chamada preventiva
ou extra judicial a que se refere o art. 1250º CC. A transação tem por objeto recíprocas concessões. A
transação preventiva ou extrajudicial constará de escritura pública quando dela possa derivar algum
efeito para o qual a escritura seja exigida, e constará de documento escrito nos casos restantes. As
partes não podem transigir sobre direitos de que lhes não é permitido dispor, nem sobre questões
respeitantes a negócios jurídicos ilícitos.
4.7 GARANTIA
A lei não se limita a impor um dever de prestar ao obrigado e a atribuir ao credor o correlativo
à prestação. Procura assegurar também a realização coactiva da prestação sem prejuízo do direito
que, em certos casos, cabe ao credor de resolver o contrato ou de recusar legitimamente o
cumprimento da obrigação que recaía sobre ele próprio, até que a devedor se decida a cumprir.
A ação creditória, é o poder de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação, quando o
devedor não cumpra voluntariamente, e de executar o património deste (art. 817º CC).
Vista do lado do devedor, a garantia traduz-se fundamentalmente na responsabilidade do seu
património pelo cumprimento da obrigação e na consequente sujeição dos bens que o integram aos
fins específicos da execução forçada.
Se o devedor não cumprir espontaneamente a obrigação:
Ou a prestação é de tal natureza que o credor pode exigir a sua execução específica; ou
a prestação, por ser infungível, é insusceptível de execução específica.
Ou o credor já perdeu o interesse que tinha na prestação e o incumprimento tornou-se
definitivo.
Quando se chega a esta situação de o credor ter ao seu dispor a indemnização pelos danos
decorrentes do incumprimento, o que garante o cumprimento do crédito e do crédito indemnizatório
é o património do devedor. A garantia geral das obrigações é o património do devedor. Mas nem
Página | 58
todos os bens são susceptíveis de apreensão judicial, isto é, nem todos os bens são penhoráveis (arts.
82º, 823º CPC), dentro dos bens penhoráveis há três categorias:
Há bens que são totalmente penhoráveis;
Há bens que são relativamente penhoráveis, quer dizer que são impenhoráveis em
relação a certos processos;
Há bens que são parcialmente impenhoráveis, assim acontece com uma parte (2/3) de
todas as remunerações periódicas de trabalho.
A garantia geral das obrigações, é constituída não por todo o património do devedor, mas
apenas pelos bens componentes desse património que são susceptíveis de penhora. Meios de
conservação da garantia patrimonial:
Declaração de nulidade/legitimidade dos credores (art. 605º CC);
Sub-rogação do credor ao devedor (art. 606º CC);
A impugnação pauliana (art. 610º, 612º CC);
Arresto (art. 619º CC).
Garantias especiais das obrigações
Para além da garantia geral que é comum a qualquer obrigação, uma obrigação pode dispor de
uma garantia especial, a qual pode ter como fonte: convenção, a lei ou decisão judicial,
dependentemente do tipo de garantia. Dois subtipos:
Garantias pessoais;
Garantias reais.
Garantias pessoais: está-se perante esta, quando um sujeito, terceiro relativamente à relação
obrigacional, responde com o seu património pelo cumprimento da obrigação. A nossa lei prevê três
garantias especiais pessoais:
A fiança (art. 627º CC);
A sub-fiança (art. 630º CC);
Mandato de crédito (art. 629º CC).
Página | 59
Garantias reais: Está-se perante esta, quando por convenção das partes, por estipulação da lei
ou por decisão judicial, certos bens, ou o valor de certos bens, ou o valor dos rendimentos de certos
bens, responde privilegiadamente pelo cumprimento da obrigação.
Quer isto dizer que quando há uma garantia real, o credor tem o direito de se fazer pagar com
preferência sobre todos os credores, pelo valor de um certo bem ou dos rendimentos de um certo
bem. Ele pode fazer vender judicialmente um certo bem e com o produto da venda judicial desse
bem, fazer-se pagar pelo seu crédito. Isto independentemente de ser ou não suficiente. Se for
insuficiente, ele depois concorre, para a parte restante com os demais credores quanto à garantia
geral. As garantias reais previstas na nossa lei são:
A consignação de rendimentos (art. 656º CC);
Penhor (art. 666º/1 CC);
Hipoteca (art. 686º/1 CC);
Privilégios creditórios (art. 733; 736º CC);
Direito de retenção (art. 754º CC).
Página | 60
5. Prestação de serviços turísticos
5.1 NOÇÕES JURÍDICAS
5.1.1. TURISMO
Tal como definido no artigo 2º, alínea a) do Decreto-Lei nº 191/2009, de 17 de Agosto (Lei
de Bases das Políticas Públicas de Turismo, doravante, LBT): “movimento temporário de
pessoas para destinos turísticos distintos da sua residência habitual, por motivos de lazer, negócios
ou outros, bem como as atividades económicas geradas e as facilidades criadas para satisfazer as
suas necessidades”
5.1.2. ATIVIDADE TURÍSTICA
Qualquer atividade económica direta ou indiretamente ligada à satisfação de necessidades e
interesses dos intervenientes no fenómeno do turismo, nomeadamente, a prestação de serviços aos
turistas
5.1.3. SERVIÇO TURÍSTICO:
Atividade turística que tem por objeto a satisfação das necessidades e interesses dos turistas
(alojamento, organização de eventos, transportes, organização de viagens, etc…)
5.1.4. TURISTA
Nos termos da alínea c), do artigo 2º da LBT, é “a pessoa que passa pelo menos uma noite
num local que não seja o da residência habitual e a sua deslocação não tenha como motivação o
exercício de atividade profissional remunerada no local visitado”.
5.1.5. O UTILIZADOR DE SERVIÇOS TURÍSTICOS
É, de acordo com o que consta da alínea d), do artigo 2º da LBT “ a pessoa que, não reunindo
a qualidade de turista, utiliza serviços e facilidades turísticas”.
De onde se retira que os serviços turísticos, preferencialmente destinados ao turista, podem ser
prestados a outras pessoas, por exemplo os utentes de um spa ou de uma piscina de um hotel.
Página | 61
5.2 A RELAÇÃO JURÍDICA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TURÍSTICOS
Relação jurídica que emerge, regra geral, de um contrato (de prestação de serviços ou de um
contrato misto, por exemplo, locação e prestação de serviços), entre quem (pessoa singular ou
coletiva, habitualmente no âmbito da exploração de uma empresa) realiza uma atividade turística,
de uma parte e o turista ou o utilizador de serviços turísticos, de outra parte.
Não cabem no domínio da relação jurídica definida as relações jurídicas que se estabelecem
entre diferentes prestadores de atividades turísticas que não envolvam a prestação direta de um
serviço ao turista ou ao utilizador do serviço turístico.
5.3 . POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO
5.3.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Princípio da sustentabilidade: Este princípio encontra-se vertido no artigo 4º, alienas
a) a c), da LBT e exprime-se na exigência de adoção de políticas que fomentem a
fruição e utilização dos recursos ambientais, o respeito pela autenticidade
sociocultural das comunidades locais e a viabilidade económica das empresas.
Princípio da transversalidade: O artigo 5º da LBT define este princípio como “ a
necessidade de articulação e de envolvimento harmonizado de todas as políticas
sectoriais que influenciam o desenvolvimento turístico ….”
Princípio da competitividade: Nos termos das alíneas a) a e), do artigo 6º da LBT, o
essencial do denominado princípio manifesta-se pela adoção de políticas de
ordenamento do território, mecanismos de regulação, políticas de simplificação de
procedimentos administrativos, de educação e formação, bem como políticas fiscais e
laborais, que permitam criar vantagens competitivas face aos países concorrentes.
Princípio do respeito pelos direitos do consumidor à qualidade e segurança dos
serviços turísticos (veja-se artigo 7º da LBT).
Princípio da regulação e da fiscalização das atividades turísticas (veja-se artigo 7º
da LBT).
5.3.2. PLANO ESTRATÉGICO NACIONAL DO TURISMO (PENT)
Documento onde se encontra o plano de âmbito de aplicação plurianual contendo “diretrizes,
metas e linhas de ação” que “enquadra” as políticas públicas de turismo, artigo 8º da LBT. O PENT
Página | 62
atualmente em vigor (PENT 2013-2015) foi aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº
24/2013 que cria a Comissão de Orientação Estratégica para o Turismo (COET) presidida pelo
Primeiro-Ministro.
5.3.3. OBJECTIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO
Tendo em atenção o que vem estabelecido no artigo 9º, nº 1, alíneas a) a j) da LBT são
objetivos da política nacional de turismo: aumentar os fluxos turísticos, contribuir para o
desenvolvimento económico e social do País, promover o reforço da organização regional do
turismo, promover a generalização do acesso dos portugueses aos benefícios do turismo, a
acessibilidade às atividades e empreendimentos turísticos, estimular a competitividade internacional,
criar as condições mais favoráveis para o aumento do investimento privado, construir uma identidade
turística nacional e uma atitude de hospitalidade transversal a todo o país, estimular a concretização
de parcerias público-privadas, introduzir mecanismos de compensação em favor de comunidades
locais.
5.3.4. Áreas de Atuação
Qualificação da oferta (artigo 10º da LBT), formação e qualificação dos recursos humanos
(artigo 11º da LBT), promoção turística (artigo 12º da LBT), acessibilidades (artigo 13º da LBT),
apoiam ao investimento (artigo 14º da LBT), informação turística (artigo 15º da LBT) e
conhecimento e investigação.
5.4 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO TURISMO
Entende-se por Administração Pública do Turismo o conjunto de entidades estruturalmente
vinculadas ao Estado, dotadas de atribuições e competências públicas, que lhes permitem prosseguir
o interesse público, no âmbito do Turismo. Denominam-se, por isso “agentes públicos do turismo”
(veja-se o artigo 17º da LBT).
5.4.1. ADMINISTRAÇÃO DIRETA DO ESTADO
5.4.1.2. Governo, em particular, o Ministério da Economia e do Emprego: Este órgão
governamental tem, de entre outras atribuições e competências, “ por missão a conceção, a
execução e a avaliação das políticas ……. de turismo e de defesa dos consumidores” ( veja-se o
Decreto-Lei nº 126-C/2011 de 29 de Dezembro que aprova a Lei Orgânica deste Ministério).
Destacam-se o Ministro e o Secretário de Estado do Turismo.
Página | 63
5.4.1.2. Direcção-Geral das Atividades Económicas
5.4.1.3. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE): esta entidade “tem
por missão a fiscalização e prevenção do cumprimento da legislação reguladora do exercício das
atividades económicas, nos sectores alimentar e não alimentar, bem como a avaliação e
comunicação dos riscos na cadeia alimentar” (artigo 14º da Lei Orgânica do Ministério da
Economia e do Emprego).
5.4.1.4. Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (órgãos do Ministério da
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território).
5.4.2. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA DO ESTADO
5.4.2.1. Instituto do Turismo de Portugal (Instituto de Portugal, I.P.) entendido como a
“autoridade turística nacional”, está regulado no Decreto-Lei nº 141/2007 que aprova a sua Lei
Orgânica)
São atribuições do Turismo de Portugal, IP, nos termos do artigo 4º, nº2, alíneas a) a j) do
referido Decreto-Lei, apoiar o membro do Governo responsável pelo turismo na definição,
enquadramento normativo e execução da política nacional e comunitária aplicável ao sector, propor
ao Governo as linhas estratégicas aplicáveis ao desenvolvimento do sector, assegurar a coordenação
de estudos e estatísticas, prestar apoio técnico e financeiro às entidades públicas e privadas do sector,
planear, coordenar e executar a política de promoção do país, incentivar e desenvolver uma adequada
política de qualificação de recursos humanos, acompanhar a evolução da oferta turística nacional,
promover uma política adequada de ordenamento turístico e de estruturação da oferta, apoiar
tecnicamente o membro do governo responsável pelo turismo em matéria de jogos de fortuna e azar,
fiscalizar a exploração dos jogos de fortuna e azar e do funcionamento dos casinos e bingos.
5.4.2.2. Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas a que se refere o Decreto-Lei
nº 135/2012 de 29 de Junho.
5.4.3. ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA
5.4.3.1. Entidades Regionais de Turismo: são pessoas coletivas de direito público, de âmbito
territorial, de acordo com a Lei nº 33/2013 de 16 de Maio.
Página | 64
Têm por missão, como consta do artigo 5º, nº1 da mencionada Lei, “ a valorização e
desenvolvimento das potencialidades turísticas da respectiva área regional de turismo, bem como a
gestão integrada dos destinos no quadro do desenvolvimento turístico regional, de acordo com as
orientações e diretrizes da política de turismo definida pelo Governo e os planos plurianuais da
administração central e dos municípios que as integram”.
As suas atribuições encontram-se previstas nas alíneas de a) a g) do nº 2 do aludido artigo 5º:
“colaborar com os órgãos de administração central, definir o plano regional de turismo, assegurar
o levantamento atualizado da oferta turística regional e sub-regional, realizar a promoção da região
no mercado interno alargado, organizar e difundir a informação turística, dinamizar e potenciar os
valores e recursos turísticos regionais e sub-regionais e monitorizar a oferta turística regional e
sub-regional”.
5.4.3.2. As Autarquias Locais (Municípios e Freguesias)
5.4.3.3. Regiões Autónomas (Açores e Madeira)
5.5 O TURISMO NO TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA.
A União Europeia, Organização Internacional Regional de que Portugal é Estado- Membro,
possui uma política em matéria de turismo cujo essencial está vazado no artigo 195º, do Tratado da
União Europeia:
“1. A União completa a ação dos Estados-Membros no sector do turismo, nomeadamente
através da promoção da competitividade das empresas da União neste sector.
Para o efeito, a ação da União tem por objetivos:
a) Incentivar a criação de um clima propício ao desenvolvimento das empresas neste sector;
b)Fomentar a cooperação entre os Estados-Membros, nomeadamente através do intercâmbio
de boas práticas.
2. O Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo legislativo
ordinário, estabelecem as medidas específicas destinadas a completar as ações desenvolvidas nos
Estados-Membros para realizar os objetivos enunciados no presente artigo, com exclusão de
qualquer harmonização das disposições legislativas e regulamentares dos Estados-Membros.”
Página | 65
6. Prestação de serviços turísticos: sujeitosConsideram-se prestadores de serviços turísticos:
Os empreendimentos turísticos;
Os estabelecimentos de restauração e de bebidas;
As agências de viagem e turismo;
Os prestadores de animação turística;
Os concessionários de jogos de fortuna e azar;
As empresas de transporte;
As empresas de aluguer de veículos.
6.1EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS
O Decreto-Lei nº 39/2008, de 7 de Março, consagra regime jurídico aplicável à instalação,
exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos. A definição de empreendimento
turístico está prevista no artigo 2º, nº 1, do referido Decreto-Lei: “Consideram-se
empreendimentos turísticos os estabelecimentos que se destinam a prestar serviços de alojamento,
mediante remuneração, dispondo, para o seu funcionamento, de um adequado conjunto de
estruturas, equipamentos e serviços complementares”.
Os tipos de empreendimentos turísticos são, de acordo com o artigo 4º DL nº 39/2008:
Os estabelecimentos hoteleiros;
Os aldeamentos turísticos;
Os apartamentos turísticos;
Os conjuntos turísticos (resorts);
Os empreendimentos de turismo de habitação;
Os empreendimentos de turismo no espaço rural;
Os parques de campismo e de caravanismo;
Os empreendimentos de turismo da natureza
Estabelecimentos Hoteleiros
Os estabelecimentos hoteleiros são, nos termos do artigo 11, nº1, do Decreto-Lei em análise
(veja-se, ainda, a Portaria nº 327/2008): “ empreendimentos turísticos destinados a proporcionar
Página | 66
alojamento temporário e outros serviços acessórios ou de apoio, com o sem fornecimento de
refeições e vocacionados a uma locação diária”.
Os estabelecimentos hoteleiros dividem-se em Grupos ou Subtipos.
Hotéis;
Hotéis-apartamentos (aparthotéis) nos casos em que a maioria das unidades de
alojamento é constituída por apartamentos;
Pousadas quando explorados diretamente pela ENATUR, Empresa Nacional de
Turismo, SA, ou por terceiros mediante a celebração de contratos de franquia ou de
cessão de exploração e instalados em imóveis classificados como monumentos
nacionais, de interesse público, de interesse regional e municipal ou em edifícios que,
pela sua antiguidade, valor arquitetónico e histórico, sejam representativos de uma
determinada época.
Quanto às condições gerais de instalação de estabelecimentos hoteleiros, dispõe o artigo 12º
do mesmo Decreto-Lei, que estes devem possuir, no mínimo, 10 unidades de alojamento, podendo
ocupar uma parte independente de um edifício … ou a totalidade de um ou mais edifícios que
constituam um conjunto harmónico e articulado. Permite-se que num mesmo edifício sejam
instalados estabelecimentos hoteleiros de diferentes grupos ou categorias.
Aldeamentos turísticos
São os empreendimentos turísticos que, nos termos do artigo 13º do referenciado Decreto-Lei
e da Portaria nº 327/2008, são “constituídos por um conjunto de instalações funcionalmente
interdependentes com expressão arquitetónica coerente, situadas em espaços com continuidade
territorial, ainda que atravessados por estradas e caminhos municipais, linhas ferroviárias
secundárias, linhas de água e faixas de terreno afectas a funções de proteção e conservação de
recursos naturais, destinados a proporcionar alojamento e serviços complementares de apoio a
turistas.”
Apartamentos turísticos
Encontram-se definidos no artigo 14º, do vertente Decreto-Lei (veja-se, também, a Portaria nº
327/2008): “são constituídos por um conjunto coerente de unidades de alojamento, mobiladas e
equipadas, que se destinem a proporcionar alojamento e outros serviços complementares e de apoio
Página | 67
a turistas”. Podem ocupar parte de um edifício ou a totalidade de um ou mais edifícios que
constituam um conjunto harmónico e articulado entre si”.
Conjuntos turísticos ( Resorts )
Estes empreendimentos turísticos possuem como características principais: a sua constituição -
núcleos de instalações funcionalmente interdependentes, situadas em espaços com continuidade
territorial; o seu destino - proporcionar alojamento e serviços complementares de apoio a turistas; a
administração comum de serviços partilhados e de equipamentos de utilização comum; e o facto de
integrarem, pelo menos dois empreendimentos turísticos de um dos tipos previstos no nº1, do artigo
4º, sendo que um deles é, obrigatoriamente, um estabelecimento hoteleiro de cinco ou quatro
estrelas. Exige-se, ainda que possuam um equipamento de animação autónomo e um estabelecimento
de restauração.
Os conjuntos turísticos ou resorts devem cumprir determinados requisitos mínimos que lhes
impõem possuir: vias de circulação internas que permitam o trânsito de veículos de emergência bem
como vias com uma largura mínima de 3 ou 5 metros consoante sejam de sentido único ou duplo;
áreas de estacionamento de uso comum; espaços e áreas verdes exteriores envolventes para uso
comum; portaria; piscina de utilização comum e equipamentos de desporto e lazer.
Os equipamentos de animação nos resorts podem ser campos de golfe; marinas, portos e docas
de recreio; instalações de spa, balneoterapia, talassoterapia e análogas; centros de convenção e
congressos; hipódromos e centros equestres; casinos; autódromos e Kartódromos; parques temáticos
e centros e escolas de mergulho.
Empreendimentos de turismo de habitação
Estão previstos no artigo 17º, do Decreto-Lei em causa, mas, também, na Portaria nº
937/2008, de 20 de Agosto. Características: estabelecimentos de natureza familiar instalados em
imóveis antigos particulares que, pelo seu valor arquitetónico, histórico ou artístico, sejam
representativos de uma determinada época, nomeadamente, palácios ou solares, podendo localizar-se
em espaços rurais ou urbanos. O número máximo de unidades de alojamento é de 15.
Empreendimentos turísticos no espaço rural
São regulados pelo artigo 18º, do mencionado Decreto-Lei e pela Portaria nº 937/2008.
Destinam-se a prestar, em espaços rurais, “serviços de alojamento a turistas, dispondo para o seu
funcionamento de um adequado conjunto de instalações, estruturas, equipamentos e serviços
Página | 68
complementares, com vista a oferecer um produto turístico completo e diversificado no espaço
rural”. Contemplam-se os seguintes Grupos ou Subtipos:
Casas de Campo – imóveis situados em aldeias e espaços rurais que se integrem pela
sua traça, materiais de construção e demais características, na arquitetura típica local.
Quando se situem em aldeias e sejam exploradas de uma forma integrada, por uma
única entidade, são consideradas como turismo de aldeia.
Empreendimentos de agroturismo – imóveis situados em explorações agrícolas que
permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da atividade agrícola, ou a
participação nos trabalhos aí desenvolvidos, de acordo com as regras estabelecidas pelo
responsável.
Hotéis rurais – estabelecimentos hoteleiros situados em espaços rurais que, pela sua
traça arquitetónica e materiais de construção, respeitem as características dominantes na
região onde estão implantados, podendo instalar-se em edifícios novos.
Parques de campismo e de caravanismo
Devem revestir as características previstas no artigo 19º do vertente Decreto-Lei, que os
define, bem como na Portaria nº 1320/2008 de 17 de Novembro: Terão de estar instalados em
terrenos devidamente delimitados e dotados de estruturas destinadas a permitir a instalação de
tendas, reboques, caravanas ou autocaravanas e demais material e equipamento necessários à prática
do campismo e do caravanismo. Podem ser públicos ou privativos.
Empreendimentos de turismo da natureza
A definição consta do artigo 20º, do mencionado Decreto-Lei (veja-se, também, a Portaria nº
261/2009, de 6 de Abril). Destinam-se a prestar serviços de alojamento a turistas, em áreas
classificadas ou noutras áreas com valores naturais, dispondo, para o seu funcionamento de um
adequado conjunto de instalações, estruturas, equipamentos e serviços complementares relacionadas
com a animação ambiental, a visitação de áreas naturais, o desporto de natureza e a interpretação
ambiental. O seu reconhecimento compete ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas,
I.P.
6.1.1. REQUISITOS COMUNS AOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS
Os empreendimentos turísticos enunciados estão vinculados ao cumprimento de determinados
requisitos em matéria de unidades de alojamento (artigo 7º) e acessibilidade (artigo 6º). Considera-
Página | 69
se unidade de alojamento o espaço delimitado destinado ao uso exclusivo e privativo do utente do
empreendimento turístico, quer se trate de um quarto, de uma suite, de um apartamento ou de uma
moradia, conforme o tipo de empreendimento turístico. Exige-se que todas as unidades de
alojamento sejam identificadas no exterior da respectiva porta de entrada em local bem visível, sejam
insonorizadas e possuam janelas ou portadas em comunicação direta com o exterior. As respectivas
portas devem possuir um sistema de segurança que apenas permita o acesso ao utente e ao pessoal do
estabelecimento.
Sem prejuízo de aplicação de regras técnicas específicas, todos os empreendimentos turísticos
devem dispor de instalações, equipamentos e, pelo menos, de uma unidade de alojamento, que
permitam a sua utilização por utentes com mobilidade condicionada.
É autorizada a instalação de estabelecimentos comerciais ou de prestação de serviços nos
empreendimentos turísticos, desde que o seu número e localização não afetem a função e utilização
das áreas de uso comum (artigo 10º).
Necessário se torna estabelecer a distinção entre empreendimentos turísticos e uma outra
realidade próxima desta, mas que com ela não se confunde, os denominados “ estabelecimentos de
alojamento local ”, os quais vêm previstos na alínea b), do artigo 2º e , no artigo 3º , do vertente
Decreto-Lei. A eles se refere, ainda, a Portaria nº 517/2008, de 25 de Junho.
Os estabelecimentos de alojamento local situam-se em moradias ou apartamentos e
estabelecimentos de hospedagem que dispõem de autorização de utilização e, nesses termos, prestem
serviços de alojamento temporário, mediante remuneração, porém, não reúnem os requisitos para
serem considerados empreendimentos turísticos, isto é, não possuam serviços e estruturas
complementares ou de apoio.
Apenas os estabelecimentos de alojamento local que se encontrem registados nas câmaras
municipais da área, registo que é obrigatório, podem ser comercializados para fins turísticos.
Contudo, deverão identificar-se como “alojamento local” sendo-lhes proibida a utilização da
qualificação “turismo”, “turístico” ou outro sistema de classificação.
6.1.2. INSTALAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS
A instalação dos empreendimentos turísticos é antecedida, obrigatoriamente, do cumprimento
de procedimentos municipais de controlo urbanístico, licenciamento, comunicação prévia e
Página | 70
informação prévia (artigo 23º, nº1) e, sendo o caso, de parecer favorável do Turismo de Portugal,
I.P. (artigo 26º). Os empreendimentos turísticos enunciados nas alíneas a) a d,) do nº1, do artigo 4º
e na alínea c,) do nº3, do artigo 18º, do referenciado Decreto-Lei, carecem de parecer do Turismo de
Portugal que é vinculativo, quando desfavorável (artigo 26º, nº 3), no entanto, sendo favorável não
obriga o Município a deferir a pretensão urbanística do interessado. Compete à Câmara Municipal,
nos casos dos parques de campismo e de caravanismo e dos empreendimentos de turismo de
habitação e de turismo no espaço rural (com exceção dos hotéis rurais), ao emitir o alvará de licença
ou a admissão da comunicação prévia, fixar a capacidade máxima e atribuir a classificação ao
empreendimento.
A autorização municipal de utilização para fins turísticos deve ser requerida nos termos do
artigo 30º. Denomina-se alvará o documento que certifica a autorização de utilização para fins
turísticos.
Constitui título válido de abertura do empreendimento qualquer dos documentos que são
enunciados nas alíneas a) a c), do artigo 32º: alvará de autorização de utilização para fins turísticos;
comprovativo de ter efetuado a comunicação prevista no nº1 do artigo 31º; requerimento de
intimação judicial para a prática de ato legalmente devido, nos termos do nº 3, do artigo 31º.
6.1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS
A classificação destina-se a atribuir, confirmar ou alterar a tipologia e a categoria dos
empreendimentos turísticos e tem natureza obrigatória, como estipula o artigo 34º. No artigo 35º,
determina-se que os empreendimentos turísticos referidos nas alíneas a) a c), do nº1, do artigo 4º, se
classificam nas categorias de uma a cinco estrelas, tendo em atenção a qualidade do serviço e das
instalações (veja-se, também, a Portaria nº 327/2008).
Quanto à classificação dos empreendimentos de turismo de habitação, de turismo no espaço
rural (com exceção dos hotéis rurais) e de campismo e caravanismo, veja-se o artigo 22º.
Não estabelecendo a lei qualquer designação “ escalonada” quanto à classificação a atribuir ao
turismo de habitação e turismo em espaço rural, permite-se, no artigo 3º da Portaria nº 1320/2008, de
17 de Novembro, que, a solicitação do interessado, seja atribuía a classificação de 3 a 5 estrelas, aos
parques de campismo e caravanismo.
Página | 71
Na classificação deverão considerar-se as seguintes características: instalações e equipamentos;
serviços de receção e portaria, limpeza e lavandaria, alimentação e bebidas e serviços
complementares, de acordo com o artigo 35º, nº2.
A competência para a realização da auditoria de classificação é outorgada ao Turismo de
Portugal, I. P., no caso dos empreendimentos turísticos referidos nas alíneas a) a d) do nº1, do
artigo 4º e na alínea c) do nº3 do artigo 18º. Quanto à auditoria e classificação dos parques de
campismo e caravanismo, dos empreendimentos de turismo de habitação e de turismo no espaço
rural, compete ao Presidente da Câmara Municipal, vejam-se os artigos 31º, nº 1 e 32º, alínea c).
A classificação dos empreendimentos turísticos deve ser obrigatoriamente revista de quatro em
quatro anos, nos termos do artigo 38ª, podendo ser, ainda, revista, a todo o tempo, oficiosamente ou a
pedido do interessado, quando se verificar a alteração dos pressupostos que determinaram a
respectiva atribuição.
6.1.4. REGISTO NACIONAL DE EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS (RNET)
O Turismo de Portugal, I.P., disponibiliza, no seu sítio na Internet, o Registo Nacional dos
Empreendimentos Turísticos (RNET), que constitui uma relação atualizada dos empreendimentos
turísticos com título de abertura válido.
6.1.5. EXPLORAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS
No âmbito da exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos há que atender a
determinados princípios:
Princípio da veracidade (artigos 41 e 42º):
Este princípio aplica-se quanto à escolha do nome do empreendimento turístico que não pode
sugerir uma tipologia, uma classificação ou características que não possua, sendo que a expressão
“hotel” só pode ser utilizada pelos empreendimentos turísticos enunciados na alínea a) do nº1, do
artigo 4º e na alínea c) do nº3, do artigo 18º. Os empreendimentos turísticos que possuam
infraestruturas e equipamentos exigidas para os resorts, (veja-se artigo 16º) podem, para fins
comerciais usar, com o nome, a expressão, resort.
O princípio da veracidade aplica-se, ainda, no domínio da publicidade, documentação
comercial e merchandising que devem conter o respectivo nome e classificação.
Página | 72
Princípio da reserva exclusiva do exercício do alojamento turístico (artigo 43º)
Exceção feita aos estabelecimentos de alojamento local, só os empreendimentos turísticos
previstos no vertente Decreto-Lei podem prestar serviços de alojamento turístico. O serviço de
alojamento turístico presume-se existir, quando num imóvel ou fração de um imóvel se encontre
equipado e mobilado e se ofereçam ao público, para além de dormida, serviços de limpeza e receção,
por períodos inferiores a 30 dias.
Princípio da continuidade da exploração e da prontidão da totalidade das unidades de
alojamento (artigo 45º, nºs 1 e 2º):
Exige-se que o regime de exploração turística das unidades de alojamento se faça de forma
permanente e continuada, sendo que para o feito, compete à entidade exploradora assegurar que
permanecem mobiladas e equipadas em condições adequadas à sua função e nelas são prestados os
serviços correspondentes à categoria atribuída ao empreendimento turístico.
Princípio de liberdade de acesso (artigo 48º):
O acesso aos empreendimentos turísticos é livre, excetuando-se as situações enunciadas nos
nº2, nº3 e 4 do artigo 48º: pode ser recusado o acesso a quem perturbe o seu normal funcionamento;
pode afetar-se total ou parcialmente o empreendimento turístico à utilização exclusiva por associados
ou beneficiários das entidades proprietárias ou da entidade exploradora; pode reservar-se
temporariamente parte ou a totalidade do empreendimento turístico; pode, finalmente, reservar-se o
acesso e a utilização de serviços, equipamentos e instalações do empreendimento turístico aos
utentes nele alojado e seus acompanhantes.
Princípio da exploração unitária (artigo 44º):
Excetuado o caso dos conjuntos turísticos, resorts, cada empreendimento turístico deve ser
explorado por uma única entidade que é designada pelo titular do respectivo alvará de autorização de
utilização para fins turísticos. Encontram-se fora do âmbito deste dever os estabelecimentos
comerciais e de restauração ou de bebidas, autonomamente autorizados.
6.1.6. RESPONSÁVEL OPERACIONAL
Nos empreendimentos turísticos existe, obrigatoriamente, um responsável nomeado pela
entidade exploradora (artigo 47º). Exige-se que o responsável operacional nos empreendimentos
Página | 73
turísticos de cinco, quatro e três estrelas seja uma pessoa habilitada para o exercício da profissão de
“diretor de hotel”. A profissão de direção hoteleira pressupunha os requisitos previstos no Decreto-
Lei nº 271/82, de 13 de Julho, porém, tal não se verifica, dado que estes requisitos foram eliminados
pelo Decreto-Lei nº 49/2011, de 8 de Abril, que o revogou.
6.2. OS ESTABELECIMENTOS DE RESTAURAÇÃO E DE BEBIDAS
O regime aplicável a estes prestadores de serviços turísticos encontra-se no Decreto-Lei nº
234/2007, de 19 de Junho, bem como no Decreto-Regulamentar nº 20/2008, de 27 de Novembro. Há
que atender, ainda ao Decreto-Lei nº 9/2002 de 24 de Janeiro que estabelece restrições à venda e
consumo de bebidas alcoólicas e à Portaria nº 262/2000, de 13 de Maio que obriga à afixação, clara,
legível e em local visível, de uma tabela de preços, bem como as condições de prestação de serviços.
6.3. AS AGÊNCIAS DE VIAGENS E TURISMO
O acesso à atividade próprio das agências de viagens e turismo é regulado pelo Decreto-Lei nº
61/2011 de 6 de Maio.
6.4. PRESTADORES DE ANIMAÇÃO TURÍSTICA
O acesso e exercício da atividade das empresas de animação turística e dos operadores
marítimo-turísticos, está previsto no Decreto-Lei nº 108/2009, de 15 de Maio. A Portaria nº
651/2009, de 12 de Junho, refere-se ao respectivo Código de Conduta.
6.5. CONCESSIONÁRIOS DE JOGOS DE FORTUNA E AZAR
Este serviço turístico encontra-se regulado na Lei do Jogo, aprovada pelo Decreto-Lei nº
422/89, de 2 de Dezembro. Convém ter presente o regime jurídico do contrato de jogo e aposta
previsto nos artigos 1245º a 1247º do Código Civil.
6.6. EMPRESAS DE TRANSPORTE
As empresas de transporte abrangem o transporte aéreo, regulado pelo Decreto-Lei nº
209/2005 de 29 de Novembro que cria o regime sancionatório aplicável ao Regulamento (CE) nº
261/2004, do Parlamento Europeu e do Conselho, o transporte rodoviário que, nos termos do
Decreto-Lei nº 3/2001, se aplica a veículos com mais de nove lugares, o transporte em táxi, cujo
Página | 74
regime jurídico se encontra vertido no Decreto-Lei nº 251/98 de 11 de Agosto, o transporte
ferroviário, regido pelo Decreto-Lei nº 58/2008, de 26 de Março, e o transporte marítimo, previsto no
Decreto-Lei nº 349/86, de 17 de Outubro.
6.7. AS EMPRESAS DE ALUGUER DE VEÍCULOS
O regime jurídico da indústria de aluguer de veículos sem condutor está plasmado no Decreto-
Lei nº 354/86 de 23 de Outubro.
Página | 75
7. A relação jurídica: alojamento turístico
7.1. OS SUJEITOS
De uma parte, a empresa exploradora de um empreendimento turístico ou de um
estabelecimento de alojamento local.
Recorde-se que, com exceção dos estabelecimentos de alojamento local, só os
empreendimentos turísticos previstos no Decreto-Lei nº 39/2008, podem prestar serviços de
alojamento turístico, entendendo-se por tal, “estabelecimentos destinados a prestar serviços de
alojamento, mediante remuneração, dispondo, para o seu funcionamento, de um adequado conjunto
de estruturas, equipamentos e serviços complementares (artigos 2º, nº2 e 43º nº 1, do referido
Decreto-Lei). De outra parte, o turista ou o utilizador de serviços turísticos (artigo 2º da LBT).
7.2. O OBJETO
O objeto da relação jurídica de alojamento turístico é múltiplo: a “unidade de alojamento”
considerada como “o espaço delimitado destinado ao uso exclusivo e privativo de utente do
empreendimento turístico”, nos termos do nº 1, do artigo 7º de mesmo Decreto-Lei. As zonas
comuns, os equipamentos de uso comum e os serviços.
7.3. FACTO JURÍDICO: O CONTRATO DE HOSPEDAGEM
O contrato de hospedagem turística como contrato misto, que abrange elementos integrantes de
contratos tipificados na lei – locação quanto à unidade de alojamento, zonas comuns e equipamentos
comuns (artigo 1022º, do C. Civil); depósito quanto aos objetos pertencentes ao hóspede (artigo
1185º, do C. Civil); prestação de serviços (artigo 1154º, do C. Civil); compra e venda (artigo 874º
do C. Civil).
7.4. CONTEÚDO DA RELAÇÃO JURÍDICA
Tenham-se em atenção os deveres principais que impendem sobre quem explora o
empreendimento turístico (artigo 46º, alínea c) do Decreto-Lei nº 39/2008 e), bem como os seus
deveres laterais de garantia da segurança da pessoa e dos bens do utente (obrigação de
“incolumidade”). Neste âmbito, exige o nº 4 do Decreto-Lei nº 39/2008 que as portas de entrada das
Página | 76
unidades de alojamento possuam um sistema de segurança que apenas permita o acesso ao utente e
ao pessoal do estabelecimento. Veja-se, a Portaria nº 327/2008 (Tabelas em Anexo), que prevê a
obrigatoriedade da existência de serviços de depósitos de valores na receção em todos os
empreendimentos turísticos, enquanto que a existência de serviços de depósito de bagagens só é
exigida aos que possuam a categoria de três, quatro e cinco estrelas.
Aos deveres, que decorrem da relação jurídica para quem explora o empreendimento turístico,
correspondem direitos do turista ou utilizador de serviços turísticos: (artigo 22º, alíneas d), f) e g)
da LBT).
Página | 77
8. A Relação Jurídica: preparação de viagemO regime específico aplicável a esta relação jurídica consta do Decreto-Lei nº 61/2011, de 6
de Maio.
8.1. SUJEITOS
De uma parte, o turista ou utilizador de serviços turísticos que a lei designa por “cliente”, de
acordo com o nº7, do artigo 29º, do aludido diploma legal.
De outra parte, as agências de viagem e turismo, tal como estão definidas no artigo 3º do
Decreto-Lei em causa.
8.1.1. ATIVIDADE DAS AGÊNCIAS DE VIAGEM E TURISMO, REQUISITOS DE ACESSO E TIPOLOGIA
As agências de viagem realizam atividades que as caracterizam e identificam, as atividades a
título principal, bem como atividades a título acessório (vejam-se, os nºs 1 e 2, do artigo 3º).
Ora, de acordo com o estipulado no nº 1, do artigo 4º, as atividades a título principal são, em
território nacional, da reserva exclusiva das agências de viagem e turismo que se encontrem inscritas
no Registo Nacional de Agências de Viagem e Turismo (RNAVT), ou que operem nos termos do
artigo 10º. As exceções, a este princípio de exclusividade, encontram-se previstas nas alíneas a) a c)
do nº2 do artigo 4º.
O acesso à atividade própria das agências de viagem, para além da inscrição no RNAVT, por
mera comunicação prévia (alínea b), nº2, artigo 8º do Decreto-Lei nº 92/2010 de 26 de Julho),
depende do preenchimento dos requisitos enunciados nas alíneas a) e b) do artigo 6º e,
respectivamente, nos artigos 32º e 35º, a saber, a subscrição do Fundo de Garantia de Viagens e
Turismo (FGVT) e a contratação de um seguro de responsabilidade civil.
As agências de viagem e turismo podem ser agências vendedoras ou agências organizadoras,
estas últimas designam-se “operadores turísticos”, vejam-se os nºs 2 e 3, do artigo 15º.
8.2. OBJETO:
Serviços de preparação e acompanhamento de viagens
Página | 78
8.2.1. DISTINÇÃO ENTRE VIAGENS NÃO TURÍSTICAS E VIAGENS TURÍSTICAS
As viagens turísticas, em sentido amplo, integram as viagens turísticas em sentido estrito que
combinam, pelo menos dois, dos serviços enunciados nas alíneas do nº1 do artigo 15º, e as viagens
por medida previstas no nº3 do referido artigo.
Às viagens não turísticas refere-se o nº 4 do mesmo artigo.
8.2.2. REFERÊNCIA PARTICULAR ÀS VIAGENS ORGANIZADAS (Nº 2, DO ARTIGO 15º)
8.3. FACTO JURÍDICO
Um contrato celebrado entre a agência e o cliente. Alusão especial ao contrato de viagem
organizada.
8.3.1. FORMAÇÃO DO CONTRATO
É necessário tomar em conta as obrigações pré-contratuais que impendem sobre a agência de
viagens, que, para além das que decorrem das normas gerais do direito civil, abrangem, ainda, a
obrigação de informação que se encontra prevista no artigo 16º.
Reveste particular importância o programa de viagem, que deverá estar disponível para
entregar a quem o solicite e deve conter, para além dos aludidos no nº1, do artigo 16º, todos os
elementos referidos nas alíneas a) a o), do nº1, do artigo 20º, bem como outras que se tornem
exigíveis (artigo 18º).
O programa de viagem, entendido como declaração negocial (proposta ao público), vincula a
agência de viagens ao seu cumprimento, com as exceções previstas no artigo 19º.
O contrato considera-se celebrado, quer a sua conclusão se efetue por simples consenso ou por
documento, assinado por ambas as partes, nos termos do artigo 20º, nºs 2 e 3.
O texto do contrato (e, naturalmente, do programa) deve conter, obrigatoriamente, os
elementos referidos nos nº1 e nº4, do artigo 20º.
Antes do início da viagem, deve a agência prestar, atempadamente, ao cliente as informações
enunciadas nas alíneas a) a i), do artigo 21º.
Página | 79
8.3.2. MODIFICAÇÕES DO CONTRATO
Modificações subjetivas: a cessão da posição contratual do cliente e efeitos jurídicos que dela
emergem, nos termos do artigo 22º.
Modificações objetivas: a alteração do preço antes do início da viagem, nos termos do artigo
23º. Efeitos jurídicos da alteração do preço não permitida legalmente.
8.3.3. CESSAÇÃO DO CONTRATO
O cliente pode rescindir o contrato em caso de alteração do preço (nº 4, do artigo 23º), e em
caso de impossibilidade de cumprimento de obrigações essenciais (artigo 24º).
Sem prejuízo dos deveres que incumbem à agência nos casos referidos, o cliente tem direito a
ser imediatamente reembolsado das quantias pagas, ou, em alternativa, optar por participar numa
outra viagem organizada, como dispõe o artigo 25º, alíneas a) e b). Em todo o caso, pode o cliente
rescindir o contrato a todo o tempo (direito de livre rescisão), nos termos do artigo 26º.
Quando a cessação do contrato se deva a iniciativa da agência, por “cancelamento da viagem”,
antes da data da partida, tem o cliente, sem prejuízo da responsabilidade civil, o direito previsto no
artigo 25º.
8.4. INCUMPRIMENTO PARCIAL OU CUMPRIMENTO DEFEITUOSO APÓS O
INÍCIO DA VIAGEM
Aplica-se, nestes casos, o disposto no artigo 27º
8.5. GARANTIA
8.5.1. RESPONSABILIDADE DA AGÊNCIA QUANTO AO INCUMPRIMENTO DOS PRESTADORES DE
SERVIÇOS TURÍSTICOS
8.5.1.1. Viagens organizadas (vejam-se os nºs 2, 3, e 4, do artigo 29º).
8.5.1.2. Viagens turísticas em sentido estrito e por medida (veja-se o nº 5, do artigo 29º).
8.5.1.3. Viagens não turísticas (veja-se o nº 6, do artigo 29º).
Página | 80
8.5.2. LIMITES QUANTITATIVOS DAS INDEMNIZAÇÕES
8.5.2.1. Transporte aéreo (artigo 30º, nº 1)
8.5.2.2. Transporte ferroviário (artigo 30º, nº 1)
8.5.2.3. Transporte marítimo (artigo 30º, nº 2)
8.5.2.4. Destruição ou furto de bens em estabelecimentos de alojamento (artigo 30º, nº3)
8.5.3. MECANISMOS DE GARANTIA
8.5.3.1. O Fundo de Garantia de Viagens e Turismo (FGVT) (artigos 31º e seguintes)
8.5.3.2. Seguro obrigatório (para as agências) de responsabilidade civil (artigo 35º)
Página | 81