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Doutrina nacional Ação rescisória, biênio decadencial e recurso parcial ATHOS GUSMÃO CARNEIRO· Tiveoportunidade, em parecer solicitado por empresa Corretora de Vaiol'es, de manifestar- mesobreo interessante tema - não muito versado na jurisprudência -, do prazo de decadência da ação rescisória, em hipótese em que a res in iudicium deducta se havia "bifurcado", com decisões finais em separado sobre as questões dos danos emergentes e dos lucros cessantes. Passo, pois, à síntese dos eventos processuais relevantes. 1. A empresa Corretora de Valores ajuizou contra o Banco Central do Brasil- BACEN, em maio de 1988, ação de indenização, pelo rito comum ordinário, invocando "falha do serviço e culpa do réu", por ações e omissões relacionadas à fiscalização das atividades da empresa Coroa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento, do Grupo Coroa Brastel, cuja liquidação extrajudicial fora decretada em 1983, com manifesto e vultoso prejuízo aos investidores, entre os quais a Autora. O pedido compreendeu tanto os "danos emergentes" como os "lucros cessantes", estes configurados "pela diferença entre a remuneração do capital no mercado financeiro em que a autora atua ea correção monetária anteriormente referida (valor do spread cobrável na época pela Autora no mercado financeiro;". 2. O MM. Juiz titular da 7 a Vara Federal do Distrito Federal proferiu, aos 16 de fevereiro de 1990, sentença de acolhimento parcial do pedido, julgando: a) devidos os danos emergentes, representados pelos valores nominais dos investimentos conforme apurados na perícia, com correção monetária e juros moratórios, mais encargos da sucumbência; b) não devidos, todavia, os lucros cessantes, cumprindo em conseqüência serem "despregados da perícia os valores apurados a esse título ou de spread". 3. Ambas as partes apelaram, e a 4 a Turma do ego Tribunal Regional Federal da ,. Região, por aresto de 09 de dezembro de 1991 e por maioria de votos, deu provimento em parte ao recurso da Autora e negou provimento ao recurso do Réu; o voto vencido dava provimento ao recurso do BACEN e Julgava prejudicado o da Autora. Consoante aementa, os lucros cessantes foram denegados à Autora ante as "circunstâncias fáctícas do investimento, de hipotética possibilidade de lucros, pelos riscos do mercado"; e os danos emergentes foram deferidos com base na responsabilidade civil da autarquia e no montante dos valores desembolsados pela Autora, "inclusive pelo que foi obrigada a ressarcir a seus clientes, devidamente atualizados". (*) Ministro aposentado do Superior Tribunal de lusliça. Advogado em PorCO Alegre e Brasília . GENESIS - Revista de Direito Processual Civil, Curitiba, (4), janeiro/abril de '/997 5 Revista de direito processual civil, Curitiba, n.4, p. 5-12, jan/abr. 1997

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ália 165 Doutrina nacional ~ciiicada 173

............................................. 184

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I. 40.710 (Magistrados. da tutela) 257

la PAULO) ·0172674 (96.0012756-5) Não concessão. ............................................. 258

Ação transitada em julgado. :om sentença de diverso do o prazo da ação rescisória, ~obre a primeira) 259 . Ação Civil Pública. ninares. Esgotamento 30). Ilegitimidade passiva. oito debatido. semelhante r deferida) 262

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§o imediata da sentença ...... 269 UAROO CAMBI)

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Ação rescisória, biênio decadencial e recurso parcial

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO·

Tiveoportunidade, em parecer solicitado por empresa Corretora de Vaiol'es, de manifestar­mesobreo interessante tema - não muito versado na jurisprudência -, do prazo de decadência da ação rescisória, em hipótese em que a res in iudicium deducta se havia "bifurcado", com decisões finais em separado sobre as questões dos danos emergentes e dos lucros cessantes.

Passo, pois, à síntese dos eventos processuais relevantes. 1. A empresa Corretora de Valores ajuizou contra o Banco Central do Brasil- BACEN,

em maio de 1988, ação de indenização, pelo rito comum ordinário, invocando "falha do serviço e culpa do réu", por ações e omissões relacionadas à fiscalização das atividades da empresa Coroa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento, do Grupo Coroa Brastel, cuja liquidação extrajudicial fora decretada em 1983, com manifesto e vultoso prejuízo aos investidores, entre os quais a Autora.

O pedido compreendeu tanto os "danos emergentes" como os "lucros cessantes", estes configurados "pela diferença entre a remuneração do capital no mercado financeiro em que a autora atua e a correção monetária anteriormente referida (valor do spread cobrável na época pela Autora no mercado financeiro;".

2. O MM. Juiz titular da 7a Vara Federal do Distrito Federal proferiu, aos 16 de fevereiro de 1990, sentença de acolhimento parcial do pedido, julgando:

a) devidos os danos emergentes, representados pelos valores nominais dos investimentos conforme apurados na perícia, com correção monetária e juros moratórios, mais encargos da sucumbência;

b) não devidos, todavia, os lucros cessantes, cumprindo em conseqüência serem "despregados da perícia os valores apurados a esse título ou de spread".

3. Ambas as partes apelaram, e a 4a Turma do ego Tribunal Regional Federal da ,. Região, por aresto de 09 de dezembro de 1991 e por maioria de votos, deu provimento em parte ao recurso da Autora e negou provimento ao recurso do Réu; o voto vencido dava provimento ao recurso do BACEN e Julgava prejudicado o da Autora.

Consoante aementa, os lucros cessantes foram denegados à Autora ante as"circunstâncias fáctícas do investimento, de hipotética possibilidade de lucros, pelos riscos do mercado"; e os danos emergentes foram deferidos com base na responsabilidade civil da autarquia e no montante dos valores desembolsados pela Autora, "inclusive pelo que foi obrigada a ressarcir a seus clientes, devidamente atualizados".

(*) Ministro aposentado do Superior Tribunal de lusliça. Advogado em PorCO Alegre e Brasília .

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OOUTRI A NAClO AL ATHOS GUSMÃO CARNEIRO

4. Contra esta decisão opôs o Banco Central o recurso de Embargos Infringentes, os quais foram rejeitados, p.m.v., em acórdão datado de 19 de maio de 1992, pela ego 2" Seção da Corte Federal.

O BACEN, ainda inconformado, manifestou Recurso Especial contra o aresto prolatado em grau de Embargos Infringentes, apelo este a que o eminente Presidente do TRF negou seguimento, em decisão de 04 de maio de 1993.

5. Também a Autora interpusera no devido tempo Recurso Especial contra a parte unân ime do aresto proferido em grau de apelação, buscando lhe fossem concedidos os "lucros cessantes" A esta súplica o Presidente do TRF da 1il Região deu seguimento, aos 03 de maio de 199.1.

6. OJ decisão denegatória de sp.guimento ao seu Recurso Especial insurgiu-se o BACEN, mediante Agravo de Instrumento dirigido ao colendo Superior Tribunal de Justiça, ao qual, todavia, o eminente Ministro GOMES DE BARROS, por r decisão de 31 de agosto de 1993, negou provimento.

DE'St,l decisão monocrática o Banco Central suscitou Agravo Regimental (rectius, agravo "por petição", ou agravo "interno"); ao aludido agravo, por v. aresto proferido em sessão de 13 de outubro de 1993, a ego ,. Turma do 51!, à unanimidade, negou provimento. Está nos autos do Agravo a certidão de que esta derradeira decisão transitou em julgado em 08 de fevereiro de 1994 (fi. 550).

7. Já o Recurso Especial interposto pela Corretora de Valores foi julgado pela ego 1" Turma do ST!, que ao mesmo negou provimento, por v. aresto de 15 de maio de 1994, constando da respectiva ementa que a "prova do lucro cessante deve ser feita no processo de conhecimento, jamais na liquidação". Este acórdão transitou em julgado, utcertidão lançada a fi. 4.182, aos 10 de agosto de 1994.

8. Aos 03 de junho de 1996 o Banco Central veio a ajuizar Ação Rescisória, com supedâneo em violação de literal disposiçào de lei - art. 485, V do cpc. No concernente à tempestividade da açào, aponta como aresto rescindendo aquele transitado em julgado aos 10 de agosto de 1994, sustentando ser irrelevante que a matéria enfocada na rescisória não haja sido "objeto de julgamento em toda a sua extensào pelo v. aresto rescindendo", porquanto"oprequestionamento da norma legal quese hostiliza s6 tem lugar quando se trata de recurso especial ou extraordinário". Os dispositivos de lei ofendidos teriam sido o art. 37, § 6° da Constituição Federal, o art. 159 do Código Civil, o art. 3° do Código de Processo Civil e assim também os arts. 16, 18 capute alínea, 22 caput e parág. único, 39,40 e 45 da Lei nO 6.024/74.

Contestou a Ré, arguindo a decadência do direito à rescisão, ou a extinção do processo sem julgamento de mérito em razão da carência de ação ou de sua inadmissibilidade ou, em derradeiro, a improcedência da demanda, condenado o autor nos ônus de sucumbência e na perda do depósito prévio.

9. Devo examinar a questão nuclear, da extinção do processo em razão da decadência. cpc. "Art. 495. O direito de propor a~,'jo rescisória se extingue em dois (2) anos,

contados do trânsito em julgado da decisão." A sentença de mérito, por vezes, "é de tal maneira viciosa que a lei permite a sua

desconstituição, depois de seu trânsito em julgado" (SÉRGIO BERMUDES. Introdução ao Processo Civil. Forense, 1995, p. 190), mediante a ação rescisória.

HUMBERTO THEODORO JÚNIOR (Curso de Di~eito Processual Civil. Forense, v. I, 5" ed., nO 600, p. 679) anotou que, face ã virtude de evitar o inconveniente de identificar a sentença rescindível com a sentença nula, "e por abranger a possibilidade de cumulação do

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ATHOS GUSMÃO CARNEIRC

iudicium rescindens com o , de ação rescisória adotada p

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Bem explicitou BARBa: "com a sentença nula nem,

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11. Pressuposto básico p. de decadência - CPC, ar!. 4~

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CPC. "Art. 467. Denom, indiscutível a sentença, não,

Sentença não mais sujeit: "Vale dizer: exauridos 05

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Em suma: ou porque a ,o recursos cabíveis, ou ainda ,00/

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12. Assim, a formação ( recursos cabíveis contra adeci conta-se a partir do primeiro di rese indendos.

Segundo está no REsp. n

GENE51S - Revista de Direito Prc

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO

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itou Agravo Regimental (rectius, agravo, por v. aresto proferido em àunanimidade, negou provimento. a decisão transitou em julgado em

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v. aresto de 15 de maio de 1994, ssante deve ser feita no processo de tou em julgado, ut certidão lançada

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ATHOS GUSMÃO CARNEIRO DOUTRINA NACiONAL

iudicium rescindens com o iudicium rescissorium", apresenta-se come a melhor a definição de ação rescisória adotada por BARBOSA MOREIRA, para quem:

"Chama-se rescisória à ação por meio da qual se pede a desconstituição de sentença trânsita em julgado, com eventual rejulgamento, a seguir, da matéria nela julgada" (Coment. ao cpc. Forense, v. V, 6a ed., nO 65, p. 90)

Bem explicitou BARBOSA MOREIRA, aliás, que a sentença rescindível se não confunde "com a sentença nula nem, a fortiori, com sentença inexistente". E conclui:

"A condição jurídica da sentença rescindível assimila-se, destarte, à do ato anulável. Os autores que têm construído a rescisória como ação tendente à declaração de nulidade da sentença empregam o termo 'nulidade' em sentido impróprio; uma invalidade que só opera depois de judicialmente decretada classificar-se-á, com melhortécnica, corno 'anulabilidade'. Rescindir, como anular, é desconstituir" (ob. cit., nO 68, p. 98).

10. A ação rescisória revela-se como meio autônomo de impugnação a atos jurisdicionais de mérito, com remota origem na querela nu/litatis e na restitutio in integrum, distingu indo-se dos recursos porque estes impugnam o ato jurisdicional no mesmo processo em que foi proferido o provimento atacado; já a rescisória dá início a uma outra relação processual, pressupondo o encerramento definitivo da relação processual originária, com O

trânsito em julgado da decisão de mérito: "A ação rescisória em verdade é urna forma de ataque a uma sentença já trânsita em

julgado, daí a razão fundamental de não se poder considerá-Ia um recurso. Corno toda ação, a rescisória forma urna nova relação processual diversa daquela onde fora prolatada a sentença ou o acórdão quese busca rescindir"(OVíDIO BAPTISTA DA SILVA. Curso de Processo Civil. Fabris ed., v. I, 1987, p. 409).

11. Pressuposto básico para o ajuizamento da ação rescisória, respeitado o prazo bienal de decadência - CPC, art. 495 -, é a existência de uma sentença, ou acórdão, que haja transitado em julgado, adquirindo a imutabilidade inerente à coisa julgada material: "se a sentença não é de mérito, a parte não tem interesse processual para rescindi-Ia porque pode renovar a demanda" (VICENTE GRECO FILHO. Direito Processual Civil Brasileiro. Saraiva, 2° v., 1984, nO 85.2, p. 364).

CPC. "Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário."

Sentença não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário: "Vale dizer: exauridos os recursos cabíveis contra a sentença que julgou o mérito da

causa, sobrevém a coisa julgada material. O mesmo acontece quando a parte interessada não os interpõe e perde, pela preclusão, o direito de recorrer, ou, ainda, quando aceita a sentença, expressa ou tacitamente (art. 503). Outro tanto sucede quando o julgamento foi proferido em instância absolutamente única.

Em suma: ou porque a parte interessada não recorreu, ou porque foram exauridos os recursos cabíveis, ou ainda porque o julgamento nasceu irrecorrível, só então forma-se a coisa julgada, que será material se a sentença (ou o acórdão, tanto faz) houver solucionado o mérito da causa, houver composto a lide. "(EGAS MONIZ DE ARAGÃO. Sentença e Coisa Julgada. Aide ed, 1992, p. 241)

12. Assim, a formação da coisa julgada material supõe o exaurimento de todos os recursos cabíveis contra a decisão de mérito; e o prazo para o ajuizamento da ação rescisória conta-se a partir do primeiro dia segui nte ao do trânsito em julgado da sentença ou do acórdão rescindendos.

Segundo está no REsp. nO 84.530, de que foi relator o em. Min. EDUARDO RIBEIRO,

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DOUTRINA NACIONAL ATHOS GUSMÃO CARNEIRO

"ainda que não conhecido o recurso, salvo se por intempestividade, ou por absoluta falta de previsão legal, o prazo para a rescisória se inicia a partir cio momento em que preclusa a decisão a propósito dele proferida" (ST), 3a Turma, j. 17/09/96, DJU 29/10/96, p. 41.643).

Aliás, mesmo se adotada a tese segundo a qual o início do prazo de decadência para a pretensão rescisória náo é obstado pela interposição do recurso que venha é1 ser considerado intempestivo, "ainda assim ill1pende considerar a boa-fé do recorrente, naqueles casos especiais em que própria tempestividade do recurso apresenta-se passível de fundada dúvida" (REsp. nO 2.447, reI. Min. ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, RSTJ 28/312)

13. Em princípio, portanto, interposto recurso em matéria de mérito, a formação da coisa julgada material aguardará o esgotamento de toda a gama de recursos:

"Quando interposto, em tempo, o recurso extraordinário (extraordinário em matéria constitucional, ou especial em matéria infraconstituciona/) não admitidu, daí a interposição do respectivo agravo, tempestivamente, tal circunstância impede a formação da coisa julgada. Hipótese em que, não provido o agravo de instrumento, o trânsito em julgado somente ocorrerá após esgotado o prazo para o subseqüente agravo regimental" (REsp. nO 13.415, reI. em Min. NILSON NAVES, in Código de Processo Civil Anotado. Saraiva, 6a ed., coord Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, glosas ao art. 495)

14. Assim, adiante-se desde logo, terá ocorrido no caso concreto: O BACEN interpôs Recurso Especial do aresto proferido pela 2" Seção do eg. TRF da 1"

Região, aresto que, em Embargos Infringentes, mantivera o acórdão proferido, por voto majoritário, pela eg. 4 a Turma, condenatório do demandado ao pagamento dos danos emergentes pleiteados pela Autora.

Negado seguimento ao apelo especial, a formação da coisa julgada material foi obstaculizada pela interposição de Agravo de Instrumento Negado pwvimento a este agrJVO, ainda assim o prazo decadencial para a rescisória foi impedido pela manifestJção de Agravo dito Regimental (agravo "interno")

Por fim, da negativa de provimento a esta derradeira inconformidade, nenhum recurso oulro foi manifestado, ficando portanto, a partir de 08 de fevereiro de 1994, acobertadd a intangibilidade desse decisum pela coisa julgada formal, e a definitividade (dos efeitos) da prestação jurisdicional de mérito pela coisa julgada material.

15. Sustentou, no entanto, oBanco Central que o prazo decadencial para a Interposição da Ação Rescisória tivera início, não aos 08 de fevereiro de 1994, mas sim em 10 de agosto de 1994, quando do trânsito em julgado do v. aresto da eg. 1" Turma do Superior Tribunal de Justiça, que negou provimento ao Recurso Especial manifestado pela Corretora de Valores (REsp. nO 38.456), assim mantendo, o dito aresto, as decisãesdas instâncias ordinárias que haviam negado à Corretora sua pretensão ao recebimento também de "I ucros cessantes": "em se tratando de negócios arriscados, impossível afirmar-se a existência de negócio abortado"(da ementa). Estefoi o acórdão indigitado como acórdão rescindendo, para efeito do cálculo do biênio.

16. Alega o BACEN, no dlusivo à tempestividade de sua pretensão rescindente, ser irrelevante que a matéria enfocada na ação rescisória não tenha sido objeto de julgamento pelo acórdão dito rescindendo, porquanto "o prequestionamento da norma legal que se hostiliza só tem lugar quando se trata de recurso especial ou extraordinário" E traz à balha v. aresto do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual "em se tratando de ação rescisória não se impõe o requisito do prequestionamento. A rescisória tanto pode versar o fundamento em que se firmou a decisão rescindenda, quanto em outro por ela nãu tratada" (RT), 116/451).

Deste v. aresto da Excelsa Corte, proferido na AR nO 1.126 (Tribunal Pleno, ac. de 18/09/

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ATHOS GUSMÃO CARNEIR(

85, sendo relator o em. Min. com base em ofensa à coisa recurso extraordinário, e no c sido esta matéria prequestiol

17. Todavia, é mister profundamente diferentes.

Uma coisa é a extensão, stricio sensu e recurso espE questionada e decidida no ar, objetivos da coisa julgada, a

18. Segundo dispõe o CI tem força de lei nos limites o aliás de encontro ao ensinalT integram a coisa julgada, emt dispositiva da sentença.

Conforme explicitado n; a lição de CARNELUTTI, "o litigantes e pela resistência d nela se exprimem as aspiraçe

MONIZ DE ARAGÃO r autoridade da coisa julgada sentença. A pretensão e ares/ manifestada) ficam sujeitas à as partes, a res in iudicium l

ficará coberta pela eficácia da de coisa julgada afetará som 244) (grifamos).

19. Se urna sentença co pois a sentença deferiu à Au emergentes mas lhe negou os vier a recorrer, será o recurs< conhecimento da sentença n (MACHADO GUIMARÃES. I

CPC "Art. 505. A sente 20. Destarte, consoantE

appellatum, o objeto da cogn não tenha o órgão ad quer. invocados pelo recorrente, o da disciplina legal adotada er ad quem não pode fazer é u julgamento de primeiro grau 728) e não é possível conce passam as coisas no julgamer 318) (grifamos).

21. A res in iudicium dei integralmente (sob pena de 5

d uma cognição parcial; e

GENESIS - Revista de Direito P,

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO ATHOS GUSMÃO CARNEIRO DOUTRINA NACIONAL

.' )estividade, ou por absoluta falta de 85, sendo relator o em. Min. DJACI FALCÃO), realmente constou que podpria spr rescindido, tir do momento em que preclusa a com base em ofensa à coisa julgada, acórdão anteriormente proferido pelo STF f'm grau de 7/09/96, DJU 29/10/96, p. 41.643). recurso extraordinário, e no qual não se conhecera da argüição de coisa julgada por nJo haver lício do prazo de decadência para a sido esta matéria prequestionada nas instãncias ordinárias. "ecurso que venha a ser considerado 17. Todavia, é mister não confundir, ou tentar equiparar, institutos jurídicos a-fé do recorrente, naqueles casos profundamente diferentes. senta-se passível de fundada dúvida" U ma co isa é a extensão da cognição nos recursos extraord inários (recurso extraord in,írio O, RSTj 28/312). stricio sensu e recurso especidl), da qual se exclui qualquer matéria que não haja sido atéria de mérito, a formação da coisa questionada e decidida no aresto recorrido; bem diversa, muito outra, é a qupstJo dos limites ama de recursos: objetivos da coisa julgada, alvo de desconstitulção através da ação rescisória. rdinário (extraordinário em matéria 18. Segundo dispõe o CPC, art. 468, "a sentença, que julgar total ou parcialmente d lide, la/) não admitido, daí a interposição tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas", ressalvando o art. 469 (vindo incia impede a formação da coisa aliás de encontro ao ensinamento clássico de SAVIGNY) que os "motivos" da sentençd não instrumento, o trânsito em julgado integram a coisa ju Igada, embora possam ser importantes para determ lIlar o alcance da parte =lüente agravo regimental" (REsp. nO dispositiva da sentença. acesso Civil Anotado. Saraiva, 6a ed., Conforme explicitado nd "Exposição de Motivos" do CPC de 1973, a lide é, consoante

IS ao art. 495). a lição de CARNELUTTI, "o conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos lO caso concreto: litigantes e pela resistência do outro (. ..) a lide é, portanto, o objeto principal do processo e ferido pela 2a Seção do eg. TRF da 1a nela se exprimem as aspirações em conflito de ambos os litigantes". vera O acórdão proferido, por voto MONIZ DE ARAGÃO refere que "a resolução das questões da lide fica coberta pela mandado ao pagamento dos danos autoridade da coisa lulgada na medida em que estas hajam sido objeto de julgamento na

sentença. A pretensão e a resistência (tanto a que se manifestou quanto a que poderia ter sido aç~lO da coisa julgada material foi manifestada) ficam sujeitas à coisa julgada que, em suma, abrange toda a controvérsia entre umento. Negado provimento a este as partes, a res in iudicium deducta. Se a lide for trazida por inteiro ao processo, toda ela "ia foi impedido pela manifestJção de íicará coberta pela eficácia da coisa julgada/ se for parcialmente trazida ao processo, a eficácia

de coisa julgada afetará somente essa parte" (Sentença e Coisa Julgada. Aide ed., 1992, p. ira inconformidade, nenhum recurso 244) (grifamos). J de fevereiro de 1994, acobertada a 19. Se uma sentençd contém gravame recíproco ­ o que ocorre no caso sob anál ise, nal, e a definitividade (dos efeitos) da pois a sentença deferiu à Autora apenas parte do pedido, ou seja, concedeu-lhe os danos

Ilaterial prazo decadencial para a Interposição

emergentes mas lhe negou os também pleiteados lucros cessantes -, então, se uma das partes vier a recorrer, será ° recurso necessariamente parcial, ou sejél, só devolverá ao tribunal O

"O de 1994, mas sim em 10 de agosto conhecimento da sentença na parte em que foi contrária ao recorrente e objeto do recurso ~a eg. 1" Turma do Superior Tribunal (MACHADO GU IMARÃES. Limites Objetivos da Coisa Julgada. Rio de Janeiro, 1962, p. 79) ~cial manifestado pela Corretora de CPC "Art. 505 A sentença pode ser impugnada no todo ou em parte." o, as decisões das instâncias ord inárias 20. Destarte, consoante mesmo o velho apotegma do tantum devolutum quantum imento também de"lucros cessantes": appeflatum, o objeto da cogn içào no tribu na I "é delimitado pelo âmbito do recurso, embora I afirmar-se a existência de negócio não tenha o órgào ad quem, necessariamente, de cingir-se à análise dos fundamentos )mo acórdão rescindendo, para efeito invocados pelo recorrente, ou às questões suscitadas por ele e pelo recorrido. isso depé'nde

da disciplina legal adotada em cada caso e variável de um para outro recurso. O que o órgão de de sua pretensão rescindente, ser ad quem não pode fazer é ultrapassar os marcos postos pelo recorrente: assim como, no não tenha sido objeto de Julgamento julgamento de primeiro grau, se tem de decidir a lide nos limites em que foi deduzidJ (ar1

estíonamento da norma legal que se 728) e não é possível conceder à parte mais do que pedira (art. 460), analogicamente se' !cial ou extraordinário" E traz à balha passam as coisas no Julgamento do recurso" (BARBOSA MOREIRA, ob. cit, nO 195, pp. 317­"em se tratando de ação rescisória não 318) (grifamos). ria tanto pode versar o fundamento em 21. A res in iudicium deducta, portanto, que no juízo de primeiro grau deve ser decidida "O por ela não tratada" (RTL 116/451). integralmente (sob pena de sentença infra petita), no juizo recursal pode ser passível de mais n° 1.126 (Tribunal Pleno, ac. de 18/09/ de urna cognição parcial; e inclusive, tendo em vista as peculiaridades procedimentais, de

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conhecimento em momentos processuais diversos. O pressuposto é o de que o pedido da parte, e portanto a resposta contida na sentença

(ou no acórdão), contenha capítulos autônomos, destacáveis, suscetíveis destarte de diferentes prestações jurisdicionais.

Como decorrência lógica, a coisa julgada poderá formar-se em determinado momento para um dos capítulos da res in iudicium, em momento diferente para outro capítulo. Assim, não haverá unidade de dies a quo para o biênio do ajuizamento da eventual demanda rescisória.

22. Este tema foi versado com a habitual mestria por BARBOSA MOREIRA: "Cumpre todavia enfatizar que, se algo da decisão recorrida transitou em julgado - por

ter ficado fora do alcance do recurso, ou por dele não haver conhecido, no particular, o órgão adquem -, e se éesse ponto que se quer impugnar, a ação rescisória deve ser proposta contra a decisão recorrida. Assim v.g., quando o vício alegado, a existir, residiria na parte unânime do acórdão proferido em grau de apelação, e nâo naquele que, tomada por maioria de votos, tenha dado ensejO a embargos infringentes.

Pode, naturalmente, caber outra ação rescisória contra o acórdão dos embargos - mas cada qual terá seus fundamentos próprios e inconfundíveis, e serão diferentes - ponto de enorme importância prática -os termos iniciais dos respectivos prazos de decadência." (ob. cit., nO 69, p. 103) (gl·ifamos).

Também HUMBERTO THEODORO JÚNIOR alude ao recurso parcial e suas conseqüências em tema de demanda rescisória:

"O ato decisório sujeito à rescisão é tanto a sentença do juiz como o acórdão do tribunal. No caso de recurso, o julgamento do tribunal substitui a sentença recorrida (art. 572). Por isso, a ação rescisória, na espécie, terá como objeto o acórdão e não a sentença, salvo se o recurso não foi conhecido ou se não abrangeu o tema da sentença que motiva a rescisão." (CPC Anotado. Forense, 1995, p. 202) (grifamos).

23. O Supremo Tribunal Federal, a esse respeito, teve ensejo de manifestar-se, em julgamento plenário, na AR nO 903, ae. de 17/06/82, reI. o em. Min. CORDEIRO GUERRA:

"Ação rescisória. A interposição de embargos de divergência COlltra acórdão que conhece do recurso extraordinário e lhe dá provimento para julgar procedente a ação só impede o trânsito em julgado deste se abarca todas as questões da demanda, uma vez que, se abranger apenas algumas delas, com relação às demais ocorre a coisa julgada.

Decadência da ação rescisória no tocante às questões relativas à ocorrência de decisão ultra petita, de nulidade do testamento em favor da ré, de ilegitimidade de parte, de sentença de primeiro grau sem fundamentação e de vício de citação." (RTJ 103/472) (grifamos).

Vdle destacar, deste julgamento, excerto do voto do em. Ministro MOREIRA ALVES: "Quanto à ocorrência de decisão ultra petita, de nulidade do testamento em favor da

ora ré, de ilegitimidade de parte, de sentença de primeiro grau sem fundamentação e de vício de citação, pela ausência de testemunhas na certidão, de oficial de justiça que alegou que a pessoa citada se negara a apor o seu ciente, tenho que essas questões não podem ser apreciadas na presente ação rescisória, por ter ocorrido, com relação a elas, decadência.

Com efeito, a ação rescisória se dirige contra os dois acórdãos proferidos por esta Corte, porque, não tendo sido os embargos de divergência conhecidos, ficou mantido o aresto no recurso extraordinário.

Ora, a interposição de embargos de divergência contra acórdão que conhece do recurso extraordinário e lhe dá provimento para julgar procedente a ação, só impede o trânsito em julgado deste se abarca todas as questões da demanda, uma vez que, se abranger apenas

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algumas delas, com relação, os embargos de divergência matéria de que tratou o are divergência. Não fora assim. relativa a honorários de advI os embargos não a abrangessl Éa aplicação do princípio de da sentença recorrida que n

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o, teve ensejo de man ifestar-se, em eL o em, Min, CORDEIRO GUERRA: de divergência contra acórdão que Ito para julgar procedente a ação só questões da demanda, uma vez que, mais ocorre a coisa julgada, tões relativas à ocorrência de decisão de ilegitimidade de parte, de sentença tação," (RT) 103/472) (grifamos), do em, Ministro MOREIRA ALVES:

I nulidade do testamento em favor da ro grau sem fundamentação e de vício de oficial de justiça que alegou que a que essas questões não podem ser ido, com relação a elas, decadência, lis acórdãos proferidos por esta Corte, onhecidos, ficou mantido o aresto no

)ntra acórdão que conhece do recurso lente a ação, só impede o trânsito em da, uma vez que, se abranger apenas

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algumas delas, com relação às demais ocorre a coisa julgada, Isso se explica pelo fato de que os embargos de divergência não devolvem ao Plenário desta Corte a apreciação de toda a matéria de que tratou o aresto embargado, mas apenas daquelas sobre as quais versa a divergência, Não fora assim e, dizendo os embargos respeito apenas a, por exemplo, questão relativa a honorários de advogado, a decisão de mérito não transitaria em julgado, embora os embargos não a abrangessem e não houv<Jssc, portanto, possibilidade de modificação dela, É3 aplicação do princípio de que o recurso parcial não impede o trânsito em julgado da parte da sentença recorrida que não foi por ela abarcada," (RTJ 103/483) (grifamos),

24, Ao caso ora em Julgamento aplicam-so, às inteiras, quer' o ensinamento doutrinário de BARBOSA MOREIRA e HUMBERTO THEODORO JR" quer como o precedente jurisprudencial do Pretória Excelso,

O pedido indenizatório formulado pela Corretora de Valores abrangeu Dois Capítulos, perfeitamente destacáveis e suscetíveis de decisões diferentes: os Danos Emergentes e os Lucros Cessantes, Em nível de apelação, os danos emergentes foram concedidos por maioria de votos, os lucros cessantes denegados à unanimidade, Sucumbência recíproca, portanto,

Ecada uma das partes interpôs o recurso adequado: a Corretora o Recurso Especial, que, como evidente, versou tão-somente a matéria em que à unanimidade fora sucumbente, ou seja, os Lucros Cessantes em negócios daquela ordem, negócios sob elevada álea; o BACEN manifestou o recurso ordinário cabível, o de Embargos Infringentes, negando sua responsa­bilidade como entidade encarregada da fiscalização do mercado financeiro,

25, Vencido o BACEN nas instâncias ordinárias, intentou, à sua vez, o Recurso Especial, sempre tendo por objeto, como não poderia deixar de ser, aquela matéria em que fora condenado, discutindo-se, pois, a responsabilidade pelos danos emergentes, Não obteve êxito, não obstante tenha levddo sua insurgência até o nivel de Agravo Regimental perante o Superior Tribunal de Justiça; e a decisão deste agravo "interno" tornou-se preclusa em 08 de fevereiro de 1994,

A partir desta data, 08 de fevereiro de 1994, passou portanto a fluir o prazo bienal de decadência da ação rescisória alusiva àquela prestação Jurisdiclonal,relativa à condenação do Banco Central ao pagamento dos danos emergentes,

26, Não se apresenta juridicamente viável a pretensão do BACEN em "aproveitar" o Recurso Especial interposto pela par'te adversa e a respeito de matéria diversa, ou seja, a respeito dos Lucros Cessantes, par'a pretender que seu prazo decadencial haja fluído apenas a partir de 10 de aposto de 1994, data em que transitou em Julgado o v, aresto do ST) denegatório de provimento ao Recurso Especial da Corretora de Valores,

O acórdão proferido, no azo, pela eg, 1a Turma do ST), mantendo-se fiel, e assim não poderia deixar de ser, ao princípio de que o objeto da cognição no tribunal é delimitado pelo âmbito do recurso (sendo defeso ao tribunal "ultrapassar os marcos postos pelo recorrente", na lição já aludida de BARBOSA MOREIRA), tal acórdão cuidou tão-somente do tema da incidência dos lucros cessantes nas circunstâncias fácticas do tipo de investimento realizado pela Corretora, concluindo pela denegação de tais lucros; e isso porquanto entendeu impossível "afirmar-se a existência de lucros abortados", não considerando admissível, a fortiori, a emissão de condenação condicionada à ulterior obtenção de prova da existência de tais alegados lucros (vide ementa do aresto, fI. 4,181),

Vemos, pois, uma absoluta ausência de legítimo interesse do BACEN em postular a desconstituição do acórdão que o favoreceu: suposto o êxito do iudicium rescindens, no eventual iudicium rescissorium outra matéria não poderia ser versada a não ser, novamente, a alusiva aos lucros cessantes, porquanto a matéria relativa aos danos emergentes fora

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julgada em outro aresto, o proferido nos Embargos Infringentes, aresto este tl-ansilado em julgado aos 08 de fevereiro de 1994, portanto mais de dois anos antes da data de ajuizamento da ação rescisória l

27. Em concluindo, vê-se queo BACEN decaiu da faculdade de ajuizar Ação Rescisória contra o aresto em que resultou condenado; e ao BACEN não assiste legítimo interesse em postular a desconstituição do segundo aresto, que o favoreceu_

E nem é possível confundir, como faz o BACEN, "fundamento da decisão", pal-a cuja invocação em ação rescisória não é necessário haja sido prequestionado e apreciado no aresto rescindendo, com o "alcance da cognição recursal", este sempre adstrito ao principio basi lar do tantum devolutum quantum appeflatum.

28 Além disso, last but not least, apresenta-se evidente que o egrégio Tri bunal Regional Federal da 1a Região é absolutamente incompetente para rescind ir aquele acórdão proferido pelo colendo Superior Tribunal de Justiça, com trânsito em Julgado aos 10 de agosto de 1994.

Será competente o TRF, isto sim, para rescindir o aresto prolatado por sua egrégia 2a

Seção, em nível de Embargos Infringentes e com trânsito em julgado aos 08 de fevereiro de 1994 mas, neste caso, já terá transcorrido o biênio decadencial do art. 495 do CPc, quando ajuizada, em junho de 1996, a demanda rescisória.

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Apontamen O acesso à jw

SUMÁRIO: 7. Consideré da tutela lurisdicional SI

sistema processual em j

relativização do binômio do processo coletivo; 3_ I

3.2. Definição e fontes o Defesa do Consumidor c A subsidiariedade do Cé comuns e sua aplicação tradicional: o apelo às pl c/as c/emandas coletivas; c/o processo: o papel do 1 do processo coletivo; 5_

1. Considerações preliminz

No intuito de abordam estudo dirigido acerca das linr o exercício das ações coletiva5 em que se trata de sistematizá se ao fato de que desde a ediç, doutrina em busca de uma i Sistema Geral do Processo referentes às ações coletivas t com claro apego às disposiçõ inefetividade de tudo aquilo ( tutela dos direitos coletivos, c

Diante disso, objetivan processo coletivo", mas sim a

(*) Professor da UFPR. Procurador,

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