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1 2º COLOCADO NO TEMA II ESTRUTURA PRODUTIVA FLUMINENSE, ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS, AMBIENTE DE NEGÓCIOS E FORMALIZAÇÃO ECONOMIA DO RIO DE JANEIRO: SENSO COMUM E AGENDA DE DESENVOLVIMENTO LUIZ OCTAVIO BICUDO CASARIN

ECONOMIA DO RIO DE JANEIRO: SENSO COMUM E AGENDA DE ... · A avaliação será feita a partir de análises ... economia brasileira, foi verificou-se que a economia fluminense

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2º COLOCADO NO TEMA II

ESTRUTURA PRODUTIVA FLUMINENSE, ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS, AMBIENTE DE

NEGÓCIOS E FORMALIZAÇÃO

ECONOMIA DO RIO DE JANEIRO: SENSO COMUM E AGENDA DE

DESENVOLVIMENTO

LUIZ OCTAVIO BICUDO CASARIN

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RESUMO

Os objetivos deste artigo são avaliar o desempenho da economia do estado do Rio de

Janeiro em relação ao senso comum e propor uma agenda para o desenvolvimento

econômico.

A avaliação será feita a partir de análises empíricas utilizando dados do IBGE de

Contas Regionais, da ANP de produção e refino de petróleo e arrecadação de royalties

e participações especiais e do Tesouro Nacional para orçamentos públicos estaduais.

Dados do Ipeadata também foram utilizados para informações como taxa de câmbio e

preço internacional do barril de petróleo.

Os resultados mostram que o Rio de Janeiro foi o estado que menos cresceu no

período 1985-2006. Ficou demonstrado que o perfil da indústria fluminense é

fortemente dependente da indústria extrativa mineral e pouco centrado na indústria de

transformação. Mais do que isso, o forte crescimento da indústria extrativa mineral foi o

principal motor do crescimento fluminense no período analisado. O outro motor do

crescimento foi a atividade de serviços.

No que diz respeito à carga tributária, verificou-se que o principal imposto estadual (o

ICMS) é alto em termos de alíquota e baixo se colocado em proporção ao PIB do Rio

de Janeiro. Foi mostrado que o valor monetário das receitas de royalties e participações

especiais é inferior à perda de ICMS do governo do estado do Rio de Janeiro pelo

recolhimento do tributo do petróleo no estado de destino.

3

No que diz respeito à reação da economia do Rio de Janeiro frente às oscilações da

economia brasileira, foi verificou-se que a economia fluminense tem alta resiliência.

Estimou-se o custo da transferência da capital para Brasília e concluiu-se que o Rio de

Janeiro empobreceu.

Como contribuições ficam as idéias de que o crescimento da indústria de transformação

é necessário para corrigir (pelo menos em parte) o problema estrutural da pequena

base de arrecadação fluminense, permitindo, inclusive, que as alíquotas de ICMS

possam ser reduzidas no médio prazo. Na área de serviços agenda passa pela

qualificação das empresas para que elas se apropriem do poder de compra da

população e das grandes empresas instaladas no estado. Além disso, a agenda de

desenvolvimento do Rio de Janeiro deve estar atenta à distribuição das participações

governamentais de modo a impedir que o Rio de Janeiro perca importantes fontes de

receita para outros estados.

4

Economia do Rio de Janeiro: Senso Comum e Agenda de Desenvolvimento

Os objetivos deste artigo são avaliar o desempenho da economia do

estado do Rio de Janeiro em relação ao senso comum e propor uma

agenda para o desenvolvimento econômico. Será feito um diagnóstico da

economia do Rio de Janeiro vis à vis outros estados da federação e

regiões do Brasil. Receberão destaque: a estrutura produtiva, as questões

tributária e dos royalties e participações especiais, o padrão de

crescimento econômico e o custo da perda da condição de Distrito Federal.

Introdução

O Rio de Janeiro é conhecido nacional e internacionalmente por suas belezas naturais

com praias e montanhas, pelo seu clima tropical, pelo Cristo Redentor, por Ipanema e

Copacabana, pela música, aqui nasceram o samba e a bossa nova e pela cordialidade

de seu povo.

Mas, do ponto de vista econômico, na história recente, a sociedade tem observado uma

trajetória de declínio em que o Rio de Janeiro estaria ficando para trás no

desenvolvimento do país. São muito comuns comparações com a economia de São

Paulo concluindo que o Estado vizinho tem atraído mais empresas e oferecido

melhores oportunidades de trabalho, inclusive para profissionais formados no Rio de

Janeiro.

De fato, a desordem urbana, a violência e a precariedade dos serviços públicos são um

lugar comum nas notícias sobre o Rio de Janeiro. A sensação de decadência é quase

5

uma unanimidade e constitui o que este artigo está chamando de senso comum. Mas,

para entender o senso comum e o esvaziamento do Rio de Janeiro, é preciso

aprofundar o entendimento da economia fluminense.

I. O Estado do Rio de Janeiro no Contexto Nacional

A economia do Estado do Rio de Janeiro é a segunda maior da federação brasileira.

Segundo o IBGE, o PIB do Rio de Janeiro somou R$ 275 bilhões em 2006,

respondendo por 11,6% do produto nacional. São Paulo, o estado mais rico da

federação, produz 33,9% do PIB brasileiro. São muito recorrentes comparações com a

economia de São Paulo que, de fato, é cerca de três vezes maior que a do Rio de

Janeiro.

No entanto, deve-se levar em conta que o Rio de Janeiro tem área muito menor que a

de São Paulo, sendo o terceiro menor estado da federação e abrangendo apenas 0,5%

da superfície territorial do Brasil. São Paulo ocupa 2,9% do território nacional, sendo,

portanto, quase seis vezes maior que o Rio. Em termos populacionais, São Paulo

possui 41 milhões de habitantes e o Rio de Janeiro 15 milhões. A população paulista é,

à semelhança do PIB, cerca de três vezes maior que a fluminense.

Minas Gerais, o terceiro estado mais rico da federação, tem área quase quatorze vezes

maior que a do Rio, população 25% superior e um Produto Interno Bruto quase 30%

menor que o do Rio de Janeiro.

6

Gráfico 1: Produto Interno Bruto dos Estados da Federação – 2006

-

100.000.000

200.000.000

300.000.000

400.000.000

500.000.000

600.000.000

700.000.000

800.000.000

900.000.000

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e

Ro

raim

a

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006.

É importante contextualizar o Estado do Rio de Janeiro em relação aos seus vizinhos,

mas é preciso também entender o que vêm acontecendo com o Rio de Janeiro, vis à vis

outros estados da federação e regiões do Brasil ao longo dos anos. Para isso,

analisaremos o período 1985-2006 que é o mais longo com dados dos produtos

internos brutos estaduais, disponibilizado pelo IBGE1.

1 Vale lembrar que este período refere-se à união de duas séries do IBGE. A primeira, de 1985 a 2002, com metodologia antiga e a segunda, de 2003 a 2006, com a nova metodologia.

7

Assim, a primeira questão que se coloca é entender como tem sido o desempenho da

economia do Estado do Rio de Janeiro em relação à economia nacional. Analisando a

taxa média de crescimento do PIB do Brasil e dos estados no período 1986-2006,

rapidamente confirma-se o senso comum. O Rio de Janeiro ocupa a última posição

neste ranking, com crescimento médio de 1,85% ao ano. O Brasil cresceu em média

2,5% ao ano.

Gráfico 2: Taxa Média de Crescimento do PIB (1986-2006)

Erro! Vínculo não válido.

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do Brasil 1985-2002.

O senso comum indica que o Rio de Janeiro está ficando para trás e os dados do IBGE

confirmam que o Rio de Janeiro perdeu participação no PIB do Brasil. A economia

fluminense produzia 12,7% do Produto Interno Bruto brasileiro em 1985 e caiu para

11,6% em 2006. No Sudeste, a perda de 1,1 ponto percentual do Rio só não foi maior

que a de 2,2 pontos percentuais de São Paulo, que passou de 36,1% para 33,9% do

PIB do Brasil. Minas Gerais passou de 9,6% para 9,1% (menos 0,5 p.p.) e Espírito

Santo ganhou 0,5 ponto, passando de 1,7% para 2,2% do PIB nacional.

Analisando o conjunto de economias regionais, verifica-se que a Região Sudeste foi a

que mais perdeu importância relativa na economia do país. O Sudeste participava com

60,2% do PIB Brasileiro em 1985 e caiu a 56,8% em 2006. A queda de 3,4 pontos

8

percentuais pode parecer pequena, mas foi a maior registrada entre as regiões do país

no período. A região que mais ganhou densidade econômica foi o Centro-Oeste que

passou de 4,8% em 1985 para 8,7% do PIB brasileiro em 2006.

Tabela 1: Participação dos Estados e Regiões no PIB do Brasil

1985 2006 Variação (p.p.) Variação (%)Brasil 100,0% 100,0% - 0%Norte 3,8% 5,1% 1,2 32%Nordeste 14,1% 13,1% (1,0) -7%Sudeste 60,2% 56,8% (3,4) -6% Minas Gerais 9,6% 9,1% (0,5) -6% Espírito Santo 1,7% 2,2% 0,5 30% Rio de Janeiro 12,7% 11,6% (1,1) -8% São Paulo 36,1% 33,9% (2,3) -6%Sul 17,1% 16,3% (0,8) -5%Centro-Oeste 4,8% 8,7% 3,9 81%

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do Brasil 1985-2002.

II. A Estrutura Produtiva Fluminense

Para explicar o senso comum, é preciso detalhar o que vem acontecendo com a

estrutura produtiva fluminense em relação a do Brasil.

São muito recorrentes comentários de que as indústrias do Rio de Janeiro vêm se

transferindo para São Paulo. Analisando o PIB Industrial dos estados, verifica-se que,

em 1985, a indústria do Sudeste era responsável por 30% do PIB brasileiro. A indústria

de São Paulo, sozinha, produzia quase 20% deste produto e a indústria do Rio de

Janeiro 6%. Mas, ao longo de 21 anos, a Indústria Geral perdeu participação no PIB

nacional. A indústria de São Paulo reduziu-se a 9% da indústria brasileira e a indústria

fluminense passou a produzir 3% da indústria nacional.

9

Tabela 2: Participação do PIB Industrial no PIB do Brasil

1985 2006 Variação (p.p.) Variação (%)Brasil 45% 25% -20 -45%Norte 2% 1% 0 -7%Nordeste 5% 3% -2 -46%Sudeste 30% 15% -15 -50% Minas Gerais 4% 3% -2 -39% Espírito Santo 1% 1% 0 -3% Rio de Janeiro 6% 3% -3 -45% São Paulo 19% 9% -11 -56%Sul 7% 4% -3 -37%Centro-Oeste 0,9% 1,2% 0,2 26%

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do Brasil 1985-2002.

Em valores absolutos, no período analisado, a atividade industrial recuou 8% em

termos reais no Rio de Janeiro e 26% em São Paulo, avançando 3% em Minas Gerais e

64% no Espírito Santo. O Centro Oeste foi a região de maior crescimento, 113%,

seguido do Norte, 56% e do Sul, 6%. O Nordeste recuou 6% e o Sudeste 16%.

A perda relativa e absoluta do Rio de Janeiro deve-se ao fato de outras regiões do

Brasil terem crescido mais aceleradamente, atraindo parte das atividades industriais

localizadas no Sudeste. Na verdade, esclarecendo o senso comum, não se pode dizer

que as indústrias do Rio de Janeiro se transferiram para São Paulo, mas, de fato, as

indústrias do sudeste se transferiram para outras regiões do país. Além disso, pode-se

argumentar que os estados que vêm crescendo mais aceleradamente estão em

10

processo de catch-up em relação aos estados mais desenvolvidos, como o Rio de

Janeiro e São Paulo.

É interessante notar que houve de modo praticamente uniforme uma perda de

importância relativa da atividade industrial nas economias estaduais e regionais. Ao

longo do período analisado, na média brasileira, a importância da indústria nos produtos

regionais passa de um patamar entorno de 45% para aproximadamente 25%. No

Sudeste não foi diferente, o peso da indústria geral no PIB regional estava em 50% em

1985 e passou a 26% em 2006, com o Rio de Janeiro acompanhando essa tendência,

passando de 46% para 28%. Ao contrário do que poderia indicar o senso comum, a

queda no Rio de Janeiro não foi maior que em outros estados.

Gráfico 3: Participação do PIB Industrial no PIB Total dos Estados

Erro! Vínculo não válido.

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do Brasil 1985-2002.

Aprofundando a análise da Indústria Geral, deve-se destacar o perfil das indústrias

estaduais. No Rio de Janeiro, a participação da indústria de transformação na indústria

geral era de 44% em 1985 e caiu a 29% em 2006. Em São Paulo, passa de 87% para

75% e, na média brasileira, passa de 74% para 60% no mesmo período.

A indústria de transformação não vem tendo um papel importante na economia do Rio

de Janeiro. Além de ter recuado em termos relativos, sua participação no total da

11

indústria sempre foi baixa. Enquanto em São Paulo, por exemplo, e mesmo na média

brasileira, a Indústria de Transformação tem uma grande participação na Indústria

Geral, no Rio de Janeiro ocorre o contrário. Podemos destacar ainda que em estados

como o Espírito Santo (47%), Minas Gerais (58%), Paraná (67%), Santa Catarina (71%)

ou Rio Grande do Sul (74%) a Indústria de Transformação tem um peso muito mais

relevante na indústria do que no Rio de Janeiro.

Gráfico 4: Participação da Indústria de Transformação no Total das Indústrias

Estaduais

Erro! Vínculo não válido.

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do Brasil 1985-2002.

Neste contexto, faz-se necessário explicar as principais características da Indústria de

Transformação. Este tipo de indústria é o que mais agrega valor a uma economia. Ela

usa diversos insumos básicos e mão de obra para produzir seus produtos. É o tipo de

atividade que gera grande quantidade de empregos, renda, impostos e atrai empresas

fornecedoras e prestadoras de serviço para o seu entorno.

A Indústria de Transformação contrapõe-se à Indústria Extrativa Mineral, que é muito

intensiva em capital, pouco intensiva em mão de obra e nem sempre gera

encadeamentos imediatos. No Rio de Janeiro a Indústria Extrativa Mineral deve ser

entendida como a extração e produção de petróleo e gás.

12

Em 1985, a indústria extrativa mineral já representava 29% do total da indústria

fluminense chegando a 48% em 2006. No estado de São Paulo a Indústria Extrativa

Mineral praticamente não tem representatividade, 0,1% em 1985 e 0,4% em 2006. Em

Minas Gerais há uma participação de 10% que se manteve no período analisado e, no

Espírito Santo verifica-se um crescimento de 11% para 32%.

Tabela 3: Participação da Indústria Extrativa Mineral na Indústria Geral

Erro! Vínculo não válido.

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do Brasil 1985-2002.

Assim, se a queda de participação da Indústria Geral no PIB estadual não foi maior no

Rio de Janeiro do que em outros estados, isso indica que o crescimento da produção

industrial fluminense foi fortemente baseado na expansão da Indústria Extrativa Mineral.

Os dados do IBGE mostram que, no período 1985-2006 essa indústria cresceu 54% e a

Indústria de Transformação recuou 39% no Rio de Janeiro.

Mas, muitas vezes o senso comum argumenta que o Rio de Janeiro deixou de ser uma

economia industrial para se tornar uma economia de serviços. Em termos absolutos o

crescimento acumulado do PIB dos Serviços é de 47% no período analisado, ficando

um pouco atrás do crescimento acumulado do PIB total que foi de 54%. Quando se

analisa a participação dos serviços no PIB do Rio de Janeiro verifica-se que há uma

pequena queda de 60% em 1985 para 57% em 2006.

13

Assim, as únicas atividades que registraram vigor foram os serviços e a indústria

extrativa mineral que cresceu significativamente em termos absolutos e relativos na

economia fluminense.

III. A Questão Tributária

Um assunto que freqüentemente é apontado pelo senso comum é que o Rio de Janeiro

pratica altos impostos e esse seria um forte impedimento ao desenvolvimento do

Estado. Um estudo feito pela Fecomércio-RJ, compara as alíquotas de ICMS dos

estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Bahia.

O estudo mostra que o Rio de Janeiro tem a maior alíquota de ICMS para operações

internas, 19%. São Paulo e Minas Gerais praticam 18% e Espírito Santo, Goiás e Bahia

17%. No caso das operações interestaduais, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais

praticam duas alíquotas: 7% para Norte, Nordeste, Centro Oeste e Espírito Santo e

12% para as demais regiões. Espírito Santo, Goiás e Bahia praticam alíquota de 12%

para todo o Brasil.

Mas, a tributação de ICMS não é feita de maneira horizontal para todos os produtos e

serviços. Energia elétrica, combustíveis e serviços de comunicação têm tributação

diferenciada. No caso da energia elétrica, o Rio de Janeiro pratica alíquota de 30%, São

Paulo e Minas Gerais 18% e Espírito Santo 12%. Em relação aos combustíveis, a

gasolina comum, tem alíquota de 31% no Rio de Janeiro, de 27% no Espírito Santo e

de 25% em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. No caso dos serviços de comunicação, a

14

alíquota fluminense é de 30%, acima dos outros cinco estados da amostra que cobram

25%.

Realmente, analisando a alíquota básica e os três produtos específicos, o senso

comum está correto. Mas, é preciso aprofundar a análise para entender as razões de

altas alíquotas de ICMS no Estado do Rio de Janeiro.

O ICMS é o principal tributo dos estados brasileiros, representando, em media, 85% da

Receita Tributária dos Estados2. Além disso, é um imposto que está diretamente ligado

ao intercâmbio econômico e à atividade produtiva. Assim, cabe fazer uma comparação

das Receitas Tributárias de ICMS com o PIB dos Estados3.

Teoricamente, pode-se argumentar que estados com alta participação do ICMS no PIB

são os que têm as maiores alíquotas de impostos e/ou são as economias estaduais

mais dinâmicas, produtivas e com alto intercâmbio econômico.

Analisando os 27 estados brasileiros, verifica-se que, em média, o ICMS de um estado

representa 7,6% do seu PIB. Em 2006, a maior razão ICMS / PIB estadual foi verificada

no Mato Grosso do Sul (11,8%) e a menor foi verificada no Distrito Federal (3,7%).

2 Tesouro Nacional, 2008.

3 Para fazer esta análise, serão usados dados do Tesouro Nacional para o ICMS estadual e do IBGE para o PIB dos estados.

15

Gráfico 5: Participação do ICMS no PIB dos Estados em 2006

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

MS RO ES RN MT PE AM PI AL BA CE GO MG PB SE PA TO RS AC SP PR MA RR RJ AP SC DF

Média = 7,6%

16

Fonte: Tesouro Nacional e IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do

Brasil 1985-2002.

Quando comparamos o Rio de Janeiro com os estados do Sudeste, que são economias

mais ou menos semelhantes e com mais ou menos com o mesmo estágio de

desenvolvimento, verificamos que a relação ICMS / PIB do Rio de Janeiro é a mais

baixa: 5,8% em 2006. Neste mesmo ano, São Paulo obteve a razão de 6,9%, Minas

Gerais 7,8% e Espírito Santo 9,5%.

Analisando a evolução da participação do ICMS no PIB dos estados do Sudeste

verifica-se que todos os estados apresentam uma tendência de crescimento desta

participação. Nesta região, o Estado que apresentou o maior crescimento foi o Espírito

Santo. Em 1985 a arrecadação de ICMS deste Estado correspondia a apenas 4,4% do

seu PIB e, em 2006, chegou a R$ 5 bilhões, atingindo a marca de 9,5%.

Os estados de Minas Gerais e São Paulo apresentaram comportamentos semelhantes

e ambos sempre mostraram uma relação ICMS / PIB maior que a do Rio de Janeiro.

Em 1985, Minas Gerais (5,4%) e São Paulo (5,7%) estavam em um patamar muito

próximo. Em 2006, Minas Gerais chegou a 7,8% e São Paulo chegou à marca de 6,9%.

O Rio de Janeiro sempre teve a menor relação ICMS / PIB entre os estados analisados.

Em 1985 era de apenas 4,1%, chegando, em 2006, a 5,8%. Além disso, apresentou o

menor crescimento desta participação: apenas 1,7 ponto percentual no período.

17

Gráfico 6: Relação ICMS / PIB dos Estados do Sudeste

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

11%

ES MG SP RJ

Fonte: Tesouro Nacional e IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do

Brasil 1985-2002.

18

Dentro este quadro, a questão que se coloca é tentar explicar porque, mesmo tendo

uma alta carga tributária em termos de alíquota, a participação do ICMS no PIB do Rio

de Janeiro é tão baixa e cresce tão pouco.

Inicialmente, é necessário explicar a maneira como o recolhimento do ICMS de alguns

produtos é feita nacionalmente. O ICMS é um imposto que é tradicionalmente recolhido

na origem, ou seja, no estado onde o produto tributado é produzido. Mas, existem

exceções, como no caso do petróleo, onde o ICMS é recolhido no estado de destino de

consumo. Já vimos que, no Rio de Janeiro, a indústria do petróleo (denominada

indústria extrativa mineral) vem apresentando uma grande (e crescente) participação no

total da economia fluminense. O PIB da Indústria Extrativa Mineral no Rio de Janeiro

chegou, em 2006, ao valor de R$ 34 bilhões – atingindo, aproximadamente, 13% do

PIB do estado.

Ocorre que a maior parte do refino do petróleo produzido no Rio de Janeiro é feita em

outros estados. Segundo a ANP, em 2006, o estado do Rio produziu 83% e refinou

apenas 12,5% do petróleo nacional. Assim, o fato excepcional de o petróleo ser

tributado no seu destino de consumo (no estado onde é refinado) vem penalizando a

economia fluminense, que deixa de recolher a maior parte do tributo gerado pela

produção de petróleo. Esta pode ser uma das razões da baixa relação ICMS/PIB do Rio

de Janeiro. Assim, a alíquota alta pode ser conseqüência da pequena base tributável do

Rio de Janeiro, uma vez que seu produto mais importante é tributado no destino.

19

Dado este quadro, excluindo-se o PIB da indústria extrativa mineral do PIB total, chega-

se no PIB tributável do estado do Rio de Janeiro. Esse cálculo mostra que a relação

ICMS / PIB do Rio de Janeiro passa de 5,8% para 6,7% em 2006, aproximando-se do

valor verificado em São Paulo (6,9%). Observa-se que esta relação sobe

consideravelmente no Rio de Janeiro, fato que não ocorre em outros estados – onde a

Indústria Extrativa Mineral responde por uma pequena parte de seus produtos.

Gráfico 7: Relação ICMS / PIB Excluída a Indústria Extrativa Mineral

Erro! Vínculo não válido.

Fonte: Tesouro Nacional e IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do

Brasil 1985-2002.

Gráfico 8: Comparativo das Relações ICMS /PIB

20

0%

2%

4%

6%

8%

10%

Rio de Janeiro São Paulo Minas Gerais Espírito Santo

ICMS/PIB ICMS/PIB Tributável

+14%

0%

3%

+9%

Fonte: Tesouro Nacional e IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006 e Contas Regionais do

Brasil 1985-2002.

Desta maneira, cabe estimar quanto que o Rio de Janeiro deixa de ganhar por não

recolher o ICMS do petróleo. Este valor pode ser calculado a partir de dados da ANP da

produção e do refino de petróleo, do preço internacional desta commodity, do deságio

do preço do óleo brasileiro, da taxa de câmbio e da alíquota do ICMS4.

Assim, estima-se que, entre 2000 e 2008, o Rio de Janeiro deixou de arrecadar algo em

torno de R$ 33,5 bilhões em ICMS que foi recolhido em outros estados. Para se ter uma

4 Vide Anexo 1 para a memória de cálculo.

21

idéia, esse valor representaria uma receita média de R$ 3,7 bilhões por ano no período,

o que seria suficiente para aumentar em quase 10%, a Receita Total do Governo do

Estado do Rio de Janeiro, que chegou a R$ 40 bilhões em 2008.

IV. A Questão dos Royalties e Participações Especiais

O caso tributário específico do petróleo normalmente provoca o debate sobre a questão

dos royalties e participações especiais. A sociedade tem constatado, corretamente, que

o Estado do Rio de Janeiro e seus municípios têm recebido grandes volumes de

recursos referentes à exploração e produção de petróleo em seu litoral. Dados da ANP

indicam que o Rio de Janeiro (estado e municípios) recebeu R$ 45,8 bilhões em

royalties e participações especiais entre 2000 e 2008. Este valor é aproximadamente

37% maior do que a receita de ICMS que o Rio de Janeiro (estado e municípios) deixa

de arrecadar pela tributação do petróleo no destino de consumo.

Mas, quando analisamos a receita de participações governamentais do governo do

estado do Rio de Janeiro, verificamos que o valor de R$ 29,7 bilhões no período

analisado fica 11% abaixo dos R$ 33,5 bilhões que o estado do Rio de Janeiro deixa de

arrecadar em ICMS. Assim, não se pode argumentar que o Rio de Janeiro é mais do

que compensado através dos royalties e participações especiais por não arrecadar o

ICMS do petróleo.

Além disso, é importante lembrar que este argumento não é válido porque,

conceitualmente, os royalties e participações especiais são compensações, aos

estados e municípios produtores, pelos danos ambientais, socioeconômicos e pela não

22

perenidade da atividade de exploração e produção de petróleo, ao contrário do ICMS,

que é um imposto que taxa a circulação de mercadorias e serviços.

Ainda assim, vale destacar que a União tem se apropriado de parcela significativa

destes recursos: R$ 42,4 bilhões (43% do total). Os demais Estados e Municípios do

Brasil vem se apropriando de R$ 11,3 bilhões, representando 11% do total das

participações governamentais.

Tabela 4: Royalties e Participações Especiais (2000-2008)

R$ 1.000 % R$ 1.000 % R$ 1.000 %Rio de Janeiro (Estado e Municípios) 24.382.960 49% 21.488.911 44% 45.871.871 46% Estado do Rio de Janeiro 19.506.184 39% 10.241.960 21% 29.748.144 30% Municípios do Rio de Janeiro 4.876.776 10% 11.246.951 23% 16.123.728 16%Demais Estados e Municípios 733.881 1% 10.533.238 21% 11.267.119 11%União 25.120.907 50% 17.291.084 35% 42.411.990 43%Total Brasil 50.237.748 100% 49.313.233 100% 99.550.981 100%

Participações Especiais Royalties Total

Fonte: ANP, elaborado pelo autor.

V. A Resiliência do Estado

O Governo do Estado do Rio de Janeiro e o próprio Estado do Rio de Janeiro, como

eles são entendidos hoje, são algo relativamente recente na história do Brasil. Até

1960, o Estado do Rio de Janeiro tinha como capital a cidade de Niterói. Até este ano, o

que se entende hoje pela Cidade do Rio de Janeiro era o Estado da Guanabara, Distrito

Federal. De 1960 a 1975 a ex-capital da República torna-se uma cidade-estado

independente. Finalmente, em 1975, a cidade do Rio de Janeiro se funde ao Estado do

Rio de Janeiro e passa a ser a sua capital.

23

Ter sido capital da República e, posteriormente, uma cidade-estado deu à cidade do

Rio de Janeiro um grande número de instituições públicas e, conseqüentemente, de

funcionários públicos. Até hoje essa característica é verificada nos dados de emprego.

Segundo a RAIS (2008), 18,6% dos empregos formais do Estado do Rio de Janeiro

estão na área governamental. Além disso, quando analisamos a participação das

atividades econômicas no valor adicionado dos produtos estaduais, verificamos que

administração, saúde e educação públicas responderam por 17,2% do PIB do Rio de

Janeiro em 2006 (IBGE). Entre os estados do Sul e Sudeste do Brasil, essa é a maior

participação da área pública no produto total. Minas Gerais, Espírito Santo e Rio

Grande do Sul têm 13,4%; Paraná e Santa Catarina aproximadamente 11% e São

Paulo apenas 8,5% - sendo a menor participação entre todos os estados da Federação.

Gráfico 9: Participação das Atividades de Administração, Saúde e Educação

Públicas no Valor Adicionado

24

0

10

20

30

40

50

60

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006.

Do ponto de vista da economia, essa característica tem conseqüências importantes.

Além do peso da administração pública no total do valor adicionado, a massa salarial

destes funcionários públicos é, na ótica da demanda agregada, pouco sensível às

oscilações da conjuntura econômica. Além disso, como já foi visto, a pequena

participação da Indústria de Transformação no total da economia do Rio de Janeiro

(8%) faz com que o Estado seja estruturalmente mais resistente em relação às

oscilações da economia do que estados semelhantes.

Este fenômeno pode ser medido através do cálculo da elasticidade do crescimento da

economia do Rio de Janeiro em relação ao crescimento do Brasil. A partir de dados do

IBGE verifica-se que, no período 1986-2006, o Rio de Janeiro tem a menor elasticidade

25

entre os estados da Federação (0,25). Isso indica que para cada ponto percentual de

crescimento (ou retração) da economia brasileira, o Rio de Janeiro só avança (ou

recua) 0,25 ponto percentual.

Gráfico 10: Elasticidade da Taxa de Crescimento do PIB dos Estados em Relação

à Taxa de Crescimento do PIB do Brasil

1,03 1,00

0,98

0,70 0,68

0,59 0,59 0,55

0,53 0,51 0,49 0,49 0,48 0,48 0,48 0,46 0,46 0,45 0,45 0,44

0,42

0,37 0,35

0,33 0,29 0,29 0,29

0,25

-

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006.

De modo semelhante, quando analisamos a volatilidade da taxa de crescimento dos

estados e do Brasil, vemos que a do Rio de Janeiro está entre as menores do país,

apenas 6,15%. Somente o Acre (4,91%), Goiás (3,59%) e o Distrito Federal (1,93%)

têm variâncias menores que a do Rio de Janeiro.

26

Gráfico 11: Volatilidade da Taxa de Crescimento do PIB dos Estados

48,87

26,01

21,37

17,87 16,26

15,30 14,89 14,10

10,25 10,12 9,72 9,35 8,73 8,56 8,31 8,18 7,96 7,46 7,36 7,19 7,17 7,09 6,94 6,72 6,15 4,91

3,59 1,93

-

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

50,00

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006.

Se a resiliência da economia do Rio de Janeiro ainda é alta devido ao grande número

de funcionários públicos e à pequena participação da indústria de transformação no

total da atividade, podemos imaginar que essa resiliência seria ainda maior se a capital

ainda fosse aqui.

VI. O Custo da Perda da Capital

No momento da transferência da capital, o Rio de Janeiro não recebeu qualquer

compensação do Governo Federal. A perda da condição de capital teve (e tem até hoje)

27

custos importantes para o Rio de Janeiro. Uma maneira de enxergarmos estes custos é

através da renda per capita do Distrito Federal.

A renda per capita de Brasília é a maior do Brasil: R$ 37.600 por ano (IBGE-2006). Este

dado é explicado pelos altos salários do funcionalismo público federal, pela pequena

população do Distrito Federal e pelo grande número de produtos e serviços que a

máquina pública federal consome em Brasília. Para se ter uma idéia, São Paulo, o

segundo colocado, tem renda per capita de R$ 19.548 (48% menor que a de Brasília) e

o Rio de Janeiro, terceiro colocado, tem renda per capita de R$ 17.695 (53% menor que

a do Distrito Federal).

Gráfico 12: A Renda Per Capita dos Estados da Federação

28

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2003-2006.

Assim, pode-se estimar qual seria a renda per capita do Estado do Rio de Janeiro se a

capital não tivesse sido transferida para Brasília. Para isso, basta supor que o Rio de

Janeiro teria o equivalente à população do Distrito Federal (2,3 milhões de habitantes)

com a renda per capita verificada hoje em Brasília e o restante da população do Rio de

Janeiro (13,2 milhões de habitantes) com a renda per capita verificada atualmente. Vale

destacar de a população do Rio de Janeiro (15,5 milhões de habitantes) é 6,5 vezes

maior que a de Brasília.

29

Através deste exercício, chega-se a conclusão que a renda per capita do Rio de Janeiro

cresceria 17% passando a R$ 20.744 e se tornando a maior do país5.

Considerações Finais e Sugestão de Agenda

A motivação deste trabalho está apoiada no sentimento de insatisfação da sociedade

em relação ao desempenho econômico do Rio de Janeiro. Por isso, buscou-se explicar

o senso comum através de dados econômicos.

Em consonância com o sentimento da sociedade, foi mostrado que, entre os estados

brasileiros, a economia do Rio de Janeiro foi a que menos cresceu no período 1985-

2006. O diagnóstico revelou também que a região sudeste foi a que mais perdeu

importância relativa na economia do país.

No caso da atividade industrial, a sociedade tem argumentado, corretamente, que o Rio

de Janeiro perdeu indústrias. Mas, não é possível afirmar que se elas se mudaram para

São Paulo. O fato é que as indústrias do sudeste se transferiram para outras regiões do

país, principalmente para o centro-oeste, provavelmente atraídas por custos de

produção mais baixos.

Recebeu destaque o perfil da indústria fluminense, fortemente dependente da indústria

extrativa mineral e pouco centrado na indústria de transformação. Na verdade, o alto

crescimento da indústria extrativa mineral impediu que a atividade industrial agregada

5 Vide Anexo 2 para a memória de cálculo.

30

do Rio de Janeiro tivesse caído ainda mais. Assim, uma agenda de desenvolvimento do

Rio não pode deixar de contemplar o desafio de crescer a participação da indústria de

transformação no total do produto fluminense.

Foi verificado também que a atividade de serviços mostrou importância na economia

fluminense. Cresceu em termos absolutos e apresentou pequena queda em termos

relativos. Este é um setor que engloba um leque muito diversificado de atividades.

Assim, a agenda passa pela qualificação das empresas prestadoras de serviço do Rio

de Janeiro para que elas se apropriem do poder de compra da população e das

grandes empresas instaladas no estado.

Destacou-se a questão dos impostos que, aos olhos da sociedade, são mais altos no

Rio de Janeiro do que no resto do país. Realmente verificou-se que, sob a ótica das

alíquotas de ICMS, isso é verdade. No entanto, quando comparadas as relações

ICMS/PIB, a alta carga tributária no Rio de Janeiro não se verifica. Mais uma vez, o

crescimento da indústria de transformação faz-se necessário para corrigir (pelo menos

em parte) o problema estrutural da pequena base de arrecadação fluminense. A

elevação do PIB tributável torna possível aumentar a arrecadação do principal tributo do

estado, permitindo, inclusive, que as alíquotas possam ser reduzidas no médio prazo.

Foi mostrado que o valor monetário das receitas de royalties e participações especiais é

inferior à perda de ICMS do governo do estado do Rio de Janeiro pelo recolhimento do

tributo do petróleo no estado de destino. O Rio de Janeiro, que produz

aproximadamente 80% do petróleo do Brasil, só se apropria de 46% dos recursos das

31

participações governamentais. Desta maneira, a agenda de desenvolvimento deve

estar atenta à distribuição destas participações de modo a impedir que o Rio de Janeiro

perca importantes fontes de receita para outros estados.

No que diz respeito à reação da economia do Rio de Janeiro frente às oscilações da

economia brasileira, foi mostrado que a economia fluminense tem alta resiliência.

Conforme indica o diagnóstico, o grande número de funcionários públicos e a baixa

participação da indústria de transformação no total do valor agregado estão por trás

deste padrão de crescimento.

Estimou-se também o custo da transferência da capital para Brasília através da renda

per capita atual do Distrito Federal e concluiu-se que o Rio de Janeiro empobreceu. A

transferência da capital não veio acompanhada de um planejamento para o futuro do

Rio de Janeiro.

Por isso, e pela identificação do Rio de Janeiro como cartão de visitas e centro cultural

do país, a retomada econômica do estado deve ser tratada também como uma questão

nacional. A possibilidade da realização dos Jogos Olímpicos de 2016 na cidade do Rio

será uma oportunidade da União fazer investimentos que podem ajudar a mudar a

trajetória do Rio de Janeiro. Mas, para garantir que estes investimentos se traduzam em

melhoria da qualidade de vida da população, é preciso comprometimento em boa

gestão pública, alinhamento das três esferas de governo e envolvimento da sociedade

civil.

32

O Rio de Janeiro viveu nos últimos 21 anos um período de baixíssimo crescimento

econômico. Mais do que isso, desde a década de 1960, quando a cidade do Rio deixou

de ser capital, suprimiu-se a principal vocação e identidade desse território. Com o

diagnóstico em mãos, foi possível destrinchar vocações econômicas do estado e

apontar alguns gargalos estruturais ao crescimento. O desafio do jovem Estado do Rio

de Janeiro passa a ser a reafirmação da sua identidade econômica e o resgate do seu

papel de liderança na federação brasileira.

Bibliografia:

Fecomércio-RJ. Comparativo da Tributação pelo ICMS entre os Estados do Rio de

Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e Bahia. Rio de Janeiro, 2007.

www.ibge.gov.br

www.anp.gov.br

www.ipeadata.gov.br

www.tesouro.fazenda.gov.br