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 Educação e Pesquisa Universidade de São Paulo [email protected] ISSN: 1517-9702 BRASIL 2004 Maria Nobre Damasceno / Bernadete Beserra ESTUDOS SOBRE EDUCAÇÃO RURAL NO BRASIL: EST ADO DA ARTE E PERSPECTIVAS Educação e Pesquisa, jan.-abr., año/vol. 30, número 001 Universidade de Sao Paulo São Paulo, Brasil pp. 73-89

Ed Rural No Brasil

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Estudos sobre educação rural no Brasil: estado da arte e perspectivasartigo elaborado por Maria Nobre Damasceno e Bernadete Beserra, da Universidade Federal do Ceará. Mapeia o conhecimento produzido na área da Educação Rural, nas décadas de 1980 e 1990. Referencial importante para os estudiosos da educação rural. Publicado em Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 73-89, jan./abr. 2004

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  • Educao e PesquisaUniversidade de So Paulo

    [email protected]

    ISSN: 1517-9702

    BRASIL

    2004 Maria Nobre Damasceno / Bernadete Beserra

    ESTUDOS SOBRE EDUCAO RURAL NO BRASIL: ESTADO DA ARTE E PERSPECTIVAS Educao e Pesquisa, jan.-abr., ao/vol. 30, nmero 001

    Universidade de Sao Paulo So Paulo, Brasil

    pp. 73-89

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    Estudos sobre educao rural no Brasil: estado da arte eperspectivas1

    Maria Nobre DamascenoBernadete BeserraUniversidade Federal do Cear

    Resumo

    O presente estudo mapeia e discute o conhecimento produzido narea da Educao Rural, nas dcadas de 1980 e 1990, com o objetivode esboar o estado da arte neste campo de investigao. Entreoutros aspectos, apresenta e discute as temticas de estudo mais re-correntes, a organizao regional dessa produo e, ao final, as ten-dncias atuais e as temticas ainda no suficientemente exploradas.Caracterizadamente bibliogrfico, e restrito produo acadmica narea de Educao, este estudo baseou-se nas seguintes fontes: 1. aproduo discente de mestrado e doutorado do banco de resumos dedissertaes e teses da Associao Nacional de Ps-graduao e Pes-quisa em Educao ANPEd; 2. os peridicos acadmicos nacionais;e 3. os principais livros enfocando a temtica da Educao Ruralpublicados no perodo. Uma das concluses que cada vez maioro nmero de trabalhos que discutem o problema da educao ruralda perspectiva da populao a que se destina, ou seja, os trabalhado-res rurais. Tal tendncia, porm, no nasce da clarividncia ou exces-siva sensibilidade dos estudiosos do tema, mas das prprias circuns-tncias da realidade sob estudo, j que so os prprios trabalhadoresrurais que, por meio da sua organizao poltica, tornam-se suficien-temente visveis para chamarem sobre si a ateno dos estudiosos.

    Palavras-chave:

    Estado da arte Educao rural Educao rural no Brasil Movimento social no campo.

    Correspondncia:Maria Nobre DamascenoRua Joaquim Trajano, 13660874-650 Fortaleza CEe-mail: [email protected]

    1. Uma verso preliminar deste ar-tigo foi apresentada no III Congresso /Argentino y Latino Americano de An-tropologia Rural. Tilcara, Jujuy, Argen-tina, em maro de 2004.

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    Studies on rural education in Brazil: State-of-the-art andperspectives1

    Raquel Goulart BarretoUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

    Abstract

    This work maps out and discusses the knowledge created in the areaof Rural Education during the 1980s and 1990s, with the purpose ofoutlining the 'state-of-the-art' in this field of investigation.Among other aspects, this article introduces and discusses themost recurring themes of study, the regional organization of thisproduction and, towards the end, the current trends and thethemes still not sufficiently explored.Markedly bibliographical, and restricted to the academicproduction in the area of Education, this work is based on thefollowing sources: 1. Master and doctoral dissertations found inthe ANPEd (National Association for Graduate Studies andResearch in Education) database; 2. Brazilian academic journals;and 3. the main books focusing on the theme of rural educationpublished within this period of time. One of the conclusions isthat there is an increasing academic production discussing theissue of rural education from the point of view of the targetpopulation, that is, the rural workers. Such trend, however, isnot born out of foresight or extreme sensitivity on the part ofthe researchers, but springs from the circumstances of thereality under study, since the rural workers, through theirpolitical organization, have become sufficiently visible to drawto themselves the attention of researchers.

    Keywords

    State-of-the-art Rural education Rural education in Brazil Rural social movement.

    Contact:Maria Nobre DamascenoRua Joaquim Trajano, 13660874-650 Fortaleza CEe-mail: [email protected]

    1. A preliminary version of this articlehas been presented to the III Congres-so Argentino y Latino Americano deAntropologia Rural, Tilcara, Jujuy,Argentina, March 2004.

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    Introduo

    O objetivo do presente estudo mapeare discutir o conhecimento produzido na rea daEducao Rural, nas dcadas de 1980 e 1990,com o propsito de esboar o estado da arteneste campo da investigao. Entre outros as-pectos, estamos interessadas em explicar astemticas privilegiadas, a organizao regionaldessa produo e, ao final, apresentar e discu-tir as tendncias atuais e as temticas ainda noexploradas suficientemente.

    Um dos primeiros problemas com quenos defrontamos quando se discutem e se ava-liam os estudos na rea de Educao Rural hoje o do prprio estatuto do termo rural. Diferen-temente do que se propalava quando a educa-o rural era um projeto ligado ao desenvolvi-mento do pas cuja vocao de pas agrcolademandava polticas especficas de educaorural, hoje a realidade bastante distinta e onovo rural brasileiro guarda pouca semelhanacom o da dcada de 1950, inclusive no sentidoda revalorizao ocorrida com a crise das cida-des (Sorj, 1998; Graziano, 1999; Veiga, 2002).2

    Diferentemente do que propunham osEstados Unidos e os outros pases que tomarama dianteira e o controle do desenvolvimentoindustrial, no faz mais sentido pensar em voca-o agrcola ou qualquer outro tipo de vocaodas naes fora das polticas imperialistas ecolonialistas que as definem. Portanto, quandonos idos de 1950 falava-se de uma educaorural que promovesse a valorizao do trabalhorural supunha-se que fosse possvel organizarartificialmente o j iniciado processo de urbani-zao do pas. Supunha-se, contra as polticas eideologias industriais e urbanas mais gerais, quefosse possvel convencer os trabalhadores ruraisde que o seu papel era o de garantir o sentidoda vocao agrcola do pas. Uma vez educadosno sentido de valorizar o trabalho agrcola (quecontraditoriamente no era valorizado por maisningum), tais trabalhadores aceitariam a suamisso de salvaguardar a vocao agrcola dopas. Mas, por que graa conseguiriam os pro-

    fessores, sozinhos, lutar contra todos os outrosmeios de comunicao que insistentemente afir-mavam que o urbano era sinnimo de progres-so, civilizao e de todos os valores positivosque se difundiam poca?

    nesse contexto que vrios programasde educao rural so implementados e, porrazes bvias, alm das dificuldades da disper-so da populao rural, sistematicamente fracas-sam ou pelo menos fracassam em relao smetas propostas (Calazans, 1993). De tal modoque at hoje o problema da educao ruralbsica no foi resolvido, e no por acaso queos mais altos ndices de analfabetismo do pasesto localizados na zona rural e, dentre elas,naquelas das regies cuja posio na divisonacional do trabalho no exige uma produobaseada no trabalho qualificado.3

    A despeito de tmidas iniciativas no finaldo sculo XIX, somente a partir da dcada de1930 e, mais sistematicamente, das dcadas de1950 e 1960 do sculo XX que o problema daeducao rural encarado mais seriamente oque significa que paradoxalmente a educaorural no Brasil torna-se objeto do interesse doEstado justamente num momento em que to-das as atenes e esperanas se voltam para ourbano e a nfase recai sobre o desenvolvimen-to industrial. Lembremo-nos, por exemplo, dameta do governo Juscelino Kubitschek de de-senvolver cinqenta anos em cinco. As ideolo-gias do progresso que incluam necessariamen-te a extenso do urbano destroem a vocaoagrcola de todas as geraes independente-mente de se em pases de vocao agrcola ou

    2. De acordo com o IBGE, Censo de 2000, 82% da populao brasileira urbana. Veiga (2002) argumenta, porm, que a metodologia de clculoatualmente utilizada no adequada porque inclui na categoria de urbanomunicpios que, de acordo com a OCDE Organizao de Cooperao e deDesenvolvimento Econmico, so rurais j que apresentam densidadedemogrfica inferior a 150 Hb/km2. Se os critrios de urbanizaoadotados pela OCDE fossem aplicados ao Brasil, apenas cerca de 60% dapopulao seria considerada urbana.3. Em 2000, 29,8% da populao rural era analfabeta contra 10,3% dapopulao urbana. O ndice do analfabetismo rural no Nordeste era o maisalto de todos: 42,7% contra, por exemplo, o ndice do Sul que era o maisbaixo de todos e quase quatro vezes menor do que o do Nordeste: 12,5%.Fonte IBGE Censo Demogrfico de 2000.

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    no. O progresso e o desenvolvimento, princi-pais expresses da narrativa evolucionista, exi-giam o fim do campo e do campons, j queambos eram sinnimos de passado e atraso. Emtal narrativa cabiam todas as matizes polticas,independentemente de capitalistas ou socialistas.Mas o que fazer com a vocao dos pases entodenominados subdesenvolvidos? Investir naagricultura e na produo e difuso do conhe-cimento tcnico agrcola e, por meio dessesinvestimentos, desenvolver uma mentalidade derespeito e valorizao da atividade agrcola.Tanto a vocao quanto a forma de torn-larealidade so decididas j pelo novo centrohegemnico do ocidente no ps-guerra, os Es-tados Unidos. No toa que os programas eprojetos de educao rural sob o patrocnio deinstituies norte-americanas tomam grandeimpulso a partir de ento. o caso, por exem-plo, da Associao Brasileira de Assistncia Tc-nica e Extenso Rural (ABCAR), que, criada em21 de junho de 1956, e incumbida de coorde-nar programas de extenso e captar recursostcnicos e financeiros, era patrocinada por orga-nizaes ditas de cooperao tcnica diretamen-te ligadas ao governo dos Estados Unidos (IIAA,ICA, AID, Aliana para o Progresso, etc.) ou aogrande capital monopolista americano (Funda-es Ford, Rockefeller, Kellog, etc.).4

    Apesar do esforo de implantao dasua hegemonia sobre o Brasil e toda a Amri-ca Latina, inclusive claramente expresso empolticas como a Poltica da Boa Vizinhana, dogoverno Roosevelt, em 1932, no h, porm,no perodo que vai do fim da Segunda Guerraat o Golpe Militar de 1964 nenhuma tendn-cia absolutamente hegemnica. De tal modoque muitos programas de Educao Rural ser-viam de instrumentos de difuso de ideologiasinclusive opostas s pretendidas pelo governoamericano. Semeadas numa sociedade em tran-sio e marcada por extraordinria desigualda-de social, tais projetos e polticas tm conse-qncias as mais diversas, inclusive a de mobi-lizar as populaes rurais j vtimas da moder-nizao no campo, contra os efeitos negativos

    que esta vem produzindo sobre as suas vidas. o caso do conjunto de movimentos sociais que,articulados aos partidos polticos de esquerda ou Igreja catlica, vo produzir um estilo de edu-cao e um tipo de saber bastante diferente dospretendidos pelas necessidades imperialistas dogoverno americano, entre os quais se destaca apedagogia de Paulo Freire que vai, depois, influ-enciar uma das tendncias acadmicas do estu-do do rural: a da educao e movimentos so-ciais no campo (Damasceno, 1992).

    Aps a ditadura militar, perodo durante oqual as polticas industriais e agrcolas mudaramcompletamente a face do pas, so outros os pro-blemas e questes que se apresentam tanto parao rural quanto para a educao rural. tambmdurante esse perodo e j em conseqncia dainfluncia do sistema educacional americano sobreo brasileiro que os primeiros programas de ps-graduao em educao so fundados, e surgetambm uma pesquisa mais sistemtica sobre aeducao brasileira, inclusive motivada pelas asso-ciaes nacionais de ps-graduao e pesquisaque proliferam a partir dos meados de 1970.

    Estudos rurais no Brasil: ummapa

    Embora tenhamos conscincia de queoutras disciplinas, especialmente a agronomia ea sociologia, tambm produzem conhecimentona rea de Educao Rural, concentramos anossa ateno na produo cientfica na reade Educao. Com o propsito de apresentarum quadro da produo acadmica no perodocitado, pesquisamos: 1. a produo discente demestrado e doutorado do banco de resumos dedissertaes e teses da ANPEd;5 2. os peridi-cos acadmicos nacionais e, neste caso, como

    4.Ver, entre outros, Vieira, 1954; Padilha, 1982; Calazans, 1979, 1993;Demo, 1980; Gusso, 1978; Maia, 1982; Pinto, 1981; Werebe, 1968.5. Tambm pesquisamos a base de dados da Capes do perodo 1996-2001 e os resultados confirmam, em termos numricos, os da base dedados da ANPEd, embora surjam novos temas em funo dos interessesdas diversas disciplinas no mundo rural. Ou seja, ao invs de pesquisarmosespecificamente a educao rural, pesquisamos o rural e tudo que foi in-cludo sob este descritor.

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    marginal a temtica, consultamos tambmperidicos regionais entre os quais o da nos-sa prpria Faculdade de Educao, a RevistaEducao em Debate;6 e 3. os principais livrosenfocando a temtica da educao rural publi-cados no perodo.7

    A primeira observao se refere quan-tidade de estudos produzidos na rea e o seulugar relativo em relao s outras reas. Comopodemos observar no Quadro1 a proporomdia ao longo do perodo pesquisado dedoze trabalhos na rea de Educao Rural paramil trabalhos nas demais reas da Educao.Uma porcentagem dezessete vezes inferior donmero de habitantes no campo em relao aoda cidade, se tomarmos como referncia osdados estatsticos do IBGE do ano 2000, deacordo com os quais a populao rural repre-senta 18,75% da populao brasileira.8

    claro que nenhum lugar poltico ousocial numa sociedade capitalista pode serdefinido em funo da porcentagem de certasclasses ou grupos em relao populao to-tal. Ao contrrio, as polticas so definidas nomais das vezes em funo do poder de barga-nha dos setores envolvidos. Nesse caso, a im-portncia relativa do tema est relacionadaantes de qualquer coisa ao valor relativo dosetor agrcola em relao aos setores industriale de servios. Alm disso, importante chamarateno para o fato de que a prpria idiada universalizao da educao decorrente dauniversalizao da demanda do mercado de tra-balho por um nvel mnimo de educao/espe-cializao.9 No sendo um requisito para otrabalho rural e, nesse caso, indispensvel paraa reproduo do capital, a educao rural negligenciada. J do ponto de vista da priori-dade a programas de educao rural, semprevaleu aquela idia que um dia Darcy Ribeirodefendeu a respeito da educao de adultos(Ribeiro, 1978). Ou seja, considerando que osrecursos estatais para as polticas pblicas sem-pre foram bastante limitados, seria prefervelinvestir recursos em reas que a mdio ou lon-go prazos apresentariam resultados positivos.

    Darcy dizia que era melhor investir na educa-o bsica porque o analfabetismo adulto se-ria resolvido mais dia menos dia pela morte.Crena semelhante sempre rondou a educaorural j que se acreditava que a evoluo na-tural da sociedade capitalista levaria extinodo rural. Noutras palavras: acaba-se o rural eacabam-se juntos os problemas da educaorural. A despeito disto, porm, e em funo depresses internas e externas, vrias campanhasde educao rural foram empreendidas, inclu-sive campanhas diferenciadas como a doEdurural, que funcionou entre 1981 e 1987, ecuja realizao exclusivamente no Nordeste ti-nha o objetivo de diminuir a diferena entre osndices de analfabetismo rural nesta regio enas demais.10

    Alm do valor relativo do rural ou doseu valor ideolgico-cultural a escassez deestudos na rea tambm fruto da dificuldadede financiamento de pesquisas e da relativafacilidade de desenvolvimento de pesquisas nasreas urbanas onde o prprio pesquisador ha-bita. Mas a nossa hiptese de que, almdesses motivos apresentados, o desinteressegeneralizado pela temtica reflete o desinteres-se do Estado pelo problema pelos motivosacima apresentados. Aqui importante abrir um

    6. Para uma lista de todos os peridicos pesquisados ver Quadro 5.7. Utilizamos os seguintes descritores para a busca no bando de dados daANPEd: educao rural, meio rural, zona rural, assentamentos rurais,assentados rurais, movimento dos sem- terra, movimentos sociais, cam-po, trabalhadores rurais.8. Se compararmos o nmero de estudos com o nmero de habitantespara cada ano investigado a proporo geral de estudos ainda menor.9. Este raciocnio explica porque a extenso rural foi organizada muitomais eficientemente do que a educao rural. O que significa que maisimportante do que a educao universal para o homem do campo semprefoi o treinamento especfico em tcnicas e conhecimentos que permitis-sem a modernizao da agricultura nos termos em que interessava aoscentros internacionais de poder, especialmente, os Estados Unidos.10. Concebido como uma estratgia para diminuir a defasagem econ-mica entre o Nordeste e as demais regies do pas, o Programa de Edu-cao Bsica para o Nordeste Brasileiro (Edurural) foi lanado em 1980 eenvolveu recursos da ordem de 92 milhes de dlares, dos quais 32 mi-lhes foram originrios de um emprstimo do Banco Mundial. O seu obje-tivo era expandir, em 18% dos municpios nordestinos, o acesso das cri-anas escola primria, reduzir o desperdcio de recursos adicionais coma diminuio das taxas de repetncia e evaso e melhorar o rendimentoescolar dos alunos com a oferta de instruo de melhor qualidade (GomesNeto et al., 1994, p. 47).

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    parntese para uma breve reflexo sobre a rela-tiva coerncia entre os interesses dominantes noEstado e os interesses dominantes na Universi-dade. Em funo do financiamento prioritrio doEstado de determinadas reas de pesquisa, asuniversidades e demais centros de pesquisa aca-bam tambm concentrando a sua ateno nasmesmas reas e deixando de lado reas que,embora importantes para a sociedade, so mar-ginais aos interesses do Estado que, por sua vez,decide a prioridade dos seus interesses tambmpressionado pelas instituies internacionais decrdito, como o Banco Mundial, por exemplo(Gentili, 1998).

    O desinteresse pela educao rural econseqentemente pela pesquisa nessa rea doconhecimento tambm reflete, obviamente, olimite da presso dos movimentos sociais ruraissobre o poder pblico. Inclusive, o recente in-teresse por esta rea, verificado nos ltimosdez anos, mas insignificantemente expresso naspercentagens abaixo, est relacionado ao poderde presso do Movimento dos TrabalhadoresSem-Terra. Apesar desse fato, o interesse pelapesquisa na rea continua insignificante em re-

    lao pesquisa nas demais reas. Isto , ob-servamos, estudando o Quadro 1, que a percen-tagem mdia de produo de dissertaes e te-ses cai de 2,1%, na dcada de 1980, para 0,9%na dcada de 1990, o que revela o crescentedesinteresse por esta rea de estudos. Fenme-no semelhante observado na produo aca-dmica veiculada em revistas cientficas, con-forme apresentado nos quadros 5 e 6 (Anexo).Observa-se uma mdia de apenas dois artigossobre educao rural publicados por ano. A pu-blicao de livros, conforme pode ser conferi-do na bibliografia, tambm acompanha estamesma tendncia confirmando que a educaorural considerada tema de menor importnciatanto pelo governo federal quanto pelas univer-sidades e centros de pesquisa.

    De um certo modo, a marginalizao daeducao rural revela-se tambm nas temticasprivilegiadas pelos estudos realizados, como ob-servaremos a seguir, na discusso sobre os te-mas. Aps separarmos as 102 dissertaes eteses encontradas no banco de dados 1981-1998 da ANPEd, ns as classificamos sob os se-guintes temas:

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    Sob o tema Ensino fundamental (Escolarural) inclumos todos os trabalhos que anali-sam, discutem ou avaliam as condies geraisdo ensino e da aprendizagem na escola rural.

    Tais estudos apresentam dados quepermitem concluir que a educao rural apre-senta problemas graves de origem; ou seja,planejada a partir da escola urbana, a escolarural parece to alienada do seu meio quantoo so tambm as escolas urbanas para as clas-ses populares (Willis, 1991). Deste modo, aspesquisas recorrentemente confirmam as discre-pncias existentes entre as expectativas do pla-nejamento governamental e as das populaesrurais beneficirias. Afirmam, portanto, que, talcomo se apresenta, a escola rural inadequa-da ao seu meio (Leite, 1999; Moreira; Silva,1994; McLaren, 1997; Damasceno; Therrien,2000). Apesar de reconhecerem que a escolapblica rural limitada e precria, tanto aspopulaes rurais pesquisadas como os estu-diosos consideram que essa instituio tem pa-pel fundamental na divulgao do saber univer-sal para a populao rural, devendo por isso seravaliada e, sobretudo, ter sua funo socio-pedaggica e contedos curriculares rede-finidos para que de fato venha a atender aosreais interesses dos grupos sociais a que sedestina (Damasceno, 1995, 1998, Grecio, 1982;Almeida, 1990; Martins, 1982, 1992; Maurcio,1989; Rizzoli, 1988; Viana, 1982).

    Os estudos envolvendo este tema e osdois seguintes, Professores rurais e Polticaspara a educao rural, buscam dar suportecientfico tanto formulao de polticas quan-

    to de programas educacionais adequados rea-lidade da populao camponesa. Assim, as pes-quisas nessa rea procuram contemplar a ao doEstado, como instncia formuladora de polticaseducativas, analisar as condies da rede escolarexistente e, ainda, compreender a ao pedag-gica realizada nesse contexto, enfatizando a for-mao do professor, sua prtica pedaggica esuas condies de vida e de trabalho (Barreto,1983; Spayer, 1983; Therrien, 1987, 1988;Freitas, 1990; Reis, 1992).

    Embora o problema do descompassoentre a realidade da vida rural e a escola ruralseja tratado sob o tema Polticas para a educa-o rural, sob o tema Currculos e saberes querelacionamos os trabalhos que discutem direta-mente a questo. V-se, portanto, nesses traba-lhos que grande a distncia entre o currcu-lo da escola rural e a vida da sua clientela,conseqncia evidente do desconhecimentodas populaes-alvo pela burocracia que plane-ja (Brando, 1997; Caldart, 2001; Furtado,1997; Queiroz, 1992; Rivas, 1992).

    Apesar de enfatizar aspectos distintos, osprimeiros quatro temas relacionados se referemao estudo da escola rural como ela . Conside-rado individualmente, o tema Educao popu-lar e movimentos sociais no campo que maisconcentra a ateno dos estudiosos. Na verda-de, interesse to especial busca encontrar, nes-ses espaos alternativos de educao, pistas paraa soluo dos problemas existentes na escolarural. Alm disso, esses estudos compreendemque a educao no se limita apenas ao espa-o escolar, mas est tambm presente nas diver-sas expresses da luta social e justamente aparticipao nesta luta que cria as condies deproduo e apropriao de um saber que permiteuma compreenso transformadora da realidade.

    As prticas educativas dos movimentossociais compreendem, portanto, um vasto e ricocampo que vem sendo investigado, destacan-do-se o prprio processo de constituio des-ses movimentos, o estudo do conjunto dasaes que seus atores desenvolvem para aconstruo de sua identidade como sujeitos

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    coletivos e, tambm, o saber gestado no coti-diano dessas lutas.

    Em suma, essa vertente de pesquisaparte da premissa de que no tocante educa-o rural preciso considerar, no conjunto dossaberes historicamente produzidos, aquele sa-beres gerados pelos atores sociais em suas pr-ticas produtivas e polticas, tendo em vista queesses saberes tm especificidades em virtudedas diversificadas condies de vida e trabalho.Por conseguinte, diferentes formas de organi-zao criam variadas vises de mundo nas quaisnovos processos educativos so permanentementeelaborados (Brando, 1997; Caldart, 2000, 1997,1996, 1995; Calado, 1993; Damasceno, 1998,1994, 1992, 1990; Furtado, 2000, 1998;Grzybowski, 1986, 1982; Souza, 1989; Therrien,1991; Vendramini, 1997).

    As investigaes tm constatado ser defundamental importncia averiguar os condi-cionantes estruturais e conjunturais que produzeme reproduzem as aes educativas, bem como osatores sociais das referidas prticas com suas lutas,representaes e identidades.

    Tais estudos tambm mostram que osmovimentos sociais no campo, especialmente oMovimento dos Trabalhadores Sem-Terra, vmse constituindo em espaos privilegiados deresistncia, de luta e, conseqentemente, deorganizao de um saber que traduz a realida-de de seus atores. Assim, o ato de repensar aeducao deve ser mediado pelos interesses dogrupo a quem ela se destina, especialmente poraqueles interesses expressos atravs dos movi-mentos sociais, posto ser esta a instncia decompreenso e reelaborao do saber nas rela-es sociais dos atores envolvidos (Caldart,1999).

    Tambm relacionados com os saberesque se produzem nas prticas sociais esto ostrs ltimos temas: Educao e trabalho rural,Extenso rural e Relaes de gnero. No casodo primeiro, a ateno se concentra na relaoentre educao escolar e educao do trabalho,mostrando ora como a educao rural estdistante da realidade do trabalho rural ou como

    uma influencia a outra, seja positiva ou nega-tivamente (Bianchetti, 1982; Souza, 1990;Almeida, 1990; Masseli, 1998). Seguindo a tri-lha proposta por Paulo Freire (1975a), os estu-dos sobre a Extenso rural tambm discutem oproblema da comunicao entre duas lgicasque se negam. A Extenso rural, concebidacomo alternativa instrumental educao uni-versal no campo, tambm se constitui numespao de domnio do rural pelo urbano eapresenta basicamente as mesmas dificuldadesda escola pblica rural. Tanto uma como aoutra convivem com o problema de incutir nohomem do campo um saber que no necessa-riamente lhe interessa ou do qual ele possa tirarproveito nas suas prticas sociais. Isto, claro, completamente diferente de propostas alterna-tivas elaboradas pelos prprios grupos sociaisinteressados e a partir dos seus interesses(Arroyo, 1982; Beserra, 1994, 1996; Caldart,1995; Camini, 1998; Damasceno, 1992, 1994;Damasceno; Therrien, 1993; Furtado, 2002,2000, 1998; Holanda, 2000; Ibanez, 1995;Janes, 1998; Masselli, 1994; Melo, 1983; Pon-tes, 1990; Portilho, 1998; Queda, 1982).

    Finalmente, sob Relaes de gneroesto estudos especficos sobre a mulher pro-fessora ou camponesa e a educao rural. Soestudos mais recentes que revelam a influnciados novos movimentos sociais que incluem,dentre outras novidades, a ateno a grupossociais que, embora tambm faam parte daclasse trabalhadora, tm caractersticas espec-ficas que precisam ser consideradas separada-mente (Nodari, 1987; Vigolvino, 1989; Werle,1992).

    A leitura do resumo desses trabalhosrevela tambm que so estudos pontuais, rara-mente parte de projetos mais abrangentes, oque nos leva a supor que o seu impacto tam-bm bastante limitado. So estudos de cunhosocioantropolgico desenvolvidos em geral porindivduos ligados por razes pessoais ou deofcio s populaes rurais. Em seu conjun-to, porm, representam grande contribuio compreenso da educao rural no Brasil.

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    Estudos sobre a educaorural no Brasil: distribuio porregio e instituies de ensino

    Os quadros 3 e 4, a seguir, mostram adistribuio de estudos na rea de educaorural por instituio de ensino superior e porregio. V-se, como esperado, a concentraode estudos (55%) na regio Sudeste, o que uma conseqncia da concentrao do proces-so de desenvolvimento do pas naquela regio.Em seguida, vm o Sul e Nordeste com, respec-tivamente, 24 e 15% da produo nacional narea. Os motivos pelos quais essas regies apa-recem nesta ordem so praticamente os mes-mos que explicam o primeiro lugar da regioSudeste. Ou seja, pela proximidade do Sudeste,o Sul o beneficirio mais imediato da expan-so do desenvolvimento nacional que inclui,entre outras coisas, a criao de instituies deensino superior e a qualificao dos seus pro-fissionais. Isso porque, na verdade, o que estaconcentrao de estudos e pesquisas revela que foi nessas regies que os primeiros progra-mas de ps-graduao foram implantados.

    Considerando o nmero de instituiesde ensino superior nas diversas regies e operodo de criao dos seus programas de ps-graduao, podemos afirmar que a proporode estudos na rea de Educao Rural maiorno Sul e Nordeste. Tal fenmeno pode estarrelacionado com fatores como a importncia dorural nessas regies, em primeiro lugar, e, emdecorrncia disso, a formao de grupos depesquisa dedicados ao tema. O caso da pesqui-sa desenvolvida por professores da Universida-de Federal do Cear sobre o Edurural umexemplo disso. Tal investigao foi o ponto departida para a composio de um grupo deestudo que se consolidou e, com o apoio doCNPq, desenvolveu vrios projetos de pesquisavoltados para a problemtica da educao rural,fato que possibilitou a produo e a publicaode diversos artigos e livros, alm da orientaode dissertaes e teses nas dcadas examinadas.Uma das conseqncias desse esforo que o

    referido grupo exerceu a liderana nacionalnessa rea temtica, inclusive coordenando osGTs de Educao Rural e Educao e Movimen-tos Sociais no Campo da ANPEd por mais deuma dcada.

    Concluses: tendncias dosestudos de educao rural

    Considerados em relao aos estudossobre educao rural desenvolvidos nas dca-das anteriores, os estudos aqui enfocados(1981-1998) caracterizam-se por uma preocu-pao cada vez maior em discutir o problemada educao rural da perspectiva da populaoa que se destina, ou seja, os trabalhadoresrurais. Tal tendncia, porm, no nasce da

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    clarividncia ou excessiva sensibilidade dos es-tudiosos do tema, mas das prprias circuns-tncias da realidade sob estudo, ou seja, soos prprios trabalhadores rurais que, por meiode sua organizao poltica, tornam-se sufici-entemente visveis para chamarem sobre si aateno dos estudiosos. A partir da a educa-o rural deixa de fazer parte apenas de umplano geral de desenvolvimento da nao etorna-se uma reivindicao de uma classe so-cial. Em gestao desde os movimentos cam-poneses das dcadas de 1950-60, esta ten-dncia se consolida com o surgimento doMovimento dos Sem-Terra (MST). Nesse sen-tido, interessante observar que mesmo semserem guiados pelos mesmos interesses teri-co-metodolgicos, a maioria dos estudos pro-duzidos na rea apresenta dados que instigama discusso de propostas alternativas de edu-cao rural em cujo centro estejam os interes-ses dos trabalhadores rurais. A disposio deexperimentar novas prticas educativas, po-rm, parece nascer mais do conhecimento deprticas j testadas noutros pases, como ocaso das Escolas Famlia Agrcola (EFA) e dasCasas Familiares Rurais (CFR), do que pro-priamente da sugesto de resultados de pes-quisas acadmicas (Furtado, 2003). Um estu-do recente traz uma abordagem detalhadadessas novas experincias no campo da educa-o rural no Brasil, inclusive da Escola Ativa(Bof; Morais; Silva, 2003).

    talvez porque tal compreenso abran-ge tanto os movimentos sociais quanto a pro-duo acadmico-universitria que os novosprogramas de Educao Rural, de iniciativa doEstado ou dos prprios trabalhadores rurais,refletem uma experincia rica em exemplossobre o que faz ou no sentido em educaorural e refletem principalmente a diferena deuma experincia de cuja execuo os prpriosinteressados participam.

    Detenhamo-nos por alguns instantesnas tendncias prticas da educao rural paradepois voltarmos a relacion-las aos estudosproduzidos.

    Uma das novidades dos ltimos anos de iniciativa do Estado (nos mbitos federal, es-tadual e municipal) e visa atender Constituiode 1988, que determina a obrigatoriedade doensino fundamental para todas as crianas. Com-pete, portanto, Unio, estados e municpiosproporcionar meios de acesso educao, garan-tindo, inclusive, o transporte dos alunos do en-sino fundamental. Isso significa que o poder p-blico precisa garantir a igualdade de condiespara o acesso e permanncia dos alunos na es-cola independente do local onde residam.

    Desse modo, a escolinha isolada e assuas classes multisseriadas, que j foram o re-trato mais comum do ensino no meio ruralbrasileiro, vm se tornando cada vez mais ra-ras em muitas regies do pas. Observa-se, emcontrapartida, a aglutinao de escolas e, con-seqentemente, a concentrao de alunos deuma dada rea numa mesma escola de maiorporte, seguindo o modelo do grupo escolarurbano, tornando-se, assim, possvel levar parao campo o ensino fundamental completo, coma incluso do ensino de quinta oitava srie.Tal transformao requer grandes investimentosem dois setores: a) o da construo de escolasmaiores, com vrias salas de aula, para compor-tar os estudantes da microrregio onde a escolase situa e b) o do transporte escolar, servio queos municpios implantaram para cumprir a leique os obriga a manter as crianas na escola. bvio que tal projeto tanto mais vivelquanto maior a concentrao demogrfica dasdiversas reas rurais e, em implantao, no foiainda submetido a uma avaliao mais sistem-tica e profunda.

    A segunda tendncia nasce no seio dosmovimentos sociais e procura atender o princ-pio da adequao do ensino aos interesses daspopulaes rurais. Conforme evidenciam osestudos que discutem o significado da escolarural para o campons (Damasceno, 1995,1998; Brando, 1997; Furtado, 1998; Caldart,1995), o movimento social do campo vemrealizando aes com vistas construo deuma escola pblica sintonizada com os interes-

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    ses dos seus beneficirios, os camponeses. Naconcretizao dessa escola torna-se necessriodeslocar radicalmente os sujeitos e os propsi-tos da educao escolar, colocando no centroos usurios e seus interesses. Isso significa, emltima instncia, que a luta pela escola do tra-balhador rural est intimamente vinculada lutapela superao das desigualdades sociais. Aspesquisas mostram tambm que, embora a re-alizao do projeto poltico-pedaggico daescola do trabalhador rural seja uma tarefacomplexa, o prprio movimento popular vemhistoricamente atuando na sua construo, ten-do em vista que esta nova escola torna-se cadavez mais necessria como instrumento de apoiotcnico, intelectual e poltico nas lutas que oscamponeses travam diariamente. O caminhoapontado para se redimensionar a educaorural consiste em privilegiar o prprio produtorrural (como entidade coletiva na sua atividadereal e nas suas lutas) como sujeito desse pro-cesso de recriao da educao e da escola,visando a recriao da cultura mediante a apro-priao do saber e a reelaborao deste emfuno dos seus interesses.

    No cerne desse processo de reelabo-rao do saber encontra-se a necessidade deuma efetiva articulao entre a prtica peda-ggica realizada pela escola (que deve serredimensionada) e as prticas sociais dos cam-poneses. Isso implica em transformar a esco-la num instrumento que opere a vinculao dosaber sistematizado, dito universal, com o sa-ber alternativo que vem sendo gestado nasprticas das lutas sociais. Assim, como propeArroyo (1987), se quisermos que a escola p-blica no murche ainda mais precisamosenxert-la na rvore vigorosa e florescentedos movimentos sociais, pois esse caminhopermite que o trabalhador passe da condiode receptor para a de produtor do conheci-mento. Na condio de sujeitos que pensama sua histria, esses trabalhadores tm cons-cincia de que escola querem e dos conte-dos intelectuais e morais que ela deve produ-zir e transmitir:

    a escola deveria preparar o aluno para noaceitar essa situao onde poucos tm muito ea maioria no tem nem o que comer (...) sei que difcil mas a escola devia se preocupar com otrabalho da gente, que d duro todo dia; pensoque as professoras e os trabalhadores juntos po-diam fazer uma escola diferente. (Damasceno,1998, p. 140)

    Em suma, na viso de parte dos traba-lhadores rurais, notadamente daqueles que in-tegram o Movimento dos Sem-Terra, o eixo parase buscar a transformao da educao resideem considerar as relaes de trabalho (incluin-do sua dimenso sociopoltica, representadapelas lutas sociais) como as bases a partir dasquais a educao popular como um todo e aescola em particular devem ser repensados.Coerentes com tais diretrizes, as experinciasdirecionadas para a construo da escola dotrabalhador do campo vm privilegiando agesto democrtica da escola pblica nos nveispoltico, administrativo e pedaggico.

    As transformaes ainda em curso naescola pblica rural, em conseqncia das no-vas exigncias constitucionais, esto ainda porser avaliadas pelo prprio fato de no teremainda a abrangncia geogrfica ou o tempo deexperincia indispensvel para isto. Estudossobre outros aspectos da escola rural conti-nuam sendo desenvolvidos porque os proble-mas que os motivam persistem. Desse modo,dentro da relativa escassez que caracteriza osestudos no campo da Educao Rural, h umacerta abundncia de estudos que mostra a pre-cariedade das condies fsicas e intelectuais daescola rural. E, como j mencionamos anterior-mente, em funo do espao que o movimen-to social no campo passou a ter na definiode polticas educacionais rurais, h uma gran-de quantidade de estudos sobre a incompatibi-lidade entre o atual projeto de educao ruraldefinido do ponto de vista das necessidades evalores da cidade e um novo e futuro projetoque considere as necessidades e valores daspopulaes rurais.

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    Os estudos que se concentram em re-lacionar e discutir a discrepncia entre a edu-cao rural oferecida hoje pelo Estado e a de-sejada pelo movimento dos trabalhadoresrurais caracterizam-se, em geral, pela adoo deuma perspectiva terico-metodolgica clara-mente poltica, o que interessante na medidaem que questiona de frente a suposta neutra-lidade cientfica, mas, por outro lado, leva produo de vrios problemas. Por exemplo, h,de um lado, um senso crtico agudssimo quefunciona para a anlise dos projetos e expe-rincias governamentais e, de outro lado, umacerta condescendncia em relao aos projetose experincias populares. Apesar dessas limita-es, esses estudos so importantes porquetrazem tona aspectos da realidade nem sem-pre conhecidos pelos planejadores, emborasaibamos que o conhecimento da realidade nooferece em si nenhuma garantia da sua trans-formao. Ou seja, no por desconhecimen-to da realidade que as polticas sociais soprecrias, mas porque os recursos pblicos di-rigidos ao trabalho e sua reproduo soevidentemente limitados numa sociedade que secaracteriza pela explorao do trabalho pelocapital. Isso no significa que as massas traba-lhadoras no possam, aqui e ali, e em funodo seu poder de presso, ampliar os seus direi-tos, mas no podemos esquecer que nessestempos de polticas neoliberais as conquistaspopulares tm ficado cada vez mais restritas.

    Esses estudos, portanto, denunciamfatos e apontam caminhos, mas no preenchemas tantas lacunas existentes no projeto de umconhecimento mais abrangente e mais profun-do da educao rural ou educao no campo,como alguns pesquisadores e polticos preferemnome-la em funo da abrangncia exagera-da e contedo poltico do termo rural. Nessesentido, no seria extravagante propor um pro-grama de ao afirmativa para essa rea deestudos. A exemplo de outras reas, como a daEducao Afrodescendente, seria de fundamen-tal importncia para o fortalecimento da reaque as instituies financiadoras de pesquisa

    abrissem concursos ou programas especficos depesquisa sobre a educao rural e que o Minis-trio da Educao oferecesse incentivo especialaos estudantes e pesquisadores que escolhes-sem enfrentar tal temtica.

    Uma vez criadas as condies de pes-quisa, h uma diversidade de temas cujo desen-volvimento levaria o conhecimento sobre aeducao rural para um outro patamar. Umprimeiro aspecto a se considerar atualmente o de que, ao contrrio de outros perodos his-tricos, este particularmente favorvel tarefade se repensar o rural/campo porque a crise daurbanizao e a incipiente conscincia da ne-cessidade de um desenvolvimento sustentvelcriaram um espao especial para isto. Por ou-tro lado, a prpria organizao camponesacriou efetivamente as condies para se repen-sar o campo sobre bases no necessariamenteurbanas. Considerados esses aspectos, e os jdiscutidos ao longo do artigo, sugerimos que,alm dos temas mais comumente explorados,que so os relacionados no Quadro 1, seria deenorme utilidade a produo de estudos sobrea histria da educao rural nas diversas re-gies brasileiras.11 Estudos mais abrangentes,que incluam dados quantitativos e qualitativos,tambm fariam grande diferena para um co-nhecimento mais profundo sobre a rea. Final-mente, considerando a extrema variedade docampo brasileiro, fundamental a produo deestudos etnogrficos que ofeream elementospara uma ao mais eficaz tanto do Estadoquanto dos movimentos sociais. A organizaode grupos de pesquisa interregionais que pos-sam desenvolver estudos comparativos tambmajudaria bastante a mudar favoravelmente opanorama do conhecimento sobre a educaorural no Brasil e, conseqentemente, esperamos,influenciar a realizao de novas e mais ade-quadas polticas educacionais para o campo.

    11. Embora no tenham aparecido na nossa amostra em nmero sufici-ente para figurarem entre as temticas dominantes, nos ltimos cinco anos,os estudos sobre juventude rural tm cada vez mais ocupado a ateno dosestudiosos. Infelizmente a nossa anlise interrompe-se no ano de 1998.Ver, entre outros, Andrade (1998).

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    Recebido em 05.03.04Aprovado em 28.04.04

    Maria Nobre Damasceno doutora em educao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisadora do CNPqe professora colaboradora do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Cear.

    Bernadete Beserra PhD em Antropologia pela Universidade da Califrnia, professora-adjunta da Universidade Federaldo Cear.