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4 A CIDADE SEGUNDA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE 2016 Especial BULLYING ESCOLA PREVENÇÃO LEI CYBERBULLYING AGRESSÕES EDUCAÇÃO LEI Combate ao bullying começa na escola JACQUELINE PIOLI [email protected] O início do ano letivo veio acompanhado de uma nova lei, que institui o Programa de Combate ao Bullying. Sancio- nada em novembro de 2015, a Lei º 13.185 passou a vigorar este mês em todo País. Ela es- tabelece que as instituições de ensino promovam medidas de conscientização, prevenção e combate às violências física e psicológica. Segundo a advogada Patrí- cia Peck Pinheiro, especialista em Direito Digital, a partir de agora, ao não realizar medi- das preventivas exigidas pela lei, as instituições podem ser responsabilizadas por omis- são e negligência, aumentan- do as chances de perderem processos que envolvem casos de bullying. “A importância da nova lei é justamente ser uma políti- ca preventiva, que tem como foco promover a mudança de comportamento hostil, espe- cialmente nas instituições de ensino, privilegiando meca- nismos e instrumentos alter- nativos para combater a práti- ca da intimidação sistemática, inclusive na esfera digital” , ex- plica Patrícia. Porém, para a psicóloga Danielle Zeoti, além das esco- las, agressores e pais também deveriam ser responsabiliza- dos e punidos por seus atos e omissões, respectivamente. (Leia na análise ao lado). A advogada Patrícia Peck enfatiza que é essencial ensi- nar os filhos a não resolver os problemas de maneira agres- siva e a não ceder à atitude hostil dos colegas, tanto no ambiente online como no off- -line. “É necessário ensinar as regras do jogo, sobre as leis vigentes e sobre ética, ainda mais neste mundo que está cada vez mais digital e em re- de” . O cyberbullying, ou bullying virtual, é citado na nova lei. Atualmente, segundo a advogada, o Judiciário Brasi- leiro tem punido severamente casos envolvendo ofensa, dis- criminação ou ameaça digi- tais, com indenizações que va- riam de R$ 10 mil a R$ 30 mil, além de aplicar medidas so- cioeducativas com base no Es- tatuto da Criança e do Adoles- cente. “Lembrando que quem curte ou compartilha a ofen- sa também responde judicial- mente” , diz Patrícia. A nova lei prevê que sejam produzidos e publicados rela- tórios bimestrais das ocorrên- cias de bullying nos estados e municípios para planejamen- to das ações. Nova legislação diz que instituições de ensino devem atuar na prevenção dos casos de bullying BULLYING 1 Agressões sofridas por ser gago “No início de 2015 começaram as agressões verbais porque ele era gago e não sabia ler. Depois, ele foi agre- dido fisicamente, até que no dia 10 de novembro, bate- ram nele e o arrastaram. A direção da escola nada fez. Ele estudava na escola municipal Dr. Paulo Monte Serrat Fi- lho. Hoje, prefiro pagar uma escola particular e também pago um tratamento psicológico. Não confio mais no poder público. Antes, meu filho chorava para ir à esco- la. Hoje, é ele quem me acorda para levá-lo”. Viviana Ribeiro, 41 anos, esteticista, mãe do Pedro, 8 anos, vítima de bullying na escola FOTOS MASTRANGELO REINO / A CIDADE ANÁLISE Pais devem estar atentos “A nova lei define cate- goricamente o bullying como intimidações, humi- lhações e agressões físicas, psicológicas e virtuais que sejam sistemáticas, repeti- das vezes. E, pela primeira vez, o cyberbullying é citado com o mesmo peso do bullying. O que me incomoda nesta nova lei é que ela coloca a responsabilidade da prevenção e resolução dos conflitos nas escolas. Eu acredito que tem que ser um conjunto de atitudes e responsáveis: escola, sociedade e pais. Os pais devem estar aten- tos às reações do filho: mudanças de comporta- mento, isolamento social, perda no rendimento acadêmico e fobia escolar são sinais de que o filho está sofrendo bullying. Também é importante que os pais saibam identificar quando o filho é o agres- sor. A lei me incomoda tam- bém porque não há puni- ção. A lei foi criada, o crime tipificado, a respon- sabilidade dada às esco- las, mas não há punição prevista para as escolas, os agressores e os pais envol- vidos. Sem a punição, a vítima fica ainda mais indefesa. A punição também é impor- tante para que o agressor saiba as consequências do seu ato. Isso intimida o agressor e se ele for con- denado, pensará no seu ato e terá a possibilidade de reparar o seu erro. Esse é o grande passo para a mudança”. Danielle Zeoti Psicóloga BULLYING 1 Até professores usavam o apelido “Eu gostava de levar uma banana para comer no re- creio. As crianças começaram a me chamar de ‘mica’ por causa disso. Elas implicavam comigo porque eu era po- bre e estudava como bolsista num dos colégios mais ca- ros de Cuiabá (MT). Eu tinha 10 anos. Sofri sozinha, não contei com o apoio dos professores. Eles mesmos grita- vam na sala: hoje a mica está aí, olha o cheiro de bana- na. Meus pais não queriam nem saber. Hoje, não passo nem perto de bananas. Acredito que uma lei para discu- tir o bullying é importante para que as crianças de hoje não sofram com traumas como o meu”. Carolina Botelho Souza, 39 anos, babá de animais. Sofreu bullying na escola quando criança Escolas adotam medidas Os responsáveis pelas escolas municipais, esta- duais e particulares de Ri- beirão Preto afirmam que já realizam ações de com- bate ao bullying nas insti- tuições. A Secretaria Municipal da Educação diz estar tra- balhando na produção de materiais sobre o bullying e que estes serão utiliza- dos na formação continu- ada dos professores. “Atu- almente, todas as escolas da rede municipal já traba- lham a questão junto aos alunos, de forma a prevenir a ocorrência de bullying no ambiente escolar, ação que deve ser fortalecida no de- correr do ano letivo” , afir- mou a assessoria de im- prensa da pasta. Já a Secretaria de Es- tado da Educação diz que as ações de combate ao bullying são realizadas des- de 2009 com a implanta- ção do programa Sistema de Proteção Escolar. Em 2010, a pasta também criou a função do “professor-me- diador” , profissional capa- citado para o acompanha- mento de atividades res- taurativas e de promoção à cultura de paz no ambien- te escolar. Na região de Ri- beirão, 58 professores atu- am nessa função. Segundo o presidente do Sindicato dos Estabele- cimentos de Ensino no Es- tado de São Paulo, Benja- min Ribeiro da Silva, des- de 2002, as instituições par- ticulares trabalham para combater o bullying nas sa- las de aula. “Quarenta mil professores são capacita- dos por ano e nessa capa- citação temos falado muito sobre o bullying” . (16) 99117 7802 Você já foi vítima de bullying ou conhece alguém que já foi? Envie sua história pelo WhatsApp jornalacidade.com.br Confira em nosso site um vídeo com histórias de quem já passou por uma situação de bullying. O QUE É BULLYING? Todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo, que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. Segundo a Secretaria Municipal da Educação, após sindicân- cia, ficou constatado que não houve negligência por parte da direção escolar e equipe pedagógica. A pasta diz também que a família recebeu total apoio. OUTRO LADO OBJETIVOS LEI Prevenir e combater o bullying em toda a sociedade; capacitar docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema; implementar campanhas de conscientização; instituir práticas de orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores; dar assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores. O QUE É O CYBERBULLYING? Depreciar, enviar mensagens invasivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social. FONTE: PROGRAMA DE COMBATE AO BULLYING

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4 A CIDADE SEGUNDA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE 2016

Especial BULLYING

ESCOLA

PREVENÇÃO

LEI

CYBERBULLYING

AGRESSÕES

EDUCAÇÃO LEI

Combate ao bullying começa na escola

JACQUELINE [email protected]

O início do ano letivo veioacompanhado de uma novalei, que institui o Programa deCombate ao Bullying. Sancio-nada em novembro de 2015,a Lei º 13.185 passou a vigorareste mês em todo País. Ela es-tabelece que as instituições deensino promovam medidas deconscientização, prevenção ecombate às violências física epsicológica.

Segundo a advogada Patrí-cia Peck Pinheiro, especialistaem Direito Digital, a partir deagora, ao não realizar medi-das preventivas exigidas pelalei, as instituições podem serresponsabilizadas por omis-são e negligência, aumentan-do as chances de perderemprocessos que envolvem casosde bullying.

“A importância da nova leié justamente ser uma políti-ca preventiva, que tem comofoco promover a mudança decomportamento hostil, espe-cialmente nas instituições deensino, privilegiando meca-nismos e instrumentos alter-nativos para combater a práti-ca da intimidação sistemática,inclusive na esfera digital”, ex-plica Patrícia.

Porém, para a psicólogaDanielle Zeoti, além das esco-las, agressores e pais tambémdeveriam ser responsabiliza-dos e punidos por seus atose omissões, respectivamente.(Leia na análise ao lado).

A advogada Patrícia Peckenfatiza que é essencial ensi-nar os filhos a não resolver osproblemas de maneira agres-siva e a não ceder à atitudehostil dos colegas, tanto noambiente online como no off--line. “É necessário ensinar asregras do jogo, sobre as leisvigentes e sobre ética, aindamais neste mundo que estácada vez mais digital e em re-de”.

O cyberbullying, oubullying virtual, é citado nanova lei. Atualmente, segundoa advogada, o Judiciário Brasi-leiro tem punido severamentecasos envolvendo ofensa, dis-criminação ou ameaça digi-tais, com indenizações que va-riam de R$ 10 mil a R$ 30 mil,além de aplicar medidas so-cioeducativas com base no Es-tatuto da Criança e do Adoles-cente. “Lembrando que quemcurte ou compartilha a ofen-sa também responde judicial-mente”, diz Patrícia.

A nova lei prevê que sejamproduzidos e publicados rela-tórios bimestrais das ocorrên-cias de bullying nos estados emunicípios para planejamen-to das ações.

Nova legislação dizque instituições deensino devem atuarna prevenção doscasos de bullying

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Agressões sofridas por ser gago“No início de 2015 começaram as agressões verbais

porque ele era gago e não sabia ler. Depois, ele foi agre-dido fisicamente, até que no dia 10 de novembro, bate-ram nele e o arrastaram. A direção da escola nada fez. Eleestudava na escola municipal Dr. Paulo Monte Serrat Fi-lho. Hoje, prefiro pagar uma escola particular e tambémpago um tratamento psicológico. Não confio mais nopoder público. Antes, meu filho chorava para ir à esco-la. Hoje, é ele quem me acorda para levá-lo”.Viviana Ribeiro, 41 anos, esteticista, mãe do Pedro, 8 anos, vítima de bullying na escola

FOTOS MASTRANGELO REINO / A CIDADE

Combate ao bullying começa na escola

ANÁLISE

Pais devem estar atentos“A nova lei define cate-goricamente o bullyingcomo intimidações, humi-lhações e agressões físicas,psicológicas e virtuais quesejam sistemáticas, repeti-das vezes. E, pela primeiravez, o cyberbullying écitado com o mesmo pesodo bullying.O que me incomoda nestanova lei é que ela colocaa responsabilidade daprevenção e resolução dosconflitos nas escolas. Euacredito que tem que serum conjunto de atitudese responsáveis: escola,sociedade e pais.Os pais devem estar aten-tos às reações do filho:mudanças de comporta-mento, isolamento social,perda no rendimentoacadêmico e fobia escolarsão sinais de que o filhoestá sofrendo bullying.Também é importante que

os pais saibam identificarquando o filho é o agres-sor.A lei me incomoda tam-bém porque não há puni-ção. A lei foi criada, ocrime tipificado, a respon-sabilidade dada às esco-las, mas não há puniçãoprevista para as escolas, osagressores e os pais envol-vidos.Sem a punição, a vítimafica ainda mais indefesa. Apunição também é impor-tante para que o agressorsaiba as consequências doseu ato. Isso intimida oagressor e se ele for con-denado, pensará no seuato e terá a possibilidadede reparar o seu erro. Esseé o grande passo para amudança”.

Danielle ZeotiPsicóloga

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Até professores usavam o apelido“Eu gostava de levar uma banana para comer no re-

creio. As crianças começaram a me chamar de ‘mica’ porcausa disso. Elas implicavam comigo porque eu era po-bre e estudava como bolsista num dos colégios mais ca-ros de Cuiabá (MT). Eu tinha 10 anos. Sofri sozinha, nãocontei com o apoio dos professores. Eles mesmos grita-vam na sala: hoje a mica está aí, olha o cheiro de bana-na. Meus pais não queriam nem saber. Hoje, não passonem perto de bananas. Acredito que uma lei para discu-tir o bullying é importante para que as crianças de hojenão sofram com traumas como o meu”.Carolina Botelho Souza, 39 anos, babá de animais. Sofreu bullying na escola quando criança

Escolas adotam medidasOs responsáveis pelas

escolas municipais, esta-duais e particulares de Ri-beirão Preto afirmam quejá realizam ações de com-bate ao bullying nas insti-tuições.

A Secretaria Municipalda Educação diz estar tra-balhando na produção demateriais sobre o bullyinge que estes serão utiliza-dos na formação continu-ada dos professores. “Atu-almente, todas as escolasda rede municipal já traba-lham a questão junto aosalunos, de forma a prevenira ocorrência de bullying noambiente escolar, ação quedeve ser fortalecida no de-correr do ano letivo”, afir-mou a assessoria de im-prensa da pasta.

Já a Secretaria de Es-tado da Educação diz queas ações de combate ao

bullying são realizadas des-de 2009 com a implanta-ção do programa Sistemade Proteção Escolar. Em2010, a pasta também crioua função do “professor-me-diador”, profissional capa-citado para o acompanha-mento de atividades res-taurativas e de promoção àcultura de paz no ambien-te escolar. Na região de Ri-beirão, 58 professores atu-am nessa função.

Segundo o presidentedo Sindicato dos Estabele-cimentos de Ensino no Es-tado de São Paulo, Benja-min Ribeiro da Silva, des-de 2002, as instituições par-ticulares trabalham paracombater o bullying nas sa-las de aula. “Quarenta milprofessores são capacita-dos por ano e nessa capa-citação temos falado muitosobre o bullying”.

(16) 99117 7802Você já foi vítima de bullying ouconhece alguém que já foi? Envie suahistória pelo WhatsApp

jornalacidade.com.brConfira em nosso site um vídeo comhistórias de quem já passou poruma situação de bullying.

O QUE É BULLYING?Todo ato de violência física ou psicológica, intencional

e repetitivo, que ocorre sem motivação evidente,praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou maispessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la,

causando dor e angústia à vítima, em uma relação dedesequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

Segundo a Secretaria Municipal da Educação, após sindicân-cia, ficou constatado que não houve negligência por parte dadireção escolar e equipe pedagógica. A pasta diz também quea família recebeu total apoio.

OUTRO LADO

OBJETIVOS LEIPrevenir e combater o bullying em toda a sociedade;

capacitar docentes e equipes pedagógicas para aimplementação das ações de discussão, prevenção,

orientação e solução do problema; implementarcampanhas de conscientização; instituir práticas de

orientação de pais, familiares e responsáveis diante daidentificação de vítimas e agressores; dar assistência

psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores.

O QUE É O CYBERBULLYING?Depreciar, enviar mensagens invasivas da

intimidade, enviar ou adulterar fotos e dadospessoais que resultem em sofrimento ou como intuito de criar meios de constrangimento

psicológico e social.FONTE: PROGRAMA DE COMBATE AO BULLYING