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EFEITO DA AURICULOTERAPIA NA
PERTURBAO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
Paula Cristiana Teixeira Pinto
Porto, 2015
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
2
Paula Cristiana Teixeira Pinto
EFEITO DA AURICULOTERAPIA
NA PERTURBAO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
Estudo prospectivo, randomizado, controlado e cego
Dissertao de Candidatura ao Grau de Mestre em
Medicina Tradicional Chinesa submetida ao Instituto
de Cincias Biomdicas Abel Salazar da
Universidade do Porto
Orientador: Henry Johannes Greten
Categoria: Professor Associado Convidado
Afiliao: Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar
da Universidade do Porto
Co Orientador: Nuno Correia
Categoria: Assistente Hospitalar de Medicina Interna;
Professor Auxiliar Convidado
Afiliao: Hospital Privado de Gaia e Escola Superior de
Enfermagem do Porto
Co Orientadora: Maria Joo Rodrigues Ferreira Rocha
dos Santos
Categoria: Mestre de Medicina Tradicional Chinesa
Afiliao: Heidelberg School of Traditional Chinese
Medicine
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
3
RESUMO
Introduo: As perturbaes de ansiedade so responsveis por 17% das doenas
mentais em Portugal. A perturbao de ansiedade generalizada (PAG) caracterizada
pela preocupao persistente e excessiva sobre questes quotidianas durante pelo
menos 6 meses. A eficcia dos tratamentos farmacolgicos e psicoteraputicos
limitada e os efeitos colaterais dos frmacos podem reduzir a adeso do paciente. De
acordo com o Modelo de Heidelberg, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) um
sistema de sensaes e achados destinados a estabelecer um estado vegetativo
funcional que pode ser tratado por acupunctura. A acupunctura auricular (AA), um
microssistema de acupunctura, tem sido usada para tratar a ansiedade. No entanto, a
evidncia sobre os seus efeitos clnicos limitada e o seu mecanismo fisiolgico no
est esclarecido.
Objetivos: (1) Avaliar a eficcia da AA na ansiedade dos pacientes com PAG e (2)
Avaliar a influncia da AA sobre o sistema nervoso autnomo.
Metodologia: Foi realizado um pr-estudo clnico com um desenho randomizado, cego
e controlado. A partir da consulta de ambulatrio de Psiquiatria do Hospital Privado de
Alfena, 26 voluntrios foram recrutados e randomizados em 2 grupos: Grupo 1
Experimental - AA (n = 14); Grupo 2 Sham - AA (n = 12). Antes do tratamento, os
sintomas foram avaliados pela escalas IDATE e GAD7, e os parmetros autonmicos
atravs da medio da Variabilidade da Frequncia Cardaca (VFC). O Grupo 1 recebeu
tratamento AA com agulhas semi-permanentes nos pontos "diazepam", "parnquima
pulmonar", "psicossomtico", "ansiedade" e "alegria". O Grupo 2 recebeu AA
falsa/sham, com igual nmero de agulhas sobre os pontos mos, ps e ombros.
Aps 7 dias, a ansiedade e os parmetros autonmicos foram re-avaliados.
Resultados: Verificou-se uma reduo dos valores psicomtricos na subescala
ansiedade-trao do IDATE no Grupo 1 (p = 0,039) e tambm dos sintomas avaliados
pela GAD 7 em ambos os grupos (p = 0,007 e p
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
4
ABSTRACT
Background: Anxiety disorders are responsible for 17% of mental disorders in Portugal.
Generalized Anxiety Disorder (GAD) is characterized by persistent, excessive, and
unrealistic worry about everyday things. The efficacy of pharmacological and
psychotherapeutic treatments is limited and drugs side effects may reduce patients
compliance. According to the Heidelberg Model, Traditional Chinese Medicine is a
system of sensations and findings designed to establish a functional vegetative state,
which can be treated by acupuncture. Ear Acupuncture (EA), a microsystem of
acupuncture, has been used to treat anxiety. However, there is limited evidence about
its clinical effects and its physiological mechanism remains unclear.
Objectives: (1) Evaluate the efficacy of EA in the anxiety of patients with GAD and (2)
Evaluate the influence of EA on the autonomic nervous system.
Methodology: We conducted a clinical pre-study with a randomized, controlled and
single blinded design. From the Psychiatry outpatient clinic of Hospital Privado de Alfena,
26 volunteers were recruited and where randomized into two groups: Group 1
Experimental (n=14) and Group 2 Sham (n=12). Before the treatment, the scales STAI
and GAD7 assessed anxiety symptoms, and autonomic parameters were evaluated by
measuring Heart Rate Variability (HRV). Group 1 received EA treatment with semi-
permanent needles on points diazepam, pulmonary parenchyma, psychosomatic,
anxiety and joy. Group 2 received Sham-EA with equal number of permanent needles
on the points of the hands, feet and shoulder. After 7 days, anxiety and autonomic
parameters were re-assessed.
Results: There was a reduction on the psychometric values on the subscale anxiety-trait
of STAI on Group 1 (p=0.039) and also on the symptoms assessed by GAD 7 in both
groups (p=0.007 and p
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
5
AGRADECIMENTOS
No final desta odisseia pautada por dvidas, incertezas e dificuldades logsticas,
realo a importncia de algumas pessoas cujo auxlio valioso contribuiu para a
concretizao desta tese. Agradeo profunda e genuinamente:
- Ao Professor Greten, mente brilhante e pessoa carismtica, pela partilha generosa do
seu saber e por ser uma fonte de inspirao;
- Ao Dr Nuno Correia, elemento agregador fundamental para o desenvolvimento da tese,
pela orientao, partilha de conhecimentos e boa disposio;
- Ao Dr Jacinto Azevedo, por ter possibilitado o recrutamento dos seus doentes, pelo
esclarecimento de dvidas e pela amabilidade e simpatia;
- Mestre Maria Joo Santos, incansvel, pelo seu contributo na auriculoterapia e pelo
seu incentivo e solidariedade;
- Ao Professor Jorge Machado, pelo entusiasmo e incentivo;
- Ao Bruno Ramos pela disponibilidade, simpatia e auxlio no tratamento estatstico dos
dados;
- minha amiga Ana Miguel, fonte inesgotvel de incentivo e motivao;
- Aos doentes que, no obstante as dificuldades que sentem no quotidiano, aceitaram
participar de forma generosa e dedicada no estudo;
- A todas as pessoas que de alguma forma influenciaram o meu crescimento pessoal e
profissional.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
6
Abreviaturas, Acrnimos e Siglas
5HTTLPR - polimorfismo do promotor de alongamento do transportador de serotonina
AA- Acupunctura Auricular
DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
ECG Eletrocardiograma
et al e outros
EVA Escala Visual Analgica
GABA cido gama-aminobutrico
GAD 7 Escala Generalized Anxiety Disorder
HF High Frequency
IDATE Inventrio de Ansiedade Trao-Estado
IRSN Inibidor da Recaptao de Serotonina-Noradrenalina
ISRS Inibidor Seletivo da Recaptao de Serotonina
LF Low Frequency
MTC Medicina Tradicional Chinesa
OMS Organizao Mundial de Sade
PAG Perturbao de Ansiedade Generalizada
SNA Sistema Nervoso Autnomo
SNS Servio Nacional de Sade
TNF Tumor Necrose Factor / Factor de Necrose Tumoral
VFC Variabilidade da Frequncia Cardaca
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
7
NDICE
INTRODUO 10
CAPTULO I - REVISO DA LITERATURA 12
1.ANSIEDADE 13
2.PERTURBAO DE ANSIEDADE GENERALIZADA 14
2.1. Patognese 16
2.2. Avaliao e Diagnstico 19
2.3. Tratamento 19
2.3.1 Tratamento Farmacolgico 19
2.3.2. Psicoterapia 20
3. MEDICINA TRADICIONAL CHINESA MODELO DE HEIDELBERG 22
3.1. Perturbaes emocionais na MTC 30
3.1.1 A Ansiedade na MTC 33
4. ACUPUNCTURA AURICULAR/ AURICULOTERAPIA 34
4.1. Pontos de Acupunctura 36
4.2. Inervao do Pavilho Auricular 37
4.3. Mecanismos de Ao da Acupunctura Auricular 38
4.4. A Acupunctura Auricular na Ansiedade 40
CAPTULO II PROTOCOLO DE INVESTIGAO CLNICA 42
1. Questo de Investigao 43
2. Objetivos Principais 43
3. Objetivos Especficos 43
4. Hipteses de Investigao 43
5. Amostra 43
6. Critrios de Elegibilidade 44
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
8
7. Desenho do Estudo 45
8. Instrumentos 47
8.1. Inventrio de Ansiedade Trao-Estado IDATE 47
8.2. Escala Generalized Anxiety Disorder GAD 7 47
8.3. Avaliao da Variabilidade da Frequncia Cardaca 48
8.4. Protocolo de Acupunctura Auricular 50
8.4.1. Protocolo de Acupunctura Auricular do Grupo 1 50
8.4.2.Protocolo de Acupunctura Auricular do Grupo 2 51
9. Materiais 52
10. Consideraes ticas 53
11. Anlise Estatstica 53
CAPITULO III RESULTADOS 54
1. CARACTERIZAO DA AMOSTRA 55
2. ESTATSTICA INFERENCIAL 57
IV DISCUSSO 61
V CONCLUSO 65
VI LIMITAES DO ESTUDO 66
VII BIBLIOGRAFIA 67
ANEXOS
ANEXO 1 Inventrio de Ansiedade Trao Estado (IDATE)
ANEXO 2 Escala Generalized Anxiety Disorder (GAD7)
ANEXO 3 Consentimento Informado
ANEXO 4 Declarao do Hospital de Alfena
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
9
NDICE DE FIGURAS
Figura 1 Linguagem binria aplicada aos movimentos vegetativos circulares 23
Figura 2 Atividade Vegetativa no Homem 24
Figura 3 Os quatro componentes do diagnstico em MTC 28
Figura 4 Correspondncias Somatotpicas 35
Figura 5 A inervao do pavilho auricular 37
Figura 6 Mecanismo de AA 39
Figura 7 Ilustrao do Protocolo de AA do Grupo 1 Experimental 51
Figura 8 - Ilustrao do Protocolo de AA do Grupo 2 Sham 52
NDICE DE GRFICOS
Grfico 1 Evoluo dos parmetros psicomtricos 58
Grfico 2 Evoluo dos parmetros fisiolgicos LF e HF 60
Grfico 3 Evoluo dos parmetros fisiolgicos SDNN e LF/HF 60
NDICE DE QUADROS
Quadro 1 Caractersticas das Fases 26
Quadro 2 ndices de VFC no domnio do tempo 49
Quadro 3 Caracterizao sociodemogrfica da amostra 55
Quadro 4 Caracterizao da amostra segundo as comorbilidades dos doentes 56
Quadro 5 Resultados da avaliao dos parmetros psicomtricos e fisiolgicos antes da AA 57 Quadro 6 Comparao dos resultados psicomtricos antes e depois da AA, entre grupos 58
Quadro 7 Comparao dos parmetros fisiolgicos antes e depois da AA, entre grupos 59
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
10
INTRODUO
As perturbaes psiquitricas e os problemas relacionados com a sade mental
so, com base nos estudos epidemiolgicos da ltima dcada, a principal causa de
incapacidade e uma das principais causas de morbilidade e mortalidade prematura,
principalmente nos pases ocidentais industrializados [2].
Considerando apenas a componente da morbilidade, as doenas do foro mental
e do comportamento representam 21% da morbilidade e incapacidade dos portugueses,
verificando-se que as perturbaes de ansiedade correspondem a 17% das
perturbaes do foro psiquitrico [1].
Os doentes com Perturbao de Ansiedade Generalizada (PAG) referem uma
ansiedade excessiva nas situaes quotidianas. Esta ansiedade intrusiva e causa
stress e incapacidade funcional, afetando diversos domnios da vida dos indivduos
(afetivo, profissional, etc.). acompanhada por sintomas fsicos como perturbaes do
sono, inquietude, tenso muscular, sintomas gastrointestinais e cefaleias crnicas [11].
O curso da doena varivel e flutuante, evoluindo habitualmente para a
cronicidade.
O tratamento convencional inclui frmacos e psicoterapia.
Em Portugal, os medicamentos que atuam no Sistema Nervoso Central
constituem um dos grupos teraputicos com maior peso no consumo do Servio
Nacional de Sade (SNS) em ambulatrio e com uma tendncia global de crescimento
[3].
No obstante os resultados positivos obtidos com os psicofrmacos, muitos
doentes continuam a apresentar sintomas [4].
As benzodiazepinas e os inibidores seletivos da recaptao da serotonina (ISRS)
so os medicamentos mais utilizados no tratamento da PAG e alguns dos seus efeitos
secundrios mais comuns tolerncia, dependncia, sintomas de abstinncia
(benzodiazepinas), tonturas, cefaleia, sonolncia (buspirona), fadiga e tontura
(betabloqueadores), inquietude e aumento ponderal (ISRS), dificultam o cumprimento
teraputico e contribuem para que um nmero cada vez maior de doentes procure uma
alternativa [30, 44].
A procura por tratamentos complementares ou alternativos aos tratamentos
convencionais tem aumentado, particularmente nos indivduos com doena mental. No
entanto, a sua eficcia controversa e ainda no existe evidncia cientfica sustentada
de que estes tratamentos possam oferecer vantagens aos seus utilizadores, embora
comecem a surgir estudos promissores [4].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
11
Encontraram-se alguns resultados positivos sobre o uso da acupunctura corporal
no tratamento do PAG e da ansiedade neurtica, mas a investigao ainda escassa e
sem evidncia que permita retirar concluses firmes. Verifica-se que h uma ligeira
evidncia a favor da acupunctura auricular na reduo da ansiedade pr-operatria [6].
A acupunctura auricular ou auriculoterapia um microssistema de acupunctura
no qual o diagnstico, a profilaxia e o tratamento das diferentes patologias so efetuados
no pavilho auricular. utilizada no tratamento de vrias patologias e sintomas,
nomeadamente a dor, ansiedade e adies. Permite obter resultados rpidos e a sua
simplicidade e portabilidade tornam-na um mtodo teraputico complementar adequado
para uso em ambulatrio [44].
Uma vez que, at data, ainda no existe investigao acerca da potencial
eficcia da auriculoterapia no tratamento de doentes com PAG, este estudo pioneiro
pretende averiguar se efetivamente a acupunctura auricular diminui os sintomas de
ansiedade e atua modelando a resposta vagal do sistema nervoso autnomo,
caracterizando-se por ser preliminar, prospectivo, randomizado, controlado e cego.
A teoria subjacente de Medicina Tradicional Chinesa em que se baseia este
estudo o Modelo de Heidelberg.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
12
CAPTULO I
- REVISO BIBLIOGRFICA-
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
13
1. ANSIEDADE
Os conceitos de medo e ansiedade encontram-se frequentemente associados
por partilharem caractersticas subjetivas, comportamentais, psicolgicas e
neurolgicas, embora haja diferenas fundamentais que os separam.
O medo corresponde a uma resposta de alarme, manifestando-se por um
comportamento de fuga ou luta, a um perigo presente ou eminente (real ou percebido)
[7, 24]. acompanhado por uma ativao intensa a uma ameaa imediata e identificada
[24].
A ansiedade um estado de esprito orientado para o futuro, manifestando-se
por um estado mais prolongado de tenso, preocupao e apreenso acerca de eventos
futuros incertos e eventualmente negativos [7, 24].
Pode existir uma sobreposio destes dois estados, com o medo mais associado
ativao autonmica de fuga ou luta, pensamentos ou raiva imediata, e a ansiedade
manifestando-se por tenso muscular e vigilncia, em preparao para um perigo futuro
e precaues ou comportamentos evitantes [5].
Estas manifestaes so comuns s que se observam nos animais. A ansiedade
corresponde ao estado do animal durante um potencial ataque predatrio, e o medo
reflete o estado do animal durante o contato ou o contato iminente com o predador [7].
O medo permite-nos combater ou evitar ameaas imediatas ou perigos,
enquanto a ansiedade aumenta a vigilncia e melhora a nossa habilidade para identificar
ameaas potenciais ou incertas, sendo ambos mecanismos evolucionrios que nos
ajudam a manter em segurana [24].
Darwin considerava que a ansiedade estava presente num contnuo em todas
as espcies animais (sem a distinguir do medo), sendo um mecanismo adaptativo para
lidar com o perigo e lutar pela sobrevivncia [8].
As perturbaes de ansiedade podem desenvolver-se quando a resposta ao
medo ou ansiedade so excessivas ou quando ocorrem na ausncia de ameaas reais,
imediatas ou futuras [24].
Os ataques de pnico so uma resposta particular de medo que acompanham
predominantemente os distrbios de ansiedade, embora possam cursar com outros
problemas mentais [5].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
14
Os modelos tericos atuais de ansiedade tm origem e baseiam-se nalguns
autores do sculo XIX.
Em 1813, Landr-Beauvais definiu a ansiedade como um certo mal-estar,
inquietude, agitao excessiva.
No final do sculo XIX, Freud distinguiu dois tipos de ansiedade, a ansiedade
objetiva, relacionada com o meio ambiente e a ansiedade neurtica, com origem
exclusiva intrapsquica, relacionada muitas vezes com um conflito sexual reprimido e ou
no resolvido.
Os modelos atuais seguem duas hipteses: a da ansiedade vista como resposta
a um estmulo especfico (situaes, pensamentos, emoes) e a da ansiedade como
resposta emocional em si, independente do estmulo. Neste mbito, integram-se o
modelo de ansiedade de Goldstein, o modelo de ansiedade trao/estado e o modelo
transacional do stress de Lazarus [8].
2. PERTURBAO DE ANSIEDADE GENERALIZADA
Tanto na Europa como nos Estados Unidos, as perturbaes de ansiedade
representam o grupo de doenas mentais mais prevalente, com uma prevalncia anual
de 12% e 18,1%, respetivamente, na populao adulta [9, 61].
As perturbaes de ansiedade esto relacionados com o aumento de 3 a 4 vezes
do risco de desenvolver doenas cardiovasculares, independentemente do sexo, do
estilo de vida, e da depresso, e o risco de mortalidade cardaca o dobro [14].
Segundo o Diagnostic and Statistical Manual Of Mental Disorders 5 (DSM-5), a
prevalncia da Perturbao de Ansiedade Generalizada (PAG) durante 12 meses a nvel
mundial varia entre 0,4 a 3,6 %. duas vezes mais comum no sexo feminino e a
perturbao de ansiedade mais prevalente nos idosos [14].
Na Europa, a prevalncia ao longo da vida desta perturbao de 2,8% e nos
Estados Unidos 5,1%, sendo provavelmente a que apresenta uma maior
comorbilidade com outra doena mental, como a depresso, fobia especfica e fobia
social, perturbao de pnico e perturbaes relacionadas com o consumo de
substncias. Num estudo americano, 66% dos indivduos com PAG tinham pelo menos
outra comorbilidade [14, 61].
A preocupao excessiva e incontrolvel na maior parte dos dias durante pelo
menos 6 meses o sintoma cardinal da doena [10].
A ambiguidade e diversidade de fontes de stress e ansiedade distinguem-na de
outras perturbaes de ansiedade [24].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
15
Estes doentes apresentam uma distoro na sua percepo dos riscos e das
ameaas, particularmente aqueles que se relacionam com a sua sade, segurana e
bem estar individual e dos seus familiares mais prximos. Habitualmente, os
componentes mais frequentes da sua preocupao so as relaes familiares e
interpessoais, trabalho, escola, economia e sade [11].
A componente cognitiva pode manifestar-se atravs de estratgias de coping
pobres, ansiedade de performance, irritabilidade, hipersensibilidade ao criticismo,
dificuldade de concentrao e uma autoimagem negativa.
So observadas, frequentemente, manifestaes somticas sem uma base
fisiolgica como mudanas de apetite, nuseas, vmitos, tremores, mos suadas,
rubores, hiperventilao, tenso muscular, cefaleias, frequncia cardaca rpida ou
irregular, boca seca, tontura e agitao [12].
Os fatores de risco para o desenvolvimento da PAG incluem o sexo feminino,
estratgias de coping pobres, histria familiar de perturbaes do humor ou ansiosas,
eventos de vida geradores de stress, suporte social fraco, status socioeconmico baixo,
autoestima baixa e ser vivo, separado ou divorciado. Indivduos com outras doenas
mentais ou certas condies mdicas tambm apresentam um risco maior, bem como
aqueles que sofreram traumatismos crnio-enceflicos, cujo risco aumenta para o dobro
[12].
Os sintomas surgem, em mdia, por volta dos 30 anos, embora o incio seja
varivel e a prevalncia do diagnstico aumente proporcionalmente com a idade,
diminuindo aps os 60 anos [11, 13].
A comorbilidade com a depresso major ou outras perturbaes ansiosas foi
observada em diversos estudos. Num estudo norte-americano realizado em indivduos
adultos com PAG, verificou-se que 66% tinham pelo menos outra perturbao incluindo
a fobia social (23,2 a 34,4%), fobia especfica (24,5 a 35,1%) e a perturbao de pnico
(22,6 a 23,5%).
A PAG tambm pode estar associada ao aumento do consumo de substncias
de abuso, perturbao de stress ps-traumtico e perturbao obsessivo-compulsiva
[14].
De acordo com vrios estudos, a prevalncia da PAG entre doentes com
alcoolismo variou entre 8,3 a 52,6%. Nos dados do National Comorbidity Study realizado
nos Estados Unidos em indivduos adultos encontrou-se uma associao entre a PAG
e o uso de estimulantes (probabilidade de 2,07), cocana (probabilidade de 2,39),
alucinognios (probabilidade de 5,09) e herona (probabilidade de 4,27) [15].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
16
Em trs estudos internacionais observou-se que a depresso est
significativamente associada a cada perturbao de ansiedade, constatando-se a maior
associao com a PAG [16].
Os doentes com depresso major e PAG tendem a ter um curso mais longo e
severo da doena, com maior grau de incapacidade, associando-se a um prognstico
pior da PAG [14].
Os doentes com PAG referem mais perturbaes do sono do que os indivduos
saudveis. Relatam uma variedade de distrbios do sono, incluindo disfuno diurna
elevada, pesadelos frequentes, bruxismo, mais sonolncia diurna, maior dificuldade em
levantar depois de acordar, maior percepo da necessidade de dormir mais, sono
menos eficaz, qualidade subjetiva do sono reduzida e diminuio da durao do sono.
As dificuldades na regulao das emoes esto relacionadas com as
perturbaes do sono nos doentes com PAG, assim como estas contribuem para uma
maior desregulao emocional durante o dia [14].
2.1. Patognese
A etiologia da PAG ainda no se encontra bem esclarecida, mas o seu
desenvolvimento parece associado a fatores biolgicos, incluindo a hereditariedade,
alteraes nos circuitos cerebrais, fatores de desenvolvimento e caractersticas da
personalidade.
Kendler, numa amostra de 1033 pares de gmeos femininos, verificou que a
tendncia para a PAG cursar nas famlias est mais associada partilha de fatores
genticos entre parentes do que ao ambiente familiar, cuja hereditariedade observada
foi modesta, 30%. Noutro estudo efetuado em gmeos femininos e masculinos o valor
foi 37,2% [17].
O polimorfismo do promotor de alongamento do transportador de serotonina, ou
5HTTLPR, a variante mais utilizada em estudos genticos das perturbaes de
ansiedade e do humor, cuja presena est associada ao aumento do risco de
desenvolver PAG.
Foi encontrada uma associao entre o 5-HTTLPR e os traos de personalidade
relacionados com a ansiedade, como o neuroticismo e o evitamento do perigo, em duas
amostras onde os indivduos com uma ou duas cpias do alelo de forma curta
apresentaram mais traos de personalidade ansiosa do que os homozigticos para o
alelo de forma longa [18].
As investigaes sugerem que vrios neurotransmissores implicados na
modulao e regulao dos comportamentos defensivos esto na gnese da PAG,
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
17
nomeadamente as aminas biognicas (noradrenalina, serotonina e dopamina),
aminocidos (cido Gama- Aminobutrico - GABA, glicina), peptdeos (fator de
libertao de corticotropina, corticotropina, colecistocinina) e esterides (corticosterona)
[19,20].
Sevy verificou que a atividade noradrenrgica parece aumentada nos doentes
com PAG, cujos elevados nveis de catecolaminas podem levar a uma desregulao
dos adrenorecetores alpha2 pr-sinpticos [21].
Neuroimagens de doentes com PAG revelaram alteraes na amgdala e no
crtex pr-frontal dorsomedial [22].
Muitas regies cerebrais correspondentes ao circuito do medo tambm esto
associadas ansiedade, como o tlamo, a amgdala e o crtex cingulado anterior dorsal.
Mltiplas reas do crtex pr-frontal medial e orbital desempenham um papel na
modulao da ansiedade e noutros comportamentos emocionais. Estas estruturas
partilham extensas e recprocas projees com a amgdala. reas no crtex orbital e no
crtex prefrontal medial e na insula anterior participam na modulao das respostas
perifricas ao stress, incluindo a frequncia cardaca, presso arterial e secreo
glucocorticoide. As atividades neuronais nestas reas so, por sua vez, moduladas por
vrios sistemas de neurotransmissores que so ativados em resposta ao stress ou
ameaas [23].
H algumas inconsistncias nos estudos neurobiolgicos. O volume da amgdala
parece aumentado, mas surgem dvidas quanto sua ativao, assim como ativao
do hipocampo. Parece existir uma hipoativao do crtex prefrontal medial e do crtex
cingulado anterior rostral/ subgenual [24].
Etkin et al encontraram evidncia de uma anormalidade intra-amigdalar e o seu
envolvimento numa rede de controlo executiva compensatria frontoparietal,
consistente com as teorias cognitivas da PAG [25].
Num estudo recente verificou-se um volume reduzido no giro cingulado
ventricular anterior e no giro frontal inferior esquerdo, comum nas perturbaes de
ansiedade, independentemente da comorbilidade com a depresso, da medicao e da
idade. Estes resultados corroboram os modelos neuroanatmicos das respostas
fisiolgicas da preocupao e do medo, e a importncia do crtex cingulado anterior/
crtex prefrontal medial na mediao dos sintomas de ansiedade [26].
Existem vrios modelos cognitivos propostos para entender o desenvolvimento
e manuteno da PAG.
O Modelo da Desregulao Emocional um dos mais conhecidos e sugere que
os indivduos com PAG sentem uma excitao emocional aplicada aos eventos,
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
18
particularmente os negativos, e um mau entendimento das suas emoes e atitudes
mais negativas em relao a estas. Regulam mal as emoes e fazem tentativas de as
diminuir ou controlar. Neste modelo, a preocupao surge como uma estratgia
desajustada para lidar com as emoes.
O Modelo do Evitamento da Preocupao sugere que a preocupao inibe
imagens mentais e ativaes somticas e emocionais associadas. Segundo este
modelo, os indivduos apresentam uma regulao das emoes disfuncional, mas
centrada na preocupao como tentativa cognitiva de remover uma ameaa percebida,
evitando simultaneamente as experincias aversivas somticas e emocionais que
ocorrem durante o processo de confrontao com o medo.
No Modelo de Intolerncia da Incerteza defende-se que as pessoas com PAG
no toleram a incerteza nem situaes ambguas e vivem uma preocupao crnica em
resposta a isso. Os estmulos ambguos so interpretados como ameaadores e a
preocupao serve para lidar com o medo ou evitar que esses acontecimentos ocorram.
Existe, ainda, referncia aos menos conhecidos Modelo Metacognitivo e Modelo
Baseado na Aceitao de PAG [27].
Szkodny et al corroboram a ideia de que os indivduos com PAG tendem a
percepcionar ameaas em estmulos neutros ou ambguos e envolvem-se na
preocupao para lidar com a ocorrncia de eventos negativos e alteraes na
reatividade emocional [28].
Na reviso elaborada por Moschcovich et al, concluiu-se que a PAG ,
essencialmente, uma patologia frontal que inclui um dfice na conectividade funcional
entre as reas corticais (crtex pr-frontal e crtex cingulado anterior) e a amgdala. A
desregulao emocional e preocupao excessiva como estratgia de evitamento
parecem ter um papel importante nas disfunes cognitivas destes doentes [29].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
19
2.2. Avaliao e Diagnstico
Para uma avaliao completa do doente necessrio conhecer a sua histria
individual e familiar, incluindo doenas mentais, ideao suicida e nvel de ameaa para
si mesmo e para os outros.
Na suspeita de uma condio mdica, podem solicitar-se anlises laboratoriais
urina e sangue (nvel de glucose, toxicologia de substncias de abuso, hemograma,
bioqumica e funo tiroideia).
Para avaliar a severidade dos sintomas, existem instrumentos de medida
especficos para a PAG como o Penn State Worry Questionnaire (PSWQ) e o
Generalized Anxiety Disorder 7 (GAD 7) [12,61].
A Perturbao de Ansiedade Generalizada (PAG) foi includa no Diagnostic and
Statistical Manual Of Mental Disorders (DSM) pela primeira vez em 1980, na sua terceira
edio. Desde ento, a sua definio e critrios de diagnstico sofreram algumas
alteraes nas verses subsequentes DSM III R, DSM IV e DSM IV TR. [61]. Na
verso mais atual, DSM - 5, os critrios de diagnstico mantm-se e incluem ansiedade
e preocupao excessivas (expectativa apreensiva) relativas a diversos acontecimentos
ou atividades durante a maioria dos dias de forma persistente (6 meses ou mais). Deve
haver uma manifesta dificuldade no controlo dessas preocupaes e a ansiedade deve
estar associada presena de trs ou mais dos seguintes sintomas fsicos e
psicolgicos: agitao; ficar facilmente fatigado; tenso muscular; irritabilidade;
dificuldade de concentrao; perturbao do sono. O foco da ansiedade e da
preocupao no est confinado a traos de outra Perturbao da Ansiedade [5].
2.3. Tratamento
O tratamento convencional da PAG realizado com psicofrmacos e
psicoterapia.
2.3.1. Tratamento Farmacolgico
At aos anos 80, o tratamento farmacolgico da PAG consistia essencialmente
nas benzodiazepinas. Devido ao abuso do seu potencial, comearam a ser exploradas
outras opes teraputicas, relegando as benzodiazepinas para terapia de curto prazo,
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
20
e a buspirona e os novos antidepressivos tornaram-se os eleitos para tratamentos
prolongados. No entanto, a excitao inicial em torno da buspirona diminuiu devido
sua eficcia moderada e incio de ao lento [30].
As guidelines recentes recomendam os inibidores seletivos da recaptao da
serotonina (ISRS) escitalopram, paroxetina, sertralina- ou os inibidores da recaptao
da serotonina-noradrenalina (IRSN) - venlafaxina - como frmacos de primeira linha no
tratamento da PAG, devido sua eficcia e tolerabilidade demonstrada em diversos
estudos randomizados e controlados [31].
Davidson, num ensaio clnico duplo cego com o tratamento com escitalopram,
verificou uma resposta de 68% aps 8 semanas, comparativamente com 41% do
placebo, observando boa tolerncia e uma incidncia de descontinuao devido a
efeitos secundrios semelhante ao placebo [32].
Os doentes que no respondem a estes frmacos podem beneficiar da utilizao
de antidepressivos tricclicos, buspirona ou pregabalina [33].
Num ensaio clnico duplo cego onde os doentes foram distribudos
aleatoriamente para receber pregabalina, lorazepam ou placebo, verificou-se que a
pregabalina reduziu significativamente a pontuao da Escala de Ansiedade de
Hamilton, comparada com o placebo. Foram reportados alguns efeitos secundrios
como sonolncia e tonturas, mas no se verificou nenhum sintoma de privao aps o
trmino do tratamento, revelando que a pregabalina efetiva, atua rapidamente e no
parece evidenciar sintomas de privao como as benzodiazepinas [34].
Atualmente, encontram-se em estudo novas formas de tratamento
farmacolgico.
Buoli et al, enfatizam a quetiapina como o frmaco com maior evidncia de
eficcia no tratamento da PAG, embora o seu uso a longo termo possa originar efeitos
secundrios metablicos. O cido valproico e a agomelatina tambm parecem ser
eficazes nos doentes com PAG, mas ainda so necessrios mais estudos para
comprovar a sua eficcia [35].
2.3.2 - Psicoterapia
Numa meta-anlise efetuada por Zhu et al, foram analisados doze estudos onde
se avaliou a eficcia da psicoterapia no tratamento da PAG e verificou-se que a terapia
comportamental cognitiva foi mais eficaz do que o grupo de controlo (placebo ou lista
de espera), embora nalguns estudos fosse evidente o alto risco de bias, classificando-
se a evidncia como moderada, sugerindo ser necessria mais investigao [36].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
21
Com efeito, apenas se encontra evidncia da eficcia da psicoterapia no
tratamento da PAG relativamente terapia cognitiva - comportamental, pois a evidncia
demonstrada nos ensaios clnicos sobre as outras formas de psicoterapia insuficiente
para as recomendar como ferramenta teraputica. A terapia psicodinmica, a terapia de
regulao emocional, o mindfulness e a terapia de aceitao e cometimento esto
descritas na literatura, mas ainda no h evidncia consistente acerca da sua eficcia
[7].
Numa anlise de treze estudos com bons desenhos e metodologias, concluiu-se
que a terapia cognitivo-comportamental melhora os sintomas a curto e longo prazo nos
doentes com ansiedade, verificando-se que, num deles, aps a manuteno do
tratamento por doze meses, foi observada uma reduo drstica da comorbilidade [37].
A resistncia ao tratamento farmacolgico (resposta ausente ou insuficiente)
atinge aproximadamente um em cada trs pacientes com perturbaes de ansiedade.
Na PAG, cuja sintomatologia crnica e persistente, h poucos estudos onde se
avaliem estratgias alternativas para lidar com a resistncia ao tratamento [38].
A farmacoterapia o tratamento de primeira linha oferecido aos doentes e,
embora haja evidncia da sua eficcia em diversos ensaios clnicos, incluindo sobre a
sua combinao, continua a ter as suas limitaes, e os seus efeitos secundrios e
custos elevados contribuem para diminuir a adeso teraputica.
As terapias complementares surgem, assim, como uma alternativa mais natural
e econmica, com efeitos secundrios reduzidos e com a vantagem de se encontrarem
disponveis sem prescrio mdica. Incluem exerccio fsico, yoga, terapia atravs da
luz, acupunctura, fitoterapia e suplementos nutricionais (cidos gordos mega 3,
triptofano, etc.) O exerccio fsico, segundo Ravindran e Silva, o nico tratamento com
evidncia de nvel 3 para a PAG, podendo ser considerado uma alternativa de terceira
linha [4].
Aps a anlise de vinte e quatro estudos, Lakhan e Vieira encontraram evidncia
de que os suplementos alimentares contendo extratos de flor de maracuj (passiflora)
ou kava (piper methysticum) e combinaes de L-lisina e l-arginina podem ser
considerados tratamentos complementares das patologias ansiosas. No entanto, a
metodologia destes estudos discutvel e alguns no so controlados, pondo em causa
o nvel de evidncia encontrado [39].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
22
3. MEDICINA TRADICIONAL CHINESA MODELO DE HEIDELBERG
O Modelo de Medicina Tradicional Chinesa de Heidelberg ou Modelo de
Heidelberg (MH), proposto por Greten, consiste numa abordagem racional da teoria
subjacente a esta medicina, integrando conceitos atuais da medicina ocidental para
estabelecer um modelo conceptual que consiste num sistema regulador de funes
vegetativas. Este modelo usa a terminologia usada por Manfred Porkert, sinologista
francs que se dedicou ao estudo da medicina chinesa e, por isso, os termos tcnicos
esto escritos em latim [40].
Os movimentos circulares destas funes vegetativas so um elemento
essencial desta teoria, que parte da anlise de Leibniz ao livro I Ching, onde este
descobriu um significado matemtico, para alm do filosfico, nos smbolos a
representados. O sistema binrio anlogo aos traos brancos e pretos dos smbolos
do I Ching, que correspondem ao yang e yin, respetivamente. Esta linguagem era
utilizada nas cincias naturais e na filosofia chinesas para descrever movimentos
circulares, que pode ser transcrita para descrever outros processos circulares, como as
estaes do ano ou o comportamento funcional humano.
A linguagem binria yin-yang tambm pode ser utilizada em sistemas de
coordenadas, considerando o yang como positivo e o yin negativo.
O smbolo chins monad simboliza o postulado mais importante para descrever
o mundo baseado no yin e yang, mostrando que um crculo pode demonstrar um
movimento circular, com direes ascendentes e descendentes, assim como uma curva
sinusoidal, em simultneo.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
23
Figura 1: Linguagem binria aplicada aos movimentos vegetativos circulares [40].
Transpondo estas observaes para a medicina, pode-se descrever a atividade
vegetativa no Homem. A atividade elevada corresponde ao yang e a baixa atividade
ser o yin, cujos valores de yang esto acima da linha basal e os de yin abaixo.
Efetuando um paralelismo com a medicina ocidental, nas fazes yang predominam as
funes simpticas e nas yin as parassimpticas.
Num contexto regulatrio, yang encontra-se acima do valor alvo, com
movimentos ascendentes e problemas funcionais, de regulao primria. Corresponde
a mais qi (repletion), mais calor, ao exterior. Yin, por sua vez, corresponde aos valores
abaixo do alvo, aos movimentos descendentes e falta de substrato, causando uma
regulao instvel. Associa-se a menos qi (depletion), ao frio, ao interior e estrutura.
Nas fases de regulao descendentes, como na fase Fogo ou Metal, o sistema
nervoso entrico est mais ativo para restaurar os nveis energticos. Tambm se pode
fazer uma descrio baseada no tnus muscular e nas funes do sistema renina-
angiotensina-aldosterona.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
24
Figura 2: Atividade vegetativa no Homem [40].
Surge, ento, o conceito de fase. Na figura acima verifica-que que esquerda
se encontram as fases Madeira e Fogo e do lado direito as fases Metal e gua.
Para entender o conceito de fase retorna-se ao sistema binrio onde o
monograma 1 e 0 correspondem aos algarismos 1-0, correspondentes a duas partes do
crculo, metade yang e metade yin. Os bigramas correspondero s fases e aos
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
25
nmeros 1 a 4 e os trigramas s orbes, cujos movimentos regulatrios so expressos
em sinais clnicos.
Os movimentos das fases, as suas direes, so as suas funes internas e os
movimentos de qi. Posteriormente, foram adicionados mais dois grupos na fase fogo.
Concluindo, uma fase parte de um processo circular, um elemento ciberntico,
que quando aplicado ao Homem se traduz numa tendncia funcional vegetativa cujas
manifestaes clnicas so um conjunto de sinais de diagnstico relevantes (orb).
As fases podem ser descritas como:
Madeira: criao de potencial;
Fogo: transformao do potencial em ao;
Metal: funo de relaxamento associada a relativa diminuio de energia
e distribuio rtmica da energia;
gua: regenerao;
Terra: assimilao.
A fase Terra ocupa um lugar central, regulador, a partir da qual se verificam
movimentos de regulao superior (Madeira e Fogo) ou movimentos de regulao
inferior (Metal e gua). Quanto maior for a distncia ao centro, Terra, maior ser a
ativao dos mecanismos de autoregulao.
Baseado nestes postulados, Greten define a medicina chinesa como um sistema
de observaes e sensaes designadas para estabelecer o estado vegetativo funcional
do organismo [40].
As manifestaes clnicas das fases so identificados mediante a zona do corpo
onde surgem e constituem um grupo de sinais relevantes para o diagnstico, indicando
o estado funcional duma regio do organismo que se correlaciona com as propriedades
funcionais de um conduto (mais conhecido por meridiano). Esta descrio corresponde
definio de orb.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
26
Quadro 1: Caractersticas das Fases [40].
F
ases
Orbs Transmissores e
Metabolismo
Expresso
Emocional Caractersticas
MA
DE
IRA
hepaticum
felleal
Ativao do sistema
nervoso simptico,
aumento da
adrenalina, glicose e
ACTH
Ira (raiva)
Hipertonia
Tendncia para
conflito
Microcirculao
alterada
Voz de grito
FO
GO
cardial
intestini tenuis
pericardiale
tricalorii
Reduo de
adrenalina, efeitos
das endorfinas e da
serotonina
Voluptas
(volpia)
Olhos brilhantes
Expressividade
Criatividade
Voz de riso
Hiperdinamismo
ME
TA
L
pulmonale
intestini crassi
Padro colinrgico,
falta relativa de
adrenalina,
diminuio da
atividade simptica,
tendncia para a
desidratao
Maeror
(tristeza)
Ombros
descados
Hipotonia
Voz de lamento
Sensibilidade e
introverso
G
UA
renal
vesicale
Padro
parassimptico, falta
relativa de
testosterona,
estrognios e
adrenalina,
tendncia para a
desidratao e
necessidade de
anabolismo
Timor (medo)
Voz seca
Fraqueza
lombar e nos
membros
inferiores
Carcter rgido
e obsessivo
Hipodinamismo
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
27
Um dos conceitos mais populares da MTC o qi, que no MH descrito como a
capacidade vegetativa funcional de um rgo ou tecido, que pode causar a sensao
de presso, dilacerao ou fluxo. Encontram-se descritos trs tipos de qi: o qi originale
(com origem no yin e na orb renal), o qi defensivum (localizado fora dos condutos,
superfcie, conferindo proteo contra os agentes patognicos) e o qi nutritivum
(originado atravs da comida ingerida). Esta capacidade pode ficar diminuda devido
exausto, mas atravs de uma boa respirao, alimentao saudvel, sono adequado
e a prtica de Qi Gong, pode ser regenerada.
Qi pertence ao grupo dos chamados trs tesouros da Medicina Chinesa, que
correspondem a conceitos fundamentais para perceber o funcionamento do organismo
e a origem das patologias.
O segundo tesouro o xue, traduzido muitas vezes por sangue, que no MH
considerado uma capacidade funcional (energia) relacionada com os fluidos corporais,
com funes como aquecer, humedecer, gerar qi e nutrir um tecido. Xue ainda a base
yin do shen. comparvel aos efeitos da microcirculao na medicina ocidental.
Shen, o terceiro tesouro, a capacidade funcional de ordenar as associaes
mentais e as emoes, criando a chamada presena mental. Avalia-se atravs da
observao de vrios sinais como a coerncia do discurso, o brilho dos olhos e os
movimentos de motricidade fina. Corresponde capacidade de desempenhar funes
mentais superiores, na medicina ocidental [40].
O diagnstico das doenas em MTC elabora-se aps uma cuidadosa inspeo
do shen, cor da pele, morfologia e movimentos corporais, compleio, olhos, nariz, boca
e lbios, lngua, dentes e gengivas, cabelo, unhas, saliva, mucos, fezes e urina.
As caractersticas da transpirao, da respirao, da dor, do apetite, da
apetncia por ambientes frios ou quentes, menstruao e pulso so outros parmetros
essenciais para a elaborao de um diagnstico correto [42].
De acordo com o Modelo de Heidelberg, o diagnstico constitudo por quatro
elementos: a constituio, o agente patognico, a orb afetada e os critrios de
diagnstico.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
28
Figura 3: Os quatro componentes do Diagnstico em MTC [40].
A Constituio a expresso fsica da natureza interna do doente, o seu
fentipo, uma vez que, segundo a medicina chinesa, as estruturas fsicas alteram o
comportamento funcional do Homem, nomeadamente os seus sentimentos, funes e
probabilidade de desenvolver certas doenas.
O Agente, ou fator patognico, vai afetar a constituio do indivduo e torn-lo
doente. Os agentes podem ser internos ou externos, ou ainda neutros.
Os agentes externos so padres funcionais que se assemelham aos efeitos do
algor (frio), humor (humidade) ventus (vento), aestus (calor), ardor (inflamao) e aridity
(secura). Os agentes internos so as emoes: ira (raiva), voluptas (volpia), maeror
(tristeza), solicitudo (preocupao), timor (medo) e cogitatio (excesso de pensamento).
O excesso de trabalho, a m nutrio e os traumas so considerados agentes neutros.
A orb, como j foi referido, corresponde ao grupo de sinais e sintomas relevantes
localizados numa zona do corpo.
Os critrios de diagnstico so oito e refletem a regulao do organismo:
1) Repletion: corresponde fora excessiva relativa da heteropatia
2) Depletio: depleo ou exausto da ortopatia individual, da capacidade de
manter a homeostase
3) Extima: penetrao do agente/doena no exterior do organismo,
correspondendo a afeces mais agudas
4) Intima: penetrao do agente/doena no interior do organismo quando h
diminuio ou ausncia das defesas
5) Calor: aumento da microcirculao
6) Algor: diminuio da microcirculao
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
29
7) Yang: funo e atividade das estruturas
8) Yin: populaes celulares
Os sinais de repletio/depletio so neurovegetativos, enquanto que os sinais de
calor/algor representam sinais humoro-vegetativos relacionados com a dinmica da
microcirculao. O terceiro critrio de diagnstico, extima/intima est associado ideia
de que o organismo vtima de ataques de agentes que vo penetrando no seu interior
e os seus sintomas so neuro-imunolgicos. Neste contexto, a teoria do Algor-Laedens
ilustra os danos da penetrao do algor no organismo at s suas estruturas mais
ntimas, que explica muitas patologias correntes, nomeadamente as infeces
respiratrias.
No ltimo critrio de diagnstico, yang/yin, os sintomas apresentados revelam
uma deficincia regulatria ou estrutural, respetivamente.
Segundo Greten, existem quatro mecanismos implicados na doena,
nomeadamente os problemas na transio de uma fase para outra, o excesso de um
agente, o desequilbrio entre as fases antagonistas e a deficincia de yin.
Yin corresponde parte estrutural do organismo e divide-se nos seguintes
componentes:
- yin: clulas
- jin-ye: fluidos que envolvem o conceito de hidratao e a homeostase entre os
tecidos e o espao intersticial
- xue: constituintes do sangue
- jing: anlogo aos constituintes dos ncleos celulares [40].
Os mtodos teraputicos utilizados na Medicina Tradicional Chinesa incluem a
acupunctura, a fitoterapia, as tcnicas manuais (tui na), o Qi Kung (tcnica de
biofeedback) e a diettica.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
30
3.1. Perturbaes emocionais na MTC
Para compreender as perturbaes emocionais em MTC, necessrio recordar
as emoes descritas e o conceito de constituio do indivduo.
No MH, o sistema de fases tambm se aplica s emoes, que so
compreendidas como movimentos do estado emocional acima e abaixo do centro, onde
reside o equilbrio. Assim, as emoes so sempre um misto de estados de esprito e,
por vezes, contraditrias.
No MH encontram-se descritas as seguintes emoes:
1) Ira (raiva): a emoo da fase Madeira. A traduo literal significa raiva, embora
neste caso o significado de ira esteja associado iniciativa, energia emocional.
Est alocada orb heptica. Quando em excesso, torna-se um agente
patognico interno, demonstrado atravs de comportamentos de irritabilidade,
irascibilidade, autoritarismo e sintomas de espasmos, parsias, tonturas e
apoplexia;
2) Voluptas (volpia): pertence fase Fogo, corresponde a um excesso de
estmulos a nvel emocional e est alocada orb cardial. No sentido positivo
vista como a emoo alegria. Em excesso, traduz-se numa necessidade de
sentir intensamente as emoes, reais ou imaginrias, manifestando-se por um
comportamento histrinico. A ligao entre a orb cardial e a renal permitem
percepcionar as emoes e o conhecimento de si mesmo. Neste caso, h um
dfice da autopercepo e a pessoa compensa atravs de outros sentimentos,
de uma expressividade exagerada. Este excesso de voluptas pode tornar-se um
agente patognico interno e levar a uma exausto do qi da orb cardial;
3) Maeror (tristeza): a emoo da fase Metal. semelhante ao sentimento de
perda vivenciado no luto, pois trata-se de uma dor ntima e melanclica, como a
sentida num desgosto de amor, em que se perdeu um lao simbitico. Tal como
as outras emoes, maeror tambm pode ser positiva mediante o seu
movimento. Um pouco desta emoo torna as pessoas mais receptivas aos
outros, melhores ouvintes, mais generosas com a famlia e amigos. Em excesso,
leva introverso e perda da capacidade de autodefesa, dependncia
relacional. Uma forma de contrariar esta tendncia atravs de uma respirao
adequada;
4) Solicitudo (Preocupao): a preocupao pode originar problemas alocados
orb pulmonar, assim como as pessoas com uma constituio pulmonar so
tendencialmente mais preocupadas. Tem repercusso nas orbs pulmonar e
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
31
crassintestinal, podendo manifestar-se por perda de tnus muscular, tosse,
diarreia, etc. Como no sistema de fases o Metal d origem gua, esta
preocupao pode dar origem a ansiedade;
5) Timor (Medo): a emoo da fase gua e da orb renal, que regenera e
representa o yin no modelo das fases. Quando existe uma deficincia
constitucional da orb renal pode haver tendncia para a timidez e apreenso
crnica. Se existir menos yin, menos reservas fsicas, haver menos segurana.
Quando a orb renal est ntegra, compensa e cria segurana. Se este
mecanismo estiver perturbado, pode surgir insegurana e ocorrer ansiedade. No
sistema de fases, esta ansiedade vai levar o indivduo a agir, tornando-se um
mecanismo de sobrevivncia vantajoso, ou seja, passa-se da fase gua para a
fase Madeira. A ansiedade excessiva pode originar comportamentos
excessivamente racionais ou no emocionais para a suprimir;
6) Cogitatio (excesso de pensamento): o excesso de pensamentos, de reflexo,
alocado fase Terra, que resulta da desregulao da funo integrativa e das
orbs do bao e estmago. Quando as fases se encontram compensadas, as
influncias no pensamento esto equilibradas, refletindo-se no centro atravs de
um pensamento positivo, intuio, criatividade e confiana de que as coisas
mudam para melhor. Se surgir um bloqueio, o pensamento tambm bloqueia e
o indivduo reflete exageradamente, sem efeito produtivo, rumina. Surgem as
dvidas e a perda de confiana na vida e, por isso, a resoluo deste distrbio
muito importante para restabelecer o equilbrio das fases [40,41].
A Constituio do indivduo, a sua natureza, expressa-se em sinais
predominantemente de uma orb, associados ao seu fentipo. As crenas individuais
e os sistemas psicossociais (famlia, amigos, emprego) influenciam as
manifestaes da constituio do indivduo e contribuem para as suas perturbaes
emocionais.
As principais constituies so a Heptica e Pulmonar num eixo, e a
Cardaca e Renal noutro eixo, influenciando-se mutuamente. Na prtica clnica, a
constituio felleal, pericardial e tenuintestinal tambm so importantes e
relativamente frequentes.
O heptico extrovertido, mas menos emocional e expressivo do que o
cardaco. Determinado, procura alcanar os seus objetivos com pragmatismo.
Costuma ser um lder natural. Quando o seu yin fraco, tem tendncia para ser
colrico e autoritrio, humilhando os pulmonares, gerando ansiedade nos renais e
excitando os cardacos.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
32
Durante o desenvolvimento da criana, os bloqueios sua iniciativa e
vontade prpria, por serem comportamentos supostamente inadequados, podem
originar sentimentos de desvalorizao, surgindo adultos educados, mas
ambivalentes e indecisos por reagirem aos seus impulsos internos questionando-os,
levando-os, muitas vezes, a perder oportunidades. Este comportamento denomina-
se felleal.
A constituio pulmonar revela-se nas pessoas introvertidas e sensveis s
influncias, opinies e sentimentos, devido sua fragilidade externa, como se o
mundo as invadisse. So facilmente humilhveis e sentem que do mais do que
recebem, o que lhes gera uma sensao de nunca obterem o que desejam, como
uma criana a chorar por no ter o amor desejado. So empticos e estabelecem
relaes simbiticas, que tentam muitas vezes a controlar.
No eixo Madeira - Metal, comum encontrar uma constituio pulmonar-
felleal. Consiste numa ambivalncia do sentimento de nunca se ter o que se deseja
com a indeciso que leva a que realmente se percam oportunidades, gerando
frustrao e contribuindo para sentir que no se tem o que se deseja. Resulta numa
constante frustrao e ira bloqueada que est na origem de sintomas
maioritariamente da orb felleal, como a gastrite, zumbidos e lombalgia do tipo felleal.
De forma a atingir o equilbrio, a ira surge aps a tristeza, como se verifica
nalguns casos de depresso, em que surge raiva quando h melhoria.
No eixo Fogo - gua, a constituio cardial refere-se a pessoas extrovertidas,
muito expressivas, com emoes intensas e criatividade. No gostam de hierarquias
e tm dificuldade em respeitar os limites. Quando o seu yin dbil, esto sujeitos a
mudanas de humor e comportamento histrinico para compensar a sua falta de
autopercepo.
Prximo da constituio cardial, temos a pericardial, cujas pessoas so
incansveis, hiperativas. Em muitos casos so cardacos com deficincia de yin que
foram humilhados e se tornaram ansiosos. A atividade constante uma forma de
combater a ansiedade e a falta de paz que sentem. Podem ter carreiras de sucesso,
mas tambm so mais propensos a burnout.
Ainda na fase Fogo, temos a constituio tenuintestinal, na qual os indivduos
se caracterizam por saberem o que querem, mas no agem em conformidade, no
atuam. Contrariamente ao tipo felleal, no so ambivalentes. Se no houver ao
inerente aos sentimentos, h um bloqueio na transio da fase Fogo para a fase
Terra, surgindo sintomas como cervicalgia e cefaleias.
Do lado oposto do eixo temos a constituio renal, com tendncia para a
deficincia de yin, que leva a que estas pessoas economizem os seus movimentos,
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
33
as suas emoes e o seu dinheiro, para obter segurana. Precisam de organizao
e planeamento, sem os quais se tornam ansiosos. Costumam ser racionais,
introvertidos e formais. Ao exagerar no planeamento e no rigor, podem ser teimosos
e inflexveis [41].
3.1.1. A Ansiedade na MTC
Segundo Greten, a ansiedade em MTC e segundo o MH, pode ser primria ou
secundria.
A ansiedade primria tem origem na deficincia de yin ou numa orb renal fraca.
As pessoas nestas circunstncias ajustam o seu estilo de vida sua ansiedade,
evitando riscos, recorrendo a um planeamento cuidadoso da sua vida.
As outras causas de ansiedade so secundrias.
Quando se sente maeror (tristeza), pode surgir insegurana e ansiedade.
Algumas regies cerebrais reconhecem a situao como potencialmente ameaadora,
como a de uma criana deixada sozinha indefesa, ou algum que se perdeu e est
prestes a ser atacado por um predador.
Quando a ansiedade se transforma em ira (fase gua para fase Madeira),
estamos perante um processo natural, onde a ansiedade d lugar iniciativa. Se esta
transio for bloqueada pela desvalorizao, surge o comportamento felleal, no qual a
ira suprimida. Surge este tipo de ansiedade secundria a um problema de
transformao.
Um dos mecanismos de patognese no MH o desequilbrio entre os
antagonistas, que tambm se aplica a uma forma secundria de ansiedade. No eixo
Fogo - gua, quando h excesso de emoes, excesso de atividade, pode gerar-se um
sentimento de perda de estabilidade e de razes, que origina ansiedade [41].
Compreendendo a origem da ansiedade, pode-se atuar na sua etiologia e no
apenas nos sintomas, contribuindo para um maior sucesso da terapia.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
34
4. ACUPUNCTURA AURICULAR / AURICULOTERAPIA)
A auriculoterapia um mtodo de diagnstico e de teraputica que utiliza a
estimulao dos pontos do pavilho auricular atravs de estmulos mecnicos,
eletromagnticos, trmicos ou outros [43].
Esta tcnica conhecida e utilizada na China desde a Antiguidade, assim como
no Egito e na Grcia.
No clssico de MTC Huang Di Nei Jing, compilado cerca de 500 anos antes de
Cristo, encontrava-se descrita uma correlao direta entre a aurcula e os meridianos
yang e indireta dos meridianos yin atravs do seu correspondente yang.
O egiptlogo Alexandre Varille (1909-1951) documentou que as mulheres do
antigo Egito que no desejavam ter mais filhos picavam a extremidade da orelha com
uma agulha ou cauterizavam-na.
H tambm relatos de marinheiros do Mediterrneo que usavam brincos de ouro,
no como adornos, mas para melhor a viso.
Hipcrates introduziu a tcnica de cauterizao do pavilho auricular para o
tratamento da dor citica na Europa, que tinha aprendido no Egito.
A companhia holandesa do este da ndia estabeleceu relaes comerciais
dinmicas com a China entre os sculos 16 e 18, contribuindo para que os mercadores
trouxessem prticas de acupunctura chinesa de volta para a Europa.
Em 1637, o mdico portugus Zacuto Lusitano, fez a primeira descrio na
Europa da cauterizao da orelha para o tratamento da dor citica depois de ter tomado
conhecimento desta tcnica na Rssia, onde trabalhara como mdico do czar [43, 44].
No entanto, foi o mdico francs Paul Nogier (1908-1996) que em 1951
interpretou o pavilho auricular como um microssistema e zona reflexa e realizou a
primeira cartografia auricular sistematizada, concebendo a projeo da orelha do corpo
humano como um feto invertido [44, 45].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
35
Figura 4: Correspondncias somatotpicas com algumas zonas da orelha [81].
O incio do desenvolvimento da sua teoria ocorreu aps ter observado alguns
doentes com uma cicatriz de queimadura na orelha devido a cauterizao realizada para
o tratamento da dor citica, com efeito positivo [44].
Nogier considerava que existia uma organizao somatotpica da orelha com
relao direta com o corpo que funcionava atravs de ligaes aos pares cranianos que
a inervavam. Assim, a estimulao auricular poderia gerar efeitos em zonas especficas
do corpo [46].
Em 1966, Nogier descobriu que o pulso da artria radial apresentava uma reao
ao estmulo da aurcula e assumiu que esta resposta envolvia o corao e a aurcula,
chamando a esta resposta reflexo auriculocardaco. Posteriormente, compreendeu
que esta resposta era causada pelo sistema nervoso autnomo e mudou o seu nome
para sinal autonmico vascular [47].
Descontente com a falta de aceitao dos seus trabalhos pelos seus pares
europeus, Nogier permitiu a traduo e publicao dos seus estudos na China, numa
poca em que o pas atravessava uma revoluo comunista e cultural e em que o
governo necessitava de polticas de sade para a sua populao. Os profissionais e
estudiosos chineses aproveitaram os conhecimentos de Nogier e criaram mapas de
auriculoterapia, divulgando esta tcnica vista como de fcil aprendizagem e aplicao,
adequada para um treino rpido dos profissionais [45].
Os princpios de Paul Nogier e os princpios de reflexologia baseados em mapas
somatotpicos no reconhecem a estimulao energtica, mas apenas a evocao de
um reflexo decorrente do estmulo de determinados pontos da orelha [44].
A prtica da auriculoterapia atual influenciada pela escola francesa, que segue
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
36
os estudos de Nogier, e pela escola chinesa, que baseia a sua prtica clnica nas teorias
da medicina tradicional chinesa.
A Organizao Mundial de Sade constituiu grupos de trabalho com o objetivo
de investigar a acupunctura auricular (AA) de modo a facilitar o seu ensino e aplicao
clnica que vieram a standardizar 39 pontos de AA baseados em trs critrios: a
existncia de um nome internacional comum, um valor teraputico comprovado e uma
localizao na aurcula aceite [47].
4.1 Pontos de Acupunctura Auricular
O tecido conjuntivo da orelha encontra-se modificado, menos denso e a sua
estrutura principal, denominada complexo neurovascular, formada por uma
combinao de fibras nervosas mielinizadas e desmielinizadas, pequenos capilares
arteriais e venosos e um pequeno vaso linftico.
No pavilho auricular encontram-se fibras colinrgicas desmielinizadas na
concha, relacionadas com o sistema parassimptico.
Muitas das diferenas entre os acupontos corporais e os auriculares so
causadas principalmente pela estrutura da pele, que no pavilho auricular muito fina
e com muitos corpsculos sensoriais [48].
O mdico americano Oleson, em 1980, elaborou um estudo onde participaram
quarenta doentes com dor muscular no qual o clnico que conduzia o diagnstico
auricular desconhecia a condio mdica do doente, apenas limitando-se a procurar
reas do pavilho auricular com elevada condutibilidade eltrica ou sensibilidade. A
concordncia entre o diagnstico mdico estabelecido e o diagnstico auricular foi de
75,2%. Estes resultados suportaram a hiptese de que h uma organizao
somatotpica do corpo representada no pavilho auricular com reas definidas [44].
Tendo como objetivo verificar a especificidade de dois pontos auriculares
distintos, Romoli et al realizaram ressonncias magnticas funcionais a seis doentes,
encontrando padres de ativao em estruturas cerebrais diferentes aps a respetiva
colocao das agulhas. Alm disto, as regies envolvidas estavam de acordo com as
indicaes teraputicas dos pontos, mostrando uma evidncia preliminar da sua
especificidade [49].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
37
4.2 Inervao do Pavilho Auricular
Os msculos do pavilho auricular so inervados pelo nervo facial. A inervao
sensitiva, por sua vez, bastante rica e complexa, na qual no existem corpsculos
sensitivos, mas terminaes nervosas livres, que so capazes de receber sensaes de
frio, calor ou dor em funo dos limiares de excitabilidade [43].
O pavilho auricular inervado pelo plexo cervical superficial (C1-C3), pelo nervo
auriculotemporal (ramo do V par craniano (trigmio)), e pelos nervos facial (VII par
craniano), nervo intermedirio de Wrisberg (VII bis) e vago (X par craniano).
O ramo auricular do plexo cervical superficial inerva a parte posteroinferior do
pavilho auricular, enquanto o nervo auriculotemporal inerva as reas anterosuperior e
anteromedial. O ramo auricular do nervo vago, que o nico ramo perifrico deste
nervo, inerva a zona da concha e a maior parte do meato auditivo. O nervo intermedirio
de Wrisber inerva a zona da concha e o incio do canal auditivo Zona de Ramsay Hunt.
Os nervos facial, intermedirio de Wrisberg e Vago terminam numa zona de ligao
entre as sensibilidades somticas do intermedirio de Wrisberg, das razes cervicais
(C1-C3) e das sensibilidades viscerais especiais dos pares cranianos IX e X e visceral
geral, denominada feixe solitrio [43].
A inervao auricular descrita por He et al assemelha-se de Ferreira, como se
pode verificar na figura seguinte [50, 43].
Figura 5: A inervao do pavilho auricular
Legenda: Verde ramo auricular do nervo vago, Vermelho nervo auriculotemporal (ramo do trigmio), Azul inervao do nervo occipital menor, Amarelo inervao do grande nervo
auricular (plexo cervical superior) [50].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
38
Peuker e Filler citados por Round et al, consideram que o nervo occipital menor
no integra a inervao do pavilho auricular e que o ramo auricular do nervo vago
inerva apenas uma parte da concha, a cimba e a antihlix [47].
4.3. Mecanismo de Ao da Acupunctura Auricular
Na formao reticular do tronco cerebral vo-se reunir as somestesias espinais
e cranianas, entre as vias espinais e as do nervo trigmio e vago, embora com fraca
especificidade, o que vai permitir que estmulos de origem e natureza diferentes possam
desencadear potenciais passiveis de serem recebidos no mesmo ponto perifrico.
Seguindo este raciocnio, a estimulao do pavilho auricular estimula, por sua
vez, o tlamo, o hipotlamo e o crtex, onde so emitidas respostas viscerais e
somticas atravs das vias nervosas crtico-espinal, tlamo-espinal, retculo-espinal e
reaes hormonais [43].
O nervo vago responsvel pela inervao parassimptica do pulmo, do
corao, do estmago e do intestino delgado, assim como dos msculos da faringe e
laringe e envia informao para regies cerebrais importantes na regulao da
ansiedade (locus coeruleus, crtex orbitofrontal, hipocampo e amgdala) [82].
O ncleo do trato solitrio recebe e transporta sinais aferentes de vrios rgos
e vsceras. Os neurnios com que sinapsa participam nos reflexos autonmicos,
contribuindo para a regulao autonmica. Os outputs que saem do ncleo do trato
solitrio so transferidos para vrias regies cerebrais, incluindo o ncleo
paraventricular do hipotlamo e o ncleo central da amgdala, bem como para outros
ncleos de redes viscerais motoras ou respiratrias. possvel que ligaes entre o
ncleo do trato solitrio com rgos e vsceras e outras estruturas cerebrais possam ser
um mecanismo de ao da acupunctura auricular. Desta forma, ambos os sistemas
nervosos, central e autnomo, podiam ser modificados pela estimulao auricular vagal
atravs das projees do ramo auricular do nervo vago para o ncleo do trato solitrio
[50].
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
39
Figura 6: Mecanismo de AA [50].
Legenda: NTS ncleo do trato solitrio, DMN ncleo motor dorsal do vago, AP rea postrema, RVM: medula ventrolateral rostral, LC locus coeruleus
Vrios autores orientais e ocidentais encontraram uma relao entre o pavilho
auricular e a regulao vagal.
Em 1982, Friedrich Arnold demonstrou que o estmulo fsico do meato acstico
externo, inervado pelo ramo auricular do nervo vago, induz a tosse. Este reflexo
somato - parassimptico e denomina-se reflexo de Arnold [50].
Gao et al conduziram um estudo que avaliou a influncia da auriculoterapia e da
acupunctura sistmica em 10 ratos previamente anestesiados, verificando que a
frequncia cardaca dos ratos sujeitos a acupunctura auricular se manteve praticamente
inaltervel, mas a variabilidade da frequncia cardaca aumentou significativamente,
melhorando o seu estado neurovegetativo [51].
Zhao et al, em quatro grupos constitudos por doze ratos cada, induziram
endotoxemia atravs da injeo intradrmica de lipopolissacardeo, e, aps a realizao
de acupunctura auricular num grupo, estimulao do nervo vago atravs de estimulao
eltrica do nervo vago cervical esquerdo noutro, e acupunctura sistmica no ponto S36
no terceiro grupo, verificaram que, comparativamente com o grupo controlo, tanto no
AP
LC
RVM
NTS
DMN
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
40
grupo que realizou acupunctura auricular na concha, como no grupo que recebeu a
estimulao do nervo vago, houve um aumento do fator de necrose tumoral (TNF- alpha)
e de IL-6) e diminuio do nvel do fator de transcrio nuclear pulmonar fatorkappaB
associado endotoxemia , com um efeito similar ao reflexo anti-inflamatrio colinrgico
[52].
4.4. A Acupunctura Auricular na Ansiedade
At data, no existem estudos sobre o efeito da auriculoterapia na PAG,
embora haja investigao sobre o seu efeito nos sintomas de ansiedade nalguns
contextos.
No mbito do tratamento complementar dos abusos de substncias foi elaborado
um protocolo de acupunctura auricular em 1985 pela National Acupuncture
Detoxification Association, nos Estados Unidos, utilizado em muitas instituies que
tratam doentes com dependncias de substncias, cuja origem remonta ao estudo de
Wen e Cheung em 1973, no qual se verificou alvio dos sintomas dos doentes
consumidores de opiides aps tratamento com electroacupunctura. Embora o
mecanismo de ao da AA ainda no esteja bem esclarecido, e haja falta de evidncia
cientfica, este protocolo utilizado em cerca de 30 pases [53].
A ansiedade antes dos procedimentos cirrgicos est bem documentada e faz
parte da rotina pr-anestsica a administrao de frmacos com efeito sedativo. Mora
et al realizaram um estudo randomizado, controlado e duplo-cego constitudo por 100
indivduos com clculos renais que, durante o transporte para a clnica onde iriam ser
sujeitos a cirurgia, receberam acupunctura auricular. Atravs da Escala Visual de
Ansiedade e de um Questionrio de Antecipao, verificaram que no grupo que recebeu
o tratamento verdadeiro houve uma reduo significativa dos sintomas de ansiedade,
alm dos doentes se demonstrarem mais optimistas e com menos receio da dor [54].
Wang e Khain, utilizaram um protocolo de auriculoterapia num grupo de
voluntrios saudveis, num estudo randomizado, controlado e cego, no qual verificaram
que os nveis de ansiedade avaliados atravs do inventrio de ansiedade trao-estado
(IDATE), presso arterial e frequncia cardaca e atividade eletrodrmica, diminuram,
mas apenas aqueles relativos ansiedade estado, sem correlao com os dados
fisiolgicos [68].
Vieira, elaborou um estudo prospectivo, randomizado, controlado e cego, onde
aplicou um protocolo de auriculoterapia em estudantes ansiosos antes da poca de
exames. Numa amostra de 69 estudantes distribudos por dois grupos, cujos nveis de
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
41
ansiedade foram avaliados atravs da IDATE, Escala Visual da Ansiedade (EVA),
presso arterial e frequncia cardaca, antes do procedimento e 48h aps, observou-se
uma reduo significativa dos nveis de ansiedade (p=0,031) na escala IDATE forma Y1
e EVA (p=
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
42
CAPTULO II
- PROTOCOLO DE INVESTIGAO CLNICA-
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
43
1. Questo de Investigao
A acupunctura auricular eficaz na diminuio dos sintomas de ansiedade
nos doentes com Perturbao de Ansiedade Generalizada?
2. Objetivos Principais
Verificar se existe diminuio dos sintomas de ansiedade no grupo
experimental superior ao grupo placebo aps o tratamento com Acupunctura
Auricular (AA);
Averiguar a influncia da AA na atividade do SNA atravs da avaliao da
VFC.
3. Objetivos Especficos
Verificar os sintomas de ansiedade antes e depois da AA atravs das escalas
de autoavaliao IDATE e GAD 7;
Verificar as diferenas na atividade autonmica antes e depois da AA atravs
de parmetros de VFC;
Comparar os parmetros psicomtricos e fisiolgicos dos grupos
experimental e de controlo.
4. Hipteses de Investigao
H1: O grupo experimental apresenta pontuaes nas escalas de autoavaliao
de sintomas de ansiedade IDATE e GAD7 inferiores ao grupo de controlo aps o
tratamento com AA durante 7 dias;
H2: A AA influencia a atividade do SNA, aumentando a atividade vagal, verificada
atravs de parmetros fisiolgicos de VFC;
5. Amostra
A amostra selecionada foi de convenincia.
Os participantes do estudo frequentavam a consulta de Psiquiatria do Dr Jacinto
Azevedo no Hospital de Alfena. Aps uma seleo prvia feita pelo psiquiatra
supracitado, mediante os critrios de incluso no estudo, foi efetuado o recrutamento
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
44
dos participantes atravs de contato telefnico, pela investigadora principal.
6. Critrios de Elegibilidade
Critrios de Incluso
Idade superior a 18 anos
Diagnstico de Perturbao de Ansiedade Generalizada segundo o DSM V
Assinatura do Consentimento Informado
Medicao psicotrpica estvel nos ltimos 2 meses
Critrios de Excluso
Experincia prvia com acupunctura auricular
Fobia de agulhas
Leso cutnea no pavilho auricular ou anomalia anatmica nos pontos de
acupunctura selecionados
Tratamento com betabloqueadores
Teraputica anticoagulante
Outras patologias com sintomas resultantes de alteraes no funcionamento do
SNA (ex: insuficincia cardaca, distonia, etc.)
Dfice cognitivo
Analfabetismo
Gravidez
Dos 41 doentes contatados, 6 no atenderam o telefonema (efetuaram-se 3
tentativas), 4 encontravam-se de frias, 3 recusaram por fobia de agulhas, 1 recusou
por estar em processo de luto e 1 estava grvida.
Aceitaram participar no estudo 26 doentes, no se verificando nenhuma
desistncia nem nenhuma intercorrncia passvel de excluso.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
45
7. Desenho do Estudo
Aps a explicao dos procedimentos a realizar e a assinatura do consentimento
informado e, de forma a randomizar os elementos da amostra, solicitou-se aos
participantes que selecionassem um de dois envelopes opacos onde estavam inseridos
cartes correspondentes ao grupo onde seriam alocados: o Grupo 1 Experimental, e
o Grupo 2 Sham.
Aos elementos do Grupo 1 foi aplicado o protocolo de acupunctura auricular
segundo o Modelo de Heidelberg para a reduo dos sintomas de ansiedade.
No Grupo 2, o tratamento realizado consistia em acupunctura auricular em
pontos no relacionados com sintomas psicolgicos, sem efeito teraputico nesta
amostra de doentes, a chamada acupunctura falsa, ou sham.
DIA 1: Avaliao e Interveno
Grupo 1 (Experimental) Grupo 2 (Sham)
Preenchimento das verses Y1
e Y2 da escala IDATE e da
escala GAD 7
Avaliao dos parmetros de
VFC durante 10 minutos
Acupunctura auricular com
efeito teraputico
Preenchimento das verses Y1 e
Y2 da escala IDATE e da escala
GAD 7
Avaliao dos parmetros de
VFC durante 10 minutos
Acupunctura auricular sham
DIA 2: Avaliao (7 dias aps a Interveno)
Grupo 1 (Experimental) Grupo 2 (Sham)
Preenchimento das verses Y1
e Y2 da escala IDATE e da
escala GAD 7
Avaliao dos parmetros de
VFC durante 10 minutos
Remoo das agulhas de
acupunctura
Preenchimento das verses Y1 e
Y2 da escala IDATE e da escala
GAD 7
Avaliao dos parmetros de
VFC durante 10 minutos
Remoo das agulhas de
acupunctura
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
46
Aps o recrutamento e a randomizao dos doentes em dois grupos como
descrito previamente, a avaliao e interveno decorreram no gabinete mdico nmero
305 do Hospital de Alfena, sob condies de temperatura (22) e luminosidade
inalterveis.
Cada doente foi convidado a sentar-se em frente a uma secretria onde a
investigadora lhe explicou os procedimentos do estudo, bem como os eventuais riscos
e/ou efeitos da AA. Aps a assinatura do consentimento informado, cada doente
preencheu as escalas de autoavaliao IDATE nas suas verses Y1 e Y2 e GAD7
segundo as instrues prvias da investigadora.
Para avaliar a Variabilidade da Frequncia Cardaca (VFC), o doente ficou na
posio de sentado de forma relaxada e com os membros superiores ao longo do corpo.
Aps a colocao de gel nos sensores do cardiofrequencmetro, aplicou-se a banda
torcica imediatamente abaixo do apndice xifoide. A medio demorou 10 minutos e
os doentes foram instrudos a manterem-se em silncio. A avaliao terminava com um
sinal de vibrao emitido pelo telemvel que estava a receber os dados do
cardiofrequencmetro, aps o qual a investigadora avisava verbalmente o doente e
removia a banda torcica que seria desinfetada com lcool a 70 aps cada utilizao.
Antes da AA, o acupuntor desinfetava as mos com soluo aquosa de base
alcolica e desinfetava os locais dos pontos selecionados com lcool a 70. A AA foi
aplicada pela Mestre Maria Joo Santos, com vasta experincia profissional na prtica
de MTC em geral e de acupunctura, em particular. No final, aplicaram-se pensos de
proteo individuais nas agulhas semipermanentes (ASP).
Foram explicados aos doentes os sinais de infeco e alergia a que deveriam
estar atentos durante o tratamento, bem como o procedimento a adoptar no caso de
remoo acidental das agulhas ou qualquer outra intercorrncia.
Passados 7 dias, cada doente regressou e repetiu o preenchimento das escalas
e da avaliao da VFC. No final, foram removidas as agulhas e desinfetado o pavilho
auricular.
Trs doentes referiram dor no local onde se encontravam as agulhas nos dois
primeiros dias, que entretanto teriam desaparecido, mas no foram reportados casos de
alergia ou infeco.
Efeito da Auriculoterapia na Perturbao de Ansiedade Generalizada
47
8. Instrumentos
8.1.Inventrio de Ansiedade Trao Estado IDATE
O IDATE foi criado com base na concepo de ansiedade proposta por
Spielberg, composta pelas variveis estado e trao. utilizado para como instrumento
de mensurao da ansiedade existente e da predisposio para a ansiedade [58].
constitudo por duas verses com 20 questes cada, a verso Y1 Escala de
Ansiedade - Estado, que avalia o estado de ansiedade no momento e sintomas
subjetivos como apreenso, tenso, nervosismo, preocupao e ativao do Sistema
Nervoso Autnomo (SNA), e a verso Y2 Escala de Ansiedade - Trao, que avalia
aspectos relativamente estveis de propenso para a ansiedade, incluindo estado geral
de calma, confiana e segurana (Anexo 1).
A pontuao varia entre 20 e 80 e os valores mais elevados esto associados a
um maior nvel de ansiedade, utilizando-se um ponto de corte de 39-40 para detectar
sintomas de ansiedade clinicamente relevantes [59].
Publicado inicialmente em 1970 por Spielberg, o IDATE foi revisto em 1983 e
atualmente encontra-se traduzido em 48 lnguas e utilizado frequentemente em
trabalhos de investigao.
Em Portugal, o inventrio foi validado por Danilo Silva e Sofia Correia em 2006.
Relativamente s caractersticas psicomtricas da verso portuguesa,
observaram-se valores de consistncia interna entre 0,82 e 0,96, com valores de
teste/reteste de 0.84 e 0.83 para a Ansiedade -Trao e valores de 0.49 e 0.63 para a
Ansiedade - Estado [60]
A escala j se encontra publicada numa editora portuguesa, no necessitando
de autorizao prvia dos autores para a sua utilizao.
8.2.Generalized Anxiety Disorder 7 GAD 7
O GAD 7 um questionrio de autoavaliao composto por 7 itens que avalia o
estado de ansiedade dos indivduos nas duas semanas anteriores, questionando acerca
da frequncia com que o doente se sentiu nervoso, ansioso, com dificuldade em re