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EFETIVIDADE DO EXERCÍCIO FÍSICO AERÓBIO ADICIONADO À MEDICAÇÃO VERSUS APENAS
MEDICAÇÃO NA DIMINUIÇÃO DOS SINTOMAS DEPRESSIVOS E NA MELHORIA DA QUALIDADE
DE VIDA EM UTENTES COM PERTURBAÇÃO DEPRESSIVA MAJOR: PROTOCOLO PARA UM
ESTUDO CONTROLADO E ALEATORIZADO.
Rodrigues, V. ([email protected])*; Jardim, M. ([email protected])
*Autor para correspondência: Rodrigues, V. ([email protected])
ABSTRACT
LITERATURE REVIEW: Major Depressive Disorder is the most common mental illness, representing
4.3% of the global burden of disease (World Health Organization, 2012) and affects about 350 million
people all over the world (Marcus, Yasamy, Ommeren, Chistolm & Saxena, 2012). Exercise is
suggested as a complementary effective treatment in reducing depressive symptoms (Silveira et al.,
2013). However, there are still doubts about effectiveness of exercise in the decrease of depressive
symptoms and in the increase of quality of life, due to the limitations found in studies that do not provide
conclusive answers. Thus, the aim of this study is to investigate whether aerobic exercise through
walking, and medication is more effective than just taking medication.
METHODS: This is a prospective, double-blinded and experimental Randomized Controlled Trial (RCT),
with a sample of users with Major Depressive Disorder in the outpatient unit of the Forensic Psychiatry
Hospital Centre from Setúbal, Portugal. Participants will be allocated for two groups, experimental and
control groups, and the intervention will have a period of 12 weeks. The study outcomes are depressive
symptoms, assessed by the HAMD-17 and the BDI-II, and quality of life, assessed by the WHO QOL-
Bref.
DISCUSSION: This study aims to contribute for the improvement of the quality of care provided to
clients with depression diagnosis, and it is expected that the intervention through aerobic exercise of
moderate intensity combined with the present medication effectiveness. In this sense, the
methodologies adopted, aim to address the methodological weeknesses found in other previous studies
so that conclusions can be drawn from results in the experimental group.
REVISÃO DA LITERATURA
A Perturbação Depressiva Major, também
denominada por depressão, é uma condição
complexa, de origem multifatorial e multigénica,
sendo a sua fisiopatologia desconhecida
(Cichon et al., 2009 citados por Mota-Pereira et
al., 2011), e é a doença mental mais comum,
representando 4.3% da carga global de
doenças (World Health Organization (WHO),
2012). Estima-se que esta doença afete 350
milhões de indivíduos em todo o mundo
(Marcus, Yasamy, Ommeren, Chistolm &
Saxena, 2012). Em 2030, é expectado que a
depressão se torne, a nível a mundial, na
principal causa do número de anos perdidos
devido a problemas de saúde, incapacidade e
morte prematura, e ao mesmo tempo o
segundo principal contribuinte para a carga
global de doenças, apenas atrás das doenças
cardíacas (WHO, 2011; Marcus et al., 2012;
Centers for Disease Control and Prevention,
2010).
A depressão, também designada por
perturbação depressiva major de acordo com O
Manual de Diagnóstico e Estatística das
Doenças Mentais, 4ª edição (MDEDM-IV)
(2009) citado por Eriksson & Gard, 2011), trata-
se de um síndrome clínico caraterizado por um
humor depressivo ou perca de interesse nas
atividades da vida diária que se prolongue por
um período superior a duas semanas
acompanhados de pelo menos quatro sintomas
do foro emocional, psicológico ou cognitivo,
como por exemplo as perturbações do sono,
auto-estima baixa, perca do apetite, fadiga,
pensamentos suicidas e diminuição da
capacidade de concentração (Josefsson et al.,
2013; WHO, 2012; Eriksson & Gard, 2011). De
acordo com os critérios do Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-
IV), os seus graus de severidade são
classificados em mínimo, moderado e severo
(Rimer et al., 2012).
À depressão encontram-se associadas taxas
elevadas de morbilidade, co-morbilidade e
mortalidade (Cassano & Fava, 2002), bem
como doenças crónicas, tais como a diabetes
ou a artrite, as quais apresentam uma
exacerbação do risco de se desenvolverem em
estadios depressivos, comparativamente com a
população em geral (Moussavi et al., 2007
citados por Rimer et al., 2012). Como
agravante, a depressão contribui de forma
significativa para a carga de incapacidade e
tem um efeito negativo significativo na
qualidade de vida de milhões de pessoas em
tudo o mundo, acarretando custos
socioeconómicos significativos, uma vez que é
responsável por 47% dos custos inerentes às
reformas antecipadas e a 32% dos custos por
abstinência laboral (Gelenberg, 2010 citado por
Stanton & Reaburn, 2013; Sobocki et al., 2007
citados por WHO, 2012; Centers for Disease
Control and Prevention, 2010).
A depressão é habitualmente tratada com
medicação antidepressiva, recomendada para
todos os graus de severidade (World
Federation of Societies of Biological Psychiatry,
2008 citado por Moller et al., 2011), com
psicoterapia ou através da combinação entre
ambas (Josefsson et al., 2013; Rimer et al.,
2012; Robertsonª, Robertsonb, Jepson &
Maxwell, 2012). No entanto, as taxas de
remissão continuam a ser modestas (Koenig &
Thase, 2009; Kurian et al., 2009 citados por
Mota-Pereira et al., 2011), com mais de 60%
dos utentes a preencher os critérios de
resistência ao tratamento da depressão (Trivedi
& Daly, 2008 citados por Mota-Pereira et al.,
2011). Além disso, a adesão aos
medicamentos por parte dos utentes pode
revelar-se baixa (Rimer et al., 2012), dado que
muitos indivíduos não gostam de a efetuar
(Givens et al., 2006; Kessing, Vibe Hansen,
Demyttenaere & Bech, 2005; Maxwell, 2005;
Townsend Hunt & Wyke, 2003 citados por
Robertsona et al., 2012), e as taxas de
desistência desta abordagem terapêutica
variam entre 12% e 40% (Cipriani et al., 2009;
Kirsh et al., 2008 citados por Robertson et al.,
2012). Os antidepressivos acarretam efeitos
adversos (Josefsson et al., 2012), os quais
podem surgir antes de se fazerem sentir os
seus benefícios terapêuticos (Trangle et al.,
2012), e encontram-se associados ao aumento
do risco de doenças cardiovasculares,
especialmente nos indivíduos que já
apresentam história clínica de problemas do
foro cardiovascular ou os que têm fatores de
risco para as doenças cardiovasculares
majores (Waring, 2010). Relativamente à
abordagem psicoterapêutica, apesar de
advirem efeitos colaterais, os utentes podem
não aderir face ao seu caráter intensivo que
pode requerer capacidades cognitivas que um
indivíduo com depressão poderá não atingir
(Robertsona et al., 2012) ou devido ao estigma
sentido (Rimer et al., 2012).
Deste modo, tem sido realizado uma maior
investigação maior relativamente ao papel de
terapias alternativas, tais como a
musicoterapia, terapia parental, relaxamento e
o exercício físico, para o tratamento da
depressão (Rimer et al., 2012). O exercício
físico em particular, tem sido sugerido como
uma alternativa de tratamento efetiva para a
redução dos sintomas de depressão, reduzindo
os custos associados à medicação e
hospitalizações, podendo ainda melhorar a
saúde e as respostas fisiológicas que esta
condição acarreta (Silveira et al., 2013).
Existem diversos mecanismos que procuram
explicar os motivos pelos quais a atividade
física poderá reduzir os sintomas depressivos
(Craft & Perna, 2004 citados por Robertson et
al.,2012; Zschucke, Heinz & Ströhle, 2012). Os
mecanismos incluídos são o bioquímico
(incluindo as hipóteses da libertação de
endorfina e monoaminas), mecanismo
fisiológico (hipóteses da termogénese,
capacidade cardiovascular e melhoria da
qualidade do sono), mecanismos psicológico e
psicossocial tais como a distração, auto-
eficácia e aumento da auto-estima (Sonstroem
& Morgan, 1989 citados por Robertsona et al.,
2012) ou o aumento dos efeitos positivos do
exercício físico (Clark & Watson, 1991; Branco,
Kendrick & Yardley, 2009 citados por
Robertsona et al., 2012).
De acordo com uma meta-análise levada a
cabo por Silveira et al. (2013), com o objetivo
de avaliar os efeitos do exercício aeróbio e da
resistência da força como tratamento para a
depressão, onde analisaram 10 artigos,
aleatorizados e não aleatorizados, que
utilizaram o treino aeróbio e de resistência da
força como única componente da intervenção
ou combinado com o tratamento farmacológico,
estes investigadores defendem que o exercício
físico, principalmente o treino aeróbio, melhora
a resposta de utentes com depressão aos
tratamentos.
Numa meta-análise de Robertsona et al. (2012),
cujo objetivo foi investigar a efetividade da
caminhada enquanto intervenção na diminuição
dos sintomas de depressão em adultos, são
reportados resultados de 3 revisões
sistemáticas (Lawlor & Hopker, 2001; Mead et
al., 2009; Stathopoulou et al., 2006 citados por
Robertsona et al. (2012), com tamanho do efeito
de -0.82 [- 1.12, -0.51], �1.1 [1.5, �0.6] e 1.39
[0.89, 1.88], respetivamente, que sugerem que
a caminhada tem o potencial para produzir
efeitos na redução dos sintomas depressivos
comparativamente a outras formas de atividade
física. que as caminhadas têm um grande
efeito estatisticamente significativo sobre os
sintomas da depressão em algumas
populações. Ainda de acordo com a mesma
meta-análise, 3 estudos aleatorizados
controlados (Bonnet, 2005; Knubben et al.,
2007; Nguyen, 2008 citados por Robertsona et
al., 2011) que investigaram a efetividade das
caminhadas em espaços fechados numa
passadeira, reportam um tamanho do efeito
combinado de -1.35 [-1.84, - 0.86] foi maior do
que os resultados obtidos em 2 estudos
também aleatorizados controlados que
investigaram a efetividade de caminhadas ao ar
livre em grupo com tamanho do efeito de -0.60
[-9.96, -0.24] (Armstrong & Edwards, 2003;
Gusi et al., 2008 citados por Robertsona et al.,
2012). No entanto, de entre os 3 primeiros
estudos referidos, 2 têm uma qualidade pobre
pois não têm uma amostra representativa da
população com depressão, tornando difícil tirar-
se conclusões, sendo a base de dados atual
relativamente a estudos randomizados e
controlados limitada (Robertsona et al., 2012).
Mota-Pereira et al. (2011), num estudo
prospetivo, aleatorizado e controlado,
investigaram os efeitos de um programa de
exercício físico com intensidade moderada,
enquanto terapia adjuvante da terapia por
fármacos, em que o grupo experimental teve 11
participantes e o grupo de controlo, que
realizou apenas terapia por fármacos, nos
sintomas depressivos de utentes com
resistência ao tratamento da depressão. O
nível de significância adotado foi 0.05. No final
das 12 semanas de duração deste estudo, os
participantes no grupo experimental
evidenciaram uma redução significativa dos
sintomas depressivos comparativamente ao
grupo de controlo, com um p<0.05. Contudo,
este estudo apresenta falhas metodológicas,
verificadas através da PEDro Scale, que
poderão ter enviesado os resultados obtidos
visto que não houve concelead allocation, os
participantes não foram cegos relativamente ao
grupo do estudo em que se encontravam, o
avaliador dos participantes não foi cego ao
grupo a que os participantes pertenciam e não
foi utilizado o intention-to-treat analysis.
O outcome da Qualidade de Vida em utentes
com depressão tem sido alvo de investigação
devido a uma controvérsia conceptual entre
alguns autores que defendem que a qualidade
de vida e os sintomas depressivos encontram-
se intimamente relacionados (Angermeyer,
Holzinger, Matschinger & Strengler-Wenzke,
2002 citados por Schuch, Vasconcelos-Moreno
& Fleck, 2011), e outros que defendem tratar-
se de dois construtos diferentes (Schuch et al.,
2011). Deste modo, a literatura tem vindo a
suportar cada vez mais a importância da
introdução da Qualidade de Vida, enquanto
outcome primário ou secundário, em estudos
clínicos na depressão (Speight & Barendse,
2010 citados por Schuch et al., 2011).
Apesar dos resultados apresentados nos
estudos serem promissores para que o
exercício físico aeróbio, através da caminhada,
de intensidade moderada possa ser
considerado uma terapia adjuvante efetiva na
remissão dos sintomas depressivos e no
aumento da qualidade de vida em utentes com
depressão, estes apresentam limitações
metodológicas que não permitem tirar ilações
acerca da efetividade desta abordagem
interventiva nestes dois outcomes. Além disso,
são poucos os estudos que utilizam a
qualidade de vida enquanto um dos seus
outcomes, e são consideráveis as limitações
que os poucos existentes apresentam. Deste
modo, os objetivos primários deste estudo
serão investigar a efetividade do exercício
físico aeróbio moderado e terapia por
fármacos, quando comparado com apenas a
terapia por fármacos, na remissão dos
sintomas depressivos e no aumento da
qualidade de vida em utentes com depressão e
que apresentem resistência ao tratamento.
Assim, as hipóteses de investigação são: H1: O
grupo que efetua exercício físico e medicação
apresenta resultados significativamente
superiores comparativamente ao grupo que
efetua apenas medicação relativamente à
variável “sintomas depressivos”; H2: O grupo
que efetua exercício físico e medicação
apresenta resultados significativamente
superiores comparativamente ao grupo que
efetua apenas medicação relativamente à
variável “qualidade de vida”.
METODOLOGIA
DESENHO DO ESTUDO
Este estudo trata-se de um estudo quantitativo
experimental, aleatorizado e controlado,
prospetivo e duplamente cego e a amostra será
composta por utentes com Perturbação
Depressiva Major em ambulatório na Unidade
de Psiquiatria Forense do Centro Hospitalar de
Setúbal. O desenho metodológico utilizado é
considerado o mais adequado visto que se
pretende investigar a existência de uma relação
causal entre os protocolos de tratamento
utilizados e o aumento da qualidade de vida
assim como a diminuição dos sintomas
depressivos em utentes com depressão. Deste
modo, serão comparados dois programas de
tratamento, em que um engloba o exercício
aeróbio e intervenção farmacológica (grupo
experimental) e outro apenas inclui a
intervenção farmacológica (grupo controlo).
AMOSTRA
A população em estudo são os utentes com
Perturbação Depressiva Major que se
encontram a receber tratamento em
ambulatório na Unidade de Psiquiatria Forense
do Centro Hospitalar de Setúbal. Deste modo,
serão incluídos no estudo os utentes que
satisfaçam os seguintes critérios:1) Indivíduos
do sexo masculino e do sexo feminino com
idades entre os 18 e 60 anos; 2) diagnóstico de
Perturbação Depressiva Major, de acordo com
os critérios da DSM-IV da American Psychiatry
Association (1994); 3) encontrar-se a efetuar
terapia combinada em doses consideradas
adequadas por mais de 9 meses e menos de
15 meses, sem evidenciar remissão dos
sintomas depressivos; 4) capacidade para ler,
compreender e providenciar consentimento
informado por escrito, de acordo com o Mini-
Mental State Test (Folstein e colaboradores
(1975) e validada para a população portuguesa
por Guerreiro e colaboradores (1994 citado por
Pereira, Costa, Andrade & Miranda, 2009); 5)
aptidão física para suportar exercício aeróbio
de intensidade moderada confirmada por
escrito pelo médico assistente; 6)
Eletrocardiograma normal. Por outro lado, os
critérios de exclusão serão: 1) comorbilidades
psiquiátricas, uso corrente álcool ou outras
drogas de acordo com os critérios do M.I.N-I
DSM-IV; 2) sintomas psicóticos; 3) tendências
suicidas; 4) comorbilidades clínicas
incapacitantes para a prática de exercício
físico; 5) alteração da medicação com menos
de 6 semanas antes do início do programa de
exercícios; 6) ter 3 ou mais fatores de risco
cardiovasculares de acordo com o Physical
Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q)
(Mota-Pereira et al., 2011; Schuch et al., 2011;
Trivedi et al., 2011)
Será marcada uma reunião junto da Direção do
Centro Hospitalar de Setúbal e junto do Diretor
do Departamento da Unidade de Psiquiatria
Forense, com o objetivo de se lhes dar a
conhecer a conhecer qual a finalidade do
estudo, todos os procedimentos inerentes ao
mesmo e onde serão abordadas,
simultaneamente, as considerações éticas que
deste advêm. Posteriormente, será solicitada
ao Diretor deste Departamento a referenciação
de utentes em ambulatório da Unidade de
Psiquiatria Forense com diagnóstico de
Perturbação Depressiva Major, de acordo com
os critérios da DSM-IV. Os critérios de inclusão
e de exclusão de potenciais participantes serão
aplicados por um Médico Psiquiatra externo ao
estudo, de onde serão selecionados os utentes
que irão fazer parte desta amostra. Os utentes
que cumpram os critérios serão convidados a
assinar o consentimento informado, para que
após a obtenção do mesmo, sejam submetidos
ao processo de aleatorização.
A Aleatorização da amostra será efetuada num
rácio de 1:1 e será estratificada de acordo com
idade, sexo e severidade da depressão, de
modo a minimizar o viés de seleção e,
consecutivamente, assegurar a
homocedasticidade dos grupos. Este processo
de Aleatorização será realizado por um
Estatístico externo ao estudo que utilizará uma
sequência de aleatorização computorizada com
alternância de blocos (alternando entre 8, 10 e
12), aos quais os investigadores serão cegos
(Krogh, Videbech, Thomsen, Gluud &
Nordentoft, 2012).
Posteriormente ao processo de Aleatorização e
à baseline, verificar-se-á o pressuposto da
homocedasticidade entre os grupos
relativamente aos critérios de idade e género, e
tendo em conta os outcomes em estudo,
nomeadamente os sintomas depressivos,
medidos através da 17-item Hamilton Rating
Scale for Depression (HAMD-17) e do Becks
Depression Inventory - II (BDI-II) (Mota-Pereira
et al., 2011), e a qualidade de vida, medida
através da World Health Organization Quality of
Life – Bref (WHO QOL -Bref).
Para o cálculo do tamanho da amostra, que
permitirá a extrapolação dos resultados obtidos
para a população constituída por utentes com
Perturbação Depressiva Major (Sampieri et al.,
2006; Fortin, 2000), será utilizado o programa
G*Power 3.1.6, o qual permite determinar a
quantidade mínima de participantes
necessários em cada grupo para garantir que
os resultados não sejam devidos ao acaso,
usando os sintomas depressivos como
outcome principal. O teste estatístico a utilizar
será a ANOVA com Medidas Repetidas Mista,
sendo introduzidos neste software informático
os seguintes comandos/valores: i) família dos
testes F; ii) teste estatístico de “ANOVA:
Repeated measures, within-between
interaction”; iii) tamanho do efeito com valor
igual a 0.25; iv) nível de significância, dado por
um α=0.05; v) potência estatística com valor
igual a 92%; vi) 2 grupos; vii) 4 avaliações. Os
resultados obtidos através deste programa
indicam que o estudo deverá ser composto por
uma amostra, no mínimo, de 32 participantes.
No entanto, de modo a colmatar eventuais
desistências ao longo do estudo, a amostra
terá 40 participantes, divididos em 20 por cada
grupo.
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
No sentido de garantir que não são violados
quaisquer princípios e normas éticas, o estudo
apenas terá início após aprovação da
Comissão de Ética para a Saúde do Centro
Hospitalar de Setúbal (Pedido de Aprovação
por parte da Comissão de ética para a Saúde
do Centro Hospitalar de Setúbal em
APÊNDICE 1). Será igualmente solicitado,
desta feita, a todos os participantes
previamente à Aleatorização consentimento
informado escrito (APÊNDICE 2).
Figura 1. Desenho da Metodologia do Estudo.
PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO
Os dados relativamente aos outcomes em
estudo, sintomas depressivos e qualidade de
vida, serão recolhidos em 4 diferentes
momentos: baseline, que corresponde à
avaliação inicial, sendo efetuada antes da
implementação do presente protocolo, às 4 e 8
semanas (avaliações intermédias) e às 12
semanas (fim da intervenção). Estas avaliações
serão realizadas por um psicólogo com
especialidade psiquiátrica, cego relativamente
ao grupo a que cada participante pertence
(para minimizar o viés de avaliação), aos quais
aplicará os instrumentos de medida
respeitantes a cada um dos outcomes.
PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO
No grupo experimental, serão realizadas 4
sessões individuais de treino aeróbio na
passadeira com intensidade moderada (64 a
76% da Frequência Cardíaca máx.), com uma
duração de 40 minutos cada, no ginásio do
departamento de Fisioterapia do Centro
Hospitalar de Setúbal, durante 12 semanas,
com supervisão de um Fisioterapeuta, que será
cego a qual o grupo (experimental ou controlo)
(Stanton & Reaburn, 2013; Bartels & Desilets,
2012).
Durantes as sessões de exercício, serão
utilizadas técnicas comportamentais em grupo,
para aumentar a sua motivação e potenciar a
adesão à prática de exercício físico, através da
colocação de ténis desportivos na porta de
entrada das suas casas; deixar uma nota na
porta principal para que se recordem do treino
através das caminhadas que irão realizar;
utilização de alertas no telemóvel com um
toque específico. Serão ainda adotadas
estratégias sociais por parte do fisioterapeuta
que acompanha os participantes e que irá
enfatizar a importância do cumprimento e
adesão ao programa de exercícios, assim
como pelo envolvimento dos familiares de cada
participante neste processo (Mota-Pereira et
al., 2011). Importa referir que o Fisioterapeuta
frequentará, previamente ao início do período
de implementação, uma formação sobre
exercício físico na população com perturbação
depressiva major, e ser-lhe-á facultado um
manual de estratégias motivacionais para a
adesão dos utentes às sessões de exercício.
Todos os participantes de ambos os grupos
deste estudo, encontrar-se-ão medicados com
antidepressivos não sedativos em doses
consideradas terapêuticas (Taylor et al. de
2009 citados por Mota-Pereira et al., 2011). A
Clomipramina, maprotilina e amitriptilina serão
utilizados como antidepressivos tricíclicos, com
uma dosagem de 125 a 150 mg/dia; como
serão utilizados fluoxetina SSRIs, escitalopram,
paroxetina e sertralina, em dosagens de 20 a
40 mg/dia, 20 mg/dia, 20 a 40 mg/dia e 100 a
150 mg/dia respetivamente; a venlafaxina foi
utilizada enquanto SNRI com dosagem de 150
mg/dia. Quando considerado apropriado, o
lorazepam será usado como ansiolítico numa
dosagem de 1 a 2.5 mg/dia. Ambos os grupos
irão manter a terapia por fármacos inalterada
durante as 12 semanas do estudo (Mota-
Pereira et al., 2011).
OUTCOMES E INSTRUMENTOS DE MEDIDA
Outcomes e Instrumentos de Medida
O outcome primário em estudo é o dos
sintomas depressivos, o qual será avaliado
através da HAMD-17 (Hamilton, 1960), e
através do BDI-II (Kessler et al., 2004). De
modo a aumentar a confiabilidade intra-
observador, a HAMD-17, cujo tempo médio de
aplicação é de 12 minutos, será administrada
com recurso a um guia de entrevista
estruturada. O HAMD-17 trata-se de um
questionário que contém 17 itens cujas
respostas dadas podem variar entre 0 a 2
pontos ou de 0 a 4 pontos, num score total que
varia entre 0 a 54 pontos, em que um score
entre 7 a 17 pontos indica depressão ligeira, 18
a 24 pontos são indicadores de depressão
moderada e pontuações com valor superior a
24 pontos indicam depressão severa (Endicott,
Cohen, Nee, Fleiss & Sarantakos, 1981). A
HAMD-17 possui uma fiabilidade e um
coeficiente de consistência interna de 0.83
(Rush et al., 2003 citados por Cusin, Yan,
Yeung & Fava, 2009), sendo que a maioria dos
itens deste questionário apresentam uma
fiabilidade adequada (Bagby, Ryder, Schuller &
Marshall, 2004 citados por Cusin et al., 2009).
Apresenta ainda uma fidedignidade de
observadores suficientemente elevada para a
totalidade dos scores (> 0.60) (Cusin et al.,
2009), enquanto que a fidedignidade de teste-
reteste é de 0.81 (Williams, 1988; Takahashi,
Tomita, Higuchi & Inada, 2004; Davidson,
Turnbull, Strickland, Miller & Graves, 1986
citados por Cusin et al., 2009). A validade deste
questionário é de 0.65 até 0.90 (Hamilton, 2000
citado por Cusin et al., 2009); O BDI-II consiste
em 21 itens para a avaliação, com um score
que varia entre 0 e 63, em que 0 a 13 é
indicador de depressão mínima, 14 a 19 é
indicador de depressão ligeira, 20 a 28 indica
depressão moderada e 29 a 63 corresponde a
depressão severa (Beck & Brown, 1996). Esta
escala apresenta uma sensibilidade elevada
com uma fiabilidade de 0.92 (Psychological
Corporation Website, 2003 citados Cusin et al.,
2009). A BDD-II apresenta uma validade de
0.72 em utentes psiquiátricos (Beck, Steer &
Carbin, 1988 citados por Cusin et al., 2009).
O outcome secundário em estudo é o da
qualidade de vida, que será avaliado através
da WHO QOL-Bref. Este instrumento é de auto-
preenchimento e é composto por 26 questões,
de entre as quais 2 dizem respeito a perguntas
gerais de qualidade de vida e as restantes 24
organizam-se de acordo com quadro domínios,
o domínio físico, psicológico, relações sociais e
ambientais. O seu score varia entre 1 e 130,
sendo que quanto maior for a pontuação, mais
elevada será a qualidade de vida de cada um
dos participantes. Esta escala encontra-se
validada para a população portuguesa,
apresentando uma consistência interna com
um alfa de cronbach de 0.92 na totalidade dos
itens e uma estabilidade temporal com um
coeficiente de correlação em cada domínio
situado entre 0.65 e 0.85 (Vaz Serra et al.,
2006 citados por Pedro, 2011).
ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS
A análise estatística dos dados irá ser realizada
através do software Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS), sendo a mesma da
responsabilidade de um estatístico externo à
equipa de investigadores, e que não se
encontra a par da finalidade do estudo nem dos
grupos a que cada um dos participantes
pertence. Para a análise dos dados será
utilizado o teste estatístico ANOVA de Medidas
Repetidas Mista, dada a existência de um fator
independente com dois níveis (grupo
experimental e grupo controlo) e de uma
variável de resposta quantitativa com 4
observações emparelhadas (avaliação inicial, 2
avaliações intermédias e avaliação final)
(Maroco, 2011). Através deste teste será
possível aferir as diferenças existentes no seio
de cada grupo nas diferentes avaliações.
Previamente à utilização deste teste, deverão
ser cumpridos os seguintes pressupostos:
variável de resposta deverá ser quantitativa (o
que se verifica neste estudo); normalidade
através do teste Kolmogorov-Smirnov;
homocedasticidade por meio do teste de
levene; terá de existir pelo menos um fator
intra-sujeitos (pressuposto que se verifica dada
a existência de amostras emparelhadas); e terá
de existir um fator inter-sujeitos (trata-se das
intervenções às quais os participantes se
submetem) (Maroco, 2011). O nível de
significância (α) adotado para todas as análises
será de 0,05, aceitando-se ou rejeitando-se as
hipóteses em estudo em função deste valor de
p. Será utilizado o intention-to-treat analysis, de
modo a minimizar o viés que decorre de
possíveis desistências e exclusões que
aconteçam ao longo do estudo (Moher et al.,
2010).
DISCUSSÃO
Existe um aumento emergente da evidência
científica que suporta que o exercício tem uma
influência benéfica nos sintomas depressivos
(Carek, Laibstrain & Carek, 2011; Daley, 2008;
Mead et al., 2009 citados por Danielsson, et al.,
2013). A reforçar este facto encontram-se
revisões na literatura efetuadas anteriormente
que demonstraram um grande efeito do
exercício na depressão (Mead et al., 2009;
Rethorst, Wipfli & Landers,2009 citados por
Danielsson et al., 2013). No entanto, em meta-
análises publicadas mais recentemente os
tamanhos dos efeitos encontrados através do
exercício físico nesta condição foram pequenos
a moderados (Krogh, Nordentoft, Sterne &
Lawlor, 2011; Rimer et al., 2012 citados por
Danielsson et al., 2013).
Os estudos clínicos realizados e que utilizam o
exercício físico como complemento à
medicação no tratamento de utentes com
continuam a apresentar falhas metodológicas
que tornam os resultados inconclusivos.
Deste modo, com este estudo esperam-se
obter conclusões, não só acerca da efetividade
do exercício físico aeróbio de intensidade
moderada, através da caminhada na
passadeira, enquanto intervenção
complementar na remissão dos sintomas de
depressão e aumento da qualidade de vida em
utentes com depressão, mas também verificar
uma associação ente os dois outcomes do
estudo, isto é, compreender se a diminuição
dos sintomas depressivos encontra-se
associada ao aumento da qualidade de vida
nesta população.
Caso se confirmem as hipóteses de
investigação, os resultados deste estudo
poderão contribuir para a sua validade externa
e, assim, suportar não só a efetividade do
exercício físico mas também a sua importância
enquanto abordagem interventiva, atendendo a
ser uma intervenção acessível com baixos
custos e sendo necessários poucos recursos.
Um possível viés neste estudo poderá residir
no facto de os instrumentos de medida
aplicados para a avaliação dos sintomas
depressivos não se encontrarem validados
para a população portuguesa, sendo no
entanto os instrumentos de medida mais
amplamente utilizados para a avaliação deste
outcome nos estudos existentes. Outro viés
poderá advir da adesão dos participantes ao
exercício físico enquanto parte da intervenção,
o que poderá resultar num número de
desistências e dificuldades para se obter
resultados conclusivos, mesmo sendo utilizado
o intention-to-treat analysis.
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15
APÊNDICES
APÊNDICE 1. Pedido de Aprovação à Comissão de Ética para a Saúde do Centro Hospitalar de
Setúbal
Pedido de Aprovação à Comissão de Ética para a Saúde do Centro Hospitalar de Setúbal para
realizar-se o seguinte estudo:
Efetividade do Exercício Aeróbio adicionado à Medicação versus apenas Medicação na Diminuição dos
Sintomas Depressivos e na Melhoria da Qualidade de Vida em Utentes com Perturbação Depressiva
Major: Protocolo para um Estudo Controlado e Aleatorizado.
Responsável pela Investigação: Valter André Rosa Rodrigues ([email protected])
Introdução: A Perturbação Depressiva Major é a doença mental mais comum, representando 4.3% da
carga global de doenças (World Health Organization, 2012) e afeta cerca de 350 milhões de pessoas
em tudo o mundo (Marcus, Yasamy, Ommeren, Chistolm & Saxena, 2012). O exercício físico tem sido
sugerido como uma alternativa de tratamento efetiva para a redução dos sintomas de depressão,
reduzindo os custos associados à medicação e hospitalizações, podendo ainda melhorar a saúde e as
respostas fisiológicas que esta condição acarreta (Silveira et al., 2013). Contudo, continuam a subsistir
dúvidas quanto à efetividade desta abordagem interventiva na diminuição dos sintomas depressivos e
no aumento da qualidade de vida, face às limitações encontradas nos estudos, que não permitem obter
respostas conclusivas (Mota-Pereira et al., 2011; Robertsona et al. (2012); Bonnet, 2005; Knubben et
al., 2007; Nguyen, 2008 citados por Robertsona et al., 2011; Deste modo, o principal objetivo deste
estudo é investigar se o exercício aeróbio, através da caminhada, combinado com a medicação é mais
efetivo que efetuar apenas medicação na redução dos sintomas depressivos e na melhoria da
qualidade de vida, face aos seus outcomes.
As hipóteses de investigação são: H1: O grupo que efetua exercício físico e medicação
apresenta resultados significativamente superiores comparativamente ao grupo que efetua apenas
medicação relativamente à variável “sintomas depressivos”; H2: O grupo que efetua exercício físico e
medicação apresenta resultados significativamente superiores comparativamente ao grupo que efetua
apenas medicação relativamente à variável “qualidade de vida”.
Metodologia: Este estudo será um Estudo Quantitativo Experimental, Aleatorizado e Controlado,
Prospetivo e Duplamente cego, com uma amostra composta por utentes com Perturbação Depressiva
Major em ambulatório na Unidade de Psiquiatria Forense do Centro Hospitalar de Setúbal. Serão
incluídos no estudo os participantes que cumpram os seguintes critérios de inclusão: 1) Indivíduos do
sexo masculino e do sexo feminino entre os 18 e 60 anos; 2) diagnóstico de Perturbação Depressiva
Major (critérios da DSM-IV da American Psychiatry Association (1994); 3) efetua terapia combinada em
doses consideradas adequadas entre 9 a 15 meses, sem remissão dos sintomas depressivos; 4)
capacidade para ler, compreender e providenciar consentimento informado por escrito (Mini-Mental
State Test); 5) aptidão física para suportar exercício aeróbio de intensidade moderada confirmada por
escrito pelo médico assistente; 6) Eletrocardiograma normal. Por outro lado, os critérios de exclusão
serão: 1) comorbilidades psiquiátricas; 2) uso corrente álcool ou outras drogas de acordo com os
critérios do DSM-IV; 3) sintomas psicóticos; 4) tendências suicidas; 5) comorbilidades clínicas
incapacitantes para a prática de exercício físico; 5) alteração da medicação com menos de 6 semanas
antes do início do programa de exercícios; 6) ter 3 ou mais fatores de risco cardiovasculares de acordo
com o Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q) (Mota-Pereira et al., 2011; Schuch et al.,
2011; Trivedi et al., 2011).
Os utentes que cumprirem os critérios de inclusão assinarão consentimento informado (APÊNDICE 2)
e a seguir serão aleatorizados por ambos os grupos através de uma Aleatorização estratificada de
acordo com o sexo, idade e severidade da depressão e em blocos, de modo a garantir a
homogeneidade entre os grupos.
Os dados relativamente aos outcomes em estudo, sintomas depressivos e qualidade de vida, serão
recolhidos em 4 diferentes momentos: baseline, que corresponde à avaliação inicial, sendo efetuada
antes da implementação do presente protocolo, às 4 e 8 semanas (avaliações intermédias) e às 12
semanas (fim da intervenção). Estas avaliações serão realizadas por um psicólogo com especialidade
psiquiátrica, cego relativamente ao grupo a que cada participante pertence (para minimizar o viés de
avaliação), aos quais aplicará os instrumentos de medida respeitantes a cada um dos outcomes.
No grupo experimental, serão realizadas 4 sessões individuais de treino aeróbio na passadeira com
intensidade moderada (64 a 76% da Frequência Cardíaca máx.), com uma duração de 40 minutos cada,
no ginásio do departamento de Fisioterapia do Centro Hospitalar de Setúbal, durante 12 semanas, com
supervisão de um Fisioterapeuta, que será cego a qual o grupo (experimental ou controlo) (Stanton &
Reaburn, 2013; Bartels & Desilets, 2012). Serão aplicadas igualmente estratégias motivacionais por
parte do fisioterapeuta aos participantes ao longo das sessões de modo a que estes adiram à
intervenção.
Todos os participantes de ambos os grupos deste estudo, encontrar-se-ão medicados com
antidepressivos não sedativos em doses consideradas terapêuticas (Taylor et al. de 2009 citados por
Mota-Pereira et al., 2011). A Clomipramina, maprotilina e amitriptilina serão utilizados como
antidepressivos tricíclicos, com uma dosagem de 125 a 150 mg/dia; como serão utilizados fluoxetina
SSRIs, escitalopram, paroxetina e sertralina, em dosagens de 20 a 40 mg/dia, 20 mg/dia, 20 a 40
mg/dia e 100 a 150 mg/dia respetivamente; a venlafaxina foi utilizada enquanto SNRI com dosagem de
150 mg/dia. Quando considerado apropriado, o lorazepam será usado como ansiolítico numa dosagem
de 1 a 2.5 mg/dia. Ambos os grupos irão manter a terapia por fármacos inalterada durante as 12
semanas do estudo (Mota-Pereira et al., 2011).
Os outcomes em estudo são os sintomas depressivos, avaliados através da HAMD-17 e do BDI-II e a
qualidade de vida, avaliada através da WHO QOL-Bref.
A análise estatística dos dados irá ser realizada através do software Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS), sendo a mesma da responsabilidade de um estatístico externo à equipa de
investigadores, e que não se encontra a par da finalidade do estudo nem dos grupos a que cada um
dos participantes pertence. Para a análise dos dados será utilizado o teste estatístico ANOVA de
Medidas Repetidas Mista, dada a existência de um fator independente com dois níveis (grupo
experimental e grupo controlo) e de uma variável de resposta quantitativa com 4 observações
emparelhadas (avaliação inicial, 2 avaliações intermédias e avaliação final) (Maroco, 2011). Através
deste teste será possível aferir as diferenças existentes no seio de cada grupo nas diferentes
avaliações. Previamente à utilização deste teste, deverão ser cumpridos os seguintes pressupostos:
variável de resposta deverá ser quantitativa (o que se verifica neste estudo); normalidade através do
teste Kolmogorov-Smirnov; homocedasticidade por meio do teste de levene; terá de existir pelo menos
um fator intra-sujeitos (pressuposto que se verifica dada a existência de amostras emparelhadas); e
terá de existir um fator inter-sujeitos (trata-se das intervenções às quais os participantes se submetem)
(Maroco, 2011). O nível de significância (α) adotado para todas as análises será de 0,05, aceitando-se
ou rejeitando-se as hipóteses em estudo em função deste valor de p. Será utilizado o intention-to-treat
analysis, de modo a minimizar o viés que decorre de possíveis desistências e exclusões que
aconteçam ao longo do estudo (Moher et al., 2010).
Conclusão: Este estudo pretende contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde
prestados a utentes com diagnóstico de depressão, sendo esperado que a intervenção através do
exercício físico aeróbio de intensidade moderada combinado com a medicação apresente efetividade.
Neste sentido, as metodologias adotadas procuraram colmatar as falhas metodológicas encontradas
noutros estudos previamente realizados de modo a que se possam tirar conclusões dos resultados no
grupo experimental.
Caso se confirmem as hipóteses de investigação, os resultados deste estudo poderão contribuir para a
sua validade externa e, assim, suportar não só a efetividade do exercício físico mas também a sua
importância enquanto abordagem interventiva, atendendo a ser uma intervenção acessível com baixos
custos e sendo necessários poucos recursos.
ReferênciasBibliográficas:
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APÊNDICE 2: Consentimento Informado
CONSENTIMENTO INFORMADO
Eu, ________________________________________________________ aceito participar no Projeto de Investigação a desenvolver-se no âmbito da Perturbação Depressiva Major em pessoas adultas, em que o objetivo é comparar os efeitos de duas intervenções distintas na Diminuição dos Sintomas Depressivos e na Melhoria da Qualidade de Vida.
Caso participe neste estudo, encontrar-se-á a contribuir para o aumento do conhecimento acerca de intervenções efetivas no tratamento da Perturbação Depressiva Major, o que poderá permitir melhorar a qualidade dos cuidados de saúde prestados nesta condição.
Neste estudo existirão dois grupos e as intervenções realizadas em cada um destes será diferente. Este estudo terá uma duração total de aproximadamente 5 meses, dividindo-se em 3 primeiras semanas para uma avaliação inicial, duas avaliações intermédias, realizadas 4 e 8 semanas após o início da intervenção, e por uma avaliação final 12 semanas após o início do estudo. Através de um processo aleatório, será distribuído para um dos grupos, onde realizará a respetiva intervenção, com a supervisão de um profissional de saúde.
Poderá desistir do estudo a qualquer momento, não sendo obrigado a permanecer até ao fim do estudo, nem sendo penalizado pela sua decisão. Caso ocorra algum imprevisto ao longo deste estudo que tenha implicância direta nos critérios de inclusão e exclusão definidos para o mesmo, poderá ter de terminar a sua participar.
Este estudo não tem quaisquer riscos para a saúde porque, segundo a evidência científica, as intervenções em ambos os grupos têm efeitos benéficos, e procura-se investigar se uma intervenção apresenta melhores resultados comparativamente à outra.
No final do estudo, caso alguma das intervenções seja mais benéfica do que a outra e encontre-se no grupo onde os resultados não apresentem tantos benefícios, ser-lhe-á concedida a oportunidade de obter a intervenção que evidenciou ser mais benéfica, também com a duração de 12 semanas.
Todos os seus dados serão tratados com confidencialidade, não sendo divulgado quaisquer dados que o(a) identifiquem nos resultados do estudo.
Eu ______________________________________________________________________, declaro ter sido informado e ter compreendido o objetivo do estudo, quais os seus procedimentos e considerações éticas. Declaro também que foi-me dada a oportunidade de colocar todas as dúvidas, obtendo uma resposta clara e concisa. Declaro ainda ter aceite participar no presente Projeto de Investigação e ter autorizado a utilização dos meus dados clínicos para os efeitos do estudo e respetiva divulgação.
Setúbal,___ de ____________ de 20___
Assinatura do Participante
________________________________________
Assinatura do Investigador
________________________________________