ELEMENTOS DE FÍSICA POLIMEROS

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  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    ELEMENTOS DE FSICADOS POLMEROS

    MRIO RUI PINTO FERREIRA NUNES DA COSTA

    (Professor Associado)

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA

    FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    MAIO DE 2000

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    2 Elementos de Fsica dos Polmeros

    ndice

    ndice 1

    Tipos de propriedades moleculares 2

    Tamanho e forma das macromolculas 6

    Propriedades de transporte nas solues diludas de macromolculas 20

    Elasticidade das redes macromoleculares 32

    Ensarilhamento das cadeias e reptao 36

    Propriedades mecnicas dos sistemas multifsicos 40

    Referncias 43

    Nomenclatura 46

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 3

    Tipos de propriedades moleculares

    No seu clssico livro, Van Krevelen (1990) sugere a seguinte classificao das propriedades

    moleculares em trs categorias:

    Propriedades coligativas, cujo valor o mesmo para todas as molculas, qualquer que seja a

    sua natureza qumica e estrutura;

    Propriedades aditivas, cujo valor a soma das contribuies atmicas ou dos grupos

    constituintes da molcula;

    Propriedades constitutivas, influenciadas pela conectividade dos tomos constituintes da

    molcula.

    Um exemplo do primeiro tipo de propriedades o volume molar dos gases ideais:

    VRT

    P(1).

    Fora desse tipo de sistemas fsicos, no se pode dizer, em rigor, que o conceito seja aplicvel.

    No entanto, propriedades como a presso osmtica (presso que se estabelece entre as duas faces

    de uma membrana semipermevel entre uma soluo e o solvente) e o abaixamento do ponto defuso Tf, desde que se esteja a lidar com solues muito diludas de polmeros, so determinadas

    apenas pela soma das concentraes molares das vrias espcies moleculares na soluo (deconcentraes mssicas ci e massas molecularesMi), independentemente da sua natureza qumica:

    Tf

    i 1

    R T2c

    i

    HfM

    i

    R T2c

    Hf

    Mn

    (2).

    i 1

    R T ci

    Mi

    R T c

    Mn

    (3).

    So usadas por isso como mtodo de medida absoluto da massa molecular mdia em nmerodas molculas

    Mn

    .

    H numerosos exemplos de propriedades fsicas que so aproximadamente uma funo

    aditiva de contribuies atmicas ou de grupo. Podemse citar o calor especfico, o volume

    especfico no estado lquido e outras que sero mais adiante referidas. Notese, no entanto, que s

    para a prpria massa molecular se pode supr uma aditividade rigorosa.

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    4 Elementos de Fsica dos Polmeros

    No caso de um polmero, uma propriedade aditiva, numa base molar, ter uma variao linear

    com a massa molecular. Numa base mssica, ter uma variao linear com o inverso da massa

    molecular, e portanto atingir um valor constante quando a massa molecular for suficientemente

    grande.

    Por exemplo, se o volume molar do motivo repetitivo de um homopolmero linear for

    VX

    e o volume molar dos seus grupos terminais for , a

    VE

    aplicao da regra de aditividade leva a

    escrever que o volume molar de uma molcula de grau de polimerizaox dado por:

    V x

    VX

    VE

    (4).

    Como a massa molecular dada (rigorosamente !) por

    M

    x MX

    ME (5)

    resulta uma relao linear entre o volume molar e a massa molecular:

    VV

    X

    MX

    M

    VE

    VX

    MX

    ME

    (6)

    Existe tambm uma relao linear entre o volume especfico e o inverso da massa molecular:

    Vsp

    VspX

    ME

    Vsp

    E

    Vsp

    X

    M (7).

    Uma relao mais geral do que (7) pode escreverse, no caso mais habitual de um polmero

    polidisperso (com espcies de vrias massas moleculares), utilizando a massa molecular mdia emnmero

    Mn

    , em vez da massa molecularMda espcie nica do exemplo acima:

    Vsp

    Vsp

    X

    ME

    Vsp

    E

    Vsp

    X

    Mn

    (8).

    Relaes anlogas so vlidas para as outras propriedades aditivas.

    Exemplo

    Prever o calor especfico no estado lquido a 25 C do etilhidrogenopolipropileno,C2H5[CH(CH3)CH2]xH por contribuies de grupo.

    As contribuies de grupo de Shaw (1969) transcritas na pg. 111 de Van Krevelen (1990)

    permitem considerar que o polmero constitudo por metilenos, metilos e metinos, cujascapacidades calorficas molares no estado lquido vm transcritas na seguinte tabela.

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 5

    GRUPO Capacidade calorfica molar noestado lquido

    cpl (J mol1K1)

    CH3 36.9

    CH2 30.4

    CH< 20.95

    Assim, a capacidade calorfica molar do motivo repetitivo no estado lquido

    36,9+30,4+20,95 = 88,25 J mol1 K1, ou 2101 J kg1 K1, aps diviso pela respectiva massa

    molecular (0,042 kg mol1). Esse ser o valor para o polmero de massa molecular infinita.

    Um dos grupos terminais o etilo, cuja capacidade calorfica molar 36,9 + 30,4 = 67,3 Jmol1 K1. O hidrognio isolado ter que ser considerado como a diferena entre um grupoisopropilo CH(CH3)2 e o motivo repetitivo propileno CH(CH3)CH2, e portanto a sua

    contribuio para a capacidade calorfica ser 2*36,9 + 20,95 88,25 = 6,5 J mol1 K1. A

    capacidade calorfica molar dos grupos terminais dever ento ser 67,3 + 6,5 = 73,8 J mol1 K1, ou

    2460 J kg1 K1. Aplicando uma expresso anloga a (8) com os calores especficos em vez dos

    volumes especficos, obtmse a seguinte previso para o calor especfico deste polmero no estadolquido, com a massa molecular mdia em nmero

    Mn

    em g mol1:

    cpl

    2101 30 2460

    2101

    Mn

    2101 10770

    Mn

    K kg1 K1.

    Mais frequentemente, as propriedades fsicas dependem de interferncias espaciais dos

    tomos na molcula, de uma forma tal que no obedecem a leis de aditividade simples como as que

    se aplicaram anteriormente.

    Por exemplo:

    A viscosidade newtoniana (a baixa tenso de corte) de polmeros lineares fundidos

    monodispersos de massa molecular elevada proporcional aM3,4 .

    O coeficiente de partio de um polmero entre solventes imiscveis aproximadamente uma

    funo exponencial deM.

    Qualquer tentativa para explicar os valores observados das propriedades fsicas dos polmeros

    e das suas solues passa inevitavelmente pela modelizao das posies relativas dos seus tomos.

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    6 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Tamanho e forma das macromolculas

    Nomenclatura das conformaes

    Tipicamente, uma macromolcula linear, como por exemplo o polietileno, tem uma cadeiaprincipal com ligaes simples capazes de girar:

    Fig. 1: Nomenclatura dos ngulos que definem as conformaes do polietileno.

    As posies dos tomos dessa cadeia so determinadas pelos valores dos ngulos das ligaes

    e dos ngulos de toro.

    Os ngulos das ligaes so geralmente designados por j. Tm pequenas variaes em torno

    das posies de equilbrio mdias. Os valores para ligaes simples numa cadeia so ligeiramente

    maiores do que o ngulo tetradrico (109 33, ou arccos 1/3). Por exemplo, valem 112 para o

    polietileno.

    Por isso, a principal fonte de variao da forma das molculas geralmente a rotao das

    ligaes simples, conduzindo a uma diversidade de conformaes moleculares.

    O ngulo de toro da ligaoj designase habitualmente por j. Muitas vezes,j um ndice

    que especifica o motivo e, nesse caso, os ngulos de toro das sucessivas ligaes do motivodesignamse por j, j, j, ..., ou por outra nomenclatura do mesmo tipo. Os ngulos de toro dasligaes para substituintes laterais (j) podem ser relevantes em alguns casos.

    O valor do ngulo de toro aumenta no sentido directo. Duas convenes tm sido usadaspara estabelecer a origem desses ngulos:

    A origem ( = 0) corresponde conformao trans, ou antiperiplanar (IUPAC), tal como no

    esquema acima, sendo esta a conveno usada por Flory e colaboradores (Flory et al., 1966);

    A origem ( = 0) corresponde conformao cis, ou sinperiplanar (IUPAC); no esquemaacima seria = 180 (Mattice e Suter, 1994).

    As conformaes eclipsadas so evidentemente instveis, sobretudo a cis, devido repulsoentre as nuvens electrnicas excessivamente prximas. Os ngulos de toro tendem a tomar

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 7

    valores preferenciais correspondendo a conformaes alternadas. Para ligaes simples, elas so a

    conformao trans (abreviadamente t) e as duas conformaes gauche + e (abreviadamente g+ e

    g, as designaes da IUPAC sinclinal + e so raramente usadas):

    t g+g

    Fig. 2: Nomenclatura das conformaes. As bolas pretas so os tomos da cadeia principal. O

    tomo da cadeia principal mais prximo do observador (mais abaixo na figura) o prioritrio, de

    numerao mais baixa.

    A existncia das duas convenes usadas para fixar a origem dos ngulos de toro implica

    que a conformao g+, que, segundo Flory, tem = 120, a conformao g segundo Mattice eSuter, com = 60. Isto uma lamentvel fonte de confuses.

    Um conceito bastante til o de ligao virtual, que um conjunto de tomos da cadeia

    principal que gira solidariamente. Exemplos tpicos so os grupos fenileno, ster e amida.

    Por exemplo, numa poliamida de um aminocido (tipicamente, numa protena oupeptdeo), uma vez que os grupos amida se mantm no mesmo plano, h dois tipos de ligaovirtual, ambos com l = 0,38 nm, e dois ngulos de toro ( e ) por cada par de motivos,

    conforme o seguinte esquema ilustra.

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    8 Elementos de Fsica dos Polmeros

    A observao dos espectros de microondas das molculas gasosas simples permite medir as

    barreiras energticas associadas s transies rotacionais. A tabela I (Elias, 1977) mostra o efeito

    da natureza dos tomos envolvidos na ligao e do tamanho dos substituintes.

    Tabela I: Energias de activao E para a rotao de algumas ligaes simples em molculas

    gasosas efeito da natureza da ligao e dos substituintes.COMPOSTO E (kJ mol1)

    CH3CH3 11.7

    CH3CH2CH3 13.8

    CH3CH(CH3)2 16.3

    CH3C(CH3)3 20.1

    CCl3CCl3 42

    SiH3CH3 7.1

    SiH3SiH3 4.2

    Pode verificarse que o aumento da barreira de rotao com o aumento do impedimento

    estrico dos substituintes particularmente significativo quando vrios deles so volumosos.

    Por outro lado, a facilidade de rotao das ligaes SiSi e SiC tpica do que se passa com

    as ligaes envolvendo tomos do 3 perodo (Si, P, S).

    Com estes valores, por aplicao da teoria do estado de transio, resulta que as constantes develocidade de 1 ordem k para a converso de estados conformacionais k

    RT

    hN

    E

    R T=

    0

    exp

    so da ordem de 106 1012 s1 temperatura ambiente (25 C). As diversas conformaes

    deveriam portanto interconverterse rapidamente: um estado de equilbrio seria atingido em cerca

    de 1 ps a 1 s na fase gasosa.

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 9

    Conformaes moleculares e transio vtrea

    O equilbrio na fase lquida atingido com bastante mais dificuldade no caso das

    macromolculas. A vizinhana de outras cadeias vai impedir as rotaes moleculares, que exigiro

    vrios movimentos cooperativos e em simultneo para se poderem efectuar. Por isso, muitofrequente as macromolculas serem vidros, ou seja, lquidos fora do equilbrio, com excesso de

    volume vazio, temperatura ambiente ou mesmo muito acima dela. A ocorrncia de vidros muito

    mais rara com molculas pequenas porque a facilidade de movimento e portanto a autodifuso e a

    velocidade de cristalizao so demasiado grandes, excepto para um arrefecimento muito rpido

    para baixas temperaturas.

    A possibilidade de formao de vidros est relacionada com a dificuldade de rotao das

    ligaes. Molculas inerentemente flexveis formam vidros a temperaturas mais baixas. Por

    exemplo, o polietileno um vidro apenas a temperaturas bastante abaixo da ambiente, enquanto

    que o poliestireno um vidro abaixo de 100 C.

    Um vidro metaestvel, se bem que a sua relaxao seja to demorada (mais do que

    algumas dezenas de anos, e mesmo muito mais) ao ponto de no ter relevncia prtica. Apesar

    disso, como sempre um fenmeno cintico, no existe uma verdadeira transio termodinmica

    de lquido em equilbrio para vidro. Assim, a chamada temperatura de transio vtrea(abreviadamente Tg) no tem um valor rigoroso. Ser tanto mais baixa quanto mais lento for o

    arrefecimento.

    Pelo contrrio, a transio de um slido cristalino de um lquido caracterizada por uma

    temperatura de transio (a temperatura de fuso) e variaes de entalpia e de entropia.

    A figura 3 mostra um exemplo de termograma DSC (calorimetria diferencial de varrimento)

    de uma amostra de um polmero semicristalino, o poli(etileno tereftalato).

    Nesta tcnica, a tempertura da amostra rigorosamente controlada, registandose o fluxo de

    calor que necessrio para manter a programao de temperatura ue se fixou partida, geralmente

    uma subida linear em rampa.

    Na ausncia de transies de fase, obtmrse um termograma quase linear, com declive

    correspondendo (a menos de uma constante de calibrao) capacidade calorfica da amostra. Um

    pico mostra uma transio de fase de 1 ordem, correspondendo a sua rea ao calor de transio.

    Uma mudana brusca de declive seria provocada por uma transio de fase de 2 ordem (raramente

    observada nos polmeros).

    A transio vtrea aparece como um pico largo, de limites mal definidos, e levando a um

    abaixamento de calor especfico relativamente ao lquido em equilbrio a temperatura inferior a Tg.

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    10 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Fig. 3: Termograma DSC de uma amostra de poli(etileno tereftalato) cristalizado a 200 C durante

    90 s, mostrando uma transio vtrea por volta de 75 C, uma cristalizao adicional acima de 143 C

    e a fuso (endotrmica) correspondendo ao pico a 250 C (Fried, 1995).

    Os vidros macromoleculares no podem ser caracterizados por um nico parmetro, tal como

    a densidade ou o calor especfico. A sua estrutura interna tem de ser definida com muito mais

    pormenor, sendo necessrio o conhecimento da distribuio de tamanhos dos nanoporos e do modo

    como eles esto ligados, de forma a ser possvel prever as propriedades do material, que iro por

    isso variar consoante a histria trmica da amostra.

    A formao de vidros nas macromolculas uma questo de uma imensa importncia prtica.

    A transio vtrea est tambm associada a uma fragilizao mecnica, por ficarem reduzidos os

    movimentos internos das cadeias moleculares que dissipam energia por atrito viscoso e impedem o

    crescimento das fracturas. Procurase por isso modificla por aditivos (plastifiacntes e

    antiplastificantes) ou mudando a composio do polmero.

    Concomitantemente, h uma mudana nas caractersticas da permeao de gases e outras

    pequenas molculas, que podem difundir no material vtreo atravs da sua rede de nanoporos.

    Polmeros muito reticulados no chegam a apresentar transio vtrea.

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 11

    Caracterizao do tamanho e forma das molculas

    A posio dos tomos numa cadeia determinada pelos valores dos comprimentos dasligaes lj, dos ngulos das ligaes e dos ngulos de toro , { lj, j, j,j = 1, n }. S no caso das

    molculas de cadeias rgidas, puramente aromticas ou com ligaes conjugadas (como porexemplo a poli(pfenilenotereftalamida) ) ser preciso ter em conta as oscilaes dos ngulos de

    ligao. Na maior parte dos casos, as conformaes de uma determinada molcula estaro

    associadas a diferentes conjuntos de valores dos ngulos de toro.

    O vector de posio do tomo j na cadeia relativamente ao 1 tomo (o tomo 0) geralmente designado por rj (por vezes por Lj, que uma notao actualmente menos usada). Este

    vector podese decompor na soma dos vectores lj das vrias ligaes:

    rj

    i 1

    li (9).

    As componentes de rj e de lj so variveis aleatrias. Como habitual em Estatstica, podem

    ser caracterizadas pelos seus momentos. Devido simetria espacial, os momentos de ordem mpar

    so nulos. A partir do momento de ordem 2, obtmse a distncia quadrtica mdia ponta damolcula r2 1 2 , que uma medida conveniente do tamanho da cadeia e do tamanho molecular

    para as molculas lineares.

    Outra medida do tamanho molecular que tem a vantagem de se poder medirexperimentalmente (por disperso da luz, raios X e neutres) o raio de girao s2 1 2 , que

    o valor mdio quadrtico da distncia ao centro de massa da molcula:

    s2

    j 0

    n

    wjrj

    g2 (10),

    em que wj a fraco mssica do tomoj e o vector de posio do centro de massa g dado por:

    g

    j 0

    n

    wjrj (11).

    Uma forma matematicamente equivalente para (10) em que se utilizam as distncias rij entre

    os tomos i ej :

    s2

    i 0

    n

    j i 1

    n

    wiw

    jr

    ij

    2 (12).

    Ao escrever (10) e (11) no se consideraram os tomos nos substituintes fora da cadeia

    principal (por exemplo, os hidrognios e os metilos do polipropileno). No entanto, como eles esto

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    12 Elementos de Fsica dos Polmeros

    a distncias mdias fixas dos tomos na cadeia principal, eles contribuem para s2, de acordo com

    (12), com certos valores fixos que so independentes da conformao dos tomos da cadeia

    principal.

    Um resultado bem conhecido em Estatstica o facto de a soma de variveis aleatrias teruma distribuio que a convoluo das distribuies de cada uma dessas variveis. Esse teorema evidentemente aplicvel a (9), mas as distribuies dos lj no so geralmente independentes: a

    conformao de uma ligao depende da conformao das ligaes vizinhas. Por exemplo, numa

    cadeia de polietileno, a dada conformacional g+g ou gg+ no pode ocorrer devido ao

    impedimento estrico (interferncia do pentano), conforme mostra a fig. . 4.

    Fig. 4: Dadas conformacionais no polietileno a interferncia do pentano.

    tt tg+outg

    g+g+ougg g+gougg+

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 13

    Dimenses no perturbadas e efeito do volume excludo

    Quando as macromolculas esto isoladas e no vazio, as suas conformaes so quase

    inteiramente determinadas pelas atraces e repulses entre tomos situados a pequena distncia ao

    longo das cadeias. Tudo se passa como se a molcula fosse um novelo de fio infinitamente fino,uma vez que a probabilidade de interseco das cadeias muito baixa e a fraco de conformaes

    que no podem ocorrer por causa dessas interseces muito baixa.

    As dimenses moleculares nessas condies dizemse no perturbadas.

    Na ausncia de solventes, a forma e dimenses das macromolculas continuam a ser as no

    perturbadas, apesar da coexistncia de mltiplos novelos no mesmo espao fsico. Tratase de e

    um facto que a teoria prev e que foi testado experimentalmente.

    A presena de um solvente com afinidade fsica pela macromolcula altera

    consideravelmente esta situao. Uma vez que a molcula do solvente vai tender a acompanhar a

    cadeia, tudo se passa como se ela tivesse um dimetro no desprezvel. Uma grande parte das

    conformaes que poderiam ocorrer na ausncia de solvente j no so permitidas porque o

    solvente no poderia encaixarse no volume disponvel. Assim, em presena de um tal solvente

    as dimenses moleculares aumentam (efeito do volume excludo).

    Uma substncia de baixa massa molecular sem afinidade termodinmica pela macromolcula

    ir fazer contrair as dimenses moleculares, mas o fenmeno muito dificilmente observvel naprtica porque haver uma separao em duas fases, excepto se a concentrao desse nosolvente

    for muito baixa.

    Poder ocorrer uma compensao de efeitos de expanso e contraco moleculares se a

    substncia de baixa massa molecular for o exacto intermedirio entre um solvente e um no

    solvente do polmero. Para um dado sistema binrio polmerosolvente, essa compensao poder

    ocorrer para uma temperatura definida, a chamada temperatura ou temperatura de Flory.

    O interesse desses sistemas pseudoideais facilitar o estudo das propriedades fsicas dopolmero. Centenas de sistemas desse tipo esto recenseados, por exemplo em Elias e Buhrer, 1989.

    O problema da previso do tamanho e forma das macromolculas pode assim decomporse

    em dois passos:

    Previso do comportamento em condies no perturbadas (solventes pseudoideais,

    temperatura , ou na ausncia de solventes);

    Modelizao do efeito do volume excludo (solues em solventes no ).

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    14 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Dimenses e forma no perturbadas das macromolculas

    Os trabalhos do fsico russo Volkenstein nos anos 50 (Volkenstein, 1963) e de P. J. Flory nos

    anos 60 (Flory, 1969) levaram ao desenvolvimento de uma das mais notveis realizaes da

    Qumica do nosso sculo, que a previso da forma e propriedades das macromolculas pelochamado modelo rotacional isomrico. Este modelo explora matematicamente os conceitos que

    aqui se enunciaram sobre a dependncia mtua das conformaes das vrias ligaes, usando a

    teoria das cadeias de Markov e um tipo de anlise baseada no clculo matricial, j utilizada

    anteriormente na descrio do magnetismo dos slidos (o modelo de Ising).

    As dimenses mdias das cadeias moleculares podem ser calculadas de uma forma

    extremamente eficaz do ponto de vista computacional, usando informaes sobre a geometria das

    ligaes e sobre as energias envolvidas nas transies conformacionais, conhecidas a partir do

    estudo dos espectros infravermelho de molculas modelo simples, como se exps anteriormente.

    As distribuies tm de ser calculadas pelo mtodo de Monte Carlo, o que no problema de

    maior para os computadores actuais. Diversos programas comercializados permitem fazer este tipo

    de clculos para casos bastante complexos (Fried e Yeh, 1993). No livro de Mattice e Suter (1994)

    h informao suficiente para desenvolver programas com esse objectivo.

    Entre tomos suficientemente prximos, h uma certa tendncia para o aparecimento de

    algumas estruturas caractersticas, tais como hlices e sucesses de conformaes na mxima

    extenso. O arranjo espacial a curta distncia numa macromolcula chamase estrutura secundria.

    Chamase estrutura primria composio qumica e sequncia dos motivos, incluindo a das

    suas configuraes pticas (tacticidade). A estrutura secundria da generalidade das

    macromolculas sintticas bastante irregular, em contraste com o que se passa com muitas

    molculas biolgicas.

    A figura 5 mostra um exemplo de distribuio de distncias ponta a ponta calculada para uma

    cadeia de polietileno com 10 ligaes (curva a cheio).

    A sua grande disperso um indicativo do carcter aleatrio da estrutura secundria do

    polmero, mas tambm se notam alguns picos secundrios, mostrando que no correcto para este

    pequeno nmero de ligaes tomar a distribuio como gaussiana (equao 13 da pgina seguinte).

    Na mesma figura, mostrase o resultado do mesmo clculo partindo de hipteses

    simplificadas, considerando os ngulos fixos mas desprezando a interdependncia das

    conformaes nas ligaes vizinhas. Nestas condies, cometese um erro considervel.

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 15

    Fig. 5: Densidade de distribuio da distncia ponta a ponta rpara uma cadeia de polietileno com n

    = 10 ligaes (Mark e Curro, 1984). Curva a tracejado curto: rotao livre das ligaes; curva atracejado longo: rotao impedida das ligaes, consideradas, no entanto, independentes umas das

    outras; curva a cheio: rotao impedida e ligaes interdependentes.

    Se o nmero de ligaes for suficientemente grande, a cadeia comportase aproximadamente

    como se fosse composta de um certo nmero de subcadeias, ditas segmentos de Kuhn, com

    ngulos aleatrios equiprovveis. Para uma cadeia composta por N segmentos de Kuhn de

    comprimento b, o valor mdio do quadrado da distncia ponta a ponta (ou distncia mdia

    quadrtica ponta a ponta) seria dada por:

    r2

    N b2 (13).

    A densidade fR(r) da distribuio radial da distncia ponta a ponta, definida como a

    probabilidade de encontrar uma ponta da molcula a uma distncia entre re r+ drda outra ponta,

    seria aproximadamente de um tipo gaussiano dado pela expresso:

    fR

    r 4 r23

    2 r

    2

    ,

    exp

    3 r2

    2 r2(14).

    Esse valor mdio de r2 pode ser confirmado verificando a identidade:

    r2

    0

    r2f

    Rr dr

    0

    fR

    r dr(15).

    O raio de girao mdio seria dado por:

    s2 r6

    (16).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    16/48

    16 Elementos de Fsica dos Polmeros

    A razo caracterstica Cn de uma cadeia com n ligaes de comprimento l definida

    mediante:

    r2

    Cnnl

    2 (17a).

    No caso de haver ligaes na cadeia com diferentes comprimentos, dever ser usada a soma

    dos quadrados dos comprimentos dessas ligaes:

    r2

    Cn

    j 1

    n

    lj

    2 (17b).

    As simulaes das conformaes das cadeias de polmeros confirmam que esta razo tendepara um valor caracterstico limite C quando n, conforme mostra a figura 5.

    Fig. 6: Razes caractersticas da distncia ponta a ponta e do raio de girao para cadeias depolietileno em condies a 140 em funo do nmero de ligaes (Abe, Jernigan e Flory, 1966).

    Se a rotao das ligaes fosse livre, a razo C seria dada por C 1

    cos

    1

    cos , ou 2 para

    ngulo = 109. Alguns valores medidos experimentalmente do raio de girao no perturbado

    para polmeros de cadeia muito flexvel (enxofre polimrico, policarbonato do bisfenol A) so

    realmente prximos de 2, mas os impedimentos estricos fazem quase sempre subir essa razo para

    valores nitidamente mais elevados.

    A razo caracterstica em condies no perturbadas dos polmeros uma grandeza bastante

    importante e encontrase tabelada por exemplo, em Brandrup e Immergut (1989), dos quais alguns

    valores so reproduzidos na tabela II para alguns polmeros importantes. Na mesma fonte,

    encontrase informao sobre o efeito da variao de temperatura, que pouco significativo.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    17/48

    Elementos de Fsica dos Polmeros 17

    Tabela II: Razes caractersticas para cadeias no perturbadas de alguns polmeros correntes.Polmero T=

    (C)C

    (l = 0,154nm )s

    2

    0

    M

    12

    nm mol1/2 g1/2

    Polietileno 140 6,6 0,0582

    itPolipropileno 140 5 0,0475

    Poliestireno 34,5 10,3 0,0280

    Poli(metacrilato de metilo) 28 8,3 0,0256

    itPoli(metacrilato de metilo) 28 11,8 0,0306

    Polioxietileno 25 5,1 0,0541

    Raio de girao mdio dos polmeros ramificados, em anel e em forma de estrela

    Uma molcula de polmero com vrias cadeias tem necessariamente dimenses mdias

    inferiores s de uma molcula com a mesma composio qumica e graus de polimerizao mas

    constituda por uma nica cadeia. Essa reduo de dimenses mdias exprimese mediante um

    factor de contraco definido por:

    s2

    g s2

    lin(18)

    Se as subcadeias desse polmero tiverem um nmero de ligaes suficientemente grandepara poderem ser consideradas como aproximadamente gaussianas, existem procedimentos

    matemticos bastante elegantes partindo da equao (12) e do conhecimento do grafo molecular

    que permitem calcular o factor de contraco g (Eichinger, 1980).

    Por exemplo, para molculas em forma de anel, g = 0,5.

    Clculos mais exactos usando o modelo rotacional isomrico tambm j foram efectuados

    para o caso de molculas em forma de estrela (Mattice, 1977).

    Na prtica, apenas um valor mdio de g observvel devido existncia de uma

    multiplicidade de molculas com diferentes graus de polimerizao e diferentes arranjos espaciais

    dos seus motivos. Diversos tratamentos matemticos so conhecidos para prever valores mdios de

    g tanto para equilbrio qumico (Zimm e Stockmayer, 1949; Gordon e Malcolm, 1965, Burchard,

    1982) como para polimerizaes irreversveis (Costa e Dias, 2000).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    18/48

    18 Elementos de Fsica dos Polmeros

    O efeito do volume excludo

    A variao (quase sempre no sentido do aumento) das dimenses moleculares mdias por

    efeito da penetrao dos solventes nos novelos moleculares quantificada por factores de

    expanso, nomeadamente pelos factores de expanso das distncia mdias quadrticas ponta aponta 2L e do raio de girao 2S, definidos mediante:

    2L

    r

    r2

    (19)

    2S

    s

    s2 (20)

    A primeira anlise conduzindo a uma previso destes factores para uma cadeia linear devesea P. J. Flory e colaboradores (Flory, 1949; Flory e Fox, 1950). Essas previses mantmse

    surpreendentemente correctas mesmo luz dos conhecimentos actuais. Os resultados essenciais

    so:

    Todas as dimenses no perturbadas aumentam segundo o mesmo factor, portanto 2L = 2

    S e continua a ser vlida a seguinte relao entre o raio de girao mdio e a distncia

    mdia quadrtica ponta a ponta:

    s2 s6

    (21)

    Introduzindo um parmetroB para exprimir a energia livre de interaco entre o polmero

    e o solvente, Flory e Fox obtiveram o seguinte resultado:

    5S

    3S

    B n1 2 (22)

    Para n suficientemente grande, verificarseia ento uma lei de potncia:

    S =B n0,1 (23)

    Experimentalmente, para massa molecular suficientemente grande, obtmse relaes do

    tipo:

    S

    KSM

    S (24)

    O expoente S em (24) varia entre 0 (para um solvente ) e um valor mximo, que no

    exactamente 0,1, mas a diferena pequena, da ordem de uma centsima. Infelizmente, ainda no

    h nenhum mtodo preditivo para o factor prexponencial KS que se possa recomendar,

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    19/48

    Elementos de Fsica dos Polmeros 19

    aproveitando as informaes sobre o efeito da interaco polmerosolvente a partir de parmetros

    conhecidos de outras fontes, tais como dados de actividades dos respectivos sistemas binrios, para

    no falar de mtodos de contribuies de grupos.

    No entanto, dispese presentemente de uma teoria que consegue correlacionarrazoavelmente os factores de expanso, as propriedades termodinmicas e os coeficientes de

    transporte para solues diludas de macromolculas para toda a gama de massas moleculares

    (Yamakawa e Stockmayer, 1972; Yamakawa e Shimada, 1985; Shimada e Yamakawa, 1986; Abe

    et al., 1993 e 1994; Kamijo et al., 1994 e 1995).

    Polielectrlitos

    Nem todas as macromolculas se comportam como novelos aleatrios segundo os princpios

    atrs descritos.

    Consideramse polielectrlitos os polmeros contendo grupos ionizados nos seus motivos

    repetitivos (no apenas nos seus grupos terminais). Exemplos tpicos so o cido poliestireno4

    sulfnico, o DNA e o RNA (polianies) e o poli(iminoetileno) (policatio em soluo aquosa

    cida).

    Num solvente orgnico ou numa soluo aquosa com uma concentrao de sal

    suficientemente elevada (mais exactamente, com uma fora inica suficientemente grande), as

    repulses mtuas entre os grupos laterais com cargas elctricas do mesmo sinal pouco se fazemsentir. Nessas circunstncias, as caractersticas tpicas dos polielectrlitos passam desapercebidas.

    Em circunstncias normais, exceptuando portanto as que acima se descreveram, as repulses

    entre grupos laterais modificam consideravelmente as conformaes moleculares. O resultado um

    grande aumento do tamanho molecular. Esse facto explorado no uso dos polielectrlitos como

    espessantes das solues aquosas. Se o teor em grupos carregados for elevado, a molcula toma a

    forma de bastonete ou hlice.

    Nesse regime, as dimenses moleculares tornamse proporcionais a Me no a M0,50,6 comonas macromolculas no carregadas electricamente. As outras propriedades fsicas ficam

    igualmente bastante perturbadas.

    Um tratamento permitindo efectuar uma previso dos tamanhos moleculares e das

    propriedades termodinmicas dos polielectrlitos em soluo foi recentemente desenvolvido por

    Stigter e Dill (1995).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    20/48

    20 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Cristais lquidos macromoleculares

    Certas macromolculas no tm ligaes na cadeia principal que sejam susceptveis de girar

    facilmente. Isso ocorre com molculas predominantemente aromticas. Um exemplo tpico a

    poli(pfenilenotereftalamida). As ligaes simples na cadeia principal tm conjugao com osncleos aromticos e o seu carcter parcialmente impedeas de girar livremente.

    A conformao dessas molculas portanto bastante rgida. No entanto, no inteiramente

    fixa por causa de pequenas variaes do ngulo das ligaes. Para massa molecular suficientemente

    elevada, as dimenses moleculares deixam de ser proporcionais aM.

    Como a sua forma favorece o alinhamento molecular, em determinadas circunstncias

    (temperatura no demasiado elevada e concentrao de polmero suficientemente elevada no caso

    das solues) formam fases lquidas ordenadas, e da a designao de cristais lquidos.

    Essa caracterstica tem interesse prtico, uma vez que a viscosidade fica diminuda

    relativamente dos lquidos desordenados, o que facilita o processamento.

    O alinhamento molecular permite ainda a cristalizao rpida, com formao de fibras de

    mdulo elevado.

    Estes polmeros tm por isso aplicaes em domnios especficos (a maior parte delas

    militares, tais como coletes antibalas), apesar do seu preo.

    Propriedades de transporte nas solues diludas de macromolculas

    Conceito de soluo diluda de uma macromolcula

    Uma soluo de macromolculas pode ser considerada diluda quando a concentrao for to

    baixa que os novelos moleculares no se sobreponham apreciavelmente.

    Chamando c* concentrao que se obtm admitindo que a massa molecular est

    concentrada numa esfera de raio igual ao raio de girao mdio, este valor seria dado por:

    c*

    M

    4

    3

    S

    32

    s2

    32N

    0

    1

    4

    3

    L

    3 2r

    2

    6M

    3 2

    M1 2

    N0

    (25).

    Por exemplo, para o poliestireno atctico num solvente , utilizando a tabela II, obtmse os

    seguintes valores para essa concentrao crtica:

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    21/48

    Elementos de Fsica dos Polmeros 21

    M 104 105 106

    c* (g dm3) 180 57 18

    Estes valores so razoavelmente representativos da generalidade dos polmeros. A expanso

    pelo efeito do volume excludo poderia fazer baixar c* de um factor de 3 a 5 paraMelevado.

    Na prtica, para se observar o comportamento tpico de uma soluo diluda de

    macromolculas, dever usarse uma concentrao c da ordem de 0,1 a 1 g dm3, sendo os valores

    mais baixos necessrios paraMda ordem de alguns milhes. Caso contrrio, o tamanho molecular

    e as propriedades fsicas que dele dependem, e que se iro em seguida examinar, dependero

    apreciavelmente de c.

    Viscosidade e coeficiente de difuso nas solues diludas de macromolculas

    Einstein, no seu famoso trabalho de 1906 sobre o movimento browniano, mostrou que a

    viscosidade de uma suspenso diluda de partculas esfricas se podia relacionar com aviscosidade do solvente 0, a concentrao e o volume especfico das esferas, pela seguinte

    expresso:

    0

    0c

    2,5Vsp

    (26)

    Neste trabalho, como em todos os outros citados neste captulo, a estrutura molecular do

    solvente no tida em conta. Supese que ele um contnuo e procurase resolver a equao de

    NavierStokes como se a molcula de polmero fosse uma partcula em suspenso.

    Uma vez que esta lei s vlida para suspenses infinitamente diludas, definese o chamado

    nmero de viscosidade limite [] (uma designao cada em desuso viscosidade intrnseca)como o limite do lado esquerdo da lei de Einstein quando c 0:

    limc

    0

    0

    0c (27)

    O uso potencial desta relao no estudo das solues de macromolculas no passou

    desapercebido aos pioneiros deste domnio, tal como Staudinger. Em vez de ser constante como no

    caso das esferas impenetrveis, [] para as macromolculas depende da massa molecular. A

    interpretao desses resultados no bvia por causa do desconhecimento da proporo de solvente

    no interior do novelo molecular que por este arrastado. Com efeito, se o solvente penetrar

    livremente na molcula de polmero (regime da drenagem livre), podese mostrar que [] fica

    proporcional aM, o que contrrio aos resultados experimentais paraMelevado.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    22/48

    22 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Imediatamente a seguir a um primeiro modelo por Debye e Bueche (1948), Kirkwood e

    Riseman (1948) e depois Flory e Fox (1950) estabeleceram os princpios ainda hoje utilizados para

    modelizar as propriedades de transporte nas solues diludas de macromolculas. O polmero

    dividido num conjunto de elementos discretos, ligados entre si (como se fossem contas de um

    colar) e resistindo toro das suas ligaes. A questo fundamental ter em conta a interaco

    mtua entre esses motivos do polmero quando sujeitos ao campo de foras devido ao movimento

    do fludo, que fora a modificao das respectivas distncias mdias. Obtmse um sistema de

    equaes lineares para as foras que actuam sobre os diferentes motivos da molcula e para as

    perturbaes na velocidade de escoamento, cuja resoluo conduz viscosidade da soluo a partir

    da fora total exercida sobre a macromolcula.

    Dessa forma, conseguese explicar quantitativamente o facto de as macromolculas se

    tornarem praticamente impermeveis ao solvente quando a massa molecular cresce.

    O coeficiente de difuso molecular pode ser calculado em seguida graas a uma relao usada

    por Einstein (embora originalmente estabelecida por Nernst, 1888):

    D RT

    N0f

    (28).

    O coeficiente de fricof a razo entre a fora de atrito exercida sobre a macromolcula e a

    sua velocidade terminal. Supondo vlida a lei de Stokes, podese definir uma medida de tamanho

    molecular, que o raio de StokesRhD (seguese aqui a designao usada por Fujita(1988); outros

    autores chamam raio hidrodinmico a esta grandeza):

    RhD

    f

    6 0

    (29).

    Desde h alguns anos, conseguese medir de uma forma conveniente o coeficiente de difuso

    molecular por disperso de luz dinmica, e dispese por isso de uma quantidade razovel de

    medidas dessa grandeza para os polmeros mais importantes em funo da massa molecular.

    A teoria de KirkwoodRiseman prev que, para solues infinitamente diludas num solvente

    e para massa molecular suficientemente elevada, se verifica uma proporcionalidade entre o raio

    de girao mdio e o raio de Stokes de macromolculas lineares flexveis (excluemse, claro, os

    polielectrlitos e cristais lquidos), podendo o coeficiente experimentalmente observado ser

    reproduzido pelo clculo (Chen e Weakliem, 1990):

    RhD

    0,8 s (30).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    23/48

    Elementos de Fsica dos Polmeros 23

    Outra maneira equivalente de exprimir este resultado introduzir a chamada constante de

    FloryMandelkern (Mandelkern e Flory, 1952) P:

    P

    R T

    N0

    0D

    6 s2

    12

    0,8 6 6,2 (31).

    Portanto, a teoria prev, de acordo com os resultados experimentais, que se verificam

    relaes exponenciais tanto entre o nmero de viscosidade limite como o coeficiente de difuso a

    concentrao nula num solvente e a massa molecular:

    K

    M1 2 (32);

    D

    c 0 K

    D

    M1

    2 (33).

    Uma vez que o expoente 1/2 em (32) significa, de acordo com a teoria anteriormente exposta,

    que o solvente dentro dos novelos moleculares suficientemente grandes acompanha o movimento

    da macromolcula, devese considerar que []M uma medida do volume molecular, atendendo

    relao de Einstein (26), a que se chama volume hidrodinmico. Flory introduziu factores

    hidrodinmicos e para o relacionar com as dimenses moleculares (distncia mdia ponta a

    ponta e raio de girao):

    M ! r2 3

    2

    !

    s

    2 32 (34).

    Poderseia esperar que e ! 6

    3 2! fossem constantes universais, como Flory

    sugeriu. Os valores experimentais de esto compreendidos entre 2,1 e 2,9 1023 mol1. Depois de

    vrias dezenas de anos de hesitaes sobre este assunto, temse agora a certeza de que estes

    parmetros no so constantes, dependendo da natureza do polmero e do solvente e da

    temperatura, embora no sejam funo da massa molecular.

    Para solventes no , introduzemse factores de expanso do raio de Stokes D e do raiohidrodinmico

    , definidos por:

    #

    (35);

    D

    RhD

    RhD

    D

    D(36).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    24/48

    24 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Para massa molecular suficientemente grande, estes factores de expanso verificam relaes

    exponenciais, do mesmo modo que o factor de expanso do raio de girao anteriormente

    discutido:

    #

    K#

    M

    $

    (37);

    D

    KD

    M

    D (38).

    Em consequncia, verificamse tambm leis exponenciais relacionando o nmero de

    viscosidade limite e o coeficiente de difuso em soluo infinitamente diluda de macromolculas

    lineares em forma de novelo com a massa molecular:

    KMa (39);

    D KD

    Ma

    D (40).

    O expoente a est compreendido entre 0,5 (solvente ) e cerca de 0,8, enquanto que oexpoente aD est compreendido entre 0,5 (solvente ) e cerca de 0,6.

    A expresso (39) conhecida como lei de KuhnMarkHouwinkSakurada, tomando os

    nomes dos investigadores que a propuseram nos anos 30 em vez da relao de proporcionalidade

    com a massa molecular que tinha sido erradamente sugerida por Staudinger.

    Tratase ainda hoje de um dos principais resultados da Qumica Macromolecular. Serve de

    fundamento a um mtodo de medida de massa molecular dos polmeros lineares que largamente

    utilizado, visto que requer apenas equipamento de medida de viscosidade de lquidos que barato e

    fcil de utilizar. claro que necessita de uma calibrao prvia dos parmetros com base num

    mtodo de medida absoluto de massa molecular (osmometria, disperso da luz, sedimentao), mas

    esse trabalho j foi feito para centenas de polmeros e os resultados encontramse compilados em

    fontes bem conhecidas, tais como as sucessivas edies do Polymer Handbook (Brandrup e

    Immergut, 1989). Alguns exemplos para polmeros correntes so transcritos na tabela III.

    importante assinalar que no parece haver limite superior de validade em termos deMpara

    a lei de KuhnMarkHouwinkSakurada. Pelo menos, Einaga et al. (1979) e Meyerhoff e Appelt

    (1979) mostraram que os dados experimentais se ajustam relao exponencial por mais de 3

    ordens de grandeza em massa molecular, no se encontrando quaisquer desvios para amostras de

    poliestireno at massas moleculares, respectivamente, de 60 e 40 milhes, em benzeno e tolueno.

    Por outro lado, esse tipo de leis no vlido para massa molecular inferior a 10000. mesmo

    possvel encontrar oligmeros com nmero de viscosidade limite negativo o caso por exemplo

    do poliisobutileno em benzeno (Abe et al., 1991).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    25/48

    Elementos de Fsica dos Polmeros 25

    Tabela III: Parmetros de KuhnMarkHouwinkSakurada para alguns polmeros correntes.

    Polmero Solvente T

    (C)

    106Km3 kg1 a

    Polietileno 1cloronaftaleno 125 27,1 0,71itPolipropileno 1cloronaftaleno 145 4,9 0,80

    Poliestireno Tetrahidrofurano 25 14 0,70

    Poli(cloreto de vinilo) Tetrahidrofurano 25 49,8 0,69

    Policarbonato do bisfenol A Tetrahidrofurano 25 38,9 0,70

    Polioxietileno gua 30 12,5 0,78

    A relao (40) desempenha um papel igualmente importante para a medio da massamolecular por disperso da luz dinmica.

    Notese mais uma vez que ela diz respeito unicamente ao coeficiente de difuso para

    solues muito diludas em polmero: desde que se ultrapasse apreciavelmente a concentrao

    crtica c*, o coeficiente de difuso passa a ser funo da concentrao de solvente e da temperatura,

    deixando de ter influncia a massa molecular do polmero.

    Investigaes recentes apontam para a possibilidade de se obter uma previso para o

    coeficiente de difuso em toda a gama de concentraes de solvente (Vrentas e Vrentas, 1993;Zielinski, 1996)

    Ao utilizar (39) e (40) para obter um valor de massa molecular (que ser em geral um valor

    mdio, como ser mais adiante discutido), indispensvel que o polmero seja linear. Um polmero

    ramificado tem um tamanho molecular inferior ao de uma molcula linear da mesma massa

    molecular e composio (que se exprime pelo factor g de que se falou anteriormente) e portanto

    apresenta valores superiores para o coeficiente de difuso e inferiores para o nmero de

    viscosidade limite. Se se dispuser de uma medida absoluta de massa molecular, a medio desses

    coeficientes de transporte permite caracterizar o estado de ramificao da macromolcula.

    A contribuio para o incremento de viscosidade de uma soluo infinitamente diluda pelaespcie i ci[]i, e portanto o nmero de viscosidade limite da soluo pode ser obtido por:

    c

    i

    1

    i ci(41).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    26/48

    26 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Atendendo lei de KuhnMarkHouwinkSakurada, a massa molecular do polmero linear

    monodisperso que conduz ao mesmo valor global de nmero de viscosidade limite, que se chama

    massa molecular mdia viscosimtrica, vem dada por:

    Mv,a

    i

    1

    Mi

    ac

    i

    c

    a

    (42).

    Sedimentao

    Um dos mtodos mais importantes para a medida de massa molecular, especialmente para

    macromolculas biolgicas, o mtodo da ultracentrifugao, desenvolvido por Svedberg, o que

    lhe valeu o prmio Nobel da Qumica em 1926, justamente por ter resolvido definitivamente a

    questo da existncia das macromolculas.

    Podese utilizar a ultracentrfuga para estabelecer um perfil de concentrao de equilbrio na

    clula e da obter a distribuio de massa molecular, mas esse tipo de operao leva a uma

    experincia demorada e menos usado na prtica do que a observao do movimento da frente de

    sedimentao. Outro tipo de experincia com interesse a ultracentrifugao em presena de uma

    grande quantidade de um sal denso (tipicamente CsCl) de modo a estabelecer um gradiente de

    densidade e efectuar uma separao por composio qumica e massa molecular.

    A velocidade de sedimentao terminal ut estabelecida ao fim de um curto perodo

    transitrio em que a partcula ou a molcula acelera at a fora de atrito equilibrar a impulso de

    Arquimedes. Considerando que a fora de atrito dada pela lei de Stokes, essa condio escreve

    se, para uma distncia rao eixo de rotao:

    6

    0R

    hDu

    t

    M& r 1 ' 0

    Vsp

    N0

    (43)

    Nesta expresso, o volume especfico do polmero referese ao seu volume especfico parcialna soluo, que em geral diferente do inverso da massa especfica do polmero puro, mas que

    pode ser facilmente determinado por medies precisas da densidade de solues do polmero e

    extrapolao a concentrao nula.

    Introduzindo o coeficiente de sedimentao S, razo entre a velocidade terminal e a

    acelerao centrfuga:

    Su

    t

    &

    2 r

    (44),

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

    27/48

    Elementos de Fsica dos Polmeros 27

    Atendendo relao de NernstEinstein (28) obtmse a chamada equao de Svedberg:

    MS RT

    D 1 ' 0

    Vsp

    (45).

    Tanto o coeficiente de difuso como o coeficiente de sedimentao tm de ser medidos a

    vrias concentraes de polmero e extrapolados a concentrao nula.

    A equao de Svedberg mostra que a ultracentrifugao constitui um mtodo de medida

    absoluto da massa molecular, no se restringindo a polmeros lineares, nem de composio qumica

    homognea. claro que a interpretao das experincias bastante mais complicada se houver

    uma distribuio de coeficientes de sedimentao, e por isso causa bastante menos problemas a

    determinao de massas moleculares de protenas e cidos nucleicos, que ainda mais fcil para

    partculas maiores, como vrus e organelos.

    O coeficiente de sedimentao exprimese em geral em unidades chamadas svedberg, 1013 s.

    O uso de elevadas velocidades de rotao (dezenas de milhar de rotaes por minuto) tornase

    necessrio entre outras razes para tornar mensurvel o deslocamento da frente de sedimentao, j

    que os valores de Sso muito baixos.

    Atendendo a (40) e equao de Svedberg (43), o coeficiente de sedimentao das

    macromolculas lineares de elevada massa molecular a concentrao nula obedece a uma relao

    exponencial da massa molecular, em que o expoente tem uma relao simples com o da relaoentre o coeficiente de difuso e a massa molecular:

    S KSM

    1

    aD (46).

    Esta lei foi comprovada experimentalmente.

    Electroforese

    No caso das macromolculas carregadas electricamente, a aplicao de um campo elctricopermite efectuar uma separao de uma forma que tem alguma analogia com a sedimentao e a

    vantagem de exigir um equipamento consideravelmente mais barato.

    Supondo que a macromolcula tem uma carga elctrica q, a velocidade terminal sob a

    influncia de um campo elctrico E seria determinada por uma condio de equilbrio de foras

    anloga da sedimentao:

    6

    0R

    hDu

    t

    qE (47).

    A grandeza anloga ao coeficiente de sedimentao a mobilidade electrofortica :

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    28 Elementos de Fsica dos Polmeros

    (

    ut

    E

    q

    6

    0R

    hD

    N0qD

    RT

    (48)

    Uma primeira correco a esta anlise simplista, que conduz a mobilidades muito maiores do

    que as verificadas experimentalmente, dada pela teoria de DebyeHckelHenry (Henry, 1931),que tem em conta a no idealidade da soluo e permite explicar a influncia da fora inica I

    sobre a mobilidade electrofortica:

    (

    N0qD H

    )R

    hD

    RT 1

    )R

    hD

    (49);

    )

    2

    2N0e I

    0 RT(50).

    A funo de HenryH(x) varia de uma forma sigmoidal de 1 a 1,5. O parmetro de Debye

    Hckel vale 3,3 109 m1I1/2 (comIem mol dm3) para solues aquosas diludas a 25 C.

    OBrien e White (1978) descrevem algumas melhorias para esta teoria, mas o grau de

    idealizao bastante elevado (densidade de carga uniforme e partculas esfricas, por exemplo).

    No se pode esperar uma boa previso da mobilidade de polielectrlitos com os conhecimentos

    actuais, embora tenha havido um progresso sensvel no que diz respeito a molculas rgidas e com

    um pequeno nmero de cargas, como, por exemplo, as protenas (OConnor et al., 1996).

    Devido a todas essas incertezas quanto modelizao das mobilidades, limitado o interesse

    da electroforese para caracterizar as macromolculas em termos de tamanho, forma e massa

    molecular.

    Isso no retira qualquer valor electroforese como mtodo de separao analtico ou

    preparativo.

    O princpio da electroforese utilizado como um processo de aplicao de revestimentos em

    metais, largamente utilizado na indstria automvel.

    Cromatografia de excluso

    O fraccionamento de polmeros por extraco lquidolquido ou slidolquido conhecido

    desde os primrdios da Qumica Macromolecular, mas no pode ser usado em anlises de rotina

    devido ao tremendo gasto de tempo e de solventes que implica.

    Desde muito cedo se procurou desenvolver mtodos de separao por cromatografia.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 29

    A cromatografia das macromolculas com as fases estacionrias que so tipicamente usadas,

    como por exemplo a slica com grupos octadecilo, octilo e similares (para a chamada cromatografia

    de fase inversa) no d geralmente resultados muito teis, excepto para oligmeros. O principal

    problema reside na relao exponencial entre o coeficiente de partio do polmero e a sua massa

    molecular. O polmero pode ficar quase completamente retido para massa molecular elevada ou

    pode no ser praticamente retido e no se d separao nenhuma. S com muita sorte se consegue

    encontrar a boa composio da fase mvel de modo a se conseguir efectuar a anlise.

    Embora este tipo de tcnicas no seja totalmente destitudo de interesse, pois utilizado

    como mtodo secundrio de fraccionamento por composio qumica, o mtodo de escolha a

    cromatografia de excluso de tamanho (size exclusion chromatography, SEC), descoberta por

    Moore em 1964. O nome original da tcnica cromatografia de permeao de gel (gel permeation

    chromatography, GPC), designao a evitar absolutamente porque a fase estacionria no necessariamente um gel (pode ser um vidro poroso) e a separao no se d por diferenas de

    velocidades de permeao como num processo de separao por membranas.

    Para se efectuar uma separao por cromatografia de excluso, a fase estacionria no deve

    adsorver ou absorver o polmero (a escolha do solvente do polmero desempenha a um papel

    importante) e deve ser constituda por pequenos grnulos (tipicamente esferas de 5 a 10 m) com

    poros da ordem de grandeza do raio de girao mdio molecular.

    Para polmeros solveis em solventes orgnicos, usamse geralmente fases estacionrias depoliestirenocodivinilbenzeno, polimerizados em presena de um mau solvente, que vai formar a

    estrutura porosa ao segregarse do polmero. Para meios aquosos, podemse usar modificaes

    hidroflicas deste polmero, se bem que sejam tambm muito utilizadas as fases estacionrias de

    dextrano (um polissacrido reticulado), conhecidas pela designao comercial Sephadex.

    Nessas condies, as molculas mais pequenas tm maior afinidade pelos poros porque

    entram mais facilmente, enquanto que as maiores so mais excludas e ficam com um coeficiente

    de partio mais pequeno. Ao injectar uma amostra de polmero num leito com essas partculas que

    est a ser varrido pelo solvente da fase mvel, as molculas mais pequenas ficam com um tempo deresidncia mdio superior ao das molculas maiores.

    A resoluo geralmente suficiente para separar os oligmeros em picos individuais, mas

    no os polmeros de massa molecular elevada, que do origem a um pico bastante largo(ver fig. 7).

    Se o polmero for linear e de composio qumica homognea, vai haver uma

    correspondncia biunvoca entre a massa molecular e o volume de eluio para o leito de partculas

    em questo (que ter uma pequena variao com a temperatura, fcil de controlar). A distribuio

    de tamanhos de poros escolhida pelos fabricantes de modo a obterse uma relao

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    30 Elementos de Fsica dos Polmeros

    aproximadamente linear entre o volume de eluio e o logaritmo da massa molecular, dentro de um

    certo domnio de validade (Yau, Kirkland e Bly, 1979).

    Ve (cm3

    )

    Fig. 7: Cromatograma de poli(adipato de tris(oxietileno)) equilibrado em clorobenzeno a 130 C em

    presena de cido ptoluenossulfnico (Costa, 1983). Fraco mssica de polmero 8,59 %, teor

    final de carboxilos 0,0262 0,0005 mol kg1, razo molar inicial carboxilos: hidroxilos 0,995. Os

    picos dos primeiros 5 oligmeros cclicos (D1 a D5) notamse direita do cromatograma das

    molculas de cadeia aberta. A curva a trao interrompido o cromatograma devido s cadeias

    abertas.

    A calibrao necessita de amostras de polmero quase monodispersas de massa molecularconhecida por mtodos de medida absolutos. Existe um certo nmero desses padres

    comercializados (obtidos por polimerizao aninica), mas evidente que no possvel, ou seria

    proibitivamente caro, arranjar padres para todos os polmeros a analisar.Para polmeros que se

    comportam como novelos aleatrios (no incluindo, portanto, os polielectrlitos e cristais lquidos)

    e para completa ausncia de reteno por absoro ou adsoro na fase estacionria (que se pode

    muitas vezes anular aumentando a temperatura e a afinidade termodinmica do solvente pelo

    polmero), Grubisic, Rempp e Benot (1967) mostraram que h uma calibrao universal para

    cada conjunto de colunas entre o volume hidrodinmico []Me o volume de eluio (ver fig. 8).

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 31

    Fig. 8: Calibrao volume de eluio / volume hidrodinmico []Mnum dado conjunto de colunas

    de poliestirenocodivinilbenzeno (Grubisic et al., 1967) para vrios polmeros e copolmeros.

    Esta calibrao universal no vlida para massa molecular baixa (inferior a alguns

    milhares). Mesmo para massa molecular elevada, sabese modernamente que apenas

    aproximadamente vlida, tendo um erro que pode atingir cerca de 10% emM.

    Por esses motivos, para trabalhos requerendo maior preciso, e com polmeros desconhecidos

    para os quais no haja um conhecimento anterior sobre a validade da calibrao universal,

    impese usar outro tipo de mtodos. No sendo vivel a calibrao com amostras do prprio

    polmero, podese tentar utilizar, em simultneo com o detector de concentrao do polmero, umdetector de massa molecular.

    A melhor soluo com a tecnologia actual utilizar um detector de disperso de luz, que tem

    uma resposta praticamente proporcional a cMpara homopolmeros.

    Infelimente, parcialmente inutilizvel com copolmeros apresentando uma disperso de

    composies (Radke et. al., 1996). Uma ideia interessante usar um detector de presso osmtica

    (Lehmann et al., 1996), ainda no comercializado.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    32 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Elasticidade das redes macromoleculares

    O seguinte esquema (fig. 9) ilustraos conceitos bsicos sobre a constituio das redes

    macromoleculares.

    Cadeia pendente infinita

    Cadeia elasticamente activa

    Juno elast. inactiva

    A B C

    Juno elasticamente activa Cadeia pendente

    Fig. 9: Junes elasticamente activas e inactivas, cadeias elasticamente activas e pendentes, numa

    rede macromolecular. As cadeias infinitas so representadas com uma seta na ponta. As cadeias

    pendentes partem das junes inactivas, e tanto podem ser finitas como infinitas.

    Para ser elasticamente activa, uma juno deve estar ligada a pelo menos trs cadeias

    infinitas, de modo a manterse imvel relativamente s outras junes do mesmo tipo, na ausncia

    de foras externas.

    Uma rede molecular como a borracha vulcanizada um lquido atpico que ope uma

    resistncia deformao, sob a forma de um mdulo de elasticidadeEe um mdulo de rigidez G,

    sem paralelo nos lquidos usuais, de baixa massa molecular.

    Essa elasticidade tem por origem a resistncia ao afastamento entre as junes elasticamente

    activas relativamente sua distncia de equilbrio. Ao restringir o nmero de conformaes

    acessveis a essa cadeia, estse a provocar uma diminuio de entropia (Meyer et al., 1932), e

    segundo a Termodinmica clssica aparece uma fora F que funo da variao da dimensomacroscpicaL dada por (Guth, 1942; Treloar, 1942):

    F

    T

    1

    S1

    L T,V

    1

    H1

    L T,P(51).

    O termo entlpico em (51) quase sempre desprezvel.

    Para avaliar o termo entrpico, preciso invocar a Termodinmica Estatstica e aplicar a lei

    de Boltzmann. Determinando o nmero de estados (conformaes) antes e depois da deformao

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 33

    de uma cadeia gaussiana com distncia ponta a ponta r, o resultado (Kuhn, 1936) , para 1 mol de

    cadeias elasticamente activas:

    S

    3R

    r

    2 r2

    0

    3R

    2

    x

    2 y

    2 z

    2

    3 (52).

    Kuhn (1936) e vrios outros investigadores (James e Guth, 1943; Treloar, 1942)depois de ter

    deduzido estas expresses, consideraram que as deformaes microscpicas de r, x, y e z , eram

    iguais s deformaes macroscpicas de L (modelo da deformao afim). Esta hiptese permite

    ento obter os mdulos que exprimem as propriedades elsticas, combinando (52) com (51) e

    atendendo a que, para um elastmero incompressvel, a condio de volume constante se escreve:

    x

    z

    1 (53).

    Numa elongao (traco) segundo o eixo dosx, y = z e portanto

    y

    z

    1

    (54);

    S

    R

    2

    x

    2 2

    x

    3 (55).

    Introduzindo a concentrao molar de cadeias elasticamente activas antes da deformao e,obtmse finalmente a relao entre a tenso nominal (fora por unidade de rea da seco inicial)

    xx e a razo de alongamento:

    3

    xx

    RT4e

    x

    1

    x

    2 (56).

    Notese que no se verifica a lei de Hooke: no h proporcionalidade entre tenso e

    deformao.

    Numa deformao por cisalhamento segundo o plano Oxy, z = 1 e y = 1 /x . A taxa decisalhamento dada por:

    5

    x

    1

    x

    (57).

    Desse modo:

    S

    R

    2 x2

    1

    x

    R

    25

    2

    (58);

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    34 Elementos de Fsica dos Polmeros

    3

    zx

    RT4e

    5 (59).

    Neste tipo de deformao, obtmse uma lei de Hooke, sendo possvel definir um mdulo de

    rigidez dado por:

    G RT4e

    (60).

    Experimentalmente, verificase que os mdulos previstos por este modelo so demasiado

    elevados. Um modelo mais prximo da realidade que foi estabelecido por James e Guth (1947),

    considera que as deformaes macroscpicas so iguais s variaes mdias das razes das

    distncias entre as junes, no sendo elas todas iguais nem sendo necessrio considerar que

    junes inicialmente vizinhas se deveriam manter vizinhas depois da deformao, o que

    fisicamente mais realista para deformaes elevadas. A deduo baseiase no clculo da variao

    de entropia da rede (conceito que aparece em Flory e Rehner, 1943 e Flory, 1944), e no dascadeias individuais supostas independentes. Contudo, no se consegue ter em conta a possibilidade

    de excluir as interseces das cadeias, e da que os detractores deste modelo o tenham apelidado de

    modelo da rede fantasma. As expresses a que se chega so semelhantes s do modelo da rede afim

    no que diz respeito s dependncias das taxas de deformao, mas contribuio da concentrao

    de cadeias elasticamente activas devese subtrair a das junes elasticamente activas e, o que tem

    por efeito melhorar o acordo com os dados experimentais:

    3

    xx

    RT 4 e (

    e x 1

    x

    2 (61);

    3

    zx

    RT4

    e

    (

    e

    5 (62).

    Se as junes na rede estiverem ligadas a cadeias, h uma relao simples entre e ee:

    4

    e

    6

    2(

    e(63).

    Muitas vezes, na literatura (em particular nos trabalhos do prprio P. J. Flory) estas relaesaparecem no em termos de e e e, mas introduzindo a massa molecular mdia em nmero dascadeias

    Mc

    28

    (

    ee da funcionalidade mdia das junes

    6

    . Os conceitos de e e e,

    introduzidos por Scanlan (1960) e Case (1960) trazem, no entanto, enormes vantagens conceptuais,

    uma vez que permitem considerar redes irregulares, em que as junes tm mltiplas

    funcionalidades. Mais tarde, Flory (1982) acabaria por subscrever o uso destes conceitos.

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 35

    Para generalizar (63), considerese uma rede de polmero que pode ser caracterizada com

    base na distribuio das concentraes molares de junes Tn segundo o nmero n de cadeias

    infinitas a que esto ligadas. Assim, e ser a concentrao molar dessas junes com n > 2 e ovalor dee ser a soma de nTn com n > 2, dividida por 2 para no contar a mesma cadeia 2 vezes:

    (

    e

    n 3

    Tn (64);

    4

    e

    12 n 3

    nTn (65).

    Deve notarse que outras propriedades das redes macromoleculares tm relevncia na

    determinao das propriedades elsticas. As cadeias pendentes do uma importante contribuio

    para o amortecimento dinmico das vibraes.

    Para valores elevados da deformao ( > 200 %), nenhuma destas teorias est de acordo com

    os resultados experimentais, mesmo excluindo o fenmeno da cristalizao sob tenso que faz

    aumentar a rigidez de certos elastmeros (como, por exemplo, a borracha natural vulcanizada).

    Durante muito tempo, no havia alternativa para a correlao dos resultados experimentais para

    alm da lei emprica de MooneyRivlin (Mooney, 1940 e Rivlin, 1948), sem que nenhuma

    explicao plausvel surgisse:

    3

    xx

    C1

    C2

    x

    x 1x

    2

    C1

    C2 C2

    C2

    x

    x 1x

    2 (66).

    Notese, no entanto, que (66) falha totalmente quanto a descrever a compresso, e nem

    sempre consegue representar os dados experimentais em elongao. No entanto, como tem mais

    um parmetro, tem maiores possibilidades de ajuste.

    Valores tpicos para as constantes empricas de MooneyRivlin para a borracha natural

    vulcanizada (dentro de um factor de variao de 2 para cima e para baixo, consoante e) so C1 =

    0,2 e C2 = 0,15 MPa. Este ltimo parmetro devia ser nulo para (66) conduzir mesma relao

    tensodeformao que a prevista por (56) ou (61).

    Experimentalmente, verificase que a razo C2/(C1 + C2) depende essencialmente do grau de

    diluio das cadeias, mas no da taxa de reticulao.

    O comportamento das redes reais tende a ser intermedirio entre o da rede afim (a baixas

    deformaes) e o da rede fantasma (para deformaes mais elevadas). Isto sugeriu a Flory que,

    enquanto as deformaes forem pequenas, se deve considerar que so particularmente importantes

    as restries topolgicas ao movimento das junes (o modelo da cadeia afim seria mais correcto

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    36 Elementos de Fsica dos Polmeros

    !), enquanto que as deformaes elevadas acabam por desensarilhar as cadeias e o comportamento

    seria o da rede fantasma. A diluio por um solvente tem o mesmo efeito de aproximar o

    comportamento ao da rede fantasma.

    O desenvolvimento desta ideia conduziu teoria da juno constrangida (Erman e Flory,1978; Flory, 1979; Erman e Flory, 1982), que introduz dois parmetros suplementares para dar

    conta das restries do movimento das junes, um dos quais interpola entre os modelos da rede

    afim e da cadeia fantasma e o outro exprime a possvel no homogeneidade da rede. O seu domnio

    de aplicao muito superior ao da equao emprica de MooneyRivlin (Mark e Erman, 1988).

    Embora tenha havido um enorme progresso na descrio terica dos vrios aspectos do

    comportamento mecnico dos elastmeros, mesmo para grandes deformaes, continua a falhar o

    ajuste das relaes tensodeformao quando se tenta fazer concordar os dados para o

    alongamento e para a compresso (Mott e Roland, 1996). Portanto, este problema continua por

    resolver.

    Ensarilhamento das cadeias e reptao

    Os materiais baseados em macromolculas finitas apresentam um mdulo de rigidez

    aprecivel acima da transio vtrea, apesar de serem lquidos nessas condies.

    Notese ainda que os valores medidos do mdulo dependem da modo como as solicitaes

    mecnicas variam com o tempo. Na discusso que se vai seguir, devese entender os valorescitados do mdulo G como mdias sobre todo o domnio das frequncias das oscilaes mecnicas

    usadas nas medidas (Wu, 1989).

    O mdulo de rigidez abaixo da temperatura de transio vtrea Tg apresenta valores, para a

    generalidade dos polmeros sintticos amorfos, da ordem de 0,5 a 1,5 GPa (fig. 10).

    Numa vizinhana imediatamente superior a Tg, o mdulo G baixa rapidamente; o material

    fica inicialmente semelhante a um couro, depois fica cada vez mais mole.

    Se a massa molecular for baixa, com o aumento de temperatura o comportamento mecnico

    tornase praticamente igual ao de um lquido ordinrio.

    A situao muda completamente se a massa molecular for suficientemente grande, superior a

    um valor crtico.

    Depois de ultrapassar uma regio em que o material se comporta como um couro mais ou

    menos rgido, seguese um domnio de temperaturas (entre T1 e T2 na fig. 10) em que h um

    mdulo de rigidez aprecivel, designado como o mdulo do planalto,0

    NG , que anda volta de 100MPa.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 37

    VIDRO COURO

    9

    PLANALTO ELASTOMRICOlog10G

    LQUIDO5 VISCOELSTICO

    Tg T1 T2

    TFig. 10: Variao do mdulo de rigidez dos polmeros amorfos em funo da temperatura

    (Tobolsky, 1960). : massa molecular baixa; : massa molecular elevada;

    Um aumento subsequente de temperatura faz cair o mdulo para valores desprezveis,

    passando por uma transio dita de escoamento elastomrico, em que o material se comporta

    como um lquido dotado de uma aprecivel elasticidade.

    A regio do planalto elastomrico devida ao ensarilhamento das cadeias do polmero (De

    Gennes, 1979; Graessley, 1982), de acordo com o seguinte esquema idealizado:

    Com base no valor de GN0 , a massa molecular crtica do ensarilhamentoMc pode obtersemediante (Doi e Edwards, 1978):

    Mc

    4'

    RT

    5 GN

    0 (67).

    usual os polmeros sintticos serem utilizados no domnio de temperaturas do planalto

    elastomrico. A previso das suas propriedades nessas circunstncias tem um interesse evidente.

    A largura T2 T1 do planalto elastomrico tanto maior quanto maior for a massamolecular. Van Krevelen (1990) apresenta uma relao emprica para a estimar.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    38 Elementos de Fsica dos Polmeros

    O mdulo do planalto elastomrico uma propriedade do polmero, independente da massa

    molecular. Vrios investigadores tentaram relacionlo com a estrutura.

    Fetters et al. (1994) fizeram uma resenha crtica dos trabalhos anteriores e conseguiram uma

    correlao razovel em termos do chamado comprimento de empilhamento lp, que obtido a partirda massa especfica de polmero e das dimenses moleculares mdias segundo:

    lp

    M

    '

    N0

    r2 9 (68),

    tendo obtido a T= 140 C ( a 25 C o coeficiente , inexplicavelmente, 10% inferior):

    GN

    0

    1,210

    23

    lp

    3 (69).

    Em presena de um solvente, a teoria, em bom acordo com os resultados experimentais,prev que G

    N

    0 proporcional a c2,25, que um dos aspectos do efeito de plastificao bem

    conhecido (alm da diminuio da temperatura de transio vtrea).

    Do ponto de vista dinmico, a relaxao de um polmero ensarilhado fazse por reptao, um

    conceito devido a De Gennes e que lhe valeu o prmio Nobel da Fsica em 1986: a durao dos

    ensarilhamentos tal que o movimento global das cadeias macromoleculares muito mais fcil ao

    longo de um tubo formado pelas cadeias adjacentes que lhe esto ensarilhadas, tal como se amolcula fosse uma serpente.

    Se bem que este modelo seja uma idealizao, tratase de uma ideia extremamente fecunda e

    tem uma razovel comprovao pelos resultados experimentais. Deve dizerse que nem sempre as

    previses so muito exactas, nem as explicaes alternativas so muitas vezes piores.

    A correlao de Fetters et al. (1994) acima descrita implica que o dimetro do tubo de

    reptao 18 a 19 lp.

    Uma previso bsica do modelo de reptao a relao entre o coeficiente de difuso e a

    massa molecular em soluo concentrada. Chamando tr ao tempo caracterstico de reptao,

    segundo de Gennes (1979) deveria verificarse:

    D r

    2

    3 t

    r

    (70).

    O coeficiente de difuso vem diminudo porque a cadeia obrigada a percorrer um caminho

    de reptao sinuoso dentro do tubo em que est confinada. O tempo caracterstico de reptaoverifica a lei de escala:

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 39

    tr

    @

    0G

    N

    0 M

    Mc

    3

    (71).

    Por conseguinte, o coeficiente de difuso deveria ser proporcional aM2 (o expoente seria 1

    na ausncia de reptao, para M < Mc). Numerosos estudos tm sido efectuados para testar essa

    previso bsica. H diversos factores que interferem com um acordo exacto a baixas temperaturas

    ou massas moleculares insuficientemente elevadas, mas no parece haver discrepncias

    fundamentais (ver, por exemplo, Appel e Fleischer, 1993).

    A viscosidade dos polmeros fundidos e das solues de polmeros pode ser modelizada e

    correlacionada com base neste tipo de teorias. Uma questo essencial o facto de essas solues

    terem um comportamento newtoniano apenas para uma velocidade de deformao inferior ao

    inverso do maior tempo de relaxao,como, por exemplo, o que dado pela equao (71). Acimadessa velocidade de deformao, as molculas deformamse apreciavelmente sob o efeito da

    tenso de corte e a viscosidade aparente diminui. As solues de macromolculas so portanto

    pseudoplsticas, e tanto mais acentuadamente quanto mais elevada for a massa molecular (ver

    esquema da fig. 11).

    Fig. 11: Relaes entre a viscosidade aparente e a tenso de corte para polmeros fundidos ou em

    soluo: influncia da distribuio de massa molecular (Billmeyer, 1984).

    No regime newtoniano, paraM> Mc, a teoria da reptao original previa que a viscosidade

    deveria ser proporcional aM3 de acordo com:

    00= G t

    N r (72).

    No entanto, h uma enorme quantidade de estudos em que se obteve um expoente 3,4. Este

    resultado pde ser reconciliado com a teoria tendo em conta o efeito da difuso dos grupos

    terminais (OConnor e Ball, 1992). A lei de proporcionalidade a M3 s se verificaria para massa

    molecular muito maior do que a acessvel na prtica.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    40 Elementos de Fsica dos Polmeros

    No iremos aqui abordar os comportamentos crticos (cedncia e fractura), para os quais uma

    boa introduo poder ser encontrada em Ward e Hadley (1995).

    Propriedades mecnicas dos sistemas multifsicos

    Muitos dos polmeros importantes na prtica so semicristalinos. So exemplos o

    polietileno, o polipropileno isotctico, o poli(acrilonitrilo), o poli(tereftalato de etileno), os Nylon 6

    e 6, 6. Isto significa que eles so bifsicos a temperaturas inferiores temperatura de fuso dos

    domnios cristalinos.

    Os cristais de polmeros sintticos so lamelas extremamente finas, com espessuras da ordem

    dos 10 nm, e dimenses laterais da ordem das dezenas de m. As cadeias orientamse na direco

    perpendicular superfcie exterior, e portanto cada molcula tem de dobrar vrias vezes num e

    noutro sentido para caber no cristal (ver fig. 12).

    Fig. 12: Trs modelos idealizados para a disposio das cadeias nos polmeros cristalinos (Fried,

    1982). A reentrada no adjacente; B reentrada regular adjacente; C reentrada irregular

    adjacente.

    As lamelas por sua vez podem estar organizadas em estruturas maiores, como as esferulites,

    conjuntos de lamelas agrupadas radialmente (fig. 13). Esta morfologia frequente na ausncia de

    orientao devida ao escoamento durante a cristalizao.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 41

    Fig. 13: Microfotografia electrnica de varrimento mostrando a estrutura esferultica do

    polipropileno (Aboulfaraj, citado em Fried, 1995).

    A cristalinidade altera profundamente as propriedades mecnicas, conforme se pode verificarna figura 14. O efeito dos domnios cristalinos na rigidez equivalente existncia de pontos de

    reticulao suplementares, mas que desaparecem temperatura de fuso.

    As propriedades mecnicas vo depender assim da fraco de cristalinidade e do tamanho e

    morfologia dos domnios cristalinos. Por conseguinte, a histria trmica, juntamente com a sua

    constituio molecular (estrutura primria, distribuio de massas moleculares) vai ser um

    importante factor na determinao do desempenho do material.

    H ainda uma influncia muito grande da orientao das molculas que reflecte a histria doescoamento. Podese desta maneira obter materiais com uma resistncia mecnica particularmente

    forte segundo uma direco privilegiada.

    Muitos polmeros amorfos ou cristalinos, lineares ou reticulados, so utilizados em presena

    de cargas reforantes, sob a forma de partculas ou fibras, por vezes ordenadas, em propores

    altamente variveis (20 a 80 %). Exemplos tpicos so os materiais compsitos de polister

    insaturadocoestireno + fibra de vidro (barcos, reservatrios), borracha + negro de fumo (pneus),

    poliuretano + fibra de vidro (paineis dos automveis, prachoques), resina epxida + fibra de

    carbono (raquetas de tnis).

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    42 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Fig. 14: Comparao entre as curvas de relaxao de tenso para polmeros amorfos e cristalinos

    (Tobolsky, 1960).

    O interesse dessas combinaes vencer a contradio entre rigidez e fragilidade, que

    inevitvel nos polmeros amorfos homogneos. A fase amorfa acima da temperatura de transio

    vtrea comportase como um elastmero e d flexibilidade e absoro dos choques mecnicos,

    enquanto que os domnios cristalinos servem de carga reforante. evidente que a situao ter deser descrita em termos diferentes se o polmero for quase inteiramente cristalino (a fase amorfa

    constituir um defeito estrutural), ou se o polmero for um ligante de outros materiais, tais como

    as resinas ureicas e fenlicas que ligam partculas de madeira ou as resinas das tintas, que esto

    numa fraco volmica de 10% e at menos.

    As propriedades mecnicas desses materiais complexos vo depender ainda da concentrao e

    morfologia (tamanho das partculas, relao comprimento : dimetro das fibras...) das cargas

    reforantes, das propriedades elsticas destas e da adeso na interface (Schwartz, 1984).

    Pelas mesmas razes, forase muitas vezes o aparecimento de duas fases no mesmo

    polmero sintetizando copolmeros em bloco com blocos termodinamicamente incompatveis

    (Noshay e McGrath, 1977). Usando este princpio, so fabricados elastmeros termoplsticos, que

    tm numerosas aplicaes graas sua maior facilidade de processamento relativamente aos

    elastmeros termoendurecveis como a borracha vulcanizada.

  • 7/28/2019 ELEMENTOS DE FSICA POLIMEROS

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 43

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    46/48

    46 Elementos de Fsica dos Polmeros

    Nomenclaturaa expoente da relao de KuhnMarkHouwinkSakurada entre o nmero de viscosidade limite

    e a massa molecular.

    aD simtrico do expoente da relao entre o coeficiente de difuso e a massa molecular.

    b comprimento de um segmento de Kuhn, m.

    C1, C2 constantes de MooneyRivlin, Pa.

    c concentrao mssica de soluto por unidade de volume de soluo, kg m3.

    c* concentrao mssica por unidade de volume de soluo de uma macromolcula linear

    ocupando um volume esfrico de raio igual ao raio de girao mdio, kg m3.ci concentrao mssica da espcie i por unidade de volume de soluo, kg m3.

    D coeficiente de difuso mtua solvente polmero, m2 s1.

    E intensidade do campo elctrico, V m1.

    E mdulo de Young, Pa.e carga elctrica do electro, 1,60219 1019 C.

    F fora de deformao por mol de cadeias, N mol1.

    f coeficiente de frico, razo entre a fora de atrito exercida sobre a macromolcula e a sua

    velocidade terminal, kg s1.

    fR(r) densidade de distribuio radial da distncia ponta a ponta (unidades : m1).0

    r

    fR

    r dr

    a probabilidade de a distncia ponta a ponta ser inferior a rm.

    G mdulo de rigidez, Pa.g vector de posio do centro de massa da molcula (trs componentes, m).

    g factor de contraco das dimenses mdias das molculas dos polmeros no lineares e anis,

    razo entre a mdia do quadrado do raio de girao < s2> dessa molcula e da molcula linear de

    cadeia aberta com a mesma composio qumica.

    h constante de Planck, 6,6262 1034 J s.

    I fora inica, metade da soma das concentraes molares dos ies multiplicadas pelos quadrados

    dos respectivos nmeros de cargas elctricas elementares, kmol m3.

    K factor prexponencial da relao de KuhnMarkHouwinkSakurada entre o nmero de

    viscosidade limite e a massa molecular, m3 kg1.

    KD factor prexponencial da relao entre o coeficiente de difuso e a massa molecular, m 2 s1.KD factor prexponencial da relao entre o factor de expanso do raio de Stokes e a massa

    molecular.

    Ks factor prexponencial da relao entre o factor de expanso do raio de girao e a massa

    molecular.

    KS factor prexponencial da relao entre o coeficiente de sedimentao e a massa molecular, s.

    K factor prexponencial da relao entre o factor de expanso do raio hidrodinmico e a massa

    molecular.

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    Elementos de Fsica dos Polmeros 47

    L dimenses macroscpicas do material, m.

    lp comprimento de empilhamento da cadeia molecular (equao 70), m.lj