Emergencia Das Praticas Tania Cascaes

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    GRUPO DE TRABALHO 1

    GNERO, CORPO, SEXUALIDADE E SADE.

    A EMERGNCIA DAS PRTICAS DE GNERONOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL : DO

    AMBIENTE UNIVERSITRIO AO MUNDO DOTRABALHO

    Tnia Rosa Ferreira CascaesMarlia Gomes de Carvalho

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    A EMERGNCIA DAS PRTICAS DE GNERO NOS CURSOS DE ENGENHARIA

    CIVIL : DO AMBIENTE UNIVERSITRIO AO MUNDO DO TRABALHO

    Tnia Rosa Ferreira Cascaes1

    Marlia Gomes de Carvalho2

    RESUMO

    Os estudos de Gnero nas universidades tecnolgicas se constituem em temas pouco abordados nasinstituies com este perfil. O presente artigo visa apresentar os resultados parciaisdo projeto de

    pesquisa desenvolvido pelo GETEC Grupo de Relaes de Gnero e Tecnologia- da UTFPR-Universidade Tecnolgica Federal do Paran, cujo tema Relaes de Gnero, Mulheres e

    Feminismos, objeto desta investigao, foi proposto e patrocinado pela Fundao Araucria.Buscou-se, entre outros objetivos, visibilizar o tema, contribuir com as discusses que visam areduo da segregao do trabalho feminino no setor das engenharias e identificar as desigualdadesentre homens e mulheres, que se manifestam nessa rea. Na rea tecnolgica observam-secrescimentos perceptveis da participao feminina em cursos superiores, resultando no crescimentosubstancial da ocupao da mulher em profisses tecnolgicas de nvel superior, reastradicionalmente consideradas masculinas. Utilizou-se metodologia quali-quantitativa de carterinterpretativo. Os fundamentos tericos baseiam-se em autores/as da rea de gnero que remetem aoandrocentrismo, contemplando a eqidade de gnero como item necessrio para mudanas

    paradigmticas em todo o mbito da sociedade, particularmente na educao tecnolgica e nomundo do trabalho. Palavras - chave : Gnero; engenharia civil; discriminaes.

    Introduo

    Desde o advento da era moderna e da ordem social capitalista passamos a compreender o

    mundo atravs da perspectiva da razo e do progresso humano, quandoo campo de conhecimento

    cientfico se tornou fonte legtima de poder, passando a exercer influncia direta nos processos

    sociais e histricos.

    A organizao racional da sociedade capitalista moderna se apoiou no que existia de mais

    verdadeiro, mais universal, demonstrando claramente nos discursos cientficos que definiam o ser

    humano segundo uma natureza biolgica inexorvel.

    Partindo deste pressuposto percebemos e constatamos atravs de estudos e estatsticas que

    h desigualdades expressivas no mbito de gnero no mundo do trabalho, e no se pode ignorar que

    1 Mestre em Tecnologia pela UTFPR, Sociloga , Especialista em Magistrio Superior, Pesquisadora do GETEC-Grupo de Estudos e Pesquisas em Relaes de Gnero e Tecnologiada Universidade Tecnolgica Federal do Paran.2Psdoutora em multiculturalismo pela Univ. de Compigne-Frana, Doutora em Antropologia Social graduada emAntropologia/Sociologia, pesquisadora e coordenadora do GETEC- Grupo de Estudos e Pesquisas em Relaes deGnero e Tecnologia e coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Tecnologia da Universidade TecnolgicaFederal do Paran.

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    nas reas das cincias exatas a mulher tem sido segregada neste setor, especialmente na rea da

    engenharia civil, objeto de nossa investigao, cujos resultados parciais denotam uma tendncia

    ntida de segregao.

    Na tese de doutorado de Cabral (2006) tema pertinente a estas discusses so retratados de

    forma muito clara e objetiva, situaes claras de discriminao, que reforam nossa percepo da

    pesquisa. Relata Cabral:

    Gerao das pioneiras parte, uma professora da gerao atual da Engenharia Civil relata

    episdios discriminatrios: Ser desprezada em visitas de professores externos UFSC, visitas

    tcnicas ou eventos semelhantes a incomodou,conforme relato a seguir [Eu tive que ouvir piadinhas

    de um cidado. [...] P, eu t louco para ver do que essas mulheres so capazes. Eutive que ouvir

    isso! Um profissional da empresa! Um profissional do nosso nvel. Ento, no um cidado

    qualquer. Isso h dois anos atrs [2002].(ALFA, 2004)

    As piadas concretizam o discurso de descriminao mais presente no CTC/UFSC. o tipo

    daquela coisa que tu sentes, mas no tens como provar: uma piadinha aqui, uma coisinha ali. []

    De colega, sim, e desconfio que algum deles com aluna tambm um caso aqui outro ali que uma

    aluna tem me contado. (ZETA, 2004)

    Uma das estratgias de sobrevivncia adotadas pelas professoras, segundo Cabral, a de

    conciliar seus papis sociais: ser mulher, me, esposa, sem, entretanto, de uma maneira geral,manifestar uma conscincia mais crtica a respeito disso. Outra estratgia a de ser mais, ou seja,

    participar mais, trabalhar mais, produzir mais... A princpio, eles davam mais credibilidade para o

    meu colega homem. Eu tinha sempre que estar provando que eu era capaz, que eu tambm era

    professora, que eu tambm era doutora (ALFA, 2004).

    Arremates: o conhecimento dialogicamente situado de Cabral:

    Na tese do conhecimento dialogicamente situado, a soma de atitude feminista, valores

    humanistas e conscincia crtica da relao entre a cincia, a tecnologia e a sociedade basilar. Os

    resultados da pesquisa aqui brevemente expressa, mostram que a percepo de cincia como uma

    atividade essencialmente emprica, em que o sujeito est deslocado de dimenses como a social e a

    histrica um obstculo a uma atitude mais consciente. Assim como entender a tecnologia apenas

    como aplicao de uma cincia, cujo produto sero desenvolvimentos tecnolgico e social diretos, e

    com indubitveis benefcios sociedade uma viso a ser desmitificada. O conhecimento

    dialogicamente situado pressupe uma localidade de gnero social e histrica, a construo de uma

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    objetividade parcial num dilogo do sujeito consigo, com outras mulheres e homens de

    diferentes origens e classes sociais e com o mundo.(CABRAL,2006)

    Por outro lado, o contexto atual de globalizao econmica tem aprofundado as

    desigualdades nas relaes sociais, incluindo as relaes de trabalho (SAGASTI, 1995; HIRATA,

    2002). Destacamos a importncia de estudos que analisem como essas desigualdades tm se

    manifestado em diferentes ambientes produtivos e busquem compreender a atual heterogeneidade

    do mundo do trabalho. Dentre as mudanas no mbito da produo, observamos que novas

    formas de organizao da produo e gesto do trabalho tm coexistido com formas antigas,

    configurando a complexidade da realidade, na qual prticas tayloristas/fordistas esto lado a lado

    com prticas flexveis, que se concretizam tanto na organizao da produo, quanto nos

    contratos de trabalho, nos salrios ou na exigncia de capacidade dos(as) trabalhadores (as) em

    trocar de posto de trabalho, associada idia de polivalncia e ampla formao (SALERNO, 1993).

    No Brasil, as reestruturaes produtivas das empresas acompanhadas pela insero de novas

    tecnologias produtivas e de novos mtodos e tcnicas de organizao e gesto do trabalho tm

    contribudo para alterar o perfil da fora de trabalho, o padro de remunerao e as exigncias de

    qualificao para a obteno de um emprego. (BRUSCHINI, 2000; POSCHMANN, 2002;

    MATTOSO, 1994). Neste cenrio propcio, observamos um processo de excluso, no qual h uma

    precarizao dos laos empregatcios (desemprego prolongado, emprego precrio, flexibilidade douso da mo de obra, terceirizao) que comumente tem envolvido o trabalho feminino

    (POSTHUMA, 1998). Pesquisas de Abramo (1994, 1997) constatam que a modernizao

    empresarial, a reestruturao produtiva e a inovao tecnolgica no tm reduzido de forma

    significativa a segregao de gnero no mundo do trabalho.

    Nas ltimas dcadas, um nmero crescente de mulheres tem ingressado no mercado de

    trabalho ou procuram por emprego fato que est expresso em uma elevao da participao

    feminina na populao economicamente ativa (PEA) que, entre 1985 a 2003, passou de 33,5% a42,7% (IBGE, 2003). Essa ampliao, no entanto, no tem sido acompanhada por um processo de

    igualdade com o trabalho masculino, pois o feminino permanece caracterizado por vrios tipos de

    excluso - segregao setorial e ocupacional, condies precrias de trabalho, menor remunerao e

    baixa mobilidade ocupacional (BRUSCHINI e LOMBARDI, 2000; HIRATA, 1998; POSTHUMA,

    1998; VELHO e LEON, 1998).

    A segregao de gnero tem afetado mulheres, independentemente da sua escolaridade, e

    tem contribudo para tornar os laos empregatcios mais precrios, no s no trabalho feminino, mas

    tambm no trabalho masculino. Em nossa realidade local perceptvel a existncia de engenheiras e

    engenheiros que se dispem a trabalhar sem o amparo dos direitos trabalhistas. A precariedade das

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    situaes de trabalho tem acirrado ainda mais as relaes de poder no mercado de trabalho

    (HIRATA, 2002; KERGOAT, 2000; DEDECCA, 1996).

    Na rea tecnolgica, tambm se observa um crescimento da participao feminina,

    constatada tanto no nmero crescente de mulheres estudantes em cursos superiores dessa rea,

    quanto pela expanso da ocupao feminina em profisses tecnolgicas de nvel superior, reas que

    em dcadas anteriores eram consideradas masculinas, como o caso das engenharias. As mulheres

    nessa rea passam a assumir responsabilidades profissionais que exigem conhecimento tecnolgico

    de ponta. (HIRATA, 2004, INEP, 2004; SARAIVA, 2003; TABAK, 2002; VELHO e LEON,

    1998).

    Entretanto nestas reas as mulheres vm ocupando posies secundrias no universo

    tecnolgico, contribuindo para a invisibilidade de seu trabalho e levando a interpretaes de que

    elas no tm a mesma competncia dos homens para a rea cientfica e tecnolgica. Pesquisas ainda

    apontam para a persistncia das diferenas de gnero, sendo comum diferenas salariais que

    favorecem os homens. As mulheres engenheiras, por exemplo, continuam tendo salrios inferiores

    aos masculinos, no obstante o fato delas apresentarem desempenho superior aos homens nos

    cursos de graduao (BRUSCHINI e LOMBARDI, 2000; HARAWAY, 2000; SCHIENBINGER,

    2001; TABAK, 2002; STANCKI SILVA, 2000; e 2005).

    O INCIO DAS PRTICAS ANDROCNTRICAS INVISVEIS NO AMBIENTE

    ACADMICO

    Os estudos de gnero nas universidades e nas discusses acadmicas em geral so fatos

    relativamente recentes. Em decorrncia da era da comunicao e do alcance da mdia em todas as

    esferas sociais estas discusses transcenderam o ambiente restrito de feministas especialistas e

    interessadas/os no assunto para se tornarem alvo de discusses da sociedade em geral. Ao revermosa trajetria das conquistas femininas atravs da histria, percebemos que h uma construo de

    submisso feminina instituda pelo patriarcalismo, que se manifesta inclusive na diviso sexual do

    trabalho.

    Badinter (1985), atravs de uma perspectiva crtica, nos fornece um relato desta construo

    histrica que culminou na crena generalizada no mito moderno do amor materno, nas profisses

    femininasdo cuidado, como se existisseum instinto biolgico inerente s mulheres em geral.

    Surge historicamente a me educadora e disciplinadora, a dona de casa, isolada da vida

    pblica, relacionando sempre a mulher ao mbito do privado e excluda do trabalho remunerado e

    da vida intelectual, absorvida em seu sacrifcio amoroso em prol do marido, dos filhos, do lar, que

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    viabiliza a reproduo da fora de trabalho e um melhor controle dos cidados, atendendo aos

    interesses do mercado e da nao.

    Estas reflexes e constataes a respeito do universo feminino constam em estudos e

    pesquisas sobre a trajetria da mulher atravs da civilizao tanto ocidental como oriental e

    remetem construo cultural das profisses que no Brasil em particular segue pari-passu com o

    surgimento das primeiras escolas politcnicas brasileiras que datam da dcada de 20 do sculo

    passado, sendo essencialmente masculina.

    Em contraposio a tais profisses masculinas construiu-se culturalmente profisses

    femininas, do cuidado, aquelas relacionadas educao e sade.Esse binarismo j constri

    subliminarmente o inconsciente coletivo que passa a reger nossas referncias androcntricas.

    Cladia Costa (1994) esclarece em seu texto, a seguinte citao que vem referendar nossas

    discusses acima,

    Desde o prisma de uma poltica feminista, o elogio da diferena corre o risco de

    resultar em uma faca de dois gumes:a diferena pode ser utilizada comojustificao ideolgica para prticas institucionais discriminatrias ( para manter asmulheres nos seus devidos lugares - ou piorretorn-las a eles ). Para Toril Moi,dado que os homens geralmente retm maior poder na sociedade, o discurso dadiferena poderia e seria empregado para provar que certas atividades poucoagradveis so mais condizentes com a natureza feminina que com a masculina(COSTA, 1994,p.141-174).

    Com estas caractersticas propcias ao estudo podemos inferir as razes destas prticas

    hegemnicas masculinas no s em relao ao mundo acadmico e do trabalho, como tambm nas

    prticas do cotidiano observadas na famlia, na mdia, nas reuniesdos grupos e ncleos de estudos

    de gnero, que felizmente esto se disseminando nas universidades, fruto de carncias de ambientes

    para discusses pertinentes a este tema, e outras.

    Durante a pesquisa, objeto desta apresentao, foi possvel observar que existe um

    preconceito velado em relao a estas dicotomias, pois as mulheres universitrias, estudantes de

    engenharia civil no percebem a discriminao em sua vida estudantil. Esta tendncia foiobservada

    em anlises preliminares das entrevistas, como resultado da assimilao pelas mulheres de seu papel

    j desempenhado no lar como normal. Isto as predispe a uma aceitao das atitudes

    preconceituosas em relao a elas como prticas normais, por serem prticas j internalizadas, sem

    nenhuma crtica, quando a questo era posta no decorrer das entrevistas. So sculos de prticas

    culturais hegemnicas e androcntricas que foram se cristalizando na sociedade e na percepo

    feminina como sendo prprias de mulher. O artigo de Scott lana luzes sobre esta problemtica:

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    O gnero uma das referncias recorrentes pelas quais o poder poltico tem sidoconcebido, legitimado e criticado. Ele no apenas faz referncia ao significado daoposio entre homem e mulher; ele tambm o estabelece. Para proteger o poder

    politico, a referncia deve parecer certa e fixa, fora de toda construo humana,

    parte da ordem natural ou divina.(Scott,1995,p.92).

    METODOLOGIA E ESTRATGIAS DE AO

    Como adotamos prticas metodolgicas quali-quantitativas, esta investigao seguiu duas

    etapas, no desvinculadas, nem hierarquizadas, no que tange ao tempo de realizao:

    Na primeira etapa, de cunho quantitativo, destacamos os seguintes procedimentos

    metodolgicos:

    Realizao de um levantamento estatstico sobre a distribuio de engenheiros e

    engenheiras atuantes na construo civil, na cidade de Curitiba/PR, a fim de melhor

    conhecer esta realidade, quanto absoro destes profissionais por gnero, idade, nvel

    salarial e tempo de emprego. Este levantamento ser feito a partir de dados da Relao

    Anual de Informaes Sociais do Ministrio do Trabalho e Emprego RAIS; do

    Instituto de Engenharia do ParanIEP; Sindicato da Indstria da Construo Civil do

    Estado do ParanSINDUSCON-PR; Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paran

    SENGE; Sindicato dos Trabalhadores nas Indstrias da Construo Civil de Curitiba e

    Regio MetropolitanaSINTRACON.

    Aplicao de um questionrio com questes fechadas, junto a engenheiros e engenheiras

    civis que atuam profissionalmente na rea pesquisada, buscando dados referentes sua

    insero e atuao no mercado de trabalho.

    Realizao de um levantamento estatstico, junto s coordenaes dos cursos de

    Engenharia Civil das duas instituies de ensino superior, localizadas na cidade deCuritiba/PR, com a inteno de melhor conhecer a distribuio por gnero desses

    estudantes.

    Quanto segunda etapa, de cunho qualitativo, buscamos, alm de fatos concretos, tambm

    as opinies, representaes e percepes baseadas nas experincias vividas pelas pessoas

    entrevistadas. Adotamos a pesquisa de carter interpretativista, na qual destacamos as seguintes

    aes desenvolvidas para atingir os objetivos propostos:

    Realizao de entrevistas qualitativas em profundidade, com uma amostra do universo

    de engenheiros e engenheiras atuantes na construo civil, na cidade de Curitiba/PR,

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    selecionados a partir dos questionrios respondidos, buscando conhecer as suas

    percepes sobre a sua atuao profissional e suas representaes sobre as relaes de

    gnero nessa realidade.

    Realizao de entrevistas semi-estruturadas com estudantes selecionados a partir do

    levantamento feito junto s coordenaes dos cursos das instituies pesquisadas, a fim

    de conhecer as suas expectativas a respeito de sua futura insero no mercado de

    trabalho, suas representaes sobre o referido mercado e as relaes de gnero nesse

    universo.

    Comparao entre os resultados obtidos nas pesquisas estatsticas e qualitativas, visando

    a conhecer semelhanas e diferenas entre homens, mulheres, profissionais e estudantes.

    Com a realizao deste projeto, temos como objetivos gerar melhores condies de trabalho

    para o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relaes de Gnero e Tecnologia (GeTec) do Programa

    de Ps-Graduao em Tecnologia da UTFPR, que vem realizando e produzindo trabalhos

    cientficos sobre gnero h aproximadamente nove anos.

    Os recursos obtidos por meio desta proposta, alm de possibilitar a realizao da pesquisaem pauta, tambm contribuiro para a consolidao do GeTec com a instalao de um laboratrio

    de pesquisa que ficar disposio de pesquisadores da UTFPR e de outras instituies que

    desejarem discutir e desenvolver pesquisas sobre a temtica.

    Extremamente pertinentes tem sido as observaes at agora analisadas por ns

    pesquisadoras, atravs das sugestes feitas pelos alunos pesquisados no que tange ao curso de

    graduao, sugestes estas que podero ser discutidas pelos colegiados dos cursos de Engenharia

    Civil, para serem analisadas e incorporadas aos currculos, pois o mercado de trabalho relatadopelos pesquisados cobra contedos importantes para as mudanas que a modernidade instituiu nas

    relaes em procedimentos diferenciados e atuais no mundo do trabalho, que se mostram

    anacrnicos do ponto de vista acadmico destes cursos em questo., formadores dos profissionais

    que so objetos desta anlise.

    OBSERVAES NAS TRAJETRIAS PROFISSIONAIS DAS ENGENHEIRAS CIVIS

    PELA ANLISE DAS ENTREVISTAS

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    Considerando que este captulo destina-se anlise dos depoimentos dos entrevistados,

    coletados a partir do questionrio e das entrevistas semi-estruturadas, conforme o interesse desta

    investigao, j explicitado no momento da descrio dos procedimentos metodolgicos, temos

    como objetivo informar, com a maior clareza possvel, baseados nas respostas, as tendncias que j

    se revelaram. Para tal optou-se por agrupar as respostas das/os 13 entrevistadas/os, com as devidas

    interpretaes mais relevantes.

    A maioria das/os entrevistados pela pesquisa afirma que, no trabalho, ser um homem

    engenheiro civil ou uma mulher engenheira civil so coisas diferentes. H reas de trabalho em que

    a questo sexual barreira, como por exemplo, num canteiro de obras, cuja estrutura no foi

    preparada para atender mulheres, junto pees e tambm junto colegas engenheiros. Eles no

    enxergam a engenheira como profissional, mas primeiramente como mulher. Como por exemplo, na

    fala de uma engenheira entrevistada, que ao visitar uma obra, a primeira coisa que os pees fazem

    correr e abotoar a camisa. Ou quando ela relata uma reunio em que a maioria eram homens, e, ao

    necessitarem de um Xerox, automaticamente se dirigiam ela para faz-lo. Estudos tericos nos

    auxiliam nestas anlises, como os desdobramentos que encontramos em Scott, j anteriormente

    citado e referenciado.

    Conciliar a vida familiar e com as escolhas profissionais ainda se constitui um desafio paraas engenheiras. Por exemplo, o adiamento da maternidade ou at a opo pela vida celibatria.

    Logo, infere-se que a vida reprodutiva e produtiva continuam a ter importncia significativa no

    processo de escolhas profissionais das engenheiras.

    Enquanto a engenheira continua exercendo dupla jornada, o profissional homem, na maioria

    conta com o auxlio da esposa para as tarefas domsticas.

    Faremos algumas descries mais detalhadas para elucidao das concluses preliminares

    do projeto em questo:

    Foram entrevistadas oito engenheiras e uma profissional de RH de uma das empresas de

    engenharia e 04 engenheiros. A proporcionalidade maior de mulheres engenheiras justifica-se pelos

    objetivos da pesquisa, que busca identificar preconceitos, esteretipos, desigualdades de gnero na

    carreira da engenharia civil. Como se sabe por pesquisas na rea que o maior grau de discriminao

    e desigualdade vivenciado pelas engenheiras houve a necessidade de um nmero maior de

    entrevistas com estas profissionais. Foram visitadas 4 empresas, de grande, mdio e pequeno portena rea de engenharia civil, que tem em seu trabalho obras de engenharia de campo, obras pblicas,

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    departamentos de administrao em engenharia e as demais reas que existem nas empresas de

    acordo com seu porte.

    Dos 13 profissionais entrevistados, apenas 3 eram solteiros, um homem e duas mulheres.

    A faixa etria da maioria dos entrevistados est entre 30 a 40 anos, com experincia entre 7 a

    15 anos na profisso. Exceo se coloca para um engenheiro recm formado, com 1 ano na

    profisso e um engenheiro com 51 anos de idade.

    Do exposto percebe-se uma tendncia nesta pesquisa. As mulheres em sua maioria se

    formaram cedo, assim como os homens, e se casaram tambm cedo, conciliando profisso e vida

    conjugal. Um dado bastante significativo relaciona-se questo da maternidade entre engenheiras

    casadas e solteiras. A tendncia percebida a ausncia de filhos ou a maternidade tardia da maioria

    das engenheiras entrevistadas, estas com idade acima dos 35 anos.

    Quanto ao salrio percebeu-se que o salrio de engenheiros e engenheiras esto muito

    prximos do piso salarial da categoria, muito embora a engenheira demore um tempo maior para

    ultrapassar o piso. Constata-se que engenheiras com mais de 10 anos de empresa conquistaram uma

    faixa salarial alm do piso da categoria, chegando a 15 salrios mnimos e uma chegando mesmo a

    scia da empresa. Por outro lado uma engenheira de obra, com 7 anos de experincia em umagrande empresa de construo civil de Curitiba recebe um salrio inferior a um engenheiro com

    menos tempo de servio, na mesma empresa.

    A ascenso na carreira destas engenheiras parece vinculada ao adiamento da maternidade.

    Uma das entrevistadas, scia da empresa, grvida por ocasio da entrevista, se declarou preocupada

    como iria fazer para trabalhar e cuidar do filho aps seu nascimento.

    Em nenhuma das empresas nas quais trabalham as entrevistadas se verificou a existncia decreche ou mesmo qualquer outro tipo de auxlio para cuidados de filhos, ou polticas de incentivo

    ou de aceitao da maternidade de engenheiras.

    Quanto s motivaes para escolha da carreira, na maioria dos casos apareceu uma aptido

    para as cincias exatas matemtica - muito mais do que influncia familiar de qualquer tipo.

    Apenas 2 entrevistados tm o pai engenheiro, os demais pais e mes so oriundos do comrcio,

    indstria e outras profisses menos qualificadas.

    A maioria dos entrevistados homens e mulheres estudaram em instituio pblica de ensino

    superior.

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    Quanto s mes das engenheiras e engenheiros entrevistadas, tanto foram identificadas mes

    que s se dedicaram ao trabalho do lar, quanto mes que alm deste tambm se dedicaram ao

    trabalho fora de casa. Um percentual semelhante nos dois casos.

    Em relao conquista de estgio na rea da produo (obra) as engenheiras entrevistadas e

    que procuraram estgios nesta rea relataram que encontraram muita dificuldade. Apontaram para a

    discriminao nos editais de vaga para estagirio na engenharia especificando vaga somente para

    homens e o uso de desculpas freqentes para a no contratao de mulheres, como por exemplo

    falta de ambientes adequados para suas acomodaes.

    O tempo de trabalho das engenheiras e engenheiros nos levou a depreender a menor

    mobilidade das engenheiras no trabalho. A maioria continua trabalhando no seu primeiro emprego,

    constatao diferente quando se entrevistou os engenheiros.

    O ambiente de trabalho se revelou bastante androcntrico, beirando mesmo a uma assepsia

    do ambiente. Nada nas mesas ou no local de trabalho que denunciasse a presena de mulheres no

    ambiente. No vesturio tambm se revelou uma semelhana com os homens, calas compridas,

    terninhos, nenhuma mulher de saia ou com adereos. Uma das engenheiras at relatou que no incio

    ela ia trabalhar at de tnis, sem nenhuma preocupao ou maiores cuidados com sua aparncia,

    pois segundo ela a maioria no local eram homens e ela, ao que parece, temia ser diferenciada neste

    aspecto. Esta realidade mudou quando foram contratadas mais mulheres na administrao e ento

    ela se sentia mais a vontade para expressar sua feminilidade no vesturio.

    As relaes entre colegas de excessivo respeito, o que a nosso ver, ao invs de denotar

    uma igualdade, pode estar reforando padres androcntricos velados.

    Engenheiras casadas, quando no so excludas pelos chefes ou colegas, se excluem das

    relaes fora da empresa com colegas, happy hour, o que no ocorre com as solteiras, que s vezes

    participam destes eventos.

    Os relacionamentos sociais das engenheiras se do mais com outras mulheres de outras

    profisses e ocupaes na empresa ou fora dela. Aqui percebe-se afinidade de relacionamentos por

    sexo e no por funo ou formao.

    Segundo a totalidade das engenheiras seu trabalho valorizado, mas no remunerado

    justamente.

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    A maioria das engenheiras desempenha uma funo interna na empresa, com poucas

    viagens. Funes de oramentista, planejamento, fiscalizao. Apenas uma viaja a trabalho, mas

    assediada por colegas nas viagens., chegando ao limite de um colega dela lhe relatar que outro

    quando da chegada deles da viagem, perguntou-lhe imediatamente:ento, transou com ela?

    Os cargos de produo para lidar com obra e funcionrios so oferecidos mais aos homens.

    Apenas duas mulheres ocupam esta funo na pesquisa. As demais trabalham internamente em

    funes de oramentista, planejamento e fiscalizao.

    As empresas pesquisadas no possuem planos de carreira para engenheiros (as). Pagam mais

    prximo ao piso e privilegiam formados da prpria cidade. E a maioria que foi contratada pela

    empresa j era estagiria/o apenas quando uma obra especfica exige que so buscados

    profissionais em outras cidades, via agncias de emprego.

    CONSIDERAES FINAIS

    As anlises preliminares aqui apresentadas resultam das informaes obtidas nas entrevistas.

    Pode-se afirmar que nas interfaces da vida das/os profissionais da engenharia civil a posio das

    mulheres na rea do conhecimento e no campo do trabalho desta rea permanece atualmenteespecial e com restries. Numa anlise do emprego formal segundo uma pesquisa do INEP,(2003)

    a procura pelas vagas femininas no ultrapassa 15% do total apesar de nas universidades as

    matrculas femininas terem apresentado uma proporo crescente na ltima dcada. No ambiente do

    trabalho, pode-se afirmar que as mulheres tm ousado na rea das cincias exatas, reduto

    anteriormente masculino, com aumento numrico substancial, produto do aumento das estudantes

    de engenharia e, por conseguinte de engenheiras formadas.

    A ordem de gnero transversal engenharia, classifica, reclassifica e hierarquiza reas de

    conhecimento e reas de trabalho, atividades e posies hierrquicas como mais ou menos

    masculinas ou femininas e as avalia de forma diferente.

    Assim, podemos observar preliminarmente que, em termos da diviso sexual do trabalho,

    pode-se constatar que existe diviso na prpria profisso e nas prprias empresas divises e

    preconceitos que ainda perduram na pirmide das empresas .

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    Nesse sentido a pesquisa aponta que o padro de insero das engenheiras neste segmento

    da engenharia civil se assemelha ao padro de insero das engenheiras no mundo do trabalho atual,

    marcado por segregao horizontal (reas de trabalho) e vertical (ascenso hierrquica).

    Outrossim, a configurao das relaes de sexo no interior do grupo profissional est se

    configurando num movimento dinmico e parece favorvel s mulheres, mesmo que a diviso

    sexual do trabalho se reproduza internamente a cada nova especialidade profissional que se abre nas

    engenharias.

    Vale aqui ressaltar que os estudos de gnero, atravs da insero de cadeiras nos mais

    diversos cursos que as universidades possuem so de extrema importncia para que as futuras

    geraes de formandos, cidados e cidads possam ser sensibilizadas/os a problematizar estas

    questes no sentido de esclarecer que, para a construo histrica de um futuro mais justo, so

    necessrias reflexes que so eminentemente oportunas, na gnese do terceiro milnio.

    A nfase no reconhecimento da diversidade que existe entre as pessoas ser uma nova

    maneira de eliminar violncias simblicas ou fsicas, invisveis ou no, que contribuiro para uma

    melhor distribuio de renda onde a solidariedade possa contribuir para uma maior justia social.

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