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130 www.backstage.com.br REPORTAGEM João Pequeno [email protected] Empresários Nem sempre businessmen de carteirinha, empresários de músicos costumam entrar neste ramo de maneira natural, por conhecerem artistas ou após trabalhar em outras áreas da produção musical por trás do trabalho dos técnicos e dos próprios músicos. É o trabalho de produtores, empresários, etc., gente que geralmente é notada apenas quando alguma coisa dá errado. A Backstage mostra este outro lado da moeda na série com estes profissionais, que começa pelos empresários. O trabalho e as dificuldades de quem está do “outro lado” M úsicos frustrados, sem constrangimentos Usada para menosprezar críticos, a alcunha de “mú- sicos frustrados” poderia ser aplicada, e aceita sem constrangimentos, a alguns empresários, como José Fortes, dos Paralamas do Sucesso, e Leandro Bortholacci, do Cachorro Gran- de, que começaram a trabalhar com bandas de amigos como uma maneira de participar do meio musical, apesar de não levarem, segundo eles próprios, o menor jeito para tocar instrumentos. Conhecendo o sucesso José Fortes, 46, conheceu Herbert Vianna em 1979, quando estudavam arquitetura na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e começou a empresariar os Paralamas “de brincadei- ra” em 1982. Assumiu o posto profissionalmente após o primeiro show no Circo Voador, em março de 1983. Vital e Sua Moto tocava na Fluminense FM, eles abriram para o Lulu Santos e o Herbert me perguntou se eu queria mesmo continuar, porque dali em diante tinha que ser para valer. Topei na hora e estou com eles até hoje”, conta Fortes, que afirma ter aprendido, como os músi- cos, tudo o que sabe sobre o showbizz na prática. Eles aprenderam rapidamente alguns segredos, como o contrato retroativo que fizeram no final dos anos 80 que deu à banda contro- le total sobre seu acervo, impedindo o lançamento de coletâneas sem autorização. Em quase 24 anos de carreira, foram apenas duas pela EMI, gravadora da qual nunca saíram, e uma licenciada re- centemente para a Som Livre. “Coletânea, só quando a banda não está perto de lançar nada inédito, senão atrapalha”, diz. Além de aprender, o empresário tem que reaprender, de acordo com as mudanças no mercado fonográfico e de shows, movido quase sempre pela tecnologia. José Fortes, que também já trabalhou com Titãs, Zeca Pagodinho e Fernanda Abreu, lida há um ano e meio com um público mais acostumado a baixar músicas pela internet do que a comprar CDs, da banda da emocore Dibob. “Estamos trabalhando no segundo disco, que ainda não foi negociado com nenhuma gravadora e pode sair até independente, mas sempre usando a ferramenta de streaming (veja box), que já usavam no site antes mesmo do pri- meiro CD. Basta ver que venderam umas oito, nove mil cópias, que não é muita coisa, mas os shows (até em casas grandes como Fotos: Divulgação José Fortes (dir.) e os Paralamas

Empresários - Revista Backstage · trabalho dos técnicos e dos próprios músicos. É o trabalho de produtores, empresários, etc., gente que geralmente é notada apenas quando

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REPORTAGEM

João [email protected]

Empresários

Nem sempre businessmen de carteirinha, empresários de músicoscostumam entrar neste ramo de maneira natural, por conhecerem artistasou após trabalhar em outras áreas da produção musical por trás dotrabalho dos técnicos e dos próprios músicos. É o trabalho de produtores,empresários, etc., gente que geralmente é notada apenas quando algumacoisa dá errado. A Backstage mostra este outro lado da moeda na sériecom estes profissionais, que começa pelos empresários.

O trabalho e as dificuldades de quem estádo “outro lado”

Músicos frustrados, sem constrangimentos

Usada para menosprezar críticos, a alcunha de “mú-sicos frustrados” poderia ser aplicada, e aceita sem

constrangimentos, a alguns empresários, como José Fortes, dosParalamas do Sucesso, e Leandro Bortholacci, do Cachorro Gran-de, que começaram a trabalhar com bandas de amigos como umamaneira de participar do meio musical, apesar de não levarem,segundo eles próprios, o menor jeito para tocar instrumentos.

Conhecendo o sucessoJosé Fortes, 46, conheceu Herbert Vianna em 1979, quando

estudavam arquitetura na UFRJ (Universidade Federal do Riode Janeiro) e começou a empresariar os Paralamas “de brincadei-ra” em 1982. Assumiu o posto profissionalmente após o primeiroshow no Circo Voador, em março de 1983. “Vital e Sua Moto játocava na Fluminense FM, eles abriram para o Lulu Santos e oHerbert me perguntou se eu queria mesmo continuar, porque daliem diante tinha que ser para valer. Topei na hora e estou com elesaté hoje”, conta Fortes, que afirma ter aprendido, como os músi-cos, tudo o que sabe sobre o showbizz na prática.

Eles aprenderam rapidamente alguns segredos, como o contratoretroativo que fizeram no final dos anos 80 que deu à banda contro-le total sobre seu acervo, impedindo o lançamento de coletâneassem autorização. Em quase 24 anos de carreira, foram apenas duaspela EMI, gravadora da qual nunca saíram, e uma licenciada re-centemente para a Som Livre. “Coletânea, só quando a banda nãoestá perto de lançar nada inédito, senão atrapalha”, diz.

Além de aprender, o empresário tem que reaprender, deacordo com as mudanças no mercado fonográfico e de shows,movido quase sempre pela tecnologia. José Fortes, que tambémjá trabalhou com Titãs, Zeca Pagodinho e Fernanda Abreu, lidahá um ano e meio com um público mais acostumado a baixarmúsicas pela internet do que a comprar CDs, da banda daemocore Dibob. “Estamos trabalhando no segundo disco, queainda não foi negociado com nenhuma gravadora e pode sairaté independente, mas sempre usando a ferramenta destreaming (veja box), que já usavam no site antes mesmo do pri-meiro CD. Basta ver que venderam umas oito, nove mil cópias,que não é muita coisa, mas os shows (até em casas grandes como

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José Fortes (dir.) e os Paralamas

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o Canecão) enchem”, ressalta. “Quandoos Paralamas começaram, ainda se lan-çavam compactos de vinil, simples ouduplos. Diz isso hoje para um moleque,mesmo um cara de 30 anos, e ele nemsabe o que é”, exagera.

As exigências dos Paralamas do Su-cesso, que segundo Fortes, sempre se re-sumiram à qualidade de som e de luz, fi-caram um pouco mais complexas após oacidente de ultraleve em 2001, que dei-xou Herbert Vianna sem os movimentosdos membros inferiores. Nada, porém,que impedisse a banda de continuar fa-zendo shows, às vezes com um esforçoextra. No fim de semana após a entrevis-ta concedida à Backstage, iriam tocarno aniversário de São Fidélis, na regiãonorte do Rio de Janeiro. “O hotel disponí-vel era uma casa com dois andares e todosos quartos no segundo piso. O Herbert ficaem Campos, a 40 quilômetros. Achamosque valia a pena, então conseguimos estasolução”. Hotéis com quartos adaptados,vôos com acesso adequado e palcos comrampa são as exigências básicas. “Mesmoassim, sempre viajamos com duas rampasde cinco metros de metal no caminhão,para dar mais garantia”, conta Fortes,que afirma ter passado por poucas “rou-badas” nesses 24 anos.

“Em alguma hora, você sempre vailevar uma volta de quem contrata umshow, mas geralmente quem faz isso sequeima no meio, porque um fala paraoutro e se espalha, então foram pouquís-simos casos – e pouquíssimos shows can-celados, o que só fazemos quando nãohá segurança no palco, como num showno Paraguai, perto de Assunção, ondechoveu tanto que se formou um lagoquase até a altura do palco. Aí, não temjeito, não dá para lutar contra a nature-za. Mas o que depende dos músicos e daequipe, com a experiência a gente vaiaprendendo cada vez mais a fazer darcerto”, resume.

Ajudando o Cachorroa ficar GrandeCom uma história parecida, Leandro

Bortholacci, 33, é empresário do Cachor-ro Grande, de Porto Alegre, desde julhode 2003. Ele trabalhava antes com a Co-munidade Nin-Jitsu, também de Poá, eque venceu um prêmio de melhor clipeindependente da MTV pelo vídeo do

funk-“pancadão”-rock Detetive. Ele dizque trocou de banda para experimentar“algo novo” e não poderia mais dar dedi-cação exclusiva à Comunidade, “queera o que eles queriam, e do qual nãoabriram mão”, diz Leandro, que garanteter saído sem brigas.

Sua primeira missão, conta, foi demo-ver a banda de um acordo consideradopouco favorável com a gravadora porto-alegrense Orbeat, pelo qual, diz, a bandareceberia apenas R$ 5 mil para divulgar osegundo disco, que havia acabado degravar. Além disso, Leandro conta que a

gravadora recusou a faixa Que loucura

para divulgação em rádios e gravação declipe. Ironicamente, no ano seguinte elaacabou se tornando o maior sucesso dabanda até então, em parte graças a umclipe que passou bastante na MTV. “Épreciso usar idéias para driblar grana cur-ta. No caso, veio do diretor MarceloNunes, que fez um clipe com fotos, mui-to mais barato que filme. Acabou sendooriginal e chamou atenção”, lembra.

O impasse com a Orbeat, lembra, aca-bou sendo positivo para o CachorroGrande, pois permitiu indiretamenteque o segundo disco, As próximas horas

serão muito boas, fosse lançamento nacio-nalmente, junto com a revista Outra Coi-sa, de Lobão, em 2004. Por intermédio deEduardo Santos, diretor de programaçãoda rádio Ipanema, a FM de rock do RioGrande do Sul, Leandro conhecera CrisAspesi, da editora L&C, responsável pelarevista Outra Coisa, junto com o músicocarioca. “Quando estiveram em Porto Ale-gre para divulgar a revista, eles foram ver oCachorro Grande em Atlântida (cidade li-torânea a 100 quilômetros) e piraram”, lem-bra. O fato da Outra Coisa ter uma distri-buição nacional, ao contrário da Orbeat,concentrada no Rio Grande do Sul, coinci-diu com a vontade da banda de se lançarcom mais força no resto do Brasil.

“Eles já tinham público razoável noRio, em São Paulo, no Nordeste, mas res-trito a guetos, que pôde ser ampliado. Aomesmo tempo, no Sul, não faziam partedo chamado primeiro time local, que re-úne bandas como Nenhum de Nós, Pa-pas da Língua e a própria ComunidadeNin-Jitsu, que vivem de um mercado lo-cal gaúcho auto-suficiente, fazendoshows, vendendo discos, tocando em rá-dio”, conta Leandro. Se a ComunidadeNin-Jitsu pôde se dar o luxo de viver dacena gaúcha, o Cachorro Grande sentiaa necessidade de sair por – apesar donome – não ser tão grande em sua terra

“Em alguma hora,você sempre vai levaruma volta de quemcontrata um show,mas geralmentequem faz isso sequeima no meio”

Leandro Bortholacci e a banda Cachorro Grande

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natal, e por já ter a intuição de que ascoisas podiam acontecer no Sudeste.“Tive essa impressão logo no primeiroshow com eles fora, quando tocamos emSão Paulo no aniversário de uma casanoturna, para duas mil pessoas, com ban-das paulistas e do Rio”, diz.

Após se hospedar inúmeras vezes noHotel Jandaia – um hotel barato no Centrode São Paulo – o Cachorro Grande se mu-dou para a capital paulista ao lançar, anopassado, o terceiro disco, Pista livre, pelaDeckdisc. A mudança foi feita a partir deum acordo entre Leandro Bortholacci e odiretor artístico da gravadora, Rafael Ra-mos. “Pedi um adiantamento de royalties,mas, ao invés de dinheiro, que pagassemresidência em São Paulo. Então, os cincointegrantes, mais o técnico de som foramdividir um apartamento”. Leandro Bortho-lacci teve liberdade para acertar os contra-tos com as gravadoras e para marcar shows.

“Eles deixaram claro que tocam e com-põem e de contratos eu cuido, mesmo por-que sei o que eles não iriam topar”.Playback, por exemplo, foi só um, que osconvenceu a fazer, em um especial de anonovo da TV Globo. “O público deles nãoestaria vendo TV no réveillon, era achance de se mostrar para gente nova,mas playback foi só este”.

A imagem do Cachorro Grande tam-bém passa pelas mãos do empresário,mesmo tendo sido forjada pelos músicos,

com o visual mod de terninhos estilosessentista e performance incendiária nopalco. “Eles tinham a mania de quebrarequipamento no final dos shows, o quedava prejuízo para os contratantes, jáque incluía equipamentos das casas. Al-guns donos de bares tinham medo deshows deles e eu coloquei como condi-ção que parassem com esse hábito, mes-mo porque estava cansando e eles nãoprecisam se sustentar nisso, porque sãoótimos músicos”. Segundo Leandro, des-de então, somente o baterista GabrielAzambuja quebrou um microfone, poracidente. “Custou R$ 800. Dei 48 horasde prazo para que ele me pagasse, senãolargava. Ele pagou”.

Leandro também participou do patro-cínio da banda pela Espírito Santo, grifede roupas masculinas de Porto Alegre.“Mas aí, eles chegam lá e escolhem. Jáestão mudando um pouco, usando al-

Maria Célia (esq.) ao lado de Yamandu

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guns ternos com estampas, até porque jáse ligaram que ninguém usa o mesmoterninho a vida inteira”, diverte-se o em-presário que, com a experiência, apren-deu a não sair mais para shows em outrascidades “sem 60% do cachê pagos”. Aquestão, frisa, é que “se o contratante jágastou, vai até o fim para ter retorno. Senão, pode ser roubada”. Outra dica deseu manual do que não fazer é jamaismarcar turnês sem seqüência lógica decidades, “como fazer um show na Paraí-ba na quinta, no Rio Grande do Norte nasexta e em Santa Catarina no domingo.Paramos com isso”, acrescenta Leandro,que, ao contrário dos músicos do Ca-chorro Grande, permanece em PortoAlegre, onde tem sua produtora.

Cada um no lugar certoOutro gaúcho empresariado à distân-

cia é o craque do violão Yamandu Costa,até certo ponto por acaso, mas de algumamaneira, também estrategicamente,como conta sua empresária, Maria CéliaBorges, há 15 anos no meio da músicainstrumental. Para a mineira de Uber-lândia, não existe cidade mais própriapara “fechar contratos” do que São Pau-lo, onde vive há 20 de seus 53 anos. Já oRio, onde mora o gaúcho Yamandu é,para ela, “o melhor lugar para ser visto, agrande vitrine nacional”.

Aparecer, para Yamandu, não é difí-cil, o que, para Maria Célia, facilita suadivulgação um pouco além do restritomercado instrumental. “Ele vem de umafamília de músicos, está acostumadocom o palco e não sabe tocar ao vivo seminteragir com o público”.

Esta postura, conta, ajudou-o a formarum público cativo que possibilitou a car-reira independente. “Gravamos e negoci-amos com as gravadoras o material pronto,como fizemos agora com a Biscoito Fino,pela qual saiu o CD com o Paulo Moura eo DVD”, conta ela, que, afirma, tem total

carta branca para fechar os contratos.A confiança, diz, passou a ser total

desde que inscreveu o músico, em 2001no prêmio Visa, à revelia dele. Yamanduvenceu o prêmio e a gravação de um CDpela Eldorado, único que não gravou in-dependente pois era atrelado ao prêmio.“Antes mesmo, ele já tinha um públicopróprio, fundamental para um músico se

manter independente. No Sul, já tocavapara 500 pessoas constantemente, antesde gravar. Até hoje, no Rio Grande eletem fãs, nas mesmas apresentações, quevão de músicos tradicionalistas gaúchosaté metaleiros, que identificam nele ummaneira muito rock’n’roll de tocar, sepostar no palco”, afirma.

A relação com o público também é mo-tivo de cuidado para Maria Célia Borges,que já escolheu determinados tipos deshow que não marca para Yamandu. Apre-sentações em meio a eventos como feiras ecoquetéis foram proibidas de comum

acordo. “Fizemos duas vezes e desistimos.O dinheiro é bom, mas não paga o cons-trangimento de tocar para pessoas passa-rem sem ligar, beberem e conversarem emfrente ao palco. O artista está ali não parafazer música de fundo”, diz a empresária,que vende shows para eventos, mas desdeque sejam “com o show de fato, em umhorário reservado, em teatros ou casas deshow, som e luz adequados, de maneiracom que as pessoas saibam que vão verum show e estejam lá para isso”.

IdentificaçãoEurídice Moskowvitch, 48, faz coro so-

bre os incômodos de shows em eventos quenão combinam com música. “Volta e meiaacontece, o contratante diz que o eventovai para o show, mas chega na hora, nãopára”, conta ela, mais conhecida pelo apeli-do de Memeca, dado pelo irmão Zé Rena-to, que há três anos empresaria e que pre-para um novo CD com o Boca Livre (destavez, ele, Maurício Maestro, LourençoBaeta e, novamente, David Tygel).

Responsável também pelas cantorasJoyce e Verônica Sabino, ela aponta ou-tra dificuldade enfrentada para a carrei-ra de artistas de médio porte comercial,que cada vez mais, conta, precisam deempresas de funcionem como mecenas,através de patrocínios e projetos pela Leide Incentivo à Cultura. “Além de não sevender mais tantos discos, sem públicomega está difícil ganhar dinheiro somen-te com a bilheteria. Tem que pagar músi-cos, técnico, roadie, estúdio de ensaio,Ecad... Por isso, a cada show, gravação,etc, procuramos uma empresa ou maisque tenham projetos neste sentido”.

No caso de DVDs, ela tem contadocom a oportunidade criada pelo CanalBrasil da NET, que cuida da gravaçãoem troca de transmiti-lo em sua progra-mação. Foi assim com o DVD de ZéRenato, lançado pelo Biscoito Fino, eestá sendo com o de Verônica Sabino,

Zé Renato

“Só viajamos com showpago. Como regra, são 50%para reservar data e a outra

metade até a véspera daviagem. Se não tiver sinal,nos arriscamos a reservar

data e o contratantecancelar de última hora”

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previsto para setembro, pelo selo MZA,do produtor Marco Mazolla. “Já para oCD do Boca Livre, estou com projetopara conseguir patrocinador pela LeiRouanet”, conta Memeca, lembrandoque há 27 anos o grupo também “se vi-rou”, conseguindo empréstimos paragravar sua estréia em vinil, que viria aser o primeiro disco de ouro indepen-dente do Brasil.

No caso de Verônica Sabino, que re-tomou recentemente a carreira após seretirar para cuidar do pai, o escritorFernando Sabino, a maior dificuldadefoi conseguir espaço em rádio e namídia impressa. “Fizemos um show noCentro Cultural carioca que lotou,para nossa surpresa, porque não houvemuita divulgação, que já deve melho-rar no DVD, para o qual devemos teruma assessoria de imprensa específica,o que não houve”.

Em caso de artistas de maior públi-co, a bilheteria pode pagar o show,como afirma José Fortes. “Os shows dosParalamas dão dinheiro com bilheteriaem grandes casas de show, nos grandescentros e metrópoles”. Ele concorda,entretanto que em teatros e locais me-nores, o patrocínio é, geralmente, im-prescindível. “Nesses casos, o lucro combilheteria é realmente difícil”, atesta.

Com Joyce, que há algum tempo tempúblico certo na Europa e no Japão,Memeca cuida apenas da América La-tina. “Ela me procurou especificamentepara cá. Na Europa, a dificuldade é ar-rumar espaço na agenda”, ressalta a em-presária, que conta com agentes locaisespecíficos para marcar shows fora doBrasil e em cidades do interior e é aindamais radical que o empresário do Ca-chorro Grande em relação aos adianta-mentos. “Só viajamos com show pago.

Como regra, são 50% para reservar datae a outra metade até a véspera da via-gem. Se não tiver sinal, nos arriscamos areservar data e o contratante cancelarde última hora porque arrumou a IveteSangalo, por exemplo, que vai dar maispúblico. E se viajar sem receber o cachê,estamos nos arriscando a levar calote e,conseqüentemente, prejuízo”, ensina.

Memeca diz que a maioria dos em-presários de músicos que conhece, as-sim como ela e os demais entrevistadospela Backstage, entraram neste ramomuito mais por afinidade ou por já co-nhecer e trabalhar com músicos em ou-tras funções, como produção, do quepor faro para negócios. “Não consegui-ria empresariar um cantor de funk.Nada contra, mas não ouço, não saberianem dizer o que é bom, o que é ruim ali,porque não conheço. Deixa pra quementende de funk”.